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Módulo I - Bases Conceituais
Módulo I - Bases Conceituais
Conteúdo Programático
MÓDULO I
Bases conceituais e desafios socioambientais à conservação de áreas úmidas
Conteúdo
Neste módulo introdutório iniciamos oferecendo as bases
conceituais para caracterização de áreas úmidas, analisando a
contribuição da Convenção de Ramsar à conservação desses
frágeis ecossistemas, sua delimitação e uso sábio. Também são
apontados os fatores que contribuem para as mudanças climáticas,
incluindo o desmatamento e as queimadas, e de que forma
ameaçam as áreas úmidas, bem como os desafios para o manejo
sustentável desses ecossistemas.
Países participantes:
São países participantes da Convenção, que designam áreas úmidas em seus
respectivos territórios para integrarem a Lista Ramsar de Zonas Úmidas de
Importância Internacional.
Participação do Brasil:
No Brasil a Convenção foi promulgada através do Decreto nº 1.905, de 16 de maio
de 1996, passando a integrar o ordenamento jurídico do país.
Através do Decreto nº 10.141/2019 foi instituído o Comitê Nacional de Zonas
Úmidas, cujo objetivo, em síntese, consiste em propor ao Ministério do Meio
Ambiente diretrizes e ações de execução, relativas à conservação, ao manejo e ao
uso racional dos recursos ambientais, referentes à gestão das áreas incluídas na Lista
de Zonas Úmidas de Importância Internacional e, nas demais zonas úmidas
brasileiras, quando couber, bem como contribuir para elaboração de diretrizes e na
análise do planejamento estratégico que subsidiará a necessária elaboração de um
Plano Nacional de Zonas Úmidas.
1
https://www.ramsar.org
Missão:
Em 2002, durante a COP 8 (Conferência das Partes), realizada em Valência
(Espanha), os países contratantes definiram a Missão da Convenção como:
“A conservação e o uso racional por meio de ação local, regional e nacional
e de cooperação internacional visando alcançar o desenvolvimento
sustentável das zonas úmidas de todo o mundo".
Conceitos estruturadores
A convenção Ramsar postula que, para alcançar um uso sábio e para que as áreas
úmidas contribuam totalmente para o desenvolvimento sustentável, gestores
políticos e profissionais devem reconhecer os vários valores das zonas úmidas e
refleti-los em suas decisões, políticas e atuações.
Todas as ações de aspectos científicos e técnicos da Convenção estão
disponibilizadas em Resoluções, Manuais, entre outros documentos.
Os conceitos estruturadores utilizados pela Convenção de Ramsar foram
introduzidos formalmente há cerca de cinco décadas (1970). Essa estrutura
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EPA 2001; Finlayson et al. 2005; Finlayson 2012; Davidson 2014; Hu et al. 2017; WWF 2018.
3
DAVIDSON, N. How much wetland has the world lost? Long-term and recent trends in global
wetland area. CSIRO Publishing, Marine and Freshwater Research, 2014, 65, 934 – 942, September
2014. Ver também: The 4th Strategic Plan 2016 – 2024 - Adopted by the 12th Meeting of the
Conference of the Parties at Punta del Este, Uruguay, 1-9 June 2015, through Resolution XII.2.
Disponível em: < https://www.ramsar.org/about/the-convention-on-wetlands-and-its-mission >
4
R. Costanza et al., Changes in the Global value of ecosystem services, Global Environmental
Change 26 (2014) 152 - 158
conceitual visa parar e, sempre que possível, inverter a perda e degradação das áreas
úmidas no mundo.
5
In: Classificação e delineamento das áreas úmidas brasileiras e de seus macrohabitats.
< http://www.cppantanal.org.br/2018/index.php/2017-11-25-10-48-10/2018-03-31-15-56-
14/item/254-classificacao-e-delineamento-das-areas-umidas-brasileiras-e-de-seus-macrohabitats >
Delimitação de uma Área Úmida (AU): A delimitação das AUs deve atender à
presença de três componentes:
(1) de água, pelo menos periodicamente;
(2) de espécies de plantas superiores aquáticas, palustres ou lenhosas, adaptadas às
condições hídricas;
(3) de substrato/solo hídrico.
Caráter Ecológico
A Convenção Ramsar (2010: n.p.) define caráter ecológico como “a combinação
dos componentes do ecossistema, processos e benefícios/serviços que caracterizam
a zona úmida em um dado ponto no tempo”.
Nesse sentido, os autores Dugan e Jones (1993) entendem ser o caráter ecológico a
soma das funções, produtos e atributos que dão valor à Área Úmida, que, por sua
vez, é o produto dos componentes biológicos e físicos do ecossistema.
