Você está na página 1de 17

i

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE


INSTITUTO DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA

Coesão e coerência textual


Eugenia Raimundo Samuel -708211656
Turma: N

Curso: Licenciatura em ensino de


Língua Portuguesa
Disciplina: Linguística Descritiva do
Português II
Ano de Frequência: 3º

Tutor: Mestre, Arsénio dos Aflitos Jorge Adriano.

Milange, Maio 2023


ii

Folha de Feedback
Classificação
Nota
Categorias Indicadores Padrões Pontuação
do Subtotal
máxima
tutor
 Capa 0.5
 Índice 0.5
Aspectos  Introdução 0.5
Estrutura
organizacionais  Discussão 0.5
 Conclusão 0.5
 Bibliografia 0.5
 Contextualização
(Indicação clara do 1.0
problema)
 Descrição dos
Introdução 1.0
objectivos
 Metodologia
adequada ao 2.0
objecto do trabalho
 Articulação e
domínio do
discurso académico
2.0
Conteúdo (expressão escrita
cuidada, coerência /
coesão textual)
Análise e  Revisão
discussão bibliográfica
nacional e
2.
internacionais
relevantes na área
de estudo
 Exploração dos
2.0
dados
 Contributos
Conclusão 2.0
teóricos práticos
 Paginação, tipo e
tamanho de letra,
Aspectos
Formatação paragrafo, 1.0
gerais
espaçamento entre
linhas
Normas APA  Rigor e coerência
Referências 6ª edição em das
4.0
Bibliográficas citações e citações/referências
bibliografia bibliográficas
iii

Folha para recomendações de melhoria: A ser preenchida pelo tutor

______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
_
iv

Índice
1. Introdução................................................................................................................................. 1

2. Coesão e coerência textual ....................................................................................................... 2

2.1. Coesão textual ................................................................................................................... 2

2.1.1. Coesão Referencial .................................................................................................... 2

2.1.2. Coesão Sequencial ..................................................................................................... 4

2.2. Coerência textual .............................................................................................................. 6

2.2.1. Princípios da Coerência Textual ................................................................................ 7

2.2.2. Tipos de Coerência Textual ....................................................................................... 8

2.3. Análise do texto .............................................................................................................. 10

3. Conclusão .............................................................................................................................. 12

4. Referências bibliográfica ....................................................................................................... 13


1

1. Introdução
Na interacção entre o locutor e o alocutário dá-se a produção de enunciados. Estes enunciados
constituem “produtos coesos internamente e coerentes com o mundo relativamente ao qual devem
ser interpretados.
É nesse contexto que o presente trabalho da cadeira de Linguística Descritiva do Português II fará
abordagem do assunto acima referenciando, estamos falando concretamente da Coesão e coerência
textual, tendo como base o trecho do discurso de um aluno da 8ªclasse, de uma das escolas de
uma cidade ou distrito que a seguir transcrevemos:

“Eu so Manuel, aluna da 8ªclasse na escola primária da Universidade Católica. Gosto de ler
livros, filmes, futebol, matacão. Quando era criança brincava, estudava, corria, saltava na piscina
do meu quarto na companhia dos meus filhos”.

Assim, os falantes quando usam a língua não produzem palavras isoladas, desligadas umas das
outras e do contexto situacional. Pelo contrário, tanto os produtos resultantes do uso primário da
língua na situação básica da conversa como os que resultam do uso da língua escrita em situações
não pessoais, tanto os produtos de um só locutor como os que resultam de uma actividade
colaborativa são todos objectos dotados de sentido e unidade.

