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Baldovino (2019) - Fundamentos de Ascensão Capilar em Solos Não Saturados Teoria e Ensaios de Laboratório
Baldovino (2019) - Fundamentos de Ascensão Capilar em Solos Não Saturados Teoria e Ensaios de Laboratório
e Ensaios de Laboratório
Jair de Jesús Arrieta Baldovino, MSc
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, yaderbal@hotmail.com
RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma síntese analítica do fenômeno de
ascensão capilar em solos com base em estudos de modelos matemáticos, soluções analíticas e
ensaios laboratoriais. As soluções analíticas são baseadas, principalmente, na estimativa da máxima
altura de ascensão capilar (hc), na altura da zona de saturação (ha) e no tempo de ascensão capilar,
assim como na influência da porosidade do solo (η), no tamanho das partículas do solo, no coeficiente
de permeabilidade saturado (ks) e não saturado (k) e no ângulo de contato (α) entre as fases sólido-
líquido. Por isso, serão esses os parâmetros analisados nesse trabalho. Os resultados demonstram que
as soluções analíticas de ascensão capilar podem ser empregadas em areias, argilas, limos e britas.
S=0
hc A L T U R A D E SUCÇÃO
0<S<1
H
ha
PEDRA S=1
P O R O SA
SOLO
A G UA TEMPO
S A T U RAÇÃO
600
ha=0 cm
500 ha=60cm
ha=120cm
ha=180cm
400
ha=240cm
hc (cm)
ha=hc
300
200
100
ks=10-3 cm/s; η=0,40
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Ângulo de contato
Figura 2. Variação da altura de ascensão capilar hc para diferentes ângulos de contato, alturas de saturação do solo,
porosidade de 40% e ks=10-3 cm/s (adaptado de Liu et al. 2014).
2.6 Modelo de Liu et al. (2014) ascensão capilar de vários tipos de solos em
tubos abertos. O coeficiente de permeabilidade
Liu et al. (2014) desenvolveram uma solução não saturado (k) foi considerado em função do
analítica para calcular de uma maneira fácil e coeficiente de permeabilidade saturado (ks) e da
rápida a máxima altura de ascensão capilar (hc) altura de ascensão capilar:
em solos (principalmente arenosos). A solução
foi comparada com uma serie de ensaios de
aceleração no fluido é nula. Usando a lei de
k=ks f (z) (10)
Poiseuille, a solução analítica para a Equação 11
foi (equação 12):
Onde z é a altura de água acima do nível da água
(altura negativa de água) e f é o modelo ση
hc = cosα+(1-η)ha (12)
matemático proposto. Se substituirmos a √2nρω gks
Equação 10 na Equação 1, tem-se (Equação 11):
Onde hc e ha são, altura máxima de ascensão
dz 𝑘𝑠 𝑓(𝑧) (hc -z) capilar e altura de entrada de ar, respectivamente,
= (11)
dt 𝜂 z σ é tensão superficial da água, 𝛼 é o ângulo de
contato da fase água-solo, 𝜌𝜔 é a densidade da
Liu et al. (2014) resolveram a Equação 11 água, g é a aceleração da gravidade e n é a
considerando o fluxo de água no solo e supondo viscosidade da água. O valor de σ/√2nρω g pode
que: o fluido é incompressível e newtoniano, o ser calculado como 0,164 (m3/2 s-1/2) a uma
fluxo é laminar através de um tubo, cujo temperatura de 20°C.
comprimento é maior que o diâmetro, a
18000
ha=0
16000
ha=2000 cm
14000 ha=4000 cm
ha=7000 cm
12000
ha=8000 cm
hc (cm)
10000 ha=hc
8000
6000
4000
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Ángulo de Contato
Figura 3. Variação da altura de ascensão capilar hc para diferentes ângulos de contacto, alturas de saturação do solo,
porosidade de 40% e ks=10-6 cm/s (adaptado de Liu et al. 2014).
Verifica-se na Figura 2 a altura máxima de O valor de ks=10-3 cm/s é típico de solos arenosos
ascensão capilar (hc) que pode alcançar uma e solos arenosos-siltosos, assim as curvas
coluna de solo para um coeficiente apresentadas na Figura 2 são aproximações da
permeabilidade saturado (ks) de 10-3 cm/s, altura máxima de ascensão capilar que poderiam
porosidade de 40%, alturas de entrada de ar, ou alcançar esse tipo de solos. O valor de ângulo de
alturas de saturação, de 0, 60, 120, 180 e 240 cm contato da fase líquido-sólido para diferentes
e hc=ha (aplicando a Equação 12). tipos de solo pode variar desde 40° até 80° e,
segundo Lu e Likos (2004), a relação hc/ha pode
variar até 5. Assim, para os valores mostrados na tipo de solos. Assim, segundo a Figura 3, um
Figura 2, a altura ascensão capilar hc pode variar solo para esses valores de porosidade e
desde 200 cm até 520 cm, aproximadamente. permeabilidade pode alcançar valores de hc
Além disso, hc aumenta para quando o ângulo de desde 60 m até 160 m de altura.
contato diminui, e quando ha aumenta.
