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Ficha Informativa- Português 10ºano

Rimas, de Luís de Camões

- Lembrar o essencial-

A poesia lírica de Camões, compilada nas Rimas (cuja primeira edição apenas foi editada
postumamente, em 1595), espelha a influência da lírica tradicional, mas revela igualmente a
inspiração clássica decorrente da preponderância que, no período do Renascimento, assumiu a
recuperação dos modelos culturais e literários clássicos (Classicismo).
Se, por um lado, o autor continuou a utilizar a medida velha, a redondilha (menor ou
maior, consoante apresentasse cinco ou sete sílabas métricas), em composições inspiradas na
poesia dos cancioneiros medievais e palacianos, ele serviu-se igualmente da medida nova, o
decassílabo, em géneros de inspiração clássica, de entre os quais se destaca o soneto. Esta
nova forma poética, importada de Itália, constituída por duas quadras e dois tercetos de versos
decassilábicos, permitiu a Camões o tratamento de uma grande diversidade de temas, muitas
vezes explorados a partir de uma abordagem intimista e, por esse motivo, caracterizada por um
discurso pessoal e com marcas de subjetividade (como o recurso à primeira pessoa).
A experiência amorosa e a reflexão sobre o Amor ocupam, em termos temáticos, um
lugar de destaque, em composições em que o sujeito poético se dedica à (tentativa de)
apresentação do Amor e à meditação sobre a sua essência complexa e os seus efeitos muitas
vezes contraditórios, de que resultam angústias e conflitos interiores. Por vezes, o confronto entre
o amor espiritual concebido à maneira petrarquista e o desejo sensual nascido das vivências
quotidianas potencia as dúvidas e o sofrimento do “eu”.
Intimamente associada ao amor, a representação da amada é recorrente na produção
lírica camoniana. A mulher surge predominantemente descrita segundo os cânones de influência
petrarquista, reunindo características físicas, psicológicas e morais que fazem dela um modelo de
beleza exterior e interior. A sua inacessibilidade e o facto de não corresponder ao amor votado
pelo “eu” são, contudo, fonte de sofrimento e de angústia.
A representação da Natureza ocorre em poemas em que se recria um ambiente bucólico
idílico (locus amoenus), cenário, por vezes, confidente dos amantes. Porém, o poeta nem sempre
desfruta do ambiente, devido à ausência da amada, e com frequência, também, o espaço natural
reflete os seus estados psicológicos, coadunando-se com eles.
A vivência turbulenta do amor, conjugada com um sentimento exacerbado da presença e
da força do Destino, conduz a uma reflexão sobre a vida pessoal, de pendor disfórico e em que
se reitera a ideia de infortúnio e de dor.
A esta ideia de desarmonia individual alia-se ainda o reconhecimento da mudança
contínua, regeneradora para a Natureza, mas fonte de angústia para o ser humano, e a

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constatação do desconcerto do mundo. Num contexto de decadência económica, política e
social do país (segunda metade do século XVI), a que Camões não é alheio, muitas composições
abordam a desordem e a confusão sentidas a nível social e moral e expressam a perplexidade do
sujeito poético face a um mundo em mudança.
In Letras em dia 10, Porto Editora

A Professora:

Maria do Rosário Nicolau Gome

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