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NÚCLEO PARADIGMA DE ANÁLISE DO COMPORTAMENTO

Elisângela Vanessa Ribeiro Guerzoni

Controle da agência religiosa sobre o comportamento do


terapeuta na sua atuação clínica.

São Paulo

2014
Elisângela Vanessa Ribeiro Guerzoni

Controle da agência religiosa sobre o comportamento do


terapeuta na sua atuação clínica.

Projeto apresentada ao Núcleo Paradigma


de Análise do Comportamento, como parte
dos requisitos para a obtenção do título de
ESPECIALISTA em Clínica Analítico-
Comportamental, sob orientação do Prof.
Candido Pessôa.

São Paulo

2014
Resumo

O objetivo do presente trabalho é falar a respeito do controle da agência religiosa sobre o


comportamento do terapeuta na sua atuação clínica. Foram selecionados artigos, monografias
e capítulos de livros, todos relacionados com a abordagem clínica analítico comportamental.
Este trabalho sugere que entre os analistas do comportamento parece haver consenso em
relação à ética behaviorista, controle da agência religiosa e interação terapeuta cliente. Falam
de uma ética situacional e não princípios universais. Aborda a terapia com uma audiência na
punitiva. Mostra o quanto é importante uma atuação terapêutica mais próxima da
imparcialidade, não emitindo juízo de valor sobre o comportamento verbal do cliente. Integrar
dimensões espirituais e religiosas de vidas dos clientes durante a psicoterapia requer
profissionalismo ético, alta qualidade de conhecimento e habilidades para alinhar as
informações coletadas sobre as crenças e valores ao benefício do processo terapêutico.
Palavras-chave: interação terapêutica, agência religiosa, ética.
Abstract

The objective of the present work is to talk about the control of religious agencies on
therapists’ behavior at the clinic. Articles, monographs and book chapters about behavioral
analysis were selected. This work suggests that among behavior analysts there is a consensus
regarding behavioral ethic, religious agencies control and client-therapist interaction. They
defend an situational ethic and not universal principles. The therapy is seen as a non-punitive
audience. It is said how important is an impartial therapy, not judging the clients’ verbal
behavior. To integrate clients’ spiritual and religious dimensions during the psychotherapy
demands ethics, deep knowledge and skills to align all information about believes and values,
in benefit of the therapy.

Key words: therapeutic interaction, religious agency, ethic


Sumário

Religião...............................................................................................................................06

Ética....................................................................................................................................10

Ética: elemento explicativo do comportamento no Behaviorismo radical.........................14

Psicoterapia.........................................................................................................................17

Interação cliente e terapia...................................................................................................19

Conclusão............................................................................................................................23

Referências Bibliográficas..................................................................................................25
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Religião

O presente trabalho visa esclarecer aos psicólogos atuantes na área clinica como
proceder diante o controle da agência religiosa, questões éticas pertinentes a tal atuação e qual
deve ser a interação cliente e terapeuta dentro do ambiente de consultório.

Staddon (2013), pontua três tipos de ingredientes para as religiões, sendo que estes
possuem diferenciações de uma religião para a outra.

 A crença no invisível ou seres ocultos, mundos e processos – milagres,


reencarnações e a alma – o sobrenatural. Inverificável, ou invisível e
imponderável, menos para os místicos sob condições especiais.
 Todas as religiões contém um código – conjunto de prescrições morais e
comportamentais, quase sempre emanadas de Deus, que funciona como norte em
varias situações – moralidade.
 As religiões no geral criam preceitos que são essencialmente científicos; fatos que
são potencialmente verificáveis – natural. A ciência depende de uma crença em
uma realidade externa que obedece a leis imutáveis. Esta concepção básica é
realmente uma questão de fé no sentido de que ela não pode ser provada ou
desaprovada. Não há um meio de provar que elas não irão mudar
espontaneamente amanhã, independente de quantas leis descobrimos. A atividade
científica precisa de uma concepção de universo estável.

Segundo Skinner (2000), uma técnica muito empregada no controle do indivíduo por
pessoas que viveram juntas por um período de tempo suficiente é: o comportamento do
indivíduo é classificado como “bom” ou “mau”, ou, com o mesmo efeito, “certo” ou “errado”,
e reforçado ou punido de acordo com isso. Geralmente se denomina o comportamento de um
indivíduo bom ou certo na medida que reforça outros membros do grupo, e mau ou errado na
medida em que é aversivo a esses outros membros. Para Skinner, as descrições tradicionais do
Céu e do Inferno condensam reforços positivos e negativos. Esses aspectos variam de cultura
para cultura, mas se todos os reforçadores positivos ou negativos bem conhecidos foram
usados ou não, é difícil saber. Os reforçadores retratados no Céu e no Inferno são muito mais
poderosos que os que sustentam o “bom” e o “mau” do grupo ético, ou o “legal” e “ilegal”, do
controle governamental. O autor afirma que o poder conseguido pela agência religiosa
depende de quão eficientemente certos reforçadores verbais são condicionados. A educação
religiosa contribui para esse poder emparelhando os termos com vários reforçadores
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condicionados e incondicionados que essencialmente são aqueles à disposição do grupo ético


e das agências governamentais.

