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Chaves Seccionadoras, Chaves de Aterramento e Resistores de Aterramentos, 11/09/2022 1

Termografia em Chaves

Luis Fernando Gonçalves Moreira

I. INTRODUÇÃO • Contexto: ao avaliar a temperatura de qualquer


componente, não pode ser deixado de lado o contexto
emque este se encontra. A temperatura, via de regra, é o
A termografia em equipamentos é um recurso extraordinário resultado final de uma série de fatores entre os quais:
para visualização prática de defeitos por aquecimento percentual da carga principal, resfriamento natural ou
indevido nos equipamentos. É um ensaio prático por poder forçado, condições ambientais, qualidade do material,
ser realizado online e tirar conclusões no ato da medição. mão de obra e manutenção utilizados na montagem e
Praticamente sem fim nas suas aplicações, com uma intervenções, máxima temperatura admissível, máximo
tecnologia em franco desenvolvimento e muito usado para sobreaquecimento admissível etc. Só após realizar todas
identificar anomalias em equipamentos e componentes essas considerações que um diagnóstico mais preciso
elétricos sejam esses de uso interno ou externo. poderá ser feito.
A Termografia não é simplesmente um ponto estar mais
avermelhado que outro. Imagens semelhantes do que • Critérios de Inclusão: o que deve ser registrado em uma
podemos ver em diferentes ângulos, profundidade e local Inspeção Termográfica exige um critério que deve ficar
podem iludir quanto à complexidade e à utilidade dessa explícito na relação Inspetor‐Gerência responsável. Se o
ferramenta. Para uma correta imagem térmica a ser obtida é Inspetor for registrar todas as anomalias qualitativas que
necessário que exista um bom conteúdo de cena, ajuste de encontra em uma Inspeção, sem levar em consideração
câmera, atmosfera (tempo limpo), monitor e visor em boas as temperaturas medidas, poderão ser registrados
condições, sensibilidade do observador, parâmetros da centenas de pontos com diferenças de 5 °C, inchando os
câmera e outros fatores externo. relatórios com uma enormidade de anomalias não
significativas. Assim como analisar apenas temperaturas
ignorando os Deltas de temperaturas em componentes
críticos pode levar a uma má avaliação dos ativos. A
solução para esse impasse é conhecer adequadamente os
tipos de equipamentos inspecionados, suas
características e potenciais falhas, bem como a sua
criticidade hierárquicano processo produtivo.

• Intervenções: praticamente toda Anomalia detectada em


uma Inspeção Termográfica levará a algum tipo de
intervenção no sistema elétrico. Nesse caso, a
intervenção indicada para cada anomalia poderá ir desde
Figura 1 – Imagem meramente ilustrativa de imagem térmica a simples observação de controle, até a substituição do
componente.
Portanto, neste artigo será abordado a teoria e inspeções em
chaves de inspeções termográficas em equipamentos e
• Máxima Temperatura Admissível: cada componente
componentes elétricos. Entretanto serão abordadas algumas
deve ser projetado para operar indefinidamente até uma
questões teóricas sobre termografia e algumas avaliações
determinada temperatura, ou um Delta de temperatura,
práticas de problemas encontrados em chaves de redes de
sem que ocorram danos à sua função e vida útil. É a sua
distribuição assim como de cabines primárias.
chamada temperatura nominal, e está intimamente
relacionada com a temperatura ambiente na qual está
II. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA imersa.

