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ABUSO SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO ÂMBITO

INTRAFAMILIAR, NA SOCIEDADE E A INTERVENÇÃO DA LEGISLAÇÃO


BRASILEIRA

SEXUAL ABUSE AGAINST CHILDREN AND ADOLESCENTS IN THE INTRA-FAMILY


AREA, IN SOCIETY AND THE INTERVENTION OF BRAZILIAN LEGISLATION

Daiana Gomes Santos

Resumo

O presente trabalho tem o objetivo de demonstrar a violência sexual sofrida por


crianças e adolescentes no âmbito intrafamiliar e na sociedade que atualmente se
torna mais frequente no mundo. Qual a garantia e direitos são adquiridos essas
vítimas por meio da legislação brasileira; como o poder de família pode intervir para
que essa situação não aconteça, bem como identificar uma vítima e assim, iniciar o
processo de investigação. Vamos abordar o tema da punição para o agressor
tipificado no código penal.
Palavras-chave: Violência Sexual. Crianças e Adolescentes. Legislação Brasileira.
Pedofilia.

Abstract

The present work aims to demonstrate the sexual violence suffered by children and
adolescents within the family and in the society that currently becomes more frequent
in the world. What guarantees and rights these victims acquire under Brazilian law.
How the power of the family can intervene so that this situation does not happen, as
well as identifying the victim and, thus, starting the investigation process. The issue
of punishment of the aggressor, as defined in the Penal Code, will be addressed.
Key-words: Sexual Violence. Children and adolescentes. Brazilian Legislation.
Pedophilia.

1. INTRODUÇÃO
O presente artigo é um estudo sobre o assunto de abuso sexual contra
crianças e adolescentes no âmbito intrafamiliar, na sociedade e a intervenção da
legislação brasileira. A metodologia utilizada para a elaboração deste estudo foi a
análise bibliográfica, artigos científicos, legislação pertinente e notícias sobre o tema.

A violência sexual contra crianças e adolescentes configura crime grave,


tipificado nos artigos 217-A, 218 e 218-A do Código Penal, bem como é um atentado
gravíssimo aos direitos humanos e, por se tratar de um fato que invada
negativamente a vida e a saúde mental e física de seres humanos em
desenvolvimento, deve ser combatido rigorosamente.

Será compreendido o conceito de criança ao longo da história,


compreendendo que esse crime é uma problemática antiga, mas que causa
afamada indignação social e, nos últimos tempos, tem gerado muita repercussão
nas mídias, principalmente quando os crimes são cometidos no âmbito familiar.
Muitas vezes as crianças e os adolescentes, vítimas da violência sexual, não se
recuperam do trauma gerado pelos abusos e agressões, que geram um grande
impacto tanto físico quanto psicológico.

Ainda, será abordado um estudo acerca do abuso sexual que ocorre no seio
da família, o que gera muita insegurança para a vítima que se mantêm silente seja
pela coação do agente ou até mesmo do medo de não ser compreendida, afinal,
aquele ambiente deveria ser de cuidado e confiança. A violência sexual intrafamiliar
ocorre de diferentes formas, seja pelos pais, padrastos, madrasta, irmãos, tios(as),
avós ou primos(as).

Far-se-á necessário compreender que o cometimento deste crime ocorre


também no âmbito social, tendo em vista que a violência sexual contra crianças e
adolescentes acontece com vítimas de ambos os sexos, classes sociais, cor, etnia,
religião, cultura e podem ocorrer em diferentes ambientes como o familiar, escolar,
na casa de amigos, na rua, no transporte público e entre outros. Outrossim, vale
destacar o crime de pedofilia.

Em detrimento disso, devido a gravidade e complexidade do tema, o presente


artigo tem como objetivo basilar compreender qual a intervenção da legislação
brasileira nos casos de abuso sexual de crianças e adolescentes no âmbito
intrafamiliar e no âmbito social.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foi criado com o objetivo de
proteger os direitos e integridade da criança e do adolescente. Ainda, visando o zelo
e o cumprimento dos direitos das crianças e adolescentes, foi criado o Conselho
Tutelar, que é um órgão não jurisdicional, mas instituído pela sociedade. Além disso,
será analisado a importância da intervenção do Ministério Público e a aplicação da
Declaração dos Direitos Humanos em casos envolvendo criança e adolescente, bem
como a punibilidade de quem comete o crime ora estudado.

Conforme dito, muitas vezes as vítimas se mantêm silentes sobre a violência


sofrida por medo, coação, vergonha. Na fase investigatória, tema do sexto capítulo,
é importante saber como identificar uma vítima de abuso sexual, quais os sinais
emitidos por ela, bem como compreender o poder familiar e sua proteção.

Portanto, a discussão deste tema é de suma relevância vez que o abuso


sexual de criança e adolescente no âmbito intrafamiliar e social é um fenômeno que
acontece todos os dias, a nível mundial, fazendo milhares de vítimas, que por muitas
vezes, são silenciadas.

2. DO CONCEITO DE CRIANÇA
2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA

Na Idade Média, entre os séculos XIV e XV, o conceito de criança não era
definido e a infância era caracterizada pelas atitudes infantis dos indivíduos até os
sete anos de idade.

Assim, Ariès compreendia que “a primeira idade é a infância que planta os


dentes, essa idade começa quando a criança nasce e dura até os sete anos, e
nessa idade o que nasce é chamado de enfant (criança), que quer dizer não
falante”1 e após esta idade, estas eram consideradas “adultos em miniatura” e eram
condicionadas a ingressar na realidade dos adultos, sujeitando-se aos trabalhos,
sendo mantidas a margem da sociedade. Ainda, destaca que "na sociedade
medieval, a criança a partir do momento em que passava a agir sem solicitude de

1
ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: LTC, 2006, p. 06
sua mãe, ingressava na sociedade dos adultos e não se distinguia mais destes”2.
Essa fase foi classificada por Franco Frabboni por Infância Negada.3

Entre o século XVI e XVII o conceito de criança começou a se modificar


gradualmente pois, frente a adversidade econômica advinda com as novas
possibilidades de economia na Europa, seria necessário inserir a criança nesta nova
estrutura social.4

O processo de construção da infância na sociedade foi marcado pela falta de


reconhecimento da criança como um indivíduo dotado de sentimentos, pensamentos
e direitos, sendo vista como um ser sem valor e sem espaço na sociedade. Assim,
reafirmando o pensamento de Ariès, Neto e Silva destacava que a palavra infância
vem de en-fant que significa "aquele que não fala"5, não podendo participar do meio
em que vivia, sendo excluído, ou seja, "a criança inexistia ou ficava adstrita a
escassos momentos", entende Eliane de Paula.6

Nessa concepção, surgiu o instituto da escola pois começou a compreender


que a criança possuía certas necessidades e, de acordo com Schmidt, deveria ser
educada, civilizada e preparada para se tornar o futuro adulto.7

Portanto, conforme Lucimary Andrade, o século XVI e XVII foi marcado por
relacionar-se:

com o surgimento da escola e do pensamento moderno (…). Responde,


também, às novas exigências educativas resultantes das relações
produtivas advindas da sociedade industrial. O contexto histórico do
surgimento dessas instituições é ainda marcado por mudanças no interior
da organização familiar, que assume o modelo nuclear, e ao
desenvolvimento de teorias voltadas para a compreensão da natureza da
8
criança marcada pela inocência e pela inclinação às más condutas.