Deste modo, com este trabalho pretende se na generalidade compreender o processo de coesão e
coerência textual. Para o alcance deste objectivo definimos os seguintes objectivos específicos:
descrever os vários elementos que produzem a coesão textual; Analisar um texto de acordo com os
elementos da coesão e coerência textual

Quanto ao aparato metodológico, a presente pesquisa é de natureza qualitativa. E usou-se como


técnica metodológica pesquisa bibliográfica, que procedeu-se através de leituras em manuais de
formato físico e eletrónicos que abordam a temática, cujas fontes estão devidamente indicadas na
bibliografia do presente trabalho.
Estruturalmente o trabalho apresenta: capa, folha de feedback dos tutores, índice, introdução,
metodologia, desenvolvimento, conclusão e referências bibliográficas.
2

2. Coesão e coerência textual


2.1. Coesão textual
Chamamos de “coesão” a relação entre elementos de um texto de forma a auxiliar na sua
compreensão. Desse modo, a coesão textual é um dos elementos responsáveis pela coerência
textual. Contudo, ela está limitada à estrutura do texto, pois não considera os elementos
extralinguísticos

Um dos critérios para que um texto seja compreendido como tal é a existência de coesão. Entende-
se por coesão textual ―o fenômeno que diz respeito ao modo como os elementos linguísticos
presentes na superfície textual se encontram interligados entre si, por meio de recursos também
linguísticos, formando sequências veiculadoras de sentidos (Koch, 2012, p. 45).
Isto é, através da coesão textual os elementos constituintes do texto se ligam, de forma a construir
um sentido. Esse é um processo que ocorre na superfície do texto e pode se dar por elementos
lexicais ou gramaticais.

Koch (2012) propõe a existência de basicamente dois tipos de coesão: a remissiva ou referencial e
a sequencial.

2.1.1. Coesão Referencial


Segundo Koch (2012) “Coesão referencial é aquela em que um componente da superfície do texto
faz remissão a outro(s) elemento(s) nela presentes ou inferíveis a partir do universo textual. Ao
primeiro denomino forma referencial ou remissiva e ao segundo, elemento de referência ou
referente textual” (p.31).

A Coesão referencial é responsável por evitar repetições entre as palavras e utiliza recursos
anafóricos e catafóricos, se referindo a termos que vêm antes ou depois do mecanismo de coesão,
respectivamente. São elementos de coesão referencial: artigos (definidos ou indefinidos), pronomes
adjetivos e substantivos, (demonstrativos, possessivos, indefinidos, interrogativos e relativos),
numerais (ordinais e cardinais), pronomes de 3ª pessoa, elipse, advérbios pronominais, expressões
ou grupos nominais definidos, nominalizações, expressões sinônimas, hiperónimos e hipónimos
(Antunes, 2010, p. 132).
Antunes (2011) chama de correferência, o processo de ligação semântica que ocorre entre esses
elementos e aqueles a que se referem. Todos esses elementos podem ser classificados em dois
grandes grupos, dependendo de seu lugar de ocorrência no texto. Segundo Adam, as relações de
correferência podem ser anafóricas (remetem a elementos presentes no cotexto à esquerda, isto é,
já mencionados) ou catafóricas (remetem a elementos presentes no cotexto à direita, isto é, que
serão mencionados a seguir)
3

A seguir, serão detalhados os elementos de coesão referencial, segundo Koch (2012), com
exemplos:

 Artigos: O artigo definido funciona como um elemento anafórico e o artigo indefinido


como um elemento catafórico. Ex: Depois de algum tempo, aproximou-se de nós um
desconhecido trajado de modo estranho. O desconhecido tirou do bolso do paletó um
pequeno embrulho.
 Pronomes adjetivos: Os pronomes adjetivos exercem uma função de artigo, isto é,
acompanham o nome. Ex: Há, entre outras, a hipótese de que os preços venham a
estabilizar-se. Essa hipótese me parece por demais otimista.
 Numerais: também exercem a função de artigo. Ex: Preciso de alguns alunos para
ajudarem na pesquisa. Dois alunos procederão o levantamento do corpus e três alunos
farão uma resenha da literatura pertinente.
 Elipse: É o apagamento de um elemento que fica subentendido pelo cotexto, ou seja
omissão de um item lexical recuperável pelo contexto, ou seja, a substituição por zero (0).
Pode ocorrer elipse de elementos nominais verbais e oracionais Ex: Os convidados
chegaram atrasados. (0) Tinham errado o caminho e custaram a encontrar alguém que os
orientasse.
 Nominalizações: Formas nominais derivadas de elementos da oração anterior. Ex: Os
grevistas paralisaram todas as atividades da fábrica. A paralisação durou uma semana.
 Hiperónimos/ hipónimos: São palavras que generalizam e especificam uma classe,
respectivamente. Ex1 (hiperónimo): Vimos o carro do ministro aproximar-se. Alguns
minutos depois, o veículo estacionava adiante do Palácio do Governo.
Ex2 (hipónimo): Sua doença não era grave. A gripe a deixaria em poucos dias.

