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casio | Tanwemostoisoios CAPITULO 12: TRATAMENTOS BIOLOGICOS. ‘12.1 CONCEITO GERAIS Adegradacao biolégica de Aguas residuérias de constituicées predominantemente orga- nica e biodegradavel se da pela acdo de microorganismos, os quais metabolizam a matéria organica carbonacea e nitrogenada (coloidal, em suspensao e dissolvida), estabilizando-a sob a forma de subprodutos (gases e tecidos celulares). ‘A matéria orgainica dissolvida e finamente dividida presente nos despejos é entdo flo- cculada, podendo ser separada por processos fisicos (sedimentacao, flotagao ou filtracao).. Processos biolégicos de depuracdo, também denominados tratamentos secundarios, so muitas vezes utiizados apos pré-tratamento fisico,fisico-quimico e oxidativos avancados. Os principais objetivos do tratamento biolégico sao os seguintes: Oi Remogao do contetido organico dos despejos, especialmente a matéria organica car- bondcea, usual mente medida em termos de DBO, DQ0 € TOC; CD Remocao de nutrientes, tais como nitrogénio e fésforo; O Reducdo parcial ou total de determinados compostos organicos de natureza téxica (poluentes prioritarios) ou persistentes © mecanismo de remocio de matéria orgiinica dos despejos é basicamente adsorcio, “stripping” e biodegradacao. Muttos produtos organicos nao biodegradavets sofrem deposi¢ao parcial sobre os séli- dos da biomassa. Este fendmeno € conhecido como adsorcao e se constitui numa das fases de ternocdo de matéria organica dos despejos. Por adsorcaéo fisico-quimica sobre o floco biolégico, é também removido material colot- dal presente nos despejos. Embora nao significativo quanto & remogao de matéria organica, 0 processo de sorcao Teverte-se de importancia quando se trata de metais pesados . Neste caso, os metais po- dem formar complexos com a parede celular dos microorganismos o que poder acarretar problemas de toxicidade para o manuseio e disposicio final do lodo resultante devido a Dioacumulaco. J4 0 “stripping” causa a liberagao de VOC por efeito de agitacao ou aeracao da massa liquida em um processo de oxidacao biolégica. A biodegradaco, por sua vez, é o mecanismo mais importante de rerocao de matéria organica podendo ocorrer conjuntante com os demais processos de remogo retro-descri- +tos.Por este mecanismo, ocorre inicialmente a remocao de material em suspensao por agre- 6CO, + 6HO+Energia coe Oslo alo deCabono Agus Na respiragao anaerSbia, contudo, a oxidacao é apenas parcial, com a formacao de sub- produtos de estrutura molecular ainda elevada, tals como metano, alcoois, écidos, cetonas, etc, contendo ainda alto potencial energético. 261 Carimaot 1 Tauren Boscics Os microorganismos anaerébios podem ser de dois tipos: obrigatérios e facultati- vos, sendo que para os primeiros, a presenca de oxigénio é deletéria enquanto que para 05 facultativos, a presenca de oxigénio propicia a formacao de diéxido de carbono. A respiragao anaerébia se da em duas fases:na primeira fase hd uma acdo enzima- tica de liquefacao com a formacao de acidos organicos e alcodis, os quais sao utilizados em alimentos por outras bactérias metanoprodutoras que promovem a gaseificagio. Giicose, celulose, proteinas, aminodcidos e gorduras nao so transformados direta- mente em metano na primetra fase, mas sim em formlatos, hidretos e outros, os quais constituem substrato para serem utilizados por bactérias metanicas Outra reacdo decorrente da decomposicdo anaerébica é a decomposicao acida, em que ha a formacao de Acido sulfidrico, mercaptanas, escatol, indol, etc. 0 oxigenio molecular necessario para a atividade dos microorganismos em proces- 505 biolégicos aerdbios de tratamento é transferido para o meio liquido através de ae- Taco, que é 0 mecanismo de transferéncia de massa (movimento) entre a interface gas —liquido, fungao dos constituintes de cada uma das fases relativamente a concentracao de equilibrio. O processo de transferéncia de oxigénio se da por difusao e conveccao, Quando 0 oxigénio molecular é utilizado como receptor de elétrons no metabolismo de respiracao 0 processo € conhecido como respiracao aerébica. Neste caso, somente subsistem microorganismos aerdbicos. A solubilidade do oxigénio em agua, por sua vez, é funcao da temperatura, da alti- tude e da concentracao de sélidos dissolvidos totais (SDT). Ao nivel do mar e a 20°C de temperatura, a solubilidade do oxigénto é de 9,16mg/L (SDT < 400mg/1).A solubilidade de oxigénio em agua diminui com o aumento da altitude, com 0 aumento da tempera- tura e dos sais dissolvidos. Quando 0 oxigénfo molecular (0,) ndo esta presente na massa Ifquida (ambiente anéxico), 0s