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SSTUMM, Raquel Denke. 0 Principio da propercionalidade no dret consbtucional basilar. 1. e. Port Alegre: Lira co Advogado, 1995. TALAMIN, Eavado, Coisajlgads ¢ sus revedo. 1. ed. So Paul: RT, 2008. TESHENER, José Maria, Efedcia 6a sentencs ecolsajlgada no processo cil. 1. ed. S80 Paulo: Fr, 2002. \WANIER, Terosa Aruda Aim; MEDINA, José Miguel Garcia. 0 dogma da colsajulgada: Mipteses de relatvizagéo, 2. . Sdo Paulo: RT. Infemagde bblogrfica deste tte, covfore a NBR 6023:2002 6 Asso3ari0 ‘rasleiva ce Nemes Técnicas (ABT: ‘coRDERO, Asano C.0 decemohimento do proceso cooperate a submissio (a coisa jlgada mater ao ltaresso das pares: O conte proparional da juiesigae. Reveta Brat co DreitoProcessual ~ ROOF, Slo Hodzonte, no 23, 9.89, p. 13-50, jan/ma. 2036, 30 7s Sa Institutos fundamentais do processo civil: jurisdigao, agao e processo Arlete Inés Aurelll Mastee dato em Oo Processual Oi pels PUCSP. Profssora de Diet Processual (hi na PLOSP. Acvogods FResumo: presere tet tem por abetne emonsta quo estudo dos institutes funamertais jus, Span. proceso, tomando coma porta de para ascgao, ce forma algumspivegaavisdoautstss a Poder Estat, extando plansmantsconfoame 0 Esta Demecrdico de Beto Palavrarchave:fusigio. Ag, Proceso ‘Sumit 3 Conaiderages invades ~ 2 Digessdo sobre os nstuts furamentas da Tecra Geel do Proceso: hsaigao, apa @prosesso- 3 Conclusso, 4 Consideragies introdutorias © interessante e muito bem fundamentado texto do dileto amigo Glauco Gumerato,* originério da palestra que proferiu no Congresso de Direito Processual de Uberaba, o qual tem por objeto de estudo 05 conceites basicos e pilares da Teoria Geral do Processo (no modo de ver do autor: a¢0, provesso e jurisdicao) e a inter: correlagao entve eles sob a ética do Estado Democrética de Direito, nos renderam ensejo a inquietantes reflexdes. [Na verdade, ouso discordar de alguns pontds cruciais que foram levantados no texto de Glauco Gumerato, Assim, o presente ensaio tem a pretensdo de expor minha viso sobre os institutes fundamentals do proceso chil urisdigao, ago e proceso) €e questionar os pontos nevréigicos trazidos por meu dileto amigo. Primeicamente, & preciso asseverar que concordamos em género, nimero © ‘grau quando Glaueo afirma que 0 processo deve ser regido pelos atributos que subs- ‘tanciam o principio Republicano e, consequentemente, que possui seu perfil forte- mente marcado pelas ceracteristicas do Estado Democratico de Direito, De fato, para realizar 0 processo, deve-se seguir rigorosamente 0 método € modelo estabelecido ‘Press sian epi eos inetitosfandamentais oan process, pubiado na REDD. Dum un bus pitino, Galo Wotame, ang 28m. #8,p 31-86. Jon,jmar. 203% 31 src es wna. pela Constituigo Federal, notadamente no que tange 2os direitos fundamentais as gorantias constitucionais insertas no seu artigo 58. Assim, a fungéo jurisdicional no & realizada a betprazer € live-arbtro do EstadoJuiz, mas, sim, deve seguir reir giosamente as ciretrizes previstas na Carta Magna para tal atvidade, sendo que @ conformagio do préprio pracesso depende da observancia desse método.* No entanto, isso néo significa que, para cumprir @ ordem juridica justa, seja preciso dar outra dimensdo aos Institutos fundamentais do proceso, como S80 @ jurisdigo, ago e processo. Multo menos que a ordem em que tais insttutos sao estudados tenha importéncia para a manutengao do Estado Democratico de Direito. Em primeleo lugar, para estudar 0 processo com fundamento no modelo cons- titucional acima referido, de forma alguma se faz necessério que se coloque a agao ‘em primeiro lugar? como objeto das reflexbes, e a jurisdiedo em Gitimo. Na verdade, 6 de se indagar se no seria de somenos importancia seber qual dos institutos fundamentais é mais importante ou qual deles deve ser estudado em primeiro lugar. Isso seria mais ou menos como querer saber “quem nasceu primeiro, 0 ovo ou a galinna”. 1s50 porque tals conceltos $80 indissoclévels, esto intimamente inter- Tigedos © se correlacioniam numa linha de interdependéncia. Podemos dizer que um precisa do outro para sua propria existéncia, Justamente por isso que todos os tres insttutos pilares da Teoria Geral do Processo so igualmente importantes. Nao ha ‘assim que se estabelecer uma ordem no estudo desses institutos. Nao hd que se falar que um deles seja 0 pllar do qual derivam os demais, nem que um seja mais relevante que outro, como quer Glauco Gumerato. Portanto, no presente ensalo, pretendemos rebater especificamente os ‘conceites trazidos por Glauco Gumerato sobre os institutes fundamentals da Teoria Geral do Proceso e demonstrar que nao ha ordem de importancia a ser estabelecida entre esses conceits. E, mais, ainda que houvesse, pensemos que é perfeitamente _adequado colocar a jurisdicao em primeiro lugar, & frente da aco e do processo, no havendo nada de autoritério nisso. Vejaros, pois. 7 Waste son, Clase Seerpnlia ven (2012 0.130 etme que “0s prio onsthlonals"ceupamse speiicomeni cam conforma d pri prosessn ua eters 9 métoz e taco do Estado patana, miata de exercoo fur utsonal. 