Você está na página 1de 10
EER on _ Capitulo Dois CONTROLABILIDADE SESH es Eee te Desam . 7 como sicold; sucede freqiientemente trolével? Qual é s. O que € evento incon- Um bom pealo 7 pene do controle na vida dos organismos? nossa intuigio: um evento és trol nee Fares Neerigreete ToT Ty ae nada podemos arene y ianta fazer nada. Expl nossa intui¢do com alguns Sct canal i exemplos. Ai entdo estarei i ges de definir rigoro Bide ot s de samente o que é incontrolabilid assim identificar numerosos € vari Se eee variados fenémen surpreendentes) como casos de desamparo. eet Sua filha de cinco anos intal vem do quintal e ent s estd chorando e com a perna sangrando. Como pai cuidadoso, , ot alguns conhecimentos de primeiros socorros, vocé aplaca seus solugos com palavras de conforto e com um abrago. Depois vocé lava seu joetho, descobrindo um corte de tamanho médio; voc’ limpa o corte ¢ impede que o sangue continue a escorrer colocan- do uma compressa. Enquanto vocé faz tudo isso ela comeca a chorar de novo, e entdo, para apaziguar seu Animo, vocé Ihe conta uma estéria de quando machucou o brago quando tinha seis anos. © choro logo para. Vocé pde um pouco de merciirio-cromo ¢ esparadrapo. Sua menininha est4 de novo feliz, e o sangue estancou. Nesse exemplo simples, repare que em todas as fases vocé exet~ ceu controle ativo sobre o problema de sua filha. Foram suas horo; ao limpar ¢ pensar proprias agdes que fizeram passar 0 cl ferida, vocé garantiu uma cicatrizagaio adequada. E em meio a tudo isso, vocé habilidosamente acalmou-a e aliviou um pouco de sua dor ao contar-Ihe uma estéria, Sem a sua intervengio as coisas poderiam ter sido um pouco piores. Considere agora a seguinte seqiiéncia do exemplo. Nessa noite yocé acorda com sua filha chorando — ela esta com febre alta ¢ a perna inchada, ¢ notam-se yergées vermelhos em volta da ferida. Vocé a conduz a toda pressa para o pronto-socorro de um hospital, onde fica esperando durante trés horas, enquanto enfermeiras, aten- dentes e médicos passam por vocé, ignorando-o. Sua filha continua a chorar ¢ a suar. Frustrado, vocé agarra um residente que passa & comeca a contar-Ihe o problema; ele nao ouve, € sai apressada- mente pedindo-lhe que seja paciente. Vocé vai até a portaria; acon- tece que os formuldrios que vocé tinha preenchido se extraviaram, de forma que é preciso preencher outros. Finalmente, as sete horas da manha, um médico leva sua filha para a sala de exame; meia hora depois ela esta de volta. O médico Ihe diz que aplicou uma injegdo, e sem mais explicagdes sai para atender 0 proximo pacien- te. Dentro de poucas horas sua filha est4 recuperada. Nessa cena, a maioria de suas agdes nao teve nenhuma serventia. O pessoal do hospital nao ouviu sua queixa, perdeu seus formul4- rios e ignorou seu pedido de explicagdes; sua filha se recuperou sem que vocé tivesse tido influéncia sobre isso. O curso de eventos foi incontrolavel — o resultado final foi independente de cada uma de suas respostas voluntarias. Esta ltima frase contém uma definicdio rigorosa de incontrolabilidade. Os dois conceitos cruciais sao resposta voluntdria e independéncia entre resposta e conse- qiiéncia; esses dois conceitos estado intimamente relacionados. RESPOSTAS VOLUNTARIAS As plantas e a maioria dos animais inferiores nao tém capaci- dade para controlar os eventos de seu ambiente; simplesmente reagem a eles. O caule da tulipa reage a luz crescendo em sua diregao; a raiz cresce em diregio oposta. A ameba reage a um pedago de alimento abragando-o com seus pseudépodos e envol- vendo-o. Porque chamo a esses movimentos meras reagdes e nao respostas voluntdrias? O que esté errado se eu disser que esses movimentos realmente controlam certos eventos no ambiente do organismo? O que falta a esses movimentos é_plasticidade_— eles nao se alteram quando ntingé mento e sua conseqiiéncia, 0 aos estimulos que produzem. Se, no caso da ameba, um experimenta- dor invertesse a contingéncia, alimentando-a apenas quando ela n&o envolvesse o nutriente, a ameba nao seria capaz de alterar seu 13 — mais que se repetisse o malogro na alimenta. um experimentador jamais conseguiria treinar as raizes de uma tulipa a crescer para 0 alto dando-lhe Agua apenas quando crescess¢ em diregio ao sol. Em resumo, chamarei