Você está na página 1de 58

A Raça Savanna

Caprinos de Corte
Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S.A.
Vinculada à Secretaria de Estado do Desenvolvimento da Agropecuária e da Pesca

A Raça Savanna
Caprinos de Corte

Wandrick Hauss de Sousa


Maria das Graças Gomes Cunha

João Pessoa - Paraíba - Brasil


Setembro 2008
Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S.A. - Emepa
Rua Eurípedes Tavares, 210 - Tambiá
Caixa Postal 275 CEP 58013-290 João Pessoa, PB
Home page: www.emepa.org.br E-mail: emepa@emepa.org.br

Comitê Editorial

Presidente: Camilo Flamarion de Oliveira Franco


Editor técnico: Elson Soares dos Santos
Secretária: Maria Leoneide Leite da Nóbrega
Membros: Jorge Cazé Filho, Ladilson de Souza Macêdo, Edson Cavalcante
Matias, Ivonete Berto Menino, Paula Fernanda Barbosa de Araújo Lemos

Editoração eletrônica
Elson Soares dos Santos

1ª Edição
1ª Impressão (2008): 1.000 exemplares

Todos os direitos reservados.


A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação
dos direitos autorais (Lei nº 9.610).

Ficha catalográfica elaborada pelo Setor de Informação e Documentação.


Biblioteca da Emepa - João Pessoa, PB.

S725r SOUSA, W.H.de; CUNHA, M. das G. G. A raça Savanna:


2008 caprinos de corte. João Pessoa, PB: Emepa, 2008.

56 p. : il. (Emepa. Documentos, 57)


ISSN 0102-0919

1. Caprinos de corte 2. Savanna 3. Produção de carne I. Título


II. Série.
CDD: 636.392
 Emepa 2008
Apresentação
No Nordeste brasileiro, a caprinocultura de corte constitui uma
alternativa fortemente promissora para o agronegócio. A produção de carne
caprina é uma atividade econômica de grande importância para o Brasil, por
representar um negócio de oferta de produtos (cárneos) e subprodutos (peles,
estercos e outros), gerador de emprego e renda. No semi-árido, é a principal
fonte protéica alimentar e uma excelente fonte de renda.
Com o rápido crescimento da população humana, a demanda contínua
por proteína animal tem excedido a produção e promovido a necessidade de
melhoria dos sistemas de produção. A formação de proteína pelos animais de
produção e a sua utilização na alimentação humana não são processos simples,
mas várias metodologias têm sido exploradas e desenvolvidas, incluindo o
melhoramento genético, a melhoria do manejo alimentar, das instalações, das
medidas profiláticas das doenças, dentre outras.
Em confronto com essa necessidade, a Empresa Estadual de Pesquisa
Agropecuária da Paraíba S.A. - Emepa, juntamente com lideranças
governamentais, no ano de 2000, importou embriões da raça Savanna, que
graças à sua rusticidade, como vem demonstrando essa característica desde sua
introdução no Cariri paraibano, respondendo satisfatoriamente ao manejo na
caatinga, com certeza ocupará importante papel no cenário mercadológico
nacional de carne.
O compromisso com o desenvolvimento da caprinocultura de corte no
Estado da Paraíba, especialmente no Cariri e Sertão, motivou a elaboração
desta publicação que reúne valiosos conhecimentos zootécnicos e informações
científicas objetivas e organizadas para uso dos técnicos, criadores e pessoas
interessadas nessa atividade. Esses conhecimentos e informações
disponibilizados, bem aplicados, são capazes de promover incremento de
produtividade animal, melhoria nos sistemas de produção de caprinos de corte
e competitividade de mercado.
É motivo de grande satisfação apresentar ao público o livro “A Raça
Savanna: caprinos de corte”. Destacamos todo o apoio da Emepa na conclusão
e publicação desta obra, de valor significativo para o desenvolvimento sustentável
do agronegócio da caprinocultura de corte no Estado da Paraíba e melhoria da
qualidade de vida de milhões de famílias, sobretudo, na região semi-árida. Nossso
reconhecimento e agradecimentos sinceros a todos que contribuíram para a
conclusão deste livro, que será de grande valor para os produtores da região e,
indiretamente, para toda a sociedade. Registramos, mais uma vez, nosso
compromisso com a sociedade.

Miguel Barreiro Neto


Diretor-Presidente da Emepa
Prefácio

A oportunidade e a necessidade de se escrever e publicar um livro sobre


a “Raça Savanna”, há quase oito anos introduzida no Brasil, sinalizam a ausência
de informações técnicas no país, sobre essa extraordinária raça branca das
savannas africanas, tão excelente para produção de carne como a raça Boer e
talvez de melhor adaptabilidade às caatingas e sertões nordestinos.
Recebi do emérito pesquisador paraibano Wandrick Hauss de Sousa,
de nome internacional em melhoramento de caprinos e ovinos, um chamado
para prefaciar mais um trabalho de sua autoria dedicado à “Raça Savanna”.
Fiquei feliz com a oportunidade de poder relembrar aos leitores alguns momentos
que antecederam e aconteceram para a introdução dessa raça em nosso país.
Fomos companheiros em duas missões técnicas à África do Sul, em 1998 e
1999. Na época, o governo do Estado da Paraíba nos confiou e nos oportunizou
participarmos de um dos mais importantes acontecimentos históricos da
caprinocultura brasileira; a importação e introdução, pela primeira vez no país,
de raças caprinas especializadas em produção de carne. Na época, já se falava
no Brasil em caprinos Boer e ovinos Dorper, mas a raça Savanna era totalmente
desconhecida, e, coube a decisão de incluí-la como material genético necessário
ao País, em reunião na Fazenda “D.S.U. CILLIERS & SONS” dos Hotzé e
Cilliers de Douglas - África do Sul, quando Mário Silveira, na época Secretário
do Planejamento do Estado da Paraíba e presente na ocasião, com nossa
assessoria, definiu a inclusão dessa raça na relação de embriões que seriam
importados para o Estado, através da Emepa. Foi um dia histórico....
Ao visualizarmos e avaliarmos as qualidades zootécnicas daqueles
caprinos brancos que nos eram mostrados pelos proprietários e fundadores da
raça na Fazenda e à medida que desfilavam mais animais, maior ficava nosso
entusiasmo. Estávamos no centro de fundação e seleção dessa raça e entre os
melhores exemplares que existiam na África do Sul. Na época, apareciam como
ícones da raça, os reprodutores “NEVILLE e VEEPOS”, extraordinários animais
e monumentos vivos da interferência da inteligência zootécnica dos pesquisadores
e criadores sul-africanos.
Quando nos deslocamos para os campos de criação (Savannas), onde
eram criados os caprinos, começamos a verificar que os caprinos “savanna”,
eram mais rápidos no deslocamento através dos bosques por comida, que os
mesmos eram especialistas em subir em arbustos e pequenas árvores, capazes
de aproveitar de quase tudo que existia de vegetação, fossem gramíneas, arbustos
espinhosos ou folhas. Nascia em nós, um novo conceito sobre essa raça branca.
Foi devido a essas observações, que se definiu na Emepa, qual seria a
área para essa raça ser avaliada, e a escolha recaiu na Estação Experimental de
Pendência, no mais autêntico Cariri Paraibano e em uma das caatingas
hiperxerófilas mais secas do Nordeste setentrional do Brasil.
Aí seria a morada da raça Savanna e seria em Pendência onde ela seria
avaliada e criada. Foi só um sucesso, onde se encontrava uma cabra nativa lá
dentro da caatinga, lá estava uma da raça Savanna ao seu lado. Adaptabilidade
total ao nosso semi-árido.
Falamos tudo isso, com muito entusiasmo, porque acreditamos que a
“Raça Savanna”, em muito breve tempo, talvez após esta publicação, se torne
no que ela realmente apresenta ser e será para a caprinovinocultura de corte –
a “nelore” dos caprinos. Rústica, produtiva, de movimentação rápida, de pele
escura e pêlos brancos, conversão alimentar extraordinária e boa criadeira.
Representará uma grande contribuição para o sucesso da cadeia produtiva da
carne caprina, em seleção pura ou em cruzamentos e o Brasil deverá reconhecer
mais essa contribuição que a Paraíba fez pela qualidade genética e zootécnica
dessas espécies.
Para que estas oportunidades acontecessem, que estes conhecimentos
fossem repassados aos criadores e estudiosos da caprinocultura no País, foi
necessária a existência de um Wandrick Hauss de Sousa, esse batalhador
incansável, que além de pesquisador acredita e sabe fazer acontecer “sonhos”
em realidades. Obrigado pela oportunidade e mais uma vez lhe parabenizo e
sua equipe, pelo que realizam.

Paulo Roberto de Miranda Leite


Pesquisador e ex-dirigente da Emepa
Sumário
Apresentação, 5

Prefácio, 7

1. Introdução, 11
2. Origem e História da Formação da Raça Savanna, 12
3. Descrição Morfológica da Raça Savanna, 16
4. Aquisição e Transferências dos Embriões no Brasil, 16
5. Características Raciais do Savanna, 19
5.1 Aspectos gerais, 19
5.2 Aspectos característicos da raça Savanna, 20
6. Defeitos que Eliminam o Animal, 23
7. Defeitos Desclassificantes para a Savanna e outras Raças Caprinas, 23
8. Padrão Racial Oficial da Raça Savanna no Brasil, 23
9. Características de Produção e Resultados Experimentais do Rebanho
Savanna da Emepa e na África do Sul, 28
9.1 Adaptabilidade, 28
9.2 Reprodução e crescimento, 34
9.3 Características de carcaças, 41
10. Grau de Semelhança com as outras Raças Sul Africanas, 44
11. Qualidade das Peles do Savanna, 46
12. Considerações Finais, 54
13. Referências Bibliográficas, 55
1. Introdução

O valor zootécnico dos caprinos da raça Savanna é determinado,


principalmente, por sua taxa de crescimento, eficiência reprodutiva,
capacidade adaptativa e qualidades de carcaça. As excelentes qualidades
das características da Savanna fazem desta raça uma alternativa promissora
quando se deseja selecionar caprinos para produção de carne. Os caprinos
Savanna têm mostrado ter capacidade de transmitir suas qualidades
superiores quando utilizados em sistemas de cruzamentos, sendo esta
uma das maiores contribuições que esses animais poderão promover aqui
no Brasil.
O processo de formação e melhoramento da raça Savanna, tendo
como base características relacionadas às funções de produção e de
adaptabilidade conferiu a esta raça excelentes aptidões para produção de
carne. Esta característica, principal função econômica na raça Savanna,
está diretamente relacionada à: (i) capacidade reprodutiva, alta
prolificidade e curto intervalo entre partos; (ii) crescimento dos cabritos;
(iii) peso e qualidade da carcaça.
A capacidade reprodutiva da cabra Savanna, representada pela
sua habilidade em produzir e desmamar mais cabritos por parto, é fator
determinante na produção total de carne por cabra/ano. Além disso, a
velocidade de crescimento dos cabritos permite ao criador colocar no
mercado cabritos mais jovens, com o mesmo peso de abate do que ocorrem
nas outras raças, tradicionalmente, criadas no Brasil. Como a taxa de
crescimento está diretamente relacionada à eficiência alimentar, haverá
diminuição dos custos de produção e melhoria na qualidade da carcaça,
principalmente em condições de manejo nutricional adequadas. Assim,
ressalta-se que o retorno econômico do produtor depende basicamente
do número de cabritos comercializados e do seu preço. Este preço, por
sua vez, depende do peso da carcaça e de sua qualidade. Estes atributos
são bastante evidenciados nessa raça.
Este livro tem como propósito discutir a origem, o desempenho
das principais características de produção e reprodução e de carcaça do
rebanho experimental Savanna da Emepa, criado e preservado nas
condições adversas do semi-árido paraibano.
12 A Raça Savanna