580 ees que freer 9 dete mia, mas ‘icamenti d9 repre conporamers do Estacojur € est rans pels qa, no cacenevmento Gest {Uabaho smangie 9 eoressie noel canrticons do prosta cisemqugut essa, que eee ‘rma especies este prime Spo de noes, ora aos “ances census oe frovessl cuit ur ds parte, vat ue Integra model eorsttucons! co dre processus ei irsrarco (2043, 80 #99) etonde que “aosevar ita processval parr do tuto da arbo 6 um Fibs metocslgco mano pels uretas ates em feral vm coninsgao eo pve domiante Gata Interios cesheretomos, hoje superados, Quando se ano process um dos mcios deere dos et, [hento era cores ena qe ele ort foto pare o eu, 23 jeleao areca para a prestagto da ‘tina ele: Sept, prelaradsfrmasmans a autonome eto rocessus mas eo esimlaga aida lia porta da ato dominate nso destaora opensamente de ave ar esse Geto 8 usa urea Goomsschatanspor es stusse ao certo da coratslarso de asuies que comateodreto processus Pur ouriavigulataa retin a0poceeso on, desmerereaplo aencbnc ee eoear 4 a¢30 30 CeO 3 contnogs de inetitoe deals process 32. Sister aaa ane caueSneeoRcannee ca een ssros Ras co PROEESSO CM: URIIO Aco E ECESSO 2 Digressao sobre os institutos fundamentais da Teoria Geral do Proceso: jurisdigao, aco e processo 2.4. Jurisdigao © concelto tradicional de juriscigdo envolve és ambitos de andlise, quais sejam poder, funcdo e atlvidade, sendo que todos os trés coexistem e constituem tr8s lados, da mesma moeda. ‘A jurisdigao vista como poder deve ser entendida como manifestagao do Poder Estatal. Entretanto, nao deve ser vista como autoritarismo, porque 0 poder, neste caso, nada mais 6 que exercicio da soberania nacional, compativel com o Estado Democratico de Direito e com os ideals republicanos. De fato, tendo em mente 0 Estado Democrético de Direlto, verficamos que a jurisdigdo, como Poder Estatal, serve & manutengdo da tipartigéo de poderes, que devern ser e S30 independentes € harménicos. Como poder, a jurisdigdo & vista, ainda, como @ canacidade de 0 Estadojuiz decidir imperativamente no sentido de ‘que as partes estardo sujeitas inexoravelmente ao que vier a ser decidido sobre 0 conflto de interesses que for levado & apreciacdo, j que acobertado pela coisa julgeda. No entanto, nada ha de autortéro nisso. Pelo contrério, buscase, com isso, ‘© cumprimento da idesl republicano, sewindo & seguranca jurdica, € ideal, para o jurisdcionado, que as decisées do Poder Judiciério sejam imutaveis e imperativas, principalmente porque se sabe que a jurisdicao ndo se esgota com a decisdo sobre o confit de interesses, mas, sim, vai além, impondo a satisfagao do direto protegido. \Nesse sentido, € timo para o sistema que 0 judiciério tenha o poder de coerGio para que suas decisdes sejam efetivamente cumpridas. De nada adianta pacificagao, sem que 0 direito seja efetiva e concretamente entregue Squele que velo buscar 2 protegdo do Estado. Jurisdigdo também € fungdo, realizada pelo Poder Judiclério como agente pack ‘ieador da sociedade. Eo Estado realiza essa funedo ndo somente através da resolugao dos confitos de interesses que Ihe so submetides a apreciago, mas também con- cede aos interessados, mediante o cumprimento de certos requisitos, aquele ato que faltava para a satistagao do seu direito, seja uma autorizagao, um alvaré ou mesmo ‘a simples homologagao de um acordo, Assim, mesmo nas hipéteses em que nenhum confita existe, o Estado proporciona a efetivagao do ideal republicano, jé que, 20 realizar a fungio pacificadora, o faz através de um processo juste, ou seja, aquele realizado mediante @ observancia do modelo constitucional do proceso, em que todas as garantias e direitos fundamentals tenham sido respeitados. A jurisdi¢ao, ois, contribul em muito para a manutengdo do Estado Democrético de Direito. Na falta dessa observancia, 0 6rglo julgador deve ser punido, Portanto, ndo estamos frente a um poder absoluto, mas, sim, limitado pela prépria Carta Magna, Na verdade, atme Gh pus popPl Bolo Hodis any 2% n. 88.0 3486 ian,jmar 2048 33 smacre més Reus ‘ratase de um poder/dever do Estado de prestar a tutela jurisdicional pleiteada de modo efetiva, E, como atividade, olhamos a jurisdigo sob 0 ponto de vista do processo em cconcreto. Nesse sentido, traduz-se como um conjunto de atos do juiz no processo, Praticados com vistas 20 cumprimento da fungao que lhe é atribulda, Portanto, jurisdigao & poder/dever estatal que presta fungao de pacificagao ‘social, resalvendo os confltos de interesses que Ihes so submetidos & aprecagao ou realizando a atividade homologatéria que Ihe compete, tudo através de um proceso ‘que, em consequéncia, atua para que o Estado Demacrético de Direto sela mantido, Por ser exercicio da soberania nacional, no nos parece que se possa conclu, ‘como fez Glauco Gumerato, que exista qualquer autoritarismo quando se coloca a jurisciga0 como primeiro objeto de estudo. Isso porque, como foi dito anteriormente, ‘existem limites ao exercicio da atividade estatal que so determinads pela propria Constituigdo Federal, sendo