Skinner (2000) reconhece que termos como “superstição” e “magia” são aversivos
porque associam-se com comportamentos ineficientes e exploração com fins egoístas e
pobremente organizados. Esse controle religioso origina quando se usa contingências raras ou
acidentais para controlar o comportamento. Podemos também afetar o comportamento de
outros usando consequências reforçadoras acidentais de um tipo positivo. O controle que
define uma agência religiosa no sentido mais restrito se deriva de uma apregoada conexão
com o sobrenatural, por meio da qual a agência arranja ou altera certas contingências que
acarretam boa ou má sorte no futuro imediato, ou benção eterna ou danação na vida por vir.
Essa agência controladora se compõe daqueles que são capazes de estabelecer sua
reivindicação do poder de intervir sobrenaturalmente – feiticeiro da tribo, que recorre a
demonstrações de magia para provar seu poder de dar boa ou má sorte, ou em uma bem
organizada igreja com documentos que provam que o poder de intervir no arranjo de
contingências reforçadoras foi a ela confiado por uma autoridade supernatural (Skinner,
2000). Na prática, a ameaça de perder o céu ou ir para o inferno faz-se contingente ao
comportamento pecaminoso, enquanto o comportamento virtuoso traz uma promessa do Céu
ou alívio da ameaça do inferno. A agência pune o comportamento pecaminoso gerando assim
uma condição aversiva descrita pelo indivíduo como “sentimento de pecado”. A agência
então provê uma fuga dessa condição aversiva através da expiação ou absolvição sendo capaz
de fornecer um poderoso reforço ao comportamento piedoso.

Ao discutir a construção de valores em uma sociedade, Baum (2006) afirma que os


behavioristas rejeitam a noção de que os valores são entidades mentais; se são alguma coisa,
são comportamento. Temos que dizer o que é bom ou mau aos olhos do homem. Alguns
pensadores dizem que não há padrão universal que se possa explicar as ideias a respeito de
certo e errado, devido a tanta diversidade de pessoa para pessoa, de lugar para lugar e de
cultura para cultura. Baum (2006) fala em uma ética situacional – a ética que se origina de
situações particulares e não de princípios universais – como a única possibilidade.

Como observou Skinner (2000), como forma de controlar o comportamento


indesejável, usa-se muito da punição para exerce esse tipo de controle. Supõe-se,
erroneamente que punir mau comportamento ensina o bom comportamento. Para Skinner os
efeitos colaterais da punição apresentam uma significação comportamental maior que os
esperados efeitos principais. Aspectos do ambiente que podem passar a funcionar como
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punidores mesmo que não sejam inerentemente aversivos, ou seja, eventos neutros podem se
tornar punidores condicionados. Os punidores naturais têm o efeito de parar o comportamento
em curso e quase sempre não dependem de qualquer outra circunstância. No caso dos
punidores condicionados – sua capacidade para afetar o comportamento é condicional a outras
circunstâncias – muitos podem ser reforçadores positivos naturais que se tornam punidores.

A obtenção de reforçadores e punidores dependem do ambiente físico e social


presente. Aprendemos quais situações levam a e quais situações suspendem contingências de
reforçamento e punição. Por exemplo, agimos ou deixamos de agir de acordo com a
probabilidade de que ganharemos ou sofreremos as consequências. Além de sinalizar a
probabilidade de consequências particulares, estes ambientes controladores também adquirem
as funções reforçadoras ou punitivas dos eventos que eles sinalizam.

Para Sidman, (2011), a sensibilidade ao controle ambiental só é plausível se


adaptamos a contingências de reforçamento e punição variadas e em mudanças constantes.
Quando um elemento do ambiente adquire controle, sinalizando um reforçador ou punidor, o
sinal em si mesmo tornar-se-á um reforçador ou punidor potencial. Sua função particular
dependerá do tipo de contingência por meio da qual ele passou a controlar. Consequências
comportamentais significativas, reforçadores e punidores condicionados são criados desta
maneira. Um evento que começa neutro torna-se um reforçador ou punidor potencial como
resultado de nossa experiência com ele.

Continuando sua argumentação, Sidman (2011) alega que com a adição de cada novo
elemento punidor em nosso ambiente, nossas vidas tornam-se menos satisfatórias, mais
desesperadas. Se encontrarmos punição frequentemente, aprendemos que nosso caminho mais
seguro é ficar quietos e fazer tão pouco quanto possível. As únicas coisas que estamos
ansiosos por aprender são nossos modos de evitar ou de destruir objetos e pessoas que estão
em nosso caminho. É importante reforçadores positivos em nossas vidas, a medida que nosso
ambiente ganha novos reforçadores positivos, nossas vidas tornam-se mais gratificantes.
Aproximação pode dominar em relação a fuga e esquiva e aprenderemos com base em
consequências produtivas e não destrutivas.

Já para Staddon (2013), para saber como se comportar em várias situações do dia a
dia, devemos seguir normas que tomamos como apropriadas. Sendo que algumas normas são
aceitas pela maioria das pessoas: não matar ou roubar, ser honesto, assim como amar um ao
outro. Alguns otimistas pode secretamente pensar que, embora eles não conheçam os detalhes,
todas ou no mínimo a maioria dessas regras e convenções tem sido, ou potencialmente podem
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ser, provadas como corretas, demonstrando conduzir de alguma maneira a um bem comum.
Mas a realidade é que maioria das pessoas simplesmente aceitam que existam normas e não se
preocupam muito em saber de onde elas vem ou por que elas devem segui-las.
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Ética