Macrohabitats
“Unidades de paisagem sujeitas a condições hidrológicas similares e cobertas com
uma específica vegetação superior característica, ou, na sua ausência, sujeitas a
um meio ambiente similar, terrestre ou aquático” (Junk et al. 2015: 684).
Funções de Informações
Capacidade de contribuir para a manutenção da saúde mental proporcionando
oportunidades para:
ü beleza cênica (características estéticas);
ü enriquecimento espiritual;
ü obtenção de informações históricas;
ü desenvolvimento de características e inspiração artística;
ü obtenção de informações científicas e culturais.
Ameaças
Estão relacionadas aos potenciais de diminuição e/ou perdas de bens, funções e
serviços, representados na capacidade desses ecossistemas de regular, prover,
produzir e informar.
Ameaça Global: Simulações de mudanças na precipitação, nos períodos 1980-
1999 e 2080-2099, para regiões que incluem áreas úmidas, como o Pantanal,
indicaram redução de 5% na precipitação para o fim deste século (Christensen et
al., 2007).
1.3 - Impacto das mudanças climáticas sobre as áreas úmidas. relação com
desmatamento e queimadas
Mudança Climática
Para a Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, se refere a uma
variação que pode ser atribuída direta o indiretamente a atividade humana e que
altera a composição da atmosfera global, sendo adicional à variabilidade climática
natural observada ao longo de períodos comparáveis de tempo.
Temperatura Evaporacão
Capacidade Umidade
Saturated Vapor Pressure
de Retenção Atmosférica
de Agua
Efeito Intensidade
Estufa da Chuva
t t+20
Temperature oF
Secas Inundacão
Seca Inundação
Cortesia: S. Sarooshian, U. California-Irvine
Created by: Gi-Hyeon Park
Entrada de água
Erosão/assoreamento,
superficial
barragem, drenagem,
diques, estradas e
outros: uso da terra
Fatores
Evapotranspiração: Aumenta quando aumenta a temperatura - diretamente ligada
ás mudanças climáticas.
Chuvas: Parcialmente ligada ao uso da terra - a diminuição da vegetação terrestre
diminui o vapor atmosférico que poderá se transformar em chuva. Além disso, o
aumento da temperatura influencia a quantidade e distribuição dela.
De onde vem a chuva: por que estaria diminuindo?
À medida que o desmatamento cumulativo aumenta, a umidade da floresta diminui.
A considerar
ü Comparado a outras fontes poluentes, atualmente o desmatamento não
constitui uma grande fonte global de CO2. Isso não quer dizer que poderia
aumentar sem consequências já que estoque de C nas florestas globais é de 861
bilhões de toneladas. Em 2021 as emissões de combustíveis fósseis foram de
~35 bilhões de toneladas. Ou seja, o estoque de C nas florestas do mundo
representa ao redor de ~25 anos de emissão de combustíveis fósseis (em 2021).
Para reduzir as emissões atuais de CO2 deve-se diminuir as emissões por outras
fontes.
ü A redução dramática do desmatamento (10% ao ano) não diminuiria muito as
emissões de CO2. No entanto deverá diminuir o impacto sobre a produção de
umidade pela floresta e manutenção do regime de chuva na América do Sul.
ü O reflorestamento (reflorestando todas as áreas disponíveis atualmente para
reflorestamento) em combinação com a redução do desmatamento reduz um
pouco mais as emissões de CO2. No entanto deverá diminuir o impacto sobre
a produção de umidade pela floresta e manter ou recuperar o regime de chuvas
na América do Sul.
ü A gradual redução da utilização de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e
gás) com sua total abolição até 2032, reduziria dramaticamente as emissões de
CO2, possibilitando que até 2100, o aumento na temperatura média da Terra
fique no limite de 1,5ºC. Nota-se que isso implica uma produção menor de
energia e consequentemente um aumento da eficiência energética. Também
pode-se pensar que num mundo assim, o efeito da temperatura sobre as áreas
úmidas será menos pronunciado.
ü Para chegar no objetivo de 1,5ºC, além de banir os combustíveis fósseis, seria
necessário aumentar consideravelmente a eficiência energética e eletrificação,
diminuindo-se o desmatamento e aumentando-se o reflorestamento. Num
mundo assim, além de temperaturas mais baixas, haveria manutenção da
produção de chuvas pela floresta amazônica. Consequentemente, manutenção
das funções das áreas úmidas.
Estima-se que o desmatamento é responsável por 25% do CO2 emitido hoje, seja
por emissão direta ou por redução do sequestro de carbono. O desmatamento
também pode causar aquecimento local, afetando o equilíbrio hídrico e de radiação.
Nesse sentido, as fragilidades institucionais repercutem diretamente sobre a
conservação das áreas úmidas.
