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Revista Científica Guillermo de Ockham

ISSN: 1794-192X
investigaciones@ubscali.edu.co
Universidad de San Buenaventura Cali
Colombia

Nicholson, Andrew J.
Orientalismo, Interpretação, e o Estudo da Filosofia Indiana no Ocidente
Revista Científica Guillermo de Ockham, vol. 14, núm. 1, 2016
Universidad de San Buenaventura Cali
Cali, Colombia

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=105345260011

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Rev. Guillermo de Ockham 14(1): xx-xx, 2016 Artículo IN PRESS

Orientalismo, Interpretação, e o Estudo da Filosofia


Indiana no Ocidente

Andrew J. Nicholson1
Stony Brook University, (EEUU)

Recibido: Noviembre 27 de 2015 – Revisado: Diciembre 17 de 2015 – Aceptado: Marzo 7 de 2016

Referencia formato APA: Nicholson, A. J. (2016). Orientalismo, Interpretação, e o


Estudo da Filosofia Indiana no Ocidente. Rev. Guillermo de Ockham, 14(1), pp-pp.

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Edward Said e a Crítica da Indologia

Em 1978, o crítico cultural e literário palestino-americano Edward Said escreveu

um livro chamado Orientalismo: A Invenção do Oriente pelo Ocidente. Neste livro, Said

criticou o trabalho acadêmico dos "orientalistas" na Europa e na América do Norte,

considerando-o um instrumento do poder imperial. Sendo palestino, ele estava

especialmente interessado em como o conhecimento europeu sobre o Oriente Médio e

sobre o Islã foi produzido nos séculos XVIII, XIX e XX. Ele tinha menos a dizer acerca

da produção europeia de conhecimento sobre o Sul da Ásia e o Leste da Ásia. No entanto,

alguns dos meus professores e colegas, como Sheldon Pollock, Ronald Inden, e Richard

King desenvolveram algumas ideias de Said, estendendo sua crítica ao orientalismo à

discussão sobre a indologia e a sinologia.

_____________________________________
1
Is Associate Professor of Dept. Of Asian & Asian American Studies in Stony Brook
University. Email: andrew.nicholson@stonybrook.edu
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Um dos temas do livro de Said é como os estudiosos europeus consideram o

Oriente um “outro ontológico." Em vez de buscarem uma verdadeira compreensão das

culturas e religiões asiáticas, esses europeus, como Arthur Balfour e Ernest Renan,

meramente projetaram seus próprios preconceitos e estereótipos no "Oriente". Fossem

quais fossem as qualidades do "Ocidente", essas qualidades foram invertidas no

"Oriente". Por exemplo, enquanto os ocidentais eram vistos como práticos, viris,

materialistas, e agressivos, os orientais foram descritos como pouco práticos, femininos,

espirituais e passivos. Esses estereótipos, é claro, têm pouca conexão com a realidade dos

países asiáticos. Qualquer um que conhecesse a luta violenta pela independência da

Inglaterra, e as figuras revolucionárias de B.G. Tilak e Sri Aurobindo, não descreveria os

indianos como "passivos." No entanto, esses estereótipos sobre o Oriente continuam até

hoje. Eles são reiterados em livros populares e em filmes sobre a Índia, por exemplo, na

figura do excêntrico brâmane professor Godbole no filme Passagem para a Índia.

Edward Said não era um estudioso da Ásia. Na verdade, sua área de

especialização era literatura européia. De certa maneira, isso era uma virtude. Ele foi

capaz de ver os problemas metodológicos no estudo do "Oriente" que os especialistas em

sânscrito, árabe, e chinês clássico não podiam ver. Mas esta também foi uma limitação,

pois Said tendia a generalizar excessivamente. No meu livro de 2010, Unifying Hinduism

(“Unificando o Hinduísmo”), eu examino alguns pontos fracos do modelo de Said para a

compreensão da história do Orientalismo. Said concentra-se no Oriente Médio, mas, às


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vezes, também discute o trabalho dos orientalistas britânicos sobre o sul da Ásia. William

Jones, que foi talvez o primeiro grande indólogo britânico, também é discutido no livro

de Said. Jones tentou aplicar os métodos filológicos desenvolvidos para o estudo do latim

e do grego na descoberta dos verdadeiros significados dos textos sânscritos. Said

descreveu William Jones como um agente imperialista que não estava envolvido de

forma substancial com a interpretação de idéias estrangeiras. Para Said, na criação do

Oriente, os pensadores ocidentais projetaram diante de si um Outro oriental, como uma

imagem espelhada, de modo que a compreensão de relações binárias entre o Ocidente e o

Oriente, como materialismo contra espiritualismo, indivíduo contra comunidade, e

masculino contra feminino, foi mais importante do que as investigações empíricas. Para

