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ARTITEXTOSOS, DEZEMBRO 07 105 O Ensino da Arquitectura ea Tradicao do Desenho enquanto instrumento privilegiado da concepcdo da Cidade Jodo Sousa Morais Arquitecto, Professor Auxiliar, com Agregagéo, da FAUT. gerol@voo.pt 1. O Ensino CO ensino do Arquitecture néo é apenas uma questao de cardcter profissionolizante, mas também de integragéo social e cultural, onde o verdadeiro sentido da Arquitectura! remete-nos para uma postura diferente em que estudontes, professores e profissionais, se podem olear com © objective de dar uma resposta cabal aos diferentes designios da sociedade. No entanto, torna-se também importante explicitar © perfil profissional em Arquitectura, de cardcler genérico, podendo e devendo ser colibrado pelas diferentes escolas em funcdo do suo tradicdo e dos seus modelos de ensino, podendo-se referir os seguintes permissas entendides aqui como denominador comum, no processo de aprendizagem em Arquitectura ® > Verifica-se um divércio entre a prética ¢ 0 ensino. > Anobreze da Arquitectura ficou sempre associada @ ideia de orte social > A tradigdo do Desenho tem sido uma constante a0 longo dos anos. > O ensino da Arquitectura tem vindo o ser mais globolizante e compu- tacional.. > Quolqver intervencéo em Arquitectura pressupde a (relinterpretacéo da Cidade enquanto territério por exceléncia do Arquitecto. Estos premissas relacionam-se também com a necessidade do entendimento 1 Boje Emest znd igang ee da Arquitectura também pelos ndo - Arquitectos (como se refere no Relatério “ANew Rave for Ae duction ond Pctice The CameaieFeurdstos fr mercado; & realidade politica ¢ sécio-econémica, bem como aos problemas Lone & Pincion, New Jersey. 1996 produtives, @ a consequente mudanca dos servicos terciérios como fonte Princeton) e sobretudo face ao actual sentido da Globalizacéo: relatives ao 2s perissas s6oconsontes primordial de recursos urbanos e festivagéo da vida urbana * 10 “lero Princo elaborado ro EULA poro ensino 33 unc, ro mare apes A Arquitectura de hoje bem como © seu ensino, passa pelo entendimento do ‘quatro pemeroe A dima merece ied porsas 2 conjunto de frogmentos urboncs em diferentes cidades, quer no émbito real Igogte oo conteo qe 9 mexmo i i 5 igagto ao conteo que omer? Como virtual, constituindo uma estrutura construida por éreas separades em Para mae forages wo bet Ged ond Gerard Spin Stay of Eaton fe Emermets|_lugar como interacgGo de fluxos de comunicagée de informacdo, conde confluem ‘wchiecs. 1967/1981 — felecomunicagées, auto-estradas recis e digitois e grandes infroestruturas pensados ‘3Mui,Z.-p.19 em fungdo da velocidade do quotidiano urbano. espace fisico e espaco de comunicagéo, de informacdo e fluxos, funcionando o 106 (O Erwine de Arauitechen # 0 Tradigo do Deserta enavanic inriumenio pivingiode da coneapaie de Cidae (Das permissas iniciois enunciodas porecem hover contradighes entre: > A globolizocéo, 0 computogéo ¢ a tradiga do Desenho. > Aideto de ote social ¢ o divérete entre © pedtica € 0 ensino, De forte porece ndo haver senfide estético no Arquitectura ou na Arquitectura do Cidade. Hé no entanto sabreposicSes de Cidades, om que o sentido da Glebalizagde deve ser entendido como fenémeno (corsumivel) de hoje, sem no entants pir em cause ou sectoralizar a identidode prépria de code cidade @ sociedade # consequentemente do proprio ensino da Arquitectura © em porticular 3 quatro categorias relacionadas como cenhacimanto': > Descoberia dos conhecimentos; inerente & forma como o mesmo 4 opresantods, © oo que é considerade essencial como nes sos vartentes cientifica, social estética, politica, e as bases ambieniais da Arqvitecturs. > integrase dos cenhecimentos; inerente & capacidade de