Há alguns elementos que segundo Antunes (2010) garantem a coesão de um texto como:
 Correlação dos verbos: fazer a correlação correta dos verbos, ou seja, utilizar os tempos
verbais de maneira adequada também é um elemento importante para manter a coesão de
um texto
 Coesão lexical: a coesão lexical tem o objetivo de diminuir as repetições de termos dentro
de um texto. Ela pode ser feita através da reiteração ou colocação.
Exemplo 1 (colocação): Ela comprou um carro. O veículo é veloz.
Exemplo 2 (reiteração): Ex: Ela comprou um carro veloz e seguro. A velocidade e
segurança a encantaram.
4

 Coesão por elipse: ocorre por meio do apagamento de um termo na frase, sem que o
sentido seja comprometido.

Exemplo: Maria faz almoço e também conversa ao telefone.

2.1.2. Coesão Sequencial


Os elementos de coesão sequencial são responsáveis – como o próprio nome sugere – pelo
sequenciamento ou andamento do texto. Estabelecem as principais ligações entre as partes da sua
redação, de forma que a coesão textual se manifeste mais notoriamente. Entre os principais
recursos, destacam-se as frases de apoio, os termos conectivos (Portanto, dessa forma, assim) e os
ganchos semânticos.
Para Koch, coesão sequencial é aquela que:
[...] diz respeito aos procedimentos linguísticos por meio dos quais se estabelecem, entre segmentos
do texto (enunciados, partes de enunciados, parágrafos e sequências textuais), diversos tipos de
relações semânticas e/ou pragmáticas, à medida que se faz o texto progredir (Koch, 2012, p. 53).

Entre os segmentos de um texto há inúmeras relações semânticas e pragmáticas e essas relações


são percebidas quando o texto é bem projetado. Ou seja, são necessários procedimentos linguísticos
que dão ao texto a coesão sequencial que permite a fluidez e conexão necessária às partes do texto.
A interdependência nesses textos pode ser mantida a partir da sequenciação frástica ou parafrástica

Koch (2012) classifica a coesão sequencial em dois grupos: a parafrástica (com procedimentos de
recorrência) e a frástica (sem procedimentos de recorrência).
Dentre os mecanismos de coesão sequencial parafrástica estão: reiteração, paralelismo, paráfrases,
ritmo, rima, assonância, aliterações e tempos e aspectos verbais. Já quanto aos mecanismos de
coesão sequencial frástica, a autora cita os conectores, elementos de função argumentativa,
procedimentos de manutenção temática (uso de elementos de um mesmo campo semântico),
procedimentos de manutenção e de progressão temática (tema e rema) e encadeamentos por
justaposição ou conexão.

2.1.2.1. Coesão sequencial frástica


[...] a progressão se faz por meio de sucessivos encadeamentos, assinalados por uma série
de marcas linguísticas através das quais se estabelecem, entre os enunciados que compõem
o texto, determinados tipos de relação. O texto se desenrola sem rodeios ou retornos que
provoquem um “ralentamento” no fluxo informacional. (Koch, 2012, p. 60).
Para que se torne possível a sequenciação frástica, são necessários mecanismos que possibilitem a
manutenção do tema e o estabelecimento do semântico e pragmático.

