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Ü LIVRO DE

ESTER
o LIVRO DE
ESTER

INTRODUÇÃO

1. Título - O livro de Ester leva o nome da heroína da história. Seu nome original
hebraico era Hadassa (Et 2:7), mas ela possivelmente veio a ser conhecida como Ester na
época de seu casamento com Assuero (Xerxes), rei do império Medo-Persa entre 486-465
a.C. (ver PR, 598). O nome Hadassa significa "murta", em hebraico, enquanto Ester é possi-
velmente um nome persa que significa "estrela". Mordecai, que adotou sua prima H adassa
como filha , pode ter dado a ela o nome persa Ester quando lhe disse para não declarar sua
nacionalidade (ver Et 2:10).
O livro de Ester é uma dramática história de como Deus usou uma jovem mulher extre-
mamente bela e corajosa para salvar Seu povo em um momento de crise, quando o exter-
mínio o ameaçava. Como na história de Rute, vemos a importância do papel das mulheres
no grande plano de Deus para a salvação de Seu povo. Rute foi uma gentia que decidiu
se identificar com Israel e aceitar o Senhor como seu Deus, enquanto Ester foi uma judia
que, pela providência divina, se tornou rainha da maior nação do seu tempo. Ela perce-
beu a verdade e a urgência da questão apresentada a ela por seu pai adotivo: "e quem sabe
se para tal tempo como este chegaste a este reino?" (Et 4:14, ARC). Com uma oração, ela
corajosamente arriscou sua própria vida para salvar a do povo de Deus espalhado por todo
o império. A história de Ester desperta nos leitores a compreensão das oportunidades que
a providência de Deus pode trazer para o mais fraco dos fracos. Talvez também tenhamos
"para tal tempo como este chegado a este reino".
2. Autoria- O autor do livro de Ester é desconhecido. Sua profunda preocupação com o
bem-estar do povo judeu em um momento de crise nacional indica que ele fa zia parte desse
povo. O fato de ter identificado Mordecai como um benjamita (Et 2:5) pode sugerir que o pró-
prio autor fosse da tribo de Benjamim. O fato de os judeus de Jerusalém e da Judeia não serem
mencionados, mas somente os "dispersos" (Et 3:8), indica que o autor estava preocupado
exclusivamente com os últimos e, portanto, talvez fosse um deles. As muitas palavras per-
sas no livro, juntamente com seu conhecimento íntimo dos assuntos e costumes persas,
sugerem que ele residia na Pérsia, e não em uma das províncias mais distantes do impé-
rio. Escavações em Susã (Susa) confirmam o fato de que o escritor estava familiarizado com
o palácio, costumes e regulamentos da corte persa. Impressionados com essas descobertas
arqueológicas, vários estudiosos entenderam que o autor do livro deve ter tido ligações com a ~ ~
corte persa naquele período ou logo após, pelo menos como um oficial subalterno, ou que ele
tivesse acesso direto a essa informação por meio de outra pessoa ligada à nobreza.
É possível que o autor seja Esdras, que liderou uma expedição a Jerusalém no sétimo ano
de Artaxerxes I (457 a.C.). Esdras foi uma autoridade versada na lei judaica (ver Ed 7:1-14) e

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COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

pode ter servido como um funcionário real, possivelmente como um conselheiro jurídico do
rei (ver PR, 607, 608). É evidente que sob quaisquer circunstâncias Artaxerxes tinh a grande
confiança nele (ver Ed 7:25-28). A crise provocada por Hamã possivelmente ocorreu no ano
474/473 a.C., cerca de 17 anos antes da partida de Esdras para Jerusalém. Portanto, é ra-
zoável pensar que Esdras estava familiarizado com os detalhes da história para tê-la escrito.
Como patriota zeloso (Ed 7:27, 28), sacerdote devoto (Ed 7:1-5), reformador piedoso (Ed 9:1-
10:14), "escriba versado" (Ed 7:6) e administrador talentoso (Ed 7:6, 10, 21, 25, 26), Esdras
deve ter tido um profundo interesse nesta crise, que surgiu quando ele era jovem. Certamente
ele estava qualificado para escrever o livro de Ester. Portanto, Esdras pode ter sido o autor.
A partir do posfácio do livro de Ester (Et lO), pode-se inferir que Assuero (Xerxes) estava
morto quando o livro foi escrito, porque "todas as obras do seu poder e do seu valor [... ]
estão escritas no livro das crônicas dos reis da Média e da Pérsia" (Et 10:2, ARC). Se isso
for verdade, então o livro de Ester foi escrito depois de 465 a.C., ano em que Assuero foi
assassinado por Artabano, seu cortesão. Está implícito também que o império persa ainda
era a grande potência mundial. O livro podia ter sido escrito antes da queda da Pérsia em
33 1 a.C. Os numerosos deta lhes íntimos da narrativa, muitos dos quais são agora confirma-
dos pela arqueologia, sugerem, no entanto, que a escrita foi feita logo depois que os eventos
ocorreram, possivelmente por alguém pessoalmente familiarizado com uma ou mais pes-
soas citadas na história.
Alguns sugeriram que Mordecai poderia ter sido o autor. O fato de ele ser conhecido por
ter realizado pequenos serviços no palácio (Et 2:11, 19, 21-23; 3:2-5, 4:1, 2, 6; 5:13) antes de
sua promoção a primeiro-ministro do reino (Et 8:1, 2, 7-10, 15; 9:3, 4, 20, 31; 10:3) pode-
ria explicar adequadamente a evidente familiaridade do autor com o palácio, os costumes
e regulamentos da corte. Além disso, Mordecai é a única pessoa especificamente mencio-
nada na Bíblia como tendo esta familiaridade , bem como acesso aos textos oficiais dos vários
decretos mencionados. Certamente, Mordecai também poderia ter escrito o livro de Ester.
Um tablete cuneiforme que se encontra hoje no Museu de Berlim menciona um alto ofi-
cial do estado com o nome de Marduha (a transliteraç ão babilônica de Mordecai), que, com
o título sipfr, serviu como um conselheiro influente na corte de Susã na época de Xerxes.
Nenhuma outra pessoa é conhecida com esse nome, mantendo essa função em Susã na
época de Xerxes, seja na Bíblia ou em outras fontes.
Segundo a ordem de Assuero, em nome do rei e com o selo real, Ester e Mordecai envia-
ram decretos oficiais para todas as partes do reino, explicando a súbita mudança na política
real e autorizando os judeus a se defenderem (Et 8:9-14; cf. Et 9:31, 32). Alguns têm pen-
sado que o que hoj e é conhecido como o livro de Ester pode ter sido incluído nas mensa-
gens enviadas aos judeus por Ester e Mordecai, mas as referências observadas dificilmente
parecem justificar tal conclusão. No entanto, é completamente possível que Mordecai
tenha escrito o livro de Ester, além dos documentos particulares mencionados no livro.
~ ,.. O fato de ele ser referido na terceira pessoa durante todo o livro não tem qualquer influên-
cia sobre a questão de ele poder ter sido o autor.
Desta forma, apesar de todas as conjecturas, o autor do livro de Ester permanece desco-
nhecido. Tudo o que se pode dizer com certeza é que ele deve ter sido um judeu que vivia
em Susã na época em que ocorreram os acontecimentos narrados no livro.
3. Contexto histórico - Com a morte de Dario I (Histaspes, ou "o Grande") em 486
a.C., seu filho Xerxes subiu ao trono e governou até morrer em 465 a.C., e foi por sua

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vez sucedido por seu filho Artaxerxes. O Assuero da Bíblia é, portanto, o Xerxes da his-
tória. O nome Assuero vem da transliteração latina de 'Achashwerosh, o equivalente hebraico
do babilônico Achshiyarshu. Os tradutores da LXX confundiram Assuero com Artaxerxes.
O Assuero dos livros de Esdras e Ester não é o de Daniel 9: 1, que foi o pai de Dario, o medo.
Durante os últimos anos do reinado de Dario Histaspes e a primeira parte do rei-
nado de seu filho e sucessor Xerxes (Assuero), o império persa estava no auge de se u
poder. De acordo com Ester 1:1 o domínio de Assuero se estendia da fronteira noroeste
da Índia a oeste, até a fronteira ao norte da Etiópia. De leste a oeste seu comprimento era
de 4,8 mil km e a largura variava de 800 a 2,4 mil km; es ta área era de aproximadamente
3 milhões de km 2 . Susã foi uma das capitais do império persa, uma honra que partilhou
com Ecbáta na e Persépolis. Os persas eram um ramo de famílias indo-europeias e foram
os primeiros desse grupo, de fato, a se tornarem uma potência intercontinental (para uma
análise aprofundada do período da história persa em que ocorreram os eventos do livro de
Ester, ver p. 44-46).
Do ponto de vista da história bíblica, o evento principal durante o reinado de Ciro
(c. 553-530 a.C.), primeiro rei do império persa, foi o decreto do seu primeiro ano de reinado
autorizando os judeus a retornarem para a Palesti na (ver p. 86-87) e reconstruir o templo (Ed
5:13). De acordo com esse decreto, Zorobabellevou cerca de 50 mil judeus de volta para a
Judeia em 536 a.C. e iniciou a reconstrução do templo (Ed 1:5, 6; 3:1-10). Depois de um tempo,
porém, o trabalho chegou a um impasse, como resultado de várias dificuldades (ver Ed 4:1-5,
24; cf. Ag l:l-4). Cambises (530-522 a.C.), filho e sucessor de Ciro, foi de pouca importân-
cia para os judeus, pois ele parece ter tido pouco ou nenhum interesse no bem-estar deles.
Seu sucessor, Dario Histaspes (522 -486 a.C.), subiu ao trono, confirmou o decreto original
de Ciro mediante a emissão de um dos seus próprios decretos (ver Ed 4:24; 6: 1), que resul-
tou na conclusão do templo de Zorobabel em 515 a.C. (ver Ed 6:1, 15).
No início do 5° século, Atenas ajudou os gregos que viviam na costa oeste da Ásia
Menor em sua luta para se libertarem do domínio persa. Dario enfrentou esse des afio ao
seu poder, liderando um exército para a Grécia a fim de punir os atenienses. Com um exér-
cito insignificante, os atenienses venceram os poderosos exércitos da Pérsia na praia em
Maratona e derrotaram os invasores, de modo que Dario se retirou imediatamente para
a Ásia (490 a.C.). No entanto, enquanto fazia os preparativos para uma nova incursão na
Grécia, Dario morreu (486 a.C.). Seu filho e sucessor Xerxes I ou Assuero (486 -465 a.C.)
voltou à Grécia apenas para sofrer uma derrota maior em Salamina (480 a.C.). Xerxes retor-
nou definitivamente para a Ásia, deixando seu general Mardônio no comando. Mardônio
foi derrotado em Plateia no ano seguinte e, como resultado, as forças persas deixaram a
Europa para nunca mais voltar.
A grande festa no terceiro ano de Xerxes (Assuero) parece ter sido realizada pouco antes
de ele sair de Susa em sua expedição desastrosa para a Grécia. Foi, sem dúvida, antes de
sua partida em 482/48 1 a.C. que foi emitida a ordem para reunir "todas as moças vir-
gens" (Et 2:3). Para cumprir plenamente esse decreto, sem dúvida foram necessários vários
meses. Logo após o retorno de Xerxes para Susa, evidentemente, Ester foi levada diante
dele e foi feita rainha.
Reveses contínuos nas mãos da frota ateniense na costa ocidental da Ásia Menor,
durante os anos seguintes, juntamente com distúrbios em outras partes do vasto impé-
rio, podem ter condicionado a mente do rei a olhar com bons olhos o plano de Hamã

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COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

para exterminar os judeus. Esse plano, se posto em prática, teria diretamente invertido a
antiga política amigável e até generosa dos monarcas persas com relação aos judeus, como
demonstrado durante os reinados de Ciro e Dario. A notícia da libertação dos judeus por
meio da coragem de Ester serviu para restaurar os judeus ao favor real e preparou o cami-
nho para os trabalhos de Esdras e Neemias, alguns anos depois e, particularmente, para o
decreto do filho e sucessor de Xerxes, Artaxerxes I (465-423 a.C .), no ano 457 a.C .
As datas fornecidas pelo livro de Ester são as seguintes:

Evento Ester Ano Mês Dia Data a.c.•


A grande festa 1:3 3 14 de abr, 483 - 2 de abr, 482
Ester é 2:12-16 6 10 ? 2 de jan, 479- 30 de jan, 479
convocada
Ester é feita 2:16, 17 7 10 22 de dez, 4 79- 20 de jan, 4 78
rainha
Hamã lança 3:7 12 1 5 de abr, 474-3 de mai, 474
sortes
Decreto de 3:12 12'' 1 13 17 de abr, 474
Hamã
Decreto de 8:9 12'' 3 23 25 dejun, 474
Mordecai
Purim 3: 13; 12'' 12 13 8 de mar, 473
8:12;
9:1,1 7-19

· Alguns tom am este como send o o 13° ano de Xerxes, sugerindo que H amã la nçou sortes duran te um
período de meses para determinar um tempo favorável pa ra apresentar seu pedido ao re i, ao invés de dete rmi-
nar um a data favorável para matar os judeus. Parece improvável , no enta nto, que H amã se contentaria e m espe-
rar tanto tempo para rea lizar seu plano perverso.
•• Coorde nação dos dados cronológicos em Ester com data ção a.C de acordo com a cronologia babilônica
ele Parker e Dubberstein (ver vol. 2, p. 107).

4. Tema- O cativeiro babilônico marca um nítido rompimento na vida judaica nacional.


Por um tempo, o fluxo da história judaica desapareceu e funcionou em oculto e, quando
reapareceu, todo seu caráter foi alterado. Os judeus já não eram tanto um a nação como
eles eram um povo e uma igreja. A Bíblia não contém a história do exílio e do período pós-
exílico, como a história é geralmente definida, mas o espírito do período é admiravelm ente
transmitido nas narrativas de Daniel e Ester. O livro de Ester é um dos cinco rolos que têm
sido lidos desde os tempos antigos em todas as sinagogas nas cinco ocasiões festivas do ano.
Parece ter sido este ciclo anual de leit uras que determinou a localização de Ester no câ non
hebraico. A ordem dos cinco rolos é: Cânticos de Salomão, Rute, Lam entações, Eclesiastes
e Ester. O livro de Ester vem em quinto lugar porque é lido na última festa do ano, os di as
de Purim (ver com. de Et 3:7; 9:26).
Considerado como literatura, o livro de Ester é ao mesmo tempo um idílio e um
épico. Retrata uma crise no destino do povo de Deus a qual o ameaçava de aniquilação.

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O instrumento de libertação é uma judia, exa ltada de uma vida tranquila com Mordecai, 11 ~
seu primo e pai de criação, para ser rainha de um império. A narrativa apresenta Ester como
uma mulher de juízo claro, notável autocontrole e nobre abnegação. O desafio de Mordecai:
"Quem sabe se para conjuntura como esta é que foste elevada a rainha?" (Et 4:14) lançou
a jovem rainha às alturas do ato heroico. Em solene dignidade, seu espírito se ergue para
atender às exigências do momento com palavras corajosas e emocionantes: "Se perecer,
pereci" (v. 16). Quando, no momento crítico, o cetro foi-lhe estendido, ela não identificou
imediatamente o vilão, mas com notável autocontrole e deliberado cuidado conduziu ao rei
e a Hamã para uma situação calculada para ser mais favorável para seu propósito. A fic ção
não poderia conceber uma série tão dram ática e surpreendente de coincidências como as
que levaram até a exposição e morte de H amã. No Purim, a Festa da s Sortes, os judeus
sempre comemoram a eliminação por intervenção divina do plano diabólico de Hamã, c uja
"sorte" estava prestes a se suceder (ver Et 3:7).
O caráter religioso e ensino moral do livro de Ester podem ser resumidos como segue:
l. Embora o nome de Deus não seja mencionado, Sua providência é manifestad a no
livro todo. Nenhum descrente em Deus poderia ter escrito o livro; nenhum crente pode
lê-lo sem que sua fé seja fort alecida. A libertação é apresentada pelo escritor como o resul-
tado de uma fé viva em Deus.
2. O livro de Ester fornece um relato da origem de um importante festival nacional
judaico, a Festa de Purim, que ainda é observada com alegria a cada ano.
3. Uma lição moral vital permeia a narrativa. Com o decorrer do breve dia de populari -
dade de Hamã, a natureza transitória da prosperidade e do poder terrestre se torna doloro-
sa mente evidente. Deus humilha os soberbos e exalta aqueles que confiam nEle.
4. A providência de Deus é impressionantemente apresentada. O poder divino está unido
ao esforço humano . Os meios utilizados são humanos, mas a libertação, em si, é divina.