microorganismos utilizam o oxigénio de outros receptores de elétrons, tais como nitrato (NO,) e nitrito (NO,), para satisfazer suas necessidades energéticas. Neste caso, subsistem microorganismos facultativos. Organismos que somente sobreviver em meio desprovido de oxigénio e que geram energia por fermentacao sao obrigatoriamente anaerdbios. Finalmente, nutrientes (Ne P) devem estar presentes de forma balanceada em rela- do a matéria organica carbonacea (DBO), a fim de propiciar crescimento dos microor- ganismos e a conseqiiente degradacao do despejo organico. TOXICIDADE Muitos compostos organicos sintéticos sao resistentes a biodegradacao, uma vez que, pelo fato de nao ocorrerem na natureza, nao sao suscetiveis a metabolizacao por parte de microorganismos. A maior parte dos produtos quimicos organicos foram sintetizados a partir de petréleo e gas natural utilizados como fontes primarias de carbono. O carbono tem a propriedade de formar muitos compostos com cloro, alguns deles encontrados na natureza em pequenas quantidades. Porém, muitos destes compos- tos organoclorados produzidos sinteticamente com vistas a utilizacao na industria de 262 CovimoT 1 Tasuaeos Bescicos pesticidas, plasticos e eletronica, principalmente quando lancados ao meio ambiente, provocam toxicidade , uma vez que a ligacdo carbono ~ cloro é dificil de se romper biologicamente, desgrudando-se em conseqiléncia, muito lentamente, tendendo-se ase acumular na agua ou em tecidos de organismos vivos. As principais substancias recalcitrantes a uma depuracao biolégica sao 0s pesti- cidas (acaricida, algicida, bactericida, desinfetante, fungicida, herbicida, inseticida, raticida e outros), PCBs (bifenilas policloradas), dioxinas e furanos, hidrocarbonetos aromaticos polinucleares (PAHs) e estrégenos ambientais que interferem no sistema do organismo e interagem na transmissao de mensagens quimicas (horménios). Quando determinado composto organico sintético é lancado ao meio ambiente, © processo de estabilizacio é dificultado ou mesmo inexiste devido a auséncia de enzimas capazes de catalisar a sua decomposicao. A celulose e a liguina, por exemplo, do mais estaveis nas condigdes normais, pois é reduzida a freqiiéncia de individuos portadores de enzimas capazes de digeri-las. No entanto, moléculas organicas inexistentes na natureza viva, tais como compos- tos organoclorados, farmacos, horménios, agroquimicos e outros, nao sao decompos- ‘tas por nenhum organismo vivo, uma vez que nao possuem carga enzimatica neces- sarla a decomposicao daqueles compostos. Os microorganismos que degradam a matéria organica nos sistemas biolégicos de tratamento sao comumente protozoérios, fungos, bactérias, artrépodes e vermes aquatics. FLOCULACAO BIOLOGICA Na floculacao biologica, varias bactérias participam, formando uma massa bacte- iana de natureza coloidal do tipo hidréfobo ou li6fobo. Nestes coldides atuam duas forcas antagonicas: a primeira devida & prépria carga superficial eletrocinética deno- minada potencial zeta, originada pela adsorgao de ions do meio pela particula, cujas cargas se tepelem; a outra é uma forca agindo em sentido contrario, sendo responsa- vel pela atragiio molecular, conhecida como forca de Van der Waals. A aglutinacao das particulas da-se quando ha predominio das forcas de Van der Waals, permanecendo o potencial zeta muito baixo. Neste caso, ocorre a floculaao do sistema que acontece ao se misturar coldides de cargas opostas ou por meio de adigao de um eletrélito a solucdo. Uma terceira forga, entretanto, se opde & aglutina- 40 das particulas: a forca de locomocao das bactérias, que ocorre em um meio rico em nutrientes. Entretanto, a floculacao bacteriana somente acorre na fase de declinio do cres- cimento, denominada fase endégena, ou seja, na caréncia de alimentos e de nu- trientes, passando as bactérias a viver principalmente de suas proprias reservas nutritivas. Também protozoarios, especialmente ciliados, em sua fase de declinio de cresci- mento, proporcionam floculacao biolégica formando corpos esféricos de tamanho grande no interior de suas células, os quais se libertam, apés a morte destes orga- nismos, unindo-se em massas de capacidade adsorvente, formando flocos. 263 Casiwaoe | Tessas Bosco 12.2 PROCESSO DE LODOS ATIVADOS € 0 mais difundido dos processos biolégicos aerSbios, sendo muito utilizado na depura- «do de varios tipos de efluentes industriais. Como qualquer outro processo biolégico pode estar também associado a pré e pos-tratamentos fisicos fisico-quimicos e avangados. 