Edward Said, não estava em questão a compreensão correta ou incorreta dos objetos das

investigações dos orientalistas:

(...) o fenômeno do orientalismo como eu o estudo aqui trata, principalmente, não de uma

correspondência entre o orientalismo e o Oriente, mas da consistência interna do

orientalismo e de suas idéias sobre o Oriente (...) apesar ou além de qualquer

correspondência, ou a falta dela, com um Oriente "real."1

Essa indiferença aos objetos reais do estudo dos orientalistas e a suspensão das

questões de verdade ou falsidade nos trabalhos dos orientalistas cria problemas para a

compreensão do fenômeno do orientalismo. Em vez do modelo de espelhamento que Said

Gostaria de agradecer a Lucas Nascimento Machado por sua ajuda na edição e tradução deste ensaio, que
foi originalmente apresentado como uma palestra no Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.

1
Edward Said, Orientalism. New York: Vintage Books, 1978, p. 5.
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apresentou, um modelo mais completo é sugerido nos trabalhos de Charles Hallisey e de

meu professor, Sheldon Pollock. Hallisey inventou a frase “mimese intercultural” para

descrever este modelo.2 Na “mimese intercultural”, pensadores se apropriam de certos

conceitos ou símbolos que encontram em tradições não-ocidentais e, em seguida,

recontextualizam esses conceitos ou símbolos, por razões ideológicas específicas, no

contexto cultural europeu. Por exemplo, Pollock descreve como o Raj britânico utilizou

textos jurídicos em sânscrito (dharmaśāstras), e em particular seu conceito de varṇa

(traduzido com "classe"), como um instrumento para o governo centralizado do

subcontinente indiano.3 No entanto, antes dos britânicos, os dharmaśāstras nunca foram

usados desta maneira por os reis indianos. Esses exemplos sugerem que os orientalistas

fizeram, por vezes, contato real com seus objetos de estudo, o qual, contudo, foi

comprometido por distorções ideológicas do poder imperial.4 Além disso, as elites nas

sociedades asiáticas eram, muitas vezes, cúmplices na criação e sustentação de idéias

orientalistas, usando discursos orientalistas como um instrumento para manter sua própria

posição elevada no novo contexto da sociedade colonial. Havia, certamente, um

desequilíbrio de poder na interação entre os estudiosos brâmanes na Índia e os

administradores coloniais, tais como William Jones. No entanto, a apresentação dos

indianos como completamente passivos nesse processo de "invenção do oriente" priva os

2
Charles Hallisey, “Roads Taken and Not Taken in the Study of Theravāda Buddhism.” Em Curators of
the Buddha: The Study of Buddhism under Colonialism, ed. por Donald S. Lopez. Chicago: University of
Chicago Press, 1995, p. 33; Sheldon Pollock, “Deep Orientalism? Notes on Sanskrit and Power Beyond the
Raj.” Em Orientalism and the Postcolonial Predicament, ed. por Carol Breckenridge e Peter Van der Veer.
Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1993, pp. 97-8.

3
Pollock, p. 98.

4
Arif Dirlik sugere que é pela análise dessas “zonas de contato” entre orientalistas e seus informants
asiáticos que podemos começar a compreender o quanto os próprios asiáticos contribuíram para os
discursos orientalistas. Vide Dirlik, “Chinese History and the Question of Orientalism,” History and
Theory, 35:4 (1996), pp. 96ss.
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indianos de sua agencialidade. Ela também não pode explicar as contribuições reais de

indólogos como William Jones e H.T. Colebrooke para o entendimento da Índia antiga.

H.T. Colebrooke, presidente da Sociedade Asiática de Bengala e fundador da

Sociedade Asiática Real em Londres, foi, com William Jones, um dos orientalistas

preeminentes dos séculos XVIII e XIX. Como Jones, ele também foi juiz durante parte de

seu tempo na Índia. Depois de onze anos de trabalho na Índia para o governo britânico,

ele começou o estudo do sânscrito para traduzir textos jurídicos (dharmaśāstras). Por

mais que tenha escrito sobre uma enorme quantidade de tópicos, desde a matemática

indiana até poesia em Prakrit, sua contribuição mais significativa, na minha opinião, foi

uma série de palestras que deu de 1823 a 1827 na Sociedade Asiática Real, intitulada

"Sobre a Filosofia dos Hindus."