Mateleto (1986 citado em Charolles 2002,) ressalta que:


5

o uso dos mecanismos coesivos tem por função facilitar a interpretação do texto e a construção da
coerência pelos usuários. Por essa razão, seu uso inadequado pode dificultar a compreensão do
texto: visto possuírem, por convenção, funções bem específicas, eles não podem ser usados sem
respeito a tais convenções (p. 77)
Deste modo, coesão frásica consegue-se pela relação sintática entre as palavras que compõem a
frase. Este tipo de coesão de carácter gramatical manifesta-se sobretudo a nível:

 Da ordem de palavras na frase: esta ordem pode sofrer alterações, desde que estas não
perturbem a gramaticalidade da frase e a compreensão da informação.
Ex.: A Ana comeu um gelado ontem.
 Da concordância: dentro da frase, as palavras devem concordar em género e em número. Essa
concordância estabelece-se entre elementos como o sujeito e o verbo, o determinante e o nome,
o nome e o adjetivo, etc.
Ex.: Os rapazes espertos são simpáticos.
 Coesão interfrásica — É assegurada sobretudo por articuladores ou conectores do discurso:
palavras ou expressões que lexicalmente traduzem as ligações lógicas entre as partes do texto.
Os articuladores são elementos linguísticos como as conjunções, as locuções conjuncionais, os
advérbios ou outro tipo de expressões de ligação.
Ex.: Os alunos empenharam-se no estudo. Por isso, alcançaram bons resultados. No entanto,
estavam ainda receosos do exame.
 Coesão temporal — Resulta da correta e explícita ordenação no tempo dos factos apresentados
num texto. A organização cronológica dos acontecimentos é, portanto, garantida por meio de
uma relação bem definida entre os tempos verbais e as palavras e expressões com valor
temporal. O grupo das palavras e expressões temporais, por seu lado, é composto por advérbios
de tempo (ontem, agora, amanhã, etc.) e expressões preposicionais (antes disso, de manhã,
etc.), entre outros. Ex.: Esta manhã, quando o Jorge acordou, não se sentia muito bem.

2.1.2.2. Coesão sequencial parafrástica:

Segundo Souza (2006), tem a ver com a relação semântica entre (partes de) enunciados durante um
sequenciamento de ideias no texto, e pode ocorrer, por exemplo, por meio de:

 Reiteração ou repetição Lexical: Repetição do mesmo elemento lexical. Ex: E o trem


corria, corria, corria...
 Paralelismo: Manutenção da mesma estrutura sintática. Ex: Nosso céu tem mais estrelas,
/ Nossas várzeas têm mais flores, / Nossos bosques têm mais vida, / Nossa vida mais
amores. (Gonçalves Dias)
6

 Paráfrase: Repetição do conteúdo semântico através de entidades lexicais diferentes.


Pode-se introduzir uma paráfrase com: isto é, ou seja, em outras palavras, em resumo, etc.
Ex: Em todo enunciado, fala-se de um determinado estado de coisas e uma determinada
maneira, isto é, ao lado daquilo que se diz, há o modo como aquilo que se diz é dito.
 Ritmo, rima, assonância, aliterações: Repetição de sons vocais e consonantais. Ex: O
poeta é um fingidor, / Finge tão completamente / Que chega a fingir que é dor / A dor que
deveras sente. (Fernando Pessoa)
 Tempos e aspectos verbais: Combinação de tempos verbais que indicam certos aspectos:
descrição, narração, relato, etc. Ex: O recanto era aprazível. O vento balançava suavemente
as copas das árvores, os raios do sol refletiam-se nas águas do riacho e um perfume de
flores espalhava-se pela clareira onde descansavam os viandantes. De súbito, ouviu-se um
grande estrondo e todos se puseram de pé, sobressaltados (Souza 2006).

2.1.2.3. Coesão Sequencial por conexão


Num texto, tudo está relacionado; um enunciado está subordinado a outros na medida em que não
só se compreende por si mesmo, mas ajuda na compreensão dos demais. Esta interdependência
semântica e/ou pragmática é expressa por operadores do tipo lógico, operadores discursivos e
pausas.
Fávero e Koch (2012), referem que:
Os operadores do tipo lógico têm por função o tipo de relação lógica que o escritor/locutor
estabelece entre duas proposições (não devem ser confundidos com os operadores lógicos
propriamente ditos, porque as línguas naturais têm sua própria lógica, diferente da lógica formal).
Os operadores discursivos têm por função estruturar, através de encadeamentos, os enunciados em
textos, dando-lhes uma direção argumentativa, isto é, orientando o seu sentido em dada direção
(p,23).