0 processo de tratamento por lodos ativados muito flexivel, podendo se desenvolver ‘sob intimeras variantes, selecionadas conforme as caracteristicas de cada tipo de despejo ‘industrial, bern como da qualidade exigida para o efluente tratado. A aglomeracao de flocos formados continuamente pelo crescimento de varias espécies de microorganisms, a partir da matéria organica dos despejos, na presenca de oxigénto dissolvido, é denominada “lodos ativados”. Fundamental mente, o processo de lodos ativados consiste na metabotizacao bio- légica da matéria organica de aguas residudrias em um reator mantido sob condicdes aer6- bias contendo uma fauna variada de microorganismos. O suprimento de oxigénio é feito a partir do ar atmosférico por meio de aeradores ow ar difuso, oxigénio molecular de nitratos/ nitritos ou ainda diretamente com oxigénio puro. A massa biolégica formada (liquor) se separa fisicamente do liquido (usualmente por decantacao, flotacao ou filtracao) retornan- do, através de recirculaco, continuamente ao reator sob um nivel de poténcia adequado, de forma a manter os sotidos em suspensio. 0 liquido clarificado constitut-se no efluente tratado (altas remocdes de DBO). Os sélidos excedentes (lodo excedente) extraidos do reator softer tratamento especifico ainda por meios biolégicos (aerébios ou anaerébios), ou qui- ‘micos ou por incineracio, ou ento sao diretamente enviados & desidratarao, e/ou disposi- (0 final caso 0 nivel de estabitizacao (mineralizacao) do lodo excedente assim o permita. NUTRIENTES, Efluentes industriais muttas vezes possuem deficiéncias de nutrientes necessérios a degradacao biolégica em sistema de lodos ativados, para as fases de respiracao e sintese. Nitrogénto e fosforo sao os nutrientes mais importantes, emibora outros niutrientes como sédio, potassio, célcio, magnésio, etc, além de vitaminas, sejam também necessarios. As dosagens étimas de nitrogénio e fésforo podem ser determinadas a partir de ensaios prévios de tratabilidade, simulando-se em laboratério o processo de lodos ativados, com 0 despejo especifico. Devem ser medidas as concentracées no despejo, efluente lancado e lodo descartado. Entretanto, uma avaliacio preliminar pode ser feita a partir de célculos estequiométri- cos com base na composicio média das células que formam a biomassa; Considerando-se que os constituintes médios da biomassa (SSV) podem ser representa- dos pela formula C,H, NO, (PM* = 113), cerca de 12,4% de nttrogénto, (PM=14) so necessarios 20 equilibrio no balanceamento. No caso de fosforo, a quantidade minima necessaria pode ser preliminarmente estimada como sendo um quinto deste valor. No balango de massa, deve ser considerado também a perda de nutrientes no efluente lancado. Naturalmente estes valores sao tedricos e dependem de varios fatores ambientais, bem comoa idade do lodo, Nitrogénio e fésforo podem ser adicionados diretamente no tanque de aeracdo de sis- (+1 Peso Molecular 264 Gout 1 Taumewes Bescor temas de lodos ativados sob as formas de NH,,H,PO, ou (NH,), PO, nas formas anidra ou aquosa. MICROBIOLOGIA DE LODOS ATIVADOS | (Os diversos géneros de microorganismos encontrados em lodos ativados pertencem aos seguintes grupos: 1) Filo protozoa a) Classe Citiada i Ciliados livres-natantes, Q Ciliados pedunculares (Vorticella, Opecularia e outras); Cilfados Tivres predadores de floco (Aspidisca e outros). 0) Classe Mastigéfora Flagelados (Euglena e outros), ¢) Classe Sarcodina O Rizépodos (ameba, arcella € outros) 2) Filo rotifera O Rotiferos 3) Filonematoda CNematéides. 4) Filo anelida G Anelideos (Aelosoma). No lodo ativado, 95% de toda biomassa desenvolvida dentro do reator biolégico & constituida de bactérias, sendo estas pertencentes a, basicamente, dois grupos de bac- térias: as bactérias nao filamentosas (formadoras de flocos biolégicos) e as bactérias filamentosas. A base do proceso de tratamento por lodos ativados consiste na evolucio das bac- térias formadoras de flacos biolégicos, as quais se concentrarao no lodo nos processos de separacio de fases, produzindo um efluente final clarificado. Entretanto, para que esse processo ocorra adequadamente é necessario haver um equilibrio entre a quanti- dade de bactérias formadoras de flocos e as bactérias filamentosas. Flocos ideais para uma boa sedimentacao e boa tratabilidade sao classificados como Cabe ressaltar, contudo, que em muitas ocasides 0s flocos nao atingem essas boas carac- teristicas, ern funcdo da natureza do despejo e/ou em funcao da ma operacao da planta de tratamento biologico. Ha trés tipos principais de patologia dos flocos biolégicos: 265, Corio? | Tasers Becicos redondo e compacto FIGURA 12.2 Modelo de flocos predominantemente pequenos (Pin-Floc) 266 Casio | Tatras ixscio8 