O estudo que Colebrooke faz dos sistemas filosóficos indianos é notável por como

ele é fiel às suas fontes primárias em sânscrito, e por como raramente comete erros sobre

as doutrinas das escolas de filosofia indiana. Mais especificamente, ele evita as distorções

de orientalistas no final do século XIX tais como Arthur Schopenhauer, Paul Deussen,

Richard Garbe, entre outros, que tentaram arduamente identificar semelhanças com

sistemas filosóficos gregos e alemães. Ao contrário destes outros orientalistas,

Colebrooke geralmente se contenta em apresentar doutrinas sem comparação explícita

com filosofias ocidentais, e sem louvor ou menosprezo. Colebrooke mostra, com seus

comentários analíticos, verdadeiros insights interpretativos. Ele é um modelo das

possibilidades para a indologia ocidental, apesar das diferenças culturais e das relações

desiguais de poder entre a Europa e a Índia.


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O Estudo dos Textos Indianos na Alemanha

Embora o interesse primário de Edward Said fosse por escritos franceses e

britânicos sobre o Oriente Médio, ele também afirmou que sua análise se aplicava a

outras partes da Europa. Ele discute Friedrich Schlegel, autor alemão do influente livro

de 1808, Über die Sprache und Weisheit der Indier (Sobre a Língua e a Sabedoria dos

Índianos). Mas pode ser que Said cometa um erro aqui. Estudiosos como Todd Kontje, no

livro German Orientalisms (Orientalismos Alemães), e Sheldon Pollock no artigo "Deep

Orientalism?" (Orientalismo Profundo?) notaram que o orientalismo alemão era diferente

do orientalismo na França e na Grã-Bretanha.5 É importante notar que a Alemanha não

era um poder imperial na Ásia. Ao invés de ver a Índia antiga como algo

fundamentalmente outro, muitos alemães a viram como uma parte da sua própria herança,

ou seja, da herança dos povos arianos, que eles acreditavam serem responsáveis tanto

pela cultura indiana antiga quanto pela cultura alemã. Isso levou a algumas declarações

notórias dos indólogos alemães Walther Wüst e Jakob Wilhelm Hauer, os quais, na

década de 1930, interpretaram pelas lentes de teorias racistas nazistas os antigos textos

indianos. Por exemplo, em uma palestra que deu na Universidade de Munique em 1937,

Wüst disse que as teorias de Adolf Hitler faziam parte da “antiga tradição hereditária (...)

da grande personalidade ariana da antiguidade, o Buda.”6

Não obstante tais exemplos extremos, está claro que, para muitos indólogos

alemães, o estudo de textos em sânscrito não foi feito tendo por finalidade mostrar que os

indianos eram completamente "ontologicamente Outros." Antes, ele foi feito, isso sim,

5
Pollock, pp. 88-98, e Todd Kontje, German Orientalisms (Ann Arbor: University of Michigan Press,
2004).
6
Citado em Pollock, p. 90.
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para descobrir um passado histórico compartilhado – quer este passado tenha sido

imaginado como um passado racial ariano, ou, menos controversamente, como um

passado compartilhado por todos os seres humanos. Mas, qual foi o legado da indologia

alemã dos séculos XIX e XX? Os seus erros anteriores invalidariam os métodos de

indologia utilizados na Alemanha hoje?

Em 2014 um livro polêmico foi publicado, chamado The Nay Science: A History

of German Indology (A Não Ciência: Uma História da Indologia Alemã). Escrito pelos

estudiosos indiano-americanos Vishwa Adluri e Joydeep Bagchee, este livro é uma crítica

mordaz à pretensão dos indólogos alemães de que o tipo de trabalho que eles fazem seja

"científico." Adluri e Bagchee discutem o desenvolvimento do "método histórico-crítico"

praticado por indólogos, e as raízes deste método na teologia protestante alemã. Eles

discutem também o trabalho dos principais estudiosos da Europa que usam esse método

hoje, tais como Angelika Malinar (Universidade de Zurique) e Walter Slaje

(Universidade de Halle-Wittenberg), e afirmam que, ao invés de ser um trabalho

"crítico," o trabalho desses estudiosos é "pseudocrítico."

Baseando-se em que Adluri e Bagchee condenam um grupo inteiro de estudiosos

como sendo "pseudocríticos"? O seu trabalho é, de certa forma, uma extensão da obra de

Edward Said e Sheldon Pollock, embora uma extensão em relação à qual mesmo Sheldon

Pollock já tenha expresso desconforto. Esse livro começa no século XIX, examinando o

trabalho dos estudiosos alemães que afirmavam utilizar o "método histórico-crítico" para

escrever sobre o Mahābhārata e a Bhagavad Gītā.

Este tipo de trabalho é marcado por certos pressupostos. Adluri e Bagchee os

resumem como:
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1. A rejeição da teologia e da filosofia.