2.1 – Definições no âmbito de ensaios e interpretação de • Máxima Temperatura Admissível: cada componente
imagem térmica deve ser projetado para operar indefinidamente até uma
determinada temperatura, ou um Delta de temperatura,
Para a compreensão das interpretações dos termos, é sem que ocorram danos à sua função e vida útil. É a sua
essencial que todos estejam falando o mesmo idioma. Para chamada temperatura nominal, e está intimamente
isso as definições da área são: relacionada com a temperatura ambiente na qual está
imersa.
• Anomalia Térmica: Toda ou qualquer anomalia
térmica não compatível com o esperado ou projetado • Ponto Quente ou Anomalia: o termo “Ponto
sob as condições de carga e projeto em que se Quente” é uma designação genérica que faz
encontra. De forma simplificada, é conhecida como referência a uma anomalia encontrada em um
Ponto Quente. componente ou instalação.
• Aquecimento: um componente é considerado aquecido
se a sua temperatura é maior que a temperatura • Posição Estratégica ou Hierárquica de um
ambiente. O aquecimento em si é a diferença entre a Componente ou Equipamento: em muitas
temperatura do componente e a temperatura ambiente situações, a temperatura não será realmente o fator
ou de referência. decisivo para a classificação de uma anomalia. O
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histórico anterior, o tempo decorrido desde a segura, desde que a anomalia não se repita nas Fases
última Inspeção e as possibilidades de evolução, adjacentes e que as condições de carga sejam as mesmas.
tanto do defeito ou anomalia, como as Caso não hajacerteza da carga ou do dimensionamento, o
repercussões de uma falha, deverão influenciar critério pode ser invalidado. Igualmente, se as cargas
forem todas iguais, mas próximas ao nominal ou
diretamente a qualificação das intervenções
“elevadas”, pode‐se tomar como normal ou aceitável o
necessárias, bem como dos prognósticos de tempo que está sendo um erro de dimensionamento. Devido a
em que elas deverão ocorrer. essas características, esse critério deve ser utilizado com
cuidado;
• Temperaturas Adjacentes: é esperado que
equipamentos similares e de mesmo • Critério do Delta Ambiente: o critério do Delta em relação
dimensionamento, sob mesma carga e do mesmo ao meio ambiente fornece o sobreaquecimento que o
fabricante, apresentem temperaturas ou fenômeno elétrico, ocorrendo no componente, está
distribuições térmicas bastante similares quando causando em relação ao meio ambiente. Devido a essa
imersos no mesmo ambiente e contexto. relação, é possível discriminar que uma temperatura
Equipamentos ou componentes que fujam dessa absoluta de 60 °C, em um ambiente de 50 °C, é
simetria podem ser considerados portadores de completamente diferente dos mesmos 60 °C em um
ambiente de 10 °C. Qual o valor que será aceitável
uma anomalia térmica desde que não haja um
dependerá de fatores como carga, ciclo de operação,
motivo específico para essa irregularidade. dimensionamento, ventilação etc.;
• Fontes de Calor Ocultas: em muitos casos, o • Critério da Distribuição Térmica: não necessariamente
objeto aquecido, ou a causa do aquecimento de uma temperatura muito maior que a esperada, ou próxima
um objeto, não pode ser visualizado diretamente. da nominal de um componente, indicará a presença de
No entanto, e necessariamente, as tampas, uma anomalia. Mesmo que as cargas sejam altas, muitas
encapsulamentos, carcaças, acrílicos, vidros ou vezes o fator de forma de uma distribuição térmica, a sua
chapas não inviabilizam os diagnósticos possibilidade de ocorrência em um determinado contexto
qualitativos. Manchas térmicas podem indicar ou não, é que determina a existência de uma anomalia;
com muita segurança que há efetivamente algo
errado ou anômalo nesse componente ou • Critério da Presença ou Ausência: muitas anomalias são
instalação descobertas pela simples presença ou ausência de uma
variação térmica esperada. Se não deveria aquecer em
• Fontes de Calor Ocultas: em muitos casos, o nenhuma hipótese, e mesmo assim apresenta um
objeto aquecido, ou a causa do aquecimento de aquecimento, há indiscutivelmente uma anomalia. E,
pelolado contrário, se deveria aquecer em todas as
um objeto, não pode ser visualizado diretamente.
situações,e não está aquecendo, há uma anomalia. É um
No entanto, e necessariamente, as tampas, critério puramente qualitativo, mas igualmente
encapsulamentos, carcaças, acrílicos, vidros ou importante.
chapas não inviabilizam os diagnósticos
qualitativos. Manchas térmicas podem indicar
com muita segurança que há efetivamente algo 2.3 – Ciclo teórico da falha em uma conexão elétrica
errado ou anômalo nesse componente ou
instalação. 2.3.1 – Temperatura afeta a integridade