respos- tas voluntarias “) somente Aquelas que possam ser_modificadas por compensas ou _punigdes. - a teristica dessas respostas € que elas sero executadas mais freqiientemente se forem recompensadas, e serdo cerceadas se forem punidas. Respostas que nao sao sensiveis a recompensa € punigdo so chamadas teflexos, reagdes cegas, instintos, ou tro- pismos. Na frase seguinte vou escrever voluntariamente a palavra “pimenta”: se me derem um milhio de délares por escrever “pimenta” eu certamente o farei — posso até escrever duas ou trés vezes, por via das diividas; se me derem um forte choque elétrico por escrever “pimenta”, ninguém vai ver essa palavra escri- ta. Por outro lado, a contragiio da pupila de meu olho sob incidén- cia da luz nao é voluntéria; mesmo que me prometessem um milhio de délares por nao contrair minha pupila sob incidéncia de luz, ainda assim ela se contrairia ©). As respostas voluntarias constituem o interesse tinico de uma importante abordagem de teoria de aprendizagem em psicologia — a do condicionamento operante, fundada por E. L. Thorndike e desenvolvida e popularizada por B. F. Skinner. Embora os deta- Ihes dessa drea possam parecer misteriosos ao aluno, a premissa pdsica, encoberta, da doutrina operante é simples: estudando as leis das respostas que podem ser modificadas por recompensa ou puni¢io — chamadas respostas instrumentais ou “operantes” por- que “operam” no ambiente — os psicdlogos que se dedicam ao condicionamento operante acreditam que descobrirao as leis do comportamento voluntario em geral. A nogio de resposta operante é importante para minha definigado, néo porque ratos pressionando barras ou pombos bicando discos para ganhar alimento me fascinem intrinsecamente, mas porque essa nogdo corresponde muito bem ao que quero dizer com resposta voluntéria. Quando um organismo nao tem condigéo de executar nenhuma resposta operante que alte em determinada conseqiiéncia, direi que essa conseqiiéncia Enquanto o condicionamento operante estuda as respostas volun- tarias, a outra grande dimensio da teoria de aprendizagem — con- dicionamento pavloviano ou cléssico — cuida apenas das respostas que nao sfo voluntérias. Em um experimento tipico de condicio- namento pavloviano, uma pessoa ouve um rufdo e logo em seguida Tecebe um choque elétrico breve porém doloroso. O ruido & cha- mado estimulo condicionado (CS) e o choque estimulo incondi- comportamento, por cdo. Analogamente, 14 cionado (US); a reagio de dor causada pelo choque é a resposta incondicionada (UR). A certa altura do processo a pessoa con- segue antecipar 0 choque: ao ouvir 0 som, comega a suar € seu ritmo cardiaco se acelera. Essas respostas antecipatérias sio cha- madas respostas condicionadas (CR). E fundamental notar que as respostas condicionadas nao exercem controle sobre 0 choque; a pessoa recebe 0 choque independente de ter suado ou nao. O que define um experimento pavloviano ¢ o distingue de um experimento operante.é precisamente-o-desamparo. No condicionamento classico nenhuma resposta, condicionada ou nao, pode alterar 0 CS ou 0 US; ao passo que no experimento operante tem que haver uma resposta que obtenha gratificagdes ou alivie penas. Dito em outras palavras, na aprendizagem instrumental o sujeito dispde de uma Tesposta voluntéria que exerce controle sobre conseqiéncias, enquanto que no condicionamento pavloviano ele se acha desam- parado, INDEPENDENCIA DE RESPOSTA E CONTINGENCIA DE RESPOSTA Resposta voluntéria 6 aquela que aumenta em probabilidade quando recompensada e diminui quando punida. Quando uma resposta é explicitamente recompensada ou punida, é ébvio que a conseqiiéncia é dependente da resposta. Mas o significado preciso de dependéncia de resposta e independéncia de resposta é um dos temas mais complexos da moderna teoria de aprendizagem. Como seria natural, a teoria da aprendizagem partiu das premis- sas mais simples sobre aprendizagem. Quais os tipos de relagio entre ages e conseqiiéncias que homens e animais sio capazes de aprender? A primeira resposta a essa pergunta foi radical: a apren- dizagem somente ocorre quando a resposta do organismo € seguida imediatamente por recompensa ou por punicdo. Por exemplo, uma vez por dia, as 9 horas da manh, vocé entra no saguao do edificio do seu