5. Esboço
I. Ester é feita rainha da Pérsia , 1:1- 2:20.
A. A fes ta oficial de 180 di as, 1:1-4.
8. A festa pública de sete dias, 1:5 -9.
C. Vasti se recusa a comparecer perante Assuero , 1:10-12.
D. Vasti é deposta da condição de rainha , 1:1 3-22.
E. A busca de uma n ova rainha , 2:1 -4.
F. Es ter é levada ao palác io, 2:5-ll.
G . Ester é feita rainha, 2:1 2-20.
li. A trama de Hamã para extermin ar os judeus, 2:21-3:15.
A. Mordecai, um funcionário do rei, salva a vida de Assuero, 2:2 1-23.
8. A promoção de Hamã; seu ressentimento com relação a Mordeca i, 3: 1-5.
C. A tram a de Hamã para se vingar do povo de Mordecai, 3:6-11.
D. O decreto de Hamã para ex termin ar os judeu s, 3: 12-15.
li!. Es ter defend e a ca usa de seu povo, 4:1 - 5:8.
A. Em consternação, os judeus jejuam no decre to de Ha mã, 4:1-3.
B. Mordeca i recorre a Ester, 4 :4-14.
C. Ester aceita o desafio, 4: 15-1 7.
D. Ester recebe ao rei e a H amã num banquete, 5:1 -8 .

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I: I COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

IV. A qu eda de Ham ã, 5:9-7:10.


A. A trama de Hamã para enforca r Mordecai, 5:9-14.
B. Assuero é lembrado do serviço leal ele Mordecai, 6:1-3.
C. H a mã é obrigado a honrar a Mordecai, 6:4-11.
D. Hamã é alertado sobre o fraca sso de seu plano, 6:12-14.
E. Es ter acusa Hamã diante de Assuero, 7: 1-8.
F. A exec uç ão de H amã, 7:9, 10.
V. O triunfo dos judeus sobre os inimigos, 8: 1-10:3.
A. Res istência ao decreto de H amã, 8:1-14.
B. Mordecai é promovido e seu povo, res taurado ao favor do rei , 8: 15-1 7.
C. O livramento e a a legria dos judeus, 9:1-19.
D. Proclamação da Festa de Purim, 9:20-32.
E. Mordeca i se torna primeiro-ministro da Pérs ia, 10:1-3.

CAPÍTULO 1
1 Assuero promove festas reais. 1O Vasti é chamada e se recusa a ir. 13 Assuero, por
conselho de Memucã, impõe um decreto acerca da soberania masculina.

Nos dias de Assuero, o Assuero que rei- 7 Dava-se-lhes de beber em vasos de ouro,
nou , desde a Índia até à Etiópia, sobre cento e vasos de várias espécies, e havia muito vinho
vinte e sete províncias, real , graças à generosidade do rei.
2 naqueles dias, as sentando -se o rei Assuero 8 Bebiam sem constrangimento, como esta-
no trono do seu rei no, que está na cidadela va prescrito, pois o rei havia ordenado a todos os
de Susã , oficiais da sua casa que fizessem segundo a von-
3 no terceiro ano de seu reinado, deu um tade de cada um.
banquete a todos seus príncipes e seus ser- 9 Também a rainha Vasti deu um banquete
vos, no qual se representou o escol da Pérsia e às mulheres na casa rea l do rei Assuero.
Média, e os nobres e príncipes das províncias lO Ao sétimo dia, estando já o coração do
estava m perante ele. rei alegre do vinho, mandou a Meumã, Bizta,
4 Então, mostrou as riquezas da glória do Harbona, Bigtá, Abagta , Zetar e Carcas, os
seu reino e o esplendor da sua excelente gran- sete eunucos que serviam na presença do rei
deza, por muitos dias, por cento e oitenta dias. Assuero,
5 Passados esses dias , deu o rei um banquete ll que introduzissem à presença do rei a rai-
a todo o povo que se achava na cidadela de Susã, nha Vasti, com a coroa real, para mostrar aos
tanto para os maiores como para os menores, por povos e aos príncipes a formosura dela, pois era
sete dias, no pátio do jardim do palácio real. em extremo formosa .
6 H avia tecido branco, linho fino e estofas 12 Porém a rainha Vasti recusou vir por in-
de púrpura atados com cordões de linho e de termédio dos eunucos, segundo a palavra do rei;
púrpura a argolas de prata e a colunas de alabas- pelo que o rei muito se e nfure ceu e se infla-
tro. A armação dos leitos era de ouro e de prata, mou de ira.
sobre um pavimento de pórfiro, de mármore, de !3 Então, o rei consu ltou os sábios que en-
alabastro e de pedra s preciosas. tendiam dos tempos (porque assim se tratavam

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ESTER 1: 2

os interesses do rei na presença de todos os que 18 Hoje mesmo, as princesas da Pérsia e da


sabiam a lei e o direito; Média, ao ouvirem o que fez a rainha, dirão o
14 e os mais chegados a ele eram: Carsena, mesmo a todos os príncipes do rei; e haverá daí
Setar, Admata, Társis, Meres, Marsena e muito desprezo e indignação.
M emucã, os sete príncipes dos persas e dos 19 Se bem parecer ao rei, promulgue de
medos, que se avis tavam pessoalmente com o sua parte um edito real, e que se inscreva nas
rei e se assentavam como principais no reino) leis dos persas e dos medos e não se revogue,
15 sobre o que se devia fazer, segundo a que Vasti não entre jamais na presença do rei
~ ,. lei , à rainha Vasti, por não haver ela cumprido Assuero; e o rei dê o reino dela a outra que seja
o mandado do rei Assuero, por intermédio dos melhor do que ela.
eunucos. 20 Quando for ouvido o mandado, que o rei
16 Então, disse Memucã na presença do decretar em todo seu reino, vasto que é, todas
rei e dos príncipes: A rainha Vasti não somente as mulheres darão honra a seu marido, tanto ao
ofendeu ao rei, mas também a todos os prínci- mais importante como ao menos importante.
pes e a todos os povos que há em todas as pro- 21 O conselho pareceu bem tanto ao rei
víncias do rei Assuero. como aos príncipes; e fez o rei segundo a pala-
17 Porque a notícia do que fez a rainha vra de Memucã.
c hegará a todas as mulheres, de modo que 22 Então, enviou cartas a todas as provín-
desprezarão a seu marido , quando ouvirem cias do rei, a cada província segundo seu modo
dizer: Mando u o rei Assuero que introduzis- de escrever e a cada povo segundo a sua língua:
sem à sua presença a rainha Vas ti , porém ela que cada homem fosse senhor em sua casa, e
não foi. que se fal asse a língua do seu povo.

1. Assuero. Do heb. 'Achashwerosh, uma às vezes, vlSltava Persépolis e Babilônia,


transliteração da palavra persa Khshayârshâ. mas Susã (Susa) era a sede do governo nessa
Em alguns tabletes babilônicos a grafia é época (ver Dn 8:2; Et 9: 12).
Achshiyarshu. No alfabeto consonantal dos Cidadela de Susã. Susã estava n a
papiros de Elefantina o nome aparece como província de Elão (ver Dn 8:2), aproxima-
Chshy'rsh e Chshyrsh. O significado do nome damente 161 km ao norte da atual linha
é desconhecido. Em grego, Khshayârshâ costeira do golfo Pérsico, e pouco mais de
se tornou Xerxes e, em latim, Assuerus. 322 km a leste de Babilônia. Originalmente
Portanto, os nomes Xerxes e Assuero são a capital de Elão, séculos antes da época
equivalentes, um vem do persa para o grego, de Ester, a cidade estava situada na fron-
e o outro vem do hebraico e do latim (ver teira leste do vale do Tigre, o qual se eleva
PR, 598). em direção às montanhas iranianas. Dentre
Este é (ARC). O escritor do livro de as extensas ruínas que cobrem uma área de
Ester parece ter conhecido m ais de um 4,8 km 2 pode ser visto o que resta do espa-
governante chamado Assuero. O Assuero çoso palácio onde ocorreu grande parte da
do livro de Ester n ão deve ser confundido narrativa dramática do livro de Ester. Este
com o Assuero de Daniel 9:1, que viveu palácio, erguido no local do antigo castelo
m eio século antes (a respeito do Assuero de elamita, foi originalmente construído por
Ed 4: 6, ver a Nota Adicional a Esdras 4). Dario Histaspes, o antecessor de Xerxes
2. No trono do seu reino. O monarca (para uma breve descrição dele, ver com. de
persa residia parte do ano em Ecbátana e, Et 1:5, 6).

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1:3 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

3. Terceiro ano. Esta é uma referên- Nobres. Termo originado de uma pala-
cia a 14 de abril de 483 a.C. e 2 de abril de vra persa adotada pela língua hebraica que
482 a.C ., aproximadamente. Talvez a "festa" significa "os primeiros [homens]".
que continuou por seis meses começou no Príncipes das províncias. Isto é, os
início da primavera do ano quando as chu- governadores ou sátrapas encarregados dos
vas já haviam passado e a viagem seria mais territórios conquistados. A história con-
fácil e agradável. firma a presença dos sátrapas em uma
Um banquete. A palavra original- grande convocação em Susã, antes da
mente significa uma "bebedeira". Em vista desastrosa campanha contra a Grécia.
do fato de que Assuero deixou Susã um ano 4. Mostrou as riquezas. A ostenta-
ou dois depois de sua invasão da Grécia (ver ção era uma característica de Xerxes. Uma
contexto histórico, na introdução), tem-se exibição vaidosa marcou o enorme exército
sugerido que os príncipes, governadores e com o qual ele invadiu a Grécia. A fabulosa
chefes militares foram chamados de todas riqueza da Pérsia é comentada por escri-
as partes do reino para participar no pla- tores contemporâneos de várias naciona-
nejamento do que todos esperavam ser lidades. Entre as glórias do palácio persa
uma campanha brilhante e bem-sucedida. estavam os muros cobertos de ouro, os pila-
Heródoto (viii.8) registrou que Xerxes con- res de mármore e ricos enfeites , um plátano
vocou este concílio. Talvez os vários fun- de ouro e uma videira de ouro. Escavações
cionários foram convocados em turnos ao em Susã (Susa) provaram que o autor de
longo do período de seis meses, cada um Ester estava intimamente familiarizado
~ "' com a finalidade de discutir com o rei sua com o palácio e com os costumes e regula-
responsabilidade particular na campanha. mentos da corte persa, uma vez que as des-
Seria muito improvável encontrar todos crições que ele apresenta estão de acordo
os funcionários do vasto império reunidos nos mínimos detalhes com os resultados da
assim , exceto para discussões políticas e investigação arqueológica. Impressionados
militares específicas. com esse fato, os estudiosos afirmam que
Príncipes. Ou, "[nomeados] funcionários". somente alguém que conhecesse pessoal-
Servos. Isto é, seus "cortesãos". mente o palácio real , ou que conhecia
Escol. Do heb. chayil, "exército" (Êx 14:4, 9), alguém que conhecesse o palácio, poderia
"valente [homem]" (lSm 16:18), etc . Se o ter descrito o ambiente exato da história.
objetivo da festa era, como sugerido, o estabe- Cento e oitenta dias. Não é neces-
lecimento de planos para a campanha grega sário supor que as mesmas pessoas foram
seguinte, Assuero certamente incluiria seus recebidas durante todo este período. Não
principais oficiais militares. seria seguro para os governadores provin-
Pérsia e Média. Esta ordem, o inverso ciais que todos deixassem suas províncias
da ordem em Daniel (Dn 5:28, 6:8, 12, ao mesmo tempo, e se mantivessem afasta-
15; 8:20), ocorre repetidamente na narra- dos durante esse longo período. É possível
tiva de Ester (Et 1:3, 14, 18, 19) e indica que Assuero tenha hospedado uma suces-
que o relato pertence ao tempo quando a são de convidados durante os seis meses em
Pérsia substituiu a Média como a principal que a "festa" perdurou.
parceira no império dual (ver Dn 7:5; 8:3). 5. Um banquete. Talvez o propósito de
Em Ester 10:2, é dada a ordem mais conhe- Assuero fosse garantir a lealdade dos indi-
cida, talvez porque nas "Crônicas" os reis víduos da capital durante sua prolongada
medos vinham em primeiro lugar. ausência na Grécia. Se assim for, este foi

512
ESTER 1:1 o

um movimento político astuto. Somente os colunas até o pátio mosaico pavimentado,


homens foram incluídos, é claro, porque a um espaço de aproximadamente 18 metros.
rainha Vasti deu um banquete em separado Colunas de alabastro. As colunas e m
para as mulheres (v. 9). Susã eram de p edra calcária azul-escuro.
Pátio do jardim. As ruínas do p alá- A palavra hebraic a shesh, "mármore" (ARC),
cio de Xerxes es tão suficientemente bem possivelmente se refira a esse calcário ou
preservadas p ara possibilitar uma descri- alabastro e não ao que geralmente se
ção de algumas de suas partes. A porta conhece como mármore.
do rei onde Mordecai se sentava, o pátio Pavimento. As quatro palavras hebrai-
onde Ester compareceu espontaneamente cas traduzidas por "de mármore vermelho,
e algumas outras partes do palácio foram e azul, e branco e preto" (ACF) não deno-
localizadas. tam cores, mas os vários tipos de pedra e
O palácio tinha aproximadamente 275 m de outros materiais no pavimento traba-
de cada lado. A porta principal ficava ao sul. lhado em mosaico. Calcário azu l-escuro é
Ao nordeste do palácio estava a espaçosa mencionado como parte do pavimento, bem
apadâna ou sala do trono. Esse imenso edi- como das colunas.
fício, com 100 m de um lado, possivelmente 7. Vasos de ouro. Taç as de ouro foram
tinha uma escada de proporções gigantes- encontradas pelos gregos vitoriosos em
cas. O telhado plano da parte central era quantidade considerável no acampamento
apoiado por 36 colunas delgadas e canela- persa próximo a Plateia.
das, com capitéis esc ulpidos e dispostos em De várias espécies. Este detalhe deve
seis fileiras de seis colunas cada. A fachada ter vindo de uma testemunha ocular ou
do edifício talvez fosse aberta, enqu anto os de alguém que ouviu o relato do banquete de
muros posteriores e laterais eram de tijo- uma testemunha ocular.
los, revestidos com frisos esmaltados. Ouro, Vinho real. Ou, "vinho do reino", isto
prata e pedras preciosas foram usados abun- é, da adega real.
dantemente na decoração da sala do trono. 8. Como estava prescrito. Ao que
Escritores gregos falam de um plátano de parece, o rei fez um edito ordenando que
ouro e de uma videira de ouro nesse pátio. cada convidado deveria beber o qua nto qui-
Ao noroeste do palácio, acredita-se, era o sesse e não competir com os outros numa
"jardim" ou parque. Foi dentro e ao redor da bebedeira.
apadâna que ocorreram muitos dos inciden- 9. A rainha Vasti. A única esposa de
tes relatados no livro de Ester. Xerxes de quem os gregos fizeram registro
6. Branco, verde e azul celeste foi Amestris. Xerxes casou-se com ela antes
(ARC). Literalmente, "algodão branco e de subir ao trono, quando chegou à idade
violeta [material]". A palavra traduzida como própria. H eródoto e Ctesias falam de sua
"verde" na ARC origina-se na palavra sâns- crueldade e modos dissolutos . No enta nto,
crita para "algodão". Observe que a palavra não pode ser comprovado que Ame stris e
"pendentes" (ARC) foi acrescentada. Estas Vasti fossem a mesma pessoa. Como Ester
"tapeçarias" ou toldos, possivelmente eram (ver Et 2:7), a rainha pode ter sido conhe-
~ "' feitos de tecido de algodão branco e violeta. cida por mais de um nome.
Cordões de linho e de púrpura. Fortes 10. Oficiais (NVI). Literalmente, "eunu-
"cordões" seriam necessários para suportar o cos", os únicos que teriam acesso aos aposen-
toldo, se foi estendido como alguns têm pen- tos das mulheres. A derivação e significado
sado, desde o corredor central firmado com dos nomes destes eunucos são duvidosos .