2. Uma confiança ilimitada na capacidade do historiador para recuperar um "original."

3. A rejeição da hermenêutica indiana como "acrítica".

4. A reivindicação da soberania sobre o texto e a tradição.7

Este é um sumário das tendências que os autores encontram nos trabalhos de

indólogos do século XIX, tais como Adolf Holtzmann Sr., Richard Garbe e Rudolf Otto,

e que eles afirmam continuarem presentes no trabalho de indólogos do século XX.8 Mas,

seria esta uma crítica justa da indologia alemã como um todo?

Em primeiro lugar, a assim descrita “rejeição da filosofia e teologia” é apenas

parcial. Alguns indólogos dos séculos XIX e XX estavam profundamente envolvidos com

a filosofia, a ponto de projetarem nos textos indianos que estudavam suas próprias ideias

sobre a filosofia ocidental. O exemplo mais óbvio disso foi Paul Deussen, um estudioso

do Vedānta que também fundou a Schopenhauer-Gesellschaft (Sociedade Schopenhauer)

em 1911. Seguindo a seu professor, Deussen estava convencido de que a doutrina da

ilusão (māyā) era o ensinamento central das Upaniṣads. Deussen também era amigo de

Friedrich Nietzsche. A leitura que Nietzsche faz do budismo como uma filosofia

pessimista e negadora do mundo deve-se, provavelmente, à sua associação com Deussen,

e à influência formativa que Schopenhauer teve sobre o jovem Nietzsche.

Adluri e Bagchee, entretanto, argumentam que Deussen não era uma figura

“mainstream” da indologia alemã. É verdade que, no período em que a disciplina da

7
Vishwa Adluri e Joydeep Bagchee, The Nay Science: A History of German Indology. (New York: Oxford
University Press, 2014), p. 28.
8
Adluri e Bagchee, p. 156.
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indologia desenvolveu-se nas universidades alemãs, havia uma tendência de evitar

investigar a verdade dos argumentos dos sistemas filosóficos indianos. Em vez de

examinar criticamente a argumentação filosófica em textos indianos, houve mais foco,

nos séculos XVIII e XIX, na leitura rigorosa dos textos, por meio do uso de métodos

histórico-críticos. Essa abordagem é baseada na filosofia positivista, que acredita ser

possível descobrir o sentido original e autêntico dos textos se métodos científicos forem

aplicados a eles. Isso vai claramente de encontro aos movimentos da hermenêutica

filosófica do século XX, que podem ser encontrados em Heidegger e Gadamer. De

acordo com Gadamer, textos filosóficos antigos devem ser abordados não como artefatos

históricos mortos, mas sim como verdades vivas. Ele considera cada encontro com um

texto como uma oportunidade para uma “fusão de horizontes”, e rejeita a compreensão de

hermenêutica de Wilhelm Dilthey, segundo a qual a hermenêutica teria por objetivo

descobrir a verdadeira intenção do autor do texto.

Entre minhas graduações, em 1995 e 1996, tive a oportunidade de passar um ano

na Alemanha fazendo cursos de filosofia e indologia na Freie Universität Berlin. Para

mim, um americano com um diploma de uma faculdade de artes liberais, parecia óbvio

que estudar a hermenêutica de Heidegger e de Gadamer de noite complementaria meus

estudos de indologia de dia. Porém, logo aprendi que, em meu seminário de sânscrito,

fazer perguntas sobre as lições práticas passadas pelo texto budista que estávamos lendo,

ou mesmo traçar paralelos com as doutrinas de outros filósofos, não era bem-vindo. Nós

não estávamos preocupados com a “verdade” do texto sânscrito que estávamos lendo,

mas sim com a interpretação “correta”, usando um método histórico-crítico que tinha sido

desenvolvido pela primeira vez no século XIX para a análise de textos bíblicos. Queria eu
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que eu tivesse o The Nay Science de Adluri e Bagchee naquela época, para me ajudar a

entender as origens dessa desconexão radical entre duas maneiras de abordar textos

antigos.

A crítica de Adluri e Bagchee do cientismo em indologia, influenciada por Hans-

Georg Gadamer e Reiner Schürmann, é poderosa e efetiva. Mas, seria a indologia alemã

realmente tão inútil e “pseudocrítica” como eles dizem? É interessante que, enquanto

gastam muito tempo criticando o método “histórico-crítico”, também conhecido como

criticismo “superior” (higher criticism), Adluri e Bagchee não passam praticamente

nenhum tempo discutindo o criticismo “inferior” (lower criticism). “Criticismo inferior”,

em filologia, refere-se ao trabalho de editar textos para estabelecer “edições críticas”.

Assim como o método histórico-crítico, o criticismo inferior foi primeiramente

estabelecido por estudiosos da bíblia na Alemanha e, eventualmente, aplicado a outros

textos em línguas não-ocidentais como sânscrito, chinês e tibetano. Estabelecer edições

críticas é uma das atividades mais importantes de um acadêmico, mas é um processo

muito lento que consome muito tempo, e que frequentemente envolve coletar dúzias de

manuscritos e compará-los palavra por palavra.