vedado ao 6rglo julgadar agir com arbitraiedade, excesso (ou abuso de poder. Nao hé discricionariedade no exercicio da juriscigao. ‘Ao depois, a atividade jurisdicional esta limitada pelos direitos e garantias cons- titucionats, insertas no art. 5% da Constituigdo Federal. De fato, 0 principio do devido proceso legal inciso LI, at. 52, CF, que é a base, o sustentéculo, do qual decorrem todos os demais principios processuais constitucioneis, limita 0 agir do Estado por meio da juriscig&o, pois obriga 0 érglo julgador a ser Imparcial, a propiciar direitos lguais para ambas as partes no processo, a fundamentar suas decisdes para que ‘eja possivel o controle pelo jursdicionado, a oportunizar 0 contraditérioe o direito de Droduzir provas das alegacdes feltas em juizo, enfim, tudo que seja necessério para krantir 0 chamado processo justo.* O equivoco de Glauco Gumerato, nos parece, foi partir da definigdo de Chiovenda, para quem jurisdigéo seria a atua¢o da vontade concreta da lei em prol do autor € do réu.* Ocorre que, contemporaneamente, no basta @ Idela de que jurisdiga0 ‘seria apenas e téo somente 0 érgl0 Julgador dizer o direito, aplicando a lel ao caso Concreto. Juristicdo envolve conceita bem mais amplo. Na verdade, o Estado tem verdadeira obrigagao de prestar a devida tutela jurisdicional, seja a favor do autor, ‘eja @ favor do réu. Quando se examina concelto de jurisdigéo como obrigago (dever) do Estado de prestar a tutela jurisdicional, que seja efetiva, notase que no hd nada de autoritério nisso. Muito pelo contrério, o Estado € que se coloca a servigo do juriscicionado, de forma a conseguir que o direito buscado por ele Ihe seja realmente tentregue. Pelo menos, 6 0 que atualmente se espera da jurisdicéo.* 7 Weste santo, Nelson Nery (2995, p. 27 salem que: “Em nosso parecer besa rama consti over astaso 9 pincoio 3 aves poses of lw para qe dei dacaessem tovns 98 consetutelos Drocestts qua garndiom aos Rigarts © Geo a um pacesso © centonga st, € pt aoatm Sze © frets do qual sos os demo prion a estes [GHOVEND, Gsepoe. Isteutdes ce drote pacessval hv, SSo Paulo: Saraiva, 4965p. 4. Nesso cena, ocilo Wander! Raseguese Edsaso e Al” Lamy (2032, . 113) afmam ave: NO Despeiva conemporanaa, a Jus cole ro poser deer <9 Eats Go daar © sxeete 02 34 ‘Rte. Oi. Proc. ABDPTO | Beto Henzonte, ano 28, m8. p 32-46, jan mar 2085 InarVTOs RNDANENAS 00 PROCESO OW: ASOD, AHO EMCEE ‘Assim, ndo se trata de um Estado autortaio, mas, sim, de um Estado demo- crético, que tem 0 poder/dever de prestar a tutela jurisdicional de forma ecient, fede um jurisdicionado que tem o poder/direito de exigi que ela, a tutela, the seja concedida, na forma exata, por ele requerida, ou seja, que o direto in natura the seja concedido, no se aceitando mais que o Estado entregue qualquer coisa no lugar ou que tudo se resolva em perdas e danos, Nao basta assim que seja dito 0 direito — {que seja resoivido 0 conflta de interesses através de uma decisao. Nao! O jurisd clonado espera e exige bem mais do que isso: ele deseja a satisfagdo do direito, de ‘modo conereto, Ressalte-se que a obrigagdo de prestar @ tutela jurisdicional perdura durante todo 0 processamento do feito, em todas as suas fases, até a execugdo, sendo que 0 {Grego julgador tem 0 dever de cumprir, de zelar pela efetiva prestagao da tutela jurisd ional, entregando o direto almejado em concreto. Ultrapassa, pois, a mera obrigacao ‘de compor © conflto de interesses, dizendo 0 direto, ou a vontade conereta da lei, ‘como querla Chiovenda. 0 juiz deve, assim, proporcionar a amas as partes 0 direlto de se manifestar, de esclarecer fatos, produzir provas, enfim, proporcionar meios IdOneos e eficientes para a obtengao da efetividade da tutela, como, por exempio, rmeias efetivos de localizagao do devedor, de bens, expedigao de oficios, etc. (ra, se 0 Judicidrio tem o dever de prestar a tutela jurisdicional entregando © ireito in natura para as partes, estando, pois, a servigo delas, nao ha como se enter der que seja a jurisdigzo 0 exercicio do auteritarismo, como quer Glaueo Gumerat. Cassio Scarpinella Bueno, nesse sertida, esclarece que “pensar o direito pro- cessual chil a partir dos resultados Gteis que a atuagéo jurisdicional oferece para 0 plano material (externa, pois, ao plano do proceso), tai qual reconhecido existente ‘0 plano processual, é importante frisar, é mais que uma necessidade retbrica ou cientfica, ¢ uma verdadeira imposigao: é para isso que se pode cogitar da existéncia da “fungéo jursdicional’ em um Estado Democratic de Direto; é para isso que se justifica seu estudo".” Talvez por ser visionério e pensar a jurisdigo desse modo atual, no sentido de ‘ue & fungo que no se limita 8 mera composigao da lide e de aplicar a let a0 caso cconcreto, mas, sim, de efetiva entrega da prestagdo da tutela jurisdicional, 6 que Calamandre' inseriu a jurisciga0 como 0 primelro argumento de Estudo dos Institutos fundamentals da Teoria Geral do Proceso. Para Calamandrei, 0 escopo da fungéo jurisdicional & a atuagao do direlto obje- tivo, e ndo a mera composigao da lide, podendo, portanto, existr processo sem lide. “eins contome ws pretenses que Me so omulads, sepunto os wales ¢ pincines funcanentls ‘esabeeids na Constulo Federal. gronngo o seu resp efetvo no amb dos fates, na vis fgamte€eaceo senda que ee cova sor 2 at. cea OD, da Constugao Festa “kjuteonso exer pel sto or mos to Poder uso, om paesxpe ale’ eto geome, fm tte nstnca as eases covets, quad roared ° Gisesstemsciado ce et processus ci. 8, 2082 . 