513
1: 11 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

Os eunucos eram muitas vezes escravos ir quando convocada, apesa r do fato de os


estrangeiros deliberadamente mutilados para homens estarem bebendo (ver Et 7:7).
venda no mercado persa. Os persas conside- O fato de Vasti ter dado um banquete
ravam sagrado o número sete. para as mulheres de Susã, simultaneamente
11. Introduzissem [... ] a rainha ao de Assuero para os homens, indica coope-
Vasti. Depois de ter exibido a riqueza e ração com a política dele na promoção de
a glória de seu reino, os p ensam entos de leald ade popular ao trono. Nada no registro
Assuero finalmente se voltaram para sua oferece um a dica para a razão da rec usa de
bela rainha. A exibição da beleza dela seria Vasti em obedecer à ordem do rei.
o clím ax da exposição. Inflamou de ira. Ver com. de Gn 4:5.
12. Vasti recusou vir. A razão para a 13. Sábios. Isto é, os conselheiros do rei.
recusa da rainha não é clara. Alguns suge- Furioso, Assuero buscou conselho. Na pre-
riram que Assuero planejava uma exibição sença de toda sua corte seria inconveniente
indecente da beleza de Vasti, mas o contexto que ele desse vazão à sua paixão com pala-
não fornec e dicas a respeito de ser este seu vras violentas e ameaças . Em vez de emi- -<~ ~
propósito. Os targuns judeus, no entanto, tir uma ordem precipitada , ele considerou
declaram que o motivo de Vasti para se que medidas deviam ser tomadas. Parece
recusar a comparecer foi o desejo de evitar que Assuero dependia muito de seus con-
tal exposição. Josefo atribui a recusa ao que selheiros (ver Et 3:8-10 ; 8:1-8; 9:12-14) e
ele, equivocadamente, pensava ser um cos- nesta ocasião ele solicitou a opinião de seus
tume persa, que supostamente proibiria as "sábios" para lidar com Vasti.
mulheres casadas de associar-se com estra- Entendiam dos tempos. Pessoas com
nhos. Outros antigos escritores judeus esta- conhecimento e experiência que esta-
beleceram uma variedade de especulações vam familiarizadas com os precedentes e
que não devem ser consideradas. sabiam o que seria a coisa adequada a fazer
A ordem de Assuero especificando que em qualquer ocasião especial.
Vasti usasse a coroa real (v. 11) indica que ele Interesses do rei. Ou seja, seu modo
estava pensando nela, não apenas como uma de proceder. Toda questão preocupante o
mulher bonita, mas também como a mulher rei submetia à opinião de homens instruí-
mais importante do império. Na verdade, dos antes de tomar sua decisão. Isto, pos-
era de bom gosto às mulheres persas com- sivelmente, seria um costume geral da
parecer à mesa do banquete com estranhos monarquia persa ao qual o escritor faz refe-
(Et 5:4). Esposas e concubinas caldeias tam- rência neste verso, em vez de relacionar a
bém se uniam a seu marido em banque- prátic a apenas a Assuero.
tes de embriaguês (Dn 5:2). De acordo com 14. Os sete príncipes. Esdras também
Neemias 2:1 a 6, a rainha do filho e suces- menciona sete conselheiros especiais (ver
sor de Assuero, Artaxerxes I, acompanhou Ed 7:14) ao monarca persa, que podiam ser
seu senhor no vinho. Vários escritores gre- considerados do ministério do rei. Heródoto
gos confirmam a presença de mulheres per- observou que havia sete principais famílias
sas em festas. Heródoto, contemporâneo de da Pérsia cujos chefes tinham privilégios
Assuero, fala de Amestris (ver com. de Et 1:9) especiais.
na festa de aniversário do rei (ix. llO). Não há Que se avistavam pessoalmente.
nenhuma razão para pensar que os costumes Entre os privilégios especiais destes homens,
persas daquela época isolassem as mulhe- um dos mais importantes é que tinham livre
res e que teria sido, portanto, impróprio Vasti acesso ao monarca.

514
ESTER 1: 22

15. Segundo a lei. O rei não queria 19. Um edito real. Literalm ente, "um a
parecer vingativo. Além disso, os gover- ordem d o reino". Sob circu nstâncias no r-
n antes da Pérsia eram , e m certo sentido, mais, uma questão como a desonra por
monarcas de bom senso (ver Et 1:19; 8:8; cf. parte d a esposa favorita teria sido resol-
Dn 6:8-16). É como se o rei di ssesse: "D ei - vida no segredo do haré m, sem ch a mar a
xemos de lado todos os sentimentos e con- atenção pública para isso. Na opini ão de
sideremos apenas que a lei exige. Se um a Memucã a publicidade da desobe diê ncia
ra inha desobedece ao rei ab ertam e nte de Vasti tornou conveniente que e la fosse
diante de sua corte, qual deve ser o proce - tratada publicamente.
dimento jurídico adequado?" Por t rás dessa E que se inscreva. Um edital relac io-
ênfase na lei estava o orgulho do gove rno nado a uma pessoa não era uma coisa ade-
medo-persa de que suas eram leis imutáveis. quada para adicionar a um código nacional
16. Disse Memucã. Este é o porta-voz de leis , mas decretos de nat ureza temporá-
do grupo dos sete conselheiros e speciais. ria foram, por vezes, a nexa dos ao código,
Em sua respos ta ele indica que a lei persa aparentemente com o propósito expresso
não prevê sanção para o caso em questão. de lhes dar força, torn ando-os inalteráveis
A lei não havia contemplado um caso desse (Dn 6:8, 9).
tipo. Não havia precedente. Não entre jamais. Vasti deveri a ser
Não somente ofendeu ao rei. Em banida, não do palácio, m as d a presença
nome dos sete conselheiros, Mem ucã afasta o do rei. Isto, junta mente com a perda de sua
assunto do nível da aversão pessoal por parte posição privilegiada como rainh a, trari a
do rei e o eleva a uma questão de estado. suprema vergonha . A beleza por si só n ão
Assim, isenta o rei de vingança e fornece um a poderia sa lvá-la (ver com. do v. 12).
base no senso comum para lidar com o caso. 20. Mandado, que o rei decretar.
17. Desprezarão a seu marido. A "ordem" do verso anterior é cham ada de
Literalmente, "farão com que se us senhores "decreto".
sejam desprezados em seu s olhos". Neste Pois é grande (ARC). Ou , "vasto que
verso, Memucã indica qu e Vasti desprezou é" (ARA).
a Assuero. Não está claro se ele se refere ao 21. Fez o rei. Vasti foi separada , mas
motivo de Vasti não obedecer ao comando não divorciada do rei. Os motivos para esta
rea l ou simplesmente ao ato em si. ação fo ram publicados em tod as as pro-
18. As mulheres (NVI). Do heb . víncias, para que todos os entendessem.
saroth, plural de sarah, "princesa" (ARA; ver Os cuidados de Assuero em li dar com o caso
com. de Gn 17:15). As princesas falariam sugerem a ideia de que Vasti pode ter sido a
grosseiramente com seus maridos, os prín- filha de um persa proe minente cujo apoio · ~
cipes. O escritor tem o cuidado de se refe- o rei procurou manter, ou talvez a filha do
rir primeira mente à Pérsia, antes da Média príncipe de um de seus súditos .
(ver com . de Et 1: 3). 22. Enviou. Mais exatam ente "e ele
Muito desprezo e indignação. Ou, e nviou". Alé m de publicar o decreto, Xerxes
"desprezo e indignação e m abundânci a" 1he acresce ntou uma carta destinada a pro-
(RSV), isto é, desprezo por parte das espo- teger o rein o co ntra os perigos apontados
sas e indignação, dos maridos. por Memucã (ver v. 18).

515
2:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

CAPÍTULO 2
1 Além da escolha das virgens uma rainha deveria ser eleita. 5 Mordecai, o pai adotivo
de Ester. 8 Ester tem a preferência de Hegai. 12 A forma de purificação e a ida à
presença do rei. 15 Ester agrada ao rei mais do que as outras e se torna rainha.
21 Mordecai descobre uma traição e isso é registrado nas crônicas.

l Passadas estas coisas, e apaziguado já o furor lO Ester não havia declarado seu povo nem
do rei Assuero, lembrou-se de Vasti, e do que ela a sua linhagem , pois Mordecai lhe ordenara que
fi zera, e do que se tinha decretado contra ela. o não declarasse.
2 Então, disseram os jovens do rei, que lhe li Passeava Mordecai todos os dias diante
serviam: Tragam-se moças para o rei, vi rgens de do átrio da casa das mulheres, para se informar
boa aparência e formosura. de como passava Ester e do que lhe sucederia.
3 Ponha o rei comissários em todas as pro- 12 Em chegando o prazo de cada moça vir
víncias do seu re ino, que reúna m todas as ao rei Ass uero, depois de tratada segundo as
moças virgens, de boa aparência e formosura, prescrições pa ra as mulheres, por doze meses
na cidadela de Susã, na casa das mulheres, sob (porque assim se cumpria m os dias de seu em-
as vistas de Hegai, eunuco do rei, guarda das belezamento, seis m eses com óleo de mirra e
mulheres, e deem-se-lhes seus unguentos . seis meses com especiarias e com os perfumes
4 A moça que cair no agrado do rei , essa e unguentos em uso entre as mulheres),
reine em luga r de Vasti. Com isto concordou o 13 então, é que vinha a jovem ao rei; a ela se
rei , e assim se fez . dava o que desejasse para levar consi go da casa
5 Ora, na cidadela de Susã havia certo das mulheres para a casa do rei.
homem judeu , benjamita , chamado Mordecai, 14 À tarde, entrava e, pe la manhã, tornava
filho de Jair, filho de Simei, filho de Quis , à segunda casa das mulheres, sob as vistas de
6 que fora transportado de Jerusa lém com Saasgaz, eunuco do rei, guarda das concubinas ;
os ex ilados que foram deportados com Jeconias, não tornava mais ao rei, salvo se o rei a desejas-
rei de Judá, a quem Nabucodonosor, rei da se, e ela fosse chamada pelo nom e.
Babilônia, havia transportado. 15 Ester, filh a de Abia il , tio de Mordecai ,
7 Ele criara a Hadassa, que é Ester, filha que a tomara por filha, quando lhe chegou a vez
de seu tio, a qua l não tinha pai nem mãe; e de ir ao rei, nada pediu a lém do que disse Hega i,
era jovem bela, de boa aparência e formosura. eunuco do rei, guarda das mulheres . E Ester al-
Tendo-lhe morrido o pai e a mãe, Mordecai a to- cançou favo r de todos quantos a via m. <4 ~
mara por filh a. 16 Assim , foi levada Ester ao rei Ass uero, à
8 Em se divulga ndo, poi s, o mandado do rei casa rea l, no déci mo mês, que é o mês de tebe-
e a sua lei, ao serem ajuntadas muitas moças na te, no sétimo ano do seu reinado.
cidadela de Susã, sob as vistas de Hegai, leva- !7 O rei amou a Ester mais do que a todas
ra m também Ester à casa do re i, sob os cuidados as mulheres, e ela alcançou perante ele favor e
de Hegai , guarda das mulheres . benevolência mais do que todas as virge ns; o rei
9 A moça lhe pareceu formosa e alcançou pôs-lhe na cabeça a coroa real e a fez rainha em
favor perante ele; pelo que se apressou em dar- luga r de Vas ti.
lhe os unguentos e os dev idos alimentos, como 18 Então, o rei deu um gra nde banquete
também sete jovens escolhidas da casa do rei; e a todos seus príncipes e aos seus servos; era o
a fez passar com as suas jovens para os melhores banquete de Ester; concedeu a lívio às provín-
aposentos da casa das mulheres. cias e fez presentes segundo a generosidade rea l.

516
ESTE R 2:5

19 Quando, pela segunda vez, se reuniram guardas da porta, Bigtã e Teres, sobremodo
as virgens, Mordecai estava assentado à porta se indignaram e tramaram atentar contra o rei
do rei. Assuero.
20 Ester não havia declarado ainda a sua 22 Veio isso ao conhecimento de Mordecai,
linhagem e seu povo, como Mordecai lhe or- que o revelou à rainh a Ester, e Ester o disse ao
denara; porque Ester cumpri a o mandado de rei, em nome de Mordecai .
Mordecai como quando a criava. 23 Investigou-se o caso, e era fato ; e ambos
21 Naqueles dias, estando Mordecai sen - foram pendurados numa forca . Isso foi escrito
tado à porta do rei, dois eunucos do rei , dos no Livro das Crônicas , perante o rei.

1. Passadas estas coisas. Vasti dei- mais agradável a um monarca orienta l como
xou de ser rainha, mas Assuero parecia não Xerxes. Além disso, a sugestão de qu e e le
ter pressa em conferir a alguém a honra que deveria encontrar algu ém do seu agrado
havia sido dela. Seu harém era, sem dúvida, ainda mais bela que Vasti tiraria seus pen-
bem abastecido de esposas e conc ubinas, samentos dela e, assim, salvaguardaria os
m as nenhuma se destacava. Assuero pos- interesses dos homens que haviam proposto
sivelmente "lembrava-se de Vasti", por tor- sua humilhação.
na r-se sóbrio de novo ou após o decurso de 3. Casa das mulheres. Em um palá-
um p eríodo considerável. N ão é indicado cio oriental o harém sempre era separado
quanto tempo passou depois da rejeição de da residência do rei e dos outros home ns,
Vasti como ra inha. Isto ocorreu no terceiro geralmente em outro prédio. Seu estabeleci-
ano do seu reinado (Et 1: 3), e Ester chegou mento era presid ido por eunucos, chamados
ao palácio em resposta à convocação real no frequentemente de "camareiros". No pa lácio
sexto ano (Et 2:12, 16). Durante uma parte de Xerxes o harém era situado na parte nor-
considerável des te tempo Assuero (Xerxes) deste da área do palácio (ver com. de Et 1:5).
esteve afastado de Susã em sua malfadada Eunuco. Um dos eunucos rea is (ver
campanha grega (ver introdução). Em vista Et 1:10) a quem o rei atribuiu responsabili-
do fato de Ester possivelm ente chegar ao dades especiais.
palácio antes do retorno de Assuero (ele Guarda das mulheres. Rigorosame nte
deixou a Grécia em outubro ou novembro fa lando, H egai (v. 8) parece ter sido
de 480 a.C. e Ester chegou ao palácio em somente guarda das virgens. Outro e unuco
janeiro de 479 a.C .), é possível que o ajun - real estava responsável pelas mulheres que
tamento de virgens tenha ocorrido durante foram apresentadas ao rei (v. 14).
sua ausência. Unguentos. Ou, "tratamento de beleza"
Lembrou-se de Vasti. Assuero pode (N VI) ; ver a lista no v. 12. Os reis persas
ter considerado a hipótese de buscar podiam se considerar semideuses e ach a-
Vasti de volta e fazê -la rainha novamente . va m necessá rio que mes mo as virgens se
Se tivesse agido assim os oficiais que pro- submetessem a um longo período de "puri-
puseram a sua humilhação esta riam em ficação" antes de estarem aptas a se consor-
perigo. A desgraça de Vasti foi ação deles; ciar a eles.
o retorno dela ao poder resultaria na demis- 5. Certo homem judeu. Repe nti-
são deles, se não na execução. na mente a cena muda da corte da Pér-
2. Virgens de boa aparência e for- sia para um humilde lar judeu em alg um
mosura. Esta proposta certamente seria lugar da capital. Tanto quanto se sabe,

51 7
2:6 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

nenhum judeu foi levado cativo para Susã, ficou órfã, ele a adotou como se fosse su a
~._ e os jude us que viviam ali possivelmente o própria filha.
fa zia m por opção própria. Segundo a tradi- Alguns identificara m Mordecai com
ção judaica, Mordecai estava envolvido em Matacas (ou Natacas), a que m o histo-
algum empreendimento comercial antes riador grego Ctésias se refere como um
qu e o destino o unisse à corte p ersa . influente mini stro de Xerxes. Enquanto tra-
Mordecai. A respeito d a possível iden- balhava em determinados tabletes cunei-
tific aç ão de Mordecai como o Mardulw de formes no Mus eu de Berlim, o professor
um table te cuneiforme, ver introdução Arthur Ungn ad en controu um texto que
(p. 506) . menciona um home m chamado Marduka
Mordecai era um judeu da tribo de (a transliteração babilônica para Mordecai)
Be nj amim destinado a ocupar um lugar como um dos altos funcion ários do estado
de honra na história de seu povo. N ão é em Susã durante o rei nado de Xerxes . Seu
certo se o antep assado de Mordecai que título, sipir, indica alta posição e influên cia
"fora transportado de Jerusalém [para (ver introdução, p. 506). A presença de um
Babilônia] com os exilados" (v. 6) era Quis homem de influência com o mesmo nome,
ou Jair; a sintaxe hebraica p ermitiria os vivendo n a mesm a cid ade ao mesmo tempo,
dois. Se for Quis, e ntão Quis seria o avô de é significativa.
Mordecai. Três ou quatro gerações abran- 6. Os exilados. Houve três cativeiros:
geriam os 118 a nos que se sucederam. Se, o primeiro em 605 a.C. , quando D an iel foi
por outro lado, for Jair, então Simei e Quis levado, o segundo, em 597 a .C ., quando
foram ancestrais de Mordecai antes do cati- Joaquim foi feito prisioneiro, e o te rceiro,
veiro, cuja relaç ão exata não é conhecida. em 586 a.C., quando Zedequias foi levado
No último ca so , a genealogia apresentada e Jerusalém , queim ada. Os antepassados de
n este verso não representa os ancestrais Mordecai foram levados p ara Babilônia no
imediatos de Mordecai, mas a ntepassados segundo cativeiro, 11 8 a nos a ntes .
di stantes, aprese ntados para identifica r a 7. Hadassa. Hadassah era o nome ori-
origem de sua família. Esta prática está de ginal hebraico de Ester (ver introdução,
acordo com o co stume h ebraico (ver com. p. 505). Vem da rai z hadas, "murta", com o
de Mt 1: 8, 17). N a Bíblia, os termos "pai" final feminino termin ando e m ah.
e "filho" n em sempre indicam relação ime- Ester. Do heb. 'Ester. Esta p alavra pode
diata, porém, muitas vezes, simplesmente ter sido emprestada dos p ersas. E la se asse-
a ascendê ncia e desce ndênci a (ver vol. 1, m elh a a Stâreh, um moderno nome p e rs a
p. 159, 160; e com. de G n 37:35). É pos- que significa "es trela". Este nome é tran s-
sível que Quis fosse um antepassado dis- literad o para o grego como Aster ou Esther
tante de Mordecai. (LXX). A rai z grega de astel" ocorre e m
Quase 60 anos antes dos eve ntos nar- palavras portu guesa s como "aster" (gên ero
rados no livro de Ester, Ciro decre tou botânico), "est rela" (estrela) e "asteroide".
que todos os jude us poderiam retorn ar à A forma b abilôn ic a da p alavra e ra Ishtar,
Pales tina, se o quisessem , m as os pai s de que se tornou Ashtoreth (plural Ashtaroth)
Mordecai escolhera m permanecer na terra e Astarte em grego. Em Babilônia , o planeta
do seu cativeiro. Este parece te r sido o Vênus era deifi cado como Ishtar. Mordecai
caso da gra nde maioria do povo judeu (ve r pode ter optado por um nome persa devid o
PR, 598). Quando a prim a d e Mordecai, a um desejo de esconder a ascend ê nci a
H adas sa (Ester; ver introdução, p. 505), judia de Ester (v. 10).