Segundo Vandenberghe (2005) para o behaviorismo radical, consciência é definida


como comportamento verbal – produto da inserção na comunidade verbal. Respostas verbais à
realidade estão sob controle das práticas de reforço de comunidades verbais, contextos e
histórias pessoais, dessa maneira, comportamento verbal tem como viés o mundo subjetivo e
pessoal do falante. A comunidade verbal oferece as contingências que favorecem o
desenvolvimento de repertórios verbais que podem ser chamados de saber consciente. Só se
sabe algo quando se é capaz de relatá-lo com suas próprias palavras. Ter consciência é
comportamento proativo, é ato. Tomar consciência é comportamento operante porque gera
consequências que afetam esta ação. O saber do terapeuta deve ser visto da mesma forma. É
comportamento verbal que pode ser válido em um contexto, mas inválido em outro, porque
terá efeitos diferentes dependendo desses contextos. Dentro desta visão da consciência
humana, não cabe uma ética de obediência a convenções sociais, ou de reprodução do que já
existe. Só uma moral de escolha proativa corresponde a esta visão de consciência.

As leis, os códigos deontológicos e os valores vigentes numa certa sociedade são


produtos do seu contexto histórico. Têm uma função para a comunidade verbal que os gerou e
devem sua legitimidade a este contexto. O behaviorismo radical busca uma ética que deve ter
abertura para novos estilos de vida e novas táticas de resistência.

Para Guilhardi, (1995) o que se espera é que, dentro do conjunto de contingências culturais,
aquelas que controlam comportamentos éticos ocupem papel de destaque. A capacidade de
um grupo social para se desenvolver e se perpetuar tem estreita relação com o espectro de
comportamento éticos que o grupo instala e mantém nos membros que compõem a
comunidade. O comportamento ético é fruto de contingências sociais, não das naturais.

A comunidade tem que dispor contingências de reforçamento que instalem e


mantenham os comportamentos de seus membros para gerar reforços positivos, evitar
reforços negativos, assim aumenta os bens para a maioria, evita os males para a maioria,
preveni problemas previsíveis, soluciona problemas correntes etc., para o bem-estar da
maioria. Quando analisado dessa maneira a ética nada mais é que uma forma de controle,
onde os membros de um grupo social se controlam reciprocamente através de uma técnica.

O comportamento é que produz o que se chama de virtude e não a virtude de um


indivíduo que provoca ou explica suas boas ações. Não é possível construir regras que tem
validade sobre a relação entre comportamento e virtude, diante dessas colocações é possível
ver que a ética não pode ser assunto da ciência no sentido geral.
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Segundo Skinner (1953, 1971, apud Martin & Pear, 2009), numa visão
comportamental, o termo ética se refere a certos padrões de comportamento que são
desenvolvidos no indivíduo por uma cultura e promovem a sobrevivência de tal cultura. A
ética evoluiu como parte da nossa cultura, de maneira muito semelhante à forma como parte
de nossos corpos evoluiu – a ética contribuiu para sobrevivência de nossa cultura. Regras
éticas são fontes importantes de controle comportamental, quando reforçadores imediatos
influenciam um indivíduo a se comportar de forma que resulte em estímulos aversivos para
outros (por exemplo, enquanto um ladrão é imediatamente reforçado pela posse dos bens
roubados, a perda de tais bens é aversiva para as vítimas). Esta é uma maneira de as pessoas
aprenderem a emitir comportamentos que são considerados éticos e a evitar comportamentos
que não são considerados éticos. Regra é uma descrição (oral ou escrita) de uma contingência
de reforçamento de três termos (antecedentes-comportamento-consequências). É uma
afirmação de que um determinado comportamento será recompensado em determinada
situação. À medida que aumentamos nossa história de vida aprendemos que regras geralmente
levavam a recompensas ou nos permitiam evitar eventos punitivos. O comportamento
governado por regras muitas vezes envolve consequências atrasadas e leva, com frequência, a
uma mudança imediata de comportamento. Regras que descrevem circunstâncias específicas e
prazos para um comportamento específico, que levará a resultados evidentes e prováveis,
frequentemente são eficazes, mesmo que os resultados sejam atrasados. De modo oposto,
regras que são vagas na descrição do comportamento e das circunstâncias para que este
ocorra, que não determinam um prazo para o comportamento e que levam a consequências
pequenas ou improváveis, são, com frequência, ineficazes.

Um Código de Ética profissional (i. e., um conjunto de regras éticas para o


comportamento profissional), ao estabelecer padrões esperados quanto às práticas
referendadas pela respectiva categoria profissional e pela sociedade, procura fomentar a auto-
reflexão exigida de cada indivíduo acerca da sua práxis, de modo a responsabilizá-lo, pessoal
e coletivamente, por ações e suas consequências no exercício profissional. Segundo a
psicóloga Bock (2005), a missão primordial de um código de ética profissional não é
normatizar a natureza técnica do trabalho, e, sim, assegurar, dentro de valores relevantes para
a sociedade e para as práticas desenvolvidas, um padrão de conduta que fortaleça o
reconhecimento social daquela categoria. Códigos de Ética expressam sempre uma concepção
de ser humano e de sociedade que determinam a direção das relações entre os indivíduos.
Traduzem-se em princípios e normas que devem se pautar pelo respeito ao sujeito humano e
seus direitos fundamentais. Por constituir a expressão de valores universais, tais como os
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constantes na Declaração Universal dos Direitos Humanos; sócio-culturais, que refletem a


realidade do país; e como valores que estruturam uma profissão, um código de ética não pode
ser visto como um conjunto fixo de normas e imutável no tempo. As sociedades mudam, as
profissões transformam-se e isso exige, também, uma reflexão contínua sobre o próprio
código de ética que nos orienta. O Código de Ética Profissional do Psicólogo, elaborado por
Odair Furtado, sob a coordenação do psicólogo Aluízio Lopes de Brito, é apresentado como
um corpo de práticas que busca atender demandas sociais, norteado por elevados padrões
técnicos e pela existência de normas éticas que garantam a adequada relação de cada
profissional com seus pares e com a sociedade como um todo.

