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Peicologia da trend) provers), tlretes & Oo aired Ano Tomez Belém Uma Nuney & Row mary do Norcmada Stlveirm Browslint Liber Livro, 204 Capitulo 4 A Epistemologia Genética de Jean Piaget ca Aprendizagem Jean Piaget (1896 -1980) nasceu em Neuchatel, na Suga. Ob teve grat de hacharel em Ciencias Naturais em 1916 e doutorou-se cm Filosofia dois anos depois. Estudou Psicologia em Ziirich ede- senvolveu uma vasta investigagéo no campo da epistemologia, Per- chou, ao longo dle seu percurso como cientista, que seu interesse nio se encertaria na Biologia Cssica ou na Filosofia Tradicional, tas num campo de investigagao em que pudesse compreendler nese do processa de construgiodo conhecimento humano. Além de seu traballto como pesquisaclor, Piaget attou na area docente (Universidade de Paris e de Genebra). Piaget realizou pescisas em laboratorios de Psicologia de base experimental. Trabalhou com os psicdlogos Binet e Simon, can Paris, que sao representantes de uma linha psicométrica de {nvestigagao da inteligencia, Attindo neste contexto de pescui sa, caja Togica era bascada na medigao da inteligencia por meio de testes, Piaget descobriu um modelo clferente de anise dos [processos cognitivos. ‘Com seu interesse crescente porepistemologia, pelo estuda dos processos de construgao do conhecimento, Piaget fundou, na década de 1950, em Genebra, um centro de referencia sobre 6 tema, Sua abordagem te6rica recebe o nome de Fpistemologia Genética, sendo o primeiro termo referente ao estuxlo do conhe cimento (cientifico) ¢0 segundo a génese, a origem. 4 Concepeao de desenvolvimento Piaget (2000) questionava tanto as teses que afirmavam ser 6 conhecimento de origem inata quanto aguelas que acredttavam ser fruto de estimulagdes provenientes do mundo externo, como se 0 conhecimento fosse uma copia dineta dla realidale. Para ele, ‘86 podemos conhecer por meio de interagdes no ambiente, mm intercimbio de trocas reciprocas sujeito-meio. Piaget elegeu como pergunta central de suas investigacoes, ‘como é possivel aleangar © conlhecimento, ou seja, como se pas- sade um menor conhecimento para um mais avangado, E para responder essa pergunta, estudou, através do método clinico, como as criangas constroem nogdes fundamentais de conhe rent légico, como percebem a realidad e camo compreendem explicam of objetos ¢ fatos com os quais se deparam em seu meio, Foi, entdo, a partir destas questnes que Piaget estudou os dliferentes niveis de desenvolvimento (intelectual ¢ afetivo) vi venciadlos pelo ser humane. Segundo Piaget (1991), a evolugao do conhecimento é um pprocesso continuo, construido a parti da intetacio ativa do sujek: to-como meio (fisco ¢ social). O desenvalvimento humane passa ‘por estigios sucessivas de onganizacao do campo cognitive v afe- tivo, que vio sendlo construilos em virtude da aga da crianga ¢ das oportunidades que 0 ambiente possibilita a mesma, Influen: ciado pela sua formagao de bidlogo, Piaget entencleu que a logica implicada na relagao organismo-meio poderia ser estenelida para o estudlodlos processosintelectuaise afetivos, razendo nogoescomo ade adaptacao biologica para o estuelo das funeoes cognitivas, 'Na obra de Piaget, encontramos, pois, termos € conceitos retirados ca Biologia, No entanto, em virtude de sua aborelagem construtivista do conhecimento, de sua concepere de desenvolvi- inento como frute de tracas reciprocas entre sujito ¢ ambiente, a cpistemologia genética esta situada numa concepeao interacionis- tae conhecimento, Isto remete aida de que existe uma intercle- pendéncia entre organisma ¢ ambiente, que