2. Origem e História da Formação da Raça Savanna

A formação da raça Savanna teve início em 1957, por


D.S.U.Cilliers e seus filhos, a partir de cabras nativas brancas malhadas
de castanha da África do Sul, seguida de sucessivos acasalamentos com
reprodutores nativos de pelagens brancas. Como resultado da seleção
natural, imposta pela implacável lei da sobrevivência, esses animais
desenvolveram habilidades em várias características, incluindo aspectos
de reprodução, desenvolvimento muscular, pernas fortes e ossatura dos
cascos resistentes, além de apresentar peles flexíveis e grossas com pêlos
brancos curtos e uma mucosa totalmente preta e pigmentada. Assim,
somente teriam sobrevividos os animais mais aptos, restando apenas os
mais resistentes.
Uma vantagem da pelagem de cor branca é o fato dessa cor ser
dominante sobre as demais. Outra razão é que existia na época e, ainda
hoje, uma grande demanda por caprinos de pelagem branca para abate
por várias razões. Algumas tribos e/ou grupos religiosos abatiam caprinos
brancos por razões religiosas, outras para celebrarem o nascimento de
seus filhos, pois eles acreditavam que esses animais tinham uma carne de
melhor qualidade. Como resultado, os caprinos brancos alcançavam
preços mais altos.
Apesar do nível relativamente alto de consangüinidade, não foi
observada nenhuma degeneração devido a este efeito. Isto,
provavelmente, foi atribuído à seleção natural, onde os animais mais fracos
não sobreviviam.
O núcleo inicial expandiu-se para 12 outros criadores da África
do Sul. Desde o início, a seleção pretendia obter animais de coloração
branca e muito resistente à parasitas, com eficiente produtividade para
carne. A raça Savanna, portanto, é fruto de uma seleção feita por meio da
persistência e paciência de alguns criadores de caprinos de corte para
condições climáticas mais adversas das Savannas Sul Africanas.

Homologação - Em reunião ocorrida em 21 de novembro de 1993,


na cidade de Olierivier, ficou decidida a formação de uma Associação
para essa raça de caprinos. Cerca de doze criadores estavam presentes e
fundaram a Associação de Criadores da Raça Savanna Branca (Savannah
Caprinos de Corte 13

Excelentes animais originários da África do Sul, que representam o início


da formação da raça Savanna até os dias atuais, no Brasil.
14 A Raça Savanna

Referência da raça Savanna, na África do Sul. Plantel de Kotizé.


Caprinos de Corte 15

Referência da raça Savanna, na África do Sul. Plantel do D.S.U.Cilliers.


16 A Raça Savanna

3. Descrição Morfológica da Raça Savanna

De acordo com Campbell (1995), a cabeça é triangular, com os


chifres levemente penteados nas fêmeas. As orelhas são de comprimento
médio a longo, pouco maior que na raça Anglo-Nubiana, mas menores
do que nas raças Mambrina ou Bhuj.
A pele é flexível e grossa, com pêlos curtos e brancos. A pele é
totalmente pigmentada de negro. Como resultado dessa seleção natural,
a pele, como os chifres, cascos e toda pequena área visível da pele são
totalmente negras. A coloração negra da pele é uma condição de seleção
para enfrentar a insolação africana.
O Savanna é um caprino de estatura alta e massa muscular
desenvolvida, com machos adultos podendo alcançar 130 kg de peso
vivo. As fêmeas adultas pesam, normalmente, entre 55 e 70 kg. Os animais
são compridos, de boa conformação para produção de carne, lombo
comprido e largo, com pernas bastante musculosas. Os aprumos são bem
definidos, com membros fortes, ligamentos robustos, bom
desenvolvimento muscular, ossos, quartelas e cascos muito fortes.

4. Aquisição e Transferências dos Embriões no Brasil

A decisão de trazer a raça Savanna para o Brasil teve uma


participação decisiva de Mário Silveira, então secretário de Estado, no
ano de 2000. Com esse apoio a Empresa Estadual de Pesquisa
Agropecuária da Paraíba S.A. - Emepa enviou à África do Sul dois técnicos
Wandrick Hauss de Sousa e Paulo Roberto de Miranda Leite para adquirir
esse material genético inédito no Brasil
Foram escolhidas as melhores matrizes e reprodutores disponíveis
no plantel do D.S.U.Cilliers e seus filhos, para gerar os embriões que,
posteriormente, seriam trazidos para o Brasil, por meio da RAMSEM,
uma central de transferência de embriões, localizada na cidade de
Bloenfontein. Foram adquiridos 150 embriões para iniciar um criatório
no Brasil, cujas identidades encontram-se na Tabela 1.
Caprinos de Corte 17

As transferências de embriões na Estação Experimental de


Pendência, Município de Soledade, PB, foram realizadas por meio de
esforços de uma equipe sul-africana e brasileira, juntos com outros
embriões de animais das raças Boer e Dorper.
Os animais começaram a nascer no início do ano de 2000,
prenunciando um novo tempo para a pecuária de caprinos de corte no
Brasil. Não é difícil afirmar que a raça Savanna vai ocupar um grande
papel na produção de carne caprina no Brasil, junto com a raça Boer.
Afinal, ambas apresentam excelentes qualidades zootécnicas, com poucas
diferenças nas características de produção.

Tabela 1. Relação dos animais que originaram o rebanho Savanna da


Emepa.
Identificação das Identificação dos Número de
doadoras dos reprodutores pais embriões por
embriões dos embriões doadoras
6-97013 01-97039 3
-97017 01-100 15
KKS 5 (NE-15/6) 01-97049 15
KKS 6 (8) 01-100 2
KKS 8 ( NE-33/7) 01-8942 8
KKS 11 (LB-5/4) 01-97049 11
KKS 12 (7-LW) 01-100 4
KKS 14 (NE-35/7) 01-8942 8
KKS 15 (NE-21/7) 01-97049 12
KKS 17 (NE-26/6) 01-97049 2
KKS 18 (4-LW) 01-8942 8
KKS 20 (NE-26/7) 01-100 16
KKS 1 (K+C20) 01-100 3
KKS 3 (NE-6/7) 01-97049 11
KKS 9 (NE-9/7) 01-97023 16
KKS 19 (SH-24/5) 01-97023 16
Total de embriões 150
18 A Raça Savanna

Os primeiros animais Savanna nascidos no Brasil, na Estação Experimental


de Pendência da Emepa, no Município de Soledade, PB, no semi-árido
paraibano.
Caprinos de Corte 19

A raça Savanna é uma alternativa vislumbrante para o


fortalecimento da caprinocultura de corte no semi-árido paraibano, já
apresentando experimentalmente resultados promissores para o
atendimento constante de um mercado exigente de novas opções no
produto carne.
5. Características Raciais do Savanna

Segundo Campbell (1995), os seguintes aspectos e características


que contribuem para o valor econômico dos caprinos da raça Savanna
devem receber a máxima atenção na avaliação e seleção de animais
reprodutores desta raça para fins comerciais ou para registro.

5.1 Aspectos gerais

O caprino da raça Savanna deve ser forte, viril e funcionalmente


eficiente, ter uma aparência e comportamento vivo, mas não
demasiadamente selvagem. As cabras deverão ser de tamanho mediano,
mas devem ter uma aparência feminina e refinada. As cabras com crias
em amamentação devem ter um bom comportamento/instinto maternal e
defender agressivamente as suas crias de cães e outros predadores. Os
bodes devem ser masculinos, imponentes, robustos e bem musculados.
A raça Savanna foi desenvolvida sob condições ambientais bastante
adversas e por essa razão deve ser capaz de enfrentar condições
desfavoráveis, tais como: calor, intenso, radiações solar, frio e chuva. O
Savanna move-se facilmente e caso seja necessário, pode caminhar longas
distâncias à procura de água e alimentos (pastos). A Savanna, também,
deve ser capaz de utilizar uma vasta gama de plantas para a sua
alimentação, como árvores e arbustos de dimensões variadas, e pouco
palatáveis para outras espécies domésticas.
A cabra Savanna deve ser poliestrica contínua na sua atividade
reprodutiva, isto é, ter uma longa época apta para a reprodução e manter-
se sexualmente ativa e capaz de reproduzir em qualquer época do ano.
20 A Raça Savanna

5.2 Aspectos característicos da raça Savanna

• Aparência viva;
• Conformação simétrica, com as pernas e o tronco nem demasiada-
mente longos nem demasiadamente curtos;
• Pêlos brancos, curtos e lisos. Durante os meses de inverno (em ambientes
muito frios), os caprinos podem desenvolver uma pequena camada
suplementar de pêlos de proteção mais finos e fofos do tipo lã;
• Maxilares bem desenvolvidos e fortes, dentes fortes e duráveis;
• Uma longa vida produtiva.

5.2.1 Cabeça

A raça Savanna apresenta na região crânio-facial algumas


características específicas, tais como: a região frontal apresentando uma
ligeira convexidade, a cabeça e o nariz devem ser relativamente largos e
não afilados. A boca deve apresentar uma maior amplitude no sentido
transversal e os lábios devem apresentar a camada de pele móvel e
flexível e a camada muscular, constituída pelo músculo orbicular dos
lábios, bem desenvolvida.
Os dentes inferiores dos animais jovens e adultos devem ocluir
com a arcada superior, na almofada dental das maxilas.
Não obstante, podem ser toleradas (exceto para aquelas
relacionadas aos defeitos genéticos) variações de até 6 mm com relação
à oclusão, em animais acima de quatro anos de idade, face às alterações
morfológicas decorrentes do processo de envelhecimento dessas
formações anatômicas .
Os olhos devem ser vivos e circundados por pele e pálpebras
pigmentadas de negro e devem estar bem protegidos por fossas oculares
bem desenvolvidas e proeminentes supra orbitais, para proteger os olhos
dos efeitos negativos da intensa radiação solar dos trópicos.
As orelhas devem ser relativamente grandes e de forma oval,
penduradas e caídas junto à cabeça. Devem ser, também, bem pigmentadas
e móveis como forma de proteger os caprinos de moscas, mosquitos,
carrapatos e outros insetos.
Caprinos de Corte 21

Os chifres do Savanna são de cor preta e crescem para traz da


coroa da cabeça. Os chifres não deverão ser demasiados longos ou fora
de proporção. Os bodes têm chifres ligeiramente mais pesados e fortes
do que as cabras. Na base deve ter uma distância razoável entre os chifres.
As cabras e os bodes devem ser capazes de usar os chifres para se
protegerem e as suas crias dos predadores.

