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COELHO, Luiz Antonio L (org.) Conceitos-chave em Design. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio. Novas Ideias, 2008.

CULTURA p. 60-62
Fr. Culture
Ing. Culture

Família morfológica: cultura da criação; cultura da educação; cultura de massa; cultura global;
cultura material; cultura regional.
Família semântica: arte; arte-concepção; arte e forma no design; beleza; estética; estilo;
expressão; objetividade; subjetividade.

Do latim colere, cultivo; originalmente agricultura, cultivo do solo. No sentido mais geral,
cultura possui dois significados: o primeiro relacionado à educação, formação, ilustração do
homem; o segundo, de cunho sociológico e antropológico, vinculado às manifestações de um
povo, raça, grupo social, também interpretadas como civilização. Até o Renascimento a
formação cultural estava intimamente ligada à filosofia, à religião; enfim, ao cultivo do espírito
e da alma. A atividade prática não se incluía, por ser considerada inferior, servil. A partir do
Renascimento o trabalho passou a ser valorizado como meio para a transformação do mundo;
embora a formação cultural mantivesse seu caráter aristocrático. A difusão e a universalização
da cultura tiveram início com o Iluminismo, principalmente a partir da Enciclopédia francesa.
Finalmente, com o desenvolvimento científico e a industrialização da produção, a formação
cultural cedeu espaço às competências específicas para a realização de tarefas pontuais.

A compreensão da cultura como manifestação da atividade social é derivada da Teoria Crítica,


que engloba toda a produção humana, seja ela científica, artística, política ou de qualquer outra
natureza, como parte do processo de aperfeiçoamento da práxis social, ou seja, a civilização
entendida enquanto correspondência às necessidades fundamentais da sociedade. A
civilização, sujeita ao processo dialético, se desenvolve em ciclos que compreendem
nascimento, crescimento e morte ou decadência: cultura greco-romana, cultura oriental etc.

A relação entre Design, Cultura e Sociedade pode ser observada a partir da própria experiência
empírica. Primeiro, porque Design é uma atividade que configura objetos de uso e sistemas de
informação e, como tal, incorpora parte dos valores culturais que a cerca, ou seja, a maioria dos
objetos de nosso meio é, antes de tudo, a materialização dos ideias e das incoerências de
nossas sociedades e de suas manifestações culturais, assim como, por outro lado, anúncio de
novos caminhos. Segundo, porque o Design, entendido como matéria (ou energia) conformada,
participa da criação cultural, ou seja, o Design é uma práxis que confirma ou questiona a cultura
de uma determinada sociedade, o que caracteriza um processo dialético entre mímese e poese.
Em outras palavras, o Design tem assim natureza essencialmente especular, quer como
anúncio, que como denúncia.

A cultura de uma sociedade é formada pela produção de seus bens e valores, que através das
coordenadas de tempo e espaço caracterizam as identidades de seus membros. A atividade
artística, por excelência uma das manifestações culturais mais expressivas de uma sociedade,
oferece exemplos dos diferentes modos de percepção e apropriação da realidade. Basta, para
tanto, pensar nas incontáveis formas de representação do próprio homem, das inscrições
rupestres às atuais expressões virtuais. E é através dessas representações e dos demais objetos
e procedimentos de uma comunidade que antropólogos, historiadores da arte, sociólogos e
outros estudiosos encontram vestígios que permitem caracterizar determinada cultura. A
cultura é a expressão do ser, que se manifesta em todas as suas obras e atividades, é a
condição poética do espírito no ato de conformar a matéria. Design, portanto, não é uma
atividade protagonista da configuração em um complexo pano de fundo composto por variáveis
de natureza política, econômica, social, tecnológica etc., mas, antes, uma das possíveis
interpretações das diversas possibilidades oferecidas por estas variáveis. Design é mais do que
a especificação das partes de um todo como na tradição cartesiana. Não é uma regra universal
de configuração, mas uma ação interpretativa, criadora, que permite diversas formas de
expressão.

A figura dos objetos de nosso cotidiano é resultante direta ou indiretamente do contexto


cultural que nos cerca, e esse contexto é cada vez mais complexo e multifacetado. O designer é
um dos intermediários entre as dimensões de tempo e espaço e os diferentes protagonistas
que atuam neste campo. Nesse sentido, a tarefa do designer se realizará através da
configuração de formas poéticas do vir-a-ser. E para que isso ocorra é necessário mais do que o
conhecimento em áreas específicas do saber. É preciso o convívio e a compreensão da trama
cultural, o lócus em que o sujeito se identifica em seu estar no mundo.

Alberto Cipiniuk, Denise Portinari e Gustavo Bomfim


(A autoria deste verbete é de Alberto Cipiniuk e de Denise B. Portinari, a partir de anotações e
conversas com Gustavo Amarante Bomfim, falecido antes do fechamento deste livro.)

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