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Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG – Unidade Frutal/MG

Curso Bacharelado em Direito – 6º Período Noturno


Direito Penal IV – Profa. Dra. Renata Follone

Danilo Franco Silva – RA: 10-00683


Douglas Marini Dias Coelho – RA: 10-93635
Gabriel Teixeira Canduri – RA: 10-94237
Ismar Trindade Reis – RA: 10-94474
Rodrigo Inácio Souza de Menezes – RA: 10-94482

AS ALTERAÇÕES E INOVAÇÕES OCASIONADAS AO CÓDIGO


PENAL E AO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL COM O ADVENTO
DA LEI 14.155/21.

FRUTAL – MG
2023
1. INTRODUÇÃO

A lei 14.155, de 27 de maio de 2021, trouxe substancial alteração ao


Código Penal, modificando o tipo penal do delito de invasão de dispositivo
informático, além de incluir as formas qualificada e majorada ao furto
mediante fraude e ao estelionato. Promoveu, também, alteração no Código de
Processo Penal, para determinar a regra de competência, no domicílio da
vítima, em algumas modalidades e formas de execução do crime de
estelionato.

1.1. PALAVRAS INICIAIS

Presentes em Inquéritos de todas as Delegacias de Polícia ao longo do


extenso, e continental, território brasileiro, as fraudes e estelionatos marcaram
presença na vida e no cotidiano de milhões de brasileiros e brasileiras. Afirmar
que determinada conduta marcou presença na vida de milhões de pessoas
implica e subentende-se, consequentemente, que tal conduta representa um
comportamento crônico e de incidência massiva na população, se não ad
aeternum, ao menos tempo suficiente para ser considerado crônico.
Em meio às Ciências Criminais — quais sejam: Direito Penal,
Criminologia e Política Criminal — encontramos forte elo entre Direito Penal e
Criminologia, que, quando juntos, engendram premissas que auxiliam na
formulação, estudo e prática da Política Criminal. Esta conexão é, certamente,
o que permitiu que se identificasse, em meio aos assíduos e já consolidados
delitos existentes na sociedade, a necessidade de se estudar, classificar e
codificar um novo tipo criminal: a fraude eletrônica, através da Lei n° 14.155/21,
que altera o Decreto-Lei n° 2.848/40 (Código Penal) e traz algumas
modificações no Decreto-Lei n° 3.689/41.
Nos polos acadêmicos e nas doutrinas, é comum o entendimento de que
a Criminologia analisa o fato (justamente por isso ela é tida como ciência
empírica) e, após esta análise, o Direito Penal entra em cena com suas
funções preventivas ou paliativas, convertendo o fato em direito, o caso
concreto em abstração. Neste ponto, torna-se fulcral, e até mesmo necessário,
que se contemple Direito Penal e Criminologia em sua ação conjunta.

1.2. FRAUDE ELETRÔNICA SOB A ÓTICA DAS CIÊNCIAS


CRIMINAIS

Enquanto o Direito Penal enxerga como crime o fato típico, a


Criminologia desenvolveu alguns requisitos a serem cumpridos para determinar
uma conduta como criminosa. Conforme preconiza Sérgio Salomão Shecaira
em seu livro intitulado “Criminologia” ¹, esta ciência estipula que um crime
precisa demonstrar incidência massiva na população. Com o advento da
internet, a facilidade de acesso geral a aparelhos eletrônicos e (se a geopolítica
me permite tomar emprestado um de seus termos) o recrudescimento da
globalização, responsável pelo encurtamento do tempo e do espaço, a fraude
eletrônica se tornou uma realidade tão mais frequente quanto quaisquer outros
delitos fraudulentos.
Se antes o receio de se aceitar um cheque era predominante, hoje, o
medo