Figura 12.3, ‘Modelo de flocos dispersos ¢ com Bulking flamentoso. Figura 12.4 Protozoérios ciliado livre-natante da espécie Paramecium sp. _ agua oe Tact oe unns noua 267 Comune | Texamerossiowscos O Pin-Floc: 0s flocos sao predominantemente pequenos sem filamentosas (Figura 122) esse caso, nos decantadores secundarios os flocos decantam rapidamente, nao proporcio- riando 0 tempo necessario & adsorcio de flocos muito pequenos em suspensio, gerando um efluente final turvo e de ma qualidade, tipicos de biomassa com Idade de lodo muito alta. Flocos dispersos: Os flocos apresentam uma evolucao dispersa, so expansivos, e por ‘sso, nao alcancam urna boa decantagao. Sao tipicos de sistemas com idade de lodo batxa, “Bulking” Filamentoso: Os filamentos se desenvolvem em quantidades excessivas, deixando os flocos com aspecto irregular e difuso (Figura 12.3). Ha varlas causas que expli- cam ocrescimento excessivo dos filamentos (falta de nutrientes e/ou baixo teor de OD e/ou Idade do lodo alta, ete). 0s protozodrios e metazodirlos, apesar de representarem apenas 5% de toda biomassa do Jodo biolégica, também desernpenham um importante papel notratamentto dos efiuentes do lodo ativado. Eles se alimentam basicamente de bactérias que se encontram em suspen- sio no"liquor’, removendo assim, grande parte da turbidez do efluente final. £ importante ressaltar, contudo, que esses organismos sao muito sensiveis a mudancas nas caracteristicas do afluente e também na operacao de sistemas de lodos ativados, ser- vindo como bioindicadores. FicurA 12.5, Protozoério ciliado pedunculado da espécie Opercularia sp. Os grupos de protozodrios e metazoarios mais comumente observados em lodos ativa~ dos s20 0s seguintes: ‘Amebas e Tecamebas O Flagelados O Ciliados livres-natantes (Figura 12.4) O Ciliados pedunculados (Figura 12.5) O Ciliados Andarithos O.Ciltados Carnivoros Osuctorios ORotiferos CO Nematéides A Tabela 12: apresenta uma rela¢ao de microorganismos indicadores de determinadas condigdes de depuracio de proceso de lodos ativados. Em suma,a eficiéncia do tratamento por lodos ativados € diretamente dependente das bactérias e protozoarios, porém, a riqueza e a densidade dos mesmos variam em fun¢ao do ambiente em que se desenvolvem, isto é, dos parametros fisico-quimicos, do nivel de toxici- dade do efluente e também das condicdes operacionais do sistema. TapeLa 12.1 dos diferentes tipos de na do processo de lodos ativados Loo jovem (dade do ldo bina) Bacttrias Ripedes ee Rare Ge ios pede © tes Presee de Arai ‘ade de lod aia ‘Cliados ives efounematides. Excesio 6 oxgtnio dssolvido Aneldeos (Aelosoma). & ADITIVOS BIOLOGICOS Aditivos biol6gicos (colénias de microorganismos) muitas vezes so utilizados em trata- mento de efluentes objetivando biodegradar substancias recalcitrantes. Estas formulagdes sao produzidas através da telacao de bactérias, fungos € protozoarios, especificos para determinados tipos de contaminantes. ‘Seu veiculo de aplicacio pode ser 0 amido de milho, fornecido como suporte das cepas liofilizadas semi-inativas juntamente com solucBes nutrientes. A ativacdo se dara em con- tacto com a agua. Aaplicacao se da em catxas de gordura, lagoas aeradas ou em tanques de aeracio visan- do o incremento da biomassa presenite em processos biolégicos como o de lodos ativados. Os principais contaminantes ambientais passiveis de biodegradacao por linhagem de cepas selecionadas pertencem aos grupos constituidos pelos hidrocarbonetos po- liciclicos aromaticos (naftaleno, antraceno, pireno etc), compostos alifaticos clorados (TCE, diclorometano, tetracloroetileno etc), compostos aromaticos clorados (PCBs, ben- zenos clorados etc), compostos nitroaromaticos (2,4,6 trinitrotolueno, Acido picrico etc) além de metais pesados. Uma aplicacao tipica deste método seria a utilizacdo de fungos para tratamento biol6- gico de efluentes de corantes azdicos na industria téxtil denominados lignina peroxidase. Aplicada sobre um suporte de resina de troca iénica é capaz de degradar despejos derivados do processo de branqueamento na indiistria de papel e celulose. PRINCIPAIS CRITERIOS DE PROJETO DE UM SISTEMA DE LODOS ATIVADOS 0 projeto de um sistema de tratamento por lodos ativados para um determinado tipo de agua residuaria industrial predominantemente organica necessita, em muttos casos, de ensaios prévios de tratabilidade, pelo menos em escala de laboratério ou em planta-piloto. O objetivo destes ensaios, como relatado no Capitulo 5, é a obtencao experimental de para- metros de projeto que sejam especificos & depuracao do despejo industrial em questo. Contudo, os trés parmetros de projeto mais