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132288-Texto Do Artigo-252807-1-10-20170515
132288-Texto Do Artigo-252807-1-10-20170515
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Este artigo é a versão modificada do 2° capítulo da minha dissertação de Mestrado defendida junto ao
Departamento de Ciência Política da USP, sob o auspício da CAPES. Agradeço aos pareceristas da
revista pelas valiosas sugestões feitas com base em atenta leitura da primeira versão, cabendo-me,
naturalmente, a exclusiva responsabilidade pelo texto final.
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Leviathan – Cadernos de Pesquisa Política, n. 3, pp. 222-271, 2011.
Resumo
1. Introdução
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RÉ, Flávia M. Estados Unidos e América Hispânica: espelhos para uma jovem República.
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Com a Proclamação da República em 1889, a diferença de regime não mais existia como elemento de
diferenciação e distanciamento entre o Brasil e as Repúblicas hispano-americanas. Entretanto, o Brasil
republicano reforçaria assim, uma tendência de aproximação com os Estados Unidos. Como observa
Oliveira Lima: “De começo o Império tinha contado muito com a simpatia britânica porque a cisão do
Reino Unido favorecia os interesses comerciais ingleses, e da Inglaterra se importou o constitucionalismo
como sistema de governo; mas a tendência de aproximação política foi mais pronunciada para o lado da
América do Norte. Das repúblicas neo-espanholas distanciavam o Brasil antipatias peninsulares herdadas
e transplantadas e prevenções filiadas na sua natureza imperial que parecia pronunciar absorções e
emulações”. (Oliveira Lima, s. d., p. 469-470).
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Sobre o período em questão, Antonio Candido, expressa que “foi nele que se desenvolveu a reflexão
mais sistemática sobre a América Latina, em escritos devidos a homens de elevado porte mental, como
Joaquim Nabuco, Sílvio Romero, Eduardo Prado, Oliveira Lima e um menos ilustre mas sem dúvida mais
lúcido neste terreno, Manoel Bomfim”. (Candido, 1993, p. 132).
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Para Alonso, com a instauração da República, em 1889, o debate político-intelectual brasileiro ganhou
nova estruturação, sobrepondo duas clivagens: “A primeira refere-se ao contexto político e aos conflitos,
palpáveis e nevrálgicos, acerca do formato e dos mandatários do novo regime. [...] A outra clivagem,
menos lembrada, e de visibilidade mais difícil, diz respeito ao contexto social de luta entre os estratos
sociais dominantes na monarquia e os estratos ascendentes com o novo regime”. (Alonso, 2009, p. 133).
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O florianismo ficou próximo a que Vovelle chamou de “jacobinismo transhistórico”: “o termo „jacobino‟,
assim como o conceito de jacobinismo, pertence a este registro excepcional em que uma palavra,
escapando de seu limite geográfico e do contexto histórico de seu nascimento, reveste-se de um
significado mais geral, que designa, para o bem e para o mal, uma atitude, um comportamento e até uma
visão de mundo. [...] o jacobinismo não remete diretamente a um sistema social ideal determinado. Ele é
geralmente associado ao sistema de valores nascidos da Revolução Francesa, mas seu conteúdo
democrático não é universalmente reconhecido. Ele chega a ser contestado, na medida em que seu
conteúdo é ambíguo e discutido (burguês ou popular?). Ao invés de se fechar em um programa preciso, o
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jacobinismo se caracteriza – como foi dito de diversas formas – por uma „maneira‟”. (Vovelle, 2000, p. 25-
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Como seus sucedâneos franceses, “eles conservaram um prestígio tradicional, fortemente psicológico,
[..] mas tinham perdido as bases reais do poder. Foram incapazes de manter seu estamento”. (Auerbach,
2007, p. 247).
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Essas experiências lhes renderam a base de uma série de artigos de viagem sobre centros urbanos:
“Chicago é a cidade mais brutal do mundo. Estou na realidade extenuado com a viagem e ansioso para
ver-me livre deste país que é uma fornalha e onde para abrir-se a boca paga-se um dólar e outro para
fechar-se. Decididamente o mundo é Paris”. (PRADO, 1902-1903 apud SKIDMORE, 1994, p. 54). Pode
ter havido outro fator para que Prado atribuísse tanta antipatia aos Estados Unidos, como sugere Gilberto
Freyre: “Há quem atribua – recolhemos a informação de pessoa idônea, antigo Ministro de Estado que
teve acesso a documentação numerosa e a gossip quase oficioso sobre as atividades brasileiras no
estrangeiro – o ódio sistemático em que se aguçou em Eduardo Prado a antipatia [...] aos Estados
Unidos, a certa experiência infeliz que o ilustre paulista teria tido em barbearia elegante daquela
República: erradamente tomado por negróide – era de fato muito moreno, podendo ser confundido com
um indiano em trajo tropical – teriam lhe recusado serviço na tal barbearia, alegando o „color bar‟. Que o
estrangeiro desculpasse, mas aquela „shop‟ era só para gentlemen brancos. O ressentimento pessoal,
estendido a atitude de publicista, explicaria o antiianquismo sistemático que fez Eduardo Prado – na
Europa tratado como um príncipe [...] escrever um dos livros mais veementes aparecidos no Brasil na
época: A ilusão americana”. (Freyre, 2000,p.152).
