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Curso de Aperfeiçoamento

Bases legais para a conservação de áreas úmidas no Brasil

Conteúdo Programático

• Desafios socioambientais contemporâneos à conservação de áreas


úmidas;
• Meio Ambiente na Constituição Federal;
• Instrumentos da Política Ambiental relacionados à gestão de áreas
úmidas;
• Tratados e Convenções internacionais aplicáveis à conservação de
áreas úmidas;
• Direitos Indígenas e de Populações Tradicionais em áreas úmidas;
• Política de Recursos Hídricos e tutela jurídica de áreas úmidas;
• Participação pública na gestão de áreas úmidas e instrumentos de
responsabilização por danos socioambientais.

Coordenação: Prof. Dr. Carlos Teodoro José Hugueney Irigaray

Uma iniciativa de Em parceria com Produção


Curso de Aperfeiçoamento
Bases legais para a conservação de áreas úmidas no Brasil

MÓDULO I
Bases conceituais e desafios socioambientais à conservação de áreas úmidas

Conteúdo
Neste módulo introdutório iniciamos oferecendo as bases
conceituais para caracterização de áreas úmidas, analisando a
contribuição da Convenção de Ramsar à conservação desses
frágeis ecossistemas, sua delimitação e uso sábio. Também são
apontados os fatores que contribuem para as mudanças climáticas,
incluindo o desmatamento e as queimadas, e de que forma
ameaçam as áreas úmidas, bem como os desafios para o manejo
sustentável desses ecossistemas.

1.1 - Bases conceituais de ecossistema de áreas úmidas e


caracterização/relevância de macrohabitats

Importância da Convenção de Ramsar


Origem da Convenção de Ramsar: “Convenção sobre Zonas Úmidas de
Importância Internacional, especialmente como Habitat para Aves Aquáticas”1 –
Ramsar, Irã, 1971.
ü Anos 80 – abordagem mais abrangente: a importância das áreas úmidas para a
manutenção da diversidade de espécies e relevância para o bem estar das
populações humanas.
ü Em 2002 (COP 8 – Valência, Espanha) uso sustentável das zonas úmidas.
ü Em 2008 (COP 10 – Coréia) maior integração com as demais convenções.

Países participantes:
São países participantes da Convenção, que designam áreas úmidas em seus
respectivos territórios para integrarem a Lista Ramsar de Zonas Úmidas de
Importância Internacional.

Participação do Brasil:
No Brasil a Convenção foi promulgada através do Decreto nº 1.905, de 16 de maio
de 1996, passando a integrar o ordenamento jurídico do país.
Através do Decreto nº 10.141/2019 foi instituído o Comitê Nacional de Zonas
Úmidas, cujo objetivo, em síntese, consiste em propor ao Ministério do Meio
Ambiente diretrizes e ações de execução, relativas à conservação, ao manejo e ao
uso racional dos recursos ambientais, referentes à gestão das áreas incluídas na Lista
de Zonas Úmidas de Importância Internacional e, nas demais zonas úmidas
brasileiras, quando couber, bem como contribuir para elaboração de diretrizes e na
análise do planejamento estratégico que subsidiará a necessária elaboração de um
Plano Nacional de Zonas Úmidas.

1
https://www.ramsar.org

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Conferências das Partes Contratantes (COP): As Partes Contratantes se reúnem


a cada três anos em uma Conferência das Partes Contratantes (COP) para discutir
questões políticas e relatar as atividades dos três anos anteriores.

Missão:
Em 2002, durante a COP 8 (Conferência das Partes), realizada em Valência
(Espanha), os países contratantes definiram a Missão da Convenção como:
“A conservação e o uso racional por meio de ação local, regional e nacional
e de cooperação internacional visando alcançar o desenvolvimento
sustentável das zonas úmidas de todo o mundo".

Desta forma, ao lado da conservação, a Convenção passou a dar atenção ao uso


sustentável das zonas úmidas.

Quanto de área úmida foi perdida no mundo


A degradação das áreas úmidas é uma realidade indiscutível e as atividades estão
ligadas ao crescimento econômico e populacional humano2.
ü Conversão para agricultura extensiva e intensiva (plantações);
ü Mudanças no uso e disponibilidade de água;
ü Aumento da urbanização e desenvolvimento de infraestrutura;
ü Controle de doenças (especialmente para mosquitos);
ü Disseminação de espécies invasoras; e
ü Aquicultura.
Uma revisão de 189 relatórios de mudanças em áreas úmidas conclui que desde
1900 houve uma perda de cerca de 70% destes ecossistemas, sobretudo na Ásia,
com o aceleramento na conversão de áreas úmidas costeiras3.
O custo dessa perda de pântanos de água doce, ocorrida entre 1997 a 2011, foi
estimado em US$ 2,7 trilhões de dólares por ano, segundo o relatório “Mudanças
no valor global dos Serviços do Ecossistema.”4

Conceitos estruturadores
A convenção Ramsar postula que, para alcançar um uso sábio e para que as áreas
úmidas contribuam totalmente para o desenvolvimento sustentável, gestores
políticos e profissionais devem reconhecer os vários valores das zonas úmidas e
refleti-los em suas decisões, políticas e atuações.
Todas as ações de aspectos científicos e técnicos da Convenção estão
disponibilizadas em Resoluções, Manuais, entre outros documentos.
Os conceitos estruturadores utilizados pela Convenção de Ramsar foram
introduzidos formalmente há cerca de cinco décadas (1970). Essa estrutura