O referido código de ética é sucinto sobre a atuação do psicólogo frente a questões


voltadas para sua atuação diante controle exercido pela agência religiosa. Diz somente no
artigo “Art. 2º – Ao psicólogo é vedado. Alínea: b) Induzir a convicções políticas, filosóficas,
morais, ideológicas, religiosas, de orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito,
quando do exercício de suas funções profissionais.” Em nenhum outro momento se cita algo
sobre a conduta do psicólogo relacionando a valores éticos e controle religioso.

Os objetivos da psicoterapia envolvem a modificação do comportamento das pessoas,


de forma que possam funcionar de maneira mais eficiente na sociedade do que o faziam antes
de receber ajuda profissional. Embora seja necessário, com frequência, modificar, gerenciar,
influenciar ou controlar o comportamento de alguma maneira, também é necessário assegurar
que isso seja feito de maneira ética.

Na atualidade as religiões exercem um grande controle no comportamento humano.


Além disso, a ampliação da presença da religião nas mídias torna esta agência de controle não
só visível, mas talvez também com objetivos mercadológicos, já que mídias passam a prestar
a atenção no segmento e na lucratividade possível, em torno da cultura do consumo vigente e
exercendo um controle maior na vida das pessoas.

Segundo Staddon (2013), existe pouca consistência de crença de um lugar ou cultura


para a próxima. Com o tempo as crenças que ate então erram aceitáveis podem mudar. Muitas
pessoas, inclusive cientistas, têm fé, crenças que não derivam da ciência, sendo muitas vezes
qualquer tipo de argumento racional. Do ponto de vista científico, nossos valores e crenças
devem se originar de nossa história pessoal e da história de nossos ancestrais. A arqueologia
humana é acanhada quanto a detalhes dos sistemas de crenças e arranjos sociais de nossos
antepassados. É obscuro o entrelaçamento de natureza e criação durante cada tempo de vida
humano. Nós só podemos questionar a respeito das forças seletivas, individuais e grupais, que
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tenham conduzido a uma ordem de sistema de crenças humanas através do planeta. Contudo
para a maioria das crenças, suas contribuições para a sobrevivência cultural é obscura porque
o futuro é amplamente desconhecido. Diante de tais colocações se escolhermos as crenças
baseadas em uma aptidão cultural podem prever a trajetória futura da civilização. Decidir
apenas quais crenças favorece a sobrevivência cultural será sempre problemático. A evolução
(história) é um processo inerentemente imprevisível. Nós não sabemos quais de nossas
crenças improváveis terminarão sendo essencial à sobrevivência cultural. As mais óbvias
crenças favorecedoras da cultura contradizem muitos valores contemporâneos. É uma
incógnita se as atuais crenças ajuda ou atrapalha nossa cultura.
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Ética: elemento explicativo do comportamento no Behaviorismo Radical

O behaviorismo radical não apenas aborda em profundidade as questões éticas, como


apresenta um sistema ético completo, os behavioristas não recorrem a teorias alheias para
discorrer sobre o assunto, podendo, para tanto, servir-se de seus próprios recursos conceituais.

Skinner trata dos problemas éticos sob dois diferentes aspectos: descritivo e
prescritivo. O aspecto descritivo do sistema ético skinneriano aponta - conforme indica sua
designação - descrever as variáveis que controlam o comportamento ético. Trata-se de
investigar, por exemplo:

1 ) porque seres humanos comportam-se eticamente;

2 ) porque seres humanos utilizam vocábulos de ordem ética;

3) porque seres humanos defendem/ promovem certos valores éticos.

Skinner (2000), assume o papel de cientista e tomando a ética como seu objeto de
estudo. Para Skinner, questões éticas são, desde o início, questões que dizem respeito ao
comportamento. Abre-se, assim, a possibilidade de construir uma ciência da ética - tarefa
frequentemente tida como inexequível.

O mentalismo popular apreende a ética como algo que certa pessoa “possui”
(intrínseco á sua personalidade), direcionando suas ações: é bom porque faz o bem ou porque
possui comportamento virtuoso. Já para o behaviorismo radical circunscrever uma posição
ética requer a descrição de variáveis que controlam este comportamento. É importante
descrever os usos – ou significados – populares da palavra “ética” daqueles existentes nas
comunidades verbais identificados com a filosofia behaviorista radical. O behaviorismo
radical compreende a ética através do modelo de seleção por consequências. Devemos sempre
explicar o comportamento humano através da conjugação de variáveis atuantes em três
diferentes níveis seletivos: filogenético, ontogenético e cultural. Esse é um movimento de
vital importância, pois marca o rompimento do behaviorismo radical com as interpretações
tradicionais sobre questões morais. Nega-se a reificar os valores, a tratá-los qual fossem ideias
platônicas. Valores pertencem à esfera da práxis, e somente nela encontram seu significado.

