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Os Maias- O jantar na casa dos gouvarinho

O episódio e o subtítulo
O subtítulo Episódios da Vida Romântica remete para os episódios que retratam os
costumes, gostos, tradições, aspetos sociais e questões políticas, que é criticado no
episódio O Jantar em casados Gouvarinho pela ociosidade em que vive a sociedade e pela
a ausência de espírito crítico.

Relação com a intriga principal


Sabendo que a intriga principal remete para Carlos da Maia e Maria Eduarda como
protagonistas de uma história de amores trágicos, cujo desenvolvimento acontece de forma
autônoma e em alternância com a crítica de costumes, a relação dos capítulos XII, XIII e
XIV está no que acontece a seguir ao jantar: Carlos, depois de sair da casa da tia Condessa
(onde o mantiveram “aprisionado” durante a tarde), foi visitar Maria EDuarda, onde lhe
declarou o seu amor que por sua vez é correspondido. Ambos envolvem-se pela primeira
vez perante o desejo de Maria Eduarda de viver num lugar mais calmo, Carlos compra a
Quinta Dos Olivais, pai de Carlos aceita o investimento porém desconhecia o motivo dos
mesmo.

Críticas à sociedade portuguesa


Durante o diálogo, o carácter crítico, a ignorância e a superficialidade foram aspetos
que se fizeram notar. São aspetos como estes que sustentam a crítica que Eça faz à
sociedade portuguesa do século XIX, o qual a caracteriza como fútil, ignorante e
superficial:
- criticar a degradação dos valores sociais, como por exemplo “Isto é um pais
desgraçado”
- criticar o atraso do país: ”Creio que não há nada de novo em Lisboa (...)”
- criticar a mediocridade de algumas personagens: (Ega)- “ A mulher só devia ter duas
prendas: cozinhar bem e amar bem.”; (Conde)- “Decerto o lugar da mulher era junto
ao berço, não na biblioteca”

Objetivo do jantar:
juntar a nobreza e a alta burguesia, bem como a camada dirigente do país, e
desmascarar a sua ignorância. Permitindo, assim, através das conversas, observar a
subvalorização dos valores sociais, o atraso intelectual do país, e a mediocridade mental de
alguns personagens da burguesia e da nobreza.

Personagens:
- Carlos da Maia
- é o protagonista da obra, é filho de Pedro da Maia mas, após o suicídio do pai, vai viver
com o avô que lhe proporciona uma educação à inglesa. Apesar de ter sido educado
para ser capaz de enfrentar todas as contrariedades, a sua vida fracassou, devido a ter
tido uma educação baseada apenas em valores físicos e espirituais. Mas também
devido ao meio onde se instalou – uma sociedade parasita, ociosa, fútil e sem estímulos,
e por outro lado devido a aspectos hereditários – a fraqueza e cobardia do pai, o
egoísmo, a futilidade e o espírito boémio da mãe.
- Carlos tem cabelos e olhos negros, pele branca e tem estaura alta (“(…) e os olhos dos
Maias, aqueles irresistíveis olhos do pai, de um negro líquido, ternos como os dele e
mais graves.”) e, tinha barba fina, castanha escura, pequena na face e aguçada no
queixo (“(…) o que lhe dava, com o bonito bigode arqueado aos cantos da boca, uma
fisionomia de belo cavaleira da Renascença.”).
- traços psicológicos de carlos: culto, bem educado, generoso, e era vítima da
hereditariedade: gosto exagerado pelo luxo (mãe) e tendência para o sentimentalismo
(pai) (“Mas tinha nas veias o veneno de diletantismo: e estava destinado, como dizia
João da Ega, a ser um desses médicos literários que inventam doenças de que a
humanidade apalpava se presta logo a morrer!”)

- Maria Eduarda
- era jovem, bela e extraordinariamente atraente; ignora a sua verdadeira
origem e tem um percurso sentimental atribulado (amantes) “(…) uma senhora alta,
loira, com um meio véu muito apertado e muito escuro que realçava o esplendor da sua
carnação ebúrnea(…) com um passo soberano de deusa, maravilhosamente bem feita,
deixando atrás de si como uma claridade, um reflexo de cabelos de oiro, e um aroma no ar.”