2
EPA 2001; Finlayson et al. 2005; Finlayson 2012; Davidson 2014; Hu et al. 2017; WWF 2018.
3
DAVIDSON, N. How much wetland has the world lost? Long-term and recent trends in global
wetland area. CSIRO Publishing, Marine and Freshwater Research, 2014, 65, 934 – 942, September
2014. Ver também: The 4th Strategic Plan 2016 – 2024 - Adopted by the 12th Meeting of the
Conference of the Parties at Punta del Este, Uruguay, 1-9 June 2015, through Resolution XII.2.
Disponível em: < https://www.ramsar.org/about/the-convention-on-wetlands-and-its-mission >
4
R. Costanza et al., Changes in the Global value of ecosystem services, Global Environmental
Change 26 (2014) 152 - 158

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conceitual visa parar e, sempre que possível, inverter a perda e degradação das áreas
úmidas no mundo.

O que é uma área úmida


Nos termos da Convenção de Ramsar (Manual Ramsar — An Introduction to the
Ramsar Convention on Wetlands — Sub-series I: Handbook 1 — International
Cooperation on Wetlands 2016: 9), as áreas úmidas são definidas como:
“(...) áreas de pântano, de turfa, naturais ou artificiais, permanentes ou
temporárias, com água estática ou fluída, fresca, salobra ou salgada,
incluindo áreas de água marinha cuja profundidade não é suficiente à maré
baixa exceder seis metros.”

As áreas úmidas se caracterizam como um ecossistema com diferentes


peculiaridades, dependendo do sistema onde se encontram, por isso podem ser
inseridas dentro de sistemas intermediários situados entre os Sistemas Terrestres e
os Sistemas Aquáticos, conforme demonstra a figura a seguir:

Tipos de Ecossistemas e Conceitos Principais

Junk, Bayley & Sparks 1989


Conceito do Pulso de Inundação

Thienemann, Sistemas marinhos


Illies et al. 1950-1960 Diversos conceitos das
Naumann
Vannote et al. 1979 ciências do mar
e outros
Conceito do Rio
1915-1935
Continuo
Tipologia dos Lagos

O termo Área Úmida envolve uma grande variedade de habitats, de manguezais


ao longo das costas tropicais, turfeiras como as veredas e até o Pantanal. As
definições a seguir ajudam a identificar pontos comuns entre esses ecossistemas
muito diferentes.

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Conceito recomendado pelo CNZU:


A recomendação da Comissão Nacional de Zonas Úmidas (CNZU) nº 7, de 11 de
junho de 2015, que dispõe sobre a definição de Áreas Úmidas Brasileiras e sobre o
Sistema de Classificação dessas áreas, adotada pela Portaria n.º 445/2018, do
Ministério do Meio Ambiente (MMA), traz a seguinte definição:
“Áreas Úmidas são ecossistemas na interface entre ambientes terrestres
e aquáticos, continentais ou costeiros, naturais ou artificiais,
permanente ou periodicamente inundados ou com solos encharcados.
As águas podem ser doces, salobras ou salgadas, com comunidades de
plantas e animais adaptados à sua dinâmica hídrica (adaptado de Junk
et al.5).”

Alguns aspectos ecológicos são determinantes nessa classificação:


ü O fator determinante no ambiente das áreas úmidas é a água;
ü A hidrologia determina a química do solo, topografia e vegetação;
ü Em todas as áreas úmidas, o substrato é saturado tempo suficiente para que as
plantas não adaptadas a essas condições não possam sobreviver;
ü A condição saturada leva a um baixo nível de oxigênio (hipoxia) ou ausência
de oxigênio (anaerobiose ou anoxia) nos espaços dos poros do solo;

5
In: Classificação e delineamento das áreas úmidas brasileiras e de seus macrohabitats.
< http://www.cppantanal.org.br/2018/index.php/2017-11-25-10-48-10/2018-03-31-15-56-
14/item/254-classificacao-e-delineamento-das-areas-umidas-brasileiras-e-de-seus-macrohabitats >

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ü A escassez de oxigênio provoca condições redutoras, nas quais estão presentes


formas reduzidas de elementos (por exemplo, azoto, manganês, ferro, enxofre
e carbono (Gambrell e Patrick, 1978);
ü Tais substratos são denominados solos hídricos. As plantas das AUs possuem
adaptações a inundações e aos solos hídricos que permitem persistirem;
ü As áreas úmidas são ecossistemas nos quais existe água suficiente para
sustentar tanto os solos hídricos, como as plantas que lhes são adaptadas.

Se a identificação de uma área úmida envolve conhecimento técnico, desafio maior


é estabelecer os limites de uma área úmida, que por sua natureza comumente goza
de especial proteção legal. Como definir esses limites?

Delimitação de uma Área Úmida (AU): A delimitação das AUs deve atender à
presença de três componentes:
(1) de água, pelo menos periodicamente;
(2) de espécies de plantas superiores aquáticas, palustres ou lenhosas, adaptadas às
condições hídricas;
(3) de substrato/solo hídrico.

