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Biopoder e necropolítica:

os mecanismos estatais de controle sustentados


na diferença racial
ANDRÉ ALMEIDA SANTOS*
MAURÍCIO DE NOVAIS REIS**

Resumo: O escopo do presente artigo é elucidar uma leitura das categorias biopoder e
necropolítica, destacando como estas possibilitam a compreensão das diversas dimensões do
racismo na sociedade brasileira. De caráter bibliográfico, esta pesquisa reflete sobre o poder, como
instituto de dominação que se manifesta em rede. Assim, seja pelo poder disciplinar, que tem como
finalidade a aplicação de técnicas sobre o corpo, operacionalizando mediante a vigilância
constante com viés punitivo, seja pelo biopoder exercido sobre uma determinada população,
sobrepondo-a em camadas divisórias de controle de grupos, promovendo a exclusão daqueles não
disciplináveis ou através da necropolítica, o controle estatal é exercido através da classificação
racial dos grupos. Passa, impreterivelmente, por esses meandros a fabricação da morte,
concernente à possibilidade de deixar morrer determinadas populações a partir da categoria raça.
Palavras-chave: Biopoder; Necropolítica; Racismo Estrutural; Giro Decolonial.
Biopower and necropolitics: the state mechanisms of control sustained in racial difference
Abstract: The scope of this article is to elucidate a reading of the categories biopower and
necropolitics, highlighting how these enable the understanding of the various dimensions of racism
in Brazilian society. Bibliographic in nature, this research reflects on power, as an institute of
domination that manifests itself in a network. Thus, either by disciplinary power, which aims at
the application of techniques on the body, operationalizing through constant surveillance with
punitive bias, or by the biopower exercised over a given population, overlapping it in dividing
layers of control of groups, promoting the exclusion of those not discipable or through
necropolitics, state control is exercised through the racial classification of groups. The fabrication
of death, involves the possibility of letting certain populations from the race category die.
Key words: Biopower; Necropolitics; Structural Racism; Decolonial Perspective.

Introdução

*
ANDRÉ ALMEIDA SANTOS é mestrando em Relações Étnico-Raciais (UFSB); e
coordenador pedagógico da rede Estadual e professor de História da rede Municipal

**
MAURÍCIO DE NOVAIS REIS é graduado em Filosofia e Pedagogia e Mestre em Ensino
e Relações Étnico-Raciais (UFSB).

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O racismo pode ser estudado em suas 2020) e Achille Mbembe (2018). É nesse
diferentes dimensões, entre as quais contexto que o racismo estrutural pode
destacam-se o racismo individual, o ser compreendido tanto pelo viés das
racismo institucional e, finalmente, o relações de poder quanto da manutenção
racismo estrutural. O primeiro se de subalternidade, que nega à população
manifesta na dimensão do indivíduo ou negra o status de seres humanos. A
grupo, podendo apresentar formas desumanização de determinados grupos
distintas de manifestação. O segundo opera como aparato da necropolítica,
manifesta-se nas instituições e seu estudo naturalizando as violências perpetradas
consiste num grande avanço no campo da contra esses grupos.
compreensão desse fenômeno. Por O método utilizado consiste na pesquisa
último e não menos importante, o de caráter bibliográfico e sistemático,
racismo estrutural é a coluna vertebral de com leituras de pesquisadores que se
sustentação do sistema capitalista, ou relacionaram com a temática em foco.
seja, assegura de forma sistemática e Dentre eles, destacam-se Almeida
“normativa” a racialização dos (2018), Foucault (1999; 2020), Mbembe
indivíduos, porque está entranhado nos (2020) e Reis (2018; 2020). Os estudos
sistemas jurídico, político e econômico, dos autores aqui e de outros referendados
estruturado pela classe dominante para no corpus do presente trabalho
perpetuar-se no poder. Além disso, encontram-se no campo das relações
mantém a dominação e o privilégio via étnico-raciais, sendo referências para a
exploração ao longo da história. temática do racismo em suas diferentes
Sobre o processo de formação da dimensões, mas com enfoque no racismo
sociedade brasileira, no tocante ao estrutural na sociedade brasileira.
racismo, levantamos algumas questões: Para uma melhor compreensão do
O que é racismo individual? Como conteúdo optou-se pela divisão de oito
podemos entender o racismo subseções. São elas: 1) Poder e
institucional? Qual a relação entre classificação social sustentados na
racismo estrutural com instrumentos de diferença racial; 2) Racismo individual;
poder? A necropolítica encontra-se 3) racismo institucional 4) racismo
presente no racismo estrutural da estrutural; 5) Michel Foucault: soberania,
sociedade brasileira? Como os biopoder, anátomo – política do corpo e
mecanismos de poder ajudam a perpetuar racismo; 6) Necropolítica: soberania,
o domínio da população branca sobre a estado de exceção e política da morte; 7)
população negra? O pensamento decolonial: instrumento
Nesse ínterim, entender categorias como necessário.
biopoder e necropolítica são basilares Poder e classificação social
para avançar nas formas de compreensão sustentados na diferença racial
das estruturas de racialização. Assim, a
finalidade do presente estudo é elucidar O conceito de raça, assim como outras
tais categorias, destacando como elas se categorias dentro das Ciências Humanas,
relacionam no processo de normatização não resulta de consenso. Com isso,
do racismo dentro da sociedade queremos destacar que dependendo da
contemporânea. referência utilizada, pode mudar
significativamente. A categoria raça
No presente contexto, este artigo muda não só dependendo do pesquisador
sustenta-se nas teorizações dos e abordagem, mas também quando
pensadores Michel Foucault (1999;