relacicnar 6 disciplina de Arquitecture @ os outros camo; Design de Interior, Arquitectura Poisagistica, Engenharia, de Tratego, etc, > Aplicagéo de conhecimentos; inerente & capecidede que usvalmente se danoming da Prafico, que deve relocianer 0 ensine Académica & Prética profissional, devendo encarojar os educadares @ colocar as auesides econémices, de gestéo, legais ¢ éticar nas plataformas de decis6o da pratica do Arquitecturs. v Poriilha de conhecimentos; inerenle & copocidade de comunicar as ideios do detenho da Arquitectura, 0 valor dos seus conceitos, © os significados que of mesmos devem ter nas opges, € no processe de deciséo. Esta8 quotro colegorias inerentes oo modo de pensor o ensino, que o sociedode Americana como pioneira da Globslizagéo tem vindo o investigar num espectre muito alargado de escolas, constituiu um referencial de oncoragem, o ensine do Deteshe (mesmo computscsonal) associsdo és Belos Anes como ponto de paride Exate postonto uma eparente dualidade de lettura interpretative continua que deve #00 compreendide sempre numa légica de Arta (urbana) resutond do Arquitectura do Ensino das Belas Artes © fundamentalmente do sev campo visual & semelhonga do que acontece com as cuttas ores. Estes pressupostos remetem-nos para uma nacessidode de reflex sobre © Ensine de Arquitectura no sun verdadsiro dimenséo, -o teritirio urbana: a cidode em particular no que repoma 4 Arte Urbona enquanto dominio do Arquitecture, Alenia Bayer - 6.70, 71 15 “ReatioPinestont 6 be ct ARTITEXTOSOS. DEZEMBRO 07 ‘Assim este conhecimento vital da Arquitectura néo pode ser inventado deve ser antes transmitido pela prética de situacées concretas com demandas especificas, nomeadamente § > Contribute para a compreensio do desenvolvimento do Cidade Europeia, especialmente em Projectos de Intervencéo. > Implementacéo da Metodologio de Desenho, influenciado pelos andlises morfolégicas — ligagdo com a Arquitectura Racionalista = confinuogéo de Arquitectura Urbana. > Investigago do Tipologia e Morfologio como forma de descobrir a légica na Arquitectura, ¢ a formacée e generacéo dols) tecidols) urban). Este aspecto quando relacionado como Modelo Cornell (de Colin Rowe) pressupde que 0 fazer 0 Arquitecture corresponde a uma informagao aprofundada de *: > Um sofisticado conhecimento da forma. > Da Histéria ser uma transladagdo da prtica através do teoria. > Da relacéo entre o edificio individual e © seu contexto, Estes pressupostos remetem-nos para uma necessidade de reflexdo sobre o presente popel do ensino da Arquitectura, bem como a forma de produgéo da cidade enquanto territério por exceléncia da Arquitectura. 2. A Tratadistica e a Cidade A cidade foi objecto do retomar da légica por exceléncia da pratica do Desenho Urbano no final dos anos setenta com o celebre periodo da Architectural Design (1979), tendo come editor convidede Michael Graves, proporcionando uma viséo desenhoda sobre © antigo plano de Nolli (1748), um conjunto de arquitectos foram convidades (no plane de ideios) como Leon Kier que repensa a Praca de S. Pedro bem como a Praca Nova [ Figs. ¢2], numa atitude provecatéria da imagem como processo de (re)pensar a cidade, de forma dinémica, mas simultaneamente trabalhando com as estruturas e formas preexistentes. Figs. 102 107 108 © Ensino de Arquitectura © © Tradigao de Desenho enquanta instrumente privilegiodo da concepeso da Cidade ‘A Cidade como ideal foi entendida por Alberti como um teatro imaginério, com os ruos povimentados e limpas, definidas por uma continuidode edificada de casas arcadas e pérticos com uma altura uniforme, como uma obra de arte harmonioso, com todas as suas partes numeradas com proporgdo e ordem. No centro Alberti colocava a biblioteca representando a consciéncia