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3 O ENSINO POR MEIO DA RESOLUCAO DE PROBLEMAS Angela Imaculada Loureiro de Freitas Dalben Intimeros sto 0s debates em torno da almejada qualidade da ‘escola e, consequenttemente, dos processos de ensino mais efetivos. No fentanto, no contexto das discussdes, surge o problema das dificuldades de interagio € didlogo entte professores ¢ estudantes, chegando a tal onto que, hoje, coloca-se em pauta nos cursos de formagaio continuada de docentes 0 tema da mediagao de conflitos. Nesse contexto, alguns ‘comentam que existe atualmente uma crise do papel socializador da la, jé que ela concorre com outras instincias de socializagéo, comoa dia, 0 mercado cultural eo consumo de produtos e cde conhecimentos: \tros afirmam que existe hoje uma separagao entre a cultura juvenil e cultura académica com visiveis consequéncias na vida da escola e no Iho dos educadores; outros tém a percepeo de que convivemos com rrecusa dos jovens aos valores convencionais, como o esforco, o estudo, trabalho pessoal, 0 sacrificio, a persisténcia, a perseveranca. Sera? Paralelamente, podemos levantar outras perguntas que se ‘am orbitando em tomo dessas primeiras, situadas no ambito iticas piblicas em educagio, tais como: a escola piblica esta Novas vamas para as ténicas de ensino @estudo 69 direito a educagtio de qualidade? Os processos de avaliago tém permitido 0s professores construir processos de ensino mais efetivos? Os gestores € a comunidade escolar tém conseguido motivar os a ‘mais, para estimulé-los e para conter atos de indi Outros blocos de questées também podem ser formulados com base nos questionamentos dos professores, 0s quais se sentem acusados pelas mazelas dos sistemas educacionais, sob a presstio que existe, jalmente, para que ocorra o bom desempenho das escolas no processo ‘como: qual a defasagem existente entre o que a escola ensina ¢ 0 que ela deveria ensinar? O que vem sendo ensinado corresponde as demandas sociais, as necessidades para o exercicio da cidadania? E fundamental avaliar 0 que as escolas estiio fazendo ou avaliar o que elas deveriam fazer em razio do que a sociedade necessita? O projeto atual de escola de educagaio basica tem valor de sobrevivéncia nessa sociedade da informagdo e da comunicagao, banhada de novas tecnologias criadas a todo instante? O ensino superior tem conseguido acompanhar as necessidades de formagiio de quadros profissionais para o futuro? Se nos centrarmos em cada um desses blocos de perguntas, poderemos ficar horas e horas discutindo, construindo argumentos tes para todas elas. Ou poderemos constituir grupos de trabalho para buscar informagGes e organizar os dados, formular bons textos com argumentos teéricos ¢ priticos e uma série de outras ages em ‘busea de respostas interessantes € adequadas, respostas que poderio nos 's educacionais, cursos ¢ outras ages priticas, caso tenhamos esse oportunidade, isso porque as perguntas movem 0 conhecimento e mobilizam ages. No entanto, niio € objetivo deste text diretamente, mas desejamos, na verdade, disc dos problemas na construgio dos processos de aprendizagem ed porque acteditamos que realmente as perguntas movem as possibilidades de se aprender melhor. Desejamos, também, trazer &tona a importancia de sponder a essas questies 70 Paps Eatora enovar as relagdes sociais na escola por meio de interagGes significativas, porque acreditamos que essas interagbes acontecem em ambientes em que os interesses esto sintonizados, Pretendemos discutira importiincia de se organizar 0 ensino de maneira atrativa, consistente, p das demandas ¢ das necessidades dos estudantes, jovens ou criangas, para que o desejo pelo conhecimento seja uma realidade. Poderfamos entrar nossos argumentos em diferentes focos, mas, nesse contexto, privilegiaremos o papel das perguntas e dos problemas, aereditando que ‘esse seja um caminho possivel. Formulamos a hipétese de que, no papel da escola de socializadora de conhecimentos, as capacidades mediadora icas porque construidas num campo conceitual amplo ¢ conectado com las possibilidades de criagdo légica. Nesse sentido, apresentamos seguir algumas reflexdes a respeito. (0 lugar do problema nas aprendizagens e na vida Todo pesquisador sabe que uma boa pergunta é a chave de uma boa pesquisa. E toda boa pesquisa incorpora em si um caminho promissor de buscas para a boa resposta. Nesse caminho, surge uma série de ‘outras perguntas ¢ junto delas outras respostas. Coneomitantemente, {eremos também a produgdo de outras boas perguntas que merecerio Bs Preis num proceso continuo de produgao de conhecimentos ificos. Noentanto, também na vida cotidiana, convivemos com perguntas € problemas que nos atropelam a todo instante e que exigem de nds decisdes imediatas ou pensadas com tempos certos para obtermos espostas ¢ ages diretas. E 0 que acontece quando precisamos definir ‘como levar adiante um relacionamento que esta desgastado, ou como Novas ramas para 2s téentcas do ensino@estude 71 situagdes. Junto desses nossos problemas, outros so colocados para nds pelos vizinhos ou pela midia. Imagine que, num domingo, lendo ‘8 jornais descompromissadamente, tomamos conhecimento da noticia de um vuledo em erupgao que atrapalharé as nossas férias marcadas ha tanto tempo! De repente, os supetmercados passam a nao utilizar 08 saquinhos plisticos como embalagem de compras, em nome dos cuidados com o planeta, ¢ nds nos vemos sem condigdes de levar para casa aqueles produtos que usualmente adquirfamos quando retornvamos do trabalho, porque nem sempre temos sacolas & mao. Essas situagées se tomam problematicas até que consigamos eriar novos planos ou novas rotinas no dia a dia, Da mesma forma, esses problemas se tomam projetos importantes para os cientistas, 0s inventores ¢ os empresérios que desejam criar produtos ¢ tecnologias para serem disponibilizados no mercado. Chamou-nos a atengdo, na midia, a histéria de um jovem que, tendo perdido a oportunidade de receber a entrega de uma encomenda vinda pelo correio em sua casa, ja que ndo havia ninguém para atender & iago foi comprada pela indistria das telecomunicagdes, fem esta hoje com uma boa fortuna em sua conta. Imagine! Um problema simples —a tentativa de resolver novos problemas — hipdteses, propostas — soluedo criativa ~ fortuna! Em sintese, os problemas estio a todo instante nos acompanhando ‘em nossas vidas e junto deles a nossa forma de solucioné-los. Existem pessoas que nao conseguem conviver com problemas ou niio conseguem ter uma atitude proativa diante deles ¢ até se desesperam quando algo se apresenta como uma dificuldade. Essas pessoas tendem a nao saber, inclusive, conviver com frustragGes ou perdas. Entram em pinico e se sentem imobilizadas diante dos obsticulos. Assim, titamos uma primeira ‘conclusio no nosso texto: saber lidar com problemas é uma importante aprendizagem, assim como é fundamental, em situagdes adversas, aprender a agir de maneira proativa, organizando 0 nosso pensamento € as ages para a tomada de deciséo. Isso significa