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A defesa apaixonada de Eduardo Prado pela Monarquia não encontrava ressonância em sua família.
Eduardo era o quarto filho homem de Veridiana Prado. O mais velho, Antonio da Silva Prado, grande
cafeicultor, teve intensa vida política: foi Ministro da Agricultura (1885), Ministro dos Negócios
Estrangeiros (1888) e Conselheiro do Império. Abolicionista de última hora, aceitou a República,
elegendo-se em 1890 deputado à Constituinte. Foi prefeito de São Paulo de 1899 a 1910 e, em 1926,
com 86 anos, foi um dos fundadores do Partido Democrático de São Paulo. O segundo filho, Martinico
Prado, também fazendeiro, era republicano de longa data. Caio, o terceiro, faleceu em 1889.
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Os títulos são: “Destinos políticos do Brasil”; “Os acontecimentos do Brasil”; “Práticas e teorias da
ditadura no Brasil”.
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O livro de Eduardo Prado (1860-1901) contra um relacionamento mais estreito com os Estados Unidos
não foi bem visto no momento em que Floriano Peixoto buscava o apoio norte-americano para conter a
ameaça dos seus oficiais rebelados, em um meio bastante conturbado, decorrente da Revolta da Armada.
Quando esta fracassou, foi forçado, junto com outros monarquistas, a fugir do Brasil. Sob o decreto de
sua prisão, Eduardo Prado deixa o Brasil em 1894 e, no ano seguinte, ao regressar, torna-se proprietário
do jornal O Comércio de São Paulo, principal órgão, durante os seis anos seguintes, de disseminação da
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Sobre o mito da Ilha - Brasil, ver (Magnoli,1997), p. 45-61.
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Prado foi também um dos grandes críticos do Convênio Aduaneiro de 1891. Sua posição é explícita
nessa passagem: “em troca de um favor fictício e ilusório, em seguida a uma negociação em que a má-fé
norte-americana se tornou evidente, o Brasil concedeu isenção de direitos às farinhas de trigo dos Estados
Unidos, deu isenção a vários outros artigos americanos”. (Prado, 1957, p. 150-151).
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Gilberto Freyre assim se expressou sobre o debate em torno do pan-americanismo nos primeiros tempos
da República: “[Eduardo Prado] Exagerou-se, é certo, em sua ianquifobia no livro, ainda hoje famoso, A
ilusão americana – ao mesmo tempo antiianque e anti-republicano; mas não faltava de todo fundamento
histórico ou critério sociológico às críticas aos pan-americanistas brasileiros ingenuamente certos de vir a
República integrar-nos como por mágica num sistema continental de nações de todas fraternas, em
conseqüência de o constituírem repúblicas na sua maioria inspiradas no exemplo da anglo-saxônia. Só
ingênuos, na verdade, deixariam de enxergar, nas relações dos Estados Unidos com a maioria das
repúblicas que caricaturescamente lhes seguiam o exemplo, o desdém do forte pelos fracos; o desprezo de
uma gente ordeira pelas turbulentas, suas vizinhas, aliás, por simples e superficial acidente”. (Freyre,
2000,p. 191).
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Um estadista do Império, obra na qual narra a história política do Segundo Reinado tendo como
elemento organizador dos fatos a carreira política de seu pai, Nabuco de Araújo, cujo primeiro tomo ficou
pronto em 1884, mas só veio a público em 1898 (Nabuco, 1997).
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O livro saiu como artigos no Jornal do Comércio, em agosto de 1895 e, em livro, no começo de 1896. O
assunto principal é a Revolta da Armada e o governo de Floriano. Valendo-se de documentação primária,
sobretudo artigos de jornal, o objetivo era político: avaliar a sociedade e as instituições republicanas pela
ótica imperial. Publicado já no governo de Prudente de Moraes, a conjuntura permitiria aos monarquistas
voltarem à cena na crítica aos republicanos. Nabuco carregou nas tintas, numa verve monarquista que
opunha a barbárie republicana à civilização imperial. A paixão pela revolta está na dedicatória do livro a
Augusto de Castilho, capitão do navio que asilou os revoltosos monarquistas (Nabuco,1990a).
