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Comentarios Ola, pessoal! Sejam bem-vindos(as) 4 nossa Rodada 50.2022 das Sentengas Federais do Emagis! Vamos a analise de cada tépico pertinente a sentenga do caso apresentado. 1-RELATORIO Dispensado pelo enunciado Il- FUNDAMENTAGAO 114 Preliminares 11.1.4 Da auséncia de interesse processual A ré alega auséncia de interesse de agir ao argumento de que em nenhum momento da condugdo do inquérito civil, que precedeu a propositura da presente aco civil publica e a instrui, houve a tentativa de celebragdo de termo de ajustamento de conduta. Sem razao a demandada. ‘A celebragaio de termo de ajustamento de conduta 6 uma faculdade que assiste ao Ministério Publico (art. 5°, § 6°, da Lei 7.347/85), nado Tepresentando direito subjetivo do particular interessado em celebra-lo muito menos condicionante para 0 ajuizamento da agao civil publica, devendo ser prestigiado o principio da inafastabilidade do controle jurisdicional (CF, art. 5°, XXXV). Ademais, quanto a associagdo autora, ndo 6 demais lembrar que, nos termos do art. 232 da CF, Os indios, suas comunidades e organizagoes so partes legitimas para ingressar em juizo em defesa de seus direitos 6 interesses, intervindo o Ministério Publico em todos os atos do processo, algo que é reforgado pelo art. 37 da Lei 6.001/73 (“Os grupos tribais ou comunidades indigenas sao partes legitimas para a defesa dos seus direitos em juizo, cabendo-Ihes, no caso, a assisténcia do Ministério Publico Federal ou do 6rgdo de protegao ao indio.”). Preliminar rejeitada. 11.1.2 Da litispendéncia Aduz a demandada que haveria litispendéncia entre a presente agao civil publica e ago popular, em curso na mesma Vara, proposta pelo cidadéo Joao da Silva, anteriormente ago civil publica, com 0 objetivo Unico de anulacao do processo de licenciamento do linhao de transmissao por estar em terra indigena. Razao no Ihe assiste. Consoante 0 art. 337, § 1°, do CPC, verifica-se a litispendéncia ou a coisa julgada quando se reproduz agao anteriormente ajuizada. Com efeito, 0 reconhecimento da litispendéncia pressupée a “triplice identidade” entre partes, pedido e causa de pedir: “(...) 1. Nos termos da jurisprudéncia desta Corte Superior, verificar-se-4 a litispendéncia quando constatada a triplice identidade entre as ages, ou seja, identidade de partes, causa de pedir e pedido. 1.1, Conforme assentado pelo Tribunal de origem, inexiste, na hipdtese, a triplice identidade entre as agGes, o que enseja a improcedéncia da tese de litispendéncia. (...) (Agint no Agint nos EDcl no AREsp n. 2.028.715/SC, relator Ministro Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma, julgado em 3/10/2022, DJe de 5/10/2022.) No presente caso, as partes que integram as relagdes processuais em cotejo so diversas. Nao bastasse, a causa de pedir e 0 pedido tampouco se confundem, sendo certo, como reconhece a prépria requerida, que a agao popular tem por objetivo Unico a anulagao do processo de licenciamento do linhao por estar em terra indigena, ao passo que nesta agao civil publica nao ha qualquer pedido relacionado a anulagao do aludido processo de licenciamento. Prefacial rechacada. 11.1.3 Da ilegitimidade ativa da Associagao Mborevi-Ry Luta e Vida do Povo Guarani Kaiowa Suscitou a ré a ilegitimidade da Associagao autora, uma vez que, conforme se verifica de seus estatutos, foi constituida ha menos de 1 (um) ano. De fato, 0 art. 5°, V, ‘a’, da Lei 7.347/85 exige, como regra, que as associagées estejam constituidas ha pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil para que possuam legitimidade a propositura de agées civis publicas. Nada obstante, 0 § 4° desse mesmo art. 5° estatui que 0 requisito da pré- constituigio podera ser dispensado pelo juiz, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimens4o ou caracteristica do dano, ou pela relevancia do bem juridico a ser protegido. No caso, hé manifesto interesse social na verificagdo em torno dos alegados danos materiais e morais provocados a comunidade indigena em foco e ao meio ambiente, sendo inegavel a relevancia constitucional dos bens juridicos protegidos (CF, arts. 225 e 231). Desse modo, plenamente justificavel a dispensa do requisito temporal atinente & pré-constituigao da associagao autora, na forma do art. 8°, § 4°, da Lei 7.347/85, reconhecendo-Ihe, portanto, legitimidade para o ajuizamento da presente aco civil publica. Preliminar que se rejeita. 