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CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL EM MECÂNICA DOS SÓLIDOS

MODELOS DA CURVA TENSÃO-DEFORMAÇÃO

Prof. Carlos Rodrigo de Mello Roesler, Prof. Edison da Rosa


GRANTE / EMC / CTC / UFSC – Novembro 2020
CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL EM MECÂNICA DOS SÓLIDOS
MODELOS DA CURVA TENSÃO-DEFORMAÇÃO

PROCESSAMENTO DOS DADOS DO ENSAIO DE TRAÇÃO

Um dos primeiros pontos a realizar após verificar a validade dos


resultados de um ensaio de tração, originalmente informações de força
e deslocamento, ou força e variação de comprimento, é obter os
valores correspondentes de tensão e de deformação, diretamente das
dimensões originais do material, valores de engenharia, ou usando as
dimensões instantâneas, valores reais, ou verdadeiros.

Após este processamento básico,1 , a determinação das propriedades


elásticas mais relevantes do material,2, 3, passa a se o ponto de
interesse.

Ocorre no entanto que, a menos que o material em estudo tenha um


comportamento extremamente frágil, apenas as constantes elásticas não
são suficientes para caracterizar o comportamento mecânico, em
especial quando a ductilidade do material permite que o mesmo suporte
valores elevados de deformação.

O comportamento do material após o regime elástico, com deformações


plásticas crescentes, é em muitos casos, tão ou mais importante que a
determinação das constantes elásticas do mesmo. Neste ponto o
material deve ser modelado com um comportamento que englobe também as
deformações plásticas, agora presentes.
1
– Ver capítulos de Ensaio de Tração e de Deformação.
2
– Ver capítulo de Coeficiente de Poisson Equivalente.
3
– Ver capítulo de Determinação do Módulo de Elasticidade.
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MODELOS DA CURVA TENSÃO-DEFORMAÇÃO

MODELOS UNIAXIAIS DA RELAÇÃO TENSÃO-DEFORMAÇÃO

Neste capítulo serão apresentados os modelos de comportamento do


material, mais comumente usados, com um detalhamento das
possibilidades de análise que os mais completos apresentam.

Na sequência são apresentados, com complexidade crescente, os


principais modelos uniaxiais. Alguns modelos derivados serão
posteriormente discutidos.

σ
MATERIAL ELÁSTICO IDEAL

σ = E ⋅ε

∀ε
ε
E - Módulo de elasticidade

Como primeira aproximação do comportamento mecânico do material o


modelo elástico linear é a opção, juntamente com a hipótese de um
material isotrópico, a menos que evidências requeiram uma
sofisticação no modelo, como por exemplo, uma ovalização da seção
transversal durante o ensaio, caracterizando uma anisotropia.
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MODELOS UNIAXIAIS DA RELAÇÃO TENSÃO-DEFORMAÇÃO

Para incluir as deformações plásticas o modelo mais simples é o de um


material elasto plástico ideal, no qual é considerado um patamar de
escoamento, que ocorre com um valor de uma tensão de referência 1, que
pode ser a tensão limite de escoamento do material, ou alguma outra
mais conveniente 2.

σ
σ
MATERIAL ELASTO PLÁSTICO IDEAL

σ = E ⋅ε , ε ≤ ε

σ =σ , ε >ε
ε σ = −σ , ε < −ε

ε σ - Tensão de referência

A designação de material ideal decorre de que ao atingir o patamar de


escoamento não existe encruamento, nem limite para valores que a
deformação pode atingir.

1
– A denominação de tensão de referência foi adotada para não criar a
expectativa de que esta é a tensão limite de escoamento do material.
2
– Ver capítulo sobre a Determinação da Tensão de Referência.
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MODELOS UNIAXIAIS DA RELAÇÃO TENSÃO-DEFORMAÇÃO

O modelo rígido plástico é um caso limite do modelo elasto-plástico


ideal, zerando a parcela elástica da deformação, ou seja, módulo de
elasticidade infinito.

Este modelo é bastante utilizado em situações em que as deformações


elásticas são muito menores do que as deformações plásticas, como por
exemplo na análise limite, estudo de processos de fabricação, como
forjamento, laminação, dentre outros.

σ
σ MATERIAL RÍGIDO PLÁSTICO IDEAL

ε =0, σ ≤σ

ε σ =σ , ε > 0
σ = −σ , ε < 0
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MODELOS UNIAXIAIS DA RELAÇÃO TENSÃO-DEFORMAÇÃO

De modo a contornar o fato de que o modelo de um material elasto


plástico ideal não apresenta encruamento, uma opção é adotar o modelo
de encruamento linear, com a região do comportamento plástico
modelada pelo módulo tangente, H . Para uma curva tensão-deformação
genérica o módulo tangente é a derivada da curva no ponto em
consideração. No atual modelo o módulo tangente é uma constante,
definido como:
σ −σ
H=
ε −ε

σ
σ MATERIAL ENCRUAMENTO LINEAR

σ = E ⋅ε , ε ≤ ε

σ = σ + H ⋅ (ε − ε ) , ε > ε
ε
ε H - Módulo tangente

O valor do módulo tangente é obtido a partir de um processo de ajuste


com os dados experimentais, dentro de uma faixa de valores de tensão,
ou deformação, de interesse.
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MODELOS UNIAXIAIS DA RELAÇÃO TENSÃO-DEFORMAÇÃO

Um modelo que se aproxima melhor do comportamento dúctil de materiais


metálicos é o chamado modelo de encruamento potencial do qual existem
diversas variantes, sendo mais conhecido como modelo de Ramberg-
Osgood, 1943, ou modelo de Hollomon, 1945.

