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Biomateriais
Biomateriais
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1. Introdução
Os biomateriais são materiais de origem natural ou sintética com a função de
substituir um determinado tecido, possibilitando a restauração, parcial ou total, da sua
estrutura e função [1]. Contrariamente, um material biológico é um material produzido
pelo sistema biológico, tal como a matriz óssea.
A B
Figura 1- Válvula cardíaca artificial (A) ; Lente intraocular (B). Retirado de [3]
2
2. História dos Biomateriais
3. Biomateriais em Medicina
3.1. Metais:
Os metais são uma classe de biomateriais altamente usada devido às suas
excelentes propriedades mecânicas e termocondutivas [1]. Os metais e as ligas metálicas
são principalmente usadas nas áreas de ortopedia e medicina dentária [5].
Adicionalmente, estes são usados em válvulas de corações artificiais e encontrados nos
elétrodos dos pacemakers [2].
As ligas metálicas são mais utilizadas do que os metais puros, uma vez que estes
apresentam melhoramentos das suas propriedades mecânicas, tais como a sua resistência
à corrosão e a sua força, permitindo que estes resistam às deformações mecânicas a que
os ossos estão sujeitos [2],[7].
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Figura 3- Biomateriais metálicos com aplicações médicas. Retirado de [8]
3.1.1. Estrutura
Num nível atómico, os metais consistem em partículas com carga positiva
envolvidos por uma nuvem eletrónica, ligados por ligações metálicas fortes [2]. Quando
os metais fundidos sofrem um processo de arrefecimento, os átomos rearranjam-se de
forma a formar uma estrutura cristalina tridimensional muito bem definida [8]. As três
estruturas cristalinas mais simples são a estrutura cúbica de corpo centrado (BCC), a
estrutura cúbica de face centrada (FCC) e a estrutura cristalina hexagonal compacta
(HCP) [8].
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diminuição da taxa de corrosão, uma vez que é termo e eletroinsulador, permitindo o uso
destes materiais no interior dos sistemas biológicos [2]. Por exemplo, as ligas metálicas
à base de cobalto apresentam uma alta resistência à corrosão devido à formação de uma
camada de Cr2O3 na superfície [1]. Caso o filme protetor seja destruído, existe a exposição
do metal ao oxigénio e uma nova camada é formada [8].
Na Tabela 1.2 estão presentes os valores das propriedades mecânicas dos três
biomateriais metálicos dominantes. Através da análise da mesma, conclui-se que todos
estes biomateriais apresentam valores muito superiores ao dos ossos.
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Figura 4- Curva de stress-strain de uma
liga metálica Ti-β à temperatura Figura 5- Curva de stress-strain de
ambiente. Retirado de [9] várias classes de biomateriais e osso
cortical. Retirado de [9]
3.2 Polímeros
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Polímeros de origem natural são obtidos principalmente a partir de fontes
biológicas o que lhes confere uma elevada biocompatibilidade, porém têm a desvantagem
de terem estruturas muito variáveis [10]. Polímeros sintéticos, contrariamente aos
referidos anteriormente, apresentam uma elevada consistência nas suas propriedades e
consequentemente permitem uma elevada reprodutibilidade. Uma das grandes
desvantagens deste tipo de polímeros são a sua menor biocompatibilidade, relativamente
aos polímeros de origem natural [10]. Alguns dos polímeros mais utilizados em medicina
são o poli(metil metacrilato) mais conhecido como PMMA, polietileno (PE) e o
poli(etileno tereftalato) (PET) [2],[10].
3.2.1. Estrutura
8
covalentes intramoleculares. Na maior parte das vezes as cadeias poliméricas interagem
entre si através de ligações secundárias de hidrogénio e de van der Waals [2].
Existem vários tipos de estruturas poliméricas (Figura 7). Polímeros lineares são
constituídos por unidades de repetição ligadas de forma linear [11]. Exemplos deste tipo
de estrutura são o polietileno, poli(vinil cloreto) e o nylon [11]. A presença de cadeias
laterais ligadas à cadeia polimérica principal dão origem a polímeros ramificados, com
menor densidade que os polímeros lineares [11]. Outra classe de polímeros são os
polímeros que apresentam interligações diretas entre cadeias. Estas ligações de
crosslinking são covalentes e portanto fortes [11]. Muitos dos materiais de borracha são
constituídos por cadeias poliméricas em crosslinking [11]. Por último, os polímeros de
rede (“network polymers”) são compostos por monómeros multifuncionais capazes de
formar estruturas a três dimensões [11]. O poliuretano é um exemplo deste tipo de
polímero [11].
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3.2.2. Propriedades térmicas e mecânicas
As cadeias poliméricas estão presentes nos polímeros em duas formas diferentes,
uma forma cristalina lamelar e outra amorfa, sendo que a segunda se encontra entre as
lamelas cristalinas [12]. Polímeros que têm um alto grau de cristalinidade apresentam
uma estrutura rígida e consequentemente valores elevados de ponto de fusão. O contrário
acontece nos casos de polímeros com baixo grau de cristalinidade [12]. O poliestireno e
o poli(metil metacrilato) são exemplos de polímeros amorfos, enquanto que o polietileno
e o PET poliester são polímeros cristalinos [12].
10
explicado uma vez que um polímero com uma massa molecular elevada contém cadeias
mais largas dificultando o seu movimento, resultando no aumento da resistência do
polímero [12]. O mesmo princípio é aplicado relativamente à presença de crosslinking.