2.2 - Critérios de Avaliação de Anomalias Térmicas Nós, seres humanos, sofremos quando estamos
com um ou dois graus acima da temperatura
• Critério da Temperatura Absoluta: Critério da
Temperatura Absoluta: o critério mais simples de
corporal. Essa “dor” ocorre nos materias quando
avaliação em Termografia implica em medir uma são mal dimensionados ou estão em condições
anomalia térmica levando em consideração a sua inapropriadas de serviço. A sobretemperatura
temperatura absoluta. Esse critério necessita que a nominal em materias, sejam eles quais forem, irão
temperatura nominal de um determinado componente seja pouco a pouco deteriorando o material. As chaves
conhecida ou acordada com o acompanhamento técnico seccionadores, mesmo com pequenos aumentos de
da Inspeção e que a sua medição pela Termografia seja temperatura entre 5 e 10° são capazes de deteriorar
possível e confiável. A vantagem desse critério é que ele o material ao longo prazo.
permite avaliar a deterioração imediata do componente, O motivo do estrago se dá porquê nenhum material
não levando em conta a origem do aquecimento. Por outro é 100% liso, sem atrito. Todo material, mesmo que
lado, fatores de correção importantes, como carga e
velocidade do vento, são desprezados. Devido a essas
passe por severas laminações e afinamentos irão
deficiências, esse critério deve ser utilizado com cautela; encontrar, microscopicamente, ranhuras na qual o
faz com que as superfícies em contato aqueçam,
• Critério do Delta Adjacente: o critério da temperatura dilatem, se afastem e produzam pequenos arco‐
adjacente pressupõe que o componente adjacente seja voltaicos – nem sempre intensos e visíveis – até o
idêntico ao de interesse e esteja sujeito às mesmas ponto em que ocorre uma deterioração grave.
condições operacionais. Assume‐se igualmente que
esteja em bom estado e sirva de referência para
avaliação. Este procedimento pode ser uma referência
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ESTUDOS DE CASO

3.1 - Caso concreto do Ciclo de Falha em Seccionadora de


Distribuição

Na prática e em instalações expostas às intempéries, os ciclos


de variação temperatura são mais complexos. A seguir
Figura 2 – Falta de contato na superfície do material mostra-se imagens e tabelas que mostram os dados de
análises termográficas de uma chave seccionadora instalada
Mas o que este fenômeno tem a ver com o medição de em poste. As variações que se pode observar na temperatura,
imagem térmica em chaves seccionadoras? são devidas não só ao horário em que as imagens foram feitas
O contato ocorre toda vez em que a chave deve abrir e (variações de carga), mas também em função de eventos
fechar. O problema é que durante a exxecução do trabalho atmosféricos (chuva). Na Figura 4, mostra-se as temperaturas
da chave seccionadora ela pode ser submetida a esforços em um dia onde houve chuva. Nesse dia
elétricos e mecânicos que podem chegar a desgastar verifica-se que os Delta de temperatura e temperatura
fortemente o contato. absoluta das chaves não proporcionam dados suficientes para
Durante o trabalho da chave seccionadora em regime normal diagnosticar uma anomalia.
(trabalhando em contato fechado, conduzindo corrente), os
esforços sofridos anteriormente provocam mais ranhuras e
mais mau contato na chave.
Quando a chave trabalha com menor contato, logo mais
ranhuras, a corrente por ali encontra uma resistência maior
devido a menor área de contato.
Devido a maior resistência, por efeito Joule, oserá
dissipoado uma temperatura maior no local. Essa
temperatura começa a desgastar mais e mais o material. Esse
efeito pode ser considerado um efeito cascata, devido a
deterioração, inicialmente lenta e progressivamente
exponencial do material, resultando em perda do
equipamento.

Figura 4 – Medição em clima de chuvoso

Na figura 5, o Delta de Temperatura é muito alto e a


temperatura absoluta na fase A3 também é muito alta. Isso
evidência claramente um problema na chave seccionadora da
fase A3.

