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AO DOUTO JUÍZO DA ___ VARA DO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DA

SUBSEÇÃO DE SALGUEIRO SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE


PERNAMBUCO.

MARIVANIA DE ALENCAR MONTEIRO SILVA, agricultora, casada,


brasileira, portadora do RG nº 6878360, SDS/PE, inscrita no CPF/MF sob nº
008.610.254-07, residente e domiciliada na Zona Rural denominado Sítio Retiro 2012,
s/n, Distrito de Conceição das Crioulas, Salgueiro/PE, por intermédio de seu advogado
ora signatário e regularmente constituído, nos termos do instrumento de mandado em
anexo, com escritório profissional na AV. Antônio Angelim, nº 436, Centro, CEP.
56.000.000, Salgueiro - PE, endereço eletrônico marcoaureliodutra@hotmail.com, vem,
respeitosamente, perante Vossa Excelência propor:
AÇÃO DE CONCESSÃO DE AUXÍLIO-DOENÇA C/C
APOSENTADORIA POR INVALIDEZ
em face do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS, Autarquia
Federal, pessoa jurídica de direito público, com sede na Rua Maria Nogueira Sampaio,
Nº 60, Bairro Nossa Sra. Das Graças, Salgueiro/PE, pelos fatos e fundamentos jurídicos
a seguir arrimados:

1) DA SÍNTESE FÁTICA
A parte autora requereu a concessão do benefício previdenciário de auxílio-doença
(NB 6234986254) junto ao INSS, em 11/06/2018 conforme demonstra a cópia da
decisão de indeferimento que segue em anexo. O benefício foi negado sob a alegação
que o início do benefício seria posterior à data de sua cessação.
Decisão equivocada e não fundamentada do INSS, que não considerou no momento
da realização da perícia todo o conjunto de provas, idade, enquadramento social e tão
pouco a atividade habitual exercida pela autora.
De fato, conforme os documentos juntados a presente inicial e ao processo
administrativo, é notável a incapacidade ao labor uma vez que a parte é acometida por:
CID 10 - I01: Febre reumática com comprometimento do coração;
CID 10 - I05.2: Estenose mitral com insuficiência.
Data vênia, não merece prosperar a decisão administrativa que negou o benefício
previdenciário pleiteado pela segurada, razão pela qual a autora propõe a presente
demanda, com o objetivo de ver seu lídimo direito reconhecido em sede judicial.
2) DA FUNDAMENTAÇÃO LEGAL

A) DA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA
A tutela de urgência é um instituto presente no ordenamento jurídico, a fim de na
existência de uma situação de urgência, possa ter o direito ora pleiteado antecipado ou
resguardado. Diante disto, este instituto divide-se em tutela de urgência cautelar ou
antecipada. Assim, em conformidade ao disciplinado no Art. 300, do Código de
Processo Civil (CPC), a tutela antecipada visa antecipar um direito evidente, o qual
somente seria concebido no final do trâmite processual.
Dessa forma, o instituto mais adequado para garantir o direito da Autora, é a
tutela de urgência antecipada, tendo em vista que a Demandante robustamente
comprovou sua incapacidade laborativa, como consta em anexo o devido laudo médico,
logo, é evidente o seu direito ora pleiteado.
De acordo com o disciplinado no art. 300, §2 do Código de Processo Civil, o
presente instituto pode ser deferido quando forem evidentes dois requisitos
primordiais, sendo estes: O Fumus boni iuris e o Periclum in Mora.

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver


elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de
dano ou o risco ao resultado útil do processo.
§ 2º A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após
justificação prévia.

O Fumus boni iuris, também denominado de fumaça do bom direito, caracteriza-se


pela evidência ou a demonstração do direito ora questionado. Diante disto, a
Demandante comprovou via dos laudos médicos anexados a sua incapacidade, bem
como a sua qualidade de segurado, tendo em vista que contribuía com o INSS
normalmente, nos termos da lei, somente tendo deixado de realizar estas, após torna-se
incapacitada, o que fundamentou a concessão do benefício do Auxílio-Doença que
atualmente encontra-se suspenso.