1.1.4 Da inadequago do pedido de anulacao do contrato de concessao de servigo publico Pedem os autores a anulagao do contrato de concessao de servigo piiblico celebrado entre a ré EMPRESA DE ENERGIA ELETRICA SULMATOGROSSENSE — ENESMA e a Unido. Todavia, 0 pedido em tela foi veiculado, inadequadamente, somente em destavor da ENESMA, sem que a pretenséo tenha sido deduzida em desfavor da Unido, que é quem celebrara 0 contrato de concessao cuja anulagao se requer. Nesse contexto, verifica-se a inadequagao do pedido de anulagao do contrato de concess4o, porquanto nao dirigido contra a Unido, que sequer fora indicada para figurar no polo passivo da demanda, o que impée, no ponto, a extingéo do processo sem resolugao do mérito, por falta de interesse processual (CPC, art. 485, VI), no seu binémio utilidade-adequagao. 11.2 Mérito 11.2.1 Da prejudicial de mérito: prescrigao A ré argumenta ter ocorrido a prescrigéo em razdo de que o Decreto que reconheceu a regio como terra tradicionalmente ocupada por indigenas data de 15/5/2016 e a acao foi proposta em 30/06/2021. A tese nao merece guarida. Consoante o art. 231, § 2°, da Carta Magna, as terras tradicionalmente ocupadas pelos indios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes 0 usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes. Por outro lado, o § 4° do mesmo comando constitucional consagra a imprescritibilidade dos direitos em tela, 0 que afasta a aplicagao, ao caso, do prazo prescricional disposto no art. 1° do Decreto 20.910/32. Nao bastasse, sabe-se que a demarcacao de terras indigenas tem natureza declaratéria (ou seja, com efeitos ex nunc, retroativos), e no meramente constitutiva. De mais a mais, é unissono o magistério jurisprudencial na linha de que os danos ambientais também sao acobertados pelo manto da imprescritibilidade: (..) IMPRESCRITIBILIDADE DA PRETENSAO REPARATORIA AMBIENTAL 2. E assente no STJ que a agdo de reparac&o de dano ambiental é& imprescritivel, notadamente pelo carater continuado da degradagao do meio ambiente e pela indisponibilidade do direito tutelado. Nesse sentido: REsp 1.081.257/SP, Rel. Ministro Og Fernandes, Segunda Turma, DJe 13.6.2018; AgRg no REsp 1.466.096/RS, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 30.3.2015; AgRg no REsp 1.421.163/SP, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, Due 17/11/2014; REsp 1.120.117/AC, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, DJe 19.11.2009; REsp 647.493/SC, Rel. Ministro Joao Otavio de Noronha, Segunda Turma, DJ 22.10.2007; e REsp 1.559.396/MG, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 19.12.2016. 3. Esse também é 0 entendimento consolidado no Ambito do Supremo Tribunal Federal, que no julgamento do Tema 999 de Repercussdo Geral, fixou a seguinte tese: "E imprescritivel a pretensdo de reparagao civil de dano ambiental" (RE 654.833/AC, relator Ministro Alexandre de Moraes, j. 20.4.2020). (...) (REsp n. 1.321.992/RS, relator Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 6/4/2021, DJe de 17/12/2021) 11.2.2 Do mérito propriamente dito A questo central debatida na presente acao civil publica cinge-se ao Teconhecimento de dever indenizatério e de obrigagdes de fazer relativamente a serviddo administrativa que ensejou a instalagdo de linhas de transmissao de energia elétrica na terra indigena indicada na exordial (cite-se que o art. 20, § 1°, ‘d’, do Estatuto do Indio prevé a possibilidade de a Unido intervir em Area indigena para a realizagao de obras publicas de interesse nacional). Servidao administrativa, como se sabe, ¢ 0 direito real public que permite a utilizagao da propriedade alheia pelo Estado (ou por seus delegatarios, como no caso) com a finalidade de atendimento ao interesse publico, tendo previsdo legal no art. 40 do Decreto-Lei 3.365/41 Assim como ocorre na classica servidao do direito privado, pode-se identificar, na servidao administrativa, um “prédio” dominante (que, na servidao publica, pode ser a necessidade de um servico de utilidade publica, como se deu na espécie, em que a serviddo administrativa fora instituida em razo do servico publico de fornecimento de energia elétrica a populagao) e o prédio serviente (sempre bens iméveis). Quanto ao seu objeto, em regra, a servidao administrativa envolve obrigago de tolerancia ou de nao fazer (obrigagao negativa); eventualmente, no entanto, pode trazer obrigagées positivas (ex.: limpar 0 terreno ou podar Arvores, em razao