Ou seja, a definição de zonas úmidas e seus documentos de orientação regulatória


são frequentemente referidos como uma abordagem de três fatores para sua
definição – água (hidrologia), vegetação (hidrofíticas) e solo (hidromórfico).
É importante que tanto a investigação científica, quanto a prática regulatória
relacionadas a AUs reconheça o status oficial das condições hidrológicas
necessárias à manutenção das AUs.
A hidrologia das áreas úmidas refere-se ao momento e extensão das inundações ou
à saturação do solo. A saturação recorrente do substrato na ou perto da superfície é
a única condição que sustenta todas as outras características de AUs, e é, por isso,
considerada a "força motriz" na formação delas.
A precipitação, a permeabilidade do solo, a posição na paisagem, o uso da terra
circundante e o tipo de vegetação influenciam a hidrologia de uma AU.
Embora a hidrologia seja o mais importante dos três parâmetros das áreas úmidas,
pode as vezes ser o fator mais difícil de determinar no campo, porque os níveis de
água nas AUs são frequentemente muito variáveis ao longo de um ano.
A água na superfície ou perto dela suporta o desenvolvimento de organismos
característicos, vegetação hidrófitas e substrato de solos hídricos, e não o inverso,
conforme pontua Junk et al 2014:
“A extensão de uma AU é determinada pelo limite da inundação rasa ou
do encharcamento permanente ou periódico, ou no caso de áreas sujeitas
aos pulsos de inundação, pelo limite da influência das inundações
médias máximas, incluindo-se aí, se existentes, áreas
permanentemente secas em seu interior, habitats vitais para a
manutenção da integridade funcional e da biodiversidade das mesmas. Os
limites externos são indicados pelo solo hidromórfico, e/ou pela presença
permanente ou periódica de hidrófitas e/ou de espécies lenhosas adaptadas
a solos periodicamente encharcados”.

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Diferenciação entre ecossistemas terrestres, aquáticos e áreas úmidas em relação ao nível


de água. Fonte: Nunes da Cunha e Junk (2017)

Importante ressaltar que o movimento, distribuição e qualidade da água são os


principais fatores que influenciam a estrutura e função das zonas úmidas.
As condições da água nas áreas úmidas podem variar enormemente em relação ao
tempo e duração da inundação da água de superfície, bem como aos padrões
sazonais de inundação.
É o equilíbrio entre as entradas e saídas de água, ou o balanço hídrico, bem como a
geomorfologia e os solos que determinam o momento, a duração e os padrões de
inundação em uma área úmida.
Para a maioria das terras úmidas, as fontes de entrada (por exemplo, precipitação,
fluxo de superfície, fluxo de água subterrânea, marés) e saídas (por exemplo,
evapotranspiração, fluxo de superfície, fluxo de água subterrânea, marés) mudam
com o tempo. Como tal, a hidrologia raramente é estável, mas flutua ao longo do
tempo, resultando em hidroperíodos pulsantes.

Caráter Ecológico
A Convenção Ramsar (2010: n.p.) define caráter ecológico como “a combinação
dos componentes do ecossistema, processos e benefícios/serviços que caracterizam
a zona úmida em um dado ponto no tempo”.
Nesse sentido, os autores Dugan e Jones (1993) entendem ser o caráter ecológico a
soma das funções, produtos e atributos que dão valor à Área Úmida, que, por sua
vez, é o produto dos componentes biológicos e físicos do ecossistema.

Uso Sábio, Uso Racional ou Uso Inteligente


Na Conferência das Partes Contratantes — COP9 (Ramsar 2005), os termos “uso
sábio”, “uso racional” e “uso inteligente”, aceitos pelas Partes Contratantes, foram
apresentados na Resolução IX.1, Anexo A como:

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“O uso inteligente de zonas úmidas é a manutenção de seu caráter


ecológico, alcançado através da implementação de abordagens
ecossistêmicas, dentro do contexto de desenvolvimento sustentável”.

Ecossistemas: se constituem em um complexo de comunidades vivas (incluindo


comunidades humanas) e não vivas (componentes do ecossistema), interagindo por
meio de processos ecológicos.
Sob esse marco conceitual, deverão ser desenvolvidas estratégias para o uso
inteligente das áreas úmidas, isto é, na abordagem ecossistêmica.
A redefinição do conceito de uso sábio, racional ou inteligente, no que se refere à
sustentabilidade, tem por objetivo, destacar a capacidade do ecossistema continuar
fornecendo os serviços dos quais outros ecossistemas e pessoas precisam (Ramsar
1993a).

Grandes áreas úmidas


Para compreender a complexidade de grandes áreas úmidas, os cientistas costumam
dividi-las em unidades menores. Só assim podem planejar os estudos científicos
comparativos, as formas de uso sustentável e o nível de proteção para cada uma
delas.

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Macrohabitats
“Unidades de paisagem sujeitas a condições hidrológicas similares e cobertas com
uma específica vegetação superior característica, ou, na sua ausência, sujeitas a
um meio ambiente similar, terrestre ou aquático” (Junk et al. 2015: 684).