Dessa forma, a situação criada pela Ré, ou seja, a negatória do benefício por
incapacidade, seja ele o auxílio-doença ou a aposentadoria por invalidez, está pondo em
risco a subsistência da Parte Autora e de sua família, principalmente pela natureza
alimentar do benefício.
Sem receber qualquer tipo de rendimentos e não podendo trabalhar, a Parte Autora
passa por sérias dificuldades financeiras desde seu afastamento do trabalho, uma vez
que o benefício em questão seria seu único meio de subsistência.
Assim, impõe-se a designação de perícia médica, com urgência, a fim de que, após o
laudo, possam ser antecipados os efeitos da tutela, como medida de salvaguarda à vida
da Parte Autora. Em não sendo possível a realização de perícia judicial de forma rápida,
faz-se necessária à concessão, ainda que precariamente, da tutela antecipada, de forma a
garantir a subsistência do núcleo familiar do qual faz parte a segurada.
A jurisprudência vem entendendo pelo cabimento da antecipação de tutela antes
mesmo da perícia, caso esse respeitável Juízo se convença da existência dos
pressupostos para a concessão da medida a partir da documentação já acostada, como se
vê da decisão a seguir transcrita:
PREVIDENCIÁRIO. AGTR. AUXÍLIO-DOENÇA. ART. 59 DA LEI
N.º 8.213/1991. INEXISTÊNCIA DE PERÍCIA JUDICIAL.
INCAPACIDADE ATESTADA. ESTADO DE SAÚDE
QUALIFICADO PELO JUIZ A QUO, EM AUDIÊNCIA, COMO
DEPRIMENTE. RESTABELECIMENTO. POSSIBILIDADE. AGTR
IMPROVIDO.
1. Pretende o INSS a reforma da decisão agravada, que determinou o
imediato restabelecimento do benefício de auxílio-doença da ora
agravada, por entender que o estado de saúde da autora salta aos olhos
como deprimente (fls. 83).
2. A Lei n.º 8.213/1991, ao dispor sobre os Planos de Benefícios da
Previdência Social, determina o preenchimento de requisitos para que
haja a concessão de benefício de auxílio-doença, quais sejam, a
incapacidade para o trabalho ou atividade habitual por mais de 15
(quinze) dias consecutivos e o período de carência.
3. No caso dos autos, ainda não foi realizada a perícia judicial, mas o
atestado colacionado às fls. 47 se reporta à incapacidade da agravada
como total e definitiva, ocasião em que não mais lhe seria devido o
benefício do auxílio-doença e sim a aposentadoria da agravada por
invalidez.
4. Observa-se, ainda, que o douto Magistrado a quo consignou, em
audiência, que o estado de saúde da autora salta aos olhos como
deprimente (fls. 83), devendo ser mantido o benefício de auxílio-
doença até que seja realizada a perícia judicial.
5. AGTR improvido.
(TRF5, Proc. 0003579-72.2008.4.05.9999, Rel. Des. Federal Amanda
Lucena (Substituto), publ. 26.2.2009).

A) DO DIREITO A CONCESSÃO DO BENEFÍCIO DE AUXÍLIO DOENÇA


POR INCAPACIDADE LABORAL
O benefício de Auxílio-Doença pleiteado junto ao INSS encontra respaldo no
art. 59 da Lei 8.213/91, que estabelece:
Art. 59. O Auxílio-doença será devido ao segurado que, após
cumprida, quando for o caso, o período a carência exigida na Lei, ficar
incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por
mais de 15 dias consecutivos.

Por estar impossibilitada de exercer qualquer atividade laborativa, faz jus a


concessão do benefício, pois a causa incapacitante é permanente, motivo pelo qual
deverá, ao final, ser convertido em Aposentadoria por Invalidez definitiva.
A aposentadoria por Invalidez encontra amparo no art. 42, caput, da Lei
8.213/91, “in verbis”, possuindo a seguinte redação:
Art. 42 A aposentadoria por invalidez, uma vez cumprida, quando for
o caso, a carência exigida, será devida ao segurado que, estando ou
não em gozo de auxílio-doença for considerado incapaz e insuscetível
de reabilitação para o exercício da atividade que lhe garante a
subsistência e ser-lhe-á paga enquanto permanecer nesta condição.

A prova documental apresentada pela autora evidencia que não possui condições
de exercer qualquer atividade laboral, e mesmo depois de ostensivo acompanhamento
médico, se mostrou permanente, deixando-a com comprometimento nas funções
necessárias à atividade.

B) DA INCAPACIDADE

CID 10 - I01: Febre reumática com comprometimento do coração;


CID 10 - I05.2: Estenose mitral com insuficiência.