saber lidar com as situagdes problemiticas e transformé-las em metas ¢ desafios positives, 72 Pools Ettore desafios de conhecimento e de agdes priticas capazes de nos orientar ‘em nossas decisdes de vida. Isso se justifiea porque problemas podem dar otigem a conteiidos novos, aos conhecimentos cientificos e até aos inventos da humanidade, como aconteceu com o jovem de 13 anos. No entanto, podem ser, implesmente, solugdes praticas que nos permititfo saber lidar com o dia 2 dia, com o trabalho, construindo uma forma de set. Um problema é sempre um problema? E interessante observar que os problemas sao tipicos de épocas e se colocam a partir das experiéncias historico-sociais dos sujeitos, das ‘comunidades e das sociedades. Assim, um problema para uma época iio 0 € para outta, Seriam hilérios para nds, no século XI, problemas vividos em _séculos passados por homens, mulheres, eriancas, jovens, donas de casa, {rabathadores, mas foram esses problemas que deram suporte a situages, jlucionaram questdes, transformaram-se em inventos€ alteraram rotinas priticas. No entanto, induziram os novos problemas de outras épocas. Js problemas de hoje assim como as suas solugdes tém uma historia, Nesse sentido podemos dizer que os problemas costumam ser 1s, 0 que significa também que as respostas 0 silo e dependem i altermativas cognitivas, tecnolégicas, morais existentes no tempo nos espagos, disponiveis para os grupos sociais e para as pessoas em iferengas esto vinculadas aos valores, aos costumes E interessante lembrar que esse campo de valores referenciais {fundamental para a construcdo dos modelos de personalidades que apontados como tipicos das pessoas e das situagdes de um tempo. iginemos, por exemplo, um casal de namorados dos anos 1970 que se theceu em férias na praia, mas os dois moram em cidades localizadas ‘Novas tramas para as técncas de ensino estudo 73 em estados diferentes. Para continuarem o namoro, precisarao recorrer ao ‘uso das cartas para se relacionarem e se comunicarem periodicamente. Precisardo se dirigir aos correios para postarem suas correspondéncias e saberdo que um tempo médio para uma carta chegar ao seu destino seré de {rés.a quatro dias. Assim, cada um obterd a resposta de sua mensagem s6 Cito dias depois do envio. Recorrerio, entio, aos telefones fixos, porque intermediadas por telefonistas. Imaginemos aqui o conjunto de problemas e situagdes constrangedoras que esse casal de namorados tera de enfrentar € 0 conjunto de alternativas que terio de criar para conseguirem levar adiante esse namoro. Perguntamos: seré que serio capazes de se conhecer realmente diante dessas dificuldades permanentes de comuni analise historica, matemética, geogrifica e outros, Podemos também comparar a situagao desse casal ao que acontece hoje. Como os casais se comunicam vivendo em paises diferentes? Podemos dizer que sto mais felizes ou menos felizes que os outros? Quais os problemas que tém hoje para se comunicarem comparando-os com o easal dos anos 1970? O que pensam dos casais dos anos 1970? Se fosse uma professora de portugués, poderia também apresentar uma pergunta: sera que o casal dos anos 1970 adquiriu maior capacidade de escrita, de articulagdo de ideias, em razio de horas e horas escrevendo longas cartas? Dizem que 0s jovens, hoje, escrevem cada vez menos € utilizam cada vez mais linguagens alternativas & norma padraio. Ser? fato de que os problemas t&m um lugar importante na nossa vida e precisamos aprender a lidar com cles porque nos mobilizam e nos fazem encontrar alternativas de aco, nos habilitam a viver com criatividade ou niio, caso estejamos abertos a0 novo € dis mudangas. Os problemas nos. permitem exercitar nossas habilidades inve iS, ctiativas e de raciocinio logico, ou contrariamente podem nos deixar inertes, aguardando a capacidade dos outros para nos darem as respostas prontas. No entanto, 0s problemas so datados, esto circunscritos nas rotinas, culturas, 74 Popius Estora demandas ¢ necessidades de uma época, de uma sociedad, de grupos Sociais especificos. Problemas para uns podem nao ser problemas para outros. Soluedes para uns podem nao ser para outros, dai a potencial de possibilidades que um contexto adverso permite iqueles Interessados na pesquisa e na produgo de conhecimentos. nesse campo de discussto que podemos afirmar que 0 conhecimento ¢ uma produgo social sem limites. O uso de problemas em sala de aula: Por qué? ‘Quando abragamos um problema em busca ce sua solugao, isso quer “dizer que ele tem significado para nds, e a sua solugdo, com toda certeza, trard recompensas importantes, seja de ordem material, cognitiva, fetiva, de valores, seja de habilidades. Mas torna-se fundamental estar lento 20 seguinte: a solugtio do problema é fundamental para nés no jomento em que encontramos a resposta ao que desejamos. No entanto, processos, 0s mecanismos ¢ os encaminhamentos que nos levaram lucioné-los so to ou ainda mais importantes do que a solugao ntrada, em razio do que experimentamos para chegar ao resultado atisfat6rio e do conjunto de conhecimentos que adquirimos articulando ‘campo referencial para resolvé-los, Esse campo envolveu raciocinio ico, cognitivo, relagdes humanas, praticas, busca por outras formas de sug, caminhos ¢ uma série de agGes, dependentes do tipo de problema situago problematica enfrentada. Isso significa que estar diante de um problema, diferentemente ‘que algumas pessoas pensam, € uma oportunidade de crescimento joal e momentos de aprendizagem. dos entre educadores © Indmeros debates vém sendo real de aula, ¢ entre docentes do ensino superior sobre a pouca atengio 0s estudantes dio aos momentos presenciais em sala de aula. amos com o caso de uma estudante de medicina que disse “Prefiro ficar aqui em casa ¢ ler 0s artigos e livros de que Novas tomas para as técnicas de ensino @estude 75 preciso do que ir a faculdade ouvir do professor a mesma coisa, Acho {que perco tempo”, O pouco desejo pelas aulas ou pelas aprendizagens escolares tém tido origens em diferentes possibilidades: ou as interagdes stlo desagradiveis por motivos pessoais variados, ou por falta de sentido significado pedagégico como interpretamos no caso da estudante de medicina, Ela deseja obter 0 conhecimento, mas nfo acredita que isso ‘ocorrerd em sala de aula, Assim, prefere estudar sozinha nos livros em ssua casa ou na biblioteca. Ora, para trazer essa estudante para a sala de aula, o professor precisaria pensar em estruturar uma relagao pedagégica estimulante ¢ proativa, capaz de informara ela que as interagées coletivas e colaborativas entre professor e estucantes frequentemente promovem mais ¢ melhores aprendizagens. As pessoas esto se acostumando a navegar pelo site do Google. i € procurar respostas imediatas quando uma questio aparece numa simples roda de conversas e acreditam {que sozinhas conseguem maior produtividade do que em grupo. A midia se apresenta incorporada as rotinas diérias, num ritmo frenético que envolve sons, cores, ruidos, imagens e informagdes que vio se fazendo presentes