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TEORIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Ministério das Relações Exteriores

Ministro de Estado Embaixador Antonio de Aguiar Patriota


Secretário-Geral Embaixador Ruy Nunes Pinto Nogueira

Fundação Alexandre de Gusmão

Presidente Embaixador Gilberto Vergne Saboia

Instituto de Pesquisa de
Relações Internacionais

Diretor Embaixador José Vicente de Sá Pimentel

Centro de História e
Documentação Diplomática

Diretor Embaixador Maurício E. Cortes Costa

A Fundação Alexandre de Gusmão, instituída em 1971, é uma fundação pública vinculada


ao Ministério das Relações Exteriores e tem a finalidade de levar à sociedade civil
informações sobre a realidade internacional e sobre aspectos da pauta diplomática
brasileira. Sua missão é promover a sensibilização da opinião pública nacional para os
temas de relações internacionais e para a política externa brasileira.

Ministério das Relações Exteriores


Esplanada dos Ministérios, Bloco H
Anexo II, Térreo, Sala 1
70170-900 Brasília, DF
Telefones: (61) 2030-6033/6034
Fax: (61) 2030-9125
Site: www.funag.gov.br
THALES CASTRO

Segue, logo em seguida, uma breve lista (Quadro 2) dos principais


termos e expressões que serão instrumentalizados ao longo de todo o livro:

Quadro 2

Principais ferramentas conceituais

Estado – Entidade político-jurídica que representa a engrenagem central das RI


dotada de população permanente, de território reconhecido, de governo aceito e
de exercício de soberania estatal no plano interno e externo, perfazendo, assim, seu
jus dominium. Em decorrência disso, possui capacidade de autogoverno, poder de
polícia e organização institucional.

Soberania estatal – conceito derivado do latim summa potestas, a soberania é


prerrogativa exclusiva do exercício da capacidade de mando do Estado nacional
reconhecido. Em sua vertente interna, diz respeito ao exercício de autogoverno, de
poder de polícia e capacidade de organização político-administrativa, enquanto
que em sua esfera externa diz respeito à sua presença reconhecida, à prerrogativa
jurídica e à articulação internacional com base no jus in bellum (direito de decretar
guerra e celebrar a paz com outros Estados), jus tractum (direito de negociar, assinar,
ratificar e denunciar tratados) e jus legationis (direito de legação em sua dimensão
ativa e passiva; sendo a dimensão ativa a capacidade de receber enquanto que
na passiva diz respeito ao recebimento de agentes consulares e diplomáticos), jus
petitionis (direito de solicitar a prestação jurisdicional em tribunais internacionais
quando aceitar a juris dire de várias Cortes, podendo, para tanto, ser parte ativa ou
passiva em processos judiciais) e jus representationis (direito de representar e fazer-se
representar em organismos internacionais, agências multilaterais e programas com
direito à voz, voto e determinação de agenda).

Estatocentrismo (Sistema estatocêntrico internacional) – Sistema internacional criado e


reconhecido após o Tratado de Westphalia de 1648 que tem no Estado nacional com sua
summa potestas a base fundamental de engrenagens endógenas e exógenas internacionais.
Sistema de uniformização estatal e de prevalência de seus institutos soberanos.

Hegemonia – Exercício de hiperpoder multidimensional por um ou mais Estados em


escala global. O exercício hegemônico pressupõe reconhecimento de tal capacidade
por parte dos demais Estados. É escalonada na forma de consolidação, primeiramente,
da liderança, posteriormente, da supremacia em determinadas áreas. Dessa forma,
hegemonia representa a materialização plena e internacionalmente reconhecida
de supremacia em todas as variáveis do PI que será explicitado no próximo termo
(poder). Hegemonia é atingida pela concentração cratológica do(s) Estado(s).

Poder – Capacidade de alterar o comportamento de outros atores internacionais por


meio de exercício de dominação e controle com finalidades determinadas. Integra os KFPI.
Em nossa visão, o poder internacional de um Estado (PI ) é expresso pelo somatório de
poderes político-diplomático, econômico-financeiro, cultural, militar e geodemográfico.

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Fenômeno das Relações Internacionais

Polaridade – Quantidade de polos ou de centros hegemônicos (hiperpoderio ou


hiperpolo) no cenário internacional, limitados, geograficamente, pelo conceito
de sistemia (macro, meso ou microssistemia). Representa acumulação expressiva
de KFPI em um ator internacional. A polaridade refere-se também à morfologia de
distribuição desigual e de relacionamento entre os atores internacionais, gerando a
estratificação cratológica na forma de pirâmide dos Estados.

Lateralidade – Quantidade de Estados ou outros atores internacionais envolvidos


em um determinado processo jurídico-negocial. Quantidade de entes partícipes
em determinada conjuntura de interação diplomática. Indica também o número de
participantes em um conjunto de diálogos normativos internacionais, concebidos
por meio dos PDNV.