Sou um historiador da filosofia e um tradutor e, para mim, ter edições críticas dos

textos que eu leio é tremendamente importante. É a diferença entre eu ser capaz de sentar

em uma biblioteca e entender, em uma única tarde, a história da interpretação de uma

palavra ou frase em um texto sânscrito, ou ter de viajar por toda a Índia por meses,

passando por bibliotecas diferentes e implorando aos bibliotecários pelas cópias digitais

dos textos para que eu possa compará-los. Só por esse trabalho, os indólogos alemães já

deveriam ser celebrados. Por exemplo, Walter Slaje, na Universidade de Halle-


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Wittenberg, está, atualmente, supervisando um projeto para criar uma edição crítica de

um texto chamado Mokṣopaya (Meios para a Libertação), também conhecido como

Yoga-Vāsiṣṭha. Este importante projeto será um recurso crucial para historiadores e

pesquisadores no futuro, quando estiver completo, mas Adluri e Bagchee criticam o

professor Slaje e chamam o seu projeto de pseudocrítico, sem oferecer qualquer

explicação para tanto.9 Me parece que, aqui, os autores exageraram o escopo de sua

crítica à indologia alemã. Por mais que o método da indologia alemã exija que ela ignore

questões filosóficas maiores, o trabalho textual-crítico feito por indólogos alemães é um

recurso importante para filósofos e historiadores.

Indologia nos Estados Unidos

Vimos que a abordagem predominante na indologia na Alemanha combina

criticismo superior e inferior. Se esses são os métodos predominantes da “indologia

alemã”, quais são os métodos da “indologia americana”? Por mais que tenha passado

quinze anos estudando em diferentes universidades nos Estados Unidos, tenho de admitir

que não tenho certeza! Isso se deve, penso, ao fato de que há uma grande variedade de

práticas nas universidades americanas, de modo que não há uma única abordagem

predominante nos estudos de textos sânscritos e da filosofia indiana.

Passando o olhar pelas universidades nos Estados Unidos que concedem um

diploma de doutorado pelo estudo de textos sânscritos, há mais ou menos cinco que

dominam o campo: Chicago, Texas, Harvard, Columbia, e Berkeley. Há algumas outras

universidades que têm programas fortes de ciências das religiões e oferecem sânscrito,
9
Adluri e Bagchee, p. 415.
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em larga medida, como uma parte do estudo das religiões do sul da Ásia. Estas

universidades incluem Emory, Santa Barbara, Virginia e Yale. Também há dois

departamentos de filosofia nos Estados Unidos que são conhecidos por treinar estudantes

para ler textos filosóficos em sânscrito: Havaí e Texas. Em geral, contudo, um aspecto

que a Alemanha e os Estados Unidos têm em comum é que os departamentos de filosofia

geralmente não são os melhores lugares para estudar filosofia indiana! A minha própria

universidade, a Universidade Estadual de Nova York em Stony Brook, inaugurará em

breve um novo programa de mestrado chamado “histórias da filosofia, oriente e

ocidente”, oferecido pelos departamentos de filosofia de estudos asiáticos. Isso se deve ao

fato de que, pelo que me parece, o treino em ambas as disciplinas é essencial para

entender as tradições filosóficas asiáticas. É preciso ter experiência nas línguas e culturas

da Índia para que se possa entender propriamente os seus textos, assim como é preciso ter

treinamento filosófico para ser capaz de fazer comparações com propriedade entre as

diferentes tradições filosóficas.

Ao contrastar as abordagens de indólogos nos Estados Unidos àquelas de

indólogos na Alemanha, Adluri e Bagchee nomeiam alguns estudiosos que sugerem ser

exemplos positivos do estudo de indologia: Frederick M. Smith, David Schulman, Wendy

Doniger, Robert P. Goldman, Thomas B. Coburn e Sheldon Pollock. O que estes

estudiosos têm em comum? Nenhum deles foi treinado na Europa continental, primeiro

de tudo. Quatro foram treinados na Universidade de Harvard sob a orientação de Daniel

H.H. Ingalls. De fato, a maior parte dos estudiosos de sânscrito ensinando atualmente nos

Estados Unidos pode traçar a sua linhagem diretamente até Daniel Ingalls. Isso significa

que há um estilo de “indologia americana” que contrasta com a “indologia alemã”?


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O próprio Daniel Ingalls era um estudioso com uma ampla gama de interesses.