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levamos em conta outros aspectos, como sujeitos numa escala hierárquica
o histórico e o geográfico. (BARROS, 2006).
Para iniciar, optamos então por uma A classificação dos seres humanos em
definição no campo da etimologia. Nela raças culminou em uma complexa forma
a palavra raça tem sua origem no italiano de subjugação de determinados povos
razza; originou-se do latim, significando sobre outros, não necessariamente pela
sorte, categoria e espécie. Utilizado diferenciação assentada em
dentro do campo das ciências da características1 físicas, mas porque a
natureza, especialmente pela Zoologia e essas características atribuíram-se juízos
Botânica, a palavra estava relacionada valorativos de superioridade ou
aos reinos animal e vegetal inferioridade. Dentre os grupos
(MUNANGA, 2004). subjugados, os negros sofreram a
intervenção de um duradouro processo
Em sua origem, nas ciências naturais, o
de colonialismo do continente africano.
termo não se vinculava à classificação e
A situação colonial apresenta-se como
hierarquização de seres humanos. De
um processo não somente histórico, mas
gênese latina, a terminologia passa a
político, econômico e ideológico cujas
definir a descendência, a linhagem,
marcas deixadas ainda permanecem
enfim, um grupo de pessoas que possuem
visíveis, especialmente a partir da
uma ancestralidade comum. Esses
disseminação do racismo antinegro.
também apresentavam características
físicas muito próximas ou que eram Nesta perspectiva, o racismo opera
compreendidas como semelhantes. dentro de uma estrutura de três vértices:
na dimensão individual, designa-se de
Em 864, na França, Bernier utiliza a
racismo individual; na dimensão
palavra como ficaria conhecida na
institucional, é designado de racismo
modernidade, aplicando-a com a
institucional; e, finalmente, o racismo
finalidade de “classificar a diversidade
estrutural, que opera numa dimensão
humana em grupos fisicamente
macro-orientada. Essas três dimensões
contrastados, denominados raças”
em que o racismo se manifesta
(MUNANGA, 2004).
constituem uma cadeia operativa de
Portanto, se inicialmente a termologia retroalimentação, cujo resultado, nessas
raça não tinha aplicabilidade em seres condições, não será outro senão a
humanos, servindo para classificar – no reprodução das hierarquizações
âmbito das ciências naturais –, ao longo sustentadas na ideia de raça.
da história ela transformou-se, passando
É possível um “racismo sem raça”? Não
a ser utilizada na distinção de
obstante a raça não passe de uma “ficção
determinados grupos. Com isso, deu-se
útil” (MBEMBE, 2014, p. 27), encontra
um processo de hierarquização, exclusão
espaço nas discussões acadêmicas
e racialização de uns em relação a outros.
Surge assim, não somente a distinção preocupadas com o recrudescimento do
baseada na diferença, como também tal racismo. Ou seja, a raça consiste numa
diferença passa a ser transformada em ficção que se desdobra numa realidade
desigualdade à medida que classifica os

1
Risério (2012, p. 77) argumenta que na europeia a terras de além-mar” que houve “um
antiguidade egípcia, grega e romana não era a cor considerável aumento dos preconceitos de raça e
da pele que definia as relações entre os cor”.
indivíduos. Foi somente a partir da “expansão