Segundo Dittrich (2004), o modelo de seleção por consequências é um poderoso


recurso explicativo. Contudo, esse mesmo modelo alerta quanto à complexidade do
comportamento humano. Esclarecer episódios comportamentais específicos será sempre uma
tarefa exigente, diante da qual nada além de investigação cuidadosa poderá bastar. É natural
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que sintamos certa ansiedade em explicar todo e qualquer fenômeno comportamental,


enquanto psicólogos. É comum explicar comportamentos bizarros citando possíveis estados
patológicos. Classificar certo comportamento como “doentio" possui, certamente, algum
poder de alívio sobre nossa ansiedade explicativa, mas pode ser um recurso espúrio. É
necessário examinar detidamente as contingências passadas e atuais que controlam o
comportamento dessa pessoa para descobrir os motivos de sua conduta. Se tal possibilidade
não estiver ao nosso alcance, a única afirmação que podemos fazer, com segurança, enquanto
analistas do comportamento, é esta: todo comportamento, do mais corriqueiro ao mais bizarro,
é produto de contingências seletivas atuantes nos níveis filogenético, ontogenético e cultural.
Na análise do comportamento, toda explicação é, necessariamente, de ordem histórica.

Quando se discute autocontrole, esta lidando com um produto cultural. As culturas


criam indivíduos que controlam seu próprio comportamento porque este controle beneficia as
culturas. O comportamento ético muitas vezes é definido como elemento de autocontrole.
Considera-se ético o indivíduo altruísta - aquele que "renuncia" ao seu próprio bem em nome
do bem dos outros ou do bem de sua cultura. Uma investigação histórica cuidadosa
provavelmente revelará que o indivíduo altruísta não está, simplesmente, "abrindo mão" do
reforço, mas sim trocando certos tipos de reforços por outros. A "renúncia" ética não é,
portanto, um acontecimento espontâneo. O autocontrole funciona muitas vezes como uma
maneira egoísta de apaziguar o egoísmo. Entretanto, a importância do autocontrole não pode
ser questionada. Sem ele, a existência do que chamamos culturalmente de "ética" seria
impossível (Dittrich, 2004).

Para que o controle possa ser exercido, é necessário que um conceito seja difundido entre
os “crentes”: o de “Livre-arbítrio”. Segundo esse conceito, os homens são livres para
comportarem-se da maneira que a sua consciência (considerada pela cultura às vezes como
um substituto, outras vezes um produto da mente) ditar. Seja por meio da religião, ética ou
moral, o fato é que as culturas, por meio de comportamentos verbais, tentam controlar o
comportamento dos indivíduos inseridos nos grupos sociais. Enquanto a religião coloca no
homem toda e qualquer responsabilidade sobre seus atos, a psicoterapia tenta descobrir as
razões pelas quais o comportamento apareceu. (Banaco, 2001)

As regras também figuram como elementos fundamentais na caracterização do que


entendemos por comportamento ético. Regras são instrumentos verbais que permitem o
controle do comportamento sem exposição direta às contingências. Sua importância na
aprendizagem da conduta ética é óbvia. Entretanto, o comportamento ético governado
"puramente" por regras é exceção: regras precisam ser "apoiadas" por contingências efetivas -
do contrário, seus efeitos serão de curto prazo. Se, por exemplo, consequências reforçadoras
não se seguem ao comportamento especificado por certa regra, é provável que a regra perca
seu efeito sobre o comportamento - e mesmo quando consequências reforçadoras ocorrem, a
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regra pode ser rapidamente "esquecida", substituída pelas contingências “naturais" que
passam a modelar, então, o comportamento do indivíduo.

Dittrich (2004), finaliza seu texto afirmando que na maior parte do tempo, nossa conduta
ética é irrefletida - levada, digamos, "ao sabor das contingências". Quantas vezes paramos,
efetivamente, para pensar sobre a adequação ética do que fazemos? Quantas vezes durante
sua carreira um psicólogo, por exemplo, consulta o manual de ética que, supostamente,
dirige sua atuação profissional? Costumamos achar que sabemos, de antemão, o que é bom
ou não. Contudo, na maior parte do tempo, sabemos e sentimos apenas o que é "bom”
(reforçador) para nós o que não corresponde, necessariamente, aos parâmetros éticos de
nossa comunidade profissional.

A adaptação ética na conduta do psicólogo na deve ser analisada por seu grau de
dependência em relação às regras, e sim por suas consequências, sendo estas de curto ou
longo prazo. Sempre que se considera a ética como um conjunto especial e delimitado de
contingências seletivas no interior das culturas, classificar os possíveis significados da palavra
consistirá tão-somente em identificar as práticas de reforço vigentes nas diversas comunidades
verbais: a ética dos cientistas, dos psicólogos, dos políticos, dos religiosos, etc. - ou de
quaisquer outras comunidades designadas por diferentes características geográficas, históricas
ou comportamentais. Sob tais circunstâncias, pode-se, perfeitamente, conferir à palavra
“ética” caráter explicativo - desde que reconheça ser essa apenas uma forma simplificada de
lidar com conjuntos complexos de variáveis seletivas estabelecidas pelas culturas.
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Psicoterapia

A terapia consiste em levar o cliente a entender seu problema de modo que seja capaz
de descobri-lo e mudá-lo com o auxilio do terapeuta. Skinner (2000), ressaltou que o poder
inicial do terapeuta não é muito grande. Como o efeito que ele deve conseguir requer tempo,
sua primeira tarefa é assegurar-se de que haverá tempo disponível. O terapeuta usa seja qual
for o poder limitado que originalmente possui para assegurar-se de que o cliente continuará a
ter contato com ele. À medida que o tratamento progride o poder do terapeuta aumenta,
tornando-se uma importante fonte de reforço. Se tem sucesso em fornecer alívio, o
comportamento do cliente de voltar a ele em busca de auxílio será reforçado. A aprovação do
terapeuta pode vir a ser eficiente. O poder inicial do terapeuta como agente controlador se
origina do fato de que a condição do paciente é aversiva – qualquer promessa de alívio é
positivamente reforçadora.