- era digna, sensata, solitária, culta, idealista progressiva e pragmática


- heroína trágica: carácter excecional (origem, beleza e carácter); assinalada
pelo destino (aproximação a Carlos); sensível a presságios e agoiros.

- João da Ega
- apresenta uma função naturalista e realista na obra, sendo uma pessoa
contraditória (projeção literária de Eça de Queirós), mostrando-se romântico e
sentimental mas também crítico e sarcástico.
- É o grande companheiro e confidente de Carlos da Maia. É o responsável pela
apresentação de Carlos à sociedade lisboeta (através do jantar que organiza no
Hotel Central) e tem, também, um papel fundamental na intriga principal, visto que é
ele a que Guimarães entrega o cofre com a verdade.

- Conde de Gouvarinho
-É ministro e par do Reino, personagem-tipo que representa o político incompetente,
sendo futil, maçador, incompetente e inculto.

- Condessa de Gouvarinho
- É uma mulher fútil que despreza o marido pelo seu fraco poder economico e
desenvolve uma paixão por Carlos (até este se enfastiar e resolver abandoná-la).
- É uma personagem-tipo, simbolizando as mulheres adúlteras.
-É uma aristocrata que corporiza a decadência moral e a ausência de escala de valores
da alta sociedade.

- Sousa Neto
- É representante da Administração Pública. É um homem ignorante, defende a imitação
do estrangeiro, acompanha as conversas sem intervir, acatando todas as opiniões
alheias, mesmo que absurdas. É uma personagem-tipo da burocracia, tacanhez
intelectual e ineficácia da Administração.

- D. Maria Da Cunha
- é uma senhora idosa, amiga de Afonso da Maia, que sabia do romance de Carlos e
Maria Eduarda.

Personagens-tipo
João da Ega, Conde e Condessa de Gouvarinho e Sousa Neto são
personagens-tipo uma vez que representam as qualidades e defeitos das classes
sociais.

O jantar na casa do Conde Gouvarinho


O espaço social permite através das falas, observar a gradação dos valores sociais,
o atraso intelectual do país, a mediocridade mental de algumas figuras da alta burguesia e
da aristocracia.
Desfilam perante Carlos as principais figuras e problemas da vida política, social e
cultural da alta sociedade lisboeta: a crítica literária, a literatura, a história de Portugal, as
finanças nacionais, etc. Todos estes problemas denunciam uma fragilidade moral dessa
sociedade que pretendia apresentar-se como civilizada.
No jantar podemos apreciar duas conceções opostas sobre a educação das
mulheres: salienta-se o facto de ser conveniente que "uma senhora seja prendada, ainda
que as suas capacidades não devam permitir que ela saiba discutir, com um homem,
assuntos de carácter intelectual" (Ega, provocador, defende que "a mulher devia ter duas
prendas: cozinhar bem e amar bem").
A falta de cultura dos indivíduos que são detentores de cargos que os inserem na
esfera social do poder – Sousa Neto (oficial superior de um cargo de uma grande repartição
do Estado, da Instituição Pública), desconhece Proudhon, começando por responder a Ega
que, provocante, lhe pergunta a sua opinião sobre o socialista, que não se recorda
textualmente, depois "que Proudhon era um autor de muito nomeada", e finalmente, perante
a insistência de Ega, sintetiza a sua ignorância, afirmando que não sabia que "esse filósofo
tivesse escrito sobre assuntos escabrosos", como o amor, acrescentando que era seu
hábito aceitar "opiniões alheias, pelo que dispensava as discussões". Posteriormente,
perguntará a Carlos se existe literatura em Inglaterra.
O deslumbramento pelo estrangeiro – Sousa Neto manifesta a sua curiosidade em
relação aos países estrangeiros, interrogando Carlos, o que revela o aprisionamento cultural
de Sousa Neto, confinado ás terras portuguesas.

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