51 8
ESTER 2:17

De boa aparência. Do heb. yefath- a entrada principal do palácio e VISitar


to'ar, de yafah, "bonito", e to'ar, "algo para se o pátio em frente ao harém , a fim de ver
admirar", "forma". Talvez a expressão tra- Ester ou, pelo menos, obter notícias sobre
duzida como "de boa aparência" pode ser ela (ver com. do v. 5).
melhor traduzida como "bela na forma". 12. Óleo de mirra. A mirra era muito
Formosura. Do heb. tobath mar'eh, lite- estimada pelos antigos , por causa de seu
ralmente, "boa aparência" ou "bons traços". perfume e do seu suposto poder purifica-
8. Sua lei. A mesma palavra ocorre na dor. No Egito era utilizada no processo de
expressão "a lei dos medos e dos persas, que embalsamamento dos mortos (ver com.
se não pode revogar" (Dn 6:8, 12). de Gn 50:2). Os judeus a utilizava m como
9. A moça lhe pareceu formosa. um dos ingred ientes principais do "óleo
Literalmente, "foi boa aos seus olhos". sagrado para a unç ão" (Êx 30:23-25).
Alcançou favor. Esta frase é peculiar Vestidos e camas eram p erfumados com
ao livro de Ester (cf. Et 2:17; 5:12) ele (SI 45:8 ; Pv 7: 17).
Apressou em dar-lhe. H egai parece Especiarias. A palav ra assim tradu-
ter favorecido Ester desde o início. Conhe- zida também é interpretada como "aromas"
cendo as preferências do rei, ele aparen- (Ct 4:16).
temente reconheceu em Ester a p essoa 13. O que desejasse. Alguns comen-
* " que seria selecionada e começou imediata- taristas sugerem que cada virgem tinha
mente a tratá-l a como a futura rainha. o privilégio de reter as joias e roupas que
E os devidos alimentos. Literal- escolhesse para usar nessa ocasião.
m ente , "seus quinhões" (ACF). Isto pos- 14. Segunda casa. Ou seja, o próprio
sivelmente significa a porção diária de harém , onde viviam as esposas e concubi-
alimento para Ester. nas do rei.
Escolhidas. Este foi um benefício mos- 15. Tio de Mordecai. Literalmente,
trado a Ester pelo guarda das mulheres. "o tio paterno" ou "irmão do pai ". Abiail , o
Ele selecionou para Ester as don zelas mais pai de Ester, talvez foss e um irmão de Jair
adequadas como suas assistentes. (ver com. do v. 5).
Os melhores aposentos. Estes "melho- Nada pediu. Ester aceitou a opinião de
res aposentos" no harém n ão poderia ser Hegai sem questionar, apesar de seu privi-
nada menos do que os aposentos reservados légio de usa r roupas e joias de sua própria
para a rainha. escolha.
I O. Não havia declarado. O rei não I6. Mês de tebete. Isto correspon-
favoreceria um representante de um povo dia à última parte de dezembro e a pri-
subordinado a ele (ver v. 20). Urda Caldeia, meira parte de janeiro. No sétimo ano de
a casa de Abraão, estava 240 km a sudoeste Assuero, tebete começou em 22 de deze m-
de Susã; e, na aparência geral, Ester, sem bro (479 a.C.) e terminou em 20 de ja neiro
dúvida se assemelhava a muitos habitantes (478 a.C.) . Te ndo regressado da desas-
nativos da região. trosa expedição grega no ano anterior, sem
11. Passeava Mordecai. O con- dúvida, o rei esta ria satisfeito em ti rar os
texto sugere que Mordecai já era um dos ass untos milita res de seus pensamentos.
funcionários de menor importâ ncia que I 7. Todas as mulheres. Inclusive
aguard ava nas portas do rei para fazer sua todas as ex-esposas secundárias e concubi-
solicitação. Mordecai, no entanto, plane- nas e as virgens que estiveram com ele até
jou enc ontrar tempo suficiente para deixar aquele momento.

519
2: 18 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

E a fez rainha. O rei estava satisfeito tornou rainha . Esse fato exalta Mordecai
com Ester e parece tê-la feito sua rainha como um pai adotivo e Ester como filha leal
sem esperar para ver as outras virgens. e obediente. Sua beleza era essenc ialmente
18. Um grande banquete. Um ban- de caráter e de person alid ade. A beleza da
quete de casamento para Ester. aparênc ia era incid ental. Muitas vezes, a
Concedeu alívio. O rei suspendeu o frouxidão dos pa is por um lado, ou o rigor 1 ~
impos to h abitual de tributo em honra da autoritário por outro, implanta na juventude
coroação de Ester. Era um costume real o des ejo de ser livre de con tenção e pro-
na Pérsia dar à rainha um décimo de todas move desobediência e delinquência. Feliz
as multas pagas ao rei. Com isso, a rai- é o la r onde a autoridade paterna é equili-
nh a abastecia seu guarda-roupa e realizava brada com o respeito à individualidade de
outros desejos. seus jovens , onde o controle dos pais é exer-
Segundo a generosidade real. Lite- cido com o objetivo de desenvolver o auto-
ralmente, "de acordo com a m ão do rei", isto controle. Como Ester, esses jovens deixarão
é, "no esti lo adequado ao rei''. A prática de o lar com persona lidade bem equilibrad a e
dar presentes, tão comum no Oriente em caráter disciplinado.
tod as as époc as, era muito popular entre 21. Naqueles dias. Ver com . do v. 19.
os persas. À porta. Literalm e nte , o "limi ar". Bigtã
19. As virgens. Literalmente, "virgens", e Teres aparentemente e ra m os e unucos
sem o artigo definido. Assim, é mencionado responsáveis por guardar a entrada dos apo-
um recruta mento adicional de virgens. Isso sentos privados do rei, talvez seu aposento
ocorreu ent re ja neiro de 478 a.C . e abril de para dormir. A posiç ão de a lta confiança
474 a. C. deu uma vantagem aos consp iradores.
Porta do rei. Em outras palavras, A hi stória registra qu e Xerxes p erdeu a
Mordecai se torno u (se ele já não era) um vida em um a conspiração como a descrita
assistente do p alácio ou um fu ncionário neste verso.
el e menor importância (ver com . do v. 11). 22. Conhecimento de Mordecai.
O portão do pal ácio era onde se localiza- Josefo (Antiguidades, xi.6.4), o hi storiador
vam os escritórios reais e onde eram rea- judeu, relata um determinado escravo que
li zados os negócios do estado (ver com . de denunciou os conspi radores para Mordecai.
Gn 19 :1 ). 23. Pendurados numa forca. Na ver-
20. Ester cumpria. O profundo res- dade, devem ter sido empalados, como trai-
peito por seu benfeitor levou Ester a va lo- dores e rebeldes eram comumente tratados
rizar seu conselho mesmo depois que se na Pérsia (ver com. de Ed 6:11).

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

17 -PR ,60l 19, 21 - T5 , 450

520
ESTER 3:1

CAPÍTULO 3
1 Hamã é promovido pelo rei; desprezado por Mordecai, ele busca vingança
contra todos os judeus. 7 Ele lança sortes. 8 Por meio de calúnia,
obtém um decreto do rei para matar os judeus.

Depois destas coisas, o rei Assuero en- não cumpre as do rei; pelo que não convém ao
grandeceu a Hamã , filho de Hamedata, agagita, rei tolerá-lo.
e o exaltou, e lhe pôs o trono acima de todos os 9 Se bem parecer ao rei, decrete-se que
príncipes que estavam com ele . sejam mortos, e, nas próprias mãos dos que exe-
2 Todos os servos do rei, que estavam à porta cutarem a obra, eu pesarei dez mil talentos de
do rei, se inclinavam e se prostravam perante prata para que entrem nos tesouros do rei .
Hamã; porque assim tinha ordenado o rei a res- lO Então, o rei tirou da mão seu anel, deu-o
peito dele. Mordecai, porém , não se inclinava, a Hamã , filho de Hamedata , agagita , adversá-
nem se prostrava. rio dos judeus,
3 Então, os servos do rei, que estavam à li e lhe disse: Essa prata seja tua , como
porta do rei , disseram a Mordecai: Por que também esse povo, para fa zeres dele o que m e- ~ ~
transgrides as ordens do rei? lhor for de teu agrado.
4 Sucedeu, pois , que, di ze ndo-lhe eles isto, 12 Chamaram, pois, os secretários do rei,
dia após dia, e não lhes dando ele ouvidos, o fi- no dia treze do primeiro mês, e, segundo orde-
zera m saber a Hamã , para ver se as palavras de nou Hamã , tudo se escreveu aos sátrapas do rei,
Mordecai se manteriam de pé , porque ele lhes aos governadores de todas as províncias e aos
tinha declarado que era judeu. príncipes de cada povo ; a cada província no seu
5 Vendo, pois, Hamã que Mordecai não se próprio modo de escrever e a cada povo na sua
inclinava, nem se prostrava diante dele, encheu- própria língua. Em nome do rei Assuero se es-
se de furor. creveu, e com o anel do rei se selou.
6 Porém teve como pouco, nos seus propó- l3 Enviaram-se as cartas, por intermédio dos
sitos, o atentar apenas contra Mordecai, porque correios, a todas as províncias do rei, para que se
lhe haviam declarado de que povo e ra Mordecai; destruíssem, matassem e aniquilassem de vez a
por isso, procurou Hamã destruir todos os ju- todos os judeus, moços e velhos, crianças e mulhe-
deus, povo de Mordecai, que havi a em todo o res, em um só dia, no dia treze do duodécimo mês,
reino de Assuero. que é o mês de adar, e que lhes saqueassem os bens.
7 No primeiro mês, que é o mês de nisã , no 14 Tai s cartas encerravam o traslado do de-
ano duodécimo do rei Assuero, se lanço u o Pur, creto para que se proclamasse a lei em cada
isto é, sortes , perante Hamã, dia a dia, mês a província; esse traslado foi e nviado a todos os
mês, até ao duodécimo, que é o mês de adar. povos para que se preparasse m pa ra aquele d ia.
8 Então, disse Hamã ao rei Assuero: Existe 15 Os correios, pois, impelidos pela ordem do
espa lhado, disperso entre os povos em todas rei, partiram incontinenti, e a lei se proclamou
as províncias do teu reino, um povo cujas leis na cidadela de Susã; o rei e Hamã se assentaram
são diferentes das leis de todos os povos e que a beber, mas a cidade de Susã estava perplexa.

I. Depois destas coisas. Um eventos deste capítulo ocorreram no a no


lapso de tempo indefinido é assim indi- 474 a.C., o 12° ano do rein ado de Assuero
cado, talvez de duração considerável. Os (ver v. 7).

521
3:2 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

Hamã. As s ue ro foi introduzido pri- Ele lhes tinha declarado. Mordecai


meira mente (E t l), e ntão, Mordecai e possive lmente explicou que a su a religião
Es ter (Et 2). N este verso, H a mã aparece impossibilitava a adoração a qua lquer
e m cen a , como grão-v izir ou primeiro- homem . Aparentemente, não havi a suspei-
mini stro . Segundo a tradição judaica, tas sobre o povo de MOt·decai. Em aparência
H a mã foi descendente direto de Agague, e linguagem ele e Ester parecem ter se pas-
rei dos a maleq uitas (ver l Sm 15 :8), sado como persas.
n a 16a geração (Targum Sheni; Jos efo, 5. Vendo, pois, Hamã. O desres-
Antiguidades, xi.6.5). peito de Mordecai apa rente men te c hegou a
2. Os servos do rei. Estes eram os Ham ã somente por meio dos "servos do rei".
menores oficiais do palácio, da categori a à A atitude e a explicação de Mord eca i signi -
qu al Mordecai pe rtencia. ficavam que os judeus em todos os lugares
E se prostravam. Ou seja, prostra- estavam em oposição a Ham ã. O aparente
va m-se pe rante H amã no costume com um desafio de Mordecai, corajosamente exi-
oriental. Este ato implic ava submissão, leal- bido na porta do palácio, significava ape nas
dade e obediência. urna coisa para Ham ã : conspiração. Pelo
Ordenado. Talvez H am ã te nh a sido menos, H amã estava satisfeito em interpre-
elevado de urn a posição baixa. A ordem tar assim . E , se Morclec ai justificasse sua
especia l ex igia que todos deveri a m se pros- condu ta numa base religiosa , todos os que
trar diante dele, mesmo aq uel es que fos sem sustentavam aquel a religião ta mbém deve-
mais altos que H amã na hierarquia. riam ser envolvidos.
Mordecai, porém, não se incli- 6. Teve como pouco, nos seus pro-
nava. E m vista do fato de que o povo pósitos. Se Hamã simples men te infor-
hebreu se prostrava somente pe rante os reis masse a Xerxes qu e um dos fun cionários
(lSm 24:8), diante de superiores em geral menores do rei o insultava, desobede -
ou aquel es a qu em eles queri am honrar cendo assim a um edito rea l, Assuero cer-
como tal (Gn 23:7; 27:29, 33: 3, etc), o motivo tamente teri a ordenado que Mordecai fos se
de Mordecai em rec usar se curvar a Hamã condenado à morte. Mas Mordecai, como
n ão é totalmente claro. Ham ã era, com um j-udeu, o insultou e , portanto, os judeus
certeza, um gentio, m as Abraão se incli- corno nação deveri am ser punidos. Se os
nou diante de gen tios (Gn 23:7). Talvez judeus e sua religião es tava m no caminho
Mordecai tenha se rec usado a presta r a do orgulho e da segurança de H amã, deve-
H a mã a reverênci a que considerava perten- riam ser sacrificados .
cer só a Deus (T5, 450; ver PR, 600). Procurou Hamã destruir. Massacres
4. Dizendo-lhe [... ] dia após dia. e m larga esc ala têm sido comuns e m mui -
A tentativa persistente feit a para asse- tas culturas, onde a vida humana é geral- -<~ ,:J
gurar a submissão de Mordecai ao edito m ente co nsid erada de pouco valor e o
para se c urvar di ante de Ham ã indica que capricho de monarcas absolutos, muitas
seus colegas oficiais o va lorizava m muito. vezes, de termin a m se as pessoas deve m
E les procuraram dar-lh e um a oportuni- viver ou morrer. Quase meio século antes
dad e justa antes de apresent ar o assunto. disto , com o consentimento el e Dario
Do ponto de vista deles, isso era um sério His taspes, pai de Xerxes, houve um mas -
precede nte: se um decreto rea l pode- sacre geral dos magos , e meio século
ria ser desprezado dest a forma, e qu anto a ntes disso, oc orre u um m assacre gera l
aos dem ais? dos citas.

522
ESTE R 3: 10

7. Nisã. Após o cativeiro, este nome colônia judaica também em Susã (ver
substituiu abibe entre os judeus. Et 9:12-15).
Ano duodécimo. De 5 de abril de 474 Cujas leis são diferentes. Uma acusa -
a.C. a 21 de abril de 473 a .C ., de acordo ção verdadeira, mas um argumento trivial
com o cômputo persa. para justificar a sua destruição, principa l-
O Pur. A superstição de lançar sor- mente p orque os pers as permitiram que
tes como um meio de determinar os tem- todas as nações sujeitas mantivessem suas
pos favoráveis para certos projetos tem sido próprias religiões, leis e costumes.
comum no Oriente desde tempos imemo- Não cumpre. Esta acusação não era
riais . As sortes eram lançadas por meio de verdadeira com respeito às leis em geral.
dados, pedaços de madeira, tiras de perga- Somente quando um edito real exigia que
minho, pedras brancas e pretas e de outras um judeu violasse suas crenças religiosas
formas. Os judeus supunham que uma dis- é que esta situação surgia. Mas as leis dos
tribuição especial da Providência vigiava m edos e persas eram, em essência, boas
o lançamento de sortes (Pv 16:33) e pen- e justas; e, sem dúvida, os judeus pronta-
savam que as questões decididas desta m ente as obedeciam. Se tivesse sido de
forma estavam de acordo com a vontade de outra forma, não teriam desfrutado do favor
Deus. Hamã parece ter lançado sortes , pri- que muitas vezes foi m ostrado a eles. Por
meiro para determinar o dia do mês e, em meio do profeta Jeremias, Deus ordenou -
seguida, o mês. lhes estritamente serem cumpridores da lei,
Não se pode descobrir, a partir do con- súditos pacíficos onde quer que estivessem
texto, se H amã lançou sortes para deter- (Jr 29:7).
minar uma data favorável para propor seu 9. Pesarei. Ou, "pagarei". M esmo
esquema para o rei ou para a execução do Assuero dificilmente poderia conside-
decreto de extermínio. Também não é certo rar como uma questão trivial um ato de
se o processo de lançar sortes foi estendido genocídio como H amã tencionava, mas
ao longo de um período de vários meses ou H amã imediata mente forta leceu a sua pro-
se foi conduzido de uma só vez, para deter- posta com um suborno, de modo que até
minar o tempo supostamente propício. mesmo um rei não poderia considerar com
A leitura do texto hebraico pode, eventual- indiferença.
mente, indicar a primeira suposição (ver p . Dez mil talentos . Com base no
507-508). talento babilônico leve, isto seria aproxima-
Adar. A sorte, aparentemente, indicou damente 377 toneladas ou 343 toneladas
o décimo terceiro dia de adar, o décimo métricas (ver vol. l, p. 146, 14 7) . H eródoto
segundo mês e último do ano. Como nisã, diz que Xerxes (Assuero) um a vez declinou
adar é um nome babilônico. Adar corres- uma oferta assim de um de seus súditos.
ponde ao nosso mês de março (ver vol. 2 , A recente guerra grega , sem dúvida, dre-
p. 92). nou pesadamente o tesouro real, mas seria
8. Um povo. Uma grande parte dos indigno da honra do rei, talvez, aceitar
exilados judeus escolheu permanecer n as um suborno.
terras para onde foram levados cativos. 10. Seu anel. Literalmente, "seu
Josefo observa q ue os judeu s babilônicos sinete". Isto possivelmente seria um anel,
mais prósperos e influentes estavam menos pois os anéis de sinete eram conhecidos
inclinados a deixar seu lar adotivo. A essa pelos persas, embora alguns pensem que isto
altura, havia evidentemente uma grande fosse um cilindro como o de seu pai, Dario.