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O macrohabitat é a unidade que reage de maneira mais sensível às mudanças nas


condições ambientais e serve da melhor maneira para:
• Estudos científicos comparativos;
• Análise de impactos ambientais;
• Identificação de serviços ecossistêmicos;
• Desenvolvimento de abordagens legais para o manejo e para a proteção das áreas
úmidas, e
• Identificação e descrição das características ecológicas de Sítios Ramsar.

Na realidade, todas as grandes AUs em nível mundial representam unidades


paisagísticas, compostas por subunidades ecológicas diferentes, que interagem
entre elas, como é o caso do Pantanal, em cuja área de 140.000 km2 coexistem 74
tipos de macrohabitats.

Exemplo do Pantanal (Unidade Funcional - Subclasse - Macrohabitat)

Unidade Funcional: Áreas pantanosas (permanentemente inundadas ou


encharcadas)
Subclasse: Pântanos de plantas herbáceas (brejos)
Macrohabitats:
• Pântanos dominados por Cyperus gigantheus (Pirizal);
• Pântanos dominados por Thalia geniculata (Caitezal);
• Pântanos dominados por Canna glauca (Caitezal);
• Pântanos poliespecíficos;
• Pântanos flutuantes (batumes).

Unidade Funcional: Áreas Periodicamente terrestres (ATTZ)


Subclasse: Áreas cobertas com plantas herbáceas (campo limpo natural)
Macrohabitats
• Pouco inundado (campo de caronal, dominado por Elyonurus muticus);
• Inundado por cerca de 3 meses (campo de rabo de burro Axonopus leptostachyus,
campo de capim vermelho Andropogon hypogynus);
• Inundado por cerca de 6 meses (campo de mimoso Axonopus purpusii e outros);
• Comunidades herbáceas inundadas por cerca de 6 meses em áreas de
sedimentação ao longo do rio.

Unidade Funcional: Periodicamente terrestres (ATTZ)


Subclasse: Áreas com predominância de plantas herbáceas, arbustos e árvores
agrupadas
Macrohabitats
• Inundadas por algumas semanas (campos de murunduns);
• Inundadas ate 3 meses (Campo sujo de canjiqueira Byrsonima orbygniana e de
lixeira Curatella americana);
• Inundadas até 6 meses (Campo sujo de pombeiro Combretum laxum, C.
lanceolatum).

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Através do macrohabitat podemos:


• Promover a avaliação dos serviços ecossistêmicos – a redefinição do caráter
ecológico inclui agora a ideia de serviços ecossistêmicos.
• Identificar indicadores de mudanças das características ecológicas – a detecção
de alterações inaceitáveis é um julgamento difícil, que depende de uma
compreensão dos componentes do ecossistema da zona úmida, processos e
serviços, inundação (Junk et al. 2006).

1.2 – Funções de áreas úmidas. Ameaças

Categorias e funções de áreas úmidas


A Convenção de Ramsar apresentou 30 categorias de áreas úmidas naturais e nove
construídas, as quais são agrupados em 7 unidades de paisagens para fins de
conservação: estuários, áreas costeiras, florestas alagadas, lagos, turfeiras, brejos e
planícies de inundação (IUCN, 1990).
Entre as funções das áreas úmidas destacam-se a recarga de água subterrânea,
descarga de água subterrânea, controle de enchentes, controle de erosão, retenção
de sedimentos, retenção de nutrientes, produção de biomassa, proteção a
tempestades, estabilização do microclima, transporte da água, turismo e recreação.

Classificação das funções ambientais – Serviços ecossistêmicos


BRAAT et al (1979) e DE GROOT (1992), considerando os serviços
ecossistêmicos que essas áreas prestam, classificam suas funções ambientais em:
funções de regulação, suporte, produção e informação.
Funções de regulação: relacionadas a capacidade dos ecossistemas naturais ou
seminaturais em regular os processos ecológicos essenciais e os sistemas de suporte
de vida, contribuindo para a manutenção da saúde ambiental pelo fornecimento de
ar, água, solos não poluídos, etc.
Funções de suporte: ecossistemas naturais ou seminaturais fornecem espaço e
substrato adequados para muitas atividades humanas, tais como: habitação, cultivo,
recreação, etc.
Funções de produção: capacidade do ambiente fornecer recursos, desde alimentos
e matéria prima para o uso industrial, até recursos energéticos e material genético.
Funções de informação: capacidade do ambiente de contribuir para a manutenção
da saúde mental, pelo fornecimento de oportunidade para reflexão, enriquecimento
espiritual, desenvolvimento cognitivo, educação estética, etc.

Funções de regulação: refletem a capacidade que os ecossistemas tem de regular


processos ecológicos essenciais, contribuindo para a qualidade do ambiente.
ü Regulação contra influências cósmicas negativas do tipo radiações
eletromagnéticas e partículas sólidas;
ü Regulação do balanço local e global de energia;
ü Regulação da composição química da atmosfera;

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ü Regulação da composição química dos oceanos;


ü Regulação do clima local e regional incluindo o ciclo hidrológico;
ü Regulação do escoamento superficial;
ü Recarregamento de aquíferos e Conservação de nascentes;
ü Prevenção da erosão;
ü Formação do solo e manutenção da fertilidade;
ü Produção de biomassa;
ü Estoque e ciclagem de matéria orgânica;
ü Estoque e ciclagem de nutrientes inorgânicos;
ü Estoque e reciclagem de efluentes industriais e domésticos;
ü Regulação do controle das populações;
ü Manutenção da migração e de habitats reprodutivos;
ü Manutenção da biodiversidade.