de um prédio publico dominante, e, nao, de um interesse publico genérico, como ocorre na limitacao administrativa). Na espécie, nitidamente, tém-se somente obrigagSes de tolerancia quanto a instalagao de tede de transmissao de energia elétrica no prédio serviente (terra indigena).. No que tange a sua instituigdo, a servidéo administrativa pode ser instituida pelo Poder Publico ou por seus delegatarios (nesse caso, desde que haja autorizagao legal ou negocial, como em um contrato de concessao, por exemplo), mediante acordo ou sentenga judicial (inclusive ante o reconhecimento da usucapiao). O procedimento utilizado deve ser andlogo a0 procedimento exigido para a desapropriagao, ja que a servidao administrativa tem previsdo no art. 40 da Lei Geral de Desapropriagdes (Decreto-Lei 3.365/41). Especificamente no que tange a sua indenizabilidade, embora o art. 40 do Decreto-lei 3.365/41 fale em constituigdo de servidées "mediante indenizagao", a doutrina entende, majoritariamente, que o pagamento de indenizacao ao proprietario do bem serviente esta na dependéncia da comprovagao de prejuizo. No presente caso, nao se evidenciou a existéncia de auténtico prejuizo na instituigao de servidao administrativa para a instalacao das linhas de transmissao de energia elétrica na terra indigena em testilha, que justificasse © pagamento da ingente indenizacao (ou “contraprestagao financeira’) de R$ 10.000.000,00 (dez milhGes de reais) pleiteada na pega vestibular, pelo uso da area atingida. Com efeito, as linhas de transmissao nao impediram 0 uso normal da propriedade pelos indigenas, que continuaram a explorar a agricultura no local, da mesma forma que ja era feito anteriormente a instalagao da rede elétrica. Nao ha falar, pois, em impedimento ao uso da propriedade a justificar 0 pagamento da indenizagao ou contraprestagao financeira reclamada De outro giro, ndo ha fundamento juridico para a pretendida modificaco do tragado adotado pelas linhas de transmissao em discussao. Deveras, vé-se que houve o devido licenciamento ambiental e a realizagdo de Estudo de Impacto Ambiental e Relatorio subsequente (EIA/RIMA), no bojo do qual foram analisados 3 (trés) possiveis tragados e escolhido aquele que menor impacto traria ao meio ambiente, na medida em que recaira sobre rea ja desmatada pela populagao indigena com vistas a exploragao da agricultura. Nesse compasso, a presungao de legitimidade e de veracidade que acompanha 0 ato administrative néo fora derrubada pelas provas apresentadas pelos autores da presente aco civil publica, tampouco pela prova pericial produzida sob o palio do contraditério judicial, a qual nao confirmou qualquer nexo de causalidade entre os pretensos problemas dermatolégicos causados as criangas indigenas e as ondas eletromagnéticas geradas pelas linhas de transmissao (frise-se que nada nos autos sugeria, em algum momento, o descumprimento do limite estabelecido no art. 4° da Lei 11.934/09). Ainda que se saiba que, pelo principio da precaugao, a duvida deve militar em pro! da protegdo da saude humana, fato é que, no presente caso, sequer ha duvida séria e cientificamente demonstravel acerca do suposto prejuizo a satide de criangas indigenas. Igualmente, é de se frisar que a prova pericial afastou os alegados danos 4 avifauna e o problema suscitado em relacdo as aves de rapina, ao mesmo tempo em que confirmou que 9 licenciamento ambiental ja previra medidas compensatérias e mitigadoras adequadas, no ponto. Outrassim, embora nao se negue o dever estatal de franquear consulta prévia 8s comunidades indigenas atingidas por medidas legislativas ou administrativas suscetiveis de afeta-los diretamente — por forga do art. 6° da Convengao n° 169 da Organizacao Internacional do Trabalho (OIT), internalizada ao direito patrio por meio do Decreto n° 5.051/2004, posteriormente revogado pelo Decreto n° 10.088/2019, que consolidou os atos normativos relacionados a convengdes e recomendacées da OIT ratificadas pelo Brasil (lembre-se, também, o caso Saramaka vs. Suriname, em que a Corte Interamericana de Direitos Humanos ratificou esse dever de consulta prévia, livre e informada, bem como a decis&o proferida pelo Ministro Alexandre de Moraes no RE 1.379.751, referente ao caso “Usina Belo Monte”, em que também se reafirmou a necessidade de que essa consulta seja prévia e efetiva, endo meramente “simbdlica’) -, nota-se que 0 processo de licenciamento ambiental oportunizou a realizado