A partir da leitura dos artigos supramencionados, elencados na Lei de


Benefícios, é certo que a incapacidade para o trabalho ou para o exercício de atividade
habitual é requisito imprescindível para concessão/manutenção dos benefícios de
auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez, diferenciando-se entre um e outro
apenas que para o primeiro, requer-se a incapacidade temporária para a atividade
habitual por mais de 15 dias consecutivos, enquanto que para o segundo a incapacidade
se diz a condição permanente e insuscetível de reabilitação.
No caso em comento, tem-se que a incapacidade da segurada é persistente com
impedimento a realização das atividades laborais acometida de sequelas de cardiopatia
valvar mitral reumática com estenose valvar leve e insuficiência mitral importante.
Posto isto, a parte autora requer que seja designada perícia médica com
especialista em cardiologia para que seja verificado nos autos o quadro de incapacidade
da autora.

C) DA CONCESSÃO DO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO


Ante o exposto, verifica-se que na DER a segurada preenchia todos os requisitos
necessários para a concessão do benefício previdenciário de auxílio-doença. Desse
modo requer sua concessão com o pagamento das parcelas vencidas desde a DER e
sucessivamente, o benefício de aposentadoria por invalidez;
Os arts. 59 e 60 da Lei n.º 8.213/1991 determinam:
Art. 59. O auxílio-doença será devido ao segurado que, havendo
cumprido, quando for o caso, o período decarência exigido nesta Lei,
ficar incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual
por mais de 15 (quinze) dias consecutivos.
Parágrafo único. Não será devido auxílio-doença ao segurado que se
filiar ao Regime Geral de Previdência Social já portador da doença ou
da lesão invocada como causa para o benefício, salvo quando a
incapacidade sobrevier por motivo de progressão ou agravamento
dessa doença ou lesão.
Art. 60. O auxílio-doença será devido ao segurado empregado a contar
do décimo sexto dia do afastamento da atividade, e, no caso dos
demais segurados, a contar da data do início da incapacidade e
enquanto ele permanecer incapaz. (Redação dada pela Lei n.º 9.876,
de 26.11.1999.)
§ 1.º Quando requerido por segurado afastado da atividade por mais
de 30 (trinta) dias, o auxílio-doença será devido a contar da data da
entrada do requerimento.
§ 3.º Durante os primeiros quinze dias consecutivos ao do afastamento
da atividade por motivo de doença, incumbirá à empresa pagar ao
segurado empregado o seu salário integral. (Redação dada pela Lei n.º
9.876, de 26.11.1999.)
§ 4.º A empresa que dispuser de serviço médico, próprio ou em
convênio, terá a seu cargo o exame médico e o abono das faltas
correspondentes ao período referido no § 3.º, somente devendo
encaminhar o segurado à perícia médica da Previdência Social quando
a incapacidade ultrapassar 15 (quinze) dias.
§ 5.º Nos casos de impossibilidade de realização de perícia médica
pelo órgão ou setor próprio competente, assim como de efetiva
incapacidade física ou técnica de implementação das atividades e de
atendimento adequado à clientela da previdência social, o INSS
poderá, sem ônus para os segurados, celebrar, nos termos do
regulamento, convênios, termos de execução descentralizada, termos
de fomento ou de colaboração, contratos não onerosos ou acordos de
cooperação técnica para realização de perícia médica, por delegação
ou simples cooperação técnica, sob sua coordenação e supervisão,
com: (Incluído pela Lei n.º 13.135, de 2015.)
I – órgãos e entidades públicos ou que integrem o Sistema Único de
Saúde (SUS); (Incluído pela Lei n.º 13.135, de 2015.)
[...]
§ 6.º O segurado que durante o gozo do auxílio-doença vier a exercer
atividade que lhe garanta subsistência poderá ter o benefício
cancelado a partir do retorno à atividade. (Incluído pela Lei n.º 13.135,
de 2015.)
§ 7.º Na hipótese do § 6.º, caso o segurado, durante o gozo do auxílio-
doença, venha a exercer atividade diversa daquela que gerou o
benefício, deverá ser verificada a incapacidade para cada uma das
atividades exercidas. (Incluído pela Lei n.º 13.135, de 2015).

A Parte Autora preencheu todos os requisitos necessários para a obtenção do


auxílio-doença. Quanto à qualidade de segurado, cabe-nos destacar que a cessação dos
recolhimentos previdenciários se deu pela incapacidade laborativa.
A jurisprudência vem entendendo que, se o segurado deixou de verter
contribuições pelo fato de já estar acometido de doença durante o período de graça,
resta suprida a exigência:
PREVIDENCIÁRIO. RECURSO ESPECIAL. APOSENTADORIA
POR INVALIDEZ. PERDA DA QUALIDADE DE SEGURADO
NÃO CARACTERIZADA. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1.
Não ocorre a perda da qualidade de segurado quando, à época da saída
do emprego, a parte autora já apresentava sinais de problemas que a
impediam de exercer atividades laborais e preenchia os requisitos
necessários à aposentadoria por invalidez.
2. Recurso especial provido. (STJ, REsp 826.555/SP, 5.ª Turma, Rel.
Min. Arnaldo Esteves Lima, DJe 13.4.2009).