Mesma forma como as paisagens terrestres estão se fragmentando, o mesmo


acontece com as conexões hidrológicas entre os elementos da paisagem. Dois
conceitos podem ser utilizados no manejo sustentável de bacias hidrográficas e dos
corredores de biodiversidade.
Conectividade hidrológica: transferência de energia, matéria e organismos
mediada pela água dentro e entre os elementos no ciclo hidrológico.
Conectividade ribeirinha: transferência de energia através da paisagem ribeirinha;
os rios podem ser definidos como rotas interativas ao longo de três dimensões:
Conectividade – Dimensão longitudinal – cabeceira Þ foz;
Conectividade – Dimensão lateral – rio Þ planície alagada;
Conectividade – dimensão vertical - águas superficiais Þ águas subterrâneas;
Estas três dimensões associadas ao clima formam a conectividade hidrológica.

Funções de suporte: capacidade de prover espaço e substrato adequado para


atividades humanas como: habitação, cultivos (agricultura, pecuária, aquicultura,
etc.), conversão de energia, recreação e turismo, proteção da natureza.

Funções de produção: capacidade de prover recursos que variam desde alimentos


e matéria bruta para o uso industrial até diferentes fontes de energia e recursos
genéticos, como:
ü oferta de oxigênio;
ü oferta de água para o uso diversos;
ü oferta de alimentos (fruta silvestre peixes);
ü recursos genéticos;
ü recursos medicinais;
ü matéria bruta para vestimentas e construção de casas;
ü matéria bruta para construção e o uso industrial;
ü recursos bioquímicos não relacionadas aos usos medicinais e energéticos;
ü oferta de energia;
ü fertilizantes e alimentos para animais;
ü recursos ornamentais.

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Funções de Informações
Capacidade de contribuir para a manutenção da saúde mental proporcionando
oportunidades para:
ü beleza cênica (características estéticas);
ü enriquecimento espiritual;
ü obtenção de informações históricas;
ü desenvolvimento de características e inspiração artística;
ü obtenção de informações científicas e culturais.

Ameaças
Estão relacionadas aos potenciais de diminuição e/ou perdas de bens, funções e
serviços, representados na capacidade desses ecossistemas de regular, prover,
produzir e informar.
Ameaça Global: Simulações de mudanças na precipitação, nos períodos 1980-
1999 e 2080-2099, para regiões que incluem áreas úmidas, como o Pantanal,
indicaram redução de 5% na precipitação para o fim deste século (Christensen et
al., 2007).

Ameaça nacional e regional:


2012 - variação na precipitação média diária na Bacia Amazônica, com tendência a
estações secas longas e pronunciadas no sul desse bioma, que inclui a região do
Cerrado na área de captação das águas do Pantanal, Guaporé, Tapajós (Davidson,
2010).

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2015 - as áreas do sul da Amazônia e norte do Pantanal têm apresentado tendência


de redução no período das chuvas, com deslocamento temporal “início tardio e
término prematuro”. (Debortoli et al, 2015)

Causas e consequências de mudanças climáticas percebidas por povos


tradicionais do Pantanal
As alterações no pulso de inundação são percebidas pelos ribeirinhos e povos
tradicionais no Pantanal, que identificam entre as consequências a redução na pesca,
no número de aves, além de impactos na agricultura de subsistência e na economia
local.

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PARA SABER MAIS


Nunes da Cunha, C.; Arruda, E.C.; Junk, W.J. (Orgs.). Marcos Referenciais para a Lei
Federal do Pantanal e gestão de outras áreas úmidas. Cuiabá–MT: EdUFMT, Carlini &
Caniato, p. 81-97, 2017.
Nunes da Cunha, C.; Piedade, M.T.F.; Junk, W.J. (Orgs.). Classificação e Delineamento
das Áreas Úmidas Brasileiras e de Seus Macrohabitats. Cuiabá: EdUFMT. p. 77-122,
2014.
IRIGARAY, Carlos T. J. H., CUNHA, Cátia N. da; JUNK, JUNK, Wolfgang J, Pantanal
à margem da lei. Panorama das ameaças e perspectivas para a conservação. MUPAN.
Programa Corredor Azul. Wetlands International Brasil. Campo Grande, Brasil, 2020.

1.3 - Impacto das mudanças climáticas sobre as áreas úmidas. relação com
desmatamento e queimadas

Porque que “áreas úmidas” pegam fogo?


Ou de outra forma: Como podem ficar tão secas que pegam
fogo?
O que as mudanças climáticas têm a ver com isso?

Mudança Climática
Para a Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, se refere a uma
variação que pode ser atribuída direta o indiretamente a atividade humana e que
altera a composição da atmosfera global, sendo adicional à variabilidade climática
natural observada ao longo de períodos comparáveis de tempo.