5.2.2 Pescoço, quarto anterior, pernas e cascos

O pescoço da Savanna é bem musculado e razoavelmente longo,


para que o animal possa alcançar os alimentos, o mais alto possível, para
poder se alimentar nos ramos dos vários tipos de árvores e arbustos
espinhosos tropicais. O quarto anterior é bem musculoso (cheio) e de
comprimento mediano. Um quarto anterior demasiadamente estreito ou
demasiadamente largo deve ser bastante penalizando.
As pernas dianteiras são retas (bons aprumos) e bem posicionadas,
com ossos das canelas das pernas traseiras e dianteiras bastante fortes.
As quartelas das pernas dianteiras e traseiras devem ser fortes e
ligeiramente inclinadas. Articulações das quartelas fracas ou retas devem
ser penalizadas.
Os cascos devem ser fortes, duros, pretos e razoavelmente grandes.
As duas secções de cada casco devem estar próximas uma da outra. Os
cascos das pernas dianteiras e traseiras não devem crescer em demasia e
os cascos do animal Savanna devem ser resistentes à lesões e à infecções.
As paletas e os ombros devem ser bem cobertos de músculos e bem
ajustados à cernelha. O processo espinhoso deve ser ligeiramente mais
alto do que o lombo do animal.
Os bodes mais velhos têm pregas cutâneas (dobras), de tamanho
médio, sob o pescoço e o quarto dianteiro.

5.2.3 Tronco e lombo

O tronco deve ser razoavelmente longo, largo e profundo. A


Savanna deve possuir suficiente capacidade para ingerir alimentos
22 A Raça Savanna

volumosos (pasto), e convertê-los em energia e carne. O lombo e o dorso


devem ser largos e fortes, com uma boa cobertura muscular. O tronco
dos animais mais velhos não deve ser demasiadamente cilíndrico ou pouco
profundo.

5.2.4 Quartos e pernas trazeiras

Nas fêmeas, os quartos traseiros devem ser largos, com as pernas


com bons aprumos e bem separadas, para permitir um bom
desenvolvimento do aparelho mamário. A garupa deve mostrar razoável
inclinação, tal como nos antílopes selvagens africanos.
Os quartos traseiros devem ser bem musculados e cheios de
músculos, as pernas e os jarretes fortes e bem musculados, e os tendões
de Aquiles bem proeminentes e visíveis. Os jarretes não devem ter rotação
para dentro ou para fora quando o animal caminha, mas devem ser capazes
de suportar facilmente nas suas pernas traseiras.
A cauda da Savanna deve ser reta para cima, bastante móvel e
bem coberta de pêlos. A parte ventral da cauda deve ter pigmentação
negra.

5.2.5 Cor da pelagem e pigmentação

A Savanna é um caprino de pelagem totalmente branca, com


chifres, nariz, úbere, órgãos sexuais e cascos negros. Uma quantidade
limitada de pêlos vermelhos, azuis ou negros é permitida. O animal é
coberto por pêlos curtos e lisos. Uma pequena camada de pêlos finos
tipo Cashmere surge para proteger o animal de temperaturas
extremamente baixas, nos meses de inverno, em regiões muito frias.

5.2.6 Órgãos sexuais

Os órgãos sexuais devem ser normais e bem desenvolvidos. No


caso do bode, dois testículos normais e saudáveis devem estar presentes
num escroto curto. O escroto não deve ser excessivamente dividido. A
cabra deve ter um úbere bem desenvolvido, mas não excessivamente
pigmentado de negro, com duas tetas. Quatro tetas, também, são
aceitáveis, nos termos do padrão específico da raça.
Caprinos de Corte 23

6. Defeitos que Eliminam o Animal

Os defeitos a eliminar são: 1) Qualquer desvio da conformação


normal que possa influenciar a eficiência funcional; 2) Tamanho
excessivamente grande ou pequeno dos animais; 3) Boca e máxilas
anormais; 4) Mandíbula inferior excessivamente desenvolvida; 5) Defeitos
das pernas e cascos; 6) Articulações da quartela fracas ou anormais; 7)
Defeitos nos órgãos sexuais ou no aparelho mamário; 8) Mais de duas
tetas em cacho (mais de duas tetas em cada metade do úbere); 9)
Pigmentação incompleta ou demasiadamente clara.
7. Defeitos Desclassificantes para a Savanna e outras
Raças Caprinas

Os defeitos e pelagens inadmissíveis no padrão da raça são:


agnatismo, prognatismo e inhatismo; olhos com iris despigmentada;
cegueira parcial ou total; albinismo; lordose e/ou cifose; membros fracos
e mal aprumados; monorquidismo ou criptoquidismo; testículos
atrofiados; hiperplasia e hipoplasia testicular unilateral ou bilateral;
hermafroditismo; qualquer anormalidade dos órgãos sexuais; úbere com
assimetria acentuada ou excessivamente penduloso, com o “fundo”
passando dos jarretes; tetas extras, nos machos (exceto para a raça
Savanna e Boer nos termos do padrão específicos); tetas extras funcionais,
nas fêmeas (exceto para a raça Boer e Savanna, nos termos do padrão
específico); esterilidade comprovada ou defeitos que impeçam a
reprodução; defeitos físicos, ou de nascença; pele despigmentada, exceto
aquelas especificadas no padrão racial; relaxamento excessivo dos
músculos abdominais; ancas excessivamente estreitas, que possam
interferir na parição; peitos excessivamente estreitos, interferindo nos
aprumos; masculinidade, nas fêmeas; feminilidade, nos machos.
8. Padrão Racial Oficial da Raça Savanna no Brasil

As características e descrição do padrão racial oficial da raça


Savanna no Brasil, encontram-se na Tabela 2, de acordo com a Associação
Brasileira dos Criadores de Caprinos - ABCC.
24

Tabela 2. Padrão racial oficial da raça Savanna no Brasil.

Órgãos Ideal Permissível Desclassificante

1. CABEÇA Forte, ligeiramente curva, nariz relativamente amplo e - Qualquer defeito da boca
não afinado. Boca razoavelmente larga, com lábios ou dos maxilares.
superiores e inferiores bem musculosos.
Os dentes inferiores deverão se encaixar corretamente
na almofada da mandíbula.
PERFIL Sub-convexo a convexo Ligeiramente Côncavo
retilíneo
ORELHAS Relativamente grandes e de forma oval, penduradas e - Orelhas pregueadas no
caídas junto à cabeça. Devem ser, também, bem sentido vertical, torcidas,
pigmentadas. muito curtas.
A Raça Savanna

CHIFRES Fortes, de comprimento médio, moderadamente - Demasiados longos ou


separados e bem posicionados, com crescimento para fora de proporção
traz e moderada curvatura.
Nos machos, os chifres são ligeiramente mais
pesados e fortes do que nas cabras. Na base deve ter
uma distância razoável entre os chifres. Nos machos
devem ser mais forte.

OLHOS Vivos e circundados por pele e pálpebras - Olhos azuis


pigmentadas.
Fonte: Associação Brasileira dos Criadores de Caprinos
Tabela 2 - Padrão racial oficial da raça Savanna no Brasil (continuação).

Órgãos Ideal Permissível Desclassificante

II. PESCOÇO Bem implantado, musculoso e de moderado e - Muito longo, muito curto
comprimento. ou muito delgado

III. TRONCO Comprido e profundo. Largo no dorso, espáduas bem - Pouca musculatura,
desenvolvidas e com amplas e bem distribuídas estreito, interferindo nos
massas musculares. aprumos.

PEITO Amplo e com uma profunda e larga massa muscular - Pouca musculatura,
estreito, interferindo nos
aprumos.

LINHA Retilínea e ampla - Lordose


DORSO-
Caprinos de Corte

LOMBAR Profundo com costados bem arqueados e musculosos, - Cernelha com ligamentos
TÓRAX
e com costelas bem separadas. Cernelha ampla e frouxos
arredondada.
VENTRE Amplo, profundo e de boa capacidade - -
ANCAS Bem separadas, musculosas e arredondadas - -

GARUPA Ampla e comprida, com inclinação suave - Curta, estreita ou


excessivamente inclinada
Fonte: Associação Brasileira dos Criadores de Caprinos
25
26

Tabela 2 - Padrão racial oficial da raça Savanna no Brasil (continuação).

Órgãos Ideal Permissível Desclassificante

IV. Fortes, bem posicionados, e - Distância do cotovelo ao


MEMBROS proporcionais ao corpo. casco muito longo.
Articulações fortes e bons Quartelas compridas.
aprumos. Insuficiente musculação.
CASCOS Fortes e escuros Pequenas rajas brancas Despigmentados

V. ÓRGÃOS GENITAIS
TESTÍCULOS Bem desenvolvidos e simétricos - Pequenos ou anormais
A Raça Savanna

BOLSA Pele solta e flexível Pequena bipartição na Presença de outras


ESCROTAL extremidade distal, não superior a anormalidades que não
5 cm. aquelas descritas como
permissíveis.

TETAS Uma teta de cada lado Até duas tetas separadaas de -


cada lado
VÚLVA Bem conformada com intensa - -
pigmentação

Fonte: Associação Brasileira dos Criadores de Caprinos


Tabela 2 - Padrão racial oficial da raça Savanna no Brasil (continuação).

Órgãos Ideal Permissível Desclassificante

VI. APARELHO MAMÁRIO

ÚBERE Bem conformado, com bons Presença de não mais que duas Presença de outras
ligamentos suspensórios e uma tetas funcionais individualizadas, anormalidades que não
teta funcional em cada lado. em cada metade do úbere. aquelas descritas como
permissíveis.

TETAS De pequeno a médio tamanho, - Tetas juntas em forma de


bem formadas. cacho

VII. Pêlos brancos, curtos e lisos. Durante os meses de inverno, os Presença de outras que
PELAGEM caprinos poderão desenvolver uma não aquelas descritas
como permissíveis.
Caprinos de Corte

pequena camada suplementar de


pêlos de proteção mais finos e fofos
do tipo lã.
Orelhas com intensa pigmentação
nas extremidades
PELE Totalmente escura - Pele pouco pigmentada
MUCOSA Escura - -
VIII. Carne e pele - -
APTIDÃO
Fonte: Associação Brasileira dos Criadores de Caprinos
27
28 A Raça Savanna

9. Características de Produção e Resultados


Experimentais do Rebanho Savanna da Emepa e na
África do Sul

As quatro principais características que devem ser consideradas


em um sistema de produção de carne de caprino são: adaptabilidade,
reprodução, taxa de crescimento e características de carcaça.