A Revolução Industrial no século XVIII, chamada por Franco Frabboni de


Infância Industrializada, foi marcada por dois aspectos: enquanto os adultos

2
Ibid., p. 156
3
FRABBONI, op.cit.
4
ARIÈS, Id. 1979, p. 14
5
NETO, Elydio dos Santos. SILVA, Marta Regina Paulo da. Quebrando as armadilhas da adultez: o
papel da infância na formação das educadoras e educadores. UMESP: 2007
6
PAULA, Elaine de. Crianças e Infâncias: Universos a Desvendar. Programa de Mestrado em
Educação da UFSC. I semestre de 2005. p.1-3. Disponível em: www.scielo.br
7
SCHMIDT, Maria Auxiliadora Moreira dos Santos. Infância Sol do Mundo: a primeira conferência
nacional de educação e a construção da infância brasileira. 1997. p. 28
8
ANDRADE, Lucimary Bernabé Pedrosa de. Educação Infantil: discurso, legislação e práticas
institucionais. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010. p. 128
trabalhavam nas indústrias, as crianças privilegiadas e ricas iam para as escolas,
porém; as crianças pobres deveriam ir trabalhar juntamente com seus pais.9 Isso
porque, a esfera nobre não entendia ser vantajoso para a sociedade a educação de
crianças pobres, bastando, para elas, uma educação da ocupação e da piedade.10

Nos séculos XVIII e XIX, as crianças sofriam a rigidez dos adultos, sendo
retiradas do convívio social e alocadas em colégios internos (aquelas que podiam ter
educação), sendo estas instituições de educação destacadas por correções físicas e
maus tratos. Mediante este ponto de vista, Ariès destaca que “a escola confinou uma
infância outrora livre num regime disciplinar cada vez mais rigoroso que nos séculos
XVIII e XIX resultou no enclausuramento total do internato”.11

Passou-se a compreender, gradualmente, a partir do século XIX, que as


crianças eram dotadas de características próprias e a importância desta fase para o
desenvolvimento humano. Neste sentido, Mary Del Priore afirma que

a escolarização, iniciada na Europa do século XIV e levada a cabo por


educadores e padres, católicos e protestantes, provocou uma metamorfose
na formação moral e espiritual da criança, em oposição à educação
medieval feita apenas pelo aprendizado de técnicas e saberes tradicionais,
no mais das vezes, ensinado pelos adultos da comunidade. A Idade
Moderna passa a preparar o futuro adulto nas escolas. A criança [...] é vista
como o adulto em gestação. Concomitantemente a essa mudança, a família
sofreu, ela também, uma profunda transformação com a emergência de vida
privada e uma grande valorização do foro íntimo. A chegada destas duas
novidades teria acelerado, no entender de Ariès, a supervalorização da
12
criança.

Essa fase é denominada por Frabboni como Infância de Direitos, pois foi, a
partir deste ponto, que a sociedade começou, progressivamente, a compreender
como a infância é importante para o bom desenvolvimento do ser humano, que será
refletido em uma fase adulta mais saudável e com um tempo relativamente maior de
vida.13

2.2 CONCEITO DE CRIANÇA NA ATUALIDADE

9
FRABBONI, 1998, passim.
10
OLIVEIRA, Zilma Ramos de (org.). Educação infantil: muitos olhares. 2. ed. São Paulo: Cortez,
1995
11
ARIÈS, 2006, passim
12
PRIORE, Mary Del. História das Crianças no Brasil. 7. ed. São Paulo: Contexto, 2013. p. 9-10
13
FRABBONI, 1998, passim.
Nota-se que o conceito de criança foi construído ao longo do tempo. De
acordo com as pesquisas realizadas por Ângela Andrade a discussão sobre o
conceito de criança indica que elas foram tratadas como um ser que ainda não é um
sujeito de direitos, pensamentos e sentimentos próprios, mas, ao se tornarem
adultos passaram a ser reconhecidos, sendo, no entanto, apenas uma extensão de
seus pais. Destaca ainda, que na sociedade atual observa-se que "a infância como
realidade social, tem frequentemente permanecida afastada e excluída das reflexões
sobre problemas sociais e qualidade de vida", isso porque "a moratória infantil (o
ainda não) faz com que a criança esteja sempre em lugar de objeto em um processo
macrossocial encaminhado a uma futura sociedade ideal".14

Em 2010, as Diretrizes Curriculares Nacionais Para A Educação Infantil,


instituída pelo Ministério da Educação, definiu a criança como:

Sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas


cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca,
imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona
15
e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura.

Assim sendo, para Janaina Maia, a criança é “ator social, partícipe da


construção da sua própria vida e da vida daqueles que a cercam. As crianças têm
voz própria, devem ser ouvidas, consideradas com seriedade e envolvidas no
diálogo e na tomada de decisões democráticas”.16

Logo, é importante entender que a criança é um ser social e sujeito de


direitos, que é influenciado pelo meio que vive, seja em relação a cultura, relações
sociais, familiares e afins, bem como é um ser que influencia e ensina.

Nesta perspectiva, Sônia Kramer ressalta que:

Conceber a criança como ser social que ela é, significa: considerar que ela
tem uma história, que pertence a uma classe social determinada, que
estabelece relações definidas segundo um contexto de origem, que
apresenta uma linguagem decorrente dessas relações sociais e culturais
estabelecidas, que ocupa um espaço que não é só geográfico, mas que
também dá valor, ou seja, ela é valorizada de acordo com os padrões de

14
ANDRADE, Ângela Nobre de. A criança na sociedade contemporânea: do "ainda não" ao cidadão
em exercício. Psicologia Reflexão Crítica vol n.1 Porto Alegre 1998. Disponível em: www.scielo.br
15
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Diretrizes Curriculares Nacionais Para A Educação Infantil. 2010.
Disponível em: http://www.uac.ufscar.br/domumentos-1/diretrizescurriculares_2012.pdf.
16
MAIA, Janaina Nogueira. Concepções de criança, infância e educação dos professores de
Educação Infantil. Campo Grande, 2012. p. 135
seu contexto familiar e de acordo com a sua própria inserção nesse
17
contexto.

No que tange a educação da criança, Guimarães entende que "a educação no


contexto da modernidade tem como perspectiva formar os adultos de amanhã, os
artífices da futura sociedade".18

Entretanto, é importante ressaltar que o processo de socialização da criança,


bem como as marcas da infância, influencia muito no seu desenvolvimento pessoal
e na construção da vida adulta. É essencial aprender a compreender a criança em
todos os aspectos, tanto com o que é dito, como com aquilo que deixa de dizer, e
principalmente, mediante a leitura de seu comportamento.19

Por fim, Franco entende que, devido a evolução histórica e cultural da


sociedade na qual a criança está inserida, torna-se impossível definir um conceito
único e restrito sobre o que é criança ou infância.20

3. DO ABUSO SEXUAL NO ÂMBITO INTRAFAMILIAR

A violência sexual, seja contra qual indivíduo for, é uma das formas mais
cruéis de violência que pode existir. No que tange ao cometimento deste crime
contra criança e adolescente, torna-se ainda mais perverso, por violar um bem
jurídico muito importante que é a dignidade humana e sexual, bem como sua
intimidade, sobretudo por se tratar de indivíduos em formação.