Conexão entre o Aquecimento Global


e o Ciclo Hidrológico
Aquecimento

Temperatura Evaporacão

Capacidade Umidade
Saturated Vapor Pressure

de Retenção Atmosférica
de Agua

Efeito Intensidade
Estufa da Chuva
t t+20
Temperature oF
Secas Inundacão
Seca Inundação
Cortesia: S. Sarooshian, U. California-Irvine
Created by: Gi-Hyeon Park

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Os relatórios do IPCC têm reiterado que o aquecimento global é inequívoco e há


grande confiança de que esteja relacionado a causas humanas, principalmente a
emissão de gases de efeito estufa (GEE), sobretudo o CO2, na atmosfera.

O gráfico abaixo evidencia o aumento da temperatura no mar num período de trinta


anos, sendo perceptível o efeito das mudanças climáticas em todo o planeta.

MUDANÇAS CLIMÁTICAS: UM FATO

Alterações na temperatura do mar – 1961/1990

Alguns fatores repercutem diretamente no pulso de inundação necessário à


manutenção de grande parte das áreas úmidas existente, incluindo o Pantanal.

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Entrada de água
Erosão/assoreamento,
superficial
barragem, drenagem,
diques, estradas e
outros: uso da terra

Saída de água superficial

Fatores
Evapotranspiração: Aumenta quando aumenta a temperatura - diretamente ligada
ás mudanças climáticas.
Chuvas: Parcialmente ligada ao uso da terra - a diminuição da vegetação terrestre
diminui o vapor atmosférico que poderá se transformar em chuva. Além disso, o
aumento da temperatura influencia a quantidade e distribuição dela.
De onde vem a chuva: por que estaria diminuindo?
À medida que o desmatamento cumulativo aumenta, a umidade da floresta diminui.

De 2002 à 2020 houve desmatamento 26,2 Mha de floresta primária


úmida, uma perda de 7,7% desta floresta. Representa ~46% do
desmatamento no Brasil neste período.

Dados do desmatamento no Brasil

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E a Amazônia produz menos umidade para exportar para o sul


Seca Transição Chuvosa

A umidade específica mudou na alta atmosfera entre 1980-1999 e 2000-2019.


Mudança relativa de umidade específica

O desmatamento na Amazônia e os rios voadores

• O desmatamento da floresta tropical pluvial na América do Sul impacta as


áreas úmidas no continente.
• A queima de áreas úmidas contribui para emissão de CO2 na atmosfera.
• Isso se junta ao CO2 emitido pela perda de florestas.

A considerar
ü Comparado a outras fontes poluentes, atualmente o desmatamento não
constitui uma grande fonte global de CO2. Isso não quer dizer que poderia
aumentar sem consequências já que estoque de C nas florestas globais é de 861
bilhões de toneladas. Em 2021 as emissões de combustíveis fósseis foram de
~35 bilhões de toneladas. Ou seja, o estoque de C nas florestas do mundo
representa ao redor de ~25 anos de emissão de combustíveis fósseis (em 2021).
Para reduzir as emissões atuais de CO2 deve-se diminuir as emissões por outras
fontes.
ü A redução dramática do desmatamento (10% ao ano) não diminuiria muito as
emissões de CO2. No entanto deverá diminuir o impacto sobre a produção de
umidade pela floresta e manutenção do regime de chuva na América do Sul.
ü O reflorestamento (reflorestando todas as áreas disponíveis atualmente para
reflorestamento) em combinação com a redução do desmatamento reduz um
pouco mais as emissões de CO2. No entanto deverá diminuir o impacto sobre
a produção de umidade pela floresta e manter ou recuperar o regime de chuvas
na América do Sul.
ü A gradual redução da utilização de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e
gás) com sua total abolição até 2032, reduziria dramaticamente as emissões de
CO2, possibilitando que até 2100, o aumento na temperatura média da Terra
fique no limite de 1,5ºC. Nota-se que isso implica uma produção menor de
energia e consequentemente um aumento da eficiência energética. Também

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pode-se pensar que num mundo assim, o efeito da temperatura sobre as áreas
úmidas será menos pronunciado.
ü Para chegar no objetivo de 1,5ºC, além de banir os combustíveis fósseis, seria
necessário aumentar consideravelmente a eficiência energética e eletrificação,
diminuindo-se o desmatamento e aumentando-se o reflorestamento. Num
mundo assim, além de temperaturas mais baixas, haveria manutenção da
produção de chuvas pela floresta amazônica. Consequentemente, manutenção
das funções das áreas úmidas.

ü No Brasil o desmatamento constitui quase 50% das emissões de


CO2;
ü Em nível global, o desmatamento representa ao redor de 7% das
emissões de CO2 (2020);
ü No entanto, o impacto do desmatamento sobre o clima não se dá
somente pela emissão de CO2: nas florestas tropicais ele reduz a
produção de umidade e a chuva. No Brasil, isso tem efeito sobre
quantidade e distribuição de chuva que cai ao sul da Amazônia.
ü A redução de chuva + o aumento da temperatura + alterações do
uso da terra impactam negativamente as áreas úmidas, agravando
o risco de incêndios.