9.1 Adaptabilidade

A adaptabilidade é a característica de produção mais importante.


Se a habilidade de um animal para reproduzir e sobreviver é limitada pelo
ambiente de produção, então a rentabilidade daquele sistema pode ser
diminuída. A cabra Savanna tem sido criada em diferentes partes do mundo
e tem se adaptado e sobrevivido em uma gama de ambientes. Em geral,
os caprinos Savanna são considerados uma raça de alta adaptabilidade e
prosperam em todas as regiões climáticas da África do Sul, incluindo
aquelas de climas mediterrâneo, tropical e subtropical, bem como as
regiões semi-desérticas do Kalahari.
A adaptabilidade da raça Savanna foi objeto de estudo na Estação
Experimental de Pendência, envolvendo equipes da Universidade Federal
de Campina Grande - UFCG e da Emepa, cujos resultados são descritos
em seguida. Caprinos exóticos e nativos também foram avaliados. Foram
utilizadas 40 fêmeas das raças: Boer, Savanna, Anglo-Nubiana e Moxotó,
sendo 10 animais de cada raça, com idade média de cinco meses,
distribuídos num delineamento inteiramente casualizado em parcelas
subdivididas no tempo com os tratamentos principais constituídos pelas
raças e os secundários pelos turnos (manhã e tarde), com 10 repetições.
Os animais foram mantidos em regime semi-intensivo, tendo como base
alimentar a vegetação nativa (caatinga) e como suplementação uma ração
completa.
Os parâmetros fisiológicos estudados foram: temperatura retal,
freqüência respiratória e temperatura superficial e foram aferidos duas
vezes por semana, no turno da manhã entre 8h30 e 9h30, e no turno da
tarde entre 14h30 e 15h30 (Tabela 3).
Caprinos de Corte 29

A raça Anglo-Nubiana apresentou a menor média (38,86 ºC) para


temperatura retal no turno da manhã, diferindo das demais raças. No
turno da tarde ocorreu o inverso, sendo a maior média observada na raça
Anglo-Nubiana (39,70 ºC). Contudo, as médias da temperatura retal
encontram-se dentro da normalidade de acordo com a literatura, que
considera normal uma variação de 39 a 40 ºC para caprinos em repouso.
Para a temperatura de superfície, a raça Moxotó apresentou a
maior média (29,45 ºC) no turno da manhã em relação às demais raças,
enquanto a raça Anglo-Nubiana apresentou a maior temperatura de
superfície no turno da tarde (31,92 ºC). As raças Savanna e Boer
apresentaram médias semelhantes dentro de cada turno e inferiores às
raças Anglo-Nubiana e Moxotó, provavelmente em função da maior
capacidade de dissipação de calor por radiação dessas raças, já que
possuem uma pelagem clara que facilita na reflexão do calor.
A raça Anglo-Nubiana apresentou a menor média para freqüência
respiratória (30,55 mov/min.) e a raça Savanna a maior média (42,85
mov/min.) diferindo das demais raças. Em outros experimentos foram
encontrados valores superiores para a raça Boer, quando estudaram a
resposta adaptativa de caprinos Boer e Anglo-Nubiana, no Semi-árido
brasileiro.
Tabela 3. Médias da temperatura retal (TR) e temperatura superficial
(TS), de caprinos exóticos e nativos, obtidas nos turnos da manhã e da
tarde, na Estação Experimental de Pendência, Soledade, PB.

TR (ºC) TS (ºC)
Raças
Manhã Tarde Manhã Tarde
Savanna 39,29 Aa 39,42 Ab 27,83 Bc 30,56 Ac
Boer 39,10 Ba 39,42 Ab 28,02 Bc 30,37 Ac
Anglo-Nubiana 38,86 Bb 39,70 Aa 28,53 Bb 31,92 Aa
Moxotó 39,32 Aa 39,46 Ab 29,45 Ba 31,34 Ab
CV (%) 0,46 0,20
Médias seguidas de letras distintas maiúsculas, nas linhas, e minúsculas, nas colunas,
diferem significativamente, pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
30 A Raça Savanna

Foram constatados efeitos de raças e de turnos sobre a freqüência


respiratória, contudo, não houve efeito da interação entre raça e turno
para o mesmo parâmetro. A raça Anglo-Nubiana apresentou a menor
média para freqüência respiratória (30,55 mov/min.) e a raça Savanna a
maior média (42,85 mov/min.) diferindo das demais raças (Tabela 4).

Tabela 4. Médias da freqüência respiratória de caprinos exóticos e nativos,


criados na Estação Experimental de Pendência, em Soledade, PB, segundo
raça e turno.

Freqüência respiratória
Raça e Turno
(Mov/min.)
Raças
Savanna 42,85 A
Boer 34,60 B
Anglo-Nubiana 30,55 C
Moxotó 34,65 B

Turnos
Manhã 31,85 B
Tarde 39,47 A
Médias seguidas de letras distintas diferem significativamente, pelo teste de Tukey a
5% de probabilidade.

As médias da temperatura retal um (TR1), temperatura retal dois


(TR2) e índice de tolerância ao calor (ITC) encontram-se na Tabela 5,
cujo dados indicam influência significativa da raça para temperatura retal.
A raça Savanna antes do estresse térmico não apresentou diferença
significativa com relação às demais. As raças Boer e Anglo-Nubiana
apresentaram menores médias para TR1 e TR2 diferindo da raça Moxotó.
Contudo, não houve diferença significativa para TR2 entre as raças
Savanna e Moxotó, as quais apresentaram as maiores médias, diferindo
Caprinos de Corte 31

das raças Anglo-Nubiana e Boer que apresentaram as menores médias


para este parâmetro. Quanto ao Índice de Tolerância ao Calor, não houve
diferença significativa entre as raças. Concordando com os resultados
encontrados em outros estudos, quando trabalharam com machos caprinos
de raças exóticas e nativas em confinamento no semi-árido e descreveram
um alto grau de adaptabilidade para as raças exóticas, Boer e Anglo-
Nubiana, assemelhando-se às raças nativas, Moxotó, o que segundo os
autores se deve à origem das raças exóticas, já que são de países de clima
quente, assemelhando-se ao clima do semi-árido.
Tabela 5. Médias da temperatura retal antes do estresse (TR1) e depois
do estresse (TR2) e do índice de tolerância ao calor (ITC) das raças
caprinas estudadas, criadas na Estação Experimental de Pendência, em
Soledade, PB, no semi-árido paraibano.

Temperatura retal (ºC)


Raças ITC
TR1 TR2
Savanna 39,18 AB 39,57 AB 9,61 A
Boer 39,08 B 39,37 BC 9,71 A
Anglo-Nubiana 38,87 B 39,17 C 9,70 A
Moxotó 39,49 A 39,69 A 9,80 A
Médias seguidas de letras distintas, nas colunas, diferem significativamente, pelo
teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Os resultados obtidos neste estudo permitiram concluir que todas


as raças caprinas mantiveram a homeotermia, sem muito esforço, do
sistema termorregulador, demonstrando estarem fisiologicamente bem
adaptadas às condições climáticas do semi-árido. Os caprinos das raças
Savanna, Boer, Anglo-Nubiana e Moxotó apresentam o mesmo grau de
tolerância ao calor, nas condições climáticas do ecossistema da caatinga,
na Estação Experimental de Pendência, no Município de Soledade, PB.
32 A Raça Savanna

Animais mestiços de Savanna x SPRD demonstrando o hábito de pastejo


alto (acima) e cabras com crias (abaixo), do rebanho da Fazenda Brito de
P. R. M. Leite, em Umbuzeiro, PB.
Caprinos de Corte 33

Animais mestiços de Savanna x SPRD (acima e abaixo) do rebanho da


Fazenda Brito de P. R. M. Leite, em Umbuzeiro, PB.
34 A Raça Savanna

9.2 Reprodução e crescimento

Os valores das diferentes taxas de reprodução de um rebanho


caprino são considerados os parâmetros mais importantes para a eficiência
de produção de carne. As cabras Savannas são férteis, prolíficas e têm
uma boa habilidade materna. Esta combinação de características de
reprodução confere a esta raça uma excelente produtora de carne.
A raça caprina Savanna apresenta uma boa capacidade reprodutiva;
suas cabras têm um bom comportamento maternal e protegem bem as
crias.
Em condições de criação extensiva, em torno de 62% dos partos
são múltiplos (duas ou três crias) e as cabras devem ser capazes de levar
as suas crias até ao desmame, sem excessiva ajuda alimentar. As crias de
cabras com dificuldade em parir e/ou amamentar devem ser eliminadas.
O caprino da raça Savanna deve ser dócil e fácil de criar.

9.2.1 Eficiência reprodutiva das cabras

A eficiência dos sistemas de produção de caprinos pode ser


maximizada por meio da produção por cabra, expressa em termos de
peso e/ou do número de crias desmamadas ou destinadas ao abate. O
peso total das crias a cada ano depende mais do número de crias
desmamadas do que do peso individual dos cabritos. O resultado
econômico da produção de caprinos é altamente dependente do número
de crias nascidas por cabra. Sabe-se, por outro lado, que o número de
crias desmamadas está, também, associado ao número de cabras paridas
em relação às cobertas ou expostas para reprodução (fertilidade), ao
número de crias nascidas em relação às cabras paridas (prolificidade) e
ao número de crias desmamadas em relação ao número de crias nascidas
vivas (sobrevivência). Portanto, esses parâmetros na raça Savanna são
bastante significativos, o que confere a essa raça excelentes qualidades
de produção de carne.
Caprinos de Corte 35

Os parâmetros relativos à eficência reprodutiva das fêmeas da


raça Savanna, no período de 2000 a 2006, na Estação Experimental de
Pendência, no semi-árido paraibano, encontram-se na Tabela 6, com
número de cabritos, médias e desvios-padrão, além dos valores mínimos
e máximos. Discutem-se as principais características de desempenho
reprodutivo dos caprinos da raça Savanna. Pode-se observar que a taxa
de fertilidade ao parto, taxas de sobrevivência e de desmame foram de
86,50%, 86,7% e 85,3%, respectivamente, com uma prolificidade de 1,76
cabritos/parto.
Observa-se, também, que 77,4% das cabras pariram múltiplos
(64,2% duplos e 13,2 triplos), evidenciando excelente capacidade
reprodutiva. Outras características importantes na avaliação da eficiência
reprodutiva da raça Savanna são o peso total de cabritos nascidos (PTCN)
e o peso total de cabritos desmamados (PTCD) por fêmeas paridas,
calculados em função do número de cabras paridas e as que desmamaram
suas crias. As médias de peso total de cabritos nascidos e peso total de
cabritos desmamados foram 5,2 ± 1,9 kg e 30,3 ± 8,9 kg, respectivamente.
Na ordem, os pesos da matriz à cobertura, ao parto e ao desmame, foram
de 47,9 ± 10,2 kg, 52,0 ± 10,9 kg e 48,0 8,0 kg.
Como se verifica, cada cabra Savanna desmamou, em média, 30,0
kg de cabritos por parto. Todavia, observou-se que uma cabra desmamou
66,7 kg de cabritos, um recorde no rebanho. É importante ressaltar que
30,0 kg de cabritos desmamados representam 54% do peso adulto de
uma cabra Savanna. A média de peso total de cabras de parto simples foi
de 23,3 ± 3,9 kg, de partos duplos de 30,7 ± 8,9 kg e de partos triplo de
49,5 ± 8,9 kg. Estes resultados indicam que as cabras que pariram duplos
e triplos desmamaram 29,6% e 45,0%, respectivamente, mais kg de
cabritos do que as cabras que tiveram parto simples.
Estes resultados parciais da eficiência reprodutiva da Savanna
são importantes para respaldar a sua sustentabilidade no semi-árido
nordestino. No entanto, considerando a sua importância para a
caprinocultura de corte, no Nordeste brasileiro, dentro de um segmento
da atividade pecuária, é necessário que se promovam mais estudos, em
diferentes ecossitemas para se estabelecer uma conclusão mais sólida
desta raça e seus cruzamentos.
36

Tabela 6. Parâmetros relativos à eficiência reprodutiva das fêmeas da raça Savanna, no período de 2000 a 2006.