de modo que envolvam as pessoas, os jovens ¢ as criangas. Todo mundo precisa correr, precisa se comunicar, conversar com alguém ‘que tem pressa ¢ que esti na linha, Uma aula monétona, sem estimulo intelectual, em que apenas se exercita o respeito ao professor que € pago para estar ali, ou exercita a capacidade de se estar disciplinadamente imével ouvindo alguém, que pode até utilizar uma apresentagaio benfeita de PowerPoint, no ¢ adequada aos nossos tempos, porque estamos num ‘mundo que tem 0 slogan da interago em comunidades sociais. Se uma 7 baseia apenas em repasse de informagdes, entdo 0 Google la. Questionamos aqui o préprio objetivo de uma aula de apenas se centrar em repasse de informagdes. Nesse contexto, argumentamos a favor de transformar a sala de ‘aula em comunidades sociais de aprendizagens colaborativas, isto é, professores e estudantes em busca de mais conhecimento ¢ melhores aprendizagens, porque significativas! Podemos formular perguntas sobre os tradic programas, modelos de interag&o e organizagio da escola dos tempos 76 Papirus Edicra smos. Aparentemente defasada, essa escola permanece em seu ritmo jue ainda encontra argumentos que a justificam. Colegas afirmam: estudantes precisam de fundamentos! Precisam aprender algumas Iabilidades que sé a escola ensina, Redigir uma dissertagéo ou uma onografia exige disciplina académica do corta/recorta! Precisam prender sobre a vida em sociedade com regras e disciplina. Precisam itar a paciéncia, capacidade fundamental para se alcangar um rau elevado de produgao académica. ia dos argumentos gira em torno de atitudes ainda no conseguiram se desvencilhar das amarras da escola jonal. Culpa do néimero elevado de estudantes nas turmas? Culpa {quantidade de aulas a serem ministradas pelo professor? Culpa do 0 miimero de livros da biblioteca? Culpa da pouca disponibitidade eomputadores nos laboratérios das escolas? Argumentos plausiveis e importantes, € claro, mas o que dizer das as de resisténcia apresentadas pelos discentes is priticas pedagégicas los docentes, que a cada dia surgem nas salas de aula? Essas resisténcias @silo impedindo que o processo de ensinar acontega com qualidade iciente. As desaveneas surgem desses ambientes ¢, enti, discusses nire os estudantes, entre estudantes e docentes, entre gangues, entre s, entre escola e gestores. Surgem, também, a cada dia ue cle dé prosseg ios e estratégias de ensino. ultado das resisténei ismo, evasto e baixos resultados do mpenho em avaliagdes nacionais e nos boletins das escolas. E esse trato da escola brasileira, seja na educagao basica, seja no ensino perior. Podemos apresentar, ainda, outras razbes para essa situago, Jocando culpa na pouca capilaridade da escola para incorporar as nologias que fazem parte do cotidiano, ou podemos culpar as familias iio cumprem o seu papel de incentivar os jovens adolescentes sobre importéncia dos conteidos escolares, dando-Ihes perspectivas de futuro, Novas temas para as tScicas de encino @estudo 77 Podemos falar do pouco preparo do aes para enfrentar situagdes docente, haja vista as politicas sa ais dos govermas, provocando, com {sso, 0 pouco investimento do professor em seu trabalho. So hipéteses também importantes, que precisam ser analisadas e testadas, para nos ‘mobilizar ¢ nao apenas nos deixar perplexos diante do tamanho do problema. ‘Assim, levantamos aqui, outra hipétese: a de que as salas de aula, pensadas como em tempos dos séculos passados, em que o professor dominava um saber, aquele definido num curriculo basico, e em que os estudantes sto reconhecidos como sujeitos que devem incorporar esse saber, no cabem mais como um modelo capaz de sustentar 05 processos de escolarizagio nos dias atuais. Assim, defendemos que esse modelo esta esgotado e pode ser considerado o indutor de muitos problemas {que hoje estao presentes nas salas de aula, Argumentamos, ainda, que tal modelo naio condiz com o que discutimos em item anterior, porque nilo permite que propostas colaborativas induzam a produgao eriativa do conhecimento, retirando as ricas possibilidades existentes em processos cefetivos de interago pessoal. A concepgao de ‘que se considera dis existente nesse modelo ¢ diferente do em outro modelo e, como todo problema & datado, estamos convivendo com problemas nas relagdes pedagégicas de interagdio que no é contempordneo, Necessitamos construir uma nova forma de disciplina académica fundamentada no movimento em busca do conhecimento, que se constr6i na interagiio por miltiplas fontes de informagio, organizado pelo grupo de interessados em metas a serem las e que, para isso, colaboram articuladamente, em vez de esperar que alguém thes apresente respostas. A disponibilidade da informago tem sido tamanha ¢ em ritmno tio acelerado, utilizando-se dispositivos cada vez mais acessiveis s pessoas, que ninguém hoje pode ficar longe das possibilidades de um computador ou de uma internet. Quem esti tendo mais dificuldade? Os mais velhos, 78 Papirus Ediora claro, porque os bebés ja nascem sabendo apertar os botdes presentes ‘em seus brinquedos. Isso significa que estamos diante da necessidade de construgdo de uma nova mentalidade, que exige uma nova metodologia de relagiio com o conhecimento, exige novas bases de relacao professor/ aluno, nova organizado da sala de aula. ‘Assim, vale a pena colocar, no horizonte dos objetivos educacionais das escolas de educagio bisica © superior, 0 desenvolvimento do espirito critico pelo desejo do conhecimento. Sera essa perspectiva que permitiré aos sujeitos entenderem 0 que & 0 verdadeiro papel da escola, do conhecimento que ela veicula, do que é uma informagdo ou ‘um conhecimento sistematizado e cientifico. Entender que nem toda informacao encontrada na internet € correta, que nem todo site tem que nem sempre a methor resposta € aquela iatamente, porque ela pode no ter sido produzida ara 0s contextos aos quais vocé se refere. Nesse sentido, muito mais Jo que repassar informag6es e conteidos escolares, a escola deve preparar para ensinar as pessoas a pensat, a tratar os contetidos ares ¢ os contetidos disponiveis na midia, bem como a trabalhar com as informagdes e os contetidos para que eles se transformem em mnhecimentos significativos. uso de problemas no direcionamento do ensino: Principios ‘Anhistéria da educagio registra, como um dos planos pioneiros de no, a Ratio Studiorum dos jesuitas, impresso pela primeira vez. em 86 (Cunningham 1960, p. 396). Essa proposta estabelecia um tinico culo e um ‘inico método como o adequado para todas as classes de nes. O curriculo era constituido por: leitura, escrita, aritmética & igilo, ¢ 0 método era a recitagdo, feita pelo professor e pela classe. yposta de cunho coletivo foi considerada bastante ousada numa yea dominada pela instrugdo individual. Desde entdo, as questdes jonadas as diferengas entre os alunos trouxe para os educadores jos importantes. Assim, diferentes propostas foram sendo registradas Novas rames para as tBnicas deensino & estado. 