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tangível – que é o comportamento apresenta com a finalidade de enfatizar
racista. que o problema centra-se no indivíduo,
elucidando questões de caráter
Segundo dados da biologia, hoje
psicológico e não das relações de poder
sabemos “que raça não existe como
em que se encontra.
conceito científico; é antes uma categoria
taxonômica e meramente estatística, uma Racismo individual
construção social” (SCHWARCZ, 2012,
A psicologia do racismo individual
p. 98). No entanto, como uma ficção demonstra questões de preferências
socialmente construída, a ideia de raça
pessoais. No entanto, a percepção
continua sendo elemento central de
individual da realidade é fortalecida
operação da diferença entre os grupos
pelas condições espirituais3 vivenciadas
humanos à medida que impõe um
pelo indivíduo. Em outras palavras, o
suposto estatuto de desumanização a
preconceito individual contra
determinados grupos e legitima, a partir determinadas raças torna-se factível
de traços fenotípicos, as desigualdades.
mediante a atmosfera social.
O racismo consiste, primeiramente, na Em seu livro O Que é Racismo
concepção de que a humanidade é
Estrutural?, Sílvio Almeida argumenta
dividida em subgrupos, isto é, raças;
que o racismo é algo imoral e deve ser
segundo, que esses subgrupos são tratado como um crime e denuncia que a
definidos de acordo com a distância entre centralidade no individualismo é frágil e
a selvageria e a civilização. O selvagem tende a limitar o problema a uma
é aquele cujas capacidades demonstram narrativa moralizante, relegando a um
distanciar-se das condições civilizadas de plano não perceptível o aspecto
vida. Assim, o racismo é também um
estrutural. Questões de caráter filosófico,
racialismo. Todavia, a perspectiva racista
histórico, geográfico, econômico e
acredita existir não somente uma
ideológico não encontrariam espaço, ou
diferença racial, mas uma hierarquia
tenderiam a ficar limitadas em debates
entre as raças. É mediante essa suposta
que podem não levar a transformações
hierarquia que o racista engendra o seu
efetivas:
discurso e constrói a sua mitomania de
superioridade.2 No fim das contas, quando se limita
o olhar sobre o racismo a aspectos
Não obstante, no tocante ao racismo meramente comportamentais, deixa-
individual, o sujeito que comete esse ato se de considerar o fato de que as
sofre de uma “patologia”, vista como maiores desgraças produzidas pelo
anormalidade no campo imaginário. racismo foram feitas sob o abrigo da
Assim, o comportamento racista legalidade e com o apoio moral de
encontra-se submerso em aspectos de líderes políticos, líderes religiosos e
uma reflexão ética sobre questões de dos considerados “homens de bem”
cunho moral, ou seja, a conduta daquele (ALMEIDA, 2018, p. 28-29).
que realiza o ato. Para Almeida (2018), Em suma, mesmo sendo pertinente
não podemos tratar o racismo individual refletir sobre a problemática do racismo
como “racismo”, mas como individual e lançar ações para seu
“preconceito”, tendo em vista que este se combate, limitar-se apenas a esta
2
Pesquisa realizada pelo Jornal Folha de S. mas apenas 10% dos entrevistados admitiram tê-
Paulo, em 1995, indicou que 89% dos brasileiros lo (SCHWARCZ, 2012).
3
admitiram existir preconceito antinegro no Brasil, Espírito, neste sentido, denota uma espécie de
subjetividade imanente.

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dimensão pode fazer com que a situação subalternizados no paradigma
da população negra permaneça operacionalizado pelas instituições.
inalterada, isto é, uma situação de
O que o indivíduo pensa e age, mesmo
discriminação constante. Apenas a
quando vinculado à instituição, não está
narrativa, por mais crítica que seja, não
restrito unicamente a seu
produz a possibilidade efetiva de mudar
comportamento, pois encontra-se
as condições concretas de vida das
relacionado às estruturas existentes na
populações negras, especialmente nos
cultura.4 “As instituições são apenas a
Estados nacionais herdeiros de uma
materialização de uma estrutura social”;
história escravocrata fortemente
além do mais, são resultado “de um modo
arraigada na concepção de superioridade de socialização que tem o racismo como
europeia.
um de seus componentes orgânicos”
Não obstante o preconceito individual de (ALMEIDA, 2018, p. 36). E afirma-se
cor e raça exista – devendo, obviamente, que a sociedade é racista
ser combatido –, deve-se refletir sobre as fundamentalmente porque encontra-se
condições espirituais que estimulam submersa no espírito de sua cultura, que
comportamentos desta natureza. Assim, envolve as instituições e os indivíduos,
tais condições devem ser pensadas a modelando-os.
partir de uma atmosfera que opera não Tomando como base a afirmativa acima,
somente nos indivíduos, mas também nas podemos defender duas implicações
dimensões institucionais e culturais. essenciais: a primeira refere-se ao fato de
Racismo institucional que as instituições não criaram o
racismo, mas acabam por reproduzi-lo; a
A compreensão da categoria racismo
segunda concerne irrefragavelmente que
institucional representou um salto
o racismo não pode ser limitado à
qualitativo nos estudos no campo das
representatividade individual, tampouco
relações étnico-raciais no Brasil. Duas
moral. Para Almeida (2018), não basta
questões destacam-se nesse processo:
que indivíduos sejam colocados em
primeiro ao demonstrar que, apesar de
espaços de poder para que o racismo
importantes, as questões raciais não
deixe de operar dentro dessas
podem ficar centradas no individualismo;
instituições. Neste sentido, colocar esses
e segundo, por elucidar que os problemas
sujeitos dentro desses “departamentos”
de configuração racial devem ser
pode justamente fazer com que o sistema
pensados dentro de relações de poder.
continue operando com os demais como
Em ambos os casos as instituições têm a
excluídos e marginalizados e ainda
finalidade de perpetuar a racialização
argumentar que atendeu as demandas de
social; com isso, queremos destacar que
movimentos negros e intelectuais que se
os grupos “brancos” tendem a ocupar
espaços institucionais de poder em solidarizam com a luta antirracista.
detrimento dos grupos não-brancos, isto Assim, além de ações que visem a
é, os grupos negros tendem a ficar representatividade negra nos espaços de
excluídos, marginalizados e decisão, fazem-se necessárias ações
suplementares cuja finalidade seja
neutralizar a capacidade de reprodução
4
A palavra “cultura”, neste contexto, aparece “cultura” (com aspas) de cultura (sem aspas) para
com o sentido atribuído por Schwarcz (2012, p. designar, respectivamente, a “propriedade
98) para designar a “propriedade particular de particular de cada povo” e o “patrimônio geral”.
cada povo”. A antropóloga brasileira diferencia