A reduzida aplicação do Código Florestal Brasileiro levou e ainda está levando ao
desmatamento de biomas como a Amazônia, o Cerrado e o Pantanal, o que implica
no aumento da emissão regional de GEE e consequentemente do aquecimento
regional.
Isso se deve em grande parte às pressões econômicas e políticas, ou seja, à vontade
de aumentar o superávit comercial e o PIB. Em um contexto de crescente demanda
por alimentos em escala global, essas pressões vão crescer e a aplicação do Código
Florestal provavelmente diminuirá ainda mais, especialmente quando se considera
a deficiência no monitoramento e administração de responsabilidades pelo
Governo.6
6
IORIS, Antonio; IRIGARAY, Carlos e GIRARD, Pierre. Institutional responses to climate
change: opportunities and barriers for adaptation in the Pantanal and the Upper Paraguay River
Basin. Climatic Change, v. 127, p. 139-151, 2014.
Afeta decisões
Clima Política/legislação
Considera
moduladores
Fatores
Regime do fogo Uso da terra
(frequência, intensidade) Manejo do fogo
Origem
do fogo
(ex. raio) Planejado ou
acidental/criminal
o fogo ecossistema
afetado
Fogos naturais em Fogos planejados nos EDF Em ESF, é improvável que Fogos planejados não
EDF manterão prevenirão a acumulação os incêndios naturais se deveriam ocorrer em ESF.
Efeitos
O exemplo do Pantanal
Embora as repercussões do Pantanal sobre a regulação do clima regional ainda não
tenham sido totalmente esclarecidas pela ciência, não se pode negar os impactos
nocivos oriundos do desmatamento dessa grande área úmida. Assim, Junk et al.
aludem a diversas contribuições que o Pantanal proporciona à regulação do clima
regional, ao passo que recentes estudos dão conta de que o albedo da planície de
inundação varia de acordo com o regime de cheias e secas. Assim, uma diminuição
no tamanho da inundação alteraria o balanço de radiação, energia e água
modificando a estrutura dinâmica da atmosfera e, consequentemente, a
convergência da umidade nos níveis mais baixos da atmosfera.
Infelizmente, até esta data, os modelos regionais de circulação atmosférica não
avaliam as inundações, pois o Pantanal é representado como uma área de cerrado
(apesar da diversidade de ecossistemas e macrohabitats).
Além desse fator, como será analisado nos módulos seguintes, a legislação
brasileira não se mostra capaz de assegurar a manutenção do pulso de inundação,
ou seja, ainda não há lei federal que estabeleça os princípios de gestão e proteção
desse Patrimônio Nacional que garantam o pulso de inundação. Da mesma forma,
as normas estaduais (Mato Grosso e Mato Grosso do Sul) não consideram
efetivamente as relações entre a planície de inundação do Pantanal e os planaltos
circunvizinhos onde o pulso de inundação é gerado. Por fim, as políticas hídricas
nacionais e estaduais, caracterizadas por uma estrutura e capacidades
institucionais/operacionais limitadas, não preveem sequer uma avaliação
cumulativa das barragens que estão sendo e serão construídas na Bacia do Alto
Paraguai sobre o pulso de inundação no Pantanal.
Como há poucas terras protegidas no Cerrado e no Pantanal, cabe perguntar até que
ponto as paisagens naturais remanescentes continuarão a oferecer outros serviços
ecossistêmicos valiosos, como fluxo de água e regulação da qualidade e
preservação de habitats e biodiversidade.
Referências
EPA 2001; Finlayson et al. 2005; Finlayson 2012; Davidson 2014; Hu et al. 2017;
WWF 2018.
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LIBONATI, Renata et all. Nota Técnica 01/2022 LASA-UFRJ - Queimadas Pantanal-2021. Rio
de Janeiro: LASA.UFRJ, 2022. Disponível em:
<file:///Users/macbookpro/Downloads/NotaTecnica012022_LASAUFRJ_QueimadasPantanal2021
.pdf > Acesso em: 08 abr. 2022.
8
IORIS, Antonio; IRIGARAY, Carlos e GIRARD, Pierre. Institutional responses to climate
change: opportunities and barriers for adaptation in the Pantanal and the Upper Paraguay River
Basin. Climatic Change, v. 127, p. 139-151, 2014.
DAVIDSON, N. How much wetland has the world lost? Long-term and recent
trends in global wetland area. CSIRO Publishing, Marine and Freshwater Research,
2014, 65, 934 – 942, September 2014.
Junk, W.J., Cunha, C.N. 2005. Pantanal: a large South American wetland at a
crossroads. Ecological Engineering 24: 391–401.
Pereira, G., Moraes, E.C., Arai, E., Oliveira, L.G.L. 2007. Preliminary study of the
reflectance and albedo estimated from satellite images of Pantanal microsystems.
Revista Brasileira de Cartografia, 59: 55-61.