79 ‘20 longo dos séeulos por educadores de renome. O plano Winnetka, por exemplo, previa a instrugdo individual em assuntos instrument durante metade do dia escolat, ao mesmo tempo em que, na outra metade do tempo, se deveria promover a solidariedade do grupo. Em sequéncia, outro plano que despertou atengao foi o denominado Plano de Laboratério Dalion, Nele as salas de aula eram transformadas em laboratérios, um para cada assunto, em que um professor espe na matéria trabalhava mediante contratos com os estudantes. As desvantagens consideradas pelos individualizagao da proposta, mas seus apoiadores a defendiam dizendo que projetos comuns promoveriam a solidariedade entre grupos. Os debates sempre ficaram polarizados entre o individual e o coletivo e entre @ enorme distancia que essas propostas traziam em relagiio aos métodos tradicionais de organizagao escolar que permitiam maior controle das aprendizagens ¢ as dificuldades de realizago e execugio conforme as condigdes materiais vividas em cada época (Oliveira 1973). Como se percebe com exemplos, diferentemente do que ‘muitos imaginam, discutic possibilidades de transformar as salas de aula em espagos dindmicos de sistematizagao, produgo ou organizagiio do ‘conhecimento nao ¢ um assunto dos tempos contemporneos. Dewey, um dos maiores pedagogos do século XX e defensor da pedagogia ativa, j4 em 1897, afirmava que 0 professor “no esté na escola para impor certas iéias & crianga ou para formar nela certos habitos, mas esta ali como membro da comunidade para selecionar as influéncias que agirio sobre a crianga e para ajud-la a reagit convenientemente a essas influéncias” (qpud Cunningham 1960), Baseando-se no ciclo da vida ¢ aplicando-o a0 ensino, trouxe a diseussio dos processos que promovem a aprendizagem. Para Dewey (apd Cunningham 1960, p. 385), em 1910, em seu livro How we think, 0 ciclo do pensamento envolve cinco fases lgicas: ‘Todo pensamento se inicia com um problema. A fase seguinte é 2 del ida pelas varias hipsteses para 0. Escolhe-se uma delas como @ melhor sol fase Dewey chama de avaliagao. A fase final € 2 verificagdo da 80 Papius Edtorm solugo com um julgamento, Nio sendo verificada a solugo por «esse julgamento, recomega-se 0 ciclo, A ordem l6gica das fases nem sempre & a eronolégica. Na primeira metade do século XX, em plena discus todos ativos, autores diversos trouxeram a tona as poss lteragio dos cixos didéticos na organizagao da sala de aula, Também mmningham afirma que © pensamento s6 se origina quando nos defrontamos com um problema. A imensa maioria das nossas agBes dirias ocorrem por conta do hibito. Mas quando nos deparamos com uma situagao para qual ndo temos uma resposta de hébito satisfatéria, comegamos, nto, a excogitar uma solugto pera o problema, (Ibidem, p. 377) A verdade ¢ que foram desenvolvidas muitas propostas de ensino, esperanga de que fosse possivel organizar um caminho capaz de tir aos estudantes um aproveitamento perfeito, Listamos a seguir mas outras como exemplo: 0 método de Herbart, 0 método de rojetos, © método de problema, plano de contrato, o plano de unidade ‘plano de atividade, todos imaginados com esse propdsito.' A proposta ‘organizagao do ensino por meio da resolugdo de problemas est scrita no rol das pedagogias ativas, ¢ alguns autores a denominam jologia de problemas, enquanto outros a consideram apenas uma ca em que se utilizam casos ou situagdes-problema para organizar 0 inho ow as sequéncias didaticas. Nérici (1965 ¢ 1989), por exemplo, igere duas formas de organizagtio do por meio da resolugao de blemas € as organiza assim: Autores como Pes Froebel, Herbart, Dewey, Kilpatrick, Freinet, Decroly, Maria Montes ide Lisbora, Helens Antipoff, Paulo Freire, conforme seus vos contextos, defenderam propostas pedagdgicas que ineluiam métodos tvs, centrados em interessese problemas do cotidiano, em busca da significado dos processos de ensinare aprender Novas tramas para as tenicas do ening « ectudo 81 1) Método mitigado de problemas ~ assim chamado 0 processo ‘em que o problema surge de uma situagiio nfo prevista ¢ as indagagdes induzidas € estimuladas pelo professor conduzem a formulagao de passos para uma agiio rica em possibilidades educativas. O professor, ‘ao propor atividades diversas, previstas em seu plano, como leitura de textos, revistas, jomais, visita a sites, estudos em grupo, depara com um caso-problema que é suscitado pela classe ou por um estudante individualmente. A questiio é, entdio, colocada como um problema ¢ mente pela sua formulac&o como tal, podendo ser Assim formulado, o processo rola na perspectiva de definir caminhos para sua resolugao. O professor aproveita as oportunidades para propor formatos a fim de ampliar as fontes de informagio e as possiveis experiéncias de aprendizagem. A apresentagao das solugdes também merece a ateng’o do professor, que pode propor a apresentagdo oral ou escrita, ou em formato de semindrios e painéis, E importante valorizar 0 proceso de busca da resposta, assim como a formulagao do resultado final para ser comunicado ao grupo de estudantes; 2) Método integral de problemas ~ quando a proposta de ensino cesté busenda inteiramente em torno de situagBes problemticas. Nesse formato, o processo de ensino exige que o professor se organize para motivar e estimular o estudante para a busca da aprendizagem. E um tipo de relagao professor/aluno/conhecimento que se estrutura em tomo do desejo de aprender e, nesse ponto, tomna-se uma interagaio sofisticada no que tange as interagdes prévias entre professor ¢ estudantes, porque envolve investimento para se conseguir a adesto dos estudantes durante todo o processo. O autor alerta para a importincia de 0 professor se preparar para o imprevisto, porque & possivel que os processos niio se cfetivem de maneira organizada conforme suas previsdes. Numa proposta dessa natureza, as palavras-chave sio: flexibilidade e abertura ao novo e a0 inusitado, Nesse sentido, a apresentagio e a formulagao do problema slo fundamentais e é,nesse momento, que a competéncia ea criatividade do professor fardo diferenga na aula ou na unidade de trabalho. 82 Popius Ediora Diante disso, como um professor em sala de aula precisaria organizar para construir uma relagao pedagégica mediada por jo-se na resolugdo de problemas? diciondrio Houaiss (2001, p. 2.301; grifos nossos) conceitua ilema da seguinte forma: 1 assunio controverso, ainda ndo saisfatoriamente respondido, em ‘qualquer campo do conhecimento, e que pode ser objeto de pesquisas cientticas ou diseusstes académicas (..) 2 obsticulo, contratempo, dificuldade que desafia a capacidade de solucionar de alguém (..) 3 situagao ali; conflito(..) 4 mau funcionamento erénico de alguma coisa, que acarreta transiomos, pobreza, miséria, desgragas ele, © {que exigira grande esforgo e determinagio para ser solucionado (..) 5 distirbio, disfansao orgsiniea ou psiquica (..) 