Variáveis N Média Mínimo Máximo

Número de cabras expostas 148 100,0 - -


Fertilidade ao parto (%) 128 86,5 - -
Taxa de sobrevivência (%) 226 86,7 - -
Taxa de desmame (%) 193 85,3 - -
Prolificidade 226/128 1,76 - -
Número de partos
Simples (%) 29 22,6 - -
Duplos (%) 82 64,2 - -
Triplos (%) 17 13,2 - -
Peso da matriz à cobertura (kg)3 132 47,9 ± 10,2 28,0 81,0
Peso da matriz ao parto (kg)4 128 52,0 ± 10,9 32,0 76,0
A Raça Savanna

Peso da matriz ao desmame (kg)5 94 48,0 ± 8,0 31,5 70,0


Peso total de cabritos nascidos (kg) - PTCN1 128 5,2 ± 1,9 1,4 9,2
Peso total de cabritos desmamados (kg) - PTCD1 94 30,3 ± 8,9 12,0 66,7
Peso total de cabritos desmamados (kg)- PTCD2
Cabras de parto simples 22 23,3 ± 3,9 14,0 30,0
Cabras de parto duplo 59 30,7 ± 8,9 12,0 42,6
Cabras de parto triplo 13 49,5 ± 12,5 30,0 66,7

1
PTCN e PTCD foram calculados em função do número de cabras paridas e as que desmamaram suas crias
2
Alguns cabritos foram comercializados antes do desmame.
3, 4 e 5
Pesos refeentes à fêmeas de 1ª, 2ª, 3ª, 4ª e 5ª parição.
Caprinos de Corte 37

9.2.2 Crescimento das crias

Como os caprinos Boer, os Savannas têm também uma alta taxa


de crescimento, quando comparados às outras raças de caprinos. Sob
condições favoráveis, na África do Sul cabritos Savannas podem
apresentar ganho de peso médio diário de até 208 g. Na África do Sul,
cabritos de partos simples quando submetidos a um plano nutricional
adequado, podem atingir até 30 kg de peso vivo, aos 112 dias de idade,
e 40 kg aos 196 dias de idade, valores obtidos com os cabritos do rebanho
Savanna da Emepa, na Estação Experimental de Pendência, em Soledade,
PB, conforme Tabela 7. Observa-se que os cabritos apresentaram um
crescimento crescente e consistente durante todas as fases estudadas.

Tabela 7. Número de observações (N), médias e respectivos desvios-


padrão, valores mínimos e máximos de pesos das crias da raça Savanna
em diferentes idades, na Estação Experimental de Pendência, em Soledade,
PB.
Pesos corporais (kg)
Variáveis N
Média ± DP Mínimo Máximo

Peso ao nascer 226 3,2 ± 0,7 2,0 5,7


Peso aos 28 dias 221 8,1 ± 1,9 3,8 14,5
Peso aos 56 dias 202 12,0 ± 2,9 6,0 23,0
Peso aos 84 dias 196 16,0 ± 3,4 10,0 28,0
Peso aos 112 dias 193 18,9 ± 4,1 10,0 30,0
Peso aos 196 dias 180 26,1 ± 5,4 15,0 40,0

Os ganho de pesos, do nascimento até 196 dias de idades, são


apresentados na Tabela 8. Verifica-se que os ganhos de pesos foram
maiores nas fases iniciais da idade dos cabritos, ou seja, do nascimento
aos 56 dias de idade (156,9 kg), com uma variação de ganhos de peso de
55,3 a 317,6 kg e do nascimento aos 84 dias de idade (151,7 kg) com
ganhos de peso mínimo de 72,6 kg e ganho de peso máximo de 271,4 kg.
38 A Raça Savanna

Tabela 8. Número de observações (N), médias e respectivos desvios-


padrão, valores mínimos e máximos de ganho de peso diário (GPD) de
cabritos Savanna, em diferentes idades, na Estação Experimental de
Pendência, em Soldedade, PB, no semi-árido paraibano.

Ganho de peso (kg)


Variáveis
N Média ± DP Mínimo Máximo
GPD (0-56 dias) 202 156,9 ± 45,9 55,3 317,6
GPD (0-84 dias) 196 151,7 ± 37,2 72,6 271,4
GPD (0-112 dias) 193 139,7 ± 33,7 65,1 227,6
GPD (112-196 dias) 180 86,1 ± 44,7 35,7 208,3

Na Tabela 9, encontram-se as médias e respectivos desvios-padrão,


valores mínimos e máximos para peso ao nascer, 28, 56, 84, 112 e 196
dos cabritos, de acordo com o sexo da cria. Observa-se que as fêmeas
apresentaram pesos médios bem próximos dos machos até aos 56 dias de
idade, a partir daí os machos foram mais pesados do que as fêmeas, em
média, 2,17 kg, demonstrando sua superioridade em termos de peso e
desenvolvimento corporal. Aos 84, 112 e 196 de de idade, os pesos
médios dos cabritos machos superaram os das fêmeas em 1,4; 2,2 e 2,9
kg, respectivamente.
Comportamento similar foi observado quanto comparados os
pesos médios dos cabritos nascidos de partos simples, duplos e múltiplos,
conforme Tabela 10 que contem as médias e desvios-padrão de pesos do
nascimento aos 196 dias de idade, em função do tipo de parto. Verifica-
se que os cabritos de partos simples foram mais pesados do que os de
partos múltiplos em todas as idades estudadas. Os pesos dos cabritos de
partos duplo foram semelhantes aos de partos triplo. De modo geral, ao
nascer, aos 28, 56, 84, 112 e 196 dias de idade, os pesos dos cabritos de
partos simples foram de 3,6 ± 0,7 kg; 9,1 ± 2,0 kg; 13,5 ± 3,1 kg; 17,3 ±
3,9 kg; 20,2 ± 4,3 kg e 27,1 ± 5,1 kg, os de parto duplos de 3,2 ± 0,7 kg;
8,0 ± 1,9 kg; 11,8 ± 2,7 kg; 15,6 ± 3,2 kg; 18,6 ± 4,0 kg; 25,4 ± 5,8 kg e
Caprinos de Corte 39

Tabela 9. Número de observações (N), médias e respectivos desvios-


padrão, valores mínimos e máximos de pesos das crias Savanna, do
nascimento aos 196 dias de idade, segundo o sexo das crias.

Sexo Pesos corporais (kg)


Pesos N
das crias Média ± DP Mínimo Máximo
Peso ao nascer Machos 114 3,3 ± 0,7 2,0 5,7
Fêmeas 112 3,2 ± 0,7 2,0 5,0
Peso aos 28 dias Machos 112 8,3 ± 2,0 4,5 14,5
Fêmeas 109 7,9 ± 1,8 3,8 13,2
Peso aos 56 dias Machos 101 12,4 ± 3,1 6,0 23,0
Fêmeas 101 11,7 ± 2,7 6,3 19,5
Peso aos 84 dias Machos 97 16,8 ± 3,6 10,0 28,0
Fêmeas 99 15,4 ± 3,0 10,0 24,0
Peso aos 112 Machos 95 20,0 ± 4,1 10,0 30,0
dias Fêmeas 98 17,8 ± 3,7 11,0 30,0
Machos 86 27,7 ± 5,7 15,0 40,0
Peso aos 196 Fêmeas 94 24,8 ± 4,8 15,0 39,5
dias

os de parto triplos de 2,7 ± 0,3 kg; 7,5 ± 1,4 kg, 10,8 ± 2,1 kg; 15,7 ± 2,8
kg; 17,9 ± 3,3 kg e 24,1 ± 5,4 kg. Deste modo, as médias dos carbritos
de partos múltiplos foram de 3,0; 7,8; 11,3; 15,7; 18,3 e 24,8 kg, com
um diferencial de pesos de 0,7; 1,4; 2,2; 1,7; 2,0 e 2,4 kg, respectivamente,
em relação aos cabritos de partos simples.
Observa-se, ainda, na Tabela 10, que os pesos mínimos dos machos
ao nascer, 28, 56, 84, 112 e 196 dias de idade foram de 2,0; 4,5; 6,0;
10,0, 10,0 e 15,0 kg e das fêmeas de 2,0; 3,8; 6,3; 10,0; 11,0 e 15,0 kg,
respectivamente. Na mesma ordem, os pesos máximos dos machos foram
de 5,7; 14,5; 23,0; 28,0; 30,0 e 40,0 kg e das fêmeas de 5,0; 13,2; 19,5;
24,0; 30,0; 39,5 kg. Estes dados foram obtidos com o rebanho Savanna,
na Estação Experimental de Pendência, no entorno do Município de
Soledade, no semi-árido paraibano.
40 A Raça Savanna

Tabela 10. Número de observações (N), médias e respectivos desvios-


padrão, valores mínimos e máximos de pesos das crias Savanna, do
nascimento aos 196 dias de idade, segundo o tipo de parto.