de debates em sede de Audiéncia Publica, dos quais participaram liderangas indigenas que concordaram com o tragado escolhido [alids, registre-se que no emblematic caso “Raposa Serra do Sol’ — Pet 3388 - 0 Supremo Tribunal Federal chegou inclusive a ressalvar essa necessidade de consulta em alguns casos, como se deu na Salvaguarda n. V, assim redigida: “a instalagao de bases, unidades € postos militares e demais intervengées militares, a expansao estratégica da malha viaria, a exploragao de alternativas energéticas de cunho estratégico e © resguardo das riquezas de cunho estratégico, a critério dos 6rgaos competentes (Ministério da Defesa e Conselho de Detesa Nacional), serio implementados independentemente de consulta as comunidades indigenas envolvidas ou 4 FUNA\"]. De mais a mais, ndo se pode perder de perspectiva — sob a éptica da andlise econémica do Direito (Law and Economics) - 0 fato de que o custo para a alteragao pretendida seria de R$ 20.000.000,00 (vinte milhdes de reais), consoante apontado na pericia, ao mesmo tempo em que a retirada das linhas de transmissdo impactaria o fornecimento de energia elétrica a toda a populagao da vizinhanga. Noutras palavras, afora néo haver fundamento juridico para justificar a modificagao de tragado pleiteada na petigao inicial, 0 interesse piiblico indica que a manutengdo das linhas de transmissao é a medida mais adequada ao caso concreto, sem prejuizo, como se veré a seguir, da adogao de novas medidas compensatorias e mitigadoras a fim de que se equacione melhor a necessidade de distribuigao de energia elétrica populagao e o dever indeclinavel de protecao ao povo indigena e ao meio ambiente. Sobre a matéria, colacionamos 0 seguinte julgado: AMBIENTAL. AGAO POPULAR. CONVENIO CHESF/COELCE CONSTRUGAO DE LINHAS DE TRANSMISSAO DE ENERGIA ELETRICA EM FORTALEZA. REGULARIDADE DO CONVENIO. INEXISTENCIA DE ATO LESIVO AO PATRIMONIO PUBLICO. EFEITOS NOCIVOS DOS CAMPOS ELETROMAGNETICOS AO MEIO AMBIENTE & A SAUDE DA POPULAGAO. INEXISTENCIA DE PROVAS DOS POSSIVEIS DANOS ALEGADOS. 1. Remessa oficial em face da sentenga que julgou improcedente a aco popular em que se pleiteia a anulagdo do convénio firmado entre a CHESF e a COELCE, por suposta lesdo 20 patriménio publico, bem como a nao continuidade da instalagao de linhas de transmissao de energia elétrica em Fortaleza, sob pena de expor a populagao a problemas de saiide, afetando 0 meio ambiente. 2. Auséncia de irregularidades na celebragdo do convénio CHESF/COELCE, jd que inexistem provas que apontem dano ao patriménio puiblico. 3. Inexiste comprovagao dos possiveis danos ao meio ambiente e a saude publica capazes de ensejar a paralisagao da instalagao dos "linhdes” de energia elétrica, mormente se levado em considerago o elevado interesse sécio-econémico com a construgao da obra. 4, Remessa oficial a que se nega provimento. (PROCESSO: 200181000006671, APELAGAO CIVEL, DESEMBARGADOR FEDERAL MARCELO NAVARRO, 3* TURMA, JULGAMENTO: 17/05/2012, PUBLICAGAO: 22/05/2012) Nao custa rememorar, também, que 0 STF, no ja referido caso “Raposa Serra do Sol”, definiu, entre as 19 (dezenove) salvaguardas, que “o usufruto dos indios nao impede a instalacdo, pela Unido Federal, de equipamentos publicos, redes de comunicagao, estradas e vias de transporte, além das construgées necessérias @ prestacao de servigos publicos pela Unido, especialmente os de sade e educacao’ (Salvaguarda n. VII). Se por um lado nao se justifica a transferéncia das linhas de transmissao para drea externa a terra indigena, por outro ndo se pode ignorar o quanto revelado pela prova pericial acerca dos prejuizos ocasionados as atividades religiosas e espirituais da populacao indigena que habita a area, bem como os danos provocados a espécies de aves ameagadas de extingao. De fato, a pericia confirmou que houve comprometimento a locais sagrados que nao foram considerados no licenciamento ambiental, ao arrepio, portanto, do que preceitua o art. 231, caput, da Lei Maior, que garante aos indios sua organizagao social, costumes, linguas, crengas e tradi¢des. Indicou, como medida mitigadora apropriada ao caso, a construgao de barreira aciistica que permita aos indigenas as suas ceriménias religiosas com a tranquilidade necessdria ao exercicio do seu sagrado direito de crenga, Haurindo a concessionaria do servigo publico os bénus advindos da exploragao do servigo puiblico, deve, pari passu, arcar com os énus advindos da necessidade