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Trata-se da reunião, pelo autor, de uma série de artigos publicados no Jornal do Comércio, de janeiro a
março daquele ano, nos quais Nabuco analisava a questão da deposição do presidente chileno, em 1891,
a partir da obra de Julio Bañados Espinosa, Balmaceda, Su Gobierno y La Revolución de 1891.
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Nos limites do nosso trabalho não abordaremos os argumentos monarquistas de Nabuco em
Balmaceda construídos através do paralelismo entre os acontecimentos no Chile e as analogias com a
República no Brasil. A ênfase recairá sobre a argumentação construída por Nabuco em relação a sua
visão da América Hispânica já nos primórdios da República. A reconstrução da imagem das Repúblicas
sul-americanas por Nabuco em Balmaceda será fundamental para compreendermos as concepções
posteriores de Nabuco à frente da Embaixada brasileira em Washington, já adepto da República.
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países [de] homens cuja cultura rivaliza com a mais brilhante cultura européia e
que podem formar a Liga Liberal do Continente” (Nabuco, 1895, p. 215).
Posteriormente, Nabuco abandonará a idéia de que tal União dos países
latino-americanos – fundada em uma opinião comum da elite intelectual e
política em prol do progresso, da paz e da estabilidade – poderiam constituir-se
como definidoras de um padrão civilizatório. Assim, o padrão civilizatório latino-
americano não poderia constituir-se efetivamente, de forma isolada, mas
apenas no interior de um Pan-americanismo de dimensão hemisférica e de
iniciativa norte-americana, fundado, portanto, no monroísmo, sob o risco,
menos calculado do que inevitável, da perda de uma unidade latino-
americana18.
Assim, a política do Pan-americanismo, iniciada no final do século XIX
para incentivar a integração dos países americanos sob a influência dos
Estados Unidos, foi discutida em várias obras publicadas desde esse período
até a década de 20. Não por acaso, em finais do século XIX e no processo
mais amplo de americanização da República, as representações dos Estados
Unidos como modelo de ordem civilizacional e institucional, começariam a
ganhar forma em diversos intelectuais, passando a se constituir em um grande
interesse nacional, como testemunha Oliveira Lima:
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Nesse sentido, não há para Nabuco uma longa história com a idéia de monroísmo, será somente na
defesa do direito do Brasil na questão com a Guiana Inglesa que a concepção de uma política monroísta
para o Brasil começa a fazer sentido, porque ela se torna palpável e passível de efetividade ganhando
uma real dimensão política. Quanto ao conceito de “pan-americanista”, atribuído às concepções de
Nabuco à frente da embaixada brasileira em Washington, “como um ardente defensor dessa causa nos
termos em que usualmente se julga, ou seja, de um missionário da união e solidariedade incondicional de
todos os países americanos, encontra barreiras em sua visão hierarquizada dos países, na sua idéia de
relacionamentos preferenciais independentes e na perseguição de interesses nacionais brasileiros alheios
a de outros”(Pereira, 2006 p. 124).
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O livro trata-se de uma reunião de artigos publicados na Revista Brasileira durante os anos de 1896,
1897, 1898 e 1899 e de trechos de correspondência publicadas pelo Jornal do Commercio do Rio de
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Janeiro, nos anos de 1896, 1897 e 1898. O livro alcançou público amplo tanto nos Estados Unidos, no
Brasil e mesmo em outros países. (Cf. Malatian, 2001, p. 122-123).
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É necessário ressaltar que o ingresso de Oliveira Lima no serviço diplomático ocorreu num contexto de
reorganização da diplomacia brasileira em seus quadros e direcionamentos. Isso teria levado o jovem
Oliveira Lima a empreender uma estratégia para garantir que não pairassem dúvidas sobre sua
identificação com a República e conseqüentemente, não afetasse o seu trânsito no Ministério das
Relações Exteriores do Governo Provisório da República, preocupação que abandonou completamente
em 1903, direcionando e declarando-se abertamente favorável à monarquia. (Cf. Malatian, 2001, p. 80).
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Embora os textos referentes ao período abolicionista de Nabuco não sejam aqui objeto de análise,
podemos localizar a ambigüidade que a todo momento perpassa a obra do autor, como por exemplo, em
certas passagens em que transparece a hierarquização das raças: “Muitas das influências da escravidão
podem ser atribuídas à raça negra, ao seu desenvolvimento mental atrasado, aos seus instintos bárbaros
ainda, às suas superstições grosseiras”; já em outra passagem, parece tentar mitigar constantemente a
importância da influência racial na formação nacional: “o mau elemento da população não foi a raça
negra, mas essa raça reduzida ao cativeiro”. (Nabuco, 2000, p. 101 e 100, respectivamente).