comumente utilizados sao o Fator de Carga ou (A/M), ou seja, a relacdo entre alimento e microorganismos, o tempo médio de retencao celular ou idade do lodo (0) eo tempo de detencao hidraulico (t) FaTor DE cARGA (A/M) £ S6uD0s EM SusPENSKo VoLitels (SSV) Fator de carga é a relagio estabelecida entre substrato (alimento) (A) expresso em kgDBO (ou DQO)/dia e a massa de microorganismos (M) expressa em kg SSV/dia. Em outras palavras, é a medida da taxa em que o alimento ou substrato, representado pela carga organica em DBO, é degradado por uma massa unitaria de microorganismos re- presentados pelo total da biomassa, isto é, pelos solidos em suspensao volitefs (SSV) no reator, em um determinado periodo (dia). A relacdo A/M é expressa em (kg DBO/kg SSV.dia). Pode também ser obtido, por aproximacao, medindo-se no “liquor”, respecti- vamente, 0 TOC (A) € 0 SSV (M). 05 sdlidos em suspensao volétels (SSV) contidos em um reator biolégico, represen ‘tam principalmente o contetido de biomassa formada no tanque de aeracao, produzido continuamente por forca da sintese do material biolégico. Os SSV advindos juntamente 270 com 0 despejo bruto sao também oxidados aerobicamente no reator bioldgico forman- do CO, e agua. A concentracao étima de SSV presente no teator biolégico esta situada entre 2000 4.000mg/L quando o dispositive de separacdo de fases é um decantador, Contudo, quando se utiliza separacdo por membranas para a separacao de fases, pode-se conseguir uma con- centragao em torno de 15.000 mg/L. Os valores tipicos de A/M situam-se entre 0,05 e 10 Kg DBO/Kg SSV.dia, dependendo da ‘modalidade do processo de lodos ativados adotada. IDADE Do LoDo OU TEMPO MEDIO DE RETENGAO CELULAR (0) Corresponde quantidade de lodo excedente (biomassa) extraida do sistema de lodos ativados (inclufda a parcela carreada com o efluente final) em rela¢ao ao total da biomassa (SV) contida no reator biolégico (kg SSV). Quanto maior a idade do lodo menor sera a pro- ducdo de lodo excedente do sistema. Valores tipicos de lodo excedente variam de 0,4 a 0.8 kg SSV/kg DBO removida. ‘Aiidade do lodo varia de acordo com a modalidade do pracesso de lodos ativados ado- tada, Sistemas de alta taxa tém idade de lodo de 1 a 2 dias. No processo convencional, 0 tempo de detencao celular varia de 3 a 10 dias, enquanto que na aeracao prolongada a ‘dade de lodo varia de 20 a 30 dias. Nesta ultima situacao o lodo excedente apresenta alto grau de estabilizacao, nao necessitando ser digerido complementarmentte. A nitrificagao em climas quentes ocorre com idade de lodo acima de 2,5 dias e em climas mais frios se da com idade de lodo acima de 5 a 7 dias. De qualquer forma, a determinacdo da idade do lodo ideal para um dado despejo industrial depende de estudos experimentais com 0 despejo especifico, Tempo DE DETENGAO HIDRAULICO Expresso em horas ou dias, é a relacao entre 0 volume do reator biolégico (m) e a vazio afluente (m'/h ou m?/dia) desconsiderando-se a fracao de lodo recirculado. ( tempo de detencao € especificado em funcao principalmente das caracteristicas do despejo bruto especifico, sendo, no caso de despejo industrial, determinado em funcio de resultados experimentais, CINETICA DO PROCESSO DE LODOS ATIVADOS Intropusio Os parametros cinéticos necessarios para o dimensionamento de um sistema de lo- dos ativados para um determinado despejo industrial podem ser determinados a partir de ensaios de tratabilidade biologica em escala de laboratério realizados com amostras tepresentativas destes despejos, utilizando-se modelos matematicos’ (ver Capitulo 5). ‘TRS Rarnalho— iivoduction to Wastewater Treatment Process, 1977 an Giriwio® | Temenos doses Para tanto, se utilizam dados medidos em pelo menos 4 reatores do mesmo volume (V) (de 5 a 101 cada), operando em paralelo sob regime continuo de operacio, “steady state” Considera-se, para efeito de simplificacao, que o despejo industrial tenha normalmente matéria organica biodegradavel representada pelos sélidos em suspensao volateis (SSV)?e nao biodegradavel, representada pelos sélidos em suspensao fixos (SSF) No laboratério, em cada reator sao conhecidos ou determinados os seguintes dados: Q Volume dos reatores:V (litro) G Concentragio média de DBO no afluente: La (mg/l) O Concentracdo média de DBO no efluente: Le (mg/l) O Teor de SSV nos reatores: SSV (mg/l) (mantido normalmente entre 2.000 e 3.000 mg/l) O Teor de SSF no afluente e no efluente dos reatores: (mg/l) i Vazao afluente: (Via) O Tempo de detencio:t (dias) O idade do todo: (dias) O Indice volumétrico de lodo: (IVLem ml/g) O Taxa de deplecao de oxigénio: Rr (mg O2/ldia) O Producao de lodo biolégico (SSV): em