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das estruturas racistas nas instituições, desdobra-se em fenômenos jurídicos,
evitando que o espírito racista seja políticos e econômicos viciados, que
reproduzido, alterado e, principalmente, alteram sobremaneira o aspecto da
readaptado institucionalmente. igualdade de direitos expressa na
legislação brasileira vigente.5
Dentro desta perspectiva, a função das
instituições não é outra senão a As leis e todo o aparelho jurídico e
reprodução das condições supostamente político tendem a buscar reproduzir os
necessárias para a manutenção da ordem aspectos econômicos e políticos de uma
social, como uma espécie de vigilância estrutura social que assegura a
onipresente dos corpos. As dimensões determinados grupos ter seus
individual e institucional devem ser direitos/privilégios garantidos, enquanto
compreendidas dentro de um contexto de que do outro lado populações inteiras
análise da sociedade em sua dinâmica, a vivem em um estado de subcidadania
saber, o racismo é estrutural. Construído (SOUSA, 2018). Assim, o racismo
por um longo processo histórico, o estrutural expressa-se materialmente na
racismo busca perpetuar-se, entre outros forma de desigualdades em diversos
fatores, pela dinâmica política e aspectos.
econômica da sociedade, reproduzindo- É, contudo, preciso compreender que:
se à medida em que a dinâmica social se
modifica. O uso do termo “estrutura” não
significa dizer que o racismo seja
Racismo estrutural uma condição incontornável e que
O racismo deve ser combatido em suas ações e políticas institucionais
antirracistas sejam inúteis; ou, ainda,
diversas manifestações, mas é preciso
que indivíduos que cometam atos
não perder de vista que existe uma discriminatórios não devam ser
estrutura que assegura que posições pessoalmente responsabilizados.
individuais e de grupos possam ser Dizer isso seria negar os aspectos
expressas e até certo ponto asseguradas social, histórico e político do
pelas instituições. “Nesse caso, além de racismo. O que queremos enfatizar
medidas que coíbam o racismo do ponto de vista teórico é que o
individual e institucionalmente, torna-se racismo, como processo histórico ou
imperativo refletir sobre as mudanças político, cria as condições sociais
profundas nas relações sociais, políticas para que, direta ou indiretamente,
e econômicas” (ALMEIDA, 2018, p. 39). grupos racialmente identificados
sejam discriminados de forma
O racismo estrutural encontra-se sistemática. Ainda que os indivíduos
vinculado a um modelo que torna que cometem atos racistas sejam
possível a reprodução de forma responsabilizados, o olhar estrutural
sistemática de ações racistas dentro de sobre as relações raciais nos leva a
uma ordem jurídica, política e concluir que a responsabilização
econômica. Embora sutil, a influência do jurídica não é suficiente para que a
sociedade deixe de ser uma máquina
racismo nas estruturas culturais
produtora de desigualdade racial

5
"O réu não possui o estereótipo padrão de bandido, individual, não podemos desconsiderar o fato de que a
possui pele, olhos e cabelos claros, não estando sujeito dimensão individual do racismo – observável em
a ser facilmente confundido", escreveu uma juíza de comportamentos individuais ou coletivos – é resultante
Campinas em sua sentença de um caso de latrocínio de uma dimensão imaterial permeada na cultura,
(G1, 2019). Não obstante as palavras da magistrada designada de racismo estrutural.
levem-nos a pensar tratar-se de um caso de racismo

