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Bacias Sedimentares
Bacias Sedimentares
A indústria do petróleo tem na análise de bacias sedimentares, uma útil ferramenta para estudar
as potencialidades petrolíferas de um determinado local.
O termo bacia sedimentar, é empregue para designar áreas deprimidas (abatidas ou afundadas)
em que ocorre grande acumulação de sedimentos ao longo do tempo, o que implica a existência de
factores condicionadores, como é o caso da disponibilidade de sedimentos (existência de um local
fonte) 1 e do espaço de acomodação, que irá variar consoante a localização da bacia no espaço, Terra,
e que está intrinsecamente relacionado com a multiplicidade de processos que actuam na crusta
terrestre causando subsidência térmica, tectónica e isostática.
Existem variados tipos de bacias sedimentares, quer associados a zonas tectonicamente activas
em que há convergência ou divergência de placas (por exemplo), quer associados a zonas estáveis em
cratões. Desta forma, é possível verificar a importância do contexto genético de uma bacia.
Os sedimentos que constituem as bacias estão dependentes do seu contexto genético e
deposicional, sendo integrados numa diversidade complexa de factores ambientais, que têm enorme
relevância na sua alteração, meteorização, transporte e deposição e que num todo vão constituir o
seu sistema deposicional.
É neste contexto que se insere o principal propósito deste trabalho, a comparação de duas bacias
sedimentares (tipo-rifte e de ante-país) formadas em circunstâncias genéticas distintas, os sistemas
deposicionais que as constituem e o seu interesse para a exploração petrolífera.
A geologia da Gronelândia abrange uma vasta escala temporal, cerca de 4 Ga desde o início do
Arcaico até ao Quaternário. É sabido que a maior parte do território groenlandês de idade Pré-
câmbrica encontra-se coberto por uma camada de gelo, o que limitou o desenvolvimento e formação
de bacias sedimentares às zonas marginais da ilha. É na zona este da Gronelândia que se situa um
grande complexo ou província de bacias tipo rifte, com cerca de 7 bacias principais (figura 1).
1
Uma cadeia montanhosa onde vão actuando os processos erosivos.
Figura 1: Localização geográfica do complexo de bacias de East Greenland e principais bacias constituintes.
(Adaptado de Gautier, G. et al., 2007).
1. Contexto genético
No final da orogenia Caledónica, durante o Devónico formou-se uma bacia sedimentar marginada
por falhas extensionais e constituída essencialmente por depósitos fluviais, lacustres e eólicos. Durante
a orogenia Ellesmere (Devónico-superior e Carbónico) formou-se uma bacia tectónica marinha
constituída por grabens e semi-grabens na margem norte e nordeste e preenchida por sedimentos
lacustres e fluviais com cerca de 1000 m de espessura. Em East Greenland a subsidência aumentou de
norte para sul e a formação dos semi-grabens marcou o ínicio da formação das bacias tipo rifte de
Danmarkshavn, Jameson Land e Wollaston Foreland. Na base depositaram-se sedimentos fluviais e
lacustres no seu conjunto durante o Carbónico e o Cretácico formou-se um depósito sedimentar
onshore com cerca de 6 -7 km de espessura. Durante o Carbónico e o Pérmico uma transgressão
marinha, levou à deposição de arenitos e formação de depósitos carbonatados e evaporíticos no leste
Groenlandês. Os sedimentos incluíram conglomerados de leques aluviais, carbonatos marinhos
marginais, argilitos e evaporitos com cerca de 900 m de espessura.
No início do Triásico devido a alterações climáticas os sedimentos depositados deixaram de ter
carácter marinho e passaram a ser continentais (fluviais, arenitos aluviais e depósitos de carvão). Em
Jameson Land ocorreu sedimentação marinha (profunda e de plataforma continental) durante o
Jurássico e o Cretácico e ao longo do tempo, a estabilidade tectónica permitiu que na área envolvente
a deposição continua-se de forma laminar. Por contrário, a norte a deposição é dominada por falhas
sin-sedimentares em que há rotação de blocos dando origem a depósitos de brechas e conglomerados
na base e arenitos e argilitos no topo, na zona de Wollaston Foreland. Em anexo (figura 5) é possível
observar um esquema cronostratigráfico (adaptado de Surlik, 2003) que contém as principais unidades
litostratigráficas de East Greenland.