A maior problemática é quando o abuso sexual de crianças e adolescentes


ocorre, principalmente, no âmbito intrafamiliar.

17
KRAMER, Sônia. A infância e sua singularidade. In: BRASIL. Ministério da Educação. Ensino
fundamental de nove anos: orientações para a inclusão da criança de 6 anos de idade. Brasília, DF,
2006. p. 79
18
GUIMARÃES, José Geraldo M. Referencial curricular Nacional para a Educação Infantil: alguns
comentários. In: __Pedagogia Cidadã: cadernos de educação infantil. São Paulo: UNESP, Pró-reitoria
de graduação, 2003. p. 27
19
FARIA, Ana Lúcia Goulart de; DEMARTINI, Zeila de B. F; PRADO, Patrícia Dias. Por uma Cultura
da Infância: Metodologias de pesquisa com crianças. São Paulo. Autores Associados, 2002. p. 8
20
FRANCO, Márcia Elizabete Wilke. Compreendendo a Infância. A cumplicidade da escola com o
conceito de infância. In.: Compreendendo a infância como condição de criança. 2 ed. Porto Alegre:
Editora Mediação, 2006
3.1 Conceito da Violência no Âmbito Intrafamiliar

O abuso sexual no âmbito intrafamiliar é aquele que ocorre dentro do lar da


vítima, muitas vezes de forma silenciosa. Esse tipo de violência pode ser definido
como o uso da sexualidade do menor por pessoas da família, ou seja, com vínculo
de parentesco.21

A ocorrência se dá quando há participação de criança ou adolescente em


atividades sexuais inadequadas, sendo forçadas de forma física, psicológica ou até
mesmo seduzida a praticar relações sexuais com um adulto de dentro do seu seio
familiar, sem que haja capacidade emocional ou intelectual para entender o que está
acontecendo.22

Neste aspecto, Gabel compreende que a violência sexual no âmbito


intrafamiliar, em alguns casos acontece em silêncio em detrimento, não só da força
física do agressor com a vítima, como também da traição da relação de confiança:

o abuso sexual supõe uma disfunção em três níveis: do poder exercido pelo
grande (forte) sobre o pequeno (fraco); a confiança que o pequeno
(dependente) tem no grande (protetor); e o uso delinquente da sexualidade,
ou seja, o atentado ao direito que todo indivíduo tem de propriedade sobre
23
seu corpo.

Faleiros dispõe que "a violência sexual na família é uma violação ao direito a
uma convivência familiar protetora”.24 Ainda, em entendimento jurisprudencial, o
relator Marcus Basílio citou Nucci sobre a matéria que versa sobre o abuso sexual
no âmbito intrafamiliar e como isso pode afetar a criança ou adolescente de uma
forma permanente. 25

A violência sexual contra criança, que geralmente é praticado por pessoas


próximas a ela, tende a ocultar-se atrás de um segredo familiar, no qual a
vítima não revela seu sofrimento por medo ou pela vontade de manter o
equilíbrio familiar. As consequências desse delito são nefastas para a

21
SECRETARIA DA EDUCAÇÃO. Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes.
22
GAUDERER, EC., MORGADO, K. Abuso sexual na criança e no adolescente. Jornal de Pediatria,
vol. 68 (7,8), 1992
23
GABEL, Marceline (Org). Crianças vítimas de abuso sexual. Tradução de Sônia Goldfeder. São
Paulo: Summus, 1997
24
FALEIROS, Vicente de Paula e SILVEIRA, Eva Teresinha (Coords.). Circuitos e curtocircuitos:
atendimento, defesa e responsabilização do abuso sexual contra crianças e adolescentes. São Paulo:
Veras, 2001
25
BRASIL. TJRJ AP 0009186-56.2012.8.19.0023/RJ. Rel. Marcus Basílio, Primeira Câmara Criminal.
DJe: 24/04/2013.
criança, que ainda se apresenta como indivíduo em formação, gerando
26
sequelas por toda a vida.

Nesta feita, o abuso sexual intrafamiliar gera inúmeros danos tanto a criança
quanto ao adolescente, pois além do trauma gerado pela violação da integridade
física e sexual, acarreta um grande trauma para o desenvolvimento psicológico da
vítima.

3.2 Abuso incestuoso

A ato de incesto significa, de acordo com o dicionário português como a


“relação sexual entre parentes, entre pais e filhos, entre irmãos consanguíneos ou
adotivos, geralmente condenada pelas leis morais, pela religião, pela sociedade
etc”.27

Cláudio Cohen define o incesto como sendo o "abuso sexual intrafamiliar,


com ou sem violência explícita, caracterizado pela estimulação sexual intencional
por parte de algum membro do grupo que possui um vínculo parental pelo qual lhe é
proibido o matrimônio".28

Ainda, Forward e Buck (1989) amplia o entendimento sobre o grau de


parentesco que define o incesto, sendo, portanto:

qualquer contato abertamente sexual entre pessoas que tenham um grau de


parentesco ou que acreditem tê-lo. Esta definição incluem padrasto e
madrasta, meio irmãos, avós por afinidade e até mesmo amantes que
morem junto com o pai ou a mãe, caso eles assumam o papel de pais. Se a
confiança especial entre uma criança e um parente ou figura de pai e mãe
29
foi violada por qualquer ato de exploração sexual, trata-se de incesto.

A socióloga Heleieth Saffioti entende que o incesto, quando consentido e


praticado por maiores de dezoito anos, apesar de moralmente inadmissível, não
constitui crime, por falta de tipificação no Código Penal. Ademais, dispõe que é
crime qualquer tipo de violação sexual, sendo o incesto apenas um agravante:

26
NUCCI, Guilherme de Souza. Crimes contra a dignidade sexual. 5. ed., atual e ampl. Rio de
Janeiro: Forense, 2014, p. 142
27
DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS. Significado de Incesto.
28
COHEN, C. O incesto. In ___. AZEVEDO, L. A.; GUERRA, V. N. A (orgs.). Infância e violência
doméstica: fronteiras do conhecimento. 4ª ed. São Paulo: Cortez, 2005. p. 211-225
29
FORWARD, Susan; BUCK, Craig. A traição da inocência: o incesto e sua devastação. Tradução de
Sérgio Flaksman. Rio de Janeiro: Rocco, 1989
No verdadeiro incesto, já que duas vontades se somam para a realização
de atos amorosos, não se violam direitos. No abuso sexual incestuoso, ao
contrário, existe sempre o desrespeito, a desconsideração, a violação de
direitos, enfim, a violência em suas várias formas de manifestação concreta.
A atitude do agressor sexual visa ao seu próprio benefício, ao seu conforto,
30
à satisfação de seus desejos sexuais e ou de poder.