52 3
3:11 COMENTÁR IO BÍBLICO ADVENTISTA

D e posse do selo real , Hamã tinha poder mensageiro do dia. Foi dito que es tes cor-
para emitir os decretos que desejasse, pois o reios superam o voo dos pássaros, o que
selo real dava-lhe plena autoridade . A pala- não é totalmente verdade , m as sem dúvida
vra de H amã era, porta nto, igual à do rei , é o transporte mais rápido por terra."
que na verdade deu permissão a Hamã para Para que se destruíssem. N este
fa zer o que desejasse. verso, o escritor do livro de Ester, aparen-
11. Essa prata. Assuero parece ter temente, fa z a citação diretamente do edito.
declinado do suborno (ver com. do v. 9). A fraseologia envolvida é legal.
12. Secretários do rei. Heródoto diz Moços e velhos. Nos tempos antigos,
que os "escribas" estivera m presentes com pensava-se que tirar a vida do pai e poupar
Xerxes durante toda a guerra grega. Estas a do filho era uma loucura. Esposas e filhos
pessoas ta mbém estariam por perto no palá- dos criminosos fora m condenados à morte
cio, prontas para elaborar decretos reais. com seus maridos e pais, como um a ques-
Sátrapas. Do h eb . 'achashdarpenirn, tão de disciplina. Mesmo os judeus, por
"sátrapas", um a transliteraç ão h ebraica vezes, seguiram essa prática (Js 7:24, 25;
s ~ da palavra pers a hhshatrapâvan, da qual é 2Rs 9:26).
derivada nossa p alav ra "sátrapa". De acordo No dia treze. A LXX, que contém
com Heródoto, houve 20 satrapias no uma suposta cópi a do decreto, apresenta
tempo de Dario I. Eram grandes divisões "o décimo quarto dia", mas concorda com o
do império, cada uma composta de vária s texto hebraico neste verso, fazendo o 14° o
provínci as. dia da luta (E t 9:1 ). Os dias hoje mantidos
Governadores. Isto é, das 127 provín- pelos judeus são o 14° e 15° (ver Et 9:14-21).
cias (ver Et l:l ). Vários "governadores" esta- N este ponto, a LXX insere uma cópia
vam responsáveis por cada satrapi a. do que pretende ser uma carta escrita por
Príncipes. Como em Ester 1: 3; etc. Artaxerxes, como Assuero é cham ado na
Estes seriam os governa ntes nativos ou os LXX. Embora a autenticidade des ta carta
líderes de tribos conquistadas, que desfru- não esteja comprovad a, é interessante a liga-
tavam de considerável autonomia loc al. ção feita com a comparação entre o decreto
13. Por intermédio dos correios. de Assuero contra os jude us e o que será
O sistem a postal persa era famoso em todo emitido contra o povo de D eus no futuro
o mundo a ntigo . Xe nofonte atribui a orga- (ver PR, 605):
nização do sistema a Ciro. Xenofonte des- "Agora esta é a cópia da carta: O grande
creveu-o como segue: "Estábulos para rei Artaxerxes escreve es tas coisas aos
cavalos são erguidos ao longo das várias govern adores d as 127 províncias desde a
linhas de percurso , distan tes um do outro Índia até a Etiópia, e aos funcionários qu e
referente ao que um cavalo consegue rea li- estão sujeitos a eles. Depois que me asse-
zar em um dia. Todos os es tábulos contêm nhoreei de muitas n ações e dominei todo
uma quantidade de cavalos e cavalariças. o mundo, sem ser pres unçoso de minh a
Há um chefe dos correios para presidir autorid ade , mas executando -a sempre com
cada um deles, que rece be os despachos equidade e moderação, propus acomodar
junto com os homens e os cavalos cansa- meus súditos continu amente em uma vida
dos e os envia por meio de novos cavalos tranquila; e, tornando pacífico o meu reino,
e cavaleiros. Às vezes, não há interrupção abrir pas sagem para os litorais mais distan-
no transporte mes mo à noite, uma vez que tes, para renovar a paz, o que é desejado por
um mensageiro d a noite leva o trabalho elo todos os homens.

524
ESTER 3:15

"Agora, quando perguntei a meus con- 14. Esse traslado. Ou, "uma cópia "'~ ~
selheiros como isso poderia ser realizado, do escrito [... ] foi enviada a todos os povos,
Hamã, que se destacou em sabedoria entre para que estivessem preparados para aquele
nós, foi aprovado por sua boa vontade cons- dia" (ARC).
tante e firme fidelidade e teve a honra do 15. Os correios [... ] partiram. As
segundo lugar no reino, declarou-nos que, partes mais remotas do império pode-
em todas as nações do mundo, espalhou- riam ser alcançadas em um mês ou, no
se certo povo maligno, que tinha leis con- máximo, em dois meses. Assim, não havia
trárias a todas as nações e continuamente necessidade de pressa. Mas Hamã estava
anula os mandamentos de reis, de modo impaciente, talvez temendo que o rei
que não pode ser estabelecida a união hon- mudasse de ideia e declinasse em publicar
rosamente pretendida por nós. o edito.
"Considerando, pois, entendemos que O rei e Hamã se assentaram a
somente esta nação está continuamente beber. A inserção deste detalhe na narra-
em oposição a todos os homens, seguindo tiva parece destinada a sublinhar a dureza
em suas leis uma vida estrangeira e afe- do coração do rei e de Hamã. Depois de ter
tando negativamente nosso estado, traba- determinado a destruição de uma nação,
lhando todo o mal que pode, para que o passaram a se divertir em um banquete
nosso reino não seja firmemente estabele- de vinho.
cido; portanto, temos ordenado que os que Susã estava perplexa. A maior parte
são indicados por escrito a vós por Hamã, dos habitantes era, possivelmente, de per-
que está estabelecido sobre os negócios e sas e elamitas, mas pode ter havido um sen-
é um segundo pai para nós, deverão ser timento generalizado entre as pessoas de
totalmente destruídos pela espada de seus outras nacionalidades de que a ocorrência
inimigos, sem nenhuma misericórdia ou agora definida era perigosa. Geralmente,
piedade, com suas esposas e filhos, no dia as pessoas da capital do reino aprovavam o
catorze do duodécimo mês de adar do pre- que o grande rei fazia. Naquele momento,
sente ano, de modo que os antigos e novos porém, elas pareciam duvidar da prudên-
também são mal-intencionados, desçam ao cia e justiça do que ele tinha feito. É possí-
Hades em um dia com a violência, e assim, vel, no entanto, que o escritor se refira aos
daqui em diante sempre nossos assuntos judeus residentes na capital em vez de a
sejam bem resolvidos e sem problemas." toda população.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

1-15- PR, 600; T5, 450

525
4: l COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

CAPÍTULO 4
1 O grande luto de Mordecai e dos judeus. 4 Ester, sabendo disto, envia roupas a
Mordecai, que lhe expõe o motivo e a aconselha a agir. 1O Ela se desculpa
e é am,eaçada por Mordecai. 15 A rainha ordena um jejum
e inicia um plano de ação.

Quando soube Mordecai tudo quanto se 9 Tornou , pois, Hataque e fez saber a Ester
havia passado, rasgou as suas ves tes, e se cobriu as palavras de Mordecai.
de pano de saco e de cinza, e, saindo pela cida- lO Então, respondeu Ester a H ataque e
de, clamou com grande e amargo clamor; mandou-lhe dizer a Mordecai:
2 e chegou até à porta do rei; porque nin- ll Todos os servos do rei e o povo das pro-
guém vestido de pano de saco podia entrar pelas víncias do rei sabem que, para qualquer homem
portas do rei. ou mulher que, sem ser chamado, entra r no
3 Em todas as províncias aonde chegava a pátio interior para avistar-se com o rei, não há
palavra do rei e a sua lei, havia entre os judeus senão uma sentença, a de morte, salvo se o rei
grande luto, com jejum, e choro, e lamentação; e estender para ele o cetro de ouro, para que viva;
muitos se deitavam em pano de saco e em cinza. e eu, nestes trinta dias, não fui chamada para
4 Então, vieram as servas de Ester e os eu- entrar ao rei.
nucos e fizeram-na saber, com o que a rainha 12 Fizeram saber a Mordecai as palavras de
muito se doeu ; e mandou roupas para vestir a Ester. .. ~
Mordecai e tirar-lhe o pano de saco; porém ele 13 Então, lhes disse Mordecai que respon-
não as aceitou. dessem a Ester: Não imagines que, por estares na
5 Então, Ester chamou a Hataque, um dos casa do rei, só tu escaparás entre todos os judeus.
eunucos do rei, que este lhe dera para a servir, 14 Porque, se de todo te calares agora, de
e lhe ordenou que fosse a Mordecai para saber outra parte se levantará para os judeus socorro
que era aquilo e seu motivo. e livramento, mas tu e a casa de teu pai perece-
6 Saiu, pois , H ataque à praça da cidade para reis; e quem sabe se para conj untura como esta
encontrar-se com Mordecai à porta do rei. é que foste elevada a rainh a?
7 Mordecai lhe fez saber tudo quanto lhe 15 Então, disse Ester que respondessem a
tinha sucedido; como também a quantia certa Mordecai:
da prata que Hamã prometera pagar aos tesou- 16 Va i, ajunta a todos os judeus que se ac ha-
ros do rei pelo aniquilamento dos judeus. rem em Susã, e jejuai por mim, e não comais ,
8 Também lhe deu o traslado do decreto es- nem bebais por três dias, nem de noite nem de
crito que se publicara em Susã para os destruir, dia; eu e as minhas servas também jejuaremos.
para que o mostrasse a Ester e a fi zesse saber, Depois, irei ter com o rei, ainda que é contra a
a fim de que fosse ter com o rei, e lhe pedisse lei ; se perecer, pereci.
misericórdia, e, na sua presença, lhe suplicasse 17 Então, se foi Mordecai e tudo fez segun-
pelo povo dela. do Ester lhe havia ordenado.

I. Rasgou as suas vestes. O rasgar as emoção foi assim expressa (Gn 37:34; 44:13;
ves timentas era um sinal de profunda tris- Js 7:6 ; ]z 11: 35; 2Sm l:ll ; etc.). O signifi-
teza, angústia, horror ou ressentimento. As cado do ato de Mordecai foi, possivelmente,
Escrituras observam muitos casos em que a bem compreendido por judeus e persas.

526
ESTER 4:8

Saco e de cinza. O uso de pano de 5. Hataque. O rei havia nomeado


saco e cinza era outro símbolo de tristeza o chefe dos eunucos para as necessida-
profunda. A Bíblia se refere a inúmeras oca- des da rainha, em parte para servi-la e em
siões em que pessoas usaram esses emble- parte para observar sua conduta. Nenhum
mas de tristeza (ver Gn 37:34; lRs 20:32; déspota é isento totalmente dos temores
Is 37:2; Dn 9:3; Jn 3:6; etc.). Tendo lido o gêmeos: ciúme e desconfiança.
edito, Mordecai deve ter percebido ime- 6. Saiu, pois, Hataque. Mordecai
diatamente sua origem e o motivo que o recusou entrar no palácio. Ester não podia
ocasionou. Seu primeiro impulso seria, sair e recorreu ao procedimento tipica-
naturalmente, rasgar as vestes e se cobrir mente oriental ao utilizar um intermediário.
de pano de saco e cinza. Mas o palácio 7. A quantia certa da prata. Ver com.
não era considerado um local apropriado de Et 3:9. Não é declarado como Mordecai
para a demonstração de luto particular. soube do dinheiro que Hamã ofere ceu
Certamente Mordecai não estava sozinho pagar a Xerxes como forma de indenização
em sentir tristeza e consternação. Em Susã pela perda dos rendimentos públicos que
e em todas as províncias, o povo condenado resultariam do extermínio dos judeus. Isto
fez amarga lamentação. A esperança de que dificilmente seria estipulado no decreto,
pudesse ainda haver libertação em face do e mesmo que Assuero aceitasse, a pos -
decreto parece não ter ocorrido a ninguém. sibilidade parece improvável (ver com.
2. Até à porta do rei. Mordecai apa- de Et 3:11).
rentemente não sentiu nenhum impulso 8. Na sua presença, lhe suplicasse.
para esconder sua tristeza. Ele, então, saiu As criadas de Ester e os eunucos certamente
do palácio com o propósito evidente de sabiam de sua relação com Mordecai (ver Et
informar Ester sobre o decreto. 2:10-22) e já deviam conhecer sua naciona-
3. Em todas as províncias. O relato lidade (ver Et 3:4). Em defesa de sua recusa
bíblico indica que, nessa época, os judeus em curvar-se a Hamã, Mordecai já tinha
estavam espalhados por todo o império persa. sido obrigado a declarar sua nacionalidade
Muitos. Em lugar de "a maioria deles". (Et 3:4). E, naquele momento, as circuns-
4. Servas de Ester. Além de seu tâncias exigiam que Ester fizesse o mesmo
séquito de servas, uma rainha oriental (ver Et 2:10); ela deveria ir diante do rei para
tinha uma grande quantidade de eunucos à suplicar por seu povo. Mas ela não pode- ~ ~
sua disposição, que passavam recados para ria pleitear pelos judeus como seu povo,
ela e mantinham seu contato com o mundo sem estar sujeita à fatalidade decretada
fora do palácio. Em grande aflição, Ester no edito de Hamã. Não havia alternativa.
manifestou sua preocupação enviando rou- Para melhor ou para pior, e, independente-
pas a seu pai adotivo para substituir o pano mente de sua própria escolha na questão,
de saco. O propósito de Ester foi provavel- seu destino pessoal estava inevitavelmente
mente possibilitar a entrada de Mordecai ligado ao de seu povo, e ambos dependiam
no palácio. precariamente da consideração de Assuero
Ele não as aceitou. Mordecai não por ela. Estar era rainha por pouco mais de
estava usando pano de saco porque não quatro anos. Seu comportamento e conduta
tivesse uma roupa melhor. Ele não sentia tinham sido um grande fator para influen-
necessidade de ver Ester diretamente, e ciar a atitude do rei em sua direção. Tudo
possivelmente achava desaconselhável vê-la dependia do testemunho silencioso osten-
diante das circunstâncias. tado por sua vida durante os últimos quatro

527
4: li COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

anos e do seu tato, paciência e bom senso que ela era filha única de seu pai. O fato
no momento de prova. de que o primo de Ester, Mordecais se tor-
11. Uma sentença. Tal lei não foi nou seu pai adotivo apoia esta sugestão.
completamente arbitrária. Quantas vezes Se Ester tivesse um irmão ou irmã mais
amigos ou estranhos aparentemente ino- velhos, Mordecai não teria necessidade de
fensivos abordaram a realeza com objetivos adotá-la. Mordecai parece ter sido o único
assassinos. Esta lei foi , possivelmente, uma parente vivo e mais próximo de Ester.
medida para proteger o rei do mal, dos peti- Foste elevada a rainha. Mordecai
cionários problemáticos e de interferência percebeu o desenrolar da providência divi-
no exercício de seu poder despótico. na. Talvez nenhum representante do reino
Não fui chamada. Por enquanto pare- dos Céus tenha enfrentado dramático de-
cia que o rei a tinha esquecido. Podiam pas- safio para a coragem, lealdade e abnegação.
sar semanas ou meses até que ela fosse Mas o desafio a nós hoje não é menos im-
convocada perante ele. No curso normal perativo nem menos real.
dos acontecimentos, ela não poderia esperar Ester, consciente de que sua tarefa se
uma oportunidade favorável no futuro. mostraria inútil se não mantivesse a con-
13. Não imagines. Ou seja, "não ima- fiança em Deus, precisava das orações de
gine em sua mente". Sua posição favore- seu povo. O que ela estava prestes a fazer
cida não a protegeria da ira de Hamã. Sua era em favor da vida de seu povo e da sua
identidade racial era conhecida por pelo própria. Nunca tantas pessoas foram depen-
menos alguns no palácio (ver com. do v. 8), dentes da coragem, do tato e da abnegação de
e seria de esperar que aq ueles que infor- uma jovem mulher.
maram a Hamã sobre Mordecai fariam o 16. Jejuai por mim. Ester pe ssoal-
mesmo no que diz respeito a Ester. Hamã mente sentiu a necessidade de saber que
não se sentiria seguro enquanto algum seu povo compartilhava com ela a carga
judeu permanecesse vivo, especialmente que, em primeiro lugar, ela devia suportar.
alguém tão próximo ao rei e tão favorecido Três dias. Alguns supõem que Ester
como Ester. não quis dizer total abstinência de comida e
14. Socorro. Literalmente, "descanso" bebida por um período tão longo. O tempo
ou "alívio", da mesma raiz da palavra para pretendido pode ter sido apenas a partir da
"respirar". Mordecai declarou confiança nas noite do primeiro dia até à manhã do ter-
promessas graciosas de Deus e a convicção ceiro dia, um período não muito superior a
de que os propósitos de Hamã serão frus- 36 horas (ver com. Et 5:1 ; vol. 2, p. ll 9 -121 ).
trados. Ele não sabia como, mas estava con- Também jejuaremos. A clareza de
vencido de que a libertação viria de uma espírito que frequentemente resulta do
forma ou de outra. jejum a prepararia para perceber a vontade
Casa de teu pai. Se Ester pensasse em de Deus e saber como cooperar inteligente-
salvar somente sua própria vida, ela a perde- mente com Ele.
ria (ver Mt 10:39). Indisposição para morrer Se perecer. Ester quis dizer: "Se eu per-
indicava a certeza da morte; a vida deve- der minha vida nessa tentativa de salvar meu
ria ser comprada ao preço da disposição de povo, vou perdê-la alegremente; vejo que é
perdê-la. A referência de Mordecai à extin- meu dever fazer a tentativa. Venha o que
ção da linhagem da família de Ester indica vier, estou decidida a fazer o meu melhor."