Tipo Pesos corporais (kg)


Pesos de parto N
Média ± DP Mínimo Máximo
Peso ao nascer Simples 51 3,6 ± 0,7 2,0 5,2
Duplos 144 3,2 ± 0,7 2,0 5,7
Triplos 31 2,7 ± 0,3 1,9 3,5
Peso aos 28 dias Simples 51 9,1 ± 2,0 5,0 14,5
Duplos 140 8,0 ± 1,9 4,5 13,2
Triplos 30 7,5 ± 1,4 3,8 11,5
Peso aos 56 dias Simples 51 13,5 ± 3,1 7,0 23,0
Duplos 122 11,8 ± 2,7 6,0 19,5
Triplos 29 10,8 ± 2,1 6,4 15,5
Peso aos 84 dias Simples 51 17,3 ± 3,9 10,0 28,0
Duplos 116 15,6 ± 3,2 10,0 24,5
Triplos 29 15,7 ± 2,8 9,0 22,0
Peso aos 112 dias Simples 51 20,2 ± 4,3 11,0 29,5
Duplos 113 18,6 ± 4,0 10,0 30,0
Triplos 29 17,9 ± 3,3 11,5 26,0
Peso aos 196 dias Simples 47 27,1 ± 5,1 15,0 38,5
Duplos 106 25,4 ± 5,8 15,0 37,0
Triplos 28 24,1 ± 5,4 12,5 35,7

9.2.3 Biometria

Os valores médios da idade, do peso e das medidas biométricas


dos caprinos das raças Savanna, Boer, Anglo-Nubiana e Canindé estão
apresentados na Tabela 11, ressaltando-se que estas medidas foram
determinadas a partir de uma pequena amostra, que variou de 15 a 32
animais, incluindo as melhores fêmeas de cada rebanho experimental
pertencente à Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba -
Caprinos de Corte 41

Emepa, criados e preservados na Estação Experimental de Pendência,


no entorno do Município de Soledade, no semi-árido paraibano. Observa-
se uma grande semelhança entre a biometria das raças Boer e Savanna,
com ligeira diferenciação na altura da cernelha e comprimento da perna.

Tabela 11. Médias de idade, peso e medidas biométricas de caprinos


Savanna e outras raças, criadas na Estação Experimental de Pendência,
em Soledade, PB.

Variáveis Savanna Boer Anglo Nubiana Canindé

Idade (meses) 8-11 8-11 16-18 14-18


Peso (kg) 45,6 48,8 41,3 19,4
AC 59,3 58,5 77,1 52,8
PFT 34,8 36,8 29,6 23,8
LP 22,7 23,6 18,9 14,2
LG 20,6 21,2 15,6 11,2
PC 35,6 36,8 34,6 22,4
PT 88,7 90,8 82,8 65,4
CP 39,9 38,4 49,6 34,0
CC 72,3 72,0 70,0 54,0
AC = Altura da cernelha, PFT = Profundidade do tórax, LP = Abertura do peito
LG = Largura da garupa, PC = Perímetro da coxa, PT = Perímetro do tórax
CP = Comprimento da perna, CC = Comprimento do corpo
O número de animais variou de 16 a 32

9.3 Características de carcaças

As características de carcaça mais importantes são: rendimento,


relação músculos : gorduras : osso e distribuição anatômica de músculo.
Geralmente, o rendimento de carcaça dos caprinos é menor que 50%.
Quando um animal cresce, a porcentagem de gordura na carcaça tende a
aumentar, a porcentagem de osso diminui, enquanto a porcentagem de
músculos permanece praticamente a mesma. As porções da carcaça
42 A Raça Savanna

com maior massa de músculo são a perna e as paletas; porém, estas porções
tendem a diminuir com o crescimento do caprino. Ressalte-se que, ainda,
são raros os trabalhos sobre características de carcaça em caprinos
Savanna, a exceção é um experimento realizado na Estação Experimental
Pendência, na Paraíba.
Na Tabela 12 são apresentados os pesos médios adultos para
machos e fêmeas, bem como o potencial zootécnico para principais
características de produção de quatro raças e um tipo de caprinos criados
no Brasil. Observa-se que a raça Savanna apresenta um grau de semelhança
muito grande com as outras raças Sul Africanas (Boer e Kalahari) e
superior, na maioria das características, as outras raças (Anglo Nubiana
e SPRD). A SPRD (Sem Padrão de Raça Definida) mostra-se superior
na adaptabilidade e qualidade da pele. A raça Boer apresenta maiores
pesos adultos do que a Savanna, no entanto, a capacidade reprodutiva
das Savannas parece ligeiramente superior do que as cabras Boer,
principalmente, na prolificidade. Entretanto, esses desempenhos podem
variar de acordo com o sistema de produção praticado.
Tabela 12. Status das principais características de produção em cinco
grupos genéticos de caprinos no Brasil.

Raças
Características Anglo
Boer Savanna Kalahari SPRD
Nubiana
Peso de macho adulto 95- 90-120 90- 70-95 55-65
Peso de fêmea adulta 135 55-75 125 50-60 35-45
Adaptabilidade 60-80 A+ 55-80 A A+++
Prolificidade A A+++ A M+ M
SazonalidadeReprodutiva A++ NS A NS NS
GPMD NS A+ NS M-A B
Características de carcaça A++ A+ A+ M-A M
Qualidade da pele A+ M-A A+ M-A A+
M-A M-A
A= alto, M = Médio, B= Baixo, GPD = Ganho de peso diário, SPRD = Sem
Padrão Racial Definido.
O sinal + representa um maior grau de excelência na característica.
NS = não sazonal.
Caprinos de Corte 43

Na Tabela 13, são apresentados as médias e os respectivos desvios-


padrão para peso e ganho de peso, bem como para algumas características
de carcaças de cabritos mestiços, terminados com 69 dias de confinamento.
Os resultados obtidos são provenientes de um ensaio preliminar utilizando-
se apenas oito animais de cada raça, portanto, não são conclusivos e
devem ser interpretados com cautela.
A raça dos cabritos influenciou significativamente todas as
características estudadas, exceto o rendimento de carcaça e o peso do
pescoço. Os cabritos 1/2 Savanna + 1/2 SPRD (Sem Padrão Racial

Tabela 13. Número de observações, médias e respectivos desvios-padrão


para peso, ganho de peso e algumas características de carcaça de cabritos
de diferentes genótipos terminados em confinamento, na Estação
Expperimental de Pendência, em Soledade, PB.

Grupos genéticos

Parâmetros 1/2 Boer 1/2 Kalahari 1/2 Savanna


+ + +
1/2 SPRD 1/2 SPRD 1/2 SPRD

Idade ao abate (dias) 182,5 ± 8,3 b 183,7 ± 19,4 170,2 ± 19,4


Peso vivo ao abate (kg) 20,9 ± 6,9 b b c
Ganho médio diário (g) 119,6 ± 22,4 ± 5,7 a 18,2 ± 2,3 b
Rendimento comercial (%) 80,1b 136,7 ± 60,4 111,4 ± 41,3
Duração do ensaiop (dias) 43,3 b a b
Peso carcaça quente (kg) 69,0 ± 0,0 a 46,0 b 49,3 a
Peso da carcaça fria (kg) 9,67 ± 3,8 a 69,0 ± 0,0 a 69,0 ± 0,0 a
Peso da perna (kg) 9,55 ± 3,8 a 10,3 ± 3,3 a 8,98 ± 2,6 b
Peso do lombo (kg) 1,35 ± 0,4 a 10,0 ± 3,3 a 8,65 ± 2,2 b
Peso da paleta (kg) 0,61 ± 0,2 a 1,48 ± 0,3 a 1,29 ± 0,3 b
Peso da costilar (kg) 0,94 ± 0,3 a 0,70 ± 0,2 a 0,56 ± 0,1 b
Peso do pescoço (kg) 1,25 ± 0,5 a 1,03 ± 0,2 a 0,92 ± 0,3 a
Área do olho do lombo (cm2) 0,42 ± 0,1 a 1,37 ± 0,4 a 1,14 ± 0,3 b
7,2 ± 3,6 a 0,36 ± significativamente,
Nas linhas, médias seguidas da mesma letra, não diferem 0,1 a 0,34 ± 0,1 a
pelo
teste de Tukey a 5% de probabilidade. 7,7 ± 1,8 a 6,9 ± 1,6 b
44 A Raça Savanna

Definido) foram mais precoces ao abate, embora com peso inferior aos
mestiços de Boer, com 170,2 ± 19,4 dias e peso vivo de 18,2 ± 2,3 kg,
seguidos dos mestiços 1/2 Boer + 1/2 SPRD, com idade de 182, 5 ± 8,3
dias e peso vivo de 20,9 ± 6,9 kg, dos 1/2 Kalahari + ½ SPRD com
idade de 183,7 ± 19,4 dias e peso vivo 22,4 ± 5,7 kg. Por outro lado, os
cabritos mestiços de Savannas apresentaram maior rendimento de carcaça.
Os pesos médios de carcaça quente e carcaça fria foram de 9,67
± 3,8 kg e 9,55 ± 3,8 kg para 1/2 Boer + 1/2 SPRD, 10,3 ± 3,3 kg e 10,0
± 3,3 kg para 1/2 Kalahari + 1/2 SPRD, 8,98 ± 2,6 kg e 8,65 ± 2,2 kg
para 1/2 Savanna + 1/2 SPRD, respectivamente. Os cabritos mestiços 1/
2 Boer + 1/2 SPRD e 1/2 Kalahari + 1/2 SPRD apresentaram maiores
pesos dos cortes comerciais e área de olho do lombo, sendo superiores
aos mestiços de Savanna, exceto para peso da paleta e do pescoço. Os
cabritos mestiços 1/2 Boer + 1/2 SPRD e 1/2 Kalahari + 1/2 SPRD
demonstraram valores médios semelhantes para peso da perna, do lombo
e da área de olho do lombo, porém superiores aos dos cabritos 1/2 Savanna
+ 1/2 SPRD. Este fato estar associado ao menor peso de carcaça quente
dos cabritos mestiços de Savanna, o que refletiu diretamente nas
características estudadas.
10. Grau de Semelhança com as outras Raças Sul
Africanas

Ao contrário do que se pensava, a raça Savanna está geneticamente


muito próxima da raça Boer. Estudos recentes realizados na África do
Sul, compararam seis populações de caprinos (três nativas e as raças
Boer, Savanna e Kalahari), utilizando 10 marcadores moleculares com o
objetivo de verificar o grau de semelhança entre essas populações. Os
resultados evidenciaram que todos os dez marcadores de microsatélites
estudados foram altamente polimórficos, com o número de alelos diferente
por marcadores, variando de 7 a 14 em todas as populações estudadas.
Os valores do heterozigoto (Hz) para cada população estão relacionados
na Tabela 14. A exceção dos animais da raça Boer, que mostrou o nível
mais baixo de Hz (0,49), as outras raças estudadas foram semelhantes,
variando de 0,63 a 0,69.
Caprinos de Corte 45

Os resultados deste estudo indicaram uma variação genética


relativamente alta nas diferentes populações utilizadas, com exceção dos
animais da raça Boer. Isto era esperado porque a raça Boer é a mais
velha de todas as raças e foi submetida a um processo de seleção artificial
para várias características desde os anos 50. A diferenciação genética
entre estas populações descritas em outros estudos indica que a raça
Boer, Savanna e as cabras nativas de Fort Hare, que tiveram participação
na formação da raça Boer, apresentaram semelhanças genéticas, enquanto
os animais da raça Kalahari foram os mais diferentes na sua composição
genética, quando comparados às outras populações. Embora a Savanna
seja definida como uma raça com características específicas, parece que
ela está geneticamente mais ligada a raça Boer do que previamente se
pensavam. Também foi revelado que a raça Kalahari, que foi desenvolvida
por criadores da Namíbia e da África do Sul, a partir de cabras nativas,
parece ser muito diferente de outras com os marcadores testados.