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A citação encontra-se em Minha formação. Trata-se de coletânea de artigos publicados primeiramente no
Comércio de São Paulo, em 1895, posteriormente pela Revista Brasileira, sendo reunidos em livro pelo
autor em 1900. Segundo Nabuco, “a data do livro para leitura deve assim ser 1893-99, havendo neles
idéias, modos de ver, estados de espíritos, de cada um desses anos. Tudo o que se diz sobre os Estados
Unidos e a Inglaterra foi escrito antes das guerras de Cuba e do Transvaal, que marcam uma nova era para
os dois países” (Nabuco, 1963, p. 3).
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Uma questão candente para os republicanos brasileiros da época era a definição da identidade
nacional em termos de raça. Com sua obra sobre os Estados Unidos, Oliveira Lima recebera de José
Veríssimo crítica publicada na Revista Literária do Jornal do Comércio, com o título de “O país
extraordinário”. Em meio aos elogios da análise, percebe-se, porém, a discordância antiamericana de
José Veríssimo com relação ao julgamento, que considerava deslumbrado, de Oliveira Lima em relação
aos Estados Unidos. Ao seu ver, a obra era excessivamente otimista e benevolente em relação àquele
país e revelava a adesão ao universo racista norte-americano, aceitado sem distanciamento crítico: “é
curioso que Brasileiro, certamente sem os preconceitos de raça que aqui, quando existam, são
superficiais e insignificantes, o observador entrou tanto no ponto de vista americano, sofreu tanto a
influência do meio, que se não escandaliza por forma alguma, antes aceita como naturais e normais os
termos em que os yankees puseram a questão”. (Veríssimo, 1899 apud Malatian, 2001, p. 130).
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Cabe sublinhar aqui, que apesar de Oliveira Lima procurar dar sustentabilidade histórica aos seus
argumentos, utilizando-se de uma citação de Paulino José Soares de Souza, o fato é que na realidade, as
relações do Brasil com os Estados Unidos durante o Império foram bem conturbadas, a exemplo da
discussão da navegação do rio Amazonas.
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Reafirma ainda Oliveira Lima, que a “civilização nos trópicos há [...] que
ser continuamente imposta, dirigida ou fiscalizada [...]; uma vez abandonada a
si própria, mesmo quando exercida pela raça branca [...] tende a abismar-se na
degradação ambiente, como o provam [...] as colônias britânicas nas Antilhas,
e o demonstram [...] quase todas as nações latinas do continente” (Oliveira
Lima, 1899, p. 427). É baseado, portanto, na idéia de superioridade da raça
saxônica como garantia de uma expansão civilizatória, por um lado, e de outro,
pela garantia de um agente fiscalizador, em virtude da “degradação tropical” –
mais uma vez ressaltando de forma negativa o continente americano – que o
autor elegerá como potência colonizadora-civilizadora da raça saxônia, os
Estados Unidos, pois “ninguém de boa-fé contesta [...] que saberão colonizar
melhor do que a Espanha, isto é, que saberão dotar as ex-colônias espanholas
com condições de progresso material diferentes das que atualmente possuem”
(Oliveira Lima, 1899, p. 484). Nesse sentido, propõe uma comparação:
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A expressão consagrada de Sílvio Romero, o “bando de idéias novas que esvoaçou sobre nós de todos
os pontos do horizonte”, correspondia a absorção, a partir de 1870, no cenário brasileiro, de teorias de
pensamento até então desconhecidas, como o positivismo, o evolucionismo e o darwinismo.
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Roberto Ventura observou que, até a década de 30, a maioria das obras foram orientadas pelas noções
de raça e natureza: “A defasagem política e econômica entre a América do Norte e a sua contraparte latina
levou ao recurso a causas geográficas e raciais, para dar conta do „atraso‟ do Brasil ou da América do Sul,
o que prolongou a disputa do Novo Mundo na crítica literária brasileira do século. [...] Introduziu-se, na
literatura e na crítica brasileira, uma visão exótica ou um olhar de fora, que trouxe uma imagem negativa da
sociedade e da cultura local, expressa na oscilação entre ufanismo e cosmopolitismo, na tensão entre a
ideologia civilizatória e o projeto nacionalista” (Ventura, 1992, p. 41).
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4. Considerações Finais
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Submetido em 2011-07-19
Aceito em 2011-10-26
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