Ex: Se comprarmos uma casa, podemos nos livrar do aluguel.


Júlio chorou porque o filme era triste.
Ela não quer sair, então, precisamos chamar a polícia.

2.2. Coerência textual


Segundo Diana (2014), Coerência textual “é o fator que possibilita o entendimento da mensagem
transmitida no texto. Aliada à coesão, a coerência tem como função a construção dos sentidos da
textualidade” (p.5).
7

Para Koch (2012) coerência textual diz respeito ao modo como os elementos subjacentes à
superfície textual vêm a constituir, na mente dos interlocutores, uma configuração veiculadora de
sentidos. Ou seja, a coerência se dá em um nível subjacente ao texto, não em sua superfície como
a coesão.

Portanto, por meio da coerência, ocorre a concatenação das ideias do texto. Ou seja, a formação de
uma cadeia de ideias.

O texto que obedece à coerência transmite uma relação lógica de ideias que se complementam, não
se contradizem e conferem significado à mensagem. Quando o texto é coerente, o interlocutor
apreende os sentidos do texto. A falta dela afeta a significação do texto, prejudica a relação com o
interlocutor, a continuidade dos sentidos e compreensão (Diana, 2014).

2.2.1. Princípios da Coerência Textual


Como a coerência está dependente da organização das ideias de um texto e à forma como elas se
interligam a nível da lógica e do sentido, há requisitos que um texto deve ter para estar bem
estruturado e produzir sentido.

O primeiro desses requisitos é o da unidade de conteúdo, pois o texto deve tratar um tema central,
que depois é desenvolvido e analisado. Este conceito associa-se a outros dois requisitos de um
texto: os da continuidade e da progressão.

Segundo Fávero e Koch (2012) “a continuidade temática é o princípio da unidade de tema e


garante que exista um _ o condutor na mensagem. Já a progressão prende-se com o
desenvolvimento das ideias e dos acontecimentos e com o aparecimento de nova informação”
(p.30).

Outros preceitos que devem ser seguidos para manter a coerência de um enunciado são as regras
da não contradição, da não repetição e da relevância.

Marcuschi, (2012) refere que a não contradição determina que não se pode apresentar argumentos
ou dados logicamente incompatíveis. Por seu lado, a regra da não repetição dita que um texto não
deve retomar desnecessariamente informação já apresentada nem cair em redundância. A regra da
relevância, por sua vez, aponta para a importância de a informação apresentada no texto ser
pertinente e apropriada ao seu contexto, devendo também guiar-se pelo critério de verdade e
validade — fala-se aqui da máxima da qualidade.
8

2.2.2. Tipos de Coerência Textual


2.2.2.1. Coerência sintática
Segundo Neves (2011), “a coerência sintática está relacionada com a estrutura linguística, como
termo de ordem dos elementos, seleção lexical etc., e também à coesão” (p.12). Quando empregada,
eliminamos estruturas ambíguas, bem como o uso inadequado dos conectivos.

Entretanto, está relacionada à coesão entre os elementos de um texto:

Ex: Quando chegamos ao supermercado, cujo dono foi preso por agressão, havia muitas
pessoas lá. Elas protestavam e impediam a nossa entrada.

Agora, façamos esta alteração:

Quando chegamos ao supermercado, que o dono foi preso por agressão, havia muitas
pessoas lá. Elas protestavam e impediam a nossa entrada.

Percebe-se que o pronome relativo “que” retoma um termo anterior, portanto, é incoerente o seu
uso nesse enunciado. Já o pronome “cujo” indica uma relação de posse entre o elemento seguinte
e o anterior, ou seja, “o dono do supermercado” foi preso por agressão.

2.2.2.2. Coerência semântica


Esse tipo de coerência de acordo com Mussalin e Bentes (2011) tem a ver com as relações de
sentido entre termos ou expressões de um texto:

Assim, para que a coerência semântica esteja presente em um texto, é preciso, antes de tudo, que o
texto não seja contraditório, mesmo porque a semântica está relacionada com as relações de sentido
entre as estruturas. Para detectar uma incoerência, é preciso que se faça uma leitura cuidadosa,
ancorada nos processos de analogia e inferência (Mussalin e Bentes 2011).

