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UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL


CAMPUS REALEZA
CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS SEGUNDA FASE

THIAGO ANDRÉ BARBOSA

O DILEMA MODERNIDADE:
DESIGUALDADES E INJUSTIÇAS

REALEZA
2023
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THIAGO ANDRÉ BARBOSA

O DILEMA MODERNIDADE:
DESIGUALDADES E INJUSTIÇAS

Trabalho apresentado ao Curso de Licenciatura em


Ciências Biológicas da Universidade Federal da
Fronteira Sul (UFFS) como requisito parcial para
aprovação na disciplina de Fundamentos Históricos,
Sociológicos e Filosóficos da Educação.

Professor: Dr. José Oto Konzen

REALEZA
2023
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O DILEMA MODERNIDADE:
DESIGUALDADES E INJUSTIÇAS

Temática 4

Ao se assistir o filme alemão “Daens, um grito de justiça”, de 1992, se percebe que


apesar do longa retratar uma realidade considerada muito anterior à atual, as similaridades
entre passado e futuro continuam. A obra traz emblematicamente a injustiça social e a
desigualdade de classes. Trabalhando também a auto vitimização da classe média e alta, que
desmerecem os trabalhadores e argumentam que pagar alguns centavos de salário é um ato de
misericórdia, não um dever.

Ao longo do filme também é trabalhado a exploração da Infanto-juvenil e a


descaracterização da mulher e da criança como indivíduos de direito e vontade própria. A
exploração sexual feminina é explorada na infância e na juventude, na qual o sujeito
brutalizado é culpado pela própria situação, descaracterizando-se o estado de vítima e direito
ao controle do próprio corpo.

Quando se traz todos estes aspectos trabalhados em Daens para a realidade da


sociedade atual percebe-se semelhanças que perpetuam através dos anos. O fato de que o
proletariado ainda é tratado como uma classe digna de “misericórdia” e não uma classe com
dignidade que trabalha pelo seu sustento. Também é considerável o trabalho infantil, algo
ainda real e forte no Brasil, bem como a exploração sexual Infanto juvenil e feminina, um
tópico tabu que, entretanto, ainda resiste na atual sociedade nacional.

Quando se pensa modernidade brasileira, ainda se pensa em uma realidade próxima a


da Revolução Industrial Inglesa, precariedade e desigualdade do sistema. Apesar do país ter
sim avançado, e muito, nas últimas décadas, o caminho a se percorrer para alcançar a
igualdade social, com nivelamento de salários e condições de vida, ainda é longo. Um dos
principais aspectos em que se precisa mudar é visão que a classe trabalhadora tem sobre si
mesma. Uma classe de direitos, que através de sua força física conquista e merece a sua
própria subsistência, o oposto do que é pregado aos jovens, que aprendem desde cedo que o
trabalhador manual não merece respeito e admiração, mas apenas profissões que requerem
formação e que possuem “status social de respeito”.

Quando se cruza tais ideais com a realidade do jovem brasileiro na atualidade os


resultados são claros, perceptíveis através do artigo “Ser alguém na vida: um estudo sobre
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jovens do meio rural e seus projetos de vida”, de Maria Zenaide e Juarez Dayrell, 2015. O
texto é resultado de uma pesquisa com estudantes do ensino médio em um município rural de
Minas Gerais, que retrata e cruza com a realidade de muitos jovens da própria região do
sudoeste paranaense.

A obra irá trabalhar com os projetos de vida dos jovens e ao mesmo tempo com o fato
de que “querer não é poder”. Para se realizar tais projeções de vida e necessário ter como
realmente colocar tais planos em prática, algo que os jovens acabam desconsiderando ou
simplesmente ignoram como fator preponderante, conforme o artigo trata:

[...] quando falamos da juventude e seus projetos de vida, ponderar os elementos das
condições estruturais e conjunturais que compõem o campo de possibilidades e as
condições subjetivas que estão postas na dimensão individual é fundamental para
não cairmos na tentação de assumir, por um lado, o discurso neoliberal que
responsabiliza única e exclusivamente o sujeito pelo seu destino, levantando
bandeiras do tipo “basta querer que você vai conseguir”.

Tendo esse argumento em mente é necessário repensar a situação atual da juventude


brasileira para, de fato, vislumbrar as possibilidades que esta tem. Um jovem que necessita
trabalhar enquanto estuda para completar a renda não estuda nas mesmas condições que um
jovem que pode se dedicar exclusivamente a isto. Um fator que se deve levar em consideração
quando se pensa em políticas públicas de inserção do jovem no ensino superior.

Se levar em consideração que os estudantes brasileiros não compartem da mesma


realidade, que haverá o indivíduo que apenas estuda e aquele que precisa trabalhar, possui
instabilidade financeira e não tem acesso à educação de qualidade percebe-se que não há
como comparar o desempenho entre ambos.

Um dos maiores desafios da sociedade moderna brasileira é exatamente este, buscar


possibilitar a igualdade de oportunidades, porém, enquanto houver desigualdades sociais em
que o rico é extremamente rico e o pobre extremamente pobre, igualdade de oportunidades é
apenas uma utopia distante.

Tal realidade é perceptível na região em que o Campus de Realeza se encontra, no


sudoeste paranaense, uma região rural com pouca presença de fábricas, porém as que existem
possuem peso ponderante no quesito empregabilidade. Quando se analisa a realidade do
jovem nesta região há similaridades com o interior mineiro. Os projetos de vida em geral
incluem estudar e, geralmente, migrar.

No sudoeste paranaense também haverá a presença do trabalho Infanto juvenil, o


jovem querendo sair do meio rural para o centro urbano, a desvalorização do operário e do
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trabalho feminino. Apesar de ser uma região produtiva, com um IDH considerado saudável, a
desigualdade social é uma realidade e um dato que não podem ser mascarados: grandes
proprietários de terra em contrapartida a agricultura familiar rural; cadeias de comércio em
oposição às pequenas lojas; diferenças salariais grandes entre operário e chefe, etc.

A diminuição da diferença entre o salário e as condições de vida é ainda um dos


maiores desafios da sociedade moderna brasileira, seja em âmbito rural ou urbano. Ademais
de igualdade de direitos, se faz necessário oportunizar igualdade de condições, uma não será
possível sem a outra. Mesmo possuindo direitos, se não for possível alcançá-los por
limitações de oportunidades, estão aqueles se anulam e não passam de ilusões, a atual
realidade brasileira.

Nesse caminho é plausível defender a implementação de políticas públicas que não


apenas a entrada do jovem no ensino superior, mas também sua continuidade aí. Outro fator
ainda é a melhora da qualidade da educação pública brasileira, algo sempre discutido e
problematizado, mas nunca de fato resolvido. No fim, a valorização do indivíduo e a
oportunização da igualdade de direitos do sujeito são desafios preponderantes da atualidade.
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REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 10520: informação


e documentação: citações em documentos: apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 2002.

ALVES, M. Z.; DAYRELL, J.. Ser alguém na vida: um estudo sobre jovens do meio rural e
seus projetos de vida. Educação e Pesquisa, v. 41, n. Educ. Pesqui., 2015 41(2), abr. 2015.

Filme: Daens, um grito de justiça, 1992, Alemanha.

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