2. Sistemas deposicionais
O complexo de bacias de East Greenland tem interesse para a indústria petrolífera e muitos
estudos sem sido feitos para avaliar o seu potencial petrolífero, no entanto, estão inerentes a estes,
toda uma problemática ditada pela escassez de dados, grande incerteza a nível geológico, e muitas
dificuldades do ponto de vista técnico e de desenvolvimento, uma vez que se encontra na região ártica.
Como exemplo:
A bacia de Jameson Land com 10.000 km2 de área, foi estudada pela Atlantic Richfield Company
(ARCO) entre 1985–89. Os estudos concluíram que a deposição foi condicionada por subsidência
térmica que ocorreu entre o Pérmico e o Mesozóico, a potencial rocha geradora é do Jurássico-inferior,
tem fácies lacustre e produz querógenio do tipo I-II (Dam & Christiansen, 1990 in Henriksen, 2000).
Como reservatórios potenciais tem as areias fluviais do Carbónico-superior, os calcários do Pérmico-
superior e as areias deltaicas do Jurássico-inferior e as armadilhas são estratigráficas na maioria dos
casos.
O interesse nestas bacias é crescente e em 2007 foi realizado uma avaliação do potencial
petrolífero de reservas não descobertas mas tecnicamente recuperáveis na ausência de gelo. O estudo
revela a importância das características deste complexo de bacias. A província estudada tem cerca de
500.000 km2 e na sua maioria encontra-se offshore estando o fundo marinho a cerca de 500 m ou
menos de profundidade. Foram avaliadas as sete bacias enunciadas na figura 1 e, de acordo com a
USGS 2 e a GEUS 3 há pelo menos quatro intervalos estratigráficos que contêm potencial para a
existência de boas rochas geradoras. A tabela 1 contém os valores de barris de óleo equivalente, em
milhões (MMBOE) esperados para as 7 bacias estudadas.
Bacias MMBOE
South Danmarkshavn * 0,72
Evaporítica de North Danmarkshavn 0,65
Thetis 0,49
Liverpool Land 0,29
Províncias Vulcânicas do Nordeste 0,26
Jameson Land < 0,1
Extensão Subvulcânica de Jameson Land < 0,1
Pensa-se que os reservatórios prováveis são em arenitos marinhos pouco profundos a não
marinhos do Jurássico médio, depósitos sin-rifte do Jurássico superior, complexos areniticos em deltas
submarinos do Cretácico, sequencias progradacionais do Paleogénico e sequências carbonatadas do
Carbónico-superior ao Pérmico-inferior. As argilas constituirão os selos mais prováveis.
Apesar de já terem sido realizados muitos estudos, poucos foram os poços exploratórios
realizados. Tudo isto, se deve há grande incerteza, complexidade e dificuldades técnicas existentes no
estudo desta região.
A bacia Colville do tipo foreland do Alasca North Slope, ocupa por completo o Alasca setentrional.
Tem uma área de cerca de 240.000 km2, cerca de 1000 km de comprimento e 50 a 350 km de largura.
A norte esta bacia prolonga-se para o mar Beaufort (oceano ártico) onde se encontra o arco Barrow
que a separa da bacia do Canadá. A sul encontra-se delimitada pela cordilheira Brookiana, um
cavalgamento que ocupa toda a região norte do Alasca (figura 3).
1. Contexto genético
2. Sistemas deposicionais
Figura 4: Coluna litostratigráfica sintética com algumas das formações litológicas depositadas durante a sequência tectono-
estratigráfica Brookiana.
(Adaptado de Bird, 2001 in Peters et al. 2006)
A Hue shale refecte um aumento progressivo de uma transgressão que imergiu a sequência
sin-rifte do Beaufortian e acompanhou a subsidência da bacia durante o início do Cretácico-inferior.
do ponto de vista geométrico e deposicional. A Sagavanirktok é uma formação que ainda carece de
alguns dados sendo constituída por areias finas, arenitos grosseiros e conglomerados pouco
consolidados, possui níveis de lenhite. No geral é possível inferir que a fácies perdominante é
continental, localmente constitui depósitos de terraços fluviais.