Ex: Nesse país, a maioria das pessoas é rica e quase 90% dos cidadãos sãos pobres.

É perceptível, nesse enunciado, a incoerência. Afinal, se a maioria é rica, a percentagem de pobres


não pode ser de 90%.
Portanto, é coerente dizer: Nesse país, a minoria das pessoas é rica e quase 90% dos cidadãos são
pobres.
9

2.2.2.3. Coerência temática

Quando não há desvio do tema, ou seja, todos os enunciados de um texto precisam ser coerentes e
relevantes para o tema, com exceção das inserções explicativas. Os trechos irrelevantes devem ser
evitados, impedindo assim o comprometimento da coerência temática.(Koch e Travaglia, 2011).

Ex: Luiz Gama foi um escritor, advogado e abolicionista do século XIX, e defendeu várias pessoas
escravizadas. Ele é considerado o patrono da abolição da escravidão no Brasil.

Assim, seria tematicamente incoerente este texto:

Luiz Gama foi um escritor, advogado e abolicionista do século XIX, e defendeu várias
pessoas escravizadas. Quando Santos Dumont contornou a Torre Eiffel, em 1901, todos
ficaram impressionados.

2.2.2.4. Coerência pragmática


Está relacionada à situação, ao contexto extralinguístico.

Segundo Charolles (2002):


A coerência pragmática refere-se ao texto visto como uma sequência de atos de fala. Os textos,
orais ou escritos, são exemplos dessas sequências, portanto, devem obedecer às condições para a
sua realização. Se o locutor ordena algo a alguém, é contraditório que ele faça, ao mesmo tempo,
um pedido. Quando fazemos uma pergunta para alguém, esperamos receber como resposta uma
afirmação ou uma negação, jamais uma sequência de fala desconectada daquilo que foi indagado.
Quando essas condições são ignoradas, temos como resultado a incoerência pragmática.
Ex: João ficou feliz, pois sua casa tinha pegado fogo.

A princípio, esse enunciado parece contraditório. Contudo, se o(a) leitor(a) ou ouvinte sabe que
João odiava a sua casa e que tinha feito um seguro milionário, o enunciado é totalmente coerente.
Portanto, o sentido vai depender do conhecimento prévio do receptor da mensagem.

2.2.2.5. Coerência genérica

Segundo Sousa (2006), refere-se à escolha adequada do gênero textual, que deve estar de acordo
com o conteúdo do enunciado. Em um anúncio de classificados, a prática social exige que ele tenha
como objetivo ofertar algum serviço, bem como vender ou comprar algum produto, e que sua
linguagem seja concisa e objetiva, pois essas são as características essenciais do gênero.
10

Uma ruptura com esse padrão, entretanto, é comum nos textos literários, nos quais podemos
encontrar um determinado gênero assumindo a forma de outro (Sousa 2006).

2.3.Análise do texto
“Eu so Manuel, aluna da 8ªclasse na escola primária da Universidade Católica. Gosto de ler
livros, filmes, futebol, matacão. Quando era criança brincava, estudava, corria, saltava na piscina
do meu quarto na companhia dos meus filhos”.

Na coerência
No texto acima, regista-se uma incoerência sintáctica ou seja não há coesão entre os elementos do
texto, ao se escrever: Eu so Manuel, ou seja o verbo ser esta incorrectamente empregue. O coerente
sintaticamente seria dizer: Eu sou Manuel
Há também, uma incoerência semântica caracterizada por falta de concordância das palavras em
género (masculino e feminino), visto que sendo o nome Manuel esta no masculino, ele não pode
ser aluna e sim aluno. Deste o coerente semanticamente seria dizer: Eu sou Manuel, aluno da 8ª
classe.

Regista-se também a incoerência pragmática que segundo Charolles (2002), está relacionada à
situação, ao contexto extralinguístico. No texto há falta de contextualidade quando o aluno afirmar
que “Quando era criança brincava, estudava, corria, saltava na piscina do meu quarto…. Visto
que a piscina não fica no quarto como também na piscina não se estuda nem se corre.