civica, & semelhanga dos Gregos que acreditavam que sem meméria dos origens e os principios de continuidede a cidade desaporecia’. Alberti no seu (re)desenho mental do antiga Romo convide o espectador o uma experiéncia cénica da cidede, comportande uma notével andlise morfolégica sinerética que pode constituir uma vio para a requalificacéo da cidade. Esta quase ceriménia tectral transforma @ Cidade num guia sistemético das ruinas e dos monumentos. Esta leitura da cidade Albertina remete-nos para um quadro featral da cidade enquanto palco, onde o manuseamento da imagem urbana é suportada pelas leis do perspectiva, ancorades num quadro matemético que assegura as relacdes do cordem, em que os edificios s80 objectos de espaco que o arista analiso, compara «a8 suas proporgées numa légica de controlar o sua visdo perceptiva, onde o pintor © © espectador podiam observar a mesma perspectiva. ‘Tombém os Paines de Brunelleschi sobre Palazzo della Signora referidos por Giulo Carlo Argan sdo notéveis, demonstrando as leis da simetria e proporcdo, utilizando (© céu numa éptica do infinito, dominando a dimenséo para além da realidade® O sentido da representagéo é indissocidvel do Arquitecture, como © evidencia Blondel no compromisso entre o uiilitarismo e formalismo na tarefa de consiruco na cidade. Estes surgem com olguma acutiléncia com 0 entéo sentido “do Higiene” (no émbito de entéo), 0 tréfego, o habitagdo entre outros, bem como a alieracdo dos limites fisicos do cidade e © entendimento da cidade como pacto social, ndo arficulado com as suas origens; 0 centro histérico. A cidade entiga considera-se & parte fechada sobre si prépria com um estatuto de monumento, enquanto a cidade cresce mediante novas solicitagées em pontos de tenséo. As cidades ideais do Renascimento so dos projectos que néo sé assumem a cidade como um edificio como comportam todo um conjunto de intencées, e que hoje © equilibrio entre a “voluptas” e a “comodistas” de Alberti tende para esta Ultima, porticularmente na segunda metade do séc. XVIll, face a0 novo estatuto do ordem, a linearidade e a perspectiva, onde o sentido do passeio pblico & ‘ossociado ao plano marginal, revelando-se na qualidade do “edificado corrente”. Sublinho-se aqui @ necessidade do triunfo do razéo e a convengéo civil como norma de comportamento, constitvinde um dos principais aspectos em que se suporia a obra de F. Meliza. * 7 Jorzombek, Mark. On Leon Baptista Abort. Combsidge Met Press 1989, p.113, 114, 8 Argan, Gio Calo “The Architecture of Brunllsch the COrigene of Perpecive Theay inthe Fiteenth Century” Journal ofthe Worburg ond Courtould Insite 9 (1946) p. 119, 9 Ceri, Maurin “Lo Spacio coletvo dels cite I Piano ‘Necelastica di Nano pp 120-125 Mazota Edtore Miao 1976 ARTITEXCTOSOS, DEZEMBRO 07 Serio ilusira a “Architecttura” (1537) em particular o seu segundo volume (publicodo em 1545), num conjunto de imagens cénicos desde a paisogem Vitruviana cémica, trégica # sotrica | Re], configuronds todo. sistema de espacos pUblicos de cidade 2 candrios afectos de emogéa. Evoconde Vitruvia, Serlio, ransperta as espectadores oro uma vis6o trigico do Arquitectura vendo palicios, evenidos, pracas instivindo ume Arquitecture de Cono numa relagio quase inica entre © espactador, o ater centro onde 0 Arguitecia conirola 0 iado. Fo? Estos refertncics & tratedistico anceram no génese dos Belos Artes, bem como: © volar criative do Desenho #0 seu suporte do imagindric sedimentado numa cultura do tempo, onde Roma parece sempre constituirse num epiceniro de mamérias vives, em que as suas ruinos representam um repositério da memérios ‘vivos, © parolelamante de ideios de sublime pureza, impostos pela ordam

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