de respeito ao Texto Constitucional, particularmente no que diz respeito a esse direito fundamental que assiste a comunidade indigena, cumprindo-Ihe, portanto, promover a construgao da barreira actistica no Linhdo 13, nos moldes preconizados pela prova pericial. Do mesmo modo, a pericia colocou em evidéncia o risco concreto de morte de aves em extingao — particularmente a arara-azul grande e a codorna buraqueira — e a necessidade de ctiag&o de santuario na borda vizinha a area indigena, obrigagao que também recai sobre a concessionaria ré como forma de equilibrar o interesse na instalacao das linhas de transmissao € 0 direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial a sadia qualidade de vida (CF, art. 225, caput). Como se percebe, tais obrigagées de fazer devem ser imputadas a ré, quadrando afastar, desde logo, a tese defensiva no sentido de uma suposta impossibilidade de fixagao de astreintes para assegurar 0 seu cumprimento, uma vez que nao apenas a legislagao contempla expressamente a aplicacao de multa para esse desiderato (CPC, art. 536, § 1°) como também a jurisprudéncia é assente em admitir a sua imposigéo em desfavor de concessionarias de servigos piblicos, podendo alcangar, alias, até mesmo pessoas juridicas de direito puiblico. Quanto aos alegados danos materiais associados producao agricola e a reposigao de animais domésticos, nao merece prosperar a tese autoral Deveras, mesmo que nao se tenha duvida de que a concessionaria de servigo publico responde objetivamente (a luz da teoria do risco administrative, consagrada no art. 37, § 6°, da CF, e considerado também o art. 25 da Lei 8.987/95, segundo o qual “Incumbe a concessionaria a execugao do servic¢o concedido, cabendo-Ihe responder por todos os prejuizos causados ao poder concedente, aos usuarios ou a terceiros, sem que a fiscalizagao exercida pelo 6rgéo competente exclua ou atenue essa responsabilidade."), a prova pericial nao confirmou a existéncia de nexo de causalidade entre a obra piiblica realizada ¢ os pretensos prejuizos ligados ao aumento dos custos com insumos e Agua necessarios ao cultivo de tubérculos na area em que instaladas a rede de transmissdo. Da mesma forma, a petigao inicial somente trouxe documento sobre essa elevacdo de custos e quanto a reposigao de animais domésticos, sem indicar provas que delineassem o nexo de causalidade entre tais prejuizos e a instalagdo das linhas de transmissao. Gize-se que a elevacao de custos com a atividade agricola pode decorrer dos mais diversos fatores — questées climaticas, problemas ligados a perda de qualidade do solo etc. -, 20 mesmo tempo em que a reposigao de animais domésticos (cachorros, galinhas, perus e gatos, como narrado na peti¢ao inicial) é algo natural, nao tendo sido comprovado que essa reposigao tenha sido ensejada pela colocagdo em operagao dessas linhas de transmisséo, muito pelo contrario. De outro turno, ha danos morais coletivos que devem ser indenizados pela concessionaria ré (ndo se olvide que, segundo a ratio da Sum. 629 do STJ, é admissivel a cumulagao de obrigagao de fazer ou nao fazer com obrigagao de indenizar, em agées civis ptblicas). De logo, cumpre afastar a tese defensiva de que nao haveria amparo legal para a indenizacao por danos morais coletivos, uma vez que a Constituigao Federal consagra a indenizabilidade do dano moral (CF, art. 5°, X) sem distingui-lo em seu carater individual ou coletivo e, sobretudo, porquanto o magistério jurisprudencial, atualmente, é firme em reconhecer o cabimento desse tipo de indenizagao em situacao nas quais se verifique grave afronta a interesses e direitos da coletividade. Na matéria, confiram-se, por todos, os seguintes precedentes: AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL - AGAO CIVIL PUBLICA - DECISAO MONOCRATICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMO. IRRESIGNAGAO RECURSAL DA RE. 1. Nos termos da jurisprudéncia do Superior Tribunal de Justiga, 6 possivel a condenagao em danos morais coletivos em sede de agao civil publica Incidéncia da Sumula 83 do STV. (...) (Agint no REsp n. 1.877.664/PR, relator Ministro Marco Buzzi, Quarta Turma, julgado em 24/10/2022, DJe de 27/10/2022) (..) 