Segundo Skinner (2000), a terapia é uma profissão. Terapeutas se empenham na tarefa


por razões econômicas. Os serviços que o terapeuta presta são suficientemente reforçadores
para o cliente e para os outros. Skinner também aponta que além do reforço econômico, o
terapeuta também é reforçado pelo êxito no alívio das condições de seus pacientes. Outro
fator de reforço para o terapeuta é o sucesso na manipulação do comportamento humano.
Muitas vezes, a psicoterapia pode ganhar um grau de controle que é mais poderoso do que o
de muitos agentes religiosos ou governamentais. Há sempre a possibilidade, como em
qualquer agência controladora, de que o controle seja exorbitado. O contracontrole que
desencoraja o abuso do poder é representado pelos padrões éticos e procedimentos da
profissão organizada de psicoterapeuta.

“O comportamento inconveniente ou perigoso para o próprio indivíduo, ou para os


outros, muitas vezes requer ‘tratamento’. Antigamente o tratamento era deixado aos amigos,
pais, ou conhecidos, ou a representantes das agências controladoras.” (Skinner, 2000, p.400).
A psicoterapia é uma agência especial que se preocupa com tais problemas. Não chega a ser
uma agência organizada, como a religião ou governo, mas uma profissão, na qual os membros
observam procedimentos mais ou menos padronizados, tornando-se uma fonte de controle
importante na vida de muitas pessoas. A terapia consiste na introdução de variáveis que
compensem ou corrijam uma história que produziu comportamento indesejável. O principal
resultado da terapia é a extinção de efeitos da punição na vida do cliente. Com muita
frequência essa punição foi administrada por agências religiosas ou governamentais. Os
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estímulos automaticamente gerados pelo próprio comportamento do paciente tornam-se


menos aversivos e com menor probabilidade de gerar reações emocionais.

Há certa oposição entre psicoterapia e controle religioso e governamental. A oposição


aparece quando o psicoterapeuta advoga mudanças em técnicas controladoras estabelecidas.
Por exemplo, pode recomendar uma modificação da ação da polícia contra jovens
delinquentes ou certos tipos de personalidades psicopáticas. Essa oposição tem atraído
considerável atenção. Representantes de algumas agências religiosas acusaram
psicoterapeutas de fomentar tendências imorais e, por razões similares, funcionários
governamentais resistem às reformas propostas pelos psicoterapeutas. (Skinner, 2000,
p.405)

O que coloca o terapeuta em posição contrária às religiões são as punições que elas
estabelecem e o trabalho que se faz é para extinguir ou diminuir os efeitos colaterais dessas
punições (Banaco, 1996).

Ainda que exista uma oposição fundamental nos processos comportamentais


empregados, não há necessariamente nenhuma diferença no comportamento que essas
agências tentam estabelecer. Ao evitar os subprodutos do controle excessivo, a psicoterapia
pode devolver certa porção de comportamento egoísta no indivíduo, atenuando a estimulação
aversiva que resulta do controle religioso ou governamental. As técnicas disponíveis para as
agências religiosas e governamentais são muito poderosas, e frequentemente são mal
empregadas, com desvantagens tanto para o indivíduo quanto para o grupo. O contracontrole
por parte da psicoterapia ou de agência semelhante muitas vezes se faz pertinente. Como as
variáveis que estão sob controle do psicoterapeuta são muito fracas e como ele deve operar
dentro de certos limites éticos, religiosos e legais, dificilmente pode ser encarado com uma
séria ameaça.
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Interação cliente e terapeuta

Integrar dimensões espirituais e religiosas de vida dos clientes no processo de


psicoterapia exige profissionalismo ético, alta qualidade de conhecimento e habilidade para
trabalhar as informações coletadas sobre as crenças e valores em benefício do cliente. Alguns
achados empíricos mostram que os clientes adotam (são convertidos aos) os valores dos
terapeutas, especialmente valores morais, religiosos e políticos, revelando sérios problemas
éticos – redução da liberdade do cliente, violação do contrato terapêutico, falta de
competência do terapeuta e perda da neutralidade do terapeuta.

Algumas observações éticas merecem atenção, tais como: habilidade de inquirir sobre
a vida religiosa e espiritual dos clientes ser um elemento importante da competência
psicoterapêutica; a informação sobre as vidas religiosas e espirituais dos pacientes revela
dados extremamente importantes para superação de suas dificuldades; o processo do inquérito
sobre esse domínio deve ser respeitoso; e há um potencial significativo para faltas éticas
quando o terapeuta excede suas convicções pessoais abandonando o princípio da neutralidade
(Lomax et al. 2002 apud Peres et al 2007).

