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Dados Internacionais de Catalogagao na Publicagio (CIP) (CAmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Savini, Dermeval Historia das idéias pedagégica no Brasil / Dermeval Saviani, - 2. ed. rev. e ampl. ~ Campinas, SP: Autores Associados, 2008, = (Colegio memoria da educagio) Bibliografia. ISBN 978-85-7496-200-9 1, Bducagio~ Brasil - Historia 2, Helueaglio— Historia 8. Pedagogia Histéria I. Titulo, II, Série. 07-6929 CDD ~ 370.981 fndices para catélogo sistemético: 1. Brasil: Idéias pedagégicas: Educacao: Histéria 370.981 1° Edigao ~ setembro de 2007 Impresso no Brasil ~ setembro de 2008 Copyright © 2008 by Editora Autores Associados LTDA. ee Depésito legal na Biblioteca Nacional conforme Lei n. 10.994, de 14 de dezembro de 2004, que’ revogou o Deereto-lei n. 1.825, de 20 de dezembro de 1907. Nenhuma parte da publicagao podera ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer meio, seja eletrénico, mecdnico, de fotocépia, de gravagio, ou outros, sem prévia autorizagao por escrito a Editora. O Cédigo Penal brasileiro determina, no artigo 184: “Dos crimes contra a propriedade intelectual Violagao de direito autoral Art, 184, Violar direito autora Pena ~ detengiio de trés meses a um ano, ou multa, 1" Se violagio consistir na reprodugio, por qualquer meio, de obra intelectual, no todo ou em parte, para fins de eomércio, sem autorizagio expressa do autor ou de quem o represente, ou consistir na reprodugio de fonograma e videograma, sem autorizagio do Produtor ou de quem o represente: Pena — reclusio de um a quatro anos e multa” Digitalizado com CamScanner Capitulo I Colonizacéo e educagao Brasil entra para a historia da chama- da “civilizagao ocidental e crista” em 1500, com a chegada dos portugueses. As tentativas de colonizacdo do novo territério nas primeiras décadas do século XVI sofreram diversos revezes. Convenceu-se, entdo, 0 rei de Portugal, Dom Joao III, da necessidade de envolver a Monarquia na ocu- pacéo da nova terra, Instituiu, pois, um governo geral no Brasil, nomeando para essa funcao Tomé de Sousa O primeiro governador geral do Brasil chegou em 1549 trazendo consigo os primeiros jesuitas, cujo grupo era constituido por quatro padres ¢ dois irmios chefia- dos por Manuel da Nobrega. Eles vieram com a mi conferida pelo rei de converter os gentios: “Porque a principal coisa que me moveu a mandar povoar as ditas io terras do Brasil foi para que a gente delas se convertesse a nossa santa fé catdlica” de modo que os gentios “pos- s de nossa santa sam ser doutrinados e ensinados nas co fé” (Dom Joao III, 1992, pp. 145 € 148). Digitalizado com CamScanner tic DERMEVAL saiqay 26 Para atender a esse mandato, os jesuitas criaram escolas e instituftam léaioeeseminatios que foram espalhanclo-se pelas diversas regides do ters colégios e seminarios : ‘ Por essa razio considerase que a histéria da educagio brasileira se tério. Por essa ra inicia em 1549 com a chegada desse primeiro grupo de jesuitas | insercio do Brasil no chamado mundo ocidental deuse, assim, por mneio de um processo envolvendo trés aspectos intimamente articulados en- a colonizagao, a educagao e a catequese. tre invém, preliminarmente, caracterizar, ainda que a largos tragos, esse pro- cesso. Eo farei em dois planos. No primeiro plano me colocarei no ambito da linguagem. No segundo procurarei entender a sua manifestacdo especifica nas condicdes de espago e tempo tomadas como objeto de anilise: 1. A UNIDADE DO PROCESO NO PLANO DA LINGUAGEM: A RAIZ ETIMOLOGICA COMUM A COLONIZAGAO, EDUCAGAO E CATEQUESE A palavra “colonizagao” deriva diretamente do verbo latino colo. Os dicionérios registram os seguintes significados para o verbo colo, colui, cultum, colere: L.cultivar; 2. morar; 3. cuidar de; 4. querer bem a, proteger; 5. reali- vHA, 1945, p. 163). Os dois primeiros significados deram origem a palavra “colonii zar; 6. honrar, venerar (Torr! \sa0”. “Colo significou, na lingua de Roma, eu moro, ew ocupo ai terra, e, por exten sao, eu trabalho, eu cultivo 0 campo. Um herdeiro antigo de colo & incola, 0 habitante; outro € inquilinus, aquele que reside em terra alheia” (Bosi, 