A bacia Colville tipo foreland é de interesse para a indústria petrolífera principalmente por
conter boas rochas reservatório. É intensamento explorada na zona de Prudhoe Bay onde foi
descoberto um imenso campo petrolífero em 1967 na zona este da bacia. Uma vez que as rochas
foram na sua grande maioria, sobrematuradas, o tipo de petróleo daí resultante é de fraca
qualidade (tipo III). Há bastante gás possível de ser explorado. A maioria do óleo é gerado em
formações pré-foreland (como a Schublik ou Kingak) de idade triássica a jurássica e os reservatórios
são essencialmente clásticos do Triássico e Cretácico-inferior ou clásticos e carbonatados do
Mississipiano e Pennsylvaniano 4.
Os estratos deltaicos arenosos da bacia Colville do final do Cretácico e início do Terciário
constituem grandes reservatórios. Também existem acumulações não comerciais de óleo e gás em
armadilhas anticlinais em arenitos deltaicos relacionados com a tectónica compressiva.
As bacias do tipo rifte têm cariz extensional, estão associadas a vulcanismo fissural e tendem a
ser: bacias estreitas, delimitadas por falhas, com elevada taxa de deposição e subciência, gradientes
de pressão e temperatura moderados e grandes espessuras de sedimentos. Estão associadas a
estruturas tectónicas do tipo horst-graben e a falhas normais ou por vezes de carácter cisalhante. As
bacias do tipo foreland, têm cariz compressivo, estão associadas a orogenias que por reequilíbrio
isostático e ação meteórica originam bacias assimétricas, em cunha, no seu sopé. O sentido de
deposição vai migrando ao longo do tempo consoante o sentido de colisão, o que altera a localização
do depocentro da bacia. Numa fase inicial podem originar deposição do tipo flysch em contexto
marinho (ou molasso em contexto continental).
O complexo de bacias de East Greenland é interessante para a indústria petrolífera por conter
grandes espessuras de sedimentos e estar facilmente acessível do ponto de vista da pouca
profundidade em offshore, por outro lado, localiza-se, tal como a bacia de Colville, na região ártica. O
facto de estas bacias estarem a uma latitude tão elevada, dificulta o seu estudo. Em East Greenland a
escassez de informação geológica, as condições climáticas (degelo), as incertezas quanto à atribuição
dos sistemas petrolíferos e as dificuldades técnicas daí provenientes faz com continue a haver
necessidade de estudos complementares. A bacia foreland de Colville, no Alasca, por si só já possui
uma vasta história exploratória. No futuro poderá esperar-se a exploração de recursos não
convencionais.
4 São idades tipicamente Americanas, que não integram a tabela cronoestratigráfica internacional actual, o
Mississippiano situa-se no início do Carbónico entre os 359,2 ± 2,5 Ma e os 318,1 ± 1,3 Ma) e o Pennsylvaniano
no final do Carbónico entre os 318,1 ± 1,3 Ma e os 299 ± 0,8 Ma.
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Anexo
Figura 5: Esquema cronostratigráfico que contém as principais unidades litostratigráficas de East Greenland. (Adaptado de Surlik, 2003)
Tabela 2: Síntese dos eventos tectono-crono-estratigráficos e dos “ambientes” deposicionais (Surlik, 2003).
Quiscência
Continuação da
tectónica e Rifting Aumento do Clímax do
Tectónica subsidência Início do rifting. - Fim do rifting.
subsidência “juvenil”. rifting. rifting.
regional.
regional.
Progradação
rápida a sul;
Sistemas Rotação dos
Marinho; em Nova
“Ambiente” Fluvial e Marinho em siliciclásticos Inundação blocos e Imersão
baías, e restrito progradação
deposicional lacustre.
em offshore.
progradação. marinhos em
marinha.
marinha. depósitos regional.
retrogradação. gravíticos a
norte.
São idades definidas a nível regional, que não integram a tabela cronoestratigráfica internacional actual, o Volgiano situa-se no Jurássico Superior e Cretácico
Inferior entre os 150,8 ± 4 Ma e os 142 Ma) e o Ryazaniano no Cretácico entre os 142 Ma e os 136,5 Ma.