314
(ALMEIDA, 2018, p. 39, grifos do durante a execução penal (FOUCAULT,
autor). 2020, p. 37).
Elucidar o racismo no campo estrutural O poder do soberano tinha que marcar no
não consiste na negação das duas próprio corpo do acusado, tornando-o,
primeiras dimensões, mas o contrário. É ele próprio, vítima do sofrimento
recuperar a temática enquanto problema causado. Devia deixar cicatriz, com a
em suas diversas dimensões, uma vez finalidade de “purgar” aquele que
que a dimensão estrutural opera como cometeu o crime. “Essas cicatrizes”,
elemento sustentador das demais provocando marcas indeléveis na vítima,
dimensões. produziriam memórias. A aplicação
Ao tentar compreender as diversas demasiada da tortura deve ser analisada
facetas da realidade racial, pretende-se como parte do processo punitivo, não
assim que ações individuais ou mesmo como instrumento de morte, mas como
coletivas, implicadas não só numa prolongamento da vida da vítima. “O fato
narrativa moralizante – que nada ou do culpado gemer ou gritar com golpes
pouco altera da situação – mas também não constitui algo de acessório ou
numa retórica igualmente insuficiente, vergonhoso” (FOUCAULT, 2020, p.
deixa passar despercebido o aspecto mais 37). Grosso modo, trata-se da força da
relevante do racismo, a saber, sua justiça atravessando o corpo do
dimensão estrutural. Desta forma, condenado através do prolongamento dos
avançar no debate étnico-racial envolve a suplícios, inclusive, até após sua morte.
compreensão de que existe uma estrutura E todo o processo que levava pessoas à
que mantém a população negra ausente condenação ocorria sem que o réu tivesse
dos espaços de poder nas instituições e acesso às fontes. Não se conheciam as
que não consiste tão-somente num acusações, tampouco os acusadores.
problema de ordem conjuntural. Nem mesmo as provas eram acessadas ou
Michel Foucault: soberania, biopoder, passível de consulta. Não se podia
anátomo-política do corpo e racismo analisar as peças do processo, e buscava-
se por meio do suplício a confissão em
Na sua investigação sobre o papel das que “o acusado se comprometesse em
instituições, Foucault (2020), produz a relação ao processo; ele ensina a verdade
obra Vigiar e Punir: Nascimento da da informação” (FOUCAULT, 2020, p.
Prisão, na qual examina cuidadosamente 41). Nesse ínterim, “um dos privilégios
o tratamento dispensado aos corpos dos característicos do poder do soberano fora
condenados. Tendo como uma das suas o direito de vida e morte” (FOUCAULT,
características realizar a punição sobre o 1999, p. 127).
corpo do acusado, a pena consiste num
espetáculo cujo ápice é a morte do Entre os séculos XVIII e XIX,
condenado. Além do mais, não se trata aprimoraram-se os mecanismos de
somente do espetáculo mortífero, mas de reforço, de controle, de vigilância e a
uma ritualística pormenorizada que deve maneira como eles se organizam e como
culminar na morte. Assim, o sofrimento submetem os sujeitos a essa organização.
físico constitui um dos seus momentos Trata-se, consequentemente, de “um
marcantes e necessários. Havia, portanto, poder destinado a produzir forças, a fazê-
uma espécie de ostentação dos suplícios las crescer e ordená-las mais do que
impostos ao sujeito, que representavam a barrá-las, dobrá-las ou destruí-las”
arte de fazer com que a vítima sofresse (FOUCAULT, 1999, p. 128). O direito
intensos ferimentos físicos em sua carne de morte desloca-se para as instituições

315
que por sua vez tendem a gerir a vida e a Esse processo se potencializou com o
se organizarem com a finalidade de surgimento das ciências do campo da
controle. Esse poder se impõe sobre a biologia, tornando-se precisamente neste
vida de forma positiva e se manifesta por ponto que biopoder, racismo e
regulações coletivas. necropolítica se entrecruzam,
constituindo a dimensão estrutural do
No século XVII o poder do soberano
racismo que irradia pelas instituições e
passa por transformações
indivíduos.
paradigmáticas. Foucault descreve
fundamentalmente duas maneiras O biopoder por meio de uma política de
basilares. A primeira, que ocorreu a partir Estado passa a tomar a raça como
do século XVII, tem sua centralidade no categoria de prolongamento de vida ou
corpo como máquina, fazendo um devir para seu aniquilamento. Foucault
de adestramento no processo de suas circunscreve que:
aptidões e extração de sua força. Essa [...] o racismo é indispensável como
utilidade corporal ocorre pelo viés da condição para poder tirar a vida de
docilidade, com controles cada vez mais alguém, para poder tirar a vida dos
eficazes que garantem os procedimentos outros. A função assassina do Estado
de poder que Foucault (1999, p. 131) só pode ser assegurada, desde que o
define como anátomo-política do corpo Estado funcione no modo do
(ou disciplinas). Esta centra-se no biopoder, pelo racismo6
indivíduo. A segunda, que se formou (FOUCAULT, 1999, p. 306).
tempos depois, por volta do século XVIII O racismo moderno vincula-se à técnica
tem seu lócus no corpo-espécie, em que do poder, à tecnologia da aplicação do
esse aparece como ser vivo com aportes poder estatal sobre os corpos dos
biológicos. Para tanto, cria-se indivíduos. Em suma, a relação entre
instrumentos de controle estatais como biopoder e Estado permite que a
os nascimentos, a mortalidade, o nível de categoria raça seja tomada como
saúde, a duração da vida, a longevidade, elemento determinante para a eliminação
os processos de desenvolvimento das de certos grupos.
crianças, adolescentes, mulheres,
homens adultos, enfim, agem na espécie Portanto, mesmo vendo nos trabalhos de
enquanto ser coletivo. Todos esses Foucault um avanço na análise dos
procedimentos que têm aplicabilidade mecanismos do biopoder, o filósofo não
em uma população como mediação de examina profundamente as maneiras
intervenções e controle, Foucault (1999, como esse ocorreu em países
p. 131) define como controles regulares: colonizados, como o Brasil. Quando
uma bio-política da população. reflete sobre Estado de exceção, aponta
simplesmente os campos de
É no presente contexto que Foucault concentração como a expressão máxima
descreve as relações existentes entre do deixar viver e fazer morrer. Sua
racismo, Estado e biopoder. Para postura eurorreferenciada não permitiu
Foucault o tema da raça “não vai que avançasse para além desse
desaparecer, mas ser retomado em algo paradigmático lugar de colonizador. Foi
muito diferente que é o racismo de necessário que autores de espírito
Estado” (FOUCAULT, 2005, p. 285). decolonial realizassem uma crítica à
6
Não obstante na obra mencionada o filósofo exemplo, demonstraremos como suas reflexões
refira-se ao racismo no âmbito dos regimes poderão ser adequadamente aplicadas ao racismo
totalitários europeus, como o nazismo, por antinegro no Brasil.