7. A jurisprudéncia do Superior Tribunal de Justiga é pacifica quanto a possibilidade de condenagao por danos morais coletivos sempre que constatada pratica ilicita que viole valores e interesses fundamentais de uma coletividade. Nesse sentido: Precedentes: REsp 1.586.515/RS, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, Due 29/5/2018; REsp 1.517.973/PE, Rel Ministro Luis Felipe Salomao, Quarta Turma, DJe 1%/2/2018; REsp 1.487.046/MT, Rel. Ministro Luis Felipe Salomao, Quarta Turma, DJe 16/5/2017; EREsp 1.367.923/RJ, Rel. Min. Joao Otavio de Noronha, Corte Especial, Due 15/03/2017; AgRg no REsp 1.529.892/RS, Rel. Ministra Assusete Magalhaes, Segunda Turma, DJe 13/10/2016; REsp 1.101.949/DF, Rel. Ministro Marco Buzzi, Quarta Turma, DJe 30/5/2016; AgRg no REsp 1.283.434/GO, Rel. Ministro Napoleéo Nunes Maia Filho, Primeira Turma, DJe 15/4/2016: AgRg no REsp 1.485.610/PA, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 29/2/2016; AgRg no REsp 1526946/RN, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 24/9/2015; AgRg no REsp 1.541.563/RJ, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 16/9/2015; REsp 1.315.822/RU, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma, DJe 16/4/2015; REsp 1291213/SC, Rel. Ministro Sidnei Beneti, Terceira Turma, DJe 25/9/2012; REsp 1221756/RJ, Rel. Ministro Massami Uyeda, Terceira Turma, De 10/2/2012 (...) (REsp n. 1.820.000/SE, relator Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 17/9/2019, DJe de 11/10/2019) Ede se notar, na andlise da existéncia de danos morais coletivos no caso em aprego, que a alegagao de que haveria frequentes manutengGes nas torres de transmissao que prejudicariam a tranquilidade de mulheres e criangas nao esta escorada em qualquer base probatoria. Bem ao revés, 0 que se tem é a indicagéo de que as manutengdes ocorreriam somente de forma bienal, mediante aviso prévio de 1 (um) més e sem colidir com datas de celebragées religiosas pela comunidade indigena, somente sendo dispensado esse aviso prévio em situagées emergenciais que justificam tal dispensa para que nao se prejudique o interesse publico nem reste em risco a propria integridade dos indigenas. Nada obstante, a prova pericial demonstrou que a instalagao das linhas de transmissdo comprometeu os locais sagrados @ 0 correlato exercicio do direito fundamental de crenga que assiste ao povo indigena, o que representa significativo abalo & dimensdo religiosa e espiritual da comunidade atingida. Mesmo que a pericia tenha indicado que inexistiriam parametros para a valoragao do dano cultural imaterial, € certo que isso nao representa dbice ao arbitramento de indenizagdo como medida de compensagao pelo dano moral coletivo provocado pelo servico promovido pela concessionaria ré. Na quantificagéo desse dano, o magistério jurisprudencial recomenda atengao aos principios da proporcionalidade e da razoabilidade, a fim de que a medida nao represente nem enriquecimento ilicito, nem desmesurado e injustificado comprometimento do patriménio do ofensor, podendo ser levado em conta, ainda, 0 efeito pedagégico de que se reveste esse tipo de condenacao (exemplary damages). A luz de tais vetoriais, fixo 0 dano moral coletivo em R$ 1.000.000,00 (um milhao de reais), considerando, sobretudo, a gravidade da ofensa ao direito fundamental de crenga que é& constitucionalmente assegurado aos indigenas, bem como o longo periodo em que esse comprometimento dos locais sagrados se perpetuou. De resto, quadra pontuar que o encargo atinente ao pagamento dos honordrios periciais nao pode ser imposto a parte ré porquanto a prova fora solicitada pelos autores, notadamente pelo Ministério Publico Federal, de modo que, na linha da jurisprudéncia consagrada pelo Superior Tribunal de Justiga, 0 énus em foco deve ser atribuido 4 Unido, uma vez que o parquet federal & 6rgao que integra esse ente federativo: (...) 1A Primeira Segdo do STJ, sob 0 rito dos recursos dos recursos repetitivos, firmou a tese no sentido de que os valores dos honorarios periciais devem ser suportados pela Fazenda Publica a qual se ache vinculada a parte autora da agdo civil publica, em aplicagao analégica da Sumula 232/STJ (REsp 1253844/SC, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA SECAO, julgado em 13/03/2013, Due 17/10/2013). 2. As Turmas de Direito Publico do STJ entendem que, mesmo na vigéncia do CPC/2015, cabe a Fazenda Publica arcar com 0 adiantamento dos honorarios de pericia requerida pelo Ministério Publico em sede de ago civil publica (Agint no RMS 55.757/SP, Rel. MIN. MANOEL ERHARDT (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF-5? REGIAO), PRIMEIRA TURMA, DJe 29/04/2021; Agint no AREsp 1768468/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, DJe 01/07/2021; Agint no RMS 59.106/SP, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA, DJe 21/03/2019; Agint no RMS 56.423/SP, Rel. Ministra ASSUSETE MAGALHAES, SEGUNDA TURMA, DJe 12/09/2018). 