Como na maioria dos casos de violência sexual, a vítima de abuso incestuoso


tende a sofrer calada e com medo das consequências que lhes possam ser
impostas, seja por agressão física ou moral, devido ao fato de não ser acreditada,
seja por vergonha ou até mesmo medo da dissolução do ambiente familiar que
acabe lhe desamparando:

Não há ninguém a quem possa recorrer; ninguém em quem possa confiar;


ninguém em quem possa pedir ajuda. A criança jovem, vulnerável,
inexperiente precisa lidar sozinha, num meio familiar frio, que não lhe dá
apoio, com conflitos explosivos e com a culpa extrema gerados pelo
31
incesto.

Ou seja, no abuso incestuoso a violência ocorre dentro da família, o que pode


acarretar na confusão e distorção do conceito desta instituição para a vítima,
deixando-a sem opção.

4. ABUSO SEXUAL NO ÂMBITO SOCIAL


4.1 Conceito de Abuso Sexual no Âmbito Social

A violência sexual está presente em todos ambientes, tanto dentro do seio


familiar, como demonstrado, como no âmbito social, conhecido também como
extrafamiliar. Em 1990 foi criado o Estatuto da Criança e do Adolescente no Brasil a
fim de garantir os direitos e promover proteção aos indivíduos infantojuvenil, porém,
apesar disso, devido ao grau de vulnerabilidade, estes ainda são as maiores vítimas
de violência sexual.32

O conceito de violência é um reflexo histórico da sociedade e seu nível de


intensidade depende da construção social, seja de uma sociedade, seja de um único

30
SAFIOTTI, Heleieth. I. B. Incesto e abuso incestuoso. In Associação Brasileira de Magistrados e
Promotores de Justiça da Infância e Juventude. Acervo Direitos da Criança e do Adolescente
31
FORWARD, Susan; BUCK, Craig, 1989, passim.
32
MINISTÉRIO DOS DIREITOS HUMANOS. Violência contra Crianças e Adolescentes: Análise de
Cenários e Propostas de Políticas Públicas
indivíduo.33 Como demonstrado, a violência contra criança e adolescente se dá
através de uma demonstração de poder e força do agressor sobre a vítima.34

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 227 define a competência da


família, da sociedade e do Estado na garantia dos direitos das crianças e dos
adolescentes, sobretudo, quanto ao direito a vida e a dignidade, bem como a
proteção de toda forma de negligência, exploração, violência, crueldade e
opressão.35 Veja:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança,


ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura,
à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão.

No âmbito social, os abusos sexuais contra criança e adolescente envolvem


questões sociais, culturais, econômicas e políticas, como podem também estar
relacionadas à ilegalidade e impunidade do agressor. Este fenômeno atinge todas as
classes sociais, gêneros, etnias e raças, entretanto, as vítimas mais atingidas são as
de classes economicamente mais desfavorecidas e de condições de vida precárias.
Isso se dá pois, devido ao estado de vulnerabilidade extrema em que estão expostas
ficam mais suscetíveis ao domínio do agressor.36

4.2 Pedofilia

A palavra pedofilia deriva do grego no qual paidos significa criança e philia,


atração ou amor, podendo ser denominada como atração sexual por crianças. Antes
do século XIX, a pedofilia era conhecida como perversão sexual.37

A pedofilia é um transtorno mental relacionada a forma doentia de desejo


sexual em crianças. George R. Brown em seu artigo sobre a pedofilia a define como

33
MINAYO, M.C. S. Violência: um problema para a saúde dos Brasileiros. IN: Impactos da Violência
na Vida dos Brasileiros. Ministério da Saúde / Secretaria de Vigilância em Saúde. Brasília-DF. 2005
34
FALEIROS, V.P; FALEIROS, E.S. Escola que Protege: enfrentando a violência contra crianças e
adolescentes. Coleção Educação para Todos:31. MEC/SECADI. Brasília DF. 2007
35
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Art. 227
36
MINISTÉRIO DOS DIREITOS HUMANOS. Violência contra Crianças e Adolescentes: Análise de
Cenários e Propostas de Políticas Públicas, passim
37
WILLIAMS, Lúcia C. Albuquerque. Pedofilia: identificar e prevenir. São Paulo; Ed. Brasiliense, 2012
sendo “caracterizado por fantasias, desejos ou comportamentos sexualmente
excitantes, recorrentes e intensos envolvendo crianças”.38

Para Serafim deve-se observar alguns aspectos desta parafilia, como a


opressão do desejo e ausência de alternativas, a compulsão pela repetição da
experiência e que a excitação sexual é atingida em determinadas situações (definida
pelo padrão da conduta parafílica).39

Através do ponto de vista técnico, o diagnóstico da pedofilia é realizado


mediante 3 critérios estabelecidos pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais, sendo eles:

A. Ao longo de um período mínimo de 6 meses, fantasias sexualmente


excitantes, recorrentes e intensas, impulsos sexuais ou comportamentos
envolvendo atividade sexual com uma (ou mais de uma) criança pré-púbere
(geralmente com idade inferior a 13 anos). B. As fantasias, impulsos
sexuais ou comportamentos causam sofrimentos clinicamente significativos
ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas
importantes da vida do indivíduo. C. O indivíduo tem no mínimo, 16 anos e é
pelo menos 5 anos mais velho que a criança no Critério A. Nota para
codificação: Não incluir um indivíduo no final da adolescência envolvido em
um relacionamento sexual contínuo com uma criança de 12 ou 13 anos de
40
idade.

Sanderson entende que o pedófilo aprecia a sexualidade imatura da criança,


tendo como preferência crianças bem infantis e inocentes, pois, devido a sua
vulnerabilidade, dificilmente perceberão que estão diante de um abuso sexual.41

Entretanto, Casoy dispõe que nem todo pedófilo é um abusador ou vice-


versa, isso porque os abusadores possuem diversas motivações para seus crimes e
nem sempre são de origem sexual, tendo em vista que não há uma idade definida,
podendo ser de criança a adulto, o que for mais oportuno no momento. Outrossim,
dispõe que os pedófilos não utilizam de meios violentos como os abusadores, pois
são mais pacíficos e estratégicos.42

38
BROWN, George R. Pedofilia (Pedophilic Disorder). 2019
39
SERAFIM, Antonio. Perfil psicológico e comportamental de agressores sexuais de crianças. Rev.
psiquiatr. clín. vol.36 no.3 São Paulo 2009
40
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos
mentais: DSM-IV-TR. 4. ed. texto rev. Porto Alegre, RS: Artmed, 2002
41
SANDERSON, Cristiane. Abuso Sexual em Crianças: Fortalecendo Pais e Professores Para
Proteger Crianças de Abusos Sexuais. São Paulo, M. Books do Brasil, 2005
42
CASOY, Ilana. Serial Killers: louco ou cruel? Rio de Janeiro. Ed. Darkside Books, 2014
Assim, nota-se que a pedofilia em si, quanto conceito parafílico, não é
considerado crime no Brasil, passando a ser crime a partir do momento em que o
pedófilo age, ultrapassando a linha do pensamento para as vias de fato, como por
exemplo pela violação sexual ou pornografia infantil.