528
ESTER 5:1

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

3- PR, 601 14- Ed, 263; MCH, 64; PR, 16- PR, 601 ; Tl , 16
601; T5, 321

CAPÍTULO 5
1 Ester aventura-se, alcança a graça do cetro de ouro e convida o rei e Hamã para um
banquete. 6 Sendo incentivada pelo rei quanto ao seu pedido, convida-os
para outro banquete no dia seguinte. 9 Hamã, orgulhoso de seu progresso,
queixa-se do desprezo de Mordecai. 14 Aconselhado po1· leres,
ele edifica uma forca para Mordecai.

1 Ao terceiro dia, Ester se aprontou com que lhes hei de preparar amanhã, e, então, farei
seu s trajes reais e se pôs no pátio interior da segundo o rei me concede.
casa do rei, defronte da residência do rei; o rei 9 Então, saiu Hamã, naq uele dia , alegre e
estava assentado no seu trono real fronteiro à de bom ânimo; quando viu , porém, Mordecai à
porta da residência. porta do rei e que não se levantara, nem se mo -
2 Quando o rei viu a rainha Ester parada no vera diante dele, então, se encheu de furor con -
pátio, alcançou ela favor perante ele; estendeu o tra Mordecai.
rei para Ester o cetro de ouro que tinha na m ão; lO Hamã, porém , se conteve e foi para casa;
Ester se chegou e tocou a ponta do cetro. e mandou vir seus amigos e a Zeres, sua mulher.
3 Então, lhe disse o rei: Que é o que tens, 11 Contou-lhes Hamã a glória das suas ri-
rainha Ester, ou qual é a tua petição? Até meta- quezas e a multidão de seus filhos, e tudo em
de do reino se te dará. que o rei o tinha engrandecido, e como o tinha
4 Respondeu Ester : Se bem te parecer, exaltado sobre os príncipes e servos do rei.
venha o rei e Hamã, hoje, ao banquete que eu 12 Disse mais Hamã: A própria rainha Ester
preparei ao rei. a ninguém fez vir com o rei ao banquete que
5 Então, disse o rei: Fazei apressar a H amã, tinha preparado, senão a m im ; e também para
para que atendamos ao que Ester deseja. Vindo, a manhã estou convidado por ela, juntamente
pois, o rei e Hamã ao banquete que Ester havia com o rei.
preparado, 13 Porém tudo isto não me satisfaz, enquan-
6 disse o rei a Ester, no banquete do vinho: to vir o judeu Mordecai assentado à porta do rei.
Qual é a tua petição? E se te dará. Que desejas? 14 Então, lhe disse Zeres, sua mulher, e
C umprir-se-á, ainda que seja metade do reino. todos seus amigos: Faça-se uma forca de cin -
7 Então, respondeu Ester e disse: Minha pe- quenta côvados de altura, e, pela manhã, di ze
tição e desejo são o seguinte: ao rei que nela enforquem Mordec ai; então,
8 se achei favor perante o rei, e se bem pa- entra alegre com o rei ao banquete. A suges-
recer ao rei conceder-me a petição e cumprir o tão foi bem aceita por H amã, que mandou le -
meu desejo, ven ha o rei com Hamã ao banquete va ntar a forca.

529
5:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

1. Ao terceiro dia. Isto é, o terceiro dia Metade do reino. Uma evidência adi-
do jejum (Et 4:16). Ester e suas servas, que cional do favor real (ver Me 6:23).
também podem ter sido judias, não come- 4. Venha [... ] hoje. Tal convite deve
ram nada no primeiro dia, nada durante ter sido um tanto incomum. Normalmente,
todo o segundo e nada na manhã do ter- o rei e a rainha jantavam separadamente.
ceiro dia (ver com. de Et 4:16). No entanto, para a rainha convidar outra
Ester se aprontou. Enquanto em pessoa do sexo masculino além do rei era
jejum, Ester talvez tenha usado pano de ainda mais incomum, e pareceu ao receptor
saco e cinza, mas os trocara pelo esplendor do convite uma elevada honra. Assuero, pos-
de seu traje real. Deixando o apartamento sivelmente, lembrou-se da recusa de Vasti
das mulheres na área do palácio, Ester pas- em comparecer ao seu banquete. A natureza
sou pelo jardim, possivelmente ao redor do incomum do convite de Ester, associada ao
salão real, e entrou no pátio, logo à frente fato de que foi apresentado pessoalmente,
da sala do trono aberta (ver com. de Et 1:5). deve ter surpreendido e intrigado o rei. Sua
Posicionando-se em frente do trono, mas a curiosidade real foi permitida por várias
uma distância dele, com o objetivo de atrair horas enquanto o tumulto acontecia e se
a atenção do rei, Ester aguardava a sua von- intensificava.
tade. Ela sabia que, quando chegasse, ele 6. Qual é a tua petição? Assuero enten-
estaria sentado no seu trono e não poderia deu, é claro, que não foi pelo simples prazer
~ ~ deixar de vê-la. de agradar a ele e a seu primeiro-ministro
Fronteiro à porta. Ou seja, em frente num banquete que Ester arriscou a vida se
à entrada do salão. O trono, em frente à aproximando do trono sem ser convocada.
entrada principal, possivelmente estava em 8. Se achei favor perante o rei.
uma plataforma elevada. Sentado em seu Ester ganhou muito atrasando mais um dia
trono, o rei tinha uma visão da entrada e do para declarar seu pedido. Acima de tudo,
pátio, por meio da avenida central de colu- talvez Assuero se impressionaria que seu
nas (ver com. Et 1:5). apelo não era apenas uma questão de vida
2. Tocou a ponta. Estender o cetro ou morte para ela pessoalmente - indi-
indicava favor real e aceitação; tocar o cado por seu súbito aparecimento diante
cetro significava o reconhecimento do dele mais cedo naquele dia - mas que era
favor assim exibido. Ao entrar no pátio um pedido intencional, considerado e não
interior, Ester já havia violado a lei um impulso momentâneo. Além disso, a
(Et 4:11; cf. Et 6:4). Assuero deve ter demora aumentaria a curiosidade do rei
reconhecido que só uma emergência teria (ver com. do v. 4) e o prepararia mais pro-
levado Ester a se aproximar do trono sem fundamente para o que seria, sob quais-
ser convocada. quer circunstâncias, um grande choque.
3. Tua petição. A concessão de pedi- E, para Ester, a demora significaria tempo
dos antes de terem sido expressos era um para orar e ponderar cuidadosamente como
gesto comum de boa vontade, praticado deveria apresentar seu pedido, tempo de
pelos monarcas orientais. De acordo com buscar compostura antes que ela se expres-
Heródoto, havia um dia no ano em que sasse. Embora Ester ainda não soubesse, a
o rei era obrigado a conceder qualquer Providência ordenou a demora para melhor
pedido feito por um hóspede à sua mesa. preparar a mente do rei (Et 6: 1-11).
A vinda de Ester evidenciou que ela tinha 9. Não se levantara, nem se movera.
um pedido urgente para apresentar. Ou, "não se levantara nem tremia" (AA).

530
ESTE R 5:14

Condenado à morte por decreto de Hamã, aparente autocontrole , e apesar do fato de


Mordecai corajosamente desafiou o autor ser o primeiro-ministro do poderoso impé-
do crime. Sua presença na porta do rei é evi- rio persa, sua natureza era pouco melhor
dência de que ele já não usava pano de saco do que a de um selvagem . Grandeza mun-
(Et 4:2) como dois dias antes. Sem dúvida, dana é uma insignificante evidência de
ele sabia da aceitação favorável a Ester por qualquer grandeza ou bondade de alm a.
parte rei e acreditava que seu plano seria 14. Forca. Literalmente, "á rvore".
coroado de êxito. Normalmente, os persas não penduravam
10. Conteve. Embora fortemente irado os condenados, mas os exec utavam por
com Mordecai, Hamã considerou indigno empalamento (ver com. de Et 2:23).
de sua dignidade prestar atenção a ele. Cinquenta côvados de altura.
11. Suas riquezas. Ver com. de Et 3:9. Cerca de 22 metros ; ver vol. 1, p. 143. Isto
De seus filhos. Hamã tinha dez filhos se repe te em Ester 7:9, acresce nt an d o-se ~ ~
(Et 9:7-10). Ser o pai de muitos filhos era que a forca foi erguida na casa de H amã.
considerado altamente honroso pelos p er- As casas persas tinham um "pátio" inte-
sas e por outros orientais . rior ou quintal, como é o costume nas
13. Não me satisfaz. H a mã n ão casas esp anholas. A altura da forc a pos-
aprendeu a prudência de sentir o prazer sivelmente tinha a finalidade de torna r
em oposição à dor, a alegria em oposição à a execução de Mordecai visível a toda a
tristeza, a satisfação em oposição ao abor- cidade.
recimento. Nem aprendeu sozinho a olhar Dize. Os amigos de Hamã supunham
para os dissabores e provações da vida que a execução imediata de um judeu seria
como bênçãos disfarçadas. Apesar de seu permitida a pedido do principal ministro.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

2, 5- PR, 602

CAPÍTULO 6
1 Assuero, lendo as crônicas do bom trabalho feito por Mordecai, cuida em
recompensá-lo. 4 Hamã deseja que Mordecai seja enforcado, mas,
sem perceber, aconselha o que fazer para honrá-lo. 12 Ele reclama
do seu infortúnio, e seus amigos preveem seu destino final.

Naquela noite, o rei não pôde dor- 3 Então, disse o rei: Que honras e distin-
mir; então, mandou tra zer o Livro dos Feitos ções se deram a Mordecai por isso? Nada lhe
Memoráveis, e nele se leu diante do rei. foi conferido, responderam os servos do rei que
2 Achou-se escrito que Mordecai é quem o serviam.
havia denunciado a Bigtã e a Teres , os dois eu- 4 Perguntou o rei: Quem está no pátio?
nucos do rei, guardas da porta, que tinham pro- Ora, Hamã tinha entrado no pá tio exterior da
curado matar o rei Ass uero. casa do rei, para di zer ao rei que se enforcasse

531
6:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

a 1\llordecai na for ca que ele, Hamã, lhe tinha assim para com o judeu 1\llordecai, que está as-
preparado. sentado à porta do rei; e não omitas coisa ne-
5 Os servos do rei lhe disseram: Hamã está nhuma de tudo quanto disseste.
no pátio. Disse o rei que entrasse. 11 Hamã tomou as vestes e o cavalo, vestiu
6 Entrou Hamã. O rei lhe di sse: Que se fará a 1\llordeca i, e o levou a cavalo pela praça da ci-
ao homem a quem o rei deseja honrar? Então, dade, e apregoou diante dele: Assim se faz ao
Hamã disse consigo mesmo: De quem se agra- homem a quem o rei deseja honrar.
daria o rei mais do que de mim para honrá-lo? 12 D epois disto, Mordecai voltou para a
7 E respondeu ao rei: Quanto ao homem a porta do rei; porém Hamã se retirou correndo
quem agrada ao rei honrá-lo, para casa, angustiado e de cabeça coberta .
8 tragam-se as vestes rea is, que o rei costu- 13 Contou Hamã a Zeres, sua mulher, e a
ma usar, e o cavalo em que o rei costuma andar todos seus amigos tudo quanto lhe tinha sucedi-
montado, e tenha na cabeça a coroa real; do. Então, seus sábios e Zeres, sua mulher, lhe
9 entreguem-se as vestes e o cavalo às mãos disseram: Se 1\llordecai, perante o qual já come-
dos ma is nobres príncipes do rei, e vistam delas çaste a cair, é da descendência dos judeus, não
aquele a quem o rei deseja honrar; levem-no a prevalecerás contra ele; antes, certa mente, cai-
cavalo pela praça da cid ade e diante dele apre- rás diante dele.
goem: Assim se fa z ao homem a quem o rei de- 14 Falavam estes a inda com ele quan-
seja honrar. do chegaram os eunucos do rei e apres sada-
lO Então, disse o rei a Hamã: Apressa-te, mente levaram Hamã ao banquete que Ester
toma as vestes e o cavalo, como disseste, e faze preparara.

1. O rei não pôde dormir. Literal- Livro dos Feitos Memoráveis. O mes-
mente, "o sono do rei fugiu". Talvez ele mo livro parece ser mencionado em outras
estivesse tentando adivinhar qual seria ocasiões (Et 2:23; 10:2), embora o título seja
~ _. o pedido de Ester. Uma vez ela havia se dado de forma mais abreviada: "o Livro das
apressado a d ar informações surpreenden- Crônicas", (Et 2:23). Em Ester 10:2, o títu-
tes a Assuero (Et 2:21, 22). Não é provável lo é: "Livro da História dos Reis da Média
que naqu ela ocasião, também, Ester tenha e da Pérsia."
se contentado em esperar uma convocação Nele se leu. Possivelme nte, o pró-
real; o assunto era urgente . À medida que prio rei não podia ler. É mais provável que
as horas da noite passavam, a curiosidade servos especiais foram design ados para a
e a imagin ação do rei inventavam todos os tarefa de leitura. Naqueles dias , a escrita
tipos de possíveis conspirações contra sua e a leitura eram artes altamente especia-
vida. Para refrescar sua memória do inci- lizadas, e somente aquele s que dedica-
dente, e talvez com medo de que alguns vam se u tempo a elas pod eriam se tornar
dos conspiradores tivessem escapado, o rei proficientes.
pediu que se fizesse a leitura do registro. 2. Achou-se escrito. Ver Et 2:21-23.
Além disso, o fato de que Ester havia con- 3. Que honras e distinções. Em
vidado Hamã indicava fortemente que ele qu alque r país, a descoberta de uma cons-
estava e nvolvido de alguma forma - como piração contra a vida do rei seria conside-
amigo ou inimigo, o rei não poderia saber. rada como direito a uma bela recompensa .
Não é de se es tranhar que o rei não conse- Na Pérsia , onde os "benfeitores reais" for-
guisse dormir. mavam uma classe distinta e tinha m se us

532
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~ ÁCTRIA
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e Dumá

LfBIA

e Temã
• Dedà
ARÁBIA
O IMPÉRIO PERSA EM
SUA EXTENSÃO MÁXIMA
(c. 500 a.C .)