Peres et al, (2007) destaca ainda que a confiança depositada no terapeuta cumpre um
papel central na efetividade do tratamento – clientes que estabelecem uma relação de empatia
e confiança com seus psicólogos se beneficiam mais que outros que não a estabelecem. Tal
confiança não pode ser negada pelos profissionais, mas sim cuidada eticamente. A Associação
Psiquiátrica Americana (The American Psychiatric Association, 2006 apud Peres et al, 2007)
recomenda alguns procedimentos para psicoterapeutas ao abordarem os temas espiritualidade
e religiosidade:

 Identificar se variáveis religiosas e espirituais são características clínicas relevantes às


queixas e aos sintomas apresentados;
 Averiguar o papel da religião e da espiritualidade no sistema de crenças;
 Identificar se idealizações religiosas e representações de Deus são condescendentes e
abordar clinicamente essa idealização;
 Demonstrar o uso de recursos religiosos e espirituais no tratamento psicológico;
 Empregar procedimento de entrevista para acessar o histórico e envolvimento com
religião e espiritualidade;
 Treinar intervenções adequadas a assuntos religiosos e espirituais e atualizar a respeito
da ética sobre temas religiosos e espirituais na prática clínica.
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No processo terapêutico explorar crenças religiosas e espirituais pode ser benéfico,


sendo uma necessidade terapêutica e um dever ético respeitar essas opiniões, devendo haver
empatia, assim como continência em relação à realidade que o cliente traz, ainda que os
terapeutas não compartilhem das mesmas crenças religiosas. Os psicoterapeutas devem estar
confortáveis com clientes que levantam questões existenciais e espirituais.

Os princípios de conduta geralmente delineiam comportamentos que são virtuosos do


ponto de vista de uma determinada comunidade em certas circunstâncias, mas que podem ser
horríveis em outras circunstâncias. Cada situação é diferente. Estas normas são partes do
ambiente da pessoa, e a forma como a pessoa vai ouvi-las, segui-las, descartá-las ou
interpretá-las é comportamento resultado de contingências de sua vida. O terapeuta pode
deixar claro que é o cliente quem constrói ativamente o que está ouvindo. Ouvir é
comportamento operante, não é captar significados que são emitidos pelo falante. A
desconstrução das regras sociais, deste modo, faz parte da prática terapêutica.

Comportamento verbal de quem propõe uma ética para os psicoterapeutas é


culturalmente definida, assim como sua orientação ética. Skinner (1953) quando falou que a
psicoterapia deve cuidar dos efeitos colaterais do controle aversivo que as contingências
sociais têm sobre o indivíduo, não é cuidar no sentido de protegê-lo, mas justamente no
sentido de torná-lo independente e equipado para continuar seu caminho sem ajuda. Percebe-
se aqui um valor cultural: independência. Este tem sentido em sociedades em que
comportamento independente é adaptativo. Em outras sociedades, em que a dependência de
outros é adaptativa, esta ética da autonomia é questionável. Se avança no direito das pessoas
de viver num ambiente reforçador e livre de coerção, criar torna-se mais importante do que
ter. Além disso, para Skinner, deve-se considerar que o terapeuta ajudou os seus clientes mais
efetivamente quando pode parar de ajudá-los. Ajudar o mínimo possível é melhor, porque
ajudando demais, perpetua-se a necessidade de ajuda.

Segundo Banaco (1996), esperam-se raros casos no consultório cujas diferenças


culturais entre o terapeuta e cliente sejam muito acentuadas, já que partilhamos a mesma
cultura que as pessoas que atendemos. No entanto com a própria característica da cultura
mundial e em especial a brasileira, não é difícil encontrarmos para o atendimento psicológico
pessoas com problemas cujas moral e ética não partilhamos.

Banaco (1996), explica que o terapeuta deve estar sempre atento para não se um
“ditador” de ética, nem competir com a ética religiosa do indivíduo, pois isto apenas teria
como resultado acirrar conflitos que o cliente já enfrenta e criaria uma “imitação” ético
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terapeuta. Deve conhecer o melhor possível da ética religiosa de seus clientes para poder
recomendar e manejar as mudanças necessárias para a solução do problema do cliente.

Tal qual havia firmado em 1996, Banaco volta a dizer em 2001 que compete ao
terapeuta eliminar os efeitos colaterais provenientes do impacto das agências controladoras,
que mantêm o sujeito alinhado a normas e valores da sociedade. O terapeuta deve auxiliar o
sujeito a viver, alcançando o que é importante para si, mas sem sofrer os efeitos prejudiciais
(para o indivíduo) do controle aversivo da sociedade. Assim, o terapeuta arrisca ser
considerado imoral por certas agências controladoras que fazem parte da nossa cultura. Para
alcançar o seu alvo, o terapeuta ajudaria o cliente a achar uma forma de adaptação criativa à
própria sociedade, à medida que não pode transformá-la.

Segundo Vandenberghe (2005), no fundo, a terapia contém uma ética inevitavelmente