Tabela 14. Número de animais (N), valores para o grau de


heterozigosidade (Hz), sem viés e observado, e respectivos erros-padrão
de seis populações.
Locus genotipado
População
N Hz - sem viés Hz - observado
A (Groblersdal) 10 0,6400 ± 0,0466 0,6731 ± 0,0272
BB ( Boer goat) 10 0,4924 ± 0,0602 0,4661 ± 0,0295
D (Delftzyl) 9 0,6993 ± 0,0451 0,6311 ± 0,0304
J (Fort Hare) 10 0,6981 ± 0,0341 0,6448 ± 0,0281
S (Savanna) 10 0,6238 ± 0,0376 0,5838 ± 0,0301
G (Kalahari 10 0,6394 ± 0,0452 0,6247 ± 0,0245
Red)
46 A Raça Savanna

11. Qualidade das Peles do Savanna

Recentemente foi realizado um estudo de tese na Universidade


Federal da Paraíba - UFPB (Oliveira, 2006) em parceria com Emepa
sobre características físico-mecânicas de peles de caprinos e ovinos de
diferentes raças e/ou tipos mestiços, o qual foi incluído cabritos mestiços
de Savanna.
Foram utilizadas as espécies caprina e ovina com cinco genótipos
diferentes para cada espécie, e oito animais por genótipo, no entanto,
por óbito de alguns animais, foram analisadas 76 peles, distribuídas da
seguinte forma: caprinos (oito 1/2 Boer, sete 1/2 Anglo Nubiano, oito 1/
2 Kalahari, oito 1/2 Savanna, sete 1/2 moxotó, todos mestiços com animais
Sem Padrão de Raça Definida - SPRD) e ovinos (oito 1/2 Santa Inês,
sete 1/2 Santa Inês x 1/2 Dorper, sete 1/2 Santa Inês x 1/2 Morada Nova,
oito Morada Nova e oito 1/2 Morada Nova x 1/2 Dorper).
As peles foram provenientes de animais nascidos e criados até à
desmama em sistema semi-intensivo de pastagem cultivada na
Agropecuária Lanila do Ceará-Mirim, RN, onde se procedeu ao desmame
com aproximadamente 90 dias de idade.
Com média de 100 dias de idade, os animais foram transportados
para a Estação Experimental de Pendência da Emepa, localizada no
Município de Soledade, PB, permanecendo por 40 dias em regime de
confinamento e mais 14 dias nas baias coletivas para adaptação ao manejo.
Na Tabela 15, são apresentados valores que orientam os testes
físicos-mecânicos, segundo BASF (1984) e SENAI, que foram utilizados
na comparação com os resultados dos testes, para definição da qualidade
industrial do couro.
Pela Tabela 16, verifica-se que entre as espécies não foram
detectadas diferença significativa em nenhum dos parâmetros analisados.
Para as duas espécies os resultados estão compatíveis com os valores de
referência apresentados pela BASF (1984) para um couro de qualidade,
que estabelece para o teste de tensão um mínimo de 19,6 N/mm² e para o
teste de alongamento uma amplitude de 40 a 80%. Para genótipo houve
homogeneidade nas variáveis espessura do couro e força máxima aplicada,
Caprinos de Corte 47

Tabela 15. Valores orientativos para os testes físico-mecânicos, segundo


a BASF e SENAI.

Testes físicos-mecânicos Unidade BASF SENAI


Resistência ao Kgf/cm min. 80 min. 80
rasgamento N/mm min. 24,5 min.
Resistência ao Kgf/cm² min. 200 49,1
rasgamento N/mm² min. 19,6 min. 150
Resistência à tração (%) 40 - 80 -
Resistência à tração mm min. 7,0 -
Elongação - % min. 7,5
Distensão da flor
** (Passagem de água não antes de 30’. Após 30’, não mais que 30%) **
Comportamento sob água

existindo, entretanto, diferença significativa para as variáveis de tensão e


alongamento, demonstrando não haver uma relação entre espessura do
couro e sua resistência à tração e alongamento.
Para a variável tensão, apenas o genótipo 1/2 Kalahari + 1/2 SPRD
não atingiu valor mínimo orientativo de 19,6 N/mm² preconizado pela
BASF (1984), para um couro de qualidade. O ovino de genótipo nativo
Santa Inês obteve o maior valor (29,420 N/mm²), demonstrando a
importância de se estudar os diversos genótipos, já que este é um dos
fatores que interfere na qualidade do couro.
A variável alongamento, em que o valor orientativo varia de 40%
(mínimo ) até 80% (máximo), todos os resultados estão dentro dos
parâmetros especificados, demonstrando boa elasticidade do couro, apesar
da diferença significativa encontrada entre os genótipos.
Quanto ao fator direção não houve diferença significativa para a
variável espessura, sendo detectadas diferenças para as variáveis força,
tensão e alongamento, com os melhores resultados apresentados pela
direção horizontal, estando a direção vertical fora dos valores orientativos
preconizados pela BASF (1984). Este resultado está de acordo com a
literatura e já foi estudado por vários pesquisadores, a exemplo de Craig
et al. (1987), os quais demonstraram que a força de tração será maior na
direção horizontal em virtude da disposição das fibras no couro.
48 A Raça Savanna

Tabela 16. Médias e coeficientes de variação para as variáveis de


resistência à tração e alongamento, segundo espécies, genótipos e direção
amostrada.
Espécies e Resistência à tração e alongamento
Genótipos Espessura Força Tensão Alongamento
(mm) Máxima (N) (N/mm²) (%)
Espécies
Ovino 0,80 a 194,53 a 224,41 a 72,59 a
Caprino 0,83 a 192,08 a 23,82 a 69,64 a

Genótipos: Ovinos
Santa Inês 0,79 a 215,19 a 29,42 a 70,20 ab
Santa Inês x Dorper 0,78 a 204,90 a 26,49 abc 78,40 a
Santa Inês x Morada Nova 0,75 a 193,84 a 25,52 abc 67,82 ab
Morada Nova 0,90 a 189,28 a 20,61 cd 75,13 ab
Morada Nova x Dorper 0,84 a 169,42 a 20,00 cd 71,38 ab

Genótipos: Caprinos
1/2 Savanna + 1/2 SPRD 0,88 a 196,85 a 22,40 bcd 70,15 ab
1/2 Moxotó + 1/2 SPRD 0,84 a 206,33 a 25,29 abcd 77,63 a
1/2 Boer + 1/2 SPRD 0,76 a 200,94 a 27,88 ab 69,50 ab
1/2 Anglo + 1/2 SPRD 0,78 a 195,11 a 25,14 abcd 70,91 ab
1/2 Kalahari + 1/2 SPRD 0,88 a 161,18 a 18,39 d 60,03 b

Direção
Horizontal 0,81 a 233,04 a 29,20 a 59,78 b
Vertical 0,82 a 153,57 b 19,02 b 82,45 a
CV (%) 18,06 23,48 21,87 18,52
Nas colunas, letras diferentes diferem significativamente, pelo teste de Tukey a
5% de probabilidade, considerando o mesmo fator.
SPRD = Sem Padrão Racial Definido
CV = Coeficiente de variação
Caprinos de Corte 49

Na Tabela 17 estão apresentados os resultados do teste de força


de rasgamento progressivo, onde se pode observar que entre as espécies,
apesar de não haver diferença na espessura do couro, foi encontrada
diferença significativa para força média (N) e carga aplicada (N/mm),
com resultados superiores a favor dos caprinos. Contudo, observa-se
que, tanto para os caprinos como para os ovinos, os resultados estão
dentro dos parâmetros especificados para um couro de qualidade. Apesar
de se tratar de ovinos deslanados, também, denominados “pêlo de boi”,
o resultado pode ser relacionado com os trabalhos realizados por
Henrickson et al. (1984), os quais afirmam que os ovinos têm menor
quantidade de fibras colágenas do que os caprinos, com conseqüente
superioridade para estes.
Na avaliação do genótipo, para espessura não foi encontrada
diferença significativa, no entanto, para força média e carga foram
encontradas diferenças significativas, embora todos os resultados tenham
.
sido superiores ao valor mínimo orientativo, especificado para um couro
de qualidade, que para carga específica é de 49,1 N/mm.
O genótipo da espécie caprina que apresentou melhor resultado
para a variável rasgamento progressivo foi o 1/2 Moxotó + 1/2 SPRD,
reforçando o conceito de que as raças nativas produzem peles de excelente
qualidade (Costa et al., 2005), fato que também foi observado entre os
ovinos, para o genótipo nativo Santa Inês. Este resultado se contrapõe
ao encontrado por Sousa et al. (2002), que trabalhando com ovinos Santa
Inês e caprinos ½ sangue Boer, Anglo Nubiano, Canindé e SPRD
constataram que estas raças não atingiram o valor mínimo especificado
para esta variável.
Para a variável direção da amostra, tanto para força quanto para
carga, foram encontradas diferenças significativas entre as direções
horizontal e vertical, com a vertical alcançando valores mais elevados.
Isto contradiz os resultados encontrados por Dal Monte et al. (2004), os
quais trabalhando com cabritos Saanen, não encontraram diferenças
significativas entre as direções amostradas.Da mesma forma que para
força de tração, este resultado é diretamente influenciado pela disposição
das fibras no couro, o que neste caso é inverso ao resultado anterior,
sendo maior na direção vertical, como explicado por vários trabalhos da
literatura.
50 A Raça Savanna

Tabela 17. Médias e coeficiente de variação para a variável resistência


ao rasgamento progressivo quanto à espécie, genótipo e direção
amostrada.
Força de Rasgamento progressivo
Espécies e
Genótipos Espessura Força Média Carga
(mm) (N) (N/mm²)
Espécie
Ovino 0,81 a 53,86 b 67,41 b
Caprino 0,82 a 58,91 a 72,29 a

Genótipo: Ovinos
Santa Inês 0,72 a 53,36 b 74,71 abc
Santa Inês x Dorper 0,80 a 56,11 ab 69,94 abcd
Santa Inês x Morada Nova 0,76 a 51,93 b 68,32 abcd
Morada Nova 0,90 a 54,02 b 60,27 d
Morada Nova x Dorper 0,86 a 53,88 b 63,82 cd

Genótipo: Caprinos
1/2 Moxotó + 1/2 SPRD 0,81 a 63,24 ab 78,80 a
1/2 Boer + 1/2 SPRD 0,76 a 49,28 b 65,29 cd
1/2 Anglo + 1/2 SPRD 0,77 a 55,53 ab 72,53 abcd
1/2 Kalahari + 1/2 SPRD 0,87 a 57,72 ab 66,19 bcd
11/2 Savannah + 1/2 SPRD 0,89 a 68,67 a 78,15 ab

Direção
Horizontal 0,81 a 50,12 b 62,62 b
Vertical 0,82 a 62,71 a 77,17 a
CV (%) 18,16 19,44 13,58

Nas colunas, letras diferentes diferem significativamente, pelo teste de Tukey a 5%


de probabilidade, considerando o mesmo fator.
SPRD = Sem Padrão Racial Definido
CV = Coefiente de variação
Caprinos de Corte 51

Pelos resultados da Tabela 18, para medida da distensão e


resistência da flor, realizado pelo teste de ruptura da esfera, não foi
observada diferença significativa para espessura do couro entre as duas
espécies nem entre os genótipos estudados.