316
marginalização de seus saberes, à e definir a vida como a implantação
exclusão de suas cosmovisões, à e manifestação de poder (MBEMBE,
invisibilização de suas culturas e 2018, p. 05).
engendrassem um discurso autoral a Um dos giros epistemológicos
respeito de sua própria realidade apresentados por Mbembe é que o Estado
sociopolítica. de exceção não ocorre apenas em
Mas antes de adentrarmos determinados espaços como uma política
completamente na perspectiva da raça em um período determinado de
decolonial, passaremos à análise dos tempo, mas em algumas sociedades
pressupostos construídos pelo pensador tendem a se tornar uma norma, ou seja,
Achille Mbembe, especificamente na sua essas sociedades acabam convivendo
Necropolítica. Seus estudos funcionarão, com a realidade da retirada dos direitos
neste artigo, como instrumento constantemente. A “colônia representa o
introdutório do pensamento decolonial, lugar em que a soberania consiste
necessário não somente para a fundamentalmente no exercício de um
compreensão, mas especialmente para o poder à margem da lei (ab legibus
combate ao racismo em todas as suas solutus) e no qual a “paz” tende a assumir
dimensões. uma “guerra sem fim”” (MBEMBE,
2018, p. 33).
Necropolítica: soberania, estado de
exceção e política da morte Podemos destacar o processo de controle
a partir de duas características do Estado:
Os estudos de Michel Foucault no campo 1) sua capacidade de fazer guerra, que
da atuação do Estado o levaram ao dar-lhe-ia o direito de matar ou negociar;
fenômeno do biopoder. Esse como vimos 2) sua capacidade de determinar a
encontra-se vinculado ao estado de territorialização, ou seja, impor as suas
exceção em que o nazismo seria sua fronteiras. As colônias podem ser
expressão máxima de totalitarismo, com compreendidas como espaços de
seus campos de concentração e fronteiras em que habitariam
extermínio. Nesta perspectiva, cria-se as “selvagens”. “As colônias não são
‘políticas de inimizade’ que tendem a organizadas de forma estatal e não
trabalhar com a noção de inimigos criaram um mundo humano”
internos e externos. (MBEMBE, 2018, p. 34).
O filósofo camaronês Achille Mbembe Tais características, embora muito
aponta que os estudos do pensador presentes nas ex-colônias africanas,
francês avançaram, mas existem apontam para uma realidade tipicamente
problemáticas que não foram abordadas brasileira: a vida nas periferias, distante
e que precisavam ser retomadas. Para do “mundo humano” criado pelos
isso, Mbembe apresenta a necropolítica, colonizadores. Aliás, nas terras
que se fundamenta na ideia de que: tupiniquins não são poucas a lembranças
[...] a expressão máxima da do período colonial, haja vista a
soberania reside, em grande medida, população periférica ser
no poder e na capacidade de ditar majoritariamente negra, frequentemente
quem pode viver e quem deve entregue a violências de toda ordem e
morrer. Por isso, matar ou deixar alijada de seus direitos, convivendo
viver constituem os limites da diuturnamente com a política de morte,
soberania, seus atributos
convivendo em um contexto em que:
fundamentais. Ser soberano é
exercer controle sobre a mortalidade