Portanto, no texto acima, quanto a coerência ocorre:


 Falta da relevância discursiva o que resulta ser incoerente devido a oposição explícitadas
ideias.
 Não haver correlação entre o pensamento e a linguagem no texto;
 Contradições e falta de articulação das ideias.
 Quanto a natureza gramatical há problema, só o sentido da afirmação carece de uma
coerência

Na coesão
É possível verificar no texto acima, a falta de coesão, o aluno ao afirmar escrever “… escola
primária da Universidade Católica”. Percebe-se claramente a falta de relação entre elementos do
texto de forma a auxiliar na sua compreensão. Dai concluirmos que nesta frase verifica-se incoesão
11

sequencial que segundo Koch, (2012), é responsável como o próprio nome sugere – pelo
sequenciamento ou andamento do texto. Estabelecem as principais ligações entre as partes da sua
redação, de forma que a coesão textual se manifeste mais notoriamente.

Ao afirmar que Quando era criança …..na companhia dos meus filho, denota-nos falta de coesão
sequencial frástica que segundo Koch (2012), consegue-se pela relação sintática entre as palavras
que compõem a frase. A partir do texto acima depreende-se uma falta de concordância, isto é se o
Manuel é aluno ou criança é justo que não pode ter filhos para brincar, e sim colegas ou amigos.

Por tanto, concluímos a partir do texto que não é coeso porque:


 Apresenta ideias desorganizadas;
 Não mantém a sequência textual por meio de conectores.
 As ideias não tem a lógica
12

3. Conclusão

Feito o trabalho concluímos que a coesão se refere aos mecanismos gramaticais ou lexicais que
permitem a ligação entre elementos da estrutura linguística de um texto. Já a coerência tem relação
com o (s) sentido (s) desse texto. Portanto, os mecanismos de coesão podem auxiliar na formação
do (s) sentido (s).

No entanto, a coesão está restrita à estrutura linguística, enquanto a coerência depende, também,
dos elementos extralinguísticos. Desse modo, aspectos cognitivos e socioculturais, por exemplo,
podem interferir na construção de sentido (s) durante a recepção de um texto, que pode ser verbal,
não-verbal, escrito ou oral.

Portanto, para a produção de sentidos do texto, é preciso que o leitor ative conhecimentos
previamente constituídos e armazenados na memória. Sendo assim, podemos dizer que a coesão e
a coerência estão ligadas, pois enquanto a coerência é a sequência lógica das ideias de um texto, a
coesão é a manifestação formal da coerência de forma que estabelece nexos entre as partes do texto
13

4. Referências bibliográfica

Antunes, I. (2010). Análise de textos: fundamentos e práticas. Parábola Editorial: São Paulo.
Charolles, M. (2002). Introdução aos problemas da coerência dos textos. Pontes. Campinas, São
Paulo.
Diana D. (2014). Coerência Textual. Recuperado em https://www.todamateria.com.br/coerencia
textual/
Fávero, L. L.; Koch, I. G. V. (2012). Linguística textual: introdução. (10ª ed). São Paulo: Cortez.
Souza, W. (2006). Coesão textual. Brasil Escola. Recuperado em:
https://brasilescola.uol.com.br/redacao/coesao.htm.
Koch, I. G. V. Travaglia, L. C. (2011).Texto e Coerência. (18ª ed). 1ª reimpressão São Paulo:
Cortez.
Koch, I. G. V. (2012). Introdução à linguística textual. (2ªed). Editora WMF Martins Fontes. São
Paulo.
Marcuschi, L. A. (2012). Linguística de texto: o que é e como se faz? Parábola Editorial. São Paulo:

Mussalin, F.; Bentes, A. C. (2011). Introdução à linguística: domínios e fronteiras. v.1. São Paulo:
Cortez.
Neves, M. H. de M. (2011). Texto e gramática. (1ª ed). 3ª Reimpressão. Contexto, São Paulo.

Você também pode gostar