6 pessoa, coisa ou situagdo incmodea, preocupante, fora de controfe etc (..)8. MAT tarefa de caleular uma ou vérias quantidades desconhecides, denominadas ‘ncégnits, relacionadas a outras conhecidas, 0s dados (..). Nas definig6es de problema apresentada por Houaiss, localizamos ntralidade da ideia do desafio, de busca e de conquista por alguma ja, ideia ainda nao dada, nao pronta, nao estruturada, dificil, ipante. Um problema acarreta a sensago de desequilibrio, como “aget. Da mesma forma, nas duas possibilidades de organizagio Jensino, apresentadas por Nérici (1965 e 1989), a ideia do desafio do mento significativo esté presente. Assim, um professor que deseja far sua proposta didética por meio da resolugio de problemas {io professor/aluno/conhecimento nesses contextos? Qual o lugar blema na estruturagiio do proceso didatico? cago, do it em busca de, Sabemos que temos tido problemas sérios entre docentes ¢ ites e supomos que algumas dessas dificuldades estejam situadas na cia entre geragdes, intensificadas pel idade do professor em relagio aos alunos Novas tomas pera ae téonisas do oncino oestudo 83 do docente com o mundo das tecnologias, dos novos modos de interagir. Essas distincias esto, na verdade, mediadas pelo novo formato de relagio ‘com 0 conhecimento, com a disponibilidade da informagao, Assim, a autoridade, antes construida pelo dominio de saberes especificos de uns sobre os outros, hoje precisa ser reconstruida em rnovas bases. So problemas antigos que, recorrentemente, se apresentamn de geragio a geragdo, Assim, podemos dizer que as geragdes de professores atuais nao foram eriadas sob a égide dos atuais formatos de dade existentes, propiciados pe (Os estudantes, com certeza, conseguem obter informagdes com maior rapidez do que os seus, professores quando pesquisam no Google. Mas uma sala de aula deve ser considerada um repositério de informagies? Se a resposta for sim, isso aumenta ainda mais a distancia entre professores e alunos e entre as propostas de ensino e os desejos dos estudantes. Justifica-se aqui a fala da aluna de medicina que acha uma perda de tempo ficar assistindo ais aulas quando poderia estar lendo os seus livros € artigos. O eixo fundamental de uma proposta didiética ativa e atual é qualificar 0 que se sabe e transformar as informagdes em conhecimentos contextualizados ¢ :0s com sentidos e significados para quem os detém. E uma questo ‘metodologica e epistemoldgica do como se produz 0 conhecimento. Assim, 0 maior desafio do professor numa proposta baseada na resolugtio de problemas € conseguir a adesto de seus estudantes para os saberes escolares que ele deseja que tenfiam sentido para o seu aluno & que estaro incorporados nos problemas que 0 cotidiano apresenta. Os, proprios desafios, pela sua natureza mobilizadora, se constituem em principios educativos dessa proposta de ensino. ia na valorizagdo do conhecimento, E um importante espago de formagio do cidadio de um tempo. Que conhecimentos so necessirios para a formago de um cidadao? Que conhecimentos so necessérios para a formagao de um profissional do seu tempo? Torna-se um desafio para 0 professor conseguir que os estudantes encontrem sentido nos conteiidos, nas atividades rotineiras da escola e nos conhecimentos que esta considera fundamentais para a formagao deles como cidadios ¢ também como 8 Papius Ediora ais, quando no existem sintonia e diélogo entre as partes. Para importante aprender a linguagem que o estudante de hoje entende; patia com suas formas de raciocinio, |, ainda vineulado a esse ambit construgéo da interagao, , na interasaio, clareza do lugar papel de cada sujeito. A linguagem do jovem e das criangas ilemporaneas ¢ a linguagem do jogo, da competi¢ao, da rapicez e da incessante pelo novo. Assim, mais do que nunca, precisamos alterar do estudante em sala de aula e, nesse sentido, precisamos retir’- posigdo de passividade e receptividade diante da aprendizagem de tetidos ¢ informagdes, criando a provocaedo, a proatividade. No entanto, essas atitudes estdio desordenadas, fragmentadas, Iverizadas pelos priprios estimulos incessantes do contexto em que . Imersos nesse ambiente, torna-se fundamental desenvolver as habilidades de antecipar e planejar agdes, sendo este um outro 0 planejamento, Prever caminhos a trilhar para chegar a matizar passos, prever sulos a serem contornados, construir objetivos e metas, tudo isso numa agdo educativa. Diante das oportunidades lias, formar sujeitos eapazes de ter inici um imperativo, além de ensinar a enxergar 0 contexto que as informages se acumulam e ter a nogdo de conjunto, controle {uagdes imprevistas para aprender a agit com foco, Outro principio ¢ a propria imprevisibilidade. Problemas podem ir de repente, frutos do acaso, Enio, como trabalhar o imprevisto? 10 organizar uma sala de aula nesse contorno? A resposta é: pelo itamento das iniimeras possibilidades presentes numa situacio, isto ir meio do planejamento. E essa a contradigao que sera vivida num Estamos falando de um planejamento dentro de uma situagao la, Nao se consegue avangar no c jento sem delinearmos caminho, um proceso de busca, com vas de trilhas perante Novas amas para as téenicas de ensino eestudo 85 eis. Nesse sentido, quando se tem um problema, necessita-se problematizar o préprio problema, levantar um conjunto de ‘outras perguntas e questdes que giram em seu entormo, como satélite. Essas novas perguntas so importantes para que os problemas adquiram a dimensfo desejada e estejam no contexto de aprendizagem previsto. professor precisa compreender 0 contexto ¢ 0 conjunto de aspectos que giram em torno das teméticas com as quais poderé trabalhar. Embora saibamos que nfo teremos controle de todas as de ensino, ¢ possivel tentar organizar e prever ~ dentro do pri da imprevisibilidade — situagdes possiveis, desejaveis © necessitias, para que a aprendizagem acontega conforme almejamos. E trabalhoso, mas gratificante quando atingimos nossas metas. Essa situaglo, provavelmente incomoda para alguns, é 0 que fez mover intimeras invengdes da humanidade, que permitiu aos muitos artistas criarem obras de arte ¢ que, provavelmente, permitira que as interagbes escolares lindmicas ¢ proveitosas, além de agradaveis. E a propria idade das interagdes em sala de aula que faz. os professores gostarem de estar junto de seus alunos e se justificarem dizendo que, a cada aula, as coisas acontecem diferentemente. Plangjamento na organizagao do ensino por meio da resolugdo de problemas: Vantagens ‘A agdo de planejar 0 ensino se refere a0 processo de dar-lhe forma e de adequé-to ao grupo de estudantes com os quais se trabalha. Podemos perguntar: o professor é um profissional que plangja sua pritiea ou apenas executa programas elaborados por outros? Uma proposta de ensino que se centra na resolugao de problemas se apoia na premissa de que o professor precisaré assumir o seu papel de planejador de suas, aulas e que o programa ou a ementa de seu curso serdo apenas um norte no seu trabalho. Segundo Sacristan e Pérez Gémez (1998, p. 198), 88 Popius Edtora planejar implica previo da agdo antes de realizi-a, isto, separagso que nto se plane} dde um caso conereto. O plano resultante da atividade de