317
[...] o soberano pode matar a de humanos incompletos, isto é, seres
qualquer momento ou de qualquer inferiores.
maneira. A guerra colonial não está
sujeita às normas legais e Assim, promove uma forma de racismo
institucionais. Não é uma atividade cultural, direcionado especificamente à
codificada legalmente. Em vez produção intelectual, na qual considera
disso, o terror colonial se entrelaça que só existe cultura na Europa; desta
constantemente com um imaginário forma surge a noção de cultura como um
colonialista, caracterizado por terras valor, não mais como manifestação de
selvagens, morte e ficções que criam um patrimônio geral subjetivo de um
o efeito de verdade (MBEMBE, povo. É nesta perspectiva que há o
2018, 36).
encobrimento do outro e o esvaziamento
Na realidade brasileira, o estado epistêmico de suas culturas, na medida
constante de guerra que impõe aos mesma em que o colonialismo
sujeitos colonizados – negros e negras – empreendeu uma “invenção” do
a necropolítica, entendida, à luz de colonizado como um reflexo do
Foucault (1999, p. 306), não somente colonizador. As línguas autóctones
como o assassínio direto, mas também foram suplantadas pelas línguas
assassínio indireto representado pela europeias, não somente na África, mas
exposição à morte, à multiplicação do também nas Américas. Com isto, os
“risco de morte ou, pura e simplesmente, dogmas europeus foram impostos,
a morte política, a expulsão, a rejeição, promovendo o assassinato das formas de
etc.” conhecer dos povos subjugados.
O pensamento decolonial: instrumento A este racismo epistêmico Ramose
necessário no combate ao racismo (2011) denominou de epistemicídio,
porque não se trata apenas e tão-
Não obstante seus esforços tenham somente de desqualificar os saberes
exercido a importante função de colonizados – africanos, asiáticos e
denunciar as estratégias do biopoder, latino-americanos – mas sobretudo
especialmente no que concerne ao lugar de eliminar esses saberes da
da raça na composição do poder do superfície terrestre a partir do
Estado, as inferências foucaultianas não encobrimento do outro e seu
encontraram suficiente aderência na inevitável sufocamento epistêmico
realidade colonial que motivasse uma (RAMOSE apud REIS, 2020, p. 73).
contra-estratégia dos colonizados. Por Os mecanismos de controle, tanto
isso, faz-se necessário que avancemos na aqueles disseminados pelo biopoder
compreensão do pensamento decolonial, quanto aqueles disseminados
uma vez que se nos apresenta como hodiernamente pela colonialidade do
instrumento essencial de combate ao poder, produzem formas de dominação
racismo estrutural. sancionadas pelo sistema-mundo-
Desde o nascimento da modernidade, a moderno. Em outras palavras, a
Europa provinciana transformou-se no colonialidade do poder opera mediante a
“centro” do mundo (DUSSEL, 1993, p. classificação étnico-racial dos corpos
33). Como “centro” autoproclamado do (QUIJANO, 2010). Se o biopoder
mundo, passa a desenvolver no seu reserva-se à compleição biológica da
imaginário a ilusão de superioridade, espécie, na colonialidade o caráter
relegando aos demais grupos à condição epistemológico adquire protagonismo
peculiar cuja perspectiva de imposição
dos próprios traços culturais,

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econômicos, políticos e religiosos leva o na sua dimensão estrutural porquanto sua
colonizado a crer-se inferior, passando influência na cultura tem produzido
assim a abandonar sua cultura originária irradiações no âmbito comportamental
para abraçar a cultura “superior”. dos indivíduos e grupos.
Estabelecida sobre a matriz do
A derrocada do racismo epistêmico,
colonialismo, a colonialidade opera mais
fortemente arraigado na complexidade
disseminadamente, buscando garantir a
do encobrimento eurocêntrico, tornará
perpetuação do racismo nas estruturas
possível a valorização dos saberes negros
culturais e de pensamento.
como instrumentos legítimos de
Nesta perspectiva, o giro decolonial conhecimento e sua disseminação. As
reveste-se de importância fundamental à vozes dos sujeitos são mecanismos
medida que ultrapassa as denúncias do capazes de fazer desmoronar o edifício
pós-colonialismo: do racismo estrutural no Brasil e vencer
O pensamento decolonial objetiva a política da morte que tem sido
problematizar a manutenção das reservada a estas populações.
condições colonizadas da Considerações finais
epistemologia, buscando a
emancipação absoluta de todos os As sociedades modernas ancoram-se
tipos de opressão e dominação, ao fundamentalmente no encobrimento do
articular interdisciplinarmente outro através da perspectiva racial, na
cultura, política e economia de qual as diferenças são transformadas em
maneira a construir um campo desigualdades a partir da hierarquização
totalmente inovador de pensamento como maneira de avaliar os indivíduos.
que privilegie os elementos Os Estados nacionais, herdeiros dessa
epistêmicos locais em detrimento
concepção racialista, empreenderam a
dos legados impostos pela situação
colonial (REIS; ANDRADE, 2018,
criação de mecanismos de controle
p. 3). fundamentados na ideia de raça.