3. A existéncia de posicionamento monocratico e isolado do Supremo Tribunal Federal, em sentido contrario ao da jurisprudéncia desta Corte, nao configura a superagao dos precedentes elencados pela decis4o agravada, tampouco caracteriza violagao a clausula de reserva de plenario. 4, Agravo interno nao provido. (Agint no AREsp n. 2.028.790/R\, relator Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 17/10/2022, DJe de 19/10/2022) Ill - DISPOSITIVO Finalizamos com uma sugestao de dispositivo para 0 caso julgado nesta rodada semanal: “Esse o quadro: a) julgo extinto o proceso, sem resolugao do merito, no que tange ao pedido de anulacao do Contrato de Concessao n. 25, de 30/11/1970, forte no art. 485, VI, do CPC; b) resolvo 0 mérito do processo (CPC, art. 487, I) e julgo parcialmente procedentes os pedidos articulados, para o fim de: b.1) determinar a ré EMPRESA DE ENERGIA ELETRICA SULMATOGROSSENSE — ENESMA que execute a construgao de barreira acustica no Linhdo 13 a fim de mitigar 0 comprometimento dos locais sagrados e do exercicio do direito fundamental de crenca pelos indios atingidos pelas linhas de transmissao de energia elétrica instaladas na terra indigena descrita na petigao inicial, na forma como previsto pela prova pericial produzida durante a instrugao processual; ; b.2) determinar a ré EMPRESA DE ENERGIA ELETRICA SULMATOGROSSENSE — ENESMA que promova a criagao de santuario na borda vizinha a érea indigena como medida compensatéria pelo risco de dbito de espécies em extingao, especialmente a arara-azul grande e a codorna buraqueira, na forma estabelecida pela prova pericial produzida durante a instrugdo processual; b.3) condenar a ré EMPRESA DE ENERGIA ELETRICA SULMATOGROSSENSE ~ ENESMA ao pagamento de indenizagao a titulo de danos morais coletivos, no valor de R$ 1.000.000,00 (um milhao de reais), acrescido de juros moratérios de 1% ao més (art. 406 do Cédigo Civil c/c art. 161, § 12, do CTN) a contar da data do evento danoso (Stmula 54 do STJ) e com atualizagao a partir da data desta sentenga (Simula 362 do STJ) pela taxa SELIC (art. 406 do Cédigo Civil c/c art. 13 da Lei 9.065/95), que englobara juros e corregdo monetaria. Cabera a ré apresentar plano de cumprimento das obrigagées de fazer acima determinadas, no prazo de 30 (trinta) dias apés o transito em julgado, sob pena de multa diaria no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais). Apés a apresentacao desse plano, na fase de cumprimento de sentenga, seréo fixados os prazos relativos 4 sua implementagao, de acordo com a complexidade das obras necessarias a efetivagao das obrigacdes em tela. © valor objeto da condenag&o mercé dos danos morais coletivos sera destinado ao Fundo de Defesa de Direitos Difusos (FDD), na forma do art. 13 da Lei 7.347/85, devendo ser aplicados em projetos de interesse publico a serem implantados em prol da populacao indigena envolvida com o objeto dos presentes autos. Deixo de condenar os autores ao pagamento de custas porquanto nao configurada litigancia de ma-fé (art. 18 da Lei 7.347/85). Condeno a ré ao pagamento das custas processuais e dos honorarios periciais, na proporgao de 30% do seu montante, em prol da Unido (art. 1° da Lei 9.289/96). Deixo de condenar a ré ao pagamento de honorérios advocaticios em favor do Ministério PUblico Federal, em obséquio ao art. 18 da Lei 7.347/85, aplicavel por simetria. Condena-a, contudo, ao pagamento de honorarios advocaticios em prol da autora ASSOCIAGAO MBOREVI-RY LUTA E VIDA DO POVO GUARANI KAIOWA, fixados em 10% sobre o valor da condenagao (art. 85, § 2°, do CPC), sendo oportuno aclarar, na esteira de precedentes do STJ, que a dispensa ao pagamento de honorarios advocaticios pela aplicagao simétrica do art. 18 da Lei 7.347/85 nao pode ser acionada quando a vencedora na lide for associagao privada, sob pena de desestimular 0 ajuizamento de agées civis publicas por esse tipo de associagao. Intime-se a Unido para que promova 0 adiantamento dos honorérios periciais fixados na decisdo que determinou a realizagao da prova pericial, sem prejuizo do reembolso, pela parte r8, do quinhao acima indicado (30%). Sentenga sujeita a reexame necessdrio em relagao aos pedidos julgados