5. INTERVENÇÃO DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA


5.1 Código Penal

O abuso sexual de crianças e adolescentes é um ato extremo de violação ao


direito fundamental da dignidade da pessoa humana, principalmente no que tange a
dignidade sexual de indivíduos em situação de vulnerabilidade.

Capez entende que a “tutela da dignidade sexual, no caso, está diretamente


ligada à liberdade de autodeterminação sexual da vítima, à sua preservação no
aspecto psicológico, moral e físico, de forma a manter íntegra sua personalidade”.43

Neste sentido, Nucci afirma que a dignidade sexual está diretamente ligada a
autoestima e a intimidade do ser humano e a intromissão estatal neste contexto,
deverá ocorrer apenas para zelar e coibir atuações violentas e agressivas à
formação de crianças e jovens.44 Ressalta ainda que:

o legislador deve policiar, à luz da Constituição Federal de 1988, é a


dignidade da pessoa humana, e não os hábitos sexuais que porventura os
membros da sociedade resolvam adotar, livremente, sem qualquer
constrangimento e sem ofender direito alheio, ainda que, para alguns,
45
possam ser imorais ou inadequados.

Diante deste cenário, o Código Penal tipificou a violência sexual contra


crianças e adolescentes como crime de estupro de vulnerável no artigo 217-A, com
a finalidade de preservar e proteger a dignidade sexual das vítimas vulneráveis,

43
CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal – parte especial 16ª ed. Vol.3. São Paulo: Saraiva. 2016
44
NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. 11. ed. rev., atual e ampl. São Paulo.
Editora Revista dos Tribunais, 2012
45
NUCCI, Guilherme de Souza. Crimes contra a dignidade sexual. 5. ed., atual e ampl. Rio de
Janeiro: Forense, 2014
quais sejam, menores de 14 anos. A pena do agente varia de 8 a 30 anos de
reclusão, a depender do resultado gerado.46

Capez define que “vulnerável é qualquer pessoa em situação de fragilidade


ou perigo. A lei não se refere aqui à capacidade para consentir ou à maturidade
sexual da vítima, mas ao fato de se encontrar em situação de maior fraqueza moral,
social, cultural, fisiológica, biológica etc.”47

A mesma legislação dispõe, em seu artigo 218-A, o crime de satisfação de


lascívia mediante a presença de criança ou adolescente, que consiste em praticar na
presença de um menor de 14 anos, quaisquer atos libidinosos com a intenção de se
satisfazer sexualmente ou até mesmo satisfazer outra pessoa. Ainda, o fato de
induzir este menor a presenciar a ocorrência destes atos, também está tipificado no
mesmo artigo. A punição do agente é de 2 a 4 anos de reclusão.48

Ademais, a fim de zelar pela dignidade sexual da criança e do adolescente, o


fato de induzir o menor de 14 anos a satisfazer a lascívia de outrem, também
configura crime, tipificado no artigo 218 do Código Penal. A punição do agente é de
2 a 5 anos de reclusão.49

Ainda, o artigo 218-B do ordenamento jurídico citado, traz a tipificação do


crime de favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de
criança ou adolescente ou de vulnerável, que consiste em “submeter, induzir ou
atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém menor de 18
(dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário
discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone”.
A punição do agente é de 4 a 10 anos de reclusão.50

Por fim, vale ressaltar que os artigos referidos destacam o indivíduo


vulnerável sendo os menores de 14 anos, entretanto, o abuso sexual contra os
adolescentes entre 14 e 18 anos também é punida, porém é tipificado pelos crimes
previstos nos artigos 213 (estupro) com pena de 6 a 30 anos a depender do

46
BRASIL. Código Penal. Art. 217-A
47
CAPEZ, 2016, passim
48
BRASIL. Código Penal. Art. 218-A
49
Ibid., Art. 218
50
Ibid., Art. 218-B
resultado;51 art. 215 (violação sexual mediante fraude) punido com reclusão de 2 a 6
anos52 e; 215-A (importunação sexual) punido com reclusão de 1 a 5 anos, todos do
Código Penal.53

5.2 Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)

Os direitos fundamentais inerentes a todos os indivíduos, estão dispostos na


Constituição Federal e, para garantir o exercício e efetivação destes direitos às
crianças e adolescentes, surgiu em 1990 o Estatuto da Criança e do Adolescente
através da Lei nº 8.069, com a finalidade de reforçar a proteção das crianças e dos
adolescentes, até os 18 anos.54 O ECA atribuiu a família, a sociedade e ao Estado55
a responsabilidade para combater toda forma de violência, crueldade, negligência,
discriminação e opressão que venham a sofrer.56 Insta salientar, que o ECA
considera criança os indivíduos até doze anos incompletos e adolescente, àqueles
de doze a dezoito anos.57

Conforme demonstrado, o abuso sexual infantil ocorre com crianças ou


adolescentes de todas as idades, classes sociais (sobretudo as menos favorecidas),
raças e etnias e, na grande maioria envolve uma relação de confiança entre o
abusador que aproveita desta confiança, da posição de poder, do domínio ou
sedução para cometer seus atos.

Além disso, em complemento a tipificação criminal de alguns atos ocorridos


contra criança e adolescente, o ECA instituiu o artigo 240 que criminaliza a
produção, reprodução, direção, fotografia, filmagem ou registro, por qualquer meio,
cena de sexo explícito ou pornográfica, envolvendo criança ou adolescente. O
agente é punido com pena de reclusão de 4 a 8 anos e multa, podendo esta pena
ser aumentada em 1/3 se o agente cometer:

51
Ibid., Art. 213
52
Ibid., Art. 215
53
Ibid., Art. 215-A
54
MINISTÉRIO DOS DIREITOS HUMANOS. Violência contra Crianças e Adolescentes: Análise de
Cenários e Propostas de Políticas Públicas, passim.
55
BRASIL. Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente. Art. 4º
56
Ibid., Art. 5º
57
Ibid., Art. 2º
I – no exercício de cargo ou função pública ou a pretexto de exercê-la;
II – prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de
hospitalidade; ou
III – prevalecendo-se de relações de parentesco consanguíneo ou afim até
o terceiro grau, ou por adoção, de tutor, curador, preceptor, empregador da
vítima ou de quem, a qualquer outro título, tenha autoridade sobre ela, ou
58
com seu consentimento

Ademais, o ECA criminaliza, em seu artigo 241, o fato de “vender ou expor à


venda fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou
pornográfica envolvendo criança ou adolescente”, sendo punível com pena de
reclusão de 4 a 8 anos e multa.59 Ainda, o ato de “oferecer, trocar, disponibilizar,
transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de
sistema de informática ou telemático”60 ou “adquirir, possuir ou armazenar” os
mesmos itens citados no artigo 241 também é criminalizado.61

Outrossim, o ato de “simular a participação de criança ou adolescente em


cena de sexo explícito ou pornográfica por meio de adulteração, montagem ou
modificação de fotografia, vídeo ou qualquer outra forma de representação visual”,62
bem como o de “aliciar, assediar, instigar ou constranger, por qualquer meio de
comunicação, criança, com o fim de com ela praticar ato libidinoso” 63 também está
tipificado criminalmente no Estatuto da Criança e do Adolescente.