387 = = he Tees Re Ele discorda, portanto, do concelto reducionista da juriscigao e entende que tanto ‘0 proceso de cognigdo quanto 0 processo de execugao estéo compreendidos na fungao jurisdicional.* Por outro lado, entendo ser acertado 0 entendimento de Calamandrei de colocar a jurisdigao como primeiro argumento de estudo, Nao vejo nisso nenhum discurso legitimador do Poder Estatal no sentido de colaborar na construgo de concengdes autoritérias para o direto processual Na verdade, a colocagao da jurisdigao come primelro objeto de estudo se dé ‘apenas porque 6 para ela que Se dirige o juriscicionado quando exerce 0 direito de ‘G80. De fato, no haveria exercicio do direito de ago caso no houvesse jurisdigao. a, @ juriscigdo preexiste & ago. O Poder Juticisio 6 inerte, no age se nao for pro. vocado. € preciso que seja assim para que o érgao Julgador mantenha sua isen¢ao e, em consequéncia, o Estado de diceito seja também mantido. No entanto, 0 Poder Jdiclévio est 18, de portas abertas, aguardando que 0 jurisdicionado venha provocar @ ‘ua atuaglo. € o jurisdicionado o faz através do exerccio do direito de ago. Para essa pprovocagdo, o jurisdicionado precisa de uma atividade concreta, que é a distrbuigao da peticSo inical. Ao fazBo, iniciase 0 proceso. Assim, no ha mal algum em dizer ue 0 processo é instrumento, porque & através dele que 0 Estado concretiza sua brigegdo de prestar a tutela jurisdicional que Ihe fol solictada pela parte. Na verdade, © proceso precisa se desenvolver perante um drgao jursdicional para ter existéncia Juridica. Nao ha processo jurisdicional que se desenvalva se nao for ofertado perante aurisdigdo, e 6 justamente por isso que esta é pressuposto processual de existéncia daguele. € importante frisar que, para muitos processualistas, a juriscigdo seria 0 nico pressuposto processual de existéncia do pracesso. 2.2 Ago Tendo em mira que @ jursdigao 6 0 dever do Estado de prestar# tutelajurisa- clonal, € preciso recoanecer a existéncia de um dirlte subjetivo conferdo 20 juris: diclonado de exigia, Esse direto & 2 ago, um dos institutes fundamentais e piares da Teoria Geral do Processo. A par disso, muitas foram as teorias que tentaram explicéta No perfodo cléssico do direto romano, no havia preocupagdo com a agéo, a qual era vista como apéndice, acessério do direito material. O monismo, a idea ‘de que havia somente um plano que abrangia tanto 0 dlieito material como 0 processual, prevalecie. Falavase apenas em agio de dieito materia. Essa teora, ‘Colaranari 526, p. 9) afma que: “Ateneo peri hela tora mocemamenteprvaerts, dl Wach a! Chovends, che paren trained arte ebetho lo saps cwsctersteo dels nso Burana, {nlobns, mogioaiguslache 1 Comet vorete esis, smear eelenzalanatraeteraaents ‘uastcs de! pesca nei modemi ramen gundel cane stument per realizar carat ‘ovata vt eo Stat, 3 caer eee” 23,989, SLA, Jonna. 2005 meas RNOMLENTNS 00 PROCESSO CL: ARIIHO. ok E ROCESSO chamada cléssica, imanentista ou ciilista vigorou durante todo 0 século XIX, & sua existéncia se deve & fase evolutiva do proceso, em que este se encontrava verdadeiramente subordinado 20 direito cul, do qual era concebide como apéndice.® ‘A agdo estava ligeda ao dieito material, ou seja, eram a mesma realidade, apenas apresentadas sob formas diversas. Decorre dessa teoria 0 art. 76 do CAdigo Civil de 41916, que previa que a todo direlto corresponde uma ago que 0 assegura. Assim, centendlase que nao havia aco sem direito, nem direito sem ago, isto €, a agéo segue a natureza do direito. Entretanto, essa teoria no explicava um fendmeno ‘comum na prética judicdria, que era a ado infundada, ou seja, quando, somente ro final da demanda, veriicavasse que 0 autor nao tinha razao, pelo que a ago era improcedente. Ocorre que, mesmo nessa hipstese, howve direito de ago, ainda que sem direito material. Também no explicava 0 fendmeno que ocorre numa ago declaratéria negativa, em que se visa & obtengdo de declaracdo de inexisténcia de direito material, Assim, essa teoria fol superada, jd que o direlto de aco 6 autdinomo € independe do direito substancial, ‘A superagio da teoria imanentista se originou da polémica entre Muther € Windscheld sobre a actio romana, Em decorténcia, distinguiuse nitidamente direto lesado e ago. Trouxe o direito processual civil como disciplina auténoma do direito material, Da agdo, nascem dois direitos, ambos de natureza piblica: 0 direito do ofendido & tutela juridica do Estado (dirgido contra o Estado) e 0 direlto do Estado 2 eliminagdo da leso contra aquele que a praticou. Assim, ago seria um direlto pidblico subjetivo distinto do direito material. Windscheld acaou por aceltar algumas Ideias de Muther, admitindo um direito de agi exercitével contra o Estado e contra © devedor. Ambas as teorlas passaram a se completar. © grande mérito dessa teoria fol 0 reconhecimento da existéncia da ago como direito auténomo, criando, assim, 0 cardter dualista do direito de agdo.