Estima-se que o desmatamento é responsável por 25% do CO2 emitido hoje, seja
por emissão direta ou por redução do sequestro de carbono. O desmatamento
também pode causar aquecimento local, afetando o equilíbrio hídrico e de radiação.
Nesse sentido, as fragilidades institucionais repercutem diretamente sobre a
conservação das áreas úmidas.
A reduzida aplicação do Código Florestal Brasileiro levou e ainda está levando ao
desmatamento de biomas como a Amazônia, o Cerrado e o Pantanal, o que implica
no aumento da emissão regional de GEE e consequentemente do aquecimento
regional.
Isso se deve em grande parte às pressões econômicas e políticas, ou seja, à vontade
de aumentar o superávit comercial e o PIB. Em um contexto de crescente demanda
por alimentos em escala global, essas pressões vão crescer e a aplicação do Código
Florestal provavelmente diminuirá ainda mais, especialmente quando se considera
a deficiência no monitoramento e administração de responsabilidades pelo
Governo.6

Algumas questões para exame:

ü Porque que “áreas úmidas” pegam fogo?

6
IORIS, Antonio; IRIGARAY, Carlos e GIRARD, Pierre. Institutional responses to climate
change: opportunities and barriers for adaptation in the Pantanal and the Upper Paraguay River
Basin. Climatic Change, v. 127, p. 139-151, 2014.

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ü Ou, de outra forma, como podem ficar tão secas a ponto de


pegarem fogo?
ü O que controla a quantidade de água nas áreas úmidas?
ü O que a mudança climática tem a ver com isso?

Afeta decisões
Clima Política/legislação
Considera

moduladores
Fatores
Regime do fogo Uso da terra
(frequência, intensidade) Manejo do fogo

Entender Natural: Humana:

Origem
do fogo
(ex. raio) Planejado ou
acidental/criminal

o fogo ecossistema
afetado

Ecos. dependentes do fogo (EDF) Ecos. Sensíveis ao fogo (ESF)

Fogos naturais em Fogos planejados nos EDF Em ESF, é improvável que Fogos planejados não
EDF manterão prevenirão a acumulação os incêndios naturais se deveriam ocorrer em ESF.
Efeitos

biodiversidade, de biomassa evitando espalhem devido à alta Fogos acidentais/criminais


estrutura da fogos acidentais. Fogos umidade desses em ESF são catastróficos
vegetação e acidentais/criminais em ecossistemas. Isso é resultando em
processos EDF afetarão o regime de amplamente alterado por degradação
ecossistêmicos. fogo causando degradação mudanças climáticas.

O exemplo do Pantanal
Embora as repercussões do Pantanal sobre a regulação do clima regional ainda não
tenham sido totalmente esclarecidas pela ciência, não se pode negar os impactos
nocivos oriundos do desmatamento dessa grande área úmida. Assim, Junk et al.
aludem a diversas contribuições que o Pantanal proporciona à regulação do clima
regional, ao passo que recentes estudos dão conta de que o albedo da planície de
inundação varia de acordo com o regime de cheias e secas. Assim, uma diminuição
no tamanho da inundação alteraria o balanço de radiação, energia e água
modificando a estrutura dinâmica da atmosfera e, consequentemente, a
convergência da umidade nos níveis mais baixos da atmosfera.
Infelizmente, até esta data, os modelos regionais de circulação atmosférica não
avaliam as inundações, pois o Pantanal é representado como uma área de cerrado
(apesar da diversidade de ecossistemas e macrohabitats).
Além desse fator, como será analisado nos módulos seguintes, a legislação
brasileira não se mostra capaz de assegurar a manutenção do pulso de inundação,
ou seja, ainda não há lei federal que estabeleça os princípios de gestão e proteção
desse Patrimônio Nacional que garantam o pulso de inundação. Da mesma forma,
as normas estaduais (Mato Grosso e Mato Grosso do Sul) não consideram
efetivamente as relações entre a planície de inundação do Pantanal e os planaltos
circunvizinhos onde o pulso de inundação é gerado. Por fim, as políticas hídricas
nacionais e estaduais, caracterizadas por uma estrutura e capacidades
institucionais/operacionais limitadas, não preveem sequer uma avaliação

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cumulativa das barragens que estão sendo e serão construídas na Bacia do Alto
Paraguai sobre o pulso de inundação no Pantanal.

O que estamos perdendo quando as áreas úmidas diminuem?


Provisão: Pesca; Pecuária; Produção de madeira; Produção direta de alimentos;
Armazenamento de água, etc.;
Regulação: Melhoria da qualidade da água; Mitigação de enchentes em rios; Habitat
para espécies raras e ameaçadas;
Culturais: (Eco)Turismo (relaxamento humano; observação de aves; pesca);
Educação ecológica; Sustentação das culturas humana
Sequestro líquido de carbono.

Como há poucas terras protegidas no Cerrado e no Pantanal, cabe perguntar até que
ponto as paisagens naturais remanescentes continuarão a oferecer outros serviços
ecossistêmicos valiosos, como fluxo de água e regulação da qualidade e
preservação de habitats e biodiversidade.

Se, por um lado, o status atual da legislação que deve assegurar


a conservação do Pantanal não favorece a mitigação das
mudanças climáticas, por outro, é provável que facilitem a
adaptação aos impactos das mudanças climáticas?