Para melhor definir o conceito da expressão “cena de sexo explícito ou


pornográfica” o artigo 241-E dispõe que é “qualquer situação que envolva criança ou
adolescente em atividades sexuais explícitas, reais ou simuladas, ou exibição dos
órgãos genitais de uma criança ou adolescente para fins primordialmente sexuais”. 64

Vale destacar que o artigo 244-A do ECA65, assim como o artigo 218-B do
Código Penal66, versam sobre a criminalização da prostituição ou à exploração
sexual de crianças e adolescentes.

58
Ibid., Art. 240
59
Ibid., Art. 241
60
BRASIL. Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente. Art. 241-A
61
Ibid., Art. 241-B
62
Ibid., Art. 241-C
63
Ibid., Art. 241-D
64
Ibid., Art. 241-E
65
Ibid., Art. 244-A
66
BRASIL. Código Penal. Art. 218-B
Assim, diante do exposto, nota-se a extrema importância da constituição do
ECA para a proteção da criança e do adolescente, sobretudo a sua dignidade
sexual.

5.4 Intervenção do Conselho Tutelar

O Conselho Tutelar é definido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente


como um “órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela
sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente”.67

O ECA determina que deverá ser, obrigatoriamente, comunicado ao Conselho


Tutelar, todos “os casos de suspeita ou confirmação de castigo físico, de tratamento
cruel ou degradante e de maus-tratos contra criança ou adolescente”, além das
outras providências legais.68

Ainda, o mesmo ordenamento jurídico dispõe que, em casos de se verificar


maus-tratos envolvendo alunos, os estabelecimentos de ensino fundamental
deverão comunicar ao Conselho Tutelar.69

O ECA prevê que “é dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou


violação dos direitos da criança e do adolescente”.70 Ainda, dispõe que as entidades
públicas e privadas que atuem nas áreas de “informação, cultura, lazer, esportes,
diversões, espetáculos e produtos e serviços”71 assim como aquelas que que
“abriguem ou recepcionem”72 devem comunicar ao Conselho Tutelar todos os casos
ou suspeitas de maus-tratos praticados contra crianças e adolescentes.

O artigo 136 do ECA73 discorre sobre as atribuições do Conselho Tutelar:

Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar:


I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos arts. 98 e
105, aplicando as medidas previstas no art. 101, I a VII;

67
BRASIL. Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente. Art. 131
68
BRASIL. Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente. Art. 13
69
Ibid., Art. 56, I
70
Ibid., Art. 70
71
Ibid., Art. 71
72
Ibid., Art.94-A
73
Ibid., Art. 136
II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as medidas
previstas no art. 129, I a VII;
III - promover a execução de suas decisões, podendo para tanto:
a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, serviço social,
previdência, trabalho e segurança;
b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de descumprimento
injustificado de suas deliberações.
IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua infração
administrativa ou penal contra os direitos da criança ou adolescente;
V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua competência;
VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade judiciária, dentre as
previstas no art. 101, de I a VI, para o adolescente autor de ato infracional;
VII - expedir notificações;
VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de criança ou
adolescente quando necessário;
IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta
orçamentária para planos e programas de atendimento dos direitos da
criança e do adolescente;
X - representar, em nome da pessoa e da família, contra a violação dos
direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso II, da Constituição Federal ;
XI - representar ao Ministério Público para efeito das ações de perda ou
suspensão do poder familiar, após esgotadas as possibilidades de
manutenção da criança ou do adolescente junto à família natural.
XII - promover e incentivar, na comunidade e nos grupos profissionais,
ações de divulgação e treinamento para o reconhecimento de sintomas de
maus-tratos em crianças e adolescentes.

Neste sentido, o parágrafo único ainda dispõe que o Conselho Tutelar tem
competência para afastar a criança ou o adolescente do convívio familiar, caso
entenda necessário, comunicando o fato e prestando esclarecimentos ao Ministério
Público.74 Ainda, por ter legitimidade para atuar, os atos do Conselho Tutelar só
poderão ser revistos “pela autoridade judiciária a pedido de quem tenha legítimo
interesse”.75

O ECA criminaliza o fato de alguém impedir ou embaraçar alguma ação do


Conselho Tutelar, punindo com detenção de seis meses a dois anos 76 e, o
descumprimento, seja dolosa ou culposamente, dos deveres inerentes ao poder
familiar, tutela ou guarda, acarretará punição de multa de três a vinte salários de
referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência.77

5.5 Declaração dos Direitos Humanos

74
BRASIL. Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente. Art.136, p.
único
75
Ibid., Art. 137
76
Ibid., Art. 236
77
Ibid., Art. 249
A Convenção sobre os Direitos da Criança foi adotada pela Assembleia Geral
da ONU em 20 de novembro de 1989, sendo um marco na mudança da perspectiva
da criança e do adolescente com um sujeito de direitos. Figueiredo e Novaes
apontam que:
sua proclamação foi tida como responsável pela mudança de paradigma na
normativa jurídica internacional, que evolui para a Doutrina da Proteção
Integral, na qual há uma valorização da condição de ser pessoa em
situação peculiar de desenvolvimento, e passa a considerar as crianças e
78
os adolescentes como sujeitos de direitos.

No que tange a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de


São José da Costa Rica) visa a proteção da dignidade da pessoa humana bem
como a proteção de todos os indivíduos de qualquer tipo de violência e exploração,
sobretudo aqueles que estão em condição de vulnerabilidade, que seriam as
crianças e adolescentes.79

O Governo Federal do Brasil juntamente com os Direitos Humanos criou um


canal de denúncia denominado Disque 100 presta serviços de apoio a vítimas em
situação de vulnerabilidade. Este canal é destinado a qualquer pessoa em situação
de violação dos direitos humanos.80

Entre os grupos de vulnerabilidade, estão as crianças e os adolescentes. Em


uma reportagem no site oficial do Governo Federal, a Ouvidoria Nacional de Direitos
Humanos (ONDH) disponibilizou que em 2021 o Disque 100 recebeu mais de 6 mil
denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes no período de janeiro
a maio. Esse número representa 17,5% do total de denúncias de violência contra
este grupo, neste mesmo período.81

Fernando Ferreira, ouvidor nacional de direitos humanos, informou que:

Estamos avançando na gestão e divulgação dos dados do Disque 100 e do


Ligue 180 para fomentar a construção de políticas públicas com base em
dados e evidencias científicas. Os dados permitem que gestores,

78
FIGUEIREDO, Dalila; NOVAES, Marina M. Aspectos legais do tráfico de crianças e adolescentes
para fins de exploração sexual: apoio, orientação e acompanhamento jurídico. In: PARTNERS OF
THE AMERICA. Programa de Assistência a Crianças e Adolescentes Vítimas de Tráfico para fins de
Exploração Sexual. Sistematização. Coletânea 3: Metodologia. Fortaleza: Expressão Gráfica, s/d., p.
28
79
CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS. Pacto São José da Costa Rica. 1969.
80
GOVERNO FEDERAL. Denunciar violação de direitos humanos (Disque 100). 2021
81
GOVERNO FEDERAL. Disque 100 tem mais de 6 mil denúncias de violência sexual contra crianças
e adolescentes em 2021
acadêmicos e sociedade civil enfrentem as violações de direitos humanos
82
de forma direcionada e efetiva.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos caracteriza os direitos


humanos como uma condição essencial para a paz, a justiça e a Democracia. Nesta
feita, a UNICEF dispõe que:

O carácter universal dos direitos humanos significa que valem igualmente


para todas as crianças e todos os adolescentes. Eles, não obstante, têm
alguns direitos humanos adicionais que respondem às suas necessidades
específicas em termos de proteção e de desenvolvimento. Todas as
crianças e todos os adolescentes têm os mesmos direitos. Esses direitos
também estão conectados, e todos são igualmente importantes – eles não
83
podem ser tirados das crianças e dos adolescentes.