Capitais de força-poder-interesse (KFPI) – Base triangular fundamental e


indissociável de explicação e previsão dos fenômenos da política internacional com
suas engrenagens. O trinômio força-poder-interesse se expressa como capitais (KFPI)
não uniformemente distribuídos entre os Estados e demais atores internacionais. A
capitalização de força-poder-interesse se justifica pelo fato de que o mesmo pode
ser utilizado como moeda de troca na forma de favor e influência, representando
a alavanca motriz das RI. Os KFPI são considerados como a tese do comportamento
externo.

Padrões de Dissuasão-Normas-Valores (PDNV) – Os padrões representam o


contraponto dos capitais de força-poder-interesse, revelando a forma de contenção
do impulso motriz dos KFPI. Os padrões de dissuasão-norma-valores são a antítese do
comportamento externo manifestado pelos KFPI, gerando a síntese posterior da lógica
da interação externa.

Constrangimentos (Constraints) – Limitações fáticas ou barreiras endógenas ou


exógenas ao uso dos KFPI disponíveis dos atores internacionais em determinados
contextos. Os constragimentos podem ser de natureza material ou imaterial.

Balança de poder – Regra geral de pesos e contrapesos ao exercício dos KFPI em


conjunto com os PDNV no âmbito das relações dos Estados, dotando-os de capacidade
de manter um certo (e frágil) equilíbrio sistêmico. Balança de poder tem proximidade
com dois outros conceitos importantes: teoria do poder gravitacional e esferas de
influência.

Teoria do poder gravitacional (TPG) – Originando-se das ciências físicas, a TPG


é o conjunto de esferas de influência bem marcadas em razão da força de atração
de polos/eixos de maior densidade de poder aos Estados menores vizinhos. A
gravitação de poder gera Estados satélites de acordo com a órbita dos polos de poder
com maior densidade de KFPI.

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THALES CASTRO

Ordem mundial – Recorte temporal de longa duração com determinação da


governança entre os Estados por meio da junção do exercício de poder (cratologia)
hegemônico em parceria com seus valores, princípios e ideais exportados e aceitos
pela grande maioria dos demais Estados (principiologia / axiologia). Ordem
mundial é posta, de forma impositiva, sob a égide do status quo aos demais pelo(s)
país(es) hegemônico(s). Só pode haver governança com o estabelecimento anterior
de ordem. Portanto, OM é um sinônimo de governança mundial (GM). Em síntese,
portanto, temos, OM = GM.

Dilemas de segurança – Situação de contradição causal entre o exercício da soberania


estatal que pode ser fonte de segurança para os cidadãos e, ao mesmo tempo, pode oferecer
pontuais riscos e ameaças internas e externas a outros Estados. Representam sistema de
autoajuda dos Estados de equilíbrio tentativo diante da maximização da segurança.

Lealdade – Capacidade de aderir a determinados padrões, regras e condutas no plano


interno ou internacional de acordo com o jogo dos capitais de força-poder-interesse
disponíveis e padrões dissuasão-normas-valores no contexto específico. Sua moeda de
troca é o favor e os ganhos residuais. Lealdade difere muito da subjugação pelo fato de que a
lealdade, na política internacional, possui elementos de espontaneidade por conveniência,
por coerção ou por convicção, enquanto que a subjugação pressupõe relação assimétrica
de imposição, demandando comportamentos de submissão involuntária.

Controlabidade – Diante da incapacidade relativa de Estados, organismos


multilaterais e agências manterem o efetivo domínio sobre os fluxos transacionais
(resultando em baixa controlabilidade), desenvolve-se aqui a relação entre as
lealdades de vários atores não estatais internacionais do segundo setor para
concretização de ganhos no sentido amplo. Controlabilidade não deve se confundir
com anarquia externa. Tem proximidade ao sentido de regimes internacionais.

Os conceitos (Quadro 2) revelam algumas das múltiplas (e talvez


principais) facetas do saber internacional. O Quadro 2 tem uma relação direta
com o Quadro 3 logo adiante, onde há segmentação das ferramentas conceituais
acerca da ciência das RI com sua correlação com os capítulos do livro. A
autonomia científica das RI tem assumido, recentemente, uma pluralidade
de debates, embora haja relativo consenso em seu entorno no que tange à
autonomia disciplinar. Sim, as RI são uma ciência autônoma, isto é, possui
propriedades inerentes, cortes analíticos específicos e independência com
relação a outras ciências. Como tal, possui, igualmente, seu método, embora
este não seja um debate dos mais fáceis na academia. Possui raiz política que
será tratada mais detalhadamente adiante. A inexatidão presente nos elementos
sociais e humanos nas raízes de seu posicionamento como ciência autônoma e
de linha política faz com que as chamadas ciências duras apresentem críticas
ao seu método, essencialmente, diverso, plural e interdisciplinar. De qualquer
maneira, as RI res ipsa loquitur possuem sua autonomia consagrada e algumas

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