*° Reconhece a legitimidade de um con. ceito de ago material junto com aco processual,* mas ainda ndo se explicava a ado infundada. Em 4889, Adolph Wach escreveu 0 to Ago Declaratéria, definindo ago como direito auténemo e conereto. Esse doutrinador demonstrou que @ agdo é um direito auténomo, no sentido de que ndo tem, necessariamente, por base, um direto subjetivo, ameagado ou violado, como as agies declaratbrias. Diza ele, alnda, que a ‘ago € exercitévelbifronte:é dirigida tanto contra o Estado como contra 0 adverséri, [Assim seria um direito piblico subjetivo. Via ago coma direlto processual. Entretanto, entendia que @ tutela jursdlcional deveria conter-se numa sentenga favorével, ou seja, Tee sonia, OGRA, Mana Fess. Lines de Drie Pocessus On. 24, Alas 9. 1383140 Confome Nesonae Camas, ours cada, p. 260. Contome OUNERA, Cave bers Ars de. Pomc Sve ao, «tes rseson a8 perspective das ‘eiages ent rato e aces, Poa Neer Uhre Go Boga, 2005987 vp Go Norgants, ana 73, 89, Lah, janjmar 2088 37 scree meus 0 diceito de ago seria concreto.” Entendia, ainda, que o direita de ago dependia do cumprimento de requisitos determinados pelo direito processual, quais sejam as condigdes da ago e os pressupostos processuais. Entretanto, Wach também no explicava a existéncia da agao infundada, ‘Oskar Von Bilow formulou uma modalidade dessa teoria, entendendo que a¢80 € 0 direito @ uma sentenga Justa. Para refutar tal teoria, basta pensar nas agées Julgadas improcedentes: o que seriam, entdo, os atos processuais praticados até fa sentenga? O que teria ocorrido quando a decisao injusta acolnesse pedido infur- dado do autor? Portanto, 0 direito de ago no pode depender co direito material. De qualquer forma, seu entendimento de que a aco nasce com 0 processo fol um marco para a discussao sobre ago, uma vez que, a partir dai, 6 que surgirath as teses Sobre a existéncia da agéo processual.*? Chiovenda, par sua vez, crlou a teorla da ago como direito potestativo,** pela qual a agdo era entendida como um direito auténomo, que néo se dirige contra 0 Estado, mas, sim, contra 0 adversério: € um direlto de provocar a atividade Jurisdi clonal contra o adversério ou, mais precisamente, em relagao a0 adversério. Portanto, 10 € direlto subjetivo. Para ele, ago & um poder, sem obrigagao correlata, que pertence @ quem tem razo contra quem no a tem, visando atuagao da vontade conereta da lei. O titular do direito de ago tem o direito que é, 20 mesmo tempo, um poder de produzir em seu favor 0 efeito de funcionar a atividade jurisdicional do Estado em relagdo ao adversério, sem que este nada possa fazer. A ago é o poder juridico de realizar a condigao necesséria para a atuacao da vontade da lei. Entende, também, que 0 cireita de ago é privado ou pablico, conforme a lel seja de natureza privada ou pdblica. Ocorre que essa teoria ndo difere daquela que vé o direito da ago ‘como direito @ uma sentenca favarével. Para ele, a funcdo juriscicional visa & atuacao da lel. Justamente por isso é que entende que 2 ago deve ser 0 primeiro instituto fundamental, ¢ ndo a jurisdigao. Tanto Chiovenda como Wach, embara se referissem & autonomia do direto de acdo, foram claros ao salientar que, somente na sentenga final, efetivamente, seria possivel apreciar a existéncia au no do direito de a¢30, desde que existente o direito que Ihe estava subjacente.** Em 1877, Degenkolb criou, na Alemania, (e Piész, na Hungia), a teoria da ago como direito abstrato de agi. Segunda ele, a teoria do direlte de ago Independe da ‘orforne AVM ita, Por esa eos a aloe ssc! do deo sutetho. I: Tataco de Oeio Process OR 2. 8b. 370. 4 ta ae os ecipines reso y be paspusine proces. atu Mgt Ae Robs Insttugaes de soto pocessul civ. 1988, p28 ‘Chovenda (1948, p. 20) aimara de, Por Nero," COSO Ce Se pac wna sertanca concenatia, 2 ‘Snape do sos vomalverta, ela a eustncn de lt granara Go bem protec, eres a neste, 00 demanoco, de una esta) a quale, oy Wenede ene «pessoa co ater eaciela ‘eredca boa eo pesado crmancado coma Sigs ot ele). neresee em consegur Dem trvts da tee! ‘Corton PREIRE Rocigo Cunha Lina, Condes do a8. R, 2. 