esbogar antecipa ou representa, em alguma medida, a pritica que resulta, Ao planejar, na concepgio desses autores, 0 professor dialoga cipadamente com a situago Gom a qual vai atuar, vai refletir sobre préticas anteriores, experimentar novas ideias, orientado por iipios, distinguir perspectivas, metas e possibilidades e elaborar de agdo, tendo uma representagSo nitida de como a situagao se desenrolar. O professor, ao planejar, delincia um esquema tal da sua aco pritica. As atividades de planejar se apoiam em jecimentos prévios do professor de diferentes ordens, sobre como € Se comportam os estudantes e sobre os recursos materiais de que Wem. No entanto, cada planejamento revela uma singularidade, uma laridade que se apresenta no momento em que se articulam todos kentos desse campo de forgas. Fsses elementos sero acionados no jento do planejamento da ago pedagégica. Por isso, ¢ fundamental, plano, que o professor deixe claro as bases nas quais se apoia para legiar esse ou aquele eixo de ago pritica. Essa premissa nfo énova, ymado Tyler, ainda na primeira metade do século XX, ja dizia fm suas teorias sobre o curriculo, ‘Quando o professor planeja sua agdo, ele vivencia as possibilidades estudante diante de um problema a ser resolvido. Assim, 0 proprio planejar numa proposta de ensino baseada em problemas se torna ia perspectiva de transformagdo da sala de aula num ambiente ador, isso porque o professor esté desafiado a construir um espago to artistica ou intuitiva do ato de planejar 0 ensino, “que apela Novas tamas para as técricas de ensno ¢estudo 87 para 0 bom senso de quem o exerce, sem esperar que um repertério de leis cientificas e um conjunto de técnicas o determinem” (ibidem, p. 209) ‘Também Eisner (1979, p. 180) discutiu a dimensao artistica do planejar o ensino apoiando-se em algumas caracteristicas importantes para a nossa discussio. O autor utiliza expresses como 0 jogo do curso dos acontecimentos ¢insiste em que 0 ato de ensinar no é uma atividade ‘que seja prescritiva ou que possa ser inserida em rotinas, mas articulada ldades © contingéncias imprev i com ideias, principios, contetidos /os presentes no campo da realidade da pritiea pedagogica. Em processos de planejamento abertos, torna-se necessério dos contetidos com outros contedidos de outras disciplinas, torna-se ‘um exereicio importante antes de qualquer ago. Assim, todo tema tem ‘uma razifo de ser no processo de formagio de um estudante, ¢ a antiga pergunta “para que estou estudando isso?” ¢ a permanente resposta “um dia vooé vai saber!” nao tém lugar nessa proposta, tal como est discutindo neste texto. professor, ao planejar 0 ensino, pode se ater em simplesmente organizar uma atividade com base em um problema e pode, ao contrario, plangjar uma unidade inteira utilizando-se de problemas centrais, segundo as duas propostas apresentadas por Nérici (1965 e 1989). Algumas dessas agdes podem nao significar para o professor um longo esforgo de lanejamento, mas apenas uma atividade rotineira de elaboragio de um iro. Depende de quao seguro o docente se sente no desenrolar de sua tarefa de ensinar. O importante, no entanto, é pensar que cada encontro pedagégico seja um momento de envolvimento pessoal e de reflexao, ¢ que ele deve ser, na medida do possivel, um momento agradavel, arativo, comprometido com a ago de ensinar ¢ aprender. Assim, o primeiro ¢ 8 Papius Edtors lis importante desafio do professor em seu trabalho é conseguir um biente de sala de aula que flua conforme o ritmo dos estudantes, com jizago capaz de manter o interesse geral num nivel que di atritos entre pares e que os estudantes se mantenham envolvidos laborativamente em atividades priticas relacionadas ao previsto. m0 organizar um processo de ensino por meio da resolugdo problemas? Embora os professores nao gostem de atuar seguindo modelos ais nem de decidir sobre suas praticas bascados em teorias ritas, tomna-se interessante pensar em alguns passos ou algumas importantes que fazem parte da construgio do ensino e do plano ibalho a ser seguido. Assim, apresentamos alguns desses momentos. Problematizacio ‘Todos os objetivos dessa proposta se dirigem para a ‘0 professor trabalhar com os estudantes as virias possibilidades de ontetio, construindo-se nesse processo os sentidos, os significados \perspectivas para o conhecimento do tema ou da area, Por um lado, sivel que essa fase seja apenas a construgdo de um norte eapaz de i aos estudantes a nogdo de tudo o que uma disciplina ou uma ica podem oferecer, caso sejam estudadas em profundidade. Por Jado, pode ser 0 momento de construgdo de um problema especifico nesse iltimo caso, 0 trabalho com a io logico, areflexdo € as propostas, a construgo da nogao de , custo/beneficios, possibilidades, consequéncias e viabilidade da ). O docente pode propor uma tempestade de ideias, e esses processos struturar vinculos importantes do estudante com o conhecimento a ibalhado. Esses exercicios promovem a motivagao para se aprender is, provocam descobertas e criam o desafio do novo. Novas vamas pare as téenezs de oncino eestudo 09 Dado o problema dentro de um tema, torna-se importante explorar suas possibilidades de solugdo ou os caminhos a serem seguidos em busca das respostas. Tais caminhos sero trilhados por meio das eseolhas realizadas, permitidas € vislumbradas, dentro de possibilidades de consecuaio pritica. Imaginemos como funcionou o garoto que criow o dispositive para resolver o seu problema com a campainha de sua casa, Quantas hipoteses hos, com a empresa ia ter autonomia para nto para, ento, pensar em fecnologias jcas? Também um problema relacionado educagio pode ter interfaces com as ‘com os fundamentos da psicol a filosofia, com a didt curriculo, ou mesmo com as tec Um processo de problematizay Ivez, a fase mais importante da solugo de um problema sma, construir 0 contexto no qual vai ser trabalhado, explorar as possibilidades de caminhos ¢ escolher as propostas desolugo. Ao problematizarmos, conseguimos desenhar melhor 0 sentido do problema que mais se aproxima do que desejamos aprender e solucionar. Delineamos suas finalidades e, nesse processo, selecionamos também o caminho a ser trithado para a busca das solugSes. yortante deixar claro aos envolvidos no processo que essa ativa para a definigio da propria solugiio do problema: ‘quando problematizamos e selecionamos as prioridades a serem dadas ¢ excluimos outras possibilidades. Esse processo definiré os resultados, de nossos trabalhos que poderiam ser outros se porventura tivéssemos escolhido outras busca das respostas. Esse detalhe demonstra as infinitas possil na produgio dos conhecimentos. Organizagio da ago ‘A importancia delineada pela escolha da metodologia de resolugso de problemas em ula se baseia nas chances de se conseguirem aprendizagens que tenham mais sentido ¢ significado porque estio 90 Popius Editors \das por argumentos construfdos pelos sujeitos em relagio s suas as necessidades de uso do que se aprende ou conhece. E 0 que faz: informagao se transformar em