A perspectiva decolonial centra-se não Nesta perspectiva, o conceito de raça


necessariamente nos mecanismos de passa paulatinamente do campo das
controle engendrados pela colonialidade, ciências naturais para as ciências
tais como o biopoder, o poder disciplinar humanas modernas – especialmente a
e a necropolítica, mas empreende um antropologia, cujo trabalho etnográfico
discurso emancipatório das condições de consistia na catalogação das várias
dominação. Não obstante as reflexões “culturas” e “raças” consideradas
decoloniais estejam inacabadas, exóticas. O colonialismo não somente se
enquanto campo discursivo, seu esforço beneficiou dessas “descrições”
envolve constituir mecanismos de antropológicas como também, partindo
resgate da cultura soterrada pelas delas, implementou o seu plano de
imposições coloniais. dominação sobre essas “culturas
exóticas”.
No campo brasileiro, o projeto decolonial
implica no resgate da epistemologia Hodiernamente a colonialidade do poder
negra fortemente encoberta pelos saberes empreende um caminho similar,
eurocentrados. Para tanto, faz-se inclusive colocando em marcha os
necessária a insurreição contra os mecanismos necropolíticos
paradigmas eurocêntricos responsáveis transformando os sujeitos racializados
pela disseminação do racismo nas suas em máquinas-não-homens à medida que
diferentes dimensões, mas especialmente os Estados nacionais – especificamente o

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brasileiro, neste caso – reserva essas _________. Vigiar e Punir: Nascimento da
populações às condições de convívio Prisão. Petrópolis: Vozes, 2020.
diário com a possibilidade de morte num G1. Decisão em que juíza de Campinas diz que
estado de guerra nas periferias. réu não tem 'estereótipo padrão de bandido'
viraliza. In: G1 Notícias. Campinas/SP. 01 mar.
Biopoder, necropolítica e colonialidade 2019. Disponível em:
articulam-se na perspectiva do não https://g1.globo.com/sp/campinas-
reconhecimento das populações negras, regiao/noticia/2019/03/01/decisao-onde-juiza-
de-campinas-diz-que-reu-nao-tem-estereotipo-
submetendo-as à situação de padrao-de-bandido-viraliza.ghtml. Acesso em:
subcidadania. Esses mecanismos 07 set. 2020.
“alienígenas” que não surgem do nada,
MBEMBE, Achille. Crítica da Razão Negra.
mas originam-se da dimensão estrutural Tradução de Marta Lança. Lisboa: Antígona,
do racismo, cujo espírito desdobra-se nos 2014.
comportamentos individuais e coletivos. __________. Necropolítica: biopoder,
Assim, a necropolítica patrocinada pelo soberania, estado de exceção, política da morte.
Estado e manifestada na dimensão São Paulo: n-1 Edições, 2018.
institucional do racismo é resultante do MUNANGA, Kabengele. Uma abordagem
racismo estrutural – como também o é o conceitual das noções de raça, racismo,
comportamento individual racista. identidade e etnia. In: Programa de educação
sobre o negro na sociedade brasileira. Niterói:
Portanto, considerando a complexidade EDUFF, 2004.
das teias que envolvem a dimensão
QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder e
estrutural do racismo no Brasil, classificação social. In: SANTOS, Boaventura;
concluímos que o pensamento decolonial MENEZES, Maria Paula (Orgs.).
poderá (in)surgir como elemento Epistemologias do Sul. São Paulo: Cortez, 2010.
essencial de contra-investida a esses REIS, Maurício de Novais. Ensino de Filosofia:
paradigmas racistas. do universo eurocêntrico ao pluriverso
epistêmico. Porto Alegre: Editora Fi, 2020.
REIS, Maurício de Novais; ANDRADE,
Referências Marcilea Freitas Ferraz de. O pensamento
ALMEIDA, Sílvio Luiz de. O que é racismo decolonial: análise, desafios e
estrutural. Belo Horizonte: Letramento, 2018. perspectivas. Revista Espaço Acadêmico, v. 17,
n. 202, p. 01-11, 10 mar. 2018.
BALANDIER, Georges. A Situação Colonial:
abordagem teórica. Cadernos Ceru v. 25, n. 1, RISÉRIO, Antônio. A utopia brasileira e os
dezembro 2014. movimentos negros. São Paulo: Editora 34,
2012.
BARROS, José D’Assunção. Igualdade,
desigualdade e diferença: contribuições para uma SCHWARCZ, Lília. Racismo no Brasil: quando
abordagem semiótica das três noções. In: Revista a inclusão combina com exclusão. In:
de Ciências Humanas, Florianópolis, EDUFSC, BOTELHO, André; SCHWARCZ, Lília. (Orgs.).
n. 39, p. 199-218, abril de 2006. Cidadania, um projeto em construção:
minorias, justiça e direitos. 1. ed. São Paulo:
DUSSEL, Enrique. 1492: o encobrimento do Claro Enigma, 2012.
outro (a origem do mito da modernidade).
Petrópolis: Vozes, 1993. SOUSA, Jessé. Subcidadania brasileira: para
entender o país além do jeitinho brasileiro. São
FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade: Paulo: LeYa, 2018.
curso no Collége de France (1975-1976).
Tradução de Maria Ermantina Galvão. São Paulo:
Martins Fontes, 1999. Recebido em 2020-09-25
Publicado em 2021-09-01

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