escrit6rio; trinta segundos depois vocé aperta o botio do ele- vador, e ao cabo de outros trinta segundos 0 elevador chega. Isso acontece todos os dias, religiosamente. Esse tipo de pareamento simples entre resposta e conseqiiéncia, chamado refor¢o continuo, nao exaure as contingéncias passiveis de aprendizagem; também pode haver aprendizagem se vocé der uma tesposta ¢ nada acontecer como conseqiiéncia. Por exemplo, um dia vocé aperta o botao e o elevador nao vem (talvez tenha acabado a forca). Obviamente vocé nao fica apertando o botdo eternamente; decorrido um certo tempo vocé desiste e sobe a pé. Esse tipo de aprendizagem é chamado extingdo: uma resposta que antes pro- 15 duzia um determinado efeito agora nao prod F sendo, os tedricos da aprendizagem admitirag nada, Assim respondem tém capacidade de apreender dois tipo dey Seres que _-> migicos”: pareamento explicito entre resposta © conse Mentos ngo-pareamento explicito. Chamo momentos mégicos Seqiiencia, ¢ _tingéncias_a fim_de ressaltar seu aspecto instantineo: essas con- Tazio para serem consideradas como contingéncias fund cipal & sua ocorréncia quase que fotogréfica — nao é netes arenas integragéo complexa ao longo do tempo para que sun Tio uma seja codificada e armazenada. ‘ Meméria Mas esse esquema est4 longe de descrever tudo que aprendido, No final da década de 1930 L. J. Humphre: Pode ser Skinner descobriram, independentemente, 0 reforco aie F intermitente, complicando razoavelmente as coisas (3) Pore ou plo, na segunda e na terga-feira, de manha, vocé aperta obo do elevador e ele chega, na quarta e na quinta vocé aperta 9 toile mas © elevador nao vem, e j4 na sexta-feira ele esté funcionands novamente. Se o elevador finalmente encrencar de vez, eid dias vocé continuar4 apertando o botao até desistir e ir dlireta mente para a escada? Se vocé foi submetido primeiramente a refor- go parcial, vai apertar o bot&o por algumas semanas antes de desistir; mas se teve apenas reforgo continuo, em poucos dias estar4 desistindo. Tanto seres humanos como animais aprendem rapidamente que suas respostas sao seguidas pela respectiva conseqiiéncia apenas de forma intermitente. Além do que, isto aprendido, essas respostas tornam-se altamente resistentes 4 extingao. Para entender esses fatos precisa-se de um organismo ligeiramente mais complicado: um organismo que possa justapor os dois tipos de momentos — ndo-pareamento explicito e pareamento explicito — e chegar a uma média. Em outras palavras, seres vivos tém capacidade para, aprender “as vezes” ou “talvez”, da mesma forma que src “sempre” e “nunca”. A Figura 2.1, ilustra essa relagio de um modo genérico. Reforgo Reforco Extingéo parcial _ | 0 0,5 1,0 p(c/R) Figura 2-1 — Probabilidade da conseqiiéncia (C) quando a resposta (R) é emitida. O que acontece quando uma dada conseqiiéncia ocorre ainda que vocé nao tenha respondido? No esquema de reforgo parcial e nos casos mais simples nunca acontece de haver reforgo quando a Tesposta ndo é emitida. E, no entanto, os seres capazes de aprender sio suficientemente complicados para aprender que é possivel a ocorréncia de conseqiiéncias mesmo quando nao emitiram uma Tesposta especifica. Em linguagem operante essa contingéncia é chamada DRO — reforco diferencial de outro comportamento (ver Figura 2.2)“: Voltando ao nosso exemplo, um dia vocé 10 te Reforgo ~ diferencial o 5 de outro - comportamento a 0 Figura 2-2 — Probabilidade da conseqiiéncia (C) quando a resposta (R) nfo é emitida. A auséncia de R é designada R. simplesmente pdra na frente do elevador sem apertar o botéo, mas mesmo assim 0 elevador chega. Pode ser que demore, mas vocé vai acabar aprendendo a se conter e nao apertar o botdo, se esse elevador estiver regulado para fun- cionar s6 quando 0 botdo nao for pressionado. Aqui nés temos dois outros tipos de momento magico, além do Pareamento e do nao-pareamento explicito entre resposta e conseqiléncia: vacé pade ndo_responder_¢ assim mesmo set_reforcado; ou vocé pode nao responder € ndo ser reforgado; como no caso do pareamento e do néo-pareamento explicitos, esses dois momentos podem vir em seqiiéncia intermitente. Por exemplo, durante dez dias vocé niio aperta o botao; em sete desses dias o elevador vem, mas nos outros trés nao, Por trinta segundos () Esse tipo de aprendizagem ainda supde um mecanismo de apren- dizagem razoavelmente simples, se o organismo apreender separa- 17 damente as conseqiiéncias de responder eas conseqiiéncias de responder; no entanto, organismos que de todo siio capazes de aprender podem captar essas_duas dimensdes ao mesmo tempo, Considere uma complicagio final no nosso exemplo: as vezes o elevador chega em trinta segundos quando vocé aperta 0 botio, mas chegue dentro dos mesmos trinta € igualmente provavel que ele cheg segundos se vocé nao apertar 0 botdo. Todos os quatro momentos ai mo elevador em varios dias: apertar magicos ocorrem com 0 mes! el ar rt botio/elevador, apertar botio/ndo-elevador, néo-apertar botio/ elevador, ndo-apertar botio/nao-elevador. O que voce aprende sobre a relagio entre suas respostas ¢ a chegada do elevador? Vocé aprende que a probabilidade de o elevador vir ou nao vir 6 a mesma, quer vocé aperte o botio ou nio. Chegamos & esséncia do significado de independéncia de resposta. ~~ Dada qualquer resposta e sua conseqiiéncia, as probabilidades dos quatro momentos migicos podem ser representadas por um ‘nico ponto no espaco de contingéncia de resposta (Figura 2.3). 1,0 p(c/R) 2 a Reforco Reforco parcial continuo t 05 70 Extingao p(C/R) Figura 2-3 — Espacgo de contingéncia de resposta. O eixo horizontal, ou eixo de x, refere-se a P(C/R), enquanto que o eixo vertical, ou eixo d ‘2 2.1¢2.2). le y, refere-se a p(C/R) (ver Figuras Consit inha jose ee ie a 45° de um espago de contingéncia de res- Piiencia € a meta, j dessa linha, & probabilidade da conse- Sma, quer a resposta ocorra quer niio. Ouando a 18 probabilidade de uma conseqiiéncia é a mesma oe oe nada resposta ocorra ou nio, a conseqiiéncia é inde sa resposta. Quando isso for verdadeiro para todas as respostas volun- tdrias, a conseqiiéncia é incontroldvel. ; Reciprocamente, se a probabilidade de uma conseqiiéncia, dada uma resposta, for diferente de sua probabilidade quando a resposta nao é dada, temos que a conseqiiéncia é dependente dessa Tespos- ta: a conseqiiéncia 6 controlével. Qualquer ponto que se desvie da linha de 45° implica em alguma controlabilidade. Por exemplo, se eu Ihe der um tapa na mio cada vez que vocé tentar pegar a lata de bolachas, vocé tem a possibilidade de controlar os tapas: a probabilidade de levar um tapa ao tentar apanhar a lata é 1, mas se vocé ndo tentar pegar a lata nao levara tapas. Entretanto, se de qualquer jeito eu lhe bater, quer vocé tente ou nao pegar a lata de bolachas, os tapas séo incontroldveis e vocé est4 desam- arado. ,, Chegamos agora — de forma quase indolor, espero — a uma \ ‘definicgdo rigorosa das circunstancias objetivas sob as quais ocorre o yr \ sampar: uma pessoa ou animal est4 desamparado em relagio \ conseqiiéncia quando-esta-ocorre-independente de qualquer \ cdiiereisorme-votentdrias, No processo de elaborar essa definig&o, orientei-me para uma perspectiva de aprendizagem mais complexa do que a adotada pelos Pprimeiros tedricos. Os organismos podem aprender que suas res- postas produzem uma conseqiiéncia associada a certa probabili- dade, e que nao responder produz uma conseqiiéncia associada a certa probabilidade, mas nao s6 isso; podem também juntar essas duas relacées. Isso supGe a capacidade de integrar a ocorréncia dos quatro tipos de momentos magicos ao longo do tempo e chegar a uma estimativa global da contingéncia. Embora a expressio formal da aprendizagem de contingéncias seja mais complicada do que a da aprendizagem de momentos magicos, isso nao significa que ela tenha que ser mais complexa do ponto de vista psicolégico. A correspondéncia entre complexidade formal e complexidade psicolégica nao é obrigatéria. Aprender que eventos sio independentes de respostas ocupa um lugar basico, simples, e indispensdvel, na vida real dos homens e dos animais. Nao precisa ser um processo consciente ou mesmo cognitive quando eu tinha dois anos e meio, sabia que o fato de chover ou fazer sol no domingo era independente de meus desejos. Tinha absoluta certeza disso, embora s6 viesse a entender 0 conceito abstrato de independéncia de resposta vinte anos depois. Quando um rato aprende a pressionar uma barra por alimento, deve tam- 19 anar a cauda nfo tem ni ue uma resposta control; ada a ver