9.8 38 2 "3448, jon mor. 2088 existéncia efetiva do direito material invocado, Nao deixa de haver ago quando uma sentenca justa nega a pretenso do autor ou quando uma sentenga injusta a acolhe,, sem que, de fato, existisse o direto material subjacente, Basta que o autor mencione um interesse seu protegido em abstrato pelo direito. € com referéncia a esse direito que 0 Estado esté obrigado a exercer a fungao jurisdicional, proferindo decisdo que tanto poderd ser favorével como desfavoravel, Assim, entendiase que 0 Estado seria ‘© suelto passivo do direito de aco. Alfredo Rocco foi um dos principais seguidores dessa teoria, dandoshe fundamentagZo prépria. Afirma que, quando se solcita a Intervengao do Estado para a tutela de interesses ameacados ou violados, surge outro interesse, que & 0 interesse & tutela daqueles pelo Estado, O iteresse tutelado pelo direito € 0 principal, € interesse a tutela deste pelo Estado 6 o secundério, Para a existincia do direto de agdo, basta 0 interesse primério, Esse direito de ago 6 exercido contra o Estado ‘A partir da teoria abstrata do direito de aco, Liebman” criou a teoria ecética, ‘2 qual define a ago como diteto subjetivo instrumental, sendo mais que um diteto, um poder 20 qual no correspande a obrigacdo do Estado, igualmente interessado na istribuigSo da Justica. DS por exercida a fungéo jurisdicional apenas quando o julz pronuncia uma senten¢a sobre o mérito, de cunho favorével ou desfavoravel. Assim, ‘do importa 0 conteddo da decisdo de mérito para que tenha se exercido o direito de a¢d0. Ainda que julgue a ago Improcedente, 0 Estado terd prestado a devida tutelajursdicional. Liebman entende, ainda, que, para ser exercido 0 direito de ago, 6 necessério 0 implemento de és condigies: a possibildade juridica do pedido, 0 Interesse de agir e a legitimidade de parte. Essas condigies seriam requisitos de cexisténcia da apo, pelo que deveriam ser objetos de investigacao antes do exeme do mérito. Somente se estiverem presentes € que haveria necessidade de o julz Julgar 0 mérito. Assim, essa teoria nd aceita a abstragdo plena. A ago ndo compete a qual ‘quer um, © no possui sentido genérico, Refere-se a uma fattispécie normativa que seré objeto da sentenga do juiz, o qual formulard regra juridica especial, que seré lei entre as partes. Além disso, Liebman entendia que existe um direito de ago cons: titucional incondicionado, o qual 6 pressuposto do direlto de ado processual, este, sim, limitado pelas condigBes da aco. Portanto, agéo € 0 diteito piblico, abstrato e subjetivo de obter do Poder Estatal providéncia jurisdicional, constituida de uma sentenca de mérito de qualquer eontetido. Auda Alvim define ago como “direito constante da lel processual civil, cujo nascimento depende da manifestacao de nossa vontade. Tem por escopo a obtencao 3 Manvat de creito processuat cv, v. 1, Forense, 1988, p. 181. |p bran Dv. Pros. bbpra1 Bolo Morena ano 98m 88.p 3448, an.jmar aoa 390 sere mts unas Nao se deve confundir ago com tutelajurisdicional. Tutela 6 proteco. ‘Tutela jurisdicional, conforme Cassio Scarpinella Bueno,* “é a protegdo, a sal ‘vaguarda, que o Estado deve prestar naqueles casos em que ele, o proprio Estado, ® Ob et, 378. (goo rcesso Cit comand RT, 201, p29. {aso sistematiado de cate process 3, 6 e, 2012 . 987-288 € 385. (aro sitematzado ae arate processual 4, 6. e5., 2012, 39, jtmm Or Pune pao! bow Hammon ano pan BB a avah jaujmar aos aL proibiu a autotutela, a justica pelas préprias maos. A tutela jurisdicional, nesse sentido, deve ser entendida como a contrapartida garentida pelo Estado de atribuir (08 direitos a seus titulares na exata medida em que tal atrbuigdo se faz necesséria por alguma raz. © que é importante, pois, de se ter em mente, destarte, € que tutela juriscicional significa, a um $6 tempo, 0 tipo de protegdo pedida ao Estado, ‘© que a doutrina tradicional usualmente chara de pedido imediato ~ mas também de efeitos praticos desta protegdo no plano de direito material com vistas a proteger um determinado bem juridice (um determinado interesse) que Justficou 0 pedido de exercicio da fungao jurisdicional (pedido mediato para empregar @ nomenclatura ‘radicional) Nao basta s6 que o juz profira, por exemplo, uma sentenga que reconhega a existincia de lesdo ou de ameaga ao direito do autor. Isso nao é suficiente para ue ele entregue, ao jurisdicionado que é titular daquele direito, tutela juriscicional. E mister que 0 que estiver reconhecido na sentenca possa surtir efeitos praticos palpdveis para fora do provesso, isto 6, no plano a ele exterior”. ‘Assim, a tutelajurisdicional deve ser efetiva, concretizada. A sentenca de mérito 6 apenas uma parcela da tutela jurisdicional. Ndo basta a0 Estadojuiz resolver a lide, compor 0 conflito de Interesses e declarar 0 direlto, 6 preciso também que sejem criadas concigées de concretamente protege. Cassio entende, por isso, que 0 que deve ser estudado e classificado néo é @ ‘ago, mas a tutelajurisdicional, Para ele, a acdo é o agir para obtencao da tutela do itelto no plano material mediante o exercicio da fungdo jurisdicional que levaré, € esta 2 perspectiva, & prestagéo da tutela jurisdicional. A tutela jurisdicional, contudo, do se exaure com o proferimento da sentenga de mérit. Ela, a sentenga, pode até corresponder & tutela do direito no plano material, mas ndo ha, necessariamente, esta correspondéncia, A sentenga & apenas o reconhecimento do direito, mas no significa tutela do direlto no plano material e concreto.