A Figura 4 apresenta a variação da relação entre
Observa-se na Figura 3 a variação da altura de a altura máxima de ascensão capilar (hc) e a
ascensão capilar (hc) para diferentes valores de altura de saturação (ha) dependendo de
ha e ângulos de contato. O valor do coeficiente porosidades, de 40% e 50%, e coeficientes de
de permeabilidade saturado se mantém constante permeabilidade saturado, de 10-3 cm/s e 10-4
a 10-6 cm/s, e porosidade de 40%. cm/s, mostrando, assim, diferentes valores para
hc/ha que aumentam se diminui o ângulo de
O valor de ks=10-6 cm/s é típico de solos siltosos contato. Lu e Likos (2004) reportaram uma
e solos argilosos, assim as curvas apresentadas relação máxima hc/ha é de 5, mas na Figura 4 se
na Figura 3 são aproximações da altura máxima pode observar variações maiores que 5.
de ascensão capilar que poderiam alcançar esse
35
n=0,40; ha=30 cm
30 n=0,50; ha=30 cm
n=0,40; ha=20 cm
25 n=0,40; ha=30 cm
n=0,50; ha=30 cm
20 n=0,40; ha=20 cm
hc/ ha
15
10
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Ângulo de contato
Figura 4. Variação da relação hc/ha para diferentes ângulos de contato, porosidades e coeficientes de permeabilidade
(adaptado de Liu et.al., 2014).
A metodologia de Liu et al. (2014) é uma permeabilidade saturado e altura de entra de ar).
solução clara e simples para calcular a altura Além disso, Liu et al. (2014) obtiveram um
máxima de ascensão capilar usando parâmetros ajuste de 79% na aplicação da Equação 12 em
e propriedades do solo que podem ser obtidas valores experimentais de ascensão capilar de
facilmente no laboratório (ângulo de contato, solos de outros autores.
peso especifico seco aparente do solo, massa
especifica dos grãos, coeficiente de
3 DADOS EXPERIMENTAIS DE dos primeiros autores que trabalharam com esse
ASCENSÃO CAPILAR EM SOLOS tipo de ensaio foi Lane et al. (1946). Lu e Likos
(2004) reportaram os 4 tipos de solos usados nos
Diferentes autores trabalharam com diferentes ensaios de ascensão capilar por Lane et al.
tipos de solos para estudar seu comportamento (1946). Os 4 tipos de solos são mostrados na
capilar, para isso, usaram tubos de vidro ou de Tabela 1.
acrílico transparente para medir, principalmente,
a altura de ascensão da água com o tempo. Uns
Tabela 1. Características dos solos utilizados por Lane et al. (1946)
Solo Tipo ks (cm/s) hc (cm) ha (cm) Porosidade
-5
1 Silte arenoso 6,2 x 10 239,6 175 0,40
-4
2 Areia grossa com presença de finos 1,1 x 10 82,0 42 0,20
-2
3 Areia grossa mal graduada 1,6 x 10 28,4 - 0,30
-4
4 Areia fina mal graduada 4,6 x 10 106,0 - 0,31
Fonte: Adaptado de Lu e Likos (2004)
Lu e Likos (2004) analisou os valores altura de ascensão, assim como areia de Bhiwani
experimentais do tempo de ascensão capilar (entre 35 e 40 cm).
observados por Lane et al. (1946) comparados
com a solução analítica e modelo de Terzaghi Li et al. (2009) estudaram a ascensão capilar de
(1943). O cálculo do tempo de ascensão capilar 5 solos para determinar a curva característica de
com a Equação (3) pode ser obtido sem o valor sucção (sucção matricial) baseados no fenômeno
da altura de entrada do ar, assim, para os 4 tipos capilar. Na Figura 6 é apresentado o
de solo (Tabela 1) a curva de Terzaghi (1943) comportamento capilar de 5 tipos de solo: GW,
pode ser traçada, mas para os solos 3 e 4, Lu e SM, SC, ML e CL (ver também a Tabela 2).
Likos (2004) encontraram o valor de αhc que Todos os solos foram colocados em um tubo de
melhor se ajustassem aos pontos experimentais. acrílico de 1000 mm de altura. Pode-se ver que
O valor encontrado para o solo 3 foi de αhc=5 e os solos mais finos (SC e ML) tiveram uma
para o solo 4 o valor oscila entre 4 e 5. Quer dizer altura de ascensão capilar maior, os solos com
que, segundo Lu e Likos (2004), o valor teórico granulometria mais grossa, como o GW-GM, só
de ha está entre a quarta ou a quinta parte da alcançaram uma altura, aproximada, de 10 cm de
altura máxima de ascensão. Na Figura 5 são ascensão capilar. Os solos estudados por Li et al.
apresentados os valores experimentais de (2009) foram limitados pela altura do tubo de
ascensão capilar de 6 solos usados por Malik et acrílico (1000 mm) e, assim, também foi
al. (1984) comparados com os modelos de limitado o tempo de ascensão capilar.