Caso um polímero contenha uma alta percentagem de crosslinking então este será mais
forte, devido à restrição de movimento por este causada [12].
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Figura 9- Efeito da temperatura nas propriedades
mecânicas dos polímeros. Retirado de [12]
3.3. Cerâmicos
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vitrocerâmicos e a hidroxiapatita são os maiores grupos pertencentes à classe dos
cerâmicos bioativos [16]. Finalmente, os biocerâmicos reabsorvíveis são uma tipo de
material que após implantado no organismo reagem com este e sofrem um processo de
dissolução nos fluidos corporais dando origem posteriormente a novos tecidos [15]. A
ação destes é apenas temporária, sendo utilizados principalmente em crescimento de
tecidos, cartilagens e nervos [15]. Um exemplo deste tipo de biocerâmicos é o fosfato de
cálcio [15].
Figura 10- Classificação dos biomateriais Figura 11- Aplicações dos biomateriais
cerâmicos. Retirado de [14] cerâmicos no organismo humano. Retirado de
[14]
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3.3.1. Estrutura
A B
14
implante, o que implica a criação de uma interface estável entre o implante e o tecido alvo
[16].
Relativamente aos fosfatos de cálcio e aos vidros bioativos, visto que estes
apresentam valores relativos às propriedades mecânicas muito baixos não estão aptos para
15
serem usados como implantes de suporte de carga. Estes materiais normalmente são
usados como enchimento, como implantes em locais em que o suporte de carga não é
necessário ou como revestimento de implantes metálicos, ortopédicos e dentários,
permitindo atingir uma maior eficácia na fixação do implante ao osso [2].
3.4. Compósitos
4. Toxicologia e Biocompatibilidade
Uma vez que os biomateriais estão em contacto direto com o sistema biológico, é
de extrema importância ter em conta os efeitos que estes tipos de materiais podem ter
relativamente aos tecidos vizinhos [21]. Para tal, agências governamentais e
administrações específicas tais como a FDA (Food and Drug Administration) têm
protocolos e diretrizes usados para avaliar a biocompatibilidade de novos biomateriais
desenvolvidos [21].
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Relativamente à biocompatibilidade, esta é definida como a capacidade de um
implante médico funcionar in vivo sem desencadear uma série de reações locais ou
sistémicas no organismo que possam causar danos no paciente [5]. A avaliação desta
característica é feita, tal como na análise da toxicidade, através de vários testes.
Primeiramente efetuam-se testes in vitro, utilizando, por exemplo, modelos celulares de
mamíferos. A fase seguinte, é a testagem dos biomateriais em modelos animais,
normalmente ratos, sendo estes denominados testes in vivo. Este tipo de testes levanta
muitas questões éticas, tal como se verá posteriormente. Finalmente, a última fase de
testagem são os testes clínicos, efetuados em Humanos.
5. Vantagens e Desvantagens
As principais vantagens dos metais e ligas metálicas são a sua força e dureza, bem
como a sua facilidade de esterilização. Porém a sua principal desvantagem é a facilidade
com que sofrem corrosão quando em contacto com enzimas e outras substâncias presentes
nos fluidos corporais.
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Tabela 5- Vantagens e Desvantagens de cada tipo de biomateriais. Retirado de [24]
6. Ética
Uma das preocupações mais significativas por parte das entidades reguladoras é o
uso de animais durante o processo de investigação. Relativamente a este tópico, existe a
questão relativa à relevância de um modelo animal ser implementado posteriormente em
humanos. Para além disso, também é necessário refletir se a finalidade do estudo
compensa o potencial desconforto ou até mesmo morte do animal. Apesar da existência
de todas estas preocupações completamente válidas, a substituição completa de sistemas
in vivo para sistemas de cultura celular é de certa forma eutópico. Esta dificuldade advém
da existência de diferentes tipos celulares nos tecidos biológicos, enquanto que testes in
vitro são otimizados na presença de apenas uma linha celular. Apesar desta realidade, o
uso de testes iniciais in vitro é uma prática comummente encontrada em investigação.
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A posterior testagem dos materiais desenvolvidos em humanos também levanta
algumas questões éticas. Os materiais implementados no organismo têm o objetivo de
terem um período de vida longo. A colocação destes implantes, geralmente, é feita em
locais com baixa facilidade de acesso, sendo necessária cirurgias muito invasivas. Este
facto levanta a questão de se a relação risco benefício da colocação do implante no
paciente é suficientemente baixo para o sujeitar a uma cirurgia complicada e
potencialmente perigosa com o propósito de testar algo. Dito isto, é de extrema
importância obter sempre o consentimento do paciente antes de efetuar algum tipo de
implantação. Para além disso, o paciente tem o direito de ser informado atempadamente
de todos os procedimentos e a sua forma de aplicação.
7. Direções Futuras
Estima-se que em 2025 o mercado mundial dos biomateriais chegue aos 48 biliões
de dólares, com possibilidades de crescimento adicional através do desenvolvimento de
novas metodologias de aplicação no diagnóstico e monotorização, medicina regenerativa,
sistemas de veiculação de fármacos entre outras [23].
20
que juntamente com os conhecimentos já existentes acerca dos biomateriais irão permitir
um grande avanço nesta área, nos próximos anos [23].
8. Conclusão
21
Referências
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