Por mais que tenha feito seus estudos avançados na lógica da Navya-Nyāya em Kolkata,

com o paṇḍita M.M. Śri Kālīpada Tarkācharya, ele também era um especialista em poesia

clássica e em teoria literária, tendo publicado dois volumes sobre esses tópicos. Se há

algum tipo de indologia americana, ele pode ser caracterizado pelo ecletismo tal como o

de Daniel Ingalls. Os estudantes de Ingalls fazem uma enorme variedade de tipos

diferentes de trabalho, que abrangem virtualmente todas as disciplinas ensinadas (śāstras)

da Índia Antiga. Muitos, como Wendy Doniger e Robert Goldman, se tornaram

intérpretes influentes de mitos hindus. Outros, como Karl H. Potter, Bimal Matilal e

Phyllis Granoff, se tornaram conhecidos como especialistas em filosofia indiana. Ainda

outros, como David Pingree, se dedicaram ao estudo da ciência e matemática indianas.

Além dessa variedade de tópicos de estudo, as abordagens metodológicas tomadas

pelos estudantes de Daniel Ingalls têm sido extremamente amplas. Em particular, vemos

um envolvimento com uma variedade de diferentes abordagens teóricas. Diferentemente

da indologia na Europa continental, que lida quase exclusivamente com métodos

“histórico-críticos” e “texto-críticos”, nós encontramos, na indologia americana, o

envolvimento com teorias mais novas desenvolvidas no século XX e aplicadas ao estudo

de textos. Meu próprio trabalho se baseia fortemente no trabalho dos filósofos Hans-

Georg Gadamer e Michel Foucault, dois pensadores que influenciaram uma grande

variedade de disciplinas. Meu professor, Sheldon Pollock, baseia-se, em seu trabalho, em

teóricos políticos tais como Theodor Adorno e Antonio Gramsci, e em teóricos literários

tais como Mikhail Bakthin e Roman Jakobson.


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Acusações contra a “indologia americana”

A influência mais controversa da indologia americana vem das teorias

psicanalíticas de Sigmund Freud. Por mais que, atualmente, a maior parte dos

departamentos de psicologia nos Estados Unidos não ensine psicanálise freudiana como

parte de seu currículo, Freud e seus discípulos deixaram uma profunda impressão na vida

intelectual americana na metade do século XX. Essa influência pode ser vista no trabalho

de três indólogos americanos em especial: Robert P. Goldman, Jeffrey Moussaieff

Masson e Wendy Doniger. Masson é o mais profundamente influenciado pela psicanálise

e, de fato, acabou por abandonar seu trabalho em indologia para se tornar um

psicanalista, tendo sido brevemente o diretor do Sigmund Freud Archives (Arquivos

Sigmund Freud). Lá, ele desenvolveu pontos de vista controversos sobre a “teoria da

sedução” de Sigmund Freud, e foi forçado a renunciar. Também em seu trabalho em

indologia vemos a influência inconfundível de ideias freudianas. Por exemplo, em seu

livro de 1980, The Oceanic Feeling (O Sentimento Oceânico), Masson discute os poderes

supernaturais (vibhūtis) descritas por Vyāsa em seu comentário aos Yoga Sūtras de

Patañjali. Masson sugere que não devemos entender esses poderes como reais, mas sim

como fantasias que podem ser melhor compreendidas de acordo com o conceito

freudiano de satisfação do desejo. A maior parte dos indólogos hoje na América e em

outros lugares consideram estranha essa tentativa de psicanalisar filósofos da Índia

antiga, e esse tipo de análise freudiana da religião indiana não têm sido popular na

América nos últimos vinte anos.


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Wendy Doniger é a indóloga americana mais conhecida atualmente, em parte por

causa de uma controvérsia que ocorreu em 2014. Dina Nath Batra, um membro do grupo

hindu nacionalista de extrema direita RSS, afirmou que o livro de Doniger, The Hindus

(Os Hindus), era culpado de “ferir os sentimentos hindus” e, portanto, deveria ser banido

da Índia, segundo as leis de anti-blasfêmia. Sob a pressão de uma ação judicial, a editora

Penguin India retirou voluntariamente o livro de circulação. Entre as críticas ao trabalho

de Doniger está a afirmação de que suas interpretações freudianas da mitologia hindu

retratam falsamente o hinduísmo como sendo sedento por sangue e sexualmente perverso.

Rajiv Malhotra, um autor hindu nacionalista situado em New Jersey, argumentou que

todas as interpretações do hinduísmo que dependam de ideias ocidentais são distorções.

Apenas teorias que sejam derivadas das tradições intelectuais indianas, segundo ele,

seriam apropriadas para a análise de religiões indianas. Portanto, Freud não é permitido.