g/dia, equivalente a quantidade de lodo exceden- te retirado do reator, CAtcULO DOs PARAMETROS CINETICOS Considerando-se um reator continuo operado sob condicGes estvels e sob mistura com- pleta,a taxa de remogao do substrato segue uma equacio cinética de primeira ordem, ou seja, a velocidade de remocao do substrato dL/at é proporcional & concentracao do substra- to (U). Esta equacao é representada no esquema a seguir: DIAGRAMA SIMPLIFICADO DE UM REATOR CONTINUO at. ~~ =- 6 aE KL (23) Aremocao do substrato pode ser expressa em mg/L de SsV Q,La, SSFa v: Qe, ssFe pe ee NETS ssv. ‘Rode Haver em determinados despejos industrials parcela de SSV ndo biodegradves persistentes sob condi- (Bes de biomassa nao acimatizada. 272 DIAGRAMA SIMPLIFICADO DE UM REATOR CONTINUO ‘A qual integrada e rearranjada resulta (La-Le) K (12.2) Onde: Q - vazao afluente (m*/dia) La - DBO afluente (mg/l) le ~ DBO efluente (mg/l) SSV ~ teor de sélidos em suspensdo volateis (SSV) no reator (mg/l) R. - taxa de remocio do substrato (dia) V" = volume do reator (m’) t _~ tempo de detencao hidraulico (dia) SSFa e SSFe —Sélidos em suspensao fixos afluente e efluente (mg/L) Os parametros cinéticos necessarios para o dimensionamento s2o os seguintes: R-taxa de remacao do substrato (dia-1) a (Fase de sintese) - quantidade de SSV produzida relativamente a quantidade de subs- tratoremovido ou seja.a producao de lodo biol6gico por kg de substrato removido (kg VSS/ kg DBO removida).. 'b— (Fase de respiracao endégena) —fracdo de SSV, por unidade de tempo oxidado duran- te o processo de respiracio endégena, ou seja a quantidade de SSV oxidada por dia relativa- mente 4 quantidade total de SSV no reator (dia-1) (kg SSV/kg SSV.dia). a'— quantidade de oxigénio requerida para energia (kg 02 /dia) relativamente a quanti- dade total de DBO termovida (kg DBO/dia) (kg O2/kg DBO removida). b’— quantidade de oxigénto utilizada por dia (kg/dia) relativamente a quantidade de SV no reator (kg) (dia-t). Corresponde & quantidade de oxigénio utilizado para a respiragao endégena (kg O2/kg SSV.cia) Marcha de calculo para Ovalor de Ré determinado graficamente, plotando-se no eixo das ordenadas a relacio (La-Le)/SSV x t e no eixo das abscissas a DBO efluente (Le). O valor de R¢é 0 coeficiente angu- Tar da reta: (Figura 12.6) (la-Le) /SSvt = Riley). 7B Figura 12.6 Aparcela nao biodegradada (y) corresponde ao ponto de intercesstes da reta no eixo das abscissas até origem. Marcha de célculo para a’eb’ Inicialmente é necessario calcular a taxa de deplecao de oxigénio (Rr)? em mg O2/L xdia A determinacao de a'e b’ pode ser também efetuada graficamente plotando-se no eixo das ordenadas a relacdo Rr/SSV (dia-1) e no eixo das abscissas a relacdo (La-Le) / SV xt (dia”) a'corresponde a inclinacao da reta enquanto que b’é distancia do ponto de interseccao da reta no eixo das ordenadas até a origem. (Figura 127) Onde: la ~ DBOafluente (mg/l) Le — DBO efluente (mg/l) Rr — taxa de deplecao de oxigénio (mg 2/1 dia) SS — sélidos em suspensao volateis no reator (mg/t) t = tempo de detencao hidréulico (dia) MARCHA DE CALCULO PARA ED A determinacao de a e b pode ser também efetuada graficamente, plotando-se no eixo das ordenadas a expresso [Ax/V - (SSFa~'SSFe + SSVa)/t]/SSV e no eixo das abscissas a re- lacdo (La—Le)/SSV-t ‘6 0 coeficiente angular da reta enquanto que b € obtido medindo-se a distancia do onto de interseccao da reta no eixo das ordenadas até a origem. A distancia do ponto de interseccao desta reta no eixo das abscissas até a origem corresponde & relacao b/a. (Figura 128. Tabela 12.2) 3Ver marcha de llculo de Rr ne Capitulo S~ Ersaios de Tatabiidade 274 Coorwiot | Temenos iapaces [Ax t/y- (SSFa - SSFe SSVa )ht) ssv (mg SSVi(da) mg SSV) (a) Figura 12.8 onde la ~ DBOafluente (mg/L) le - DBOefluente (mg/l) Ax ~ produgdo de lodo (mg/L.dia) V__ — volume do teator (m?) ‘SSFa - sélidos em suspensao fixos no afluente (mg/l) SSFe ~ sélidos em suspensao fixos no efluente (mg/) 'SVa ~ sélidos em suspensado volatefs no afiuente (mg/L) SV ~ sélidos em suspensao volatets no reator (mg/l) t — tempo de detencdo hidrautico (dia) CAtcULO DO VOLUME DO REATOR ‘Ovolume do reator aerébio pode ser calculado de acordo com dois critérios, ambos base- ados nos resultados dos testes de tratabitidade: OTaxa de remocdo do substrato Fator A/M que redunde na melhor condicao de floculacio e sedimentacao do lodo No1® critério,o tempo de detensao para o calculo do volume do reator pode sercalculado utilizando-se a seguinte equacao: t= (La-Le\/RSSV (Ley) ou V=[(La—Le) / RSV Le]Q — quandoy-0 (12.3) Onde: la ~ DBO afluente (mg/L) Q = vazao affuente (m/dia) SSV_— sélidos