Terzaghi e Lu e Likos. Nota-se que a curva
teórica de Terzaghi para todos os solos Na Tabela 2, os 35 tipos de solos usados em
apresentados na Figura 5 tem melhor ajuste com ensaios de ascensão capilar por diferentes
os pontos experimentais de ascensão capilar autores são observados. É apresentado na Tabela
comparada com a curva de ascensão de Lu e 2 o nome do solo usado, sua classificação,
Likos. Os 6 tipos de solos estudados são coeficiente de permeabilidade saturado, em
arenosos, portanto, apresentam valores de cm/s, ângulo de contato entre a fase sólido-
permeabilidade baixos os quais estão reportados líquida, porosidade, altura de entrada do ar e os
na Tabela 1. A areia de Rewalwas teve a maior valores experimentais e calculados da altura
máxima de ascensão capilar. Vários dos dados
dos solos na Tabela 2 foram usados por Liu et al. solos do Tabela 2. Com os resultados
(2014) para determinar o grau de aceitação da experimentais dos solos, se obtém um ajuste de
Equação 12. É mostrada na Figura 7 uma 83%, valor este aproximado ao reportado por Liu
comparação entre os valores teóricos da altura et al. (2014), que foi de 79%.
máxima de ascensão capilar, aplicando a
Equação 12, com os valores experimentais dos
40 40
35 35
30 30
25 25
20 Areia de Rawalwas 20
Areia de Bhiwani
15 15
Terzaghi (1943)
Terzaghi (1943)
10 10
Lu e Likos (2004)
5 5 Lu e Likos (2004)
0 0
0 30 60 90 120 0 20 40 60 80 100
Tempo (minutos) Tempo (minutos)
a) Solo 5. Areia de Rawalwas b) Solo 6. Areia de Bhiwani
40 25
Altura de ascensão capilar (cm)
35
20
Altura de ascensão capilar (cm)
30
25 15
20
Areia de Rewari Areia de Yamuna
15 10
Terzaghi (1943) Terzaghi (1943)
10
Lu e Likos (2004) 5
5 Lu e Likos (2004)
0 0
0 20 40 60 80 100 0 10 20 30 40
Tempo (minutos) Tempo (minutos)
c) Solo 7. Areia de Rewari d) Solo 8. Areia de Yamuna
25 12
Altura de ascensão capilar (cm)
Altura de ascensão capilar (cm)
10
20
8
15
6
10 53-63 GB 78-88 GB
4
Terzaghi (1943) Terzaghi (1943)
5 2
Lu e Likos (2004) Lu e Likos (2004)
0 0
0 20 40 60 80 100 120 140 0 5 10 15 20 25 30 35 40
Tempo (minutos) Tempo (minutos)
e) Solo 9. 53-63 μm GB f) Solo 10. 78-88 μm GB
Figura 5. Solos estudados por Malik et al. (1984) comparados com as soluções analíticas de Terzaghi (1943) e Lu e
Likos (2004).
Os valores dos ângulos de contato para os solos para η=46%. Esses resultados foram inseridos na
reportados na Tabela 2 aumenta quando o tipo de Equação 3 e Equação 9 para obter a curva de
solo é argila ou silte, ou seja, de granulometria ascensão capilar teórica do solo, de acordo com
mais fina, e diminui quando o solo é arenoso, ou a teoria de Terzaghi e de Lu e Likos.
seja, de granulometria grossa. A relação entre
altura de entrada de ar e a máxima altura de
ascensão capilar dos solos reportados (hc/ha) 300
35 (R2=0,73) 35
(R2=0,82) (R2=0,76)
30 30
25 25
(R2=0,97)
20 20
15 Experimental 15
TERZAGHI (1943)
EXPERIMENTAL
10 10
TERZAGHI (1943)
5 LU E LIKOS (2004)
5
LU E LIKOS (2004)
0
0
0.0001 0.001 0.01 0.1 1 10 100
0.0001 0.001 0.01 0.1 1 10 100
Tempo (dias)
Tempo (dias)
(a) η=38%
(b) η=40% (Baldovino et al. 2017)
40
35 (R2=0,74)
30
(R2=0,56)
Ascensão capilar (cm)
25
20
15 Experimental
10 TERZAGHI (1943)
5
LU E LIKOS (2004)
0
0.0001 0.001 0.01 0.1 1 10 100
Tempo (dias)
(c) η=46%
Figura 8. Comparação entre os dados experimentais, solução de Terzaghi e solução de Lu e Likos (Baldovino
et al. 2018).
REFERÊNCIAS
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