Rajiv Malhotra chegou ao ponto de rotular estudantes de Wendy Doniger na

Universidade de Chicago como a “prole de Wendy”, afirmando que muitos deles são

“pervertidos psicossexuais ou outros rejeitados de sua própria cultura” que projetam

subjetivamente suas próprias neuroses na cultura indiana.10 De acordo com ele, “não há

onde se possa ir (...) sem esbarrar com o efeito de sua influência, por meio de um grande

culto de estudantes, que a glorificam em troca de sua tutela.” Outros nacionalistas hindus

afirmaram que Doniger tem “o zelo de uma missionária cristã” em retratar o hinduísmo

negativamente, que sua pesquisa foi fundada pela CIA e que ela doa dinheiro para

organizações racistas nos Estados Unidos.11 Como explicar essas teorias conspiratórias

10
Rajiv Malhotra, “Wendy’s Child Syndrome” <http://creative.sulekha.com/risa-lila-1-wendy-s-child-
syndrome_103338_blog> (acessado 1 August 2015).
11
Sobre as primeiras duas acusações, cf. Arvind Kumar, “Wendy Doniger’s fake victimhood”
<http://indiafacts.co.in/wendy-donigers-fake-victimhood/>. Sobre a terceira acusação, cf. Arvind Kumar,
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sobre Wendy Doniger e seus estudantes? Estaria a escola americana de indologia cheia de

missionários cristãos e supremacistas brancos que querem destruir o hinduísmo?

Em julho de 2015, eu me tornei, acidentalmente, parte desta conspiração. Um

estudioso americano que leu o livro mais recente de Rajiv Malhotra, Indra’s Net:

Defending Hinduism’s Philosophical Unity (A Rede de Indra: Defendendo a Unidade

Filosófica do Hinduísmo), encontrou sete instâncias nas quais Malhotra havia claramente

me plagiado. Por mais que eu soubesse que Malhotra admirava meu livro Unifying

Hinduism e havia o citado extensivamente, não sabia que ele era um plagiador. Em 17 de

julho, publiquei uma declaração online de 600 palavras expressando meu desagrado com

o fato de meu trabalho ter sido plagiado e distorcido por Rajiv Mahotra.12 Em uma

semana, minha declaração teve mais de setenta mil visualizações. Isso levou a vários

ataques à minha pessoa, incluindo falsas acusações de que eu também seria um plagiador

e de que Wendy Doniger teria sido minha orientadora de mestrado na Universidade de

Chicago.

Ironicamente, não sou um dos admiradores acríticos do trabalho de Wendy

Doniger. Leitores cuidadosos do meu primeiro livro verão que eu sugiro que suas

traduções de certos importantes termos sânscritos são imprecisas. Entretanto, eu não

acredito que ela seja anti-hindu. Eu defendo inteiramente o seu direito de publicar na

Índia, e acredito que as leis de blasfêmia do código penal indiano estão ultrapassadas e

deveriam ser mudadas para proteger a liberdade de expressão na Índia. Há muitas forças

atuando nesta área. Uma é, simplesmente, o surgimento da internet, que possibilitou

“The Religious Crusades of the CIA” <http://indiafacts.co.in/religious-crusades-cia/> (acessado em 1 de


Agosto de 2015).
12
Andrew J. Nicholson, “Upset About Malhotra’s Plagiarism, More Upset About Distortions of My Work”
<http://scroll.in/article/742022/upset-about-rajiv-malhotras-plagiarism-even-more-upset-about-distortions-
of-my-work> (acessado em 1 de Agosto de 2015).
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todos os tipos de teorias da conspiração, incluindo sobre a CIA converter hindus ao

cristianismo. Outro fenômeno é a migração dos hindus para os Estados Unidos e a

Europa. Em 1965, o governo dos Estados Unidos aboliu seu sistema anterior racista de

quotas nacionais de imigração, e passou uma nova lei que tornou mais fácil para

trabalhadores habilidosos virem para os Estados Unidos. Desde então, milhões de

imigrantes indianos treinados em áreas em demanda, tais como engenharia e ciência da

computação, vieram para os Estados Unidos. Há, agora, grandes comunidades de

imigrantes indianos ricos na Califórnia, Nova York e New Jersey. Esses imigrantes

sentem a necessidade de defender a sua cultura, por exemplo, corrigindo o que eles veem

como retratos injustos do hinduísmo em manuais americanos. Alguns no espectro de

direita, tal como Rajiv Malhotra, tomaram a liderança na vilanização de estudiosos

americanos como Doniger e Pollock, os quais eles afirmam serem anti-hindus.

Entretanto, a maior parte dos ativistas hindus é treinada em áreas técnicas, não nas

humanidades. Geralmente, eles não têm um estudo sério de religião indiana, de filosofia

ou de sânscrito, e têm muito pouca habilidade para entender as ideias complexas de um

estudioso como Sheldon Pollock.