A essência destes modelos é considerar separadamente as parcelas


elásticas e plásticas da deformação. A parte elástica seguindo a Lei
de Hooke e a parcela plástica proporcional a uma potência da tensão.

σ MATERIAL ENCRUAMENTO POTENCIAL


σ ε = εe + ε p
1
σ
σ  n
σ =kε ; ε = + 
n
p
E k
ε k - Coeficiente de resistência

n - Expoente de encruamento

Para este modelo, assim como para muitos materiais que não apresentam
uma descontinuidade característica, a definição de um ponto de
separação do comportamento elástico com o regime plástico é
subjetiva. Ver capítulo sobre a determinação da tensão de referência.
Uma variante deste modelo é usar a relação σ = k ε n .
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ANÁLISE DE CASOS LIMITES

Os modelos apresentados contemplam casos em que valores limites de


seus parâmetros levam a uma convergência a outros modelos.

MODELO DE ENCRUAMENTO LINEAR.

O módulo tangente pode assumir valores entre zero e o próprio módulo


de elasticidade. Da definição do módulo tangente resultam os casos
limites conforme tabela abaixo.

σ −σ Material elasto
H= =0 σ =σ ; ∀ε ≥ε
ε −ε plástico ideal
σ −σ Material elástico
H= =E σ =Eε ; σ =Eε
ε −ε ideal

MODELO DE ENCRUAMENTO POTENCIAL.

Neste modelo o expoente de encruamento pode ter valores dentro do


intervalo [ 0, 1] . Da relação entre a tensão e a deformação, no caso a
total, resultam os casos limites abaixo, e como consequência k ⊂ [ σ ; E ] .

Material elasto
σ = k εn ; n =0 σ = k ; ∀ε ; k =σ plástico ideal

σ = k ε n ; n =1 σ = k ε ; ∀ε ; k = E Material elástico
ideal
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ANÁLISE DO MODELO DE ENCRUAMENTO POTENCIAL

O modelo de material com encruamento potencial possui uma


característica de que a deformação sempre apresenta as duas parcelas,
a deformação elástica e a deformação plástica. Quando a tensão é
relativamente baixa, em comparação ao coeficiente de resistência, a
parcela plástica é muito pequena, mas conforme a tensão aumenta
rapidamente a deformação plástica se manifesta, atingindo 100 %
quando σ = k . As figuras a seguir mostram este comportamento.

1000.00 1E+4

σ
εe
5

1E+3
εp
Tensão

2 1E+2

100.00
1E+1
-10 -5 0 5
Relação de deformações, log ε p /ε e 1E-4 1E-3 1E-2 1E-1
ε
1E+0

Uma forma alternativa que pode ser útil, é:

1 1
σ
σ  n
σ k
σ  n
σ k 1
ε = +  ε= +  Definindo s = , resulta ε =s⋅ + s n
E k k E k k E
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ANÁLISE DO MODELO DE ENCRUAMENTO POTENCIAL

O modelo de material com encruamento potencial possui uma


considerável versatilidade de representação do comportamento tensão-
deformação, conforme as figuras abaixo ilustram, na primeira com
curvas com diferentes expoentes de encruamento, na segunda com
diferentes coeficientes de resistência.
1E+3 1E+3

8E+2 8E+2

6E+2 6E+2

4E+2 E = 200 000 MPa 4E+2 E = 200 000 MPa


k = 1000 MPa k = 800; 1000; 1200; 1400 MPa
n = 0,15; 0,10; 0,05; 0,02 n = 0,10
e = ee + ep e = ee + ep
ee = s / E ee = s / E
s = k ep^n s = k ep^n
2E+2 2E+2

0E+0 0E+0

0.0000 0.0100 0.0200 0.0300 0.0400 0.0500 0.0000 0.0100 0.0200 0.0300 0.0400 0.0500
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ANÁLISE DO MODELO DE ENCRUAMENTO POTENCIAL

A figura acima, do trabalho original de Ramberg-Osgood, NACA TN 902,


1943, mostra o ajuste com dados experimentais de um aço Cr Ni. Os
resultados evidenciam a forte anisotropia, quando sob compressão, no
estado encruado a frio por laminação. Observar que o coeficiente de
encruamento da figura é o inverso da definição atualmente adotada.
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OUTROS MODELOS DA CURVA TENSÃO-DEFORMAÇÃO

Apesar dos modelos de Ramberg-Osgood e de Hollomon serem bastante


utilizados, vários outros modelos similares foram desenvolvidos ao
longo dos anos. Alguns destes estão listados a seguir.

LUDWIK, 1909 σ =σ0 + K ε n σ 0 Tensão de escoamento


n
σ  σ −σ p 
NADAI, 1939 ε= + εy  σ y ; ε p No ponto de escoamento
E σ −σ 
 y p 
σ p Tensão limite de proporcionalidade
n
σ σ 
RAMBERG-OSGOOD, 1943 ε = +K  K ; n Parâmetros a determinar
E E
HOLLOMON, 1945 σ = k ε pn k ; n Parâmetros a determinar

SWIFT, 1952 σ = K S (ε + ε 0 )n S
ε 0 Deformação pré existente

LUDWIGSON, 1971 σ =σ0 + K ε n ; K ; n Parâmetros a determinar


σ 0 = exp(K 1 + n1 ⋅ ε ) K 1 ; n1 Parâmetros a determinar

Uma observação sobre estes modelos que deve ser feita é sobre o
expoente de encruamento, que tem diferentes interpretações, conforme
o modelo: σ = k ε n ; n no intervalo [0,1]
ou ε = k σ n ; n no intervalo [1, ∞ )

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