com 5, . a implica em ter também. ‘uma conseqiiéncia I Aprendido ‘a [| ymplica i que outras res jlo a \ lam. Seria melancolicamente mal adaptativo patina oes Conseguisse aprender isso, : © animal que io Os experimentos sobre superstigio A teoria e pesqui 7 . . te posse har srenanges ame renin sheen ao vtnelas astio fora de controle do organismo. Uma boa parte sa ografia sugere 0 contrério. Trabalhando em suas investiga- goes em 1948, B. F. Skinner deixava cair quirera perto de pombos famintos a intervalos breves ¢ regulares. Nada do que os pombos efetivamente faziam tinha influéncia sobre a queda dos grios; o alimento era incontrolavel. Skinner observou que, ao final do treinamento, cada um de seus pombos estava, a rigor, fazendo alguma coisa: um estava bicando, outro pulava no centro da gaiola. Afirmou entio que isso era comportamento supersticioso — algo como dar a volta por uma escada ao invés de passar por baixo. Na linha de argumentagiio de Skinner, qualquer coisa que o pombo estivesse fazendo no momento da queda do alimento seria objeto de reforgo, e conseqiientemente aumentaria de freqiiéncia. O que, por sua vez, tornaria mais provdvel que a ave estivesse fazendo a mesma coisa quando o préximo grio caisse. Vemos aqui a posicdo extrema na teorizacao do momento migico: sé so levados em conta os momentos em que o reforgo se segue a uma resposta; uma resposta nao perde forga pelo fato de ocorre- rem reforcadores na sua auséncia, Esta implicita nesse_ponto de vista a crenga de que animais (assim como pessoas) nao podem aprender que qualquer resposta que porventura executem é inde- pendente de reforgo. Apresentarei muitos exemplos em que transparece que a apron. dizagem de independéncia de resposta ndo s6 pode ocorrer, des ae realmente ocorre, de forma confidvel e com consenilences ts trosas. Mas como vamos explicar os resultados te Sane En re © verdadeiro comportamento supersticioso sem div 7 sooeeurida os homens, creio que os resultados dos pombos tém écie e do alidade, creio que sio um artefato resultante da esp oe Bee eee ctorco especifl i Skinner. Seu experi esquema de reforgo especifico escolhido por | te elisa € mento é, provavelmente, um caso de condicionamenta oa fol io de aprendizagem instrumental baseada oa ren vce ei ‘demonstrado que certas respostas nio arbitr4rias ap’ pombo quando se dé alimento a intervalos regulares ¢ curtos; essas respostas siio, do ponto de vista bioldgico, altamente preparadas e pré-programadas “), J, E, R. Staddon e V. L. Simmelhag, que reanalisaram os dados referentes a superstigfio em pombos, acredi- tam que os pdssaros executaram as respostas tipicas de animais de sua espécie quando estdo famintos ¢ & espera de alimento , Essas respostas nao sfo supersticiosas; nao ficaram gravadas devi- do a fortuitas coincidéncias entre sua emissio e a presenca de alimento. Ao contrario, sio respostas especificas da espécie, pet- feitamente semelhantes as de um co lambendo os beigos quando & espera do jantar. Minha conclusio de que, em certas circunstdncias restritas, a apresentagao de reforcadores independente de respostas pode levar ao condicionamento classico de respostas especificas da espécie, adequadamente adaptadas, através da evolugdo, para aquele tipo de reforcador. Essas respostas podem ser facilmente confundidas com respostas instrumentais “supersticiosas”. O resultado mais comum, entretanto, como veremos, € o desamparo; animais € pes- ! soas desamparados nao dao a impressdo de ter aprendido cone-/ xGes supersticiosas entre suas respostas e reforgadores — ao contra- | rio, dio a impressio de que aprenderam a ser extremamente| passivos. Definimos as circunstancias objetivas sob as quais um evento é incontrolavel. Muitos tipos de perturbagdes comportamentais, cog- nitivas e emocionais s4o0 conseqiiéncia de incontrolabilidade: cies, ratos e homens tornam-se passivos diante de traumas, so incapa- zes de resolver problemas simples de discriminagao, desenvolvem Uilceras estomacais; gatos tém dificuldade em aprender coordena- G40 de movimentos; e alunos de faculdade tornam-se menos com- petitivos. No préximo capitulo, examinaremos cuidadosamente os estudos paradigmaticos de incontrolabilidade que levaram as minhas formulagées sobre desamparo. 21

Você também pode gostar