Assim, os Direitos Humanos desempenham um papel de extrema importância


para a proteção dos direitos das crianças e dos adolescentes, pois atuam de forma
ativa no combate à violência contra os vulneráveis.

6. DA FASE DE INVESTIGAÇÃO
6.1 Como identificar uma vítima

Todos os tipos de violência marcam a vida das vítimas. Algumas delas


manifestam sinais evidentes, já outras emanam sinais quase imperceptíveis, que por
muitas vezes fica despercebido. A identificação de uma vítima é um trabalho
complexo, por isso, saber identificar os sinais possibilita a maior proteção ou até
mesmo o rompimento da violência.84

O Ministério da Educação elaborou um guia denominado “Identificação de


Sinais de Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes”. O documento
elucida várias formas de identificar quando uma criança ou adolescente está sendo
vítima de abuso sexual e, muitas vezes, os sinais são não verbais.85

Os sinais corporais aparentes, denominados de provas materiais, aparecem


quando o agressor deixa marcas ou lesões no corpo da vítima geradas através de
82
Ibid.
83
UNICEF. Os direitos das crianças e dos adolescentes
84
MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITORIOS. Violência Sexual contra
Crianças e Adolescentes: identificação e enfrentamento. 2015
85
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Guia Escolar - Identificação de Sinais de Abuso e Exploração
Sexual de Crianças e Adolescentes. 2011
violência física; quando a vítima se queixar, sem motivo aparente, de “dor, inchaço,
lesão ou sangramento nas áreas da vagina ou ânus a ponto de causar dificuldade de
caminhar ou sentar”. Quando constatar a presença de sangue nas partes íntimas ou
roupas da criança, “infecções urinárias, cólicas intestinais, odor vaginal, corrimento
ou outras secreções” também são sinais aparentes. Além disso, o aparecimento de
doenças sexualmente transmissíveis é um sinal claro de que a criança ou
adolescente está sendo vítima de abuso sexual.86

Os sinais não aparentes, denominado provas imateriais, estão relacionados


ao comportamento e sentimento da vítima. Nestes casos, a identificação se dá por
meio da observância do comportamento da criança ou do adolescente como por
exemplo a mudança radical de comportamento; oscilações extremas de humor;
desenvolvimento da síndrome do pânico; medo de escuro ou de lugares fechados;
baixa autoestima, medo em desagradar os outros; depressão e comportamentos
autodestrutivos; vergonha excessiva, sobretudo ao trocar de roupa na frente de
outras pessoas; ansiedade; culpa e autoflagelação; regressão a comportamentos
infantis.87

Ainda, os sinais relacionados a sexualidade da criança e do adolescente


precisam ser observados quando há uma curiosidade sexual excessiva; expressões
de afeto sexualizadas, seja por provocação ou por brincadeiras impróprias para
crianças e adolescentes; masturbação compulsiva ou pública; desenhos e relatos de
órgãos genitais com detalhes que vão além do conhecimento de sua faixa etária;
ansiedade quando se trata de temas sexuais.88

Quando a criança ou o adolescente começa a ter hábitos, cuidados corporais


ou higiênicos diversos dos que tinham habitualmente, pode caracterizar sinais de
violência sexual. Neste âmbito as vítimas tendem a abandonar seu estado infantil,
ainda que temporariamente; mudar os hábitos alimentares, desenvolvendo anorexia
ou obesidade; ter pesadelos e distúrbios de sono; descuidar da aparência e da
higiene pela relutância de trocar de roupas; criar compulsão em lavar as mãos; não

86
Ibid., 2011, p. 88
87
Ibid., 2011, p. 89
88
Ibid., 2011, p. 89 - 90
querer participar de atividades físicas; desenvolver tiques motores; começar a
consumir álcool e drogas.89

Além destes sinais, a vítima de abuso sexual infantil tende a decair no


rendimento escolar devido à dificuldade de concentração e aprendizagem; ausência
de participação nas atividades; relutância em ir pra casa após a aula. No âmbito
social a vítima tende a se isolar; evitar contato físico; ter dificuldade em confiar nas
pessoas a sua volta; fugir de casa com frequência; cometer delitos como forma de
transgressão ou de chamar atenção, ainda que sem pretensão.90

6.2 Proteção do poder familiar

O poder de família pode ser denominado como o “conjunto de direitos e


deveres atribuídos aos pais, com relação aos filhos menores e não emancipados,
com relação à pessoa deste e a seus bens”, segundo o doutrinador Sílvio de Sávio
Venosa.91

No antigo Código Civil não era previsto o poder familiar e sim o poder pátrio,
no qual defendia que o poder era exercido pelo pai, podendo até ter o auxílio da
mãe, porém a vontade paterna sempre prevalecia como a mais relevante. A partir do
Código Civil de 2002, mudou-se este conceito para poder de família, que foi
instituído por intermédio do doutrinador Miguel Reale.92

Vale ressaltar que Maria Berenice Dias entende que o poder familiar é
"intransferível, inalienável, imprescritível, e decorre tanto da paternidade natural
como da filiação legal e da socioafetiva. As obrigações que dele fluem são

89
Ibid., 2011, p. 91
90
Ibid., 2011, p. 91
91
VENOSA, Sílvio de Sávio, Direito Civil: Direito de família, 5ª edição, São Paulo, Atlas, 2005, p. 355
92
REALE, Miguel. Visão geral do novo Código Civil. In: TAPAI, Giselle de Melo Braga (Coord.). Novo
código civil brasileiro: lei 10406, de 10 de janeiro de 2002: estudo comparativo com o código civil de
1916, Constituição Federal, legislação codificada e extravagante. 3ª ed. rev. e ampl. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2003, p. 9-19
personalíssimas. Como os pais não podem renunciar aos filhos, os encargos que
derivam da paternidade também não podem ser transferidos ou alienados." 93

Este instituto está previsto também no ordenamento jurídico do ECA,


dispondo em seu artigo 21 que “o poder familiar será exercido, em igualdade de
condições, pelo pai e pela mãe, na forma do que dispuser a legislação civil,
assegurado a qualquer deles o direito de, em caso de discordância, recorrer à
autoridade judiciária competente para a solução da divergência”.94

Ainda, o Código Civil dispõe que “os filhos estão sujeitos ao poder familiar,
enquanto menores”,95 bem como que “compete a ambos os pais, qualquer que seja
a sua situação conjugal, o pleno exercício do poder familiar”.96

Neste sentido, entende-se como poder familiar o vínculo estabelecido entre


pais e filhos menores, desde que não emancipados, entendendo Maria Helena Diniz
que:
O poder familiar consiste num conjunto de direitos e obrigações, quanto à
pessoa e bens do filho menor não emancipado, exercido em igualdade de
condições por ambos os pais, para que possam desempenhar os encargos
que a norma jurídica lhes impõe, tendo em vista o interesse e a proteção
97
dos filhos.