* © institute ago nao pode, pols, ser analisado sob 0 ponto de vista privado, ‘come quer Glauco Gumerato, mas, sim, comportar exame sob angulo eminentemente publicista, Isso porque mais que um direito, € um poder pertencente a todos os Jurisdicionados de provocar a atuacao da jurisdigdo e de obter 0 cumprimento efetivo da tutela pleiteada. Como para 0 exercicio da jurisdigao o Estado deve observar 0 regramento imposto pela prépria Constituigéo Federal, ou seja, 0 principio do devido pprocesso legal, muito dautrinadores entendem que a¢o seria direita 20 processo* ‘ou, até mesmo, direito ao devido processo legal.” “Curso siteatzado de oto proessu el RT, 2012 9.290. enteme nama, nstuidee geet proce cv 8 8, 1p 299. ‘Sedan 2010, 9.239, resseseatc, ama ave oa serio pina dlets go pipe do eid proceso ez 42 SITUS RNOAMENTA 20 ROCESSO CL: ASLO Ago EeROCEEEO 2.3 Processo Processo € 0 instrumento por meio do qual o Estado presta a tutela jurisdicio- nal, € também uma sucesso encadeada de atos tendentes a um final conclusivo.* Nesse sentido, a noglo de processo se confunde car a de pracedimento, Portanto, pera que Se possam diferenciar esses conceitos, é preciso allar a essa nogao a de {que 0 proceso corresponde, também, & relacdo jurdica processual triangular forma- da entre autor, réu e juiz, na qual cada um terd direitos, deveres, érus e obrigagées. © proceso somente existe caso esses t#s sueltos estejam participando dessa relagdo. Faltando um deles, no pademos dizer que hove proceso, na acepeao Juridica do termo, muito menos que houve processo valido.* Iniciaimente, & preciso asseverar que as teorias prvatistas do contrato e quase contrato esto utrapassadas, parque é sabido que as partes nao tém liverdade de contratar no processo. Quanto as teorias publicistas, temos as teorias da situaco Juridica, da instituigao e da relagao juridica processual ‘A primeira entende que proceso seria uma expectativa de deciséo judicial futura. Partes nao tém ditetos e deveres, mas, sim, Gnus. Ha uma visdo dindmica do processo, Ocore que todas essas situagdes jurdicas sao inerentes a uma relagio Juridica processual distinta da relagao Juridica de direito material 2° A teoria do pracesso como insttuigdo, adotada por Jaime Guasp,* Elizabeth de Castro Lopes, Jodo Batista Lopes e Olavo de Oliveira Neto, 0 qual explica que © processo se adapta a tiés requisites basicos que caracterizariam a instituiglo jur- dica, quais sejam: a) ter sua estrutura moldada conforme um modelo estabelecido em lei; b) ter cardter permanente e c) ser imprescindivel para obtengo de determinado desiderato,* ha imposigao do Estado. Para Céssio Scarpinella Bueno, processo é método de atuagdo do Estadojuiz. £0 mecanismo pelo qual direito material controvertide tende a ser realizado © coneretizado.** Bedaque também entende que processo 6 método de trabalho desenvolvido pelo Estado para permit a solugSo de Itgios.* 5 Seae ara Seto dn, ver GOLOSCHMIOT, James. Ove mecessua ii. Canina: Booker, 2008.9. 25, Derecho Pecesa Gi. 3... 1. Mate: aitos de Estos Poltcas, 1968, 22. OPES, ana Easbth ca Caste. Ofureo prebiodpostv. S80 Pal: Ais, 2003, p. 210. OPES, Jobe Besa. io Deora So Pata RT, 2009.26. © prcoeuo como ietugdo contin. nr Parorame Atal dae sas inca! © coletra Saraa, Dott 639 0638. Cure siteatsaeo ce crete process! Mt RT, 2012. . 426, Soar Sata tb entande proceso ‘cao métog pol quanta de corre, Para Comet (2836, pocesso & métoo pra YomajBo ou epeso co reo com vistas 9 ums deia5o ‘rotneace do process e nes processus Mestelas, 3.2, 2080, 73. jus, br. Pros palohup| dole varunnms, aus 9a,n op Su-th jon jwar dots a3 sme ns anes [A teoria da relagde Juridica, criada por Bulow, entende que processo seria relacdo juridica processual entabulada entre os sujeltos do proceso, julz, autor e ru, iniciada a partic do momento em que 0 autor exerce 0 direito de agéo, de forma ‘que entte eles existam liames travados a0 longo do processo, dos quais decorrem direitos, deveres, faculdades, obrigagdes e nus, tudo isso tendo em vista @ obtencao de uma finaidade.** Calamandrei localiza no dinamismo da relaedo juridica a melhor explicagao 20 desenvolvimento do conjunto de atos e faculdades no processo.** E a teoria mais largamente aceita na doutrina patria e estrangeira,"” embora igualmente muito eriticada. Marinoni e Mitidiero,** por exemplo, entendem que ha ‘pouca preciso idealdgica no conceito de processo como relagao juridica, o que deixa ‘o processo civil aos sabores dos detentores do poder. Pareceme que essa citica nao procede, porquanto o fato de 0 processo constituir uma relagao juridica processual entre os trés sujeites acima apontadas nao impede que seja cumprido um método de trabalho estabelecico pela Constituigao Federal. O principio do devido proceso legal deveré ser obsenvado em todos 05 atos do proceso. Assim, é evidente que © proceso ndo poderé ser arbitério. Araken de Assis, por sua vez, entende que a nagio de relagio juridica processual no esgota 0 que € 0 provesso. No entanto, $e aliarmos a nogdo de relagao jridica pracessual com a de procedimento, no sentido de sucesso encadeada de atos, come faz Liebman, teremas a noqao exata de processo. De fato, Liebman entendia que processo 6 relagdo juridica aliada & nocéo de procedimento, no que & seguido por Dinamarco, que afirma que a nogao de processo ‘como procedimento em contraditério no é incompativel com a teoria da relagao Jur dica, Para ele, processo envolve um conceito complexo: pode ser observado do panto de vista da relagao juridica e, também, do procedimento, Falazari rejelta a teoria da relacdo Juridicia, entendendo que proceso € pro: ccedimento em contracitério ~ 6 participagao. Também comungam do mesmo enter dimento Marinoni © Mitidiero.