pose ser explicitada na relacao entre 0 conceitn de ontogénesee de filogénese, ou se, respectivamente entre 2 historia clo sueito ea historia da espécie (Ficuriees0, 2000), Segundo a perspectiva tedrica plagetiana existe uma ten- dencia, no que se refere ao desenvolvimento cognitivo-afetivo, uma ampliagao progressiva dos conhecimentos, a0 contratio do desenvolvimento orginico, que tende a uma regressio advin- da do proprio processo de envelhecimento. No caso das estru- tras mentais, caminha-se para um “equilibrio movel", ou s¢ja, ‘uma mobilidade cada vez maior no ato de conhecer, que pocle ser intesrompicla, por exemplo, por algum comprometimento organico no cérebro, Caso isto nao ocorra, € possivel aperfeigoar cada vez mais nosso conhecimento sobre a realidade (por que nao dizer, sobre ns mesos?) Piaget estendeu sua visio acerca da evolugao do intelee +0 compreensio da consciéncia moral no sujeito. Embora as investigagoes que realizou sobre as estruturas mentais apare- gam com certa centralidade em sua teoria, ele enfatiza a exis- téncia de um paralclismo entre o desenvolvimento da cognicio € 0 desenvolvimento das formas da afetividade € das formas da existencia social e moral” (Ficureno, 2000, p. 94), Segue do cle, a crianca apresenta momentos em seu desenvolvimento que se caracterizam por uma centragao em si, em seus proprios referencias. Ha uma auséncia de reconhecimento das regras de convivéncia social. Depois,a crianga evolui para um sentiment oral de obediencia (cnvolta a temor e afei¢a0), até construir formas de pensar ¢ agir com base na autonomia, com umn senso de reciprocidade em sua relagao com os outros, Piaget aeredi~ ta que esse percurso na evolugao da consciéneia moral (assim ccoino da intelectual) se elabora numa estreita relagao com © rmcio social, Portanto, nao ha implicagdes de orciem hereditavia, previamente adquiridas ‘No funcionamento ca inteligencia humana existe um movi- mento constante do sueito em busca de explicagdes, de tentativas de compreensio do que ocorre ao set redor. F essa agdo (penst mento, sentimento ou movimento) do sujeito em seu meio é de- 4 da crianga sobre o melo no pertodo sens6rio-motor sencadeadla por alguma necessidade, de ambito intelectual, afetivo ou Fisiologico. Aqui aparece uma concepgio de inteligéncia como fator nao inato,¢ sim, construido pela crianga em seu mundo, com paste por pessoas, abjetos ¢ sistemas de significagio, proprios de cada ambiente cultural, A inteligéncia é uma caracteristica presen teem todas as ctapas do desenvolvimento, mesmo antes do adver: toda linguagem verbal (Pricer Titre, 2001). ‘Mesmo com essa constancia do ato inteligente em nos vida, em cada momenta do desenvolvimento aparecem interes ses especificas ¢ formas de explicagto e compreensio peculiares ao nivel intelectual em que o sujeito se encontra. Na pritica, sig nifica clizer que adiferenca da inteligencia de uma crianga de seis anos, por exemplo, para a de um adulto, €2 forma como ambos compreenclem e agem sobre os objetos ce conhecimento, $a0 di ferenas qualitativas que aparecem em cada periodo, Trata-se de uma funcao adaptativa da inteligencia nos diferentes perfodos do desenvolvimento, 4.2 Os estigios de desenvolvimento cognitivo-afetivo Conforme frisamos, Piaget fez uma minuciosa investigagao sobre a forma como o ser humano constr6i scus conhecimentos, descrevendo caracteristicas do modo de pensar, falar e agir das criangas cadolescentes, o que resultou num dos topicos mais di- vulgados de sua teoria, embora tendo outros temas importantes em sua vasta obra. Os estigios de desenvolvimento descritos por Piaget sto