O clima atual da Bacia do Alto Paraguai é caracterizado por uma marcada


sazonalidade. Durante a estação seca, de maio a outubro, não são incomuns
períodos de seca de mais de cem dias sem chuva. A maior parte da chuva ocorre
durante janeiro, fevereiro e março e chuvas fortes são frequentes. A precipitação
total sobre a Bacia varia de cerca de 900 a 1700 mm. Ao longo do próximo século,
é provável que a temperatura suba de 3 a 4º C. Os resultados dos modelos de chuva
não convergem: variam de -15 a +15% em relação ao presente. Mesmo que a
precipitação não mude no futuro, é provável que a estação seca seja mais longa e
que a mesma quantidade de chuva caia em um intervalo de tempo menor.

No geral, hoje em dia o Pantanal Norte tem 13% a mais de dias


sem chuva do que nos anos 60, e a massa de água é 16% menor
durante a estação da seca, considerando os últimos 10 anos.

Nesse cenário climático pode-se esperar ainda mais evapotranspiração da paisagem


e chuvas mais intensas, seguidas de secas prolongadas, agravando o risco de
incêndios florestais, como os que ocorreram no Pantanal no ano de 2021.

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INCÊNDIOS NO PANTANAL – 2021


No ano de 2021 os incêndios no bioma Pantanal consumiram
3.903.000 ha, sendo que a maior parte das queimadas (2.194.000 ha)
ocorreu no Estado de Mato Grosso, sendo que em Mato Grosso do Sul
foram atingidos pelo fogo 1.709.00 ha.
Os incêndios atingiram diversas áreas protegidas, dentre as quais duas
áreas indígenas:
Þ TI Kadiwéu 262.100 ha
Þ TI Baia dos Guató 5.000 ha
Também foram atingidas algumas unidades de conservação,
notadamente os seguintes Parques Estaduais:
Þ PE do Guirá 58.900 ha
Þ PE do Pantanal do Rio Negro 35.600 ha
Þ PE Encontro das Águas 10.800 ha
* Conforme Nota Técnica 01/2022 LASA-UFRJ – Queimadas
Pantanal - 20217

Sem considerar os impactos nas práticas agrícolas, essa mudança de sazonalidade


provavelmente aumentará ainda mais a erosão nos platôs ao redor do Pantanal e o
assoreamento na várzea. O assoreamento é uma das ameaças mais importantes à
biodiversidade do Pantanal e às funções do ecossistema; além disso, os períodos de
seca prolongados, aumentam o risco de incêndios florestais, agravando ainda mais
esse cenário8.

PARA SABER MAIS

IORIS, Antonio; IRIGARAY, Carlos e GIRARD, Pierre. Institutional responses to climate


change: opportunities and barriers for adaptation in the Pantanal and the Upper Paraguay
River Basin. Climatic Change, v. 127, p. 139-151, 2014.

Referências

EPA 2001; Finlayson et al. 2005; Finlayson 2012; Davidson 2014; Hu et al. 2017;
WWF 2018.

7
LIBONATI, Renata et all. Nota Técnica 01/2022 LASA-UFRJ - Queimadas Pantanal-2021. Rio
de Janeiro: LASA.UFRJ, 2022. Disponível em:
<file:///Users/macbookpro/Downloads/NotaTecnica012022_LASAUFRJ_QueimadasPantanal2021
.pdf > Acesso em: 08 abr. 2022.
8
IORIS, Antonio; IRIGARAY, Carlos e GIRARD, Pierre. Institutional responses to climate
change: opportunities and barriers for adaptation in the Pantanal and the Upper Paraguay River
Basin. Climatic Change, v. 127, p. 139-151, 2014.

Uma iniciativa de Em parceria com Produção


Curso de Aperfeiçoamento
Bases legais para a conservação de áreas úmidas no Brasil

DAVIDSON, N. How much wetland has the world lost? Long-term and recent
trends in global wetland area. CSIRO Publishing, Marine and Freshwater Research,
2014, 65, 934 – 942, September 2014.

IORIS, Antonio; IRIGARAY, Carlos e GIRARD, Pierre. Institutional responses to


climate change: opportunities and barriers for adaptation in the Pantanal and the
Upper Paraguay River Basin. Climatic Change, v. 127, p. 139-151, 2014.

Junk, W.J., Cunha, C.N. 2005. Pantanal: a large South American wetland at a
crossroads. Ecological Engineering 24: 391–401.

LIBONATI, Renata et all. Nota Técnica 01/2022 LASA-UFRJ - Queimadas


Pantanal-2021. Rio de Janeiro: LASA.UFRJ, 2022. Disponível em:
<file:///Users/macbookpro/Downloads/NotaTecnica012022_LASAUFRJ_Queima
dasPantanal2021.pdf > Acesso em: 08 abr. 2022.

Pereira, G., Moraes, E.C., Arai, E., Oliveira, L.G.L. 2007. Preliminary study of the
reflectance and albedo estimated from satellite images of Pantanal microsystems.
Revista Brasileira de Cartografia, 59: 55-61.

R. Costanza et al., Changes in the Global value of ecosystem services, Global


Environmental Change 26 (2014) 152-158.

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