1992, P. 11). Alfredo Bosi esclarece-nos, ainda, citando o Diciondrio etimoligico da lingua latina, ce Augusto Magne: “Colonus & o que cultiva uma propriedade rural em vez do seu dono; o seu feitor no sentido técnico e legal da palavta- E conclui: “Nao por acaso, sempre que se quer classificar os tipos de colon aco, distinguem-se dois processos: o que se atém ao simples povoament® € © que conduz a exploragio do solo. Colo esta em ambos: eu moro; eu cutive (Bost, 1992, pp, 11-12), “Colonia” significa, pois, espago que se ocupa mas também terra ou Pov? que se pode trabalhar ou sujeitar ee S Signifcaigualmente tomar conta de; cuit eae 5 Proteger. E do supino cultum deriva o participio futuro ewe Digitalizado com CamScanner HISTORIA DAS IDEIAS PEDAGOGICAS NO BRASIL 10 de formacao humana, acepcao em que e: bulo grego paideia. aqui o significado de educacio, tanto em termos amplos, ¢ termo latino tra- com cultura enquanto “conjunto das praticas, das téni- € dos valores que se devem transmitir as novas geragdes oducao de um estado de coexisténcia social” (Bost, 1992, especificos, enquanto tomar conta das cri ensinarlhes comportamentos, conhecimentos ¢ 10 um proceso por meio do qual a humani- (0 seus mais variados aspectos, Manacorda tiza-los em trés pontos basicos: “na (ou aculturagao, no caso de pro- , mas do externo), na instru¢ao intelec- instrumental (ler, escrever, contar) e 0 i, do supino culewm po que ja havia portanto, nio Digitalizado com CamScanner DERMEVAL SAVIAN) at BATA Pear ae ke ‘ony cares eg ao Pagina de rosto de Historia Nateralis Brasiliae, 1648, em que S70 descritos “nao tanto as plantas ¢ os animais, mas as doengas, 8 habilidades e os costumes dos indigenas”, Fonte: Biblioteca José € Guita Mindlin. Foto: Lucia M. Loeb (Destaques da Biblioteca |nDisciplinada de Guita e José Mindlin ~ Vol. 2: Além da Brasiiana. Ebusr/Faresr/Edicoes Biblioteca Nacional. Fotografia de Lucia Mindlin Loeb, Copyright José Mindlin). Digitalizado com CamScanner HISTORIA DAS IDEIAS PEDAGOGICAS NO BRASIL SER oy que existe e, como tal, o antepassado por exceléncia porque o Pai que esta na origem de todos os membros da comunidade que o cultua. O processo de colonizagao abarea, de forma articulada mas nao homogeé- nea ou harménica, antes dialeticamente, esses trés momentos representados pela colonizagio propriamente dita, ou seja, a posse e exploracio da terra subjugando os seus habitantes (0s incolas); a educagio enquanto aculturagao, sto é, a inculcacao nos colonizados das praticas, técnicas, simbolos ¢ valores proprios dos colonizadores; e a catequese entendida como a difusao e con- dos colonizados 4 religiio dos colonizadores. a questo que intriga de modo geral os analistas se refere a0 fato ente paradoxal de Portugal ter sido pioneiro na expansao ultrama- , mesmo tempo, ter se atrasado consideravelmente no que respeita jento capitalista quando comparado com outros paises euro sa questao é preciso levar em conta que Portugal, dife- , paises europeus, era um pais plenamente consti- j@ no século XY. Além disso, contava com fo II, que governou de 1481 a 1495, pode ser bsoluto da Europa. E esse era um fator embora tendo objetivos eco e expansionista. E como ntinente europeu, abriase a 5) propde uma explica- ugere a correlacio en- e necessidades da , ouro, especiarias, ado dos téxteis, Digitalizado com CamScanner 0 le DERMEVAL SAVIAN, samento da receita das casas senhorias; a segunda ligada as potencialidades a f ultramar como Marrocos, arquipélagos atlnticos, in- contidas em areas de n é, India e Brasil. A ligagdo entre essas duas cluidas as Ilhas Canarias, Guin de fatos a‘ séries resulta numa outra série m apresentada: a) conquista de pragas marroquinas; 1b) ocupagio ¢ colonizagio dos arquipélagos atkinticos; ©) descobrimento da Guiné e estabelecimento de feitorias; d)descobrimento do caminho maritimo para a India, estabelecimento de feitorias ¢ formagao do império oriental; e) descobrimento e colonizagio do Brasil [idem, p. 85]. s feitos e conquistas, Portugal atrasou-se, do pon- Nao obstante todos es to de vista do desenvolvimento capitalista, em relacio aos demais paises eu- ropeus. Para compreender esse fato € preciso levar em conta que, embora a ex pansao tenha enriquecido a burguesia mercantil, seu controle esteve nas maos da Coroa, que a financiou e a explorou através de monopélio, o que refor cou 0 parasitismo da nobreza. Como, porém, ao mesmo tempo as conquistas ultramarinas reforcavam as posicdes econdmicas e sociais da burguesia, @ nobreza reagiu a essa contradi¢io reforcando a ordem feudal pelo uso da Inquisicio como instrumento politico, cuja introducio em Portugal se deu no reinado de Dom Joao III (1521-1557). Com esse instrumento 0 Estado Portugués reprimiu, por mais de dois séculos, a burguesia mercantil identifi cando-a com 05 crist’os novos, isto é, com os criptojudeus. Nesse contexto © mercantilismo portugués reduziu-se a exploragio colonialista, abrindo mao do protecionismo industrial, conduta adotada pela Inglaterra e Franca, Como resultado, constatase que © colonialismo contti buiu para a acumulagio nos paises que ja haviam desenvolvido em algum grau o modo de produgio capitali Holanda e aF 2, como a Inglaterra e, mais tarde : a Franca. Nao, porém, em Portugal e Espanha, onde, ao contré ee acumulagio foi obstaculizado pelo colonialismo. Em pete “ike Portugal asou “somo especilista no comeércio de intermeding8 in cones Bo aming made, sobre o qual escreveu Adam Smith, que 25 “ae © aetoao trabalho produso do proprio pas eo devas tt G0 em outros paises” (GorenneR, 1978, p. 123). Asim Digitalizado com CamScanner HISTORIA DAS IDEIAS PEDAGOGICAS NO BRASIL ik apenas para dar um exemplo, constatase que, embora o Brasil tenha propi ciado a Portugal 0 monopélio da exportacao mundial de acticar no século XVIL, nao foram constitudas refinarias em Portugal; elas surgiram na Holanda, Inglaterra e Franga, Como ja foi sali ientado, ha uma estreita simbiose entre educacio e catequese na colonizacio do Brasil. Em verdade a emergéncia da edueacio como um fendmeno de aculturagao tinha na catequese a sua ieiarore, ° que fica claramente formulado no Regimento de Dom Jofo III estatuido em 1549 e que continha as diretrizes a serem seguidas e implementadas na col6- Inia brasileira pelo primeiro governo geral. A referida centralidade da catequese jé foi objeto de anilise de diversos studiosos. José Maria de Paiva, por exemplo, defendeu a tese de que “a atequizacio cumpriu um papel colonial, nao como de fora, como uma forca plesmente aliada, mas, mais do que isto, como uma forca realmente inte- a a todo o processo” (Paiva, 1982, p. 97). Ja Luis Felipe Bata Neves de que a catequese € “um esforco racionalmente feito para conquistar lens; é um esforco feito para acentuar a semelhanga e apagar as diferen- (Barra Neves, 1978, p. 45). E 0 eixo do trabalho catequético era de rer pedagégico, uma vez que os jesuitas consideravam que a primeira rnativa de conversao era o convencimento que implicava praticas pedago- ‘muito mais eficazes, onipresentes, tadicais, em sua enganadora multi- uenez do que 0 que se passava nos Colégios, pelo menos do ponto de talacao de uma dominagio cultural” (idem, p. 148). ducacao colonial no Brasil compreende etapas distintas. chamado “periodo herdico”, que, se- rimeira etapa corresponde ao 7 Alves de Mattos (1958), abrange de 1549, quando chegaram os ‘tas, até a morte do padre Manuel da Nobrega em 1570. Con- s apropriado estender essa fase até o final do século norte de Anchieta, em 1597, e a promulgagao do ‘mareada pela organizacio e consolidagao Ratio Studiorum. de & fase pombalina, que inaugura Digitalizado com CamScanner — 32 ids DERMEVAL SAVIAN) [As reformas pombalinas da instrugao publica inseremse no quadro das reformas modernizantes levadas a efeito por Pombal visando a colocar Portu- gal “a altura do século”, isto é, século XVIII, caracterizado pelo Iluminis- mo. Essa fase estendese até 0 inicio do Império, abrangendo, portanto, o ‘momento joanino (1808-1822), assim denominado porque teve inicio com a vinda de Dom Joao VI em conseqiiéncia do bloqueio continental decretado, em 1806 por Napoledo contra a Inglaterra, da qual Portugal era “naco amiga”, completandose em 1822 com a independéncia politica. Digitalizado com CamScanner

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