Figura 5 – Medição em dia não chuvoso

Figura 3 – Efeito cascata no material

Concluindo não se deve deixar enganar pela temperatura. A


temperatura medida instantaneamente não indica,
necessariamente, a gravidade de um uma anomalia ou
defeito.
Há que se considerar a importância de cada componente
defeituoso no âmbito do sistema como um todo e em qual
momento desta curva de temperaturas a medição está sendo
feita. E pior, que cada anomalia, se evoluir para uma falha,
vai causar uma interrupção de fornecimento de energia com
reflexos imediatos no DEC e FEC.
Foram realizadas amostras de imagem térmica ao longo de
um tempo em diferentes dias no mesmo horário nas chaves
seccionadoras com o propósito de preventivo. A1 referencia a
fase 1 e A3 a fase 3. Todas essas medições foram obtidas
através do instrumento thermotronics.
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TEMP. AMBIENTE A1 A3 DELTA T T MAX lâmina, todas as outras extremidades da mesma Fase deverão
DATA HORA °C °C °C °C °C
07/04/2022 08:00 20 22,3 138 115,7 138
ser revisadas. Outros problemas encontrados em
08/04/2022 08:00 20 18,8 167,7 148,9 167,7 seccionadoras incluem baixo isolamento nos isoladores de
09/04/2022 08:00 20 27 164 137 164 suporte e nas hastes de acionamento. Em ambos os casos, a
10/04/2022 08:00 27 31 196 165 196
11/04/2022 08:00 27 22,7 226 203,3 226
recomendação é a substituição dos componentes. Alternativa‐
12/04/2022 08:00 20 19 118 99 118 mente é possível tentar a secagem dos isoladores e cobertura
13/04/2022 08:00 20 19 143,6 124,6 143,6 com silicone para alta tensão. No entanto, esse procedimento
14/04/2022 08:00 20 23 150 127 150
15/04/2022 08:00 27 20,3 157 136,7 157
sobre equipamentos sabidamente defeituosos é de risco e
deve ser corretamente avaliado.
Figura 6 – Acompanhamento de medições
IV- CONCLUSÃO
Essas medições acima não foram extraídas em dias de
chuvas, caso contrário a mudança seria abrupta devido a O que faz da termografia uma ferramenta verdadeiramente
temperatura externa ser bem menor e estar sendo resfriado única e valiosa é principalmente a imagem térmica em si
constantemente com a chuva. O que implicaria em mesma, que fornece não apenas a temperatura dos
medilções não acertivas e uma conclusão errônea. componentes, mas, e principalmente, uma visão sintética do
que está ocorrendo termicamente naquele instante.
Diferenciar padrões de distribuição de temperaturas e
3.2 – Fuga de corrente pelo isolador determinar o local e a origem de uma anomalia é
fundamental. Por outro lado, uma única leitura de
Para a chave ser sustentada é necessário a utilização de temperatura não fornece informações suficientes para um
isoladores. Os isoladores são formados por materiais diagnóstico e um prognóstico confiáveis. Assim sendo a
isolantes que por sua vez criam capacitores do ponto de termografia é um ensaio visual que permite, adicionalmente,
energização para o ponto de isolamento. a leitura de valores de temperatura pixel a pixel. E de posse
É comum que no corpo isolante ocorra corrente das informações, são elencadas avaliações das anomalias
indesejáveis, como ocorre em todo setor elétrico, essas encontradas que podem ser divididas em duas categorias:
correntes, mesmo que de baixa intensidade, encontram qualitativas e quantitativas. Na termografia qualitativa faz-se
caminhos a serem percorridos nos isoladores o que pode um diagnóstico e avalia-se o estado de um objeto de interesse
resultar em aquecimentos. pela forma da sua distribuição de temperaturas aparentes, o
ponto de origem, a intensidade relativa e os padrões térmicos
envolvidos para confirmar a existência, definir a localização
e posição de anomalias e avaliá‐las. Com essas informações,
emite-se um diagnóstico e um prognóstico qualitativo. E na
termografia quantitativa usa medições de temperatura
aparente como um critério diagnóstico para determinar a
existência ou não de uma anomalia, a sua gravidade, avaliar
um prognóstico de comportamento e estabelecer prioridades
de intervenção e/ou reparo.

Figura 7 – Aquecimento nos isoladores

É um fenômeno facilmente identificável, para a correção


basta realizar a troca do isolador ou enviar para o reparo.

3.3 – Recomendações gerais

As chaves seccionadoras, como qualquer outro equipamento


elétrico, podem apresentar problemas de conexão em seus
conectores de entrada e saída dos polos das Fases. Os
procedimentos para correção desses problemas são os
usuais: desmonte e Inspeção Visual cuidadosa em busca de
sinais de corrosão. Em caso negativo, limpeza e reaperto. Na
presença de sinais de corrosão, se houver possibilidade de
recuperação e prateamento das superfícies, esse é um
procedimento recomendado. Deve‐se, entretanto, ao menos
medir a resistência de contato antes da manutenção e após o
tratamento das superfícies. Caso não seja possível o
tratamento, a substituição é a recomendação correta. Com
relação às lâminas de contato, é muito comum encontrar
lâminas em paralelo. Isso significa que ao ser encontrado um
defeito em qualquer das extremidades de contato de uma

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