rio-motor, © pré-operat6rio, 0 operatério concreto ¢ © operatoria formal, que serio apresentacas no quadro 4 de For a sucinta, posto nao ser o foco de discussio do presente capi tulo, Essasetapas nao devem ser cansideradas como momentos im aproximados, nem como lista dle nogdes ppresentadas pelas criangas em cada periodo de etarios rigidos ¢ obrigator: suas vidas (Moro, 2002). Ao trazer uma lgica interacionista de desenvolvimento, Piaget nos pac diante de caracteristicas cognitivo-afetivas ¢ de socializacao que dependem de uma construgao e nao de uma programagao biol6gica previstvel Cada estagio ¢ marcado pela apari¢ao de estruturas mentais originais e distintas, porém inter-relacionadas com as anteriores. Significa dizer que a aquisicao de um novo co: nhecimento (compreensio de um determinado conceito, por cexomplo) implica uma reonganizagao cle estruturas mentais ja existentes, ou seja, para compreender a nova informacao é necessario que o sujcite reveja seus conceitos, que compare, Quadro 4: Fases do desenvolvimento cognitivo/afetive em Piaget ” Est dividido am ts subestigios, sendo marcado, inicial- ‘mente, por coordenagies sensorials © motoras de fundo ‘Sensotio, Porno, ‘Motor se refere & utllzacdo. (02 000) eat eect 2 gale, 2680" vio se tomandointenclonas, cirigidas a um resulta peas comega a perceber, gradativamente, que os. ‘objetos a sua volla continuam a existr, mesmo se nao Pensamento mais compativel com a légica da realdade, ‘embora ainda preso realdade concreta, Reversibidade {de pensamentos (uma operago matemtica, por exem- lo, pode ser reversvel). Compreende gradativaments nogées Ibglco-matemticas ‘de conservagao da massa, volume, classiicagso, sic. ‘© egocentrismo diminul, surgindo uma moral de coo- poe repetition obec inc): reestruture os sentidos ja adquiridos para captar este nova conhecimento. Este processo de desenvalvimento envalve in- terpretagio da realidad, a E um movimento (vital) da a¢ao humana que busca sempre 0 aleance dle um estado de equilibrio, havendo uma tendéncia no ser humano a uma adapta¢ao cada vez maior @ realidad, o que Piaget clenomina processo de equilibragao. m como reconstrucao da mesma, 4.3 Processos de assimilaeao c acomodacio Quando ocorre uma necessidade (intelectual, afetiva ou org nica), que, por sua vez, € manifestagio de um cesequilibrio,o sue: to reagira a mesma por meio cle uma tentativa de restabelecimen- to do equilibria, Na medida em que a agao do sujeito campensa a necessiclade (soluciona um problema), o equilibrio ¢ recuperado. Neste movimento permanente de reajustamento, o sujeite (suas estruturas mentais), aciona dois mecanismos denominados assi tnilagto e acomodagao, os quais explica Assimilar envolve a nogdo de que conhecer consiste numa significacao, dada pelo sujeito, aquilo que ¢ pereebido. Em con. tato com um determinadl objeto ou fato a crianga o investiga ¢ tenta dar um sentido a0 que pereebeu, imprimindo uma logica propria para conhecer. Deste modo, incorpors a situago ou ob- jevo a seus esquemas mental, nao sendo necessirio tecorrer a ‘outros mecanismios para compreender a situa, emasa seguir ‘Um exemplo de assimilacao seria o de uma crianga que tem conhecimentos na area de informatica ¢ sempre manipula ape nas 0s jogos existentes em seu computador. Um dia, ¢convidada para jogar no computador de um amigo, Embora os jogos ali en a contradas possuam diferengas, o garoto conhece bem os coman dos centrais para concluzir a atividade, logo se integrando, sem maiores esfargos, 20 jogo proposto. ‘Aselmilagio: apo |d0 8ujelo/S6bre 6 objeto do conhacimento, po-

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