em suspensao volateis no reator (mg/L) AJM ~ relacdo alimento/microorganismos (kg DBO/kg SSV.dia) R._ ~ taxa de remogao do substrato (dia") y= parcela nao biodegradavel (mg/t) 215 Deve ser observado que estes calculos remetem a obtenco do volume minimo do reator aerdbio. Para a estabilizacdo do lodo excedente no proprio reator em um processo de lodos ativados por aeracao prolongada o volume devera ser acrescido de forma que resulte fatores de carga (A/M) da order de 0,05 a 0,15kgDBO/kgSSV.dia (maior idade do lodo}. © formato do reator aerdbio depende das condicées locais (“lay out”) e dos mecanfsmos de aeracao e de separacdo de fases. No caso de ar difuso ou oxigénto puro sao desejaveis ‘tanques mais profundos a fim de facilitar a difusao de ar ou do oxigénio (figura 12.9). Com aeradores so desejéveis tanques mais rasos, dimensionados de acordo com a érea de influ- €ncia (horizontal e vertical) do aerador mecanico (Figura 12.10) No 2° critério o volume de reator é dado pela seguinte equacao. ag (12.4) ee. 25) = ssv A/M re oy a= ssv Vv (eS, Onde: V__ — volume do reator (m’) La = DBO afluente (mg/L) Q_ ~ vazio afluente (sem recirculacao) (m'/dia) $V — sélidos em suspensao volateis no reator (mg/l) AIM ~ fator de carga (kg DBO/kg SSV.dia) TABELA 12.2 ‘Valores tpicos de cinéticos de tratamento 5 doméstco O73 052 5 106 0,017 — 3a | ea 0310.72 0,31-0,73 0,05-0,18 0,071 0.255 0,018 Farmactutica 072-0,7 046 2 a 0018 Foaie RS Raralko * Valores desta: ("= 1425) Mato aac Be Erenes NOUS 276 Ficura 12.9 Tanque de aeragao aerado por ar difuso Corte \ eho 21 Figura 12.10 \¢40 aerado com aeradores superficiais Planta Corte 278 Corrwor | Temmeosseiscios CALCULO DA QUANTIDADE DE OXIGENIO NECESSARIA Atransferéncia de oxigénio para processos bolégicos de tratamento é feita por meio de ‘aeragao, promovida mecanicamente através de aeradores (turbinas) ou por dispositivos de ar difuso (difusores), ou por injecdo direta de oxigénto puro. Varios fatores podem afetar esta transferéncia de oxigénio, destacando-se a temperatura, ‘aturbuléncia e a profundidade da massa liquida, bem como as caracteristicas do “liquor”. A quantidade de oxigénio necessaria a atividade dos microorganismos em um sis- tema biologico é funcao da DBO, afluente (energia), [a' (La - Le) Q]. € expressa em kg aut oc Tasanc Be Esenes nouseas Comuon | Temmomes moiscios 0,/kg DBO removido. A quantidade de oxigénio devera satisfazer também a respiracio endégena dos microorganismos (Kg 0,/kg SSV no teator) (b’ SSV x V) e, em alguns ca- sos, também a nitrificagao, Esta quantidade pode ser calculada através de dados experimentais obtidos em ensaios de tratabilidade em escala de laboratério. Estes testes fornecem valores de parametros de utilizagio de oxigénio constantes nas formulas especificas empregadas para o célculo do consumo de oxigénio (veja metodologia no exemplo a seguir). ‘A equacao proposta para o calculo teérico da vaziio massica de oxigénto (Kg O2/dia) pars a remogao da matéria carbonacea é a seguinte: Q=[a'La~Le) Q+ b'SSV xV] x10 (126) Onde: — vazao massica (kg O2/dia) = quantidade de oxigénio utilizada na oxidacao do substrato relativamente a carga organica removida (DBO) (mg O2/mg DBO); = DBO afluente ao reator (mg/l); — DBO efluente do reator (mg/l); ~ vazio afluente em escala plena (m*/dia); ~ quantidade de oxigénio utilizada por dia por quantidade total de SSV no liquor do teator aerébio devido ao processo de respiracdo endégena (dia- SSV ~ sélidos em Suspensao Voléteis no reator (mg/L); V__ — volume do tanque de aeracao (rm). As condigSes aerobias no tanque de aeracdo devem ser mantidas preferencialmente 2 ‘um nivel de oxigénio dissolvido da ordem de 1a 2 mg/L, extensivel também ao decantador secundario. Além disso, qualquer que seja a forma de introducao de oxigénio, deverdo ser mar no reator aerdbio condicées étimas de mistura. Muawat oscar oe Eruenes nous 280 caviiot | Texnmenros aboicos Mayu oe Taeaenro oe Eruenes novers 281 Grok | Tamaomestewdieos 13 12 1 10 09 08 07 06 Os 04 03 02 oa Comumente para fins praticos, e na auséncia de dados experimentais, é comum adotar por seguranca a relacdo 2 kg O2/kg DBO (sem nitrificacdo). Para propiciar condigdes de completa mistura no reator necessario manter todos os sdlidos nao dissolvidos (SST) em suspensao no reator. Esta condicao de ‘mistura a partir da introduco de oxigénio, (quer por meio de ar difuso ou por meio de aeradores), é conseguida mantendo-se um nivel de poténcia de minima de 1OW/m? dentro do reator. LovOs ATIVADOS E SUAS MODALIDADES MAIS APLICADAS A DESPEIOS INDUSTRIAIS ‘Convencional Esta modalidade de lodos ativados conhecida como “plug