O 200 400 600 800 km

Fronteiras do império

Cidades e povoados

ESTER 6 :14

nomes inscritos em uma lista especial, cabia claro, poderia autorizar uma exceção como
especialmente ao monarca verificar se essa uma indicação especial de favor pessoal.
pessoa recebera uma recompensa propor- Cavalo em que o rei costuma andar
cional ao valor do seu serviço. Embora inca- montado. Litera lmente, "o cavalo que o rei
paz de recordar o que era, Assuero parece tem montado" (RSV; cf. Gn 41:43; 1Rs 1: 33).
ter suposto que alguma honra ou distin- 9. Mais nobres príncipes. Pensando
ção deva ter sido conferida a Mordecai. ser o destinatário de honra, o "nobre prín-
De acordo com Ester 3: 1, isso ocorreu logo cipe" se vê encarregado de concedê-la a seu
depois dessa conspiração e, possivelmente, pior inimigo.
em consequência dela é que Hamã foi pro- 10. Apressa-te. O rei não admite
movido por Assuero. Tem-se sugerido que demora em um assunto pelo qual já esperou
Hamã pode tê-la inventado, a fim de tomar tempo demais.
o crédito por trazê-la à tona. O judeu Mordecai. A nacionalidade e
4. Quem está no pátio? Talvez esti- ocupação de Mordecai foram, sem dúvida,
vess e pouco ilum inado quando Ham ã che- anotadas no Livro das C rônicas de onde
gou; havia luz suficiente para sua presença, o servo tinha lido naquela noite, e a par-
mas não para distinguir su a identidade. tir delas o rei soube dos fatos que, então,
D e manhã cedo é um h orário h abitua l declarava . Ele pode ter usado a expressão
para a transação de negóc io s num palá- exata que encontrou no relato.
cio orienta l. A an siedade d e Hamã para 11. Hamã tomou. Não havia funda-
concl uir seu plano em relação a Mordecai, mento sobre o qual Hamã pudesse recusar a
antes da hora marcada para o segundo tarefa que o rei impôs sobre ele. Ao se tornar
ba nqu ete, impeliu-o a chegar mais cedo, primeiro-ministro, ele deve ter lido as crôni-
na esperança de garantir, se possível, a cas para verificar se havia algum trabalho
primeira audiência. Foi sua pressa inju s- inacabado para ser realizado. Ele próprio ~ ~
tificada para efetuar a destruição de devia fazer o que disse ao rei que deveria
Mordecai que o levou a ser a pessoa esco- ser feito por um nobre príncipe.
lhida pelo rei para fazer a mais alta honra 12. Voltou. Mordecai voltou à sua
a seu desafeto. Quantas vezes, "o orgu lho antiga condição e ao emprego. O rei conside-
vem antes da destruição; o espírito altivo, rou a honra assim demonstrada a Mordecai
antes da qu eda" (Pv 16:18, NVI)! uma recompensa suficiente . Do ponto de
5. Hamã está. Mesmo que os outros vista oriental, isto seria de va lor mais sim -
es tivessem no pátio à espera de uma audiên- bólico e prático do que uma recompensa
cia com o rei, eles deixariam passar sua vez em dinheiro.
para um alto oficial como Hamã. Cabeça coberta. Sinal de luto (ver
6. Que se fará [... ]? Literalmente, 2Sm 15: 30).
"o que fazer" (ver Et 1:1 5). 13. Seus sábios. Hamã devia ter seus
Disse consigo mesmo. Literalmente, próprios conselheiros magos: seu gabinete.
"disse consigo em seu coração". Heródoto fala dos supostos poderes proféti-
8. Que o rei costuma usar. O u, "o rei cos dos magos persas .
vestiu". Usar uma peça de roupa a nterior- 14. Apressadamente levaram Hamã.
mente u sada pelo rei, em circunstâncias A cortesia oriental exigia que o anfitrião
normais, era uma violação da lei persa puní- enviasse uma escolta para acompanhar os
vel com a morte. Isto sugere que o portador hóspedes convidados para um banquete ou
pensava assumir a autoridade real. O rei, é outro entretenimento (ver Lc 14:1 7) .

535
7:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

Um dos grandes propósitos do escritor é de ele mesmo cair na armadilha. As pessoas


mostrar que aquele que põe um laço para muitas vezes encontram os mesmos males
a vida de seu vizinho está em grave perigo que procuraram infligir a outros (ver Mt 7:2).

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

1, 10, 11- PR, 602

CAPÍTULO 7
1 Ester oferece um jantar ao rei e a Hamã e intercede por sua própria vida e de
seu povo. 5 Ela acusa Hamã. 7 O rei, irado, sabendo da forca que Hamã
fizera para Mordecai, manda que seja pendurado nela.

Veio, pois, o rei com Hamã, para beber 7 O rei, no seu furor, se levantou do ba n-
com a rainha Ester. quete do vinho e passou para o jardim do palá-
2 No segundo dia , durante o banquete do cio; Hamã, porém, fi cou para rogar por sua vida
vinho, disse o rei a Ester: Qual é a tua peti- à rainha Ester, pois viu que o mal contra ele já
ção, rainha Ester? E se te dará. Que desejas? estava determinado pelo rei.
Cumprir-se-á ainda que seja metade do reino. 8 Torn ando o rei do jardim do palácio à
3 Então, respondeu a rainha Ester e disse: casa do banquete do vinho, Hamã tinha caído
Se perante ti, ó rei, achei favor, e se bem pare- sobre o divã em que se achava Ester. Então,
cer ao rei, dê-se-me por minha petição a minha disse o rei: Acaso, teria ele querido forçar a
vida, e, pelo meu desejo, a vida do meu povo. rainha perante mim, na minha casa? Tendo
4 Porque fomos vendidos , eu e o meu povo, o rei dito estas palavras, cobriram o rosto de
para nos destruírem, matarem e aniquilarem de Hamã.
vez; se ainda como servos e como servas nos ti- 9 Então, disse Harbona , um dos eunucos
vessem vendido, calar-me-ia, porque o inimigo que serviam o rei: Eis que existe junto à casa
não merece que eu moleste o rei. de Hamã a forca de cinquenta côvados de altu-
5 Então, falou o rei Assuero e disse à rainha ra que ele preparou para lVIordecai, que falara
Ester: Quem é esse e onde está esse cujo cora- em defesa do rei. Então, diss e o rei: Enforcai-o
ção o instigou a fazer assim? nela.
6 Respondeu Ester: O adversário e inimigo é lO Enforcaram, pois, Hamã na forca que ele
este mau Hamã. Então, Hamã se perturbou pe- tinha preparado para lVIordecai. Então, o furor
rante o rei e a rainha. elo rei se aplacou.

I. Para beber com a rainha. Nas fes- 2. Disse o rei a Ester. Pela ter-
tas persas era ingerido relativamente pouco ceira vez, Assuero solicita que Ester torne
alimento sólido. O tempo era utili za do conhecido seu pedido. A esta altura ele
principalmente para beber e ingerir gulo- deveria estar curioso para saber do que se
seimas que chamaríamos de sobremesas. tratava.

536
ESTER 7:9

No banquete do vinho. Literalmente, menos importância do que qu alquer perigo


"no consumo do vinho". Isto indica que a que pudesse ameaçar o trono por meio
parte principal da fes ta acabou no momento deles . O que prejudicaria a eles prejudica-
em que o rei levantou novamente a questão. ria ao rei.
3. Dê-se-me [... ] a minha vida. 6. Adversário e inimigo. À palavra
Pouco importava ao rei que milhares de "inimigo", utilizada por Ester em primeiro
seu s súditos seriam mortos; ele não se pre- lugar (v. 4), ela então un iu uma palavra ainda
ocupava com eles. E le h avia se contentado mais fo rte, "adversário" ou "oponente".
com a acusação de Hamã de que os judeus 7. O jardim do palácio. Ver com. de
eram iníquos. Mas, se o decreto tocava a Et 1:5.
Ester, isto era outra questão. Seu caráter, Mal [... ] determinado. Hamã per-
lealdade e devoção estavam muito acima cebeu n a a titude do rei que a previsão de
de qualquer suspeita. E la queria dizer algo seu s sábios, "certamente cairás" (Et 6: 13),
para ele. A rainha tratou o assunto com tato estava em marcha para se tornar realidade .
e habilidade, introduzindo o problema de Percebendo a influê ncia de Ester sobre o
forma calculada para apelar pessoalmente rei, implorou a ela para interceder p or ele.
ao rei. Sua vida estava ameaçada; ela, a rai- 8. Tornando o rei. Ao retornar,
nha, estava em perigo mortal. Assuero interpreta mal a postura de Hamã
4. Fomos vendidos. Não fica claro como sendo um ataque planejado sobre a
se Assuero realmente concordou em acei- rainha, ou, em sua ira, simula interpretá-la
tar suborno de H am ã (ver com. de E t 3:9, desta forma.
ll; 4:7) ou se Ester fala em uma linguagem Cobriram o rosto de Hamã. Isto sig-
mais figurativa neste verso. nificava que Hamã iria morrer. Escritores
Para nos destruírem. As três expres- gregos e romanos confirmam este costume.
sões sinônimas, das quais esta é a primeira, 9. Harbona. Ver Et 1:10. Talvez Har-
são citadas a partir do próprio decreto bona fosse um dos eunucos que o rei enviou
(Et 3:13). mais cedo naquele mesmo dia p ara ch a-
Se ainda como. H á certa divergência mar H amã ao banquete (ver Et 6:14). Sendo
de opinião quanto ao verdadeiro significado assim, ele viu a forca p essoalmente (ver
da declaração assim introdu zida. Pode ser Et 5:14).
que Ester quisesse dizer que o dinheiro que Falara em defesa do rei. Ou, "interce-
H amã pagou não poderia se igualar à perda deu pela vida do rei" (NVI). Esta é uma refe-
que o rei sofreria com a morte de seus súdi- rência à descoberta por parte de Mordecai
tos jude us. Ou, pode ser que Ester dissesse: da con spiração contra o rei (Et 2:21-23).
"A nossa aflição não deve ser comparada Junto à casa de Hamã. Este fato res -
com a p erda do rei" (RSV), significando que salta a crueldade de Hamã. Nenhu m meio
a execução do decreto traria maior prejuízo seria m ais apropriado p ara sua execução.
para o rei do que para os próprios judeus, A punição correspondeu ao crime de forma
ou que seu sofrimento era uma questão de perfeita (ver SI 7: 13-16 ; 9: 15) .

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

5-10 - PR, 602

537
8: l COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

CAPÍTULO 8
1 Mordecai é exaltado. 3 Ester pede para reverter as cartas de Hamã. 7 Assuero permite
que os judeus se defendam. 15 A honra de Mordecai e a alegria dos judeus.

Naquele mesmo dia, deu o rei Assuero e sete províncias, a cada uma no seu próprio
à rainha Ester a casa de Hamã, inimigo dos modo de escrever, e a cada povo na sua própria
judeus; e Mordecai veio perante o rei, porque língua; e também aos judeus segundo seu pró -
Ester lhe fez saber que era seu parente. prio modo de escrever e a sua própria língua.
2 Tirou o rei seu anel, que tinha toma- lO Escreveu-se em nome do rei Assuero, e
do a Hamã, e o deu a Mordecai. E Ester pôs a se selou com o anel do rei; as cartas foram en-
~ I> Mordecai por superintendente da casa de Hamã. viadas por intermédio de correios montados
3 Falou mais Ester perante o rei e se lhe lan- em ginetes criados na coudelaria do rei.
çou aos pés; e, com lágrimas, lhe implorou que li Nelas, o rei concedia aos judeus de cada
revogasse a maldade de Hamã, o agagita, e a cidade que se reunissem e se dispusessem para
trama que havia empreendido contra os judeus. defender a sua vida, para destruir, matar e ani-
4 Estendeu o rei para Ester o cetro de ouro. quilar de vez toda e qualquer força armada do
Então, ela se levantou, pôs-se de pé diante povo da província que viessem contra eles, crian-
do rei ças e mulheres, e que se saqueassem seus bens,
5 e lhe disse: Se bem parecer ao rei, se eu 12 num mesmo dia, em todas as províncias
achei favor perante ele, se esta coisa é reta do rei Assuero, no dia treze do duodécimo mês,
diante do rei, e se nisto lhe agrado, escreva-se que é o mês de adar.
que se revoguem os decretos concebidos por 13 A carta, que determinava a proclamação
Hamã, filho de Hamedata, o agagita, os quais do edito em todas as províncias, foi enviada a
ele escreveu para aniquilar os judeus que há todos os povos, para que os judeus se prepa-
em todas as províncias do rei. rassem para aquele dia, para se vingarem dos
6 Pois como poderei ver o mal que sobrevi- seus inimigos.
rá ao meu povo? E como poderei ver a destrui- 14 Os correios, montados em ginetes que
ção da minha parentela? se usavam no serviço do rei, saíram inconti-
7 Então, disse o rei Assuero à rainha Ester nenti, impelidos pela ordem do rei; e o edito foi
e ao judeu Mordecai: Eis que dei a Ester a casa publicado na cidadela de Susã.
de Hamã, e a ele penduraram numa forca, por- 15 Então, Mordecai saiu da presença do
quanto intentara matar os judeus. rei com veste real azul-celeste e branco, como
8 Escrevei, pois, aos judeus, como bem vos também com grande coroa de ouro e manto de
parecer, em nome do rei, e selai-o com o anel do linho fino e púrpura; e a cidade de Susã exul-
rei; porque os decretos feitos em nome do rei e tou e se alegrou.
que com seu anel se selam não se podem revogar. 16 Para os judeus houve felicidade, alegria,
9 Então, foram chamados, sem detença, os regozijo e honra.
secretários do rei, aos vinte e três dias do mês 17 Também em toda província e em toda
de sivã, que é o terceiro mês. E, segundo tudo cidade aonde chegava a palavra do rei e a sua
quanto ordenou Mordecai, se escreveu um edito ordem, havia entre os judeus alegria e regozi-
para os judeus, para os sátrapas, para os gover- jo, banquetes e festas; e muitos, dos povos da
nadores e para os príncipes das províncias que terra, se fizeram judeus, porque o temor dos ju-
se estendem da Índia à Etiópia, cento e vinte deus tinha caído sobre eles.

538
ESTER 8:9

1. A casa de Hamã. Quando um crimi- rogou ao rei baseada na consideração pes-


noso era executado, toda a sua propriedade soal que ele tinha por ela.
era confiscada para o rei, que a dispunha Revogasse a maldade. Ou , "anular
de acordo com sua vontade. Agradou a o plano maligno". Embora Mordecai es ti-
Assuero conceder a Ester todos os bens de vesse de posse do selo real, ele não se
H amã, que parece ter sido um homem de atreveria a usá-lo para autorizar um novo
vasta riqueza (ver com. de Et 3:9). decreto que revogaria o já emitido pessoal-
Inimigo dos judeus. Como Hamã é mente pelo rei.
caracterizado a seguir (ver E t 9: 10, 24). 4. Estendeu[ ... ] o cetro de ouro. O rei
Veio perante o rei. Mordecai foi no- possivelmente estendeu seu cetro nesta
meado para a posição que tinha sido de ocasião não somente como símbolo de
Hamã. Ele foi feito grão-vizir, ou primeiro- favor a Ester e de disposição em lhe con-
ministro, um alto funcionário que servia o ceder uma audiência , mas também como
rei pessoalmente e estava constantemente indicação da disposição em agir como
presente. Ester desejava e, assim, desfazer o mal rea-
Ester lhe fez saber. Aparentemente, lizado pelo decreto de H amã.
ela não fez isso antes que a emergência 5. Se bem parecer ao rei. Em sua
surgisse. Não havia mais necessidade de petição Ester uniu a súplica ao senso de
segredo, sendo que Mordecai foi reco- direito e de justiça do rei e um apelo ainda
nhecido como um "benfeitor do rei" (ver mais eficaz à sua consideração por ela. Ele
Et 2:21-23; 6:3-ll) e uma vez que Ester foi não recus aria seu pedido.
obrigada a se confessar judia a fim de sal- 6. Como poderei ver [... ]? Es ter
var seu povo. ainda baseou seu apelo em considerações
2. Tirou o rei o seu anel. O anel foi pessoais, evidenciando, assim, respeito
tirado de Hamã e voltou a Assuero. Este pelo vínculo que ligava seus interesses aos
; ~o- anel era um símbolo de autoridade real e de seu povo.
tinha o selo real (ver com. de Et 3: 10). 7. Disse o rei Assuero. Assuero pro-
E o deu a Mordecai. Os bens de pôs uma solução depois de relembrar a
Hamã foram confiscados para a coroa e Ester e a Mordecai da evidência de sua ati-
atribuídos à custódia de Ester (ver com. do tude favorável em relação aos judeus.
v. 1). Ela não tinha a liberdade para dar o 8. Escrevei, pois. Isto é, em adição a,
que havia recebido em confiança do rei e e para substituir o edito escrito por Hamã
o reteve, em virtude de sua posição como (ver Et 3: 12).
rainha. Assim, Ester n ão presenteou a Aos judeus. Mais exatamente "em
M ordecai com a casa, mas o pôs sobre ela. relação aos judeus". O novo decreto era
Para todos os fins práticos, isto era equi- para ser dirigido aos judeus, não aos per-
valente a um presente. Assim, ele recebeu sas, como foi o de Hamã.
uma residência digna de sua nova respeita- Como bem vos parecer. Ou, "como
bilidade como primeiro-ministro. desejar".
3. E se lhe lançou aos pés . Um gesto 9. Secretários do rei. Em deferên-
comum em terras orientais , de completa cia ao costume jurídico persa pelo qual
submissão, n ão de adoração (ver com. de um edito real era inalterável, com êxito
Et 3:2-5 ). Mordecai inventou um meio de neutralizar
Com lágrimas, lhe implorou. A abor- os efeitos do decreto de Hamã sem real-
dagem de Ester ainda era de emoção; ela mente revogá-lo. O decreto foi publicado