conhecimento. "Esse tipo de cireunstincia s6 € possivel quando trabalhamos em ia, docentes ¢ estudantes, estudantes com os proprios estudantes. existem motivages reais passiveis de as partes. A proposta exige que se erie um campo de interagdes rico afetivas, cognitivas e de habilidades praticas. E 0 espago do 10 em grupo, Solidério, cooperativo. © problema se coloca na roda, ado por alguém, seja professor, sejam estudantes, seja um estimulo No entanto, seria tempestade de ideias que surgird em tomo dele, lematizando-o, num processo de recriagdo dele mesmo que trard. a idade de articulagaio de vinculos de sentidos e significados para a sua Jugdio, Nesse sentido, construir uma organizaco de trabalho propria do to de discussiio e articulago do trabalho ¢ fundamental, © professor estar atento ao processo para maneiras alternativas de formagies de 5, podendo usar diferentes téenicas de dinimicas capazes de alternar lidades de debates ¢ estimular a autonomia ea criatividade, Todos de entender exatamente o caminho que esté sendo tragado, os rumos, 08 vos eas finalidades das ages previstas, e devem participar sugerindo, ‘ox complementando os passosa serem seguides para que o trabalho tega. Para isso, todos devem estar sintonizados na meta a ser atingida. ‘A indugao pedagégica ‘Atento a todas as fases e a todos os percursos, o professor deve mio de recursos variados para articular 0 processo, fortalecer a ¥io ao trabalho ¢ aprofundar as possibilidades de conhecimento, O de recursos didticos como filmes, de jomal, casos variados ‘vio conter os problemas semelhantes, ou complementares, so ytantes porque permitem que se construa um campo referencial de jas, valores, conceitos e opinides, capazes de mobilizar uma ago em de respostas plausiveis para a questio-chave. Novas ams para as cnicas de ensinoeestude 91 Como dissemos, a problematizagao se faz a partir do conjunto de outros problemas que giram em torno do problema-chave. Esses problemas serio formulados pelos estudantes, ¢, se a organizacao do ‘trabalho acontece em grupos, cada grupo de estudantes, com certeza, formulara perguntas diferentes uns dos outros porque trazem para a sala de aula experiéncias pessoais que orientardo essas questdes. Esti af a riqueza do processo. O professor precisa tempestade de perguntas e deve organizar o grupo para essa formulagio, iizando-se de mecanismos como o registro imediato das perguntas no quadro ou dividindo o processo em dois momentos, nos pequenos grupos primeiramente e depois o socializando para toda a turma, Outros ormatos podem ser propostos, sempre com o objetivo de ampliar 30 ‘maximo 0 campo de conhecimentos que aquele problema sugere. Nao devemos nesse momento pensar em recortar possibilidades, mas sempre em ampliar o campo referencial. Levantamento de possibilidades de resposta Alguns autores falam da formulag3o de hipéteses, mas as vezes isso ndo se torna necesséria, O levantamento de hipdteses, as tentativas de explicago das perguntas ou as situagBes probleméticas ja trazem as possibilidades de construgo de caminhos para a ago em busca de 0S termos que mais interessam na busca pelo conhecimento que esteja adequado 20 grupo de estudantes. Um trabalho de redacdo se torna interessante nese momento. Sugerir aos estudantes que se esclarega exatamente o que para eles & o problema, esclarecer os termos que vdo utilizar, ir em busca de algum texto que 0s auxilie teoricamente, como 0 dicionério, livros diditicos, de autores famosos ¢ outras referéncias, dependendo do nivel de ensino com que ‘estamos lidando. As bases tedricas permitem ampliar 0 conhecimento dos estudantes nessa fase. Se antes estavam basicamente usando as suas experiéncias, a partir de agora estardo jé em busca de informagdes que dario mais 92 Papius Edtora isténcia ao seu pensamento. A atitude de ouvinte passa a ajudar o fesse momento, j4 que se pretende a articulagdo entre 0 que se jpreviamente e aguilo com que os outros podem contribuir para «um bom momento para uma aula expositiva, em que o professor jita para organizar 0 pensamento, apres -novas ideias associadas Jas que estio sendo discutidas e per saltos de qualidade na jzagfio do processo. E um momento importante de verificagdo da rragtio da linguagem da rea, incentivando a interagio com base tulagdo de perguntas ao longo da exposigao. O professor pode, 4 fase, trazer davidas sobre algumas das hipéteses em construao, xdo ou debilitando algumas delas. Esse processo oferece respostas as questdes formuladas na fase sroblematizagao © permite que se descartem alternativas € que se rurem focos mais precisos. A busca por respostas ¢ 0 inicio de i nova fase, com a delimitagdio de caminhos mais produtivos. Nesse Jento os estudantes comegam a construir argumentos mais plausiveis ‘a solugio dos problemas do grupo, fase em que os estudantes \egam a entender o que significa uma verdade proviséria, conceito yortante quando se fala em conhecimento cientifico. Entendem que é sortante escutar, dar ouvidos e compreender pontos de vista diferentes, ue o diferente ajuda na argumentagao do seu proprio ponto de vista. dos de ser professor no ensino pela resolucao de problemas ‘Todo processo de ensino tem contetidos como foco. Esses {etidos fazem a mediagtio da relago pedagégica professor/aluno. No snto, o tipo de relagao com esses contetidos € que far a diferenga. fuma sala de aula em que se utiliza a resolugzio de problemas, a questo sta na perspectiva que seré dada a esse contetido. Nesse sentido, 1a das principais tarefas do professor ser preparar 0 ambiente de sprendizagem. O professor precisa entender que uma boa aula, ou uma proposta de ensino, merece investimento. Trata-se de investimento recursos didéticos, em mecanismos e dispositivos diversas capazes Novas tramas para as téencas de ensino eestudo 83 de surpreender o estudante, mobilizé-lo, desafié-lo, retirando-o das rotinas académicas, criando o desejo pelo conhecimento € gostando do seu papel de aprendiz. permanente. Noticias de jornel, ‘4808 reais, filmes, textos com pontos de vista diversos podem ser bons estimulos para desenvolver um processo de ensino por meio da resolugio de problemas. O estimulo inicial deve ser selecionado pelo professor ¢ deve ser adequado ao grupo de estudantes. O professor deve ter em mente que assuas agdes serio dirctamente responsiiveis pelos futuros investimentos dos estudantes no processo de aprendizagem, assim como é de sua tesponsabilidade a organizagao de uum ambiente que seja favordvel As discussdes livres, espontaneas, que vflo manter 0 interesse dos estudantes ao longo das agdes pretendidas. A partir «da proposta motivadora da agao, & o professor que organiza as propostas deestudo da temética, Precisa saber antever, nesse contexto, as interfaces do problema na perspectiva de levantar 0 maximo de hipsteses possiveis num processo exploratério. E possivel que o grupo de estudantes traga novas ideias e novos problemas, ¢ 0 professor deve estar aberto ao novo € a0 inusitado, deixar o grupo assumir o espago de protagonista da ago