No presente caso, a carência foi devidamente cumprida pela segurada, tendo sido,
portanto, implementada essa condição para a concessão do benefício.
Além disso, a Parte Autora não possui a capacidade para o trabalho ou para as
atividades habituais e, em face do agravamento de sua enfermidade, está impedida de
desempenhar suas atividades laborais. Tal fato está suficientemente comprovado pelos
laudos apresentados e poderá ser ratificado pelo laudo pericial.
Por outro lado, O caput do artigo 42 da Lei n.º 8.213/1991 assim estabelece:

Art. 42. A aposentadoria por invalidez, uma vez cumprida, quando for
o caso, a carência exigida, será devida ao segurado que, estando ou
não em gozo de auxílio-doença, for considerado incapaz e
insusceptível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe
garanta a subsistência, e ser-lhe-á paga enquanto permanecer nesta
condição.

No caso em análise, verificamos que a Parte Autora se enquadra na hipótese de


concessão da Aposentadoria por Invalidez. É importante ressaltar que, apesar do
auxílio-doença não ter sido concedido à autora, seu quadro clínico nunca melhorou e
não apresenta possibilidade de melhora. .
Sendo assim, restando comprovada a incapacidade permanente da Parte Autora, esta
faz jus à transformação do benefício de auxílio-doença em aposentadoria por invalidez.

D) DA COISA JULGADA - SECUNDUM EVENTUM PROBATIONES


Tendo em vista que o caso em comento trata-se de lide previdenciária, se as provas
forem insuficientes/deficiente, a parte autora requer que a coisa julgada seja feita
segundo o resultado da prova, isso é, secundum eventum probationes.
Desta feita, se no futuro for alcançada nova prova, poderá a autora propor nova
ação, tratando-se de relação jurídica continuativa, sobrevindo modificação do estado de
fato ou de direito, conforme entendimento estabelecido nos precedentes que seguem
relacionados:
RI 5006812-44.2012.404.7003, Terceira Turma Recursal do PR,
Relator p/ Acórdão José Antônio Savaris, julgado em 05/06/2013;
Pedido de uniformização 0031861-11.2011.403.6301, TNU, Relatora
Nelinda Duda da Cruz, julgado em 07/05/2015, STJ, REsp 1.352.721-
SP, Relator Ministro Napoleão Nunes Maia filho, dje 28/04/2016.

4) DOS PEDIDOS
Ante o exposto, a parte autora requer:
a) Seja recebida a presente ação, bem como que seja deferida A ANTECIPAÇÃO
DE TUTELA, ANTES MESMO DA CITAÇÃO DA REQUERIDA;

b) A citação do INSS, em razão do exposto no art.º 239 e seguintes da Lei


13.105/2015, na pessoa de seu representante legal para, querendo, apresentar
defesa e acompanhar a presente ação; sob pena dos efeitos da revelia;

c) Caso o INSS apresente aos autos documento a qual o autor não teve prévio
acesso, incluindo a cópia integral do P.A referente ao NB 623.498.625-4, a parte
autora requer que lhe seja oportunizada a emenda ou retificação da petição
inicial;

d) Ao final, com ou sem contestação, a parte autora requer que a presente ação seja
julgada TOTALMENTE PROCEDENTE; concedendo em favor da autora o
benefício previdenciário de AUXÍLIO-DOENÇA com o pagamento das
parcelas vencidas desde a DER, e sucessivamente, o benefício de
APOSENTADORIA POR INVALIDEZ;

e) Condenar o réu ao pagamento de todas as parcelas vencidas desde a data da


DER, bem como ao pagamento das parcelas vincendas, devendo todos os
valores serem monetariamente corrigidos, inclusive acrescidos dos juros
moratórios à razão de 1% ao mês a contar da citação, incidentes até a data do
efetivo pagamento, a ocorrer por meio de RPV;

f) Seja condenado o Réu ao pagamento das custas e da sucumbência dos


honorários advocatícios, no importe a 20% do valor da causa;

Protesta, por fim provar todo o alegado por todos os meios legais admitidos em
direito, especialmente, a testemunhal, documental e pericial.

Dar-se-á o valor da causa no importe de sessenta salários mínimos, valor máximo


de alçada desse procedimento especial.
Nestes termos,
Pede deferimento.

Salgueiro-PE, 30 de novembro de 2021.


Advogado
OAB/PE

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