É interessante ressaltar que o entendimento jurisprudencial do Tribunal de


Justiça do Rio Grande do Sul98 acerca do assunto:

Ementa: Apelação Cível. Ação de Alimentos. Obrigação Avoenga. Caráter


subsidiário ou complementar, porquanto aos pais incumbe o dever de
sustento, guarda e educação dos filhos, decorrente do poder
familiar (arts. 1.566, IV e 1.698 do Código Civil). Para a fixação de
alimentos deve-se observar o binômio alimentar de forma a atender as
necessidades do alimentando sem onerar em demasia o alimentante (art.
1694, § 1º, CC). Apelação Cível desprovida. (Tribunal de Justiça do Estado
do Rio Grande do Sul – Sétima Câmara Cível/ Apelação Cível Nº.
70048091979/ Relator Desembargador Jorge Luís Dall'Agnol/ Julgado em
27.06.2012)

93
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 9ª ed. rev., atual. e ampl. de acordo com: Lei
12.344/2010 (regime obrigatório de bens): Lei 12.398/2011 (direito de visita dos avós). São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2013
94
BRASIL. Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente. Art. 21
95
BRASIL. Código Civil. Art. 1.630
96
Ibid., Art. 1.634
97
DINIZ, Maria Helena. Código civil anotado. 16ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012
98
BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul – Sétima Câmara Cível/ Apelação
Cível Nº. 70048091979/ Relator Desembargador Jorge Luís Dall'Agnol/ Julgado em 27.06.2012
Outrossim, perderá o poder de família, o pai ou mãe, mediante decisão
judicial,99 que castigar imoderadamente o filho,100 o abandonar,101 praticar atos
contrários à moral e aos bons costumes,102 entregar o filho a terceiros para fins de
adoção irregular.103 Além disso, também incorre nesta perda àquele que praticar,
contra o outro titular do mesmo poder familiar o exposto no artigo 1.638, parágrafo
único,104 veja:

Art. 1638. (…) a) homicídio, feminicídio ou lesão corporal de natureza grave


ou seguida de morte, quando se tratar de crime doloso envolvendo violência
doméstica e familiar ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher;
b) estupro ou outro crime contra a dignidade sexual sujeito à pena de
reclusão;
II – praticar contra filho, filha ou outro descendente:
a) homicídio, feminicídio ou lesão corporal de natureza grave ou seguida de
morte, quando se tratar de crime doloso envolvendo violência doméstica e
familiar ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher;
b) estupro, estupro de vulnerável ou outro crime contra a dignidade sexual
sujeito à pena de reclusão.

Por fim, o poder de família pode ser extinguido quando ocorrer a morte dos
pais ou do filho,105 pela emancipação do filho,106 quando o mesmo completar a
maioridade,107 pela adoção108 ou por decisão judicial.109 Além disso, o poder de
família será suspenso quando o pai ou a mãe “abusar de sua autoridade, faltando
aos deveres a eles inerentes ou arruinando os bens dos filhos”,110 assim como
àquele genitor que for condenado por sentença irrecorrível, em virtude de crime cuja
pena exceda a dois anos de prisão.111

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

99
BRASIL. Código Civil. Art. 1.638
100
Ibid., Art. 1.638, I
101
Ibid., Art. 1.638, II
102
Ibid., Art. 1.638, III
103
Ibid., Art. 1.638, V
104
Ibid., Art. 1.638, parágrafo único
105
Ibid., Art. 1.635, I
106
Ibid., Art. 1.635, II
107
Ibid., Art. 1.635, III
108
Ibid., Art. 1.635, IV
109
Ibid., Art. 1.635, V
110
Ibid., Art. 1.637
111
Ibid., Art. 1.637, parágrafo único
Tanto a criança quanto o adolescente são sujeitos de direitos e são
influenciáveis pelo meio em que vivem, mas que, em contrapartida, são dotadas de
voz própria e devem ser ouvidas. O processo de socialização destes indivíduos
envolve todos os aspectos de sua infância, influenciando o seu desenvolvimento
pessoal.

A violência sexual em si é um crime contra a intimidade e dignidade sexual de


um indivíduo. Quando esse crime é cometido contra crianças e adolescentes torna-
se ainda mais cruel, por aproveitar da vulnerabilidade de indivíduos em formação,
sendo de extrema importância aprender a identificar uma vítima.

O abuso sexual infantil pode ocorrer no âmbito familiar, sendo definido como
o uso da sexualidade da criança ou adolescente por pessoas que mantenham
vínculo de parentesco. Geralmente nestes casos, a vítima se mantém silente, seja
por coação física ou psicológica, que lhe cause medo da rejeição ou da dissolução
familiar, vergonha ou até mesmo por ser seduzida a praticar relações sexuais com
um adulto, sem que tenha capacidade de entender o que realmente está
acontecendo. As mesmas características são encontradas no abuso incestuoso,
entretanto, o laço familiar no incesto é mais estreito, ocorrendo entre pais/mães e
filhos ou entre irmãos, seja consanguíneos ou adotivos.

Pode ocorrer também no âmbito social. Nestes casos envolvem questões


sociais, culturais, econômicas e políticas, atingindo todos os gêneros, etnias, raças e
classes sociais, sobretudo, as classes economicamente menos favorecidas, no qual
o agressor explora o estado de extrema fragilidade das vítimas para cometer o
crime.

Os agressores sexuais de crianças e adolescentes podem ou não ser


denominados como pedófilos. Isso porque, conforme pesquisa realizada, a pedofilia
tem um conceito parafílico, ou seja, é considerada uma doença e, não é
criminalizada no Brasil. Entretanto, um pedófilo torna-se criminoso quando seus
desejos passam para a ação, seja pela agressão sexual contra a criança ou ao
adolescente, seja pelo consumo de pornografia infantil.
O Código Penal e o Estatuto da Criança e do Adolescente penalizam os
crimes relacionados a violação sexual infanto juvenil, a fim de combater o abuso e
exploração sexual destas vítimas, bem como protegê-las de qualquer outro crime
que venha a violar sua intimidade e dignidade sexual. Além disso, conforme previsão
da Constituição Federal é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à
criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
dignidade, ao respeito, à liberdade, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Por fim, importante ressaltar que entidades como o Conselho Tutelar,


Ministério Público e os Direitos Humanos mantêm presença assídua e exaustiva no
combate e prevenção dos crimes que envolvam criança e adolescente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de


transtornos mentais: DSM-IV-TR. 4. ed. texto rev. Porto Alegre, RS: Artmed, 2002

ANDRADE, Ângela Nobre de. A criança na sociedade contemporânea: do "ainda


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