improcedentes, por forga do art. 19 da Lei 4.717/65, regra especial que rege © microssistema da tutela coletiva de direitos. Interposto recurso de apelagao, observe a Secretaria os procedimentos inscritos nos §§ 1°, 2° e 3° do art. 1.010 do CPC. Publique-se. Registre. Intimem-se. Local, data. Assinatura Juiz Federal Substituto” Obs.1: O posicionamento da Corte Especial do STJ € no sentido de que o art. 18 da Lei 7.347/85 deve ser aplicado tanto em favor do autor quanto em prol da parte ré, de forma simétrica: PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO. EMBARGOS DE DIVERGENCIA. AGAO CIVIL PUBLICA. CONDENAGAO DA PARTE REQUERIDA EM HONORARIOS ADVOCATICIOS. AUSENCIA DE MA-FE. DESCABIMENTO. PRINCIPIO DA SIMETRIA. 1. "Em razao da simetria, descabe a condenagao em honorarios advocaticios da parte requerida em ago civil publica, quando inexistente ma-fé, de igual sorte como ocorre com a parte autora, por forca da aplicagao do art. 18 da Lei n. 7.347/1985" (EAREsp 962.250/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES, CORTE ESPECIAL, julgado em 15/08/2018, DJe 21/08/2018). 2. Sumula 168 do STJ: "Nao cabem embargos de divergéncia, quando a jurisprudéncia do tribunal se firmou no mesmo sentido do acérdao embargado" 3. Agravo interno nao provido. (Agint nos EAREsp n. 828.525/SP, relator Ministro Luis Felipe Salomao, Corte Especial, julgado em 3/10/2018, DJe de 16/10/2018.) No entanto, ha precedentes da Terceira Turma do STJ na senda de que esse entendimento nao se aplica as ages civis ptblicas propostas por associagées e fundagées privadas: “Nao se aplica as agées civis pUblicas propostas por associagées e fundagées privadas o principio da simetria na condenagao do réu nas custas € nos honorarios advocaticios. Inicialmente cumpre salientar, que a Corte Especial do Superior Tribunal de Justiga, no EAREsp 962.250/SP, fixou, quanto ao tema, a seguinte tese: “em razdo da simetria, descabe a condenagao em honordrios advocaticios da parte requerida em agao civil publica, quando inexistente ma-fé, de igual sorte como ocorre com a parte autora, por forga da aplicagao do art. 18 da Lei n. 7.347/1985". Ao analisar-se 0 inteiro teor do voto, é possivel aferir que a Unido, embargante, pretendia que prevalecesse o entendimento no sentido de que seria cabivel a condenagao em honordrios advocaticios, em agao civil publica, sendo isento de tal verba apenas o autor, salvo quando atuasse de mé-fé. Assim, a Unido pretendia a reforma do acérdao embargado, para condenar o vencido ao pagamento de honorarios advocaticios em seu favor. Para solucionar 0 caso em aprego, 0 argumento de acesso a justiga se afigura de primaz importancia. Isso porque a legitimacao da justica esta subordinada ao efetivo poder de o individuo dela se avizinhar. Dessa maneira, para se atingir a efetiva composi¢ao dos litigios, faz-se mister permitir 0 acesso, sem embaraco, ao Poder Judicidrio. Exprime-se, nesse sentido, a nogéo de acesso a justiga. Nessa linha de inteleccao, ¢ imperioso ressaltar que o entendimento proclamado no EAREsp 962.250/SP néo se aplica as agées civis publicas propostas por associagées e fundagdes privadas, pois, do contrario, barrado estaria, de fato, um dos objetivos mais nobres e festejados da Lei n. 7.347/1985, qual seja viabilizar e ampliar 0 acesso justica para a sociedade civil organizada. REsp 1.974.436-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 22/03/2022, DJe 25/03/2022. Obs.2: como nao é cabivel a correo monetaria da indenizagdo dos danos morais antes da data do arbitramento (Simula 362 do STJ), ndo ha como aplicar a taxa Selic a contar da data do evento danoso porquanto engloba juros e correcao monetaria, o que impée a aplicacao dos juros de mora (que devem incidir desde a data do evento danoso, na forma da Sumula 54 do STJ, também nessa hipdtese, segundo definiu o proprio Tribunal da Cidadania) a taxa de 1% ao més, por aplicagao do art. 406 do Cédigo Civil cic art. 161, § 1°, do CTN. Obs.3: 0 art. 465, § 5°, do CPC diz que “o juiz podera reduzir a remuneracao inicialmente arbitrada para o trabalho” quando a pericia for inconclusive ou deficiente. No caso, a pericia fora inconclusiva quanto a alguns pontos, mas entendemos que nao era caso de reducao, j4 que houve o efetivo estudo a respeito e a questo era deveras complexa (0 preceito legal em mira traz uma faculdade, nao uma obrigacao do magistrado)..

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