Tabela 18. Médias e coeficientes de variação para medida da distensão e


resistência da flor, segundo as espécies e genótipos.

Espécies e Medida da distensão e resistência da flor


Genótipos Espessura (mm) Distensão da flor (mm)
Espécie
Ovinos 0,78 a 11,22 a
Caprinos 0,80 a 10,34 b

Genótipo: ovinos
Santa Inês 0,70 a 9,84 c
Santa Inês x Dorper 0,77 a 12,45 a
Santa Inês x Morada Nova 0,74 a 10,74 abc
Morada Nova 0,89 a 12,25 ab
Morada Nova x Dorper 0,80 a 10,80 abc

Genótipo: caprinos
1/2 Moxotó + 1/2 SPRD 0,80 a 10,98 abc
1/2 Boer + 1/2 SPRD 0,71 a 10,25 c
1/2 Anglo + 1/2 SPRD 0,76 a 10,52 bc
1/2 Kalahari + 1/2 SPRD 0,81 a 9,88 c
1/2 Savannah + 1/2 SPRD 0,90 a 10,06 c
CV( %) 14,36 9,08
Letras diferentes, nas colunas, diferem significativamente, pelo teste de Tukey a 5%
de probabilidade, considerando o mesmo fator.
SPRD = Sem Padrão Racial Definido
CV = Coeficiente de variação
52 A Raça Savanna

Quanto à distensão da flor, tanto o fator espécie quanto os


genótipos diferiram significativamente. Para o fator espécie os ovinos
tiveram resultados superiores aos caprinos e, para genótipo, os ovinos
1/2 Santa Inês x 1/2 Dorper e o Morada Nova obtiveram os maiores
valores, seguidos pelo caprino 1/2 Moxotó + 1/2 SPRD. Apesar da
diferença significativa entre espécie ou genótipo, todos os resultados
apresentam valores acima dos mínimos orientativos para qualidade do
couro, que são de 7,5 mm e 7,0 mm, segundo o PFI – Instituto de Ensaios
e Pesquisas para Fabricação de Calçados, Pirmasens, Alemanha (BASF,
1984).
Os resultados do teste de comportamento sob água (penetrância)
são apresentados na Tabela 19. Observa-se que, tanto para espécie quanto
para genótipos, não foram detectadas diferenças significativas para
espessura, peso da amostra seca e tempo de penetração, com valores
significativos apenas para quantidade de água absorvida. Mesmo com o
porcentual de absorção menor do que 30% de água, as espécies e os
genótipos estão abaixo do valor mínimo da norma orientativa, que estipula
um tempo mínimo de penetração de 30 minutos.
Este resultado deve-se ao fato da análise ter sido realizada no
couro semi-acabado, no qual não foi realizado o processo de hidrofugação
durante o processo de curtimento. Neste processo, são adicionados
produtos que impedem, em parte, a passagem da água no couro, e se faz
necessário para a completa análise dos resultados deste teste.
Mesmo com resultados abaixo dos valores orientativos, busca-se
a existência de uma espécie ou genótipo em que a pele seja mais adequada
ao uso para produtos impermeáveis. Neste contexto, já que todos os
couros receberam o mesmo tratamento, observa-se que a espécie ovina
possui uma capacidade de absorção de água superior à espécie caprina,
apesar do tempo de penetração não diferir significativamente. Entre os
genótipos, o Santa Inês x Dorper, apresentou melhor resultado, em que
o tempo de penetração foi o mais elevado, com uma baixa absorção de
água. Nota-se claramente que o genótipo Santa Inês se mostrou mais
adequado para confecção de produtos impermeáveis, com tempos de
penetração naturalmente mais elevados em relação aos demais genótipos
Caprinos de Corte 53

estudados. Entre os caprinos, observa-se que os genótipos exóticos 1/2


Savanna e 1/2 Boer também obtiveram resultados elevados, próximos
aos resultados do genótipo ovino Santa Inês e superior ao genótipo ovino
Morada Nova.
Com relação às peles os resultados obtidos permitiram concluir
que: 1 - os couros oriundos das espécies caprina e ovina apresentam
características físico-mecânicas compatíveis com os padrões estabelecidos
para um couro de qualidade, desejável pela indústria coureira; 2 - a
introdução de 50% do genótipo exótico não interferiu na qualidade do
couro dos ovinos e caprinos; 3 - entre os caprinos, o genótipo nativo
Moxotó 19.
Tabela foi oMédias
que apresentou melhor média
e coeficientes entre ospara
de variação testes, para um
a variável
couro de qualidade industrial.
comportamento sob água, segundo as espécies e genótipos.

Resistência à tração e alongamento


Espécies e Espessura Peso Tempo de Água
Genótipos média amostra seca penetração absorvida
(mm) (g) (min.) (%)
Espécie
Ovino 0,80 a 2,08 a 6,50 a 22,30 a
Caprino 0,81 a 2,08 a 5,15 a 14,39 b

Genótipo:Ovinos
Santa Inês 0,72 a 1,75 a 7,50 a 34,97 a
Santa Inês x Dorper 0,78 a 1,95 a 8,25 a 15,85 bc
Santa Inês x Morada Nova 0,75 a 2,02 a 7,00 a 21,78 bc
Morada Nova 0,91 a 2,35 a 4,25 a 26,60 ab
Morada Nova x Dorper 0,83 a 2,33 a 5,50 a 12,28 c

Genótipo:Caprinos
1/2 Moxotó + 1/2 SPRD 0,80 a 2,03 a 3,00 a 13,47 c
1/2 Boer + 1/2 SPRD 0,75 a 1,79 a 6,75 a 15,40 bc
1/2 Anglo + 1/2 SPRD 0,75 a 1,88 a 4,25 a 14,11 bc
1/2 Kalahari + 1/2 SPRD 0,88 a 2,35 a 4,25 a 15,78 bc
1/2 Savannah + 1/2 SPRD 0,90 a 2,37 a 7,50 a 13,20 c
CV ( %) 16,58 16,65 37,71 29,63
Nas colunas, letras diferentes diferem significativamente, pelo teste de Tukey a 5%
de probabilidade, considerando o mesmo fator. CV = Coeficiente de variação
54 A Raça Savanna

12. Considerações Finais

Neste livro procurou-se descrever a origem da raça, aspectos


relacionados à morfologia, padrão racial e resultados de estudos sobre
desempenho produtivo, reprodutivo, adaptabilidade, características de
carcaças e qualidades da peles.
È importante salientar que são escassas as informações sobre a
raça Savanna, no mundo e, portanto, não foi possível fazer um maior
aprofundamento das discussões de todos os aspectos relacionados ao
desempenho dessa raça em outros sistemas de criação. No entanto, fica
evidenciado que essa publicação concentra o maior numero de
informações sobre essa raça atualmente.
A introdução do Savanna como também do Boer, no Brasil,
impulsionarão de forma significativa a produção de carne caprina no País.
Isto estar respaldado, no desempenho produtivo que essas raças têm
mostrado, principalmente, naquelas relacionadas à reprodução,
destacando suas altas taxas de prolificidade, boa taxa de crescimento,
características de carcaças e a qualidade de suas peles.
Caprinos de Corte 55

13. Referências Bibliográficas

BASF. Vademécum para el técnico en curtición. 2 ed. Ludwigshafeb,


1984. 441 p.

CAMPBELL, Q. The indigenous sheep and goats breeds of South


África. Bloemfoutein, Shouth Africa, Dreyer Printers and Publishers,
1995, 44 p.

COSTA, R. G.; JACINTO, M. A. C.; DELGADO, J. V.; LEON, J. M.;


REY, S. evaluación de La cálida de La piel y cuero de ovynos y caprinos:
metodologia. Ovis, Madrid, v.79, p. 21-28, 2005.

CRAIG, A. S.; EIKENBERRY, E. F.; PARRY, D. A. D. Ultrastructural


organization of skin: classification on the basis of mechanical role.
Connective Tissue Research, v.16, p.213-223, 1987.

DAL MONTE, M. A. B. L.; COSTA, R. G.; JACINTO, M. A. C. et al.


Características físico-mecânicas e químicas do couro de caprinos abatidos
em idades diferenciadas. Revista Brasileira de Zootecnia, v.33, n.5,
p.1285-1291, 2004.

EPSTEIN, H. The origin of the domestic animals of África. 1971.


Volume 2. Sheep, Goats, H, Camels, Asses and Pigs. Revised by I.L.
Mason. Africana Publising Corporation. New York orses 2.

HENRICKSON, R. L.; RANGANAYARI, M. D.; ASGHAR, A. Age,


species, breed, sex and nutrition effect on hide collagen. CRC Critical
Reviews in Food Science and Nutrition. v.20, n.3, p.159-172, 1984.

OLIVEIRA, R. J. R Características histológicas e físico-mecânicas


da pele de caprinos e ovinos de diferentes genótipos. 2006. 78 p. Tese
(Doutorado em Zootecnia) - Centro de Ciências Agrárias da Universidade
Federal da Paraíba, Areia, 2006.
56 A Raça Savanna

SANTOS, F. C. B.; SOUZA, B. B.; ALFARO, C. E. P.; CÉZAR, M. F.;


PIMENTA FILHO, E. C.; ACOSTA, A. A. A.; SANTOS, J. R. S.
Adaptabilidade de caprinos exóticos e naturalizados ao clima semi-árido
do Nordeste brasileiro. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v.29, n.1,
p.142-149, 2005.

SILVA, M. N. E.; SOUZA, B. B; SILVA, G. A.; CÉZAR, M. F.; SOUSA,


W. H.; BENICIO, T. A. B.; FREITAS, M. M. S. Avaliação da
adaptabilidade de caprinos exóticos e nativos no semi-árido paraibano.
Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v.30, n.3, p.516-521, maio/jun. 2006.

SOUSA, W.H. de; AQUINO, D. do S. P. B.; ROCHA, M. S. L;


MEDEIROS, I. M. de. Validação de técnicas de esfola e conservação
de peles caprinas e ovinas do Cariri e Curimataú (Ociental e
Oriental). Campina Grande, PB: EMEPA/SICTCT/COMET/CNPq/
PRONAF, jul. 2001, 193 p. (Relatório de Atividades).

SOUZA, E. D.; SOUZA, B. B.; SOUSA, W. H.; CÉZAR, M. F.;


SANTOS, J. R. S.; TAVARES, G. P. Determinação dos parâmetros
fisiológicos e gradiente térmico de diferentes grupos genéticos e caprinos
no semi-árido. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v.29, n.1, p.177-184,
2005.

Você também pode gostar