exploratéria, Como ja dissemos, a tempestade de ideias, com registros nna Jousa branca ou no quadro-negro, com a participago de toda a classe ‘ou mesmo em pequenos grupos com o estimulo do professor, permite que também o professor amplie seu campo de conhecimentos sobre 0 assunto ou inicie novos processos de organizagao do tema. E importante que 0 professor mesele o tempo da aprendizagem com, trabalhos em grupo, individuais ¢ coletivos, para que todos acompanhem ‘© processo de busea de respostas e soluedes para o problema e para que (8 questionamentos ¢ as aproximagdes das solugdes se transformem cm estimulo para uns ¢ outros. Fssa metodologia de trabalho promove a participagao € mantém o desejo pela resolugaio em razao do ambiente de jogo que se instala, no qual grupos entram em competicao uns com outros ou se predispdem @ encontrar a resposta em primeiro lugar. A mediagao do professor se toma bastante proveitosa quando ele consegue ‘mesclar as possibilidades de participagao coletivas e individuais e quando todos participam, questionam, propdem e do opinies a respeito do que 94 Papirus Editora ndo discutido, Nesse ambiente o professor deve i organizando a Jpagao por meio dos registros das ideias formuladas no grupo, para studantes acompanhem raciocinio ¢ ao mesmo tempo percebam wergéncias ¢ divergéncias de opinides ¢ encaminhamentos. O ir deve estar atento @ quantas rodadas forem necesséa jento final com a solugdo do problema. Sempre que for poss pro idades que complementem e forneg hecimento capazes de ampliar o horizonte de racio sma em questo. Assalas de aula devem se organizar como lugares onde 0 professor \ mente, um mediador do conhecimento socialmente incertezas sobre as certezas que tem, tenha \gbes Sociais e desejo de apreensdo e renovagao ptdprios conhecimentos. Perceba que estar em sala de aula é uma dade a mais para saber mais e valorize esse momento como um 10 desafiador repleto de perguntas, de problemas e de interessantes bes do nao saber. Que as salas de aula sejam lugares onde se ita articular ideias e onde a ago colaborativa seja uma realidade com \ces de participagdo de todos, um espago significative de interagées wenitivas, afetivas e de crescimento pessoal, um lugar da busca ‘eonhecimento concreto. Se um professor ainda nao esté acostumado com a proposigao de tas, mas esti desafiado a comegar essa tarefa, sugere-se que cle sme a sua prépria proposta de curso em um desafio aos estudantes, julando a seguinte pergunta no primeiro encontro: seré possivel icando o pretendido? Essa seria uma boa ta para comegar a estruturar uma relagdo em sintonia, ideragdes finais amos este texto trazendo numerosas questdes que hoje fazem do pais. Todas elas merecem respostas € Ini do contexto edu Novas tramas para as técricas de ensino @estudo 95 merecem agdes priticas ¢ politicas publicas capazes de solucionar os problemas que acarretam, Poderiam se transformar em bons problem: para as salas de aula dos cursos de pedagogia e licenciatura do pai Trouxemos, ainda, como eixo das nossas discussbes, a possibilidade de organizar o ensino por meio da resolugao de problemas, acreditando que ssa proposta possa oferecer novas bases para alguns dos problemas que’ hoje afetam as interagdes entre professores, estudantes e 0 conheciment Sugerimos até que essa proposta permitiria uma aproximaggio maior entre professores e estudantes. Acreditamos que a acto didatica deva estar cireunscrita mum campo de forgas que se oriente sempre para um contexto de mais aprendizagen: ‘mais desafios inteligentes, mais mobilizagao em tomo do didlogo sobre ensinar ¢ 0 aprender. O professor, reconhecendo os seus limites no caso de alternativas teenologicas, por exemplo, poderd buscar parcerias com seus estudantes e obter mais aproximagdes, adesdes e didlogos sobre os, temas que estio em questiio. Nos nos referimos ao modo de ser professor, mas & impor near também 0 modo de ser aluno nessa proposta, a qual, cen na resolugio coletiva de problemas, exige o didlogo, a parceria, a civilidade na condugao dos trabalhos, a ética e a solidariedade com 0 outro, o colega ou o professor. E, um processo de reeducagiio que se faz: nna pratica eno fazer. Escola e sala de aula se transformam em espagos de conhecimento vivo, trabalho e formagao, nao como coisas fragmentadas, ‘mas como processos indissocidveis. O difilogo entre os sujeitos, problemas ¢ a realidade exigem conhecimentos diversos que vio das regras e das preserigdes, mas que as exigem também. Os contetidos historicamente acumulados, presentes nas propostas curriculares tradicionais, ou em programas ementas dos cursos regulares, estio presentes por meio dos contextos nos quais os problemas se inserem Nao ha necessidade de preocupaedo em relagiio a isso. Essa proposta favorecerd a ampliagiio desses conhecimentos, com certeza. 0 professor tem por tarefa organizar suas atividades de modo que estas sejam desafiadoras 0 suficiente para criar um ambiente de desejo 96 Paprus Edtora jconhecimento. E ¢ fundamental favorecer a compreensdo de que todo imento é uma produgao social, produto de interagdes € processos iatizacdo dinamiicos, perspectiva epistemolégica presente nessa esta. Torna-se também tarefa do professor ajudar o estudante na juista da organizagio de espagos de trabalho mais colaborativos, pes, com valores partithados e ambiente, democraticamente, lo por todos; espagos em que professores e estudantes interajam de respostas aos problemas propostos e onde todos se sintam ponsaveis pelo bem comum, pela aquisigtio de conhecimento & aprendizagens priticas. Nesse clima, é possivel que as interagdes ‘construidas com mais efetividade © mais aprendizagens, Sabemos que nem todo professor domina todas as tecnologias novos tempos, ¢ nem todos os professores tém os mais modemos lets saidos no mercado. No entanto, essas tecnologias existem € conseguimos ignoré-las porque acabam por se fazerem presentes, \do-se fundamentais para a configuragao de um modo de ser professor ilempordineo ou pelo menos sintonizado com a contemporaneidade. Os 30 anos realizaram uma revolugao tecnolgica semelhante Aquela na época dos grandes descobrimentos maritimos em que foi islumbrar novos mundos ¢ uma nova mentalidade comegou a jpercebida, Séculos depois, retomando as origens das escolas publicas, século XIX, encontramos em sua discussio os fundamentos da jolugio Francesa, da Revolugdo Industrial e temos, como argumento imental para a criagdo dos sistemas de ensino, a importincia da iio dos conhecimentos segundo uma nova mentalidade baseada na ia, que exigia novas formas de interagdes entre os cidadios. Eram as tecnologias criadas naquele momento. ‘Nao seria possfvel dizer que estamos vivendo uma nova revolugao, novos problemas relacionados as interagdes com o conhecimento? contexto, nao seria importante criarmos novas configuragdes para espagos de sala de aula ¢ para a relagdo entre professor, estudantes & thecimento? ‘Novas tramas para as técnicas de ens @estudo 97

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