®® Notase que as doutrinas mademas reavivam a importancia do procedimento no conceito de processo. De fato, ndo hd como negar ‘que proceso 6, realmente, procedimento em contraditério, mas io h8 nenhum confito dessa nogo com a de que processo seria relacao juridica, principaimente Touma fas Wttaes do argo 296, 1 ombinado com 269, W e 285-4, em que noni citaeo dor 0 Drocess, como rear jude precessua, ete, eve are uk. Neste veto, Matin (2034, 9. 208) ma aue"o pocesc famine potescaments: reo ane au a, ee sed, com 8 cae, fates revs acer pare do process. Oe, asin, que ala pressupost rocessual de estado Process em login ab, ave, ates capo anca qu esta process, arelag processus darce Senos ene demandare eu" ccna lies re! pense Raia Coral isa rte Pacessuale Ce, 1928. ‘crs sitematzaco do creo processive RT, 2012 9.422, Gig ce Process Ci comentario ora, R, 2010, p 267 eas de Process Gl comertco, rio or ot, RY, 2030, p 287, 44 wo OF re RBGPoI Bee Has en 3 88 S48, nm 2035 quando se tem em mente que contraditorio é a efetiva cooperagéo, colaboracéo entre (08 sujeltos do proceso. Em suma, quer se entenda processo como Instrumento de satisfago do direito material, quer Se entenda que se trata de um método de trabalho a ser seguido pela jurisdicdo, 0 qual estd estabelecide na Constituigéo Federal, ou mesmo que seria instituigdo ou perticipagao/procedimento em contraditério, no meu modo de ver, sso néo tem 0 condo de desnaturar a visdo de processo como relagdo juricica processual. E mais, a viséo tradicional de proceso, como relagio juridica proces: ‘sual, nada tem de autoritéria, nem estatlzante; els que o fato de 0 proceso ser voltado & concretizago da urisdigao, como jé se asseverou, implica muito mais cum primento de um dever estatal de realizagdo da efetividade da tutela pleiteada pelo Jurisdiclonade do que exercicio de poder. 3 Conclusao Diante do estudo empreendido, podemos concluir que 0 fato de se exigir, para realizar 0 processo, que Sela seguldo rigorosamente 0 método e modelo estabelecido pela Constituigaa Federal, notadamente no que tange 0s direitos fundamentais e a5 _garantlas constitucionais insertas no seu artigo 5t, de forma alguma significa que se ‘tenha que colacar a aco como primeira objeto de estudo. Muito menos que a ordem fem que se estudem tals institutos tenha importancia. De fato, no presente estudo, frisamos que jurisdigo & poder/dever estatal ue presta fungao de paciicagao social, resolvendo os conflitos de interesses que thes so submetidos & apreciago ou realizando a atiidade homologatéria que Ihe ‘compete, tudo através de um processo, Consequentemente, atua para que o Estado emocrstico de direito seja mantido. A jurisdigdo € poder, mas deve assim ser vista como a capacidade de 0 Estadouiz decigir imperativamente no sentido de que as partes estardo sujeitas inexoravelmente ao que vier a ser decide sobre 0 conflito de interesses que for levado & apreciagao, jé que acobertado pela colsa julgada. No entanto, nada hé de autoritario nisso. Pelo contrério, buscase, com isso, 0 cumprimento do ideal repu- 190, servindo & seguranga juridica, Referéncias. [BEDAQUE, José Roberta dos Santos. Erethidade do processo e ténicaprocessua. 3. ed. S80 Pada: Mater, 2030. 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Nuno regular do mestado do Payne de Entermagem Palle co Escola de Ertermagem de Ribeiro Peto da Unversidase e Sao Pad Carla A. Arena Ventura ‘oiogoda.ProfessoraAssocada da Escola e Enfermagem de Ret reo 2 Universidade 2 Sbo Pau, Palawa-chave: Dela 8 sade, Det hamsno,dcalzag no Bras, Sumivo:2 hrocuebo~ 2A undamentaitade do dealin & sale na ConstulgSebasloa ~3.Adgritate humane, 08 crtos sais ea saude ~ 40 porque da judclalzerso ~ 50 dela funcamental sauder Berapeta do Suprmo Tribunal Federal 6 jualaaqdo da saude rents @respansaleagso do Esaeo tela procesual colatva do dro & ate ~ 8 Considerates thas ~Reteréreas 1. Introdugao A intersegao entre 0 direlto e a salide nos dias atuais 6 0 resultado formal de lidlogos enive 0 biolégico, 0 social e o cultural a partir da construgo de mecanismos Droprios de interacdo. Nessa perspective, 0 direito & satide reflete a dinémica de inte. ‘ago social utlizada para a regulago de ages e servicos de interesse das pessoas ‘com relagao a sua sade. Assumir que @ sade é um direito fundamental implica considerar as trans- formagdes a que tém pasado durante as ditimes décadas, as concepgies do que saidde e, em particular, a ampliagdo do conceito de saGde. (NUNES, 2043) "23, a. 69, p 4764, jm 2015 47

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