subversiva, porque o terapeuta tende a escolher, num certo sentido, sempre para o indivíduo,
contra a sociedade. Torna a terapia portadora de um permanente “colocar em questão” dos
controles sociais e uma provável fonte de estratégias de resistência do indivíduo. Por outro
lado, a terapia é também uma aliada das agências controladoras. A libertação do indivíduo é
compensada pela sua reinserção, agora como pessoa mais criativa, menos reprimida,
potencialmente um membro mais valioso da mesma sociedade. As agências controladoras e
outros elementos da sociedade reagem ao que o terapeuta faz. Às vezes, uma melhora dentro
do contexto de um mandato que o cliente lhe concedeu, pode ser malvista em outros
contextos. Ajudar o cliente pode acabar prejudicando o terapeuta. Não ajudar o cliente pode
acabar ajudando o terapeuta. Ajudar um paciente a se tornar mais assertivo pode ser um bem
em certos sentidos e um mal em outros. Ajudar alguém superar seus medos pode piorar a
avaliação da saúde mental da mesma pessoa pela família, que lidava melhor com a pessoa
quando era mais inibida e dependente. As reações da família podem ser um mal para o
paciente. A questão que deve ser feita sempre é a das repercussões da atuação do terapeuta.
Há uma variedade de efeitos desta atuação que não dependem diretamente do terapeuta, mas
de outros membros da sociedade: julgamentos por estar fazendo terapia podem prejudicar o
cliente ou ajudá-lo. Fazer terapia pode trazer ganho, conferir poder dentro da família. Pode
tornar-se uma arma: “Veja só! Por sua culpa estou precisando de terapia” ou pelo contrário,
pode desqualificar a pessoa aos olhos de outras. Finalmente, todas estas variáveis têm efeitos
sobre o que o próprio cliente espera da terapia, o que acredita que pode ou deve pedir do
terapeuta.
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Vandenberghe, (2005), acrescenta que o clínico tem responsabilidade não só pelo


cliente, mas também pelos contextos em que sua atuação e os efeitos da mesma têm
relevância. A ética behaviorista radical para a relação terapêutica deve ser uma ética de
processos interpessoais em diferentes níveis. Não pode ser uma ética absoluta, que vale em
todos os sentidos da mesma forma. É uma ética que consiste em superar, de maneira
produtiva, contradições inerentes à atuação terapêutica. Superar, não no sentido de resolver,
porque não é possível encontrar uma síntese que faça jus aos diferentes níveis analisados. O
caminho que tenta juntar elementos de perspectivas opostas, muitas vezes, exige que se
abandone uma perspectiva forte que pode ser altamente construtiva, apesar de conflitar com
uma outra. Trata-se de ser sensível à legitimidade de diferentes perspectivas sem tentar uma
formulação única que deve ser seguida como uma regra, necessariamente fria e
potencialmente alienadora.
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Conclusão

A espécie humana, ao longo do tempo, desenvolveu o comportamento verbal. Com


isso houve a possibilidade de instalar e promover o autocontrole de seus indivíduos. A partir
do autocontrole torna-se possível a criação da cultura e a possibilidade da vida em grupo. A
comunidade cria as regras de convivência como forma de controlar as ações das pessoas.

Entre os analistas do comportamento parece haver consenso em relação a quanto as


agências controladoras conseguem se sustentar e promover um controle de contingências da
vida das pessoas em grupo. Ressaltou-se no presente trabalho o controle da agência religiosa,
que utiliza de diversas formas de controle comportamental, sendo a punição uma forma de
controle com efeitos bastante ruins sobe os indivíduos. Os clientes chegam ao processo
terapêutico (outra agência controladora de comportamento), após experiênciar esses efeitos
nocivos destacados acima. Vale destacar o quanto a influencia da cultura se faz pertinente em
todas as colocações dos autores citados neste trabalho. A terapia comportamental é um tipo de
agência de controle que prima pelo controle por reforçamento positivo do comportamento,
visando a manutenção da espécie, o bem-estar do indivíduo e o planejamento da cultura. A
psicoterapia é uma agência criada pela cultura. O terapeuta controla e é controlado pela
relação que estabelece com o cliente; sua responsabilidade ética é grande porque assume para
si esse papel de agência de controle social.

A psicoterapia deve ser uma audiência não-punitiva – capaz de acatar todo e qualquer
tipo de comportamento que possa ser revelado em seu contexto. Por ter essa característica que
foi acusada de ser imoral por algumas agências religiosas. Só que a psicoterapia dificilmente
dissentirá da ética vigente, já que, tem como objetivo eliminar os efeitos da punição social.
Sua função é trabalhar com o cliente a aquisição de comportamentos desejáveis e aceitos pela
sociedade.

Diante das colocações ao longo do texto tal trabalho leva a reflexão da interferência da
religião do terapeuta na sua atuação clínica, o quanto é importante não manifestar seus valores
religiosos no ambiente de trabalho, tentar fazer um trabalho mais próximo da imparcialidade,
não emitindo juízo de valor sobre o comportamento verbal do cliente. Se a terapia tem a
função de extinção da punição na vida do cliente, a crença religiosa do terapeuta não pode ser
manifestada no processo, pois se isso ocorrer pode a terapia torna-se aversiva para o cliente,
não cumprindo assim a sua função. A religião tem controle sobre o comportamento,
contraposto ou não às crenças religiosas, os clientes normalmente não abandonam suas
convicções religiosas por causa da psicoterapia, ressaltando que isto não é o que busca um
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terapeuta comportamental. A terapia comportamental discute crenças religiosas em casos


particulares, ou seja, discute “comportamentos religiosos” quando estes acarretam problemas
para o cliente, ou quando as elucidações religiosas colocam em risco a vida do cliente.

Conclui-se então que quando o cliente traz como queixa uma questão religiosa na
terapia ela deve ser tratada com respeito dentro do referencial moral e ético do cliente. Para
possibilitar o trabalho do terapeuta, quando a este chega um cliente religioso, um dos
primeiros passos é procurar saber sobre sua religião – quais são suas regras básicas, os
comportamentos desejados e aqueles possíveis de punição, quais são as punições
estabelecidas, quem as aplica, se há perdão possível para os “erros”, etc. Fazendo isso pode se
empatizar com o cliente e tentar submeter seus comportamentos a uma análise dentro dos
parâmetros estabelecidos por sua (cliente) cultura.
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