flow” ou fluxo de pis- to, € representada por um tanque areado, decantador secundario e dispositivo de reciclo de lodo. No tanque de aetacao ocorre conjuntamente a adsor¢ao, floculacao © oxidagao da matéria organica (colotdal, dissolvida e em suspensdo) contida nos despejos. O processo opera na fase de crescimento logaritmo e na fase de sintese. As aguas residuarias, juntamente com o lodo reciclado, adentram ao tanque de aeracdo por uma de suas extremidades sendo misturadas juntamente com o oxi- génio, que é aportado constantemente ao longo do tanque, porém com a dernanda decrescente Usualmente, esta modalidade utiliza relacdes A/M mais elevadas (0,2 a 0,4c DBO/g SV dia) com baixos tempos de detencao hidraulica (4 a 8 hs). O teor de SSV varia de 1.200 a 3.000 mg/L. Em conseqiléncia, 0 lodo produzido ainda conta com boa atividade tequerendo estabilizacao em separado (idade do lodo baixa) (Figura 12.12). Figura 12.12 Lodos Ativados: convencional Smee a og po A Ficura 12.13 Lodos Ativadas: mistura completa Manu oe Teasatnr oe Enuenes Noures 283 Figura 12.14 Valo de Oxidagao ‘Mistura completa Nesta modalidade, tanto as 4guas residuarias como 0 lodo reciclado, so introduzidos ‘em varias partes do reator biolégico ao longo de um canal central. 0 liquor € extraido ao Tongo dos canais de saida situados nas extrernidades do reator. Neste reator, a carga organi- ‘cano tanque de aeracio e a demanda de oxigénio ao longo do tanque sao constantes. Esta modalidade permite maior aceitacao a cargas de choque. O proceso de mistura completa utiliza telacoes F/M, variando de 0,2.a 0,6 g DBO / g SSv, dia, e um teor de SSV variando entre 2.500 a 6.500 mg/L.O tempo de detencio hidraulica varia entre 3 a 5 horas. Em conseqiiéncia, o odo excedente exige estabilizacao em separado (Figura 1213) ‘Aeracao prolongada (oxidagao total) € amats popular entre as variantes do processo de lodos ativados, sendo mutto utilizada em tratamento de despejo industrial, pois permite maiores tempos de detencao além de eliminar a etapa de decantacdo priméria e conseqiientemente estabilizacdo em separado dos lodos. Este processo opera na fase de respiracdo endégena da curva de crescimento da biomas- sa, isto 6, na fase “canibalista’, onde os microorganismos sao forcados a metabolizar tam- bém seu préprio protoplasma. Para tanto, se requer um baixo fator de carga orgainica (0,05 .0,15kg DBO/KgSSV. dia) e um longo periodo de aeracao no reator biolégico. O lodo removido do sistema 6, ern conseqiiéncia, praticamente desprovido de energia e portanto quase sem atividade, sendo considerado um lodo estabilizado. Fluxo orbital e Valo de oxidac3o Consiste em um canal oval do tipo "hipédromo", equipado com aerador mecanico super- ficial escova horizontal ou turbina vertical). Exige longos periodos de detencdo, como na aeracio prolongada. Permite, contudo, nitrficacao e denitrificacao do efluente, bastando localizar adequadamente 0s dispositivos de entrada e saida do reator,telativamente a intro- duugao de oxigénio (Figura 12.14) Oxigénio puro € uma modalidade relativamente recente de lodos ativados em que o oxigénio de alta pureza ¢ introduzido em reator biolégico coberto, o que resulta ser muito mais eficiente que a introducao de ar difuso. “Deep Shaft” Trata-se de uma das outras variagbes do processo de lodos ativados em que o reator ae- rébio é na realidade um poco profundo escavado no solo, de 60 a 150m de profundidade e cerca de 6 a 10m de diametro. 0 poco é dividido em dots compartimentos interligados na parte inferior do “shaft” for- ‘mando um reator anelar. O “liquor” (despejo + lodo reciclado) eo ar sao forcados para baixo do poco em um dos compartimentos elevando-se posteriormente através do outro compar- timento até a “cabeca” do sistema. ar € injetado na base do poco. Aflotacio ¢ utilizada para a separacao da biomassa sendo os sélidos flotados recircula- | dos devolta ao reator. lambém se utilizam decantadores como separadores de fase, sendoo | _lodo igualmente retornado ao reator. Neste caso, antes do envio do “liquor” aos decantado- | tesha necessidade de uma degaseificacao da mistura. ‘A vantagem do processo é que se consegue um aumento da quantidade de oxigénio Aissolvido entre 25 e 60mg/L no poso, redundando em efeitos benéficos na utilizacao do substrato pelos microorganismos. O processo mantém um baixo tempo de detencao hi- AGrdulica, nao sendo possivel digestao conjunta e a realizacao do processo de nitrificagao/ denitrificagao no sistema (Figura 1215). Figura 12.15 Deep Shaft. ae = sine ou TA mS Ficura 12.16 Reator seqiencial em batelada 285

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