A indologia hoje na Índia e fora dela

Jonathan Shainin, um jornalista Americano, foi bastante perceptivo na sua

descrição de Rajiv Malhotra como alguém que parece “uma paródia de direita de (...)

Edward Said.”13 Outro fator na vilanização de Wendy Doniger e seus estudantes é o

13
Jonathan Shainin, “Why Free Speech Loses in India” <http://www.newyorker.com/news/news-
desk/why-free-speech-loses-in-india> (acessado em 1 de Agosto de 2015).
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surgimento dos estudos pós-coloniais, cujos temas e vocabulário foram apropriados pelos

movimentos nacionalistas hindus e árabes para atacar o imperialismo da Europa e dos

Estados Unidos. Mas, como outros estudiosos observaram, autores como Malhotra estão

engajados em um projeto de “ocidentalismo”, a imagem espelhada do “orientalismo” que

Edward Said criticava. Para Malhotra, há uma diferença ontológica absoluta entre o

hinduísmo, que é flexível, tolerante e positivo, e o cristianismo, de que ele faz uma

caricatura em seu livro, descrevendo-o como rígido, dualista e violento. Ironicamente, as

atitudes puritanas em relação a sexo que Maholtra usa para criticar Doniger e seus

estudantes não são características do hinduísmo pré-moderno. Pelo contrário, essas

atitudes em relação a sexo foram importadas para a Índia pelos missionários protestantes

britânicos e, posteriormente, internalizadas pelos hindus falantes de língua inglesa.

Rajiv Malhotra e seus companheiros nacionalistas hindus se encontram apartados

da língua sânscrita e da tradição da instrução oral (guru-śiṣya-paramparā) dos sistemas

pré-modernos de conhecimento sânscrito. É por isso que eles têm sido tão dependentes de

estudiosos ocidentais do sânscrito dos séculos XX e XXI, que conhecem sânscrito e

outras línguas indianas pré-modernas, e é por isso que Malhotra precisou utilizar tanto

meu livro. Há ainda uma tradição de paṇḍits (estudiosos tradicionais) na Índia, mas essa

tradição está perecendo. Sheldon Pollock descreveu essa perda do conhecimento

tradicional como “genocídio cultural”. Em um artigo recente, ele sugeriu o aumento do

financiamento de setores públicos ou privados na Índia que visem à instrução nas línguas

clássicas indianas. Sem algum tipo de intervenção maior, ele escreve, “o número de

cidadãos capazes de ler (...) textos (...) da era clássica (...) se aproximará em breve do
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zero estatístico.”14 Mas o governo atual da Índia, por mais que fale sobre a grandeza da

cultura sânscrita e declare o “Dia Internacional do Yoga”, não parece ter nenhum

interesse em investir em um verdadeiro estudo da civilização indiana clássica.

A situação no que tange à preservação de sistemas de conhecimento tradicionais

indianos pode parecer desconsoladora. Politicos e gestores universitários na Índia, tanto

da esquerda secular como da direita religiosa, demonstram pouco interesse real na cultura

indiana pré-moderna. O que os admiradores da filosofia indiana e literatura sânscrita

podem fazer em relação a estas políticas contemporâneas de identidade hindu? Para além

dos desafios existentes no estudo de sânscrito na Índia, a situação para indologia na

Europa na última década também foi difícil. Programas de sânscrito na Holanda, Bélgica,

e Alemanha foram recentemente encerrados, e os administradores universitários em

outras regiões europeias estão questionando a relevância contemporânea do estudo da

Índia antiga. Talvez surpreendentemente, é nas Américas onde o estudo do sânscrito

parece ser mais promissor no futuro próximo.15 Apesar das pressões financeiras, o

crescente interesse pela filosofia antiga e pelas línguas asiáticas causou o crescimento das

oportunidades para estudar sânscrito no hemisfério ocidental. Estudantes em São Paulo,

Buenos Aires, Cidade do México, e Nova York têm oportunidades agora que não

existiam antes. Após dois anos de estudos em sânscrito, esses estudantes estão preparados

para ir para Mysore, Pune, ou Varanasi para ler filosofia (darśana), direito tradicional

(dharmaśāstra), linguística (vyākaraṇa), e teoria literária (alaṃkāra-śāstra) com os

paṇḍits remanescentes. Para os amantes da cultura indiana fora da Índia, a preservação

destes grandes sistemas pré-modernos de conhecimento não é apenas uma oportunidade.

14
Sheldon Pollock, “Crisis in the Classics,” Social Research 78:1 (2011), p. 22.
15
Cf. Radhavallabh Tripathi (ed.), Sixty Years of Sanskrit Studies (1950-2010) (Delhi: Rashtriya Sanskrit
Sansthan, 2010).
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É também uma obrigação de preservar essas perspectivas tradicionais, antes que elas

sejam perdidas.

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