539
8:10 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

em todas as línguas, e as cópias foram fei- igualdade de direitos para os judeus, pres-
tas pelos estenógrafos reais (ver Et 3:12). tando-lhes todas as oportunidades para se
O terceiro mês. É incerto se isto proteger.
ocorreu no 12° ou 13° ano de Assuero (p. Bens. Isto é, a propriedade. O edito
508; ver com. de Et 3:7, cf. v. 12). No pri- anterior dera a mesma permissão aos ini-
meiro caso, a data seria 25 de junho de 474 migos dos judeus (Et 3:13).
a.C.; no último, 12 de julho de 473 a.C. 13. A carta. O v. l3 é praticamente
Em ambos os casos, ocorreu dois meses e idêntico a Ester 3:14, que fala sobre o decre-
dez dias após a proclamação do decreto de to de Hamã.
Hamã e oito meses e 19 ou 20 dias antes 14. Cavalos (NVI). Ver com. do v. lO.
que o decreto de Hamã se efetivasse. Este versículo repete o texto de Ester 3:15,
Este é o maior versículo da Bíblia e con- com um ligeiro acréscimo. Os correios que
tém 43 palavras em hebraico ou 192letras. levaram o decreto de Mordecai deveriam
10. Escreveu-se em nome do rei ser "pressionados" com maior urgência do
Assuero. Ver Et 3:12-15. que os que levaram o decreto de Hamã,
Cavalos velozes, das estrebarias do talvez com medo de que, em alguns casos,
próprio rei (NVI). A construção hebraica os inimigos dos judeus tirassem proveito
desta frase é de difícil tradução. A ARA das disposições do decreto de Hamã e
diz "ginetes criados na coudelaria do rei". antecipassem o horário designado para
Os escritores do Talmude confessam des- sua execução.
conhecer o significado da frase, e a LXX 15. Veste real. Diz-se que o monarca
não faz nenhuma tentativa de tradução da persa usava um manto vermelho e uma
mesma. Mas, em cada exemplo de seu uso túnica interior salpicada de vermelho.
no Antigo Testamento, a palavra indica Normalmente, as vestes de honra que ele
"cavalos" reais, possivelmente de raça supe- concedia eram de outras cores, mas de um
rior. Em Miqueias 1:13, a palavra hebraica tom único. A veste dada a Mordecai parece
que se refere aos cavalos da carruagem é ter sido semelhante à do rei.
traduzida como "animais ligeiros" (ARC; Manto. Possivelmente, "uma capa"
"corcéis", na ARA), e, em 1 Reis 4:28, como (ARC) . Há questionamentos quanto ao
"ginetes" (ARA, ARC). A tradução da KJV que se entende pelo termo aqui traduzido
fala de "mulas, camelos, dromedários", mas por "manto". Algumas das melhores autori-
baseia-se na tradição. A RSV se aproxima dades acham que é feita referência a uma
do sentido das versões portuguesas: "cava- longa peça de roupa que flui do vestuário
los velozes utilizados no serviço do rei, nas- exterior.
cidos no estábulo real". Susã exultou. Isto é, em contraste com
11. Reunissem. O esforço de coope- a perplexidade ocasionada pelo primeiro
~ ,. ração por parte dos judeus faria deles uma edito (ver Et 3:15). Isto pode demonstrar
força formidável. Algumas vezes, tem-se que, em geral, os persas simpatizavam com
falado dos judeus como agressores no dia os judeus. Talvez, outras minorias nacio-
13 de adar, mas não há nenhuma evidên- nais também não gostaram do primeiro
cia disso. O edital claramente lhes permi- edito, que estabelecia um precedente que
tia apenas se defenderem. poderia significar sua própria ruína em um
Para destruir. Isto pode ser comparado tempo futuro.
às palavras do decreto de Hamã (Et 3:13). 17. Muitos [... ] se fizeram judeus.
O decreto de Mordecai concedia a Ou seja, eles requereram e receberam a

540
ESTER 9:1

condição de judeus prosélitos. Isto pode egípc ios para com os hebreus no momento
ser comparado à atitude de alguns dos em que eles saíram do Egito (ver Êx 12:38).

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

10- 17- PR, 602

CAPÍTULO 9
1 Os judeus, ajudados pelos gove1·nantes, matam seus inimigos, com os dez filhos de
Hamã. 12 Assuero, a pedido de Ester, permite mais um dia de matança, e os filhos
de Hamã são enforcados. 20 São criadas festas nos dois dias de Purim.

No dia treze do duodécimo mês, que é o lO que eram os dez filhos de Hamã , filho
mês de ada r, quando chegou a palavra do rei e de Hamedata, o inimigo dos judeus; porém no
a sua ordem para se executar, no dia em que os despojo não tocara m .
inimigos dos judeus contavam assenhorear-se ll No mesmo dia, foi comunicado ao rei o
deles, sucede u o contrário, pois os judeus é que número dos mortos na cidadela de Susã .
se assenhorearam dos que os odiavam; 12 Disse o rei à rainha Ester : Na cidade-
2 porque os judeus, nas suas cidades, em la de Susã, m ataram e destruíram os judeus a
todas as províncias do re i Assuero, se ajuntaram quinhentos homens e os dez filhos de H am ã;
para dar cabo daqueles que lhes procuravam nas mais províncias do rei, que terão eles feito?
o m al; e ninguém podia resistir-lhes, porque o Qual é, pois, a tua petição? E se te dará. Ou
terror que inspiravam caiu sobre tod os aq ue - que é que desejas aind a? E se cumprirá.
les povos. l3 E ntão, disse Ester: Se bem parecer ao
3 Todos os príncipes das provínc ias, e os rei, conceda-se aos jude us que se acham em
sátrapas, e os governadores, e os oficiais do rei Susã que também faça m , amanhã , segundo o
auxiliavam os judeus , porque tinha caído sobre edito de hoje e dependurem em forca os cadá-
eles o temor de Mordecai. veres dos dez filhos de Hamã.
4 Porque Mordecai era grande na casa do 14 Então, disse o rei que assim se fizesse;
rei, e a sua fama crescia por todas as províncias; publicou-se o edito em Susã, e dependuraram
poi s ele se ia tornando mais e mais poderoso . os cadáveres dos dez filhos de Hamã.
5 Feriram, pois, os judeus a todos seus ini- 15 Reuniram- se os judeus que se achavam
migos, a golpes de espada , com matança e des- e m Susã ta mbém no dia catorze do m ês de
truição; e fize ram dos seus inimigos o que bem adar, e mata ram , em Susã, a trezentos homens;
quiseram. porém no despojo não tocara m.
6 Na cid adela de Susã, os judeus m atara m 16 Também os demais judeus que se ac ha-
e des truíra m a quinhentos homens , vam n as províncias do rei se re uniram , e se
7 com o tamb ém a Parsanda ta, a Dalfom, dispuseram para defender a vida, e tiveram
a Aspata, sossego dos seus inimigos; e mataram a setenta
~ ... 8 a Porata, a Adalia, a Aridata , e cinco mil dos que os odiavam; poré m no des-
9 a Farmasta, a Arisai, a Aridai e a Vaizata, pojo não tocaram.

541
9:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

17 Sucedeu isto no dia treze do mês de assentara contra os jude us, recaísse contra a
adar; no dia ca torze, descansaram e o fizeram própria cabeça dele, pelo que enforcaram a ele
dia de banq uetes e de alegria. e a seus filhos.
18 Os judeus, porém, que se ac havam em 26 Por isso, àq ueles dias chamam Purim,
Susã se ajuntaram nos dias treze e catorze do do nome Pur. Daí, por causa de todas as pala-
mesmo; e descansaram no dia quinze e o fize- vras daquela carta, e do que testemunharam , e
ram dia de banquetes e de alegria. do que lhes havia suced ido,
19 Também os judeus das vilas que habita- 27 determinaram os judeus e tomaram
vam nas aldeias abertas fizeram do dia catorze sobre si, sobre a sua descendência e sobre
do mês de adar dia de alegria e de banquetes e todos os que se chegassem a eles que não se
dia de festa e de mandarem porções dos ban- deixaria de comemorar estes dois dias segundo
quetes uns aos outros. o que se escrevera deles e segundo seu tempo
20 Mordecai escreveu estas coisa s e enviou marcado, todos os anos;
cartas a todos os judeus que se achavam em 28 e que estes di as seriam lembrados e come-
todas as províncias do rei Assuero, aos de perto morados geração após geração, por tod as as
e aos de longe , famílias, em todas as províncias e em todas as
21 ordenando-lhes que comemorassem o cidades, e que estes dias de Pu rim jamais cadu-
dia catorze do mês de adar e o dia quinze do cariam entre os judeus, e que a memória deles
mesmo, todos os anos, jamais se extinguiria entre seus descendentes.
22 como os dias em que os judeus tive- 29 Então, a rainha Ester, filha de Abiail, e
ram sossego dos seus inimigos , e o mês que o judeu Mordecai escrevera m , com toda a au-
se lhes mudou de tristeza em alegria, e de luto toridade, segunda vez, para confirmar a carta
em dia de festa; para que os fizessem dias de de Purim.
banquetes e de alegria, e de mandarem por- 30 Expediram cartas a todos os judeu s,
ções dos banquetes uns aos outros, e dádivas às cento e vinte e sete províncias do reino de
aos pobres. Assuero, com palavras amigáveis e sinceras,
23 Assim, os judeus aceitaram como costu- 31 para confirmar estes dias de Purim
me o que, naq uele tempo, haviam feito pela pri- nos seus tempos determinados, como o judeu
meira vez, segundo Mordecai lhes prescrevera; Mordecai e a rai nha Ester lhes tinham estabe-
24 porque Hamã , filho de H ameda ta, o lecido, e como eles mesmos já o tinham esta-
agagita, inimigo de todos os judeus, tinha in- belecido sobre si e sobre a sua descendência,
tentado destruir os judeus; e tinha lançado o acerca do jejum e do seu lamento.
Pur, isto é, sortes, para os assolar e destruir. 32 E o mandado de Ester estabeleceu
25 Mas, tendo Ester ido perante o rei, or- estas particularidades de Purim; e se escreveu
denou ele por cartas que seu mau intento, que no livro.

1. Assenhorear. Ou, "apoderar" (ver reagiram somente contra aqueles que eram
Dn 6:24). conhecidos como seus inimigos.
2. Nas suas cidades. Ou seja, onde 3. Príncipes. Ou, "maiorais" (ARC;
houvesse jude us. ver com. de Et 3:12) responsáveis pelas
Ajuntaram. Em harmonia com a pri- várias províncias .
meira disposição do edito. Oficiais do rei. Literalmente, como
Procuravam o mal. O caráter defen- na margem, "aqueles que realizavam os
sivo da ação dos judeus é enfatizado. Eles negócios que pertenciam ao rei".

542
ESTER 9:28

Auxiliavam os judeus. Ou seja, 16. Dispuseram para defender a


"apoiavam" ou "defendiam" os judeus, por vida. Como previsto no edito (ver Et 8:11).
meio de apoio moral e talvez por força ar- Tiveram sossego. Ou seja, a vitória
mada também. sobre seus inimigos. Os judeus poderiam ,
Tinha caído sobre eles. A posição de enfim, descansar de seus esforços defensi-
Mordecai havia se tornado conhecida. vos, sem medo de represálias.
6. Na cidadela de Susã. Isto pode Setenta e cinco mil. A LXX apre -
se referir tanto à cidade alta, onde o palá- senta 15 mil. O hebraico talvez possa ser
cio estava situado, ou às proximidades traduzido como "1.075". O menor número
do palácio, se não dentro de seus recin- é o mais provável (ver p. 114).
tos. A colina do palácio abrangia mais de 19. Os judeus das vilas. Esta parte
40 hectares, dos quais o palácio ocupava do verso pode ser melhor traduzida como
quase oito. Nesta elevação estão as ruínas "os judeus do país, que habitavam nascida-
de residências, bem como do próprio palá- des do interior".
cio. É provável que a área tenha sido den- 20. Mordecai escreveu. Parece que
samente povoada. Mordecai escreveu primeiro aos judeus
I O. Os dez filhos de Hamã. Os provinciais, sugerindo-lhes a observância
nomes dos dez filhos de Hamã são persas. futura de dois dias de Purim em vez de
Despojo. Os judeus procuraram dei- um, um costume que eles seguiram. Ele
xar claro que não eram motivados pelo explicou o motivo da sugestão de dois dias,
desejo de adquirir o despojo de seus sem a princípio emitir uma ordem espe -
inimigos. cífica. Constatando que sua proposta foi
11. O número. Nas guerras anti- bem recebida (v. 23-27), ele enviou uma
gas era habitual registrar cuidadosamente segunda carta com "toda a autoridade"
a quantidade de mortos. Ao que parece, (literalmente, "toda a força"), impondo a
nesta ocasião foi feito apenas um cálculo observância dos dois dias (v. 29).
arredondado. Ainda assim, o rei cuidou em 22. De tristeza em alegria. Esta foi
estar informado do assunto. a tônica dos dias de Purim, a ideia domi-
12. Que terão eles feito? Não uma nante, à qual todo o resto era secundário e
pergunta, mas uma exclamação, como se o subordinado: a tristeza se transformou em
rei dissesse: "O que então eles fizeram nas alegria. Este espírito ainda marca a cele-
demais províncias do reil" Quantos mais bração do Purim .
foram mortos em outros lugares, se apenas 26. Purim. Os judeus tomaram a pala-
em Susã morreram 500! vra persa pur, "sorte", e deram-lhe um plu-
13. Conceda-se. Não está claro por ral hebraico. Eles podem ter optado por
que Ester pediu mais um dia de matança. usar o plural da palavra porque Hamã lan-
No entanto, não é provável que ela tenha çara sortes repetidamente (Et 3:7), ou por-
feito este pedido sem antes consultar que os judeus celebraram a festa em dois
Mordecai, que certamente tinha mais dias sucessivos.
informações. Como ministro-chefe da Do que testemunharam. Os argu-
nação inteira, Mordecai, possivelmente, mentos de Mordecai foram confirmados
sabia que muitos inimigos de seu povo por sua própria experiência pessoal, pela
ainda estavam vivos e temia que se vingas- lembrança "do que lhes havia sucedido".
sem. Nada há que sugira que ele agiu com 28. Estes dias de Purim. A adoção
um espírito de vingança cega. universal da festa do Purim pela nação

543
9:29 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

judaica é um fato curioso. Joiaquim, o observância . Foi enviada não como um


sumo sacerdote na época, deve ter dado decreto ou em nome do rei, mas como uma
sua aprovação para a festa desde o princí- carta em nome de Ester e Mordecai.
~ ,.. pio e a incorporado no calendário eclesiás- 30. Expediram cartas. Literalmente,
tico da nação, ou ela dificilmente teria se "ele enviou cartas" ou possivelmente, "car-
tornado universal. Deve ter sido por ordem tas foram enviadas". Estas eram cartas
eclesiástica, e não civil, que a festa se tor- informais, contendo saudações "de paz
nou obrigatória. Os judeus da época deci- e fidelidade" (v. 30, ARC) e de jejuns e
diram que a observância seria perpétua. lamentações (ver v. 31).
Ainda hoje a festa é celebrada pelos judeus 32. O mandado de Ester. De prefe-
em toda parte. rência, "um mandamento de Ester". Parece
29. Com toda a autoridade. Literal- se referir a algum documento adicional,
mente, "com toda força". algo além da carta conjunta de Ester e
Segunda vez. A primeira letra foi Mordecai.
mencionada nos v. 20 a 26. A segunda No livro. Possivelmente o livro canô-
carta é, enfim, emitida, "confirmando" a nico de Ester.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

l, 2, 16- PR, 602

CAPÍTULO 10
1 A grandeza de Assuero. 3 A promoção de Mordecai.

l Depois disto, o rei Assuero impôs tributo 3 Pois o judeu Mordecai foi o segundo
sobre a terra e sobre as terras do mar. depois do rei Assuero, e grande para com os
2 Quanto aos mais atos do seu poder e do judeus, e esti mado pel a multidão de seus ir-
seu valor e ao relatório completo da grandeza mãos , te ndo procurado o be m-e star do se u
de Mordecai, a quem o rei exa ltou, porventu- povo e trabalhado pela prosperidade de todo o
ra, não estão escritos no Livro da História dos povo da sua raça .
Reis da Média e da Pérsia?

I. Tributo sobre a terra. Dario de retornar da desastrosa campanha con-


Histaspes foi o primeiro monarca persa tra a Grécia.
a cobrar impostos universais, mas Xerxes As ilhas (ARC). Ou, "terras do mar"
(Assuero) se distinguiu como um grande (ARA), neste caso, as províncias m aríti-
arrecadador de tributos (ver Dn 11:2). mas na fronteira com o Mediterrâneo e o
O tributo teria que ser ajustado ao longo do mar Egeu. Estas foram ocupadas por um
tempo, e Xerxes estaria em extrema neces- tempo considerável por guarnições per-
sidade de a umentar os impostos depois sas, mesmo após a derrota na Grécia, e

544
ESTER 10: 3

estariam incluíd as e m quaisquer tributa- porque a história da Média antecede u a


ções feitas por Xerxes. Ele pode ter con- da Pérsia e, portanto, foi-lhe concedida
tinuado a cobrar tributo sobre as ilhas do maior ênfase na primeira parte do "Livro
Egeu , embora não conseguisse coletá-lo. das Crônicas".
2. Reis da Média e da Pérsia. 3. O segundo depois do rei Assuero.
É surpreendente que o autor do livro de Como grão-vizir, ou primeiro-ministro.
Ester reconheça a íntima conexão entre Estimado. Ou, "grande" (ARC).
os dois impérios iranianos. Um livro , Prosperidade. Ou, o "bem-estar"
ele observa , contém os registros de (NVI) dos judeus.
ambos. Neste verso, a Média é colocada Sua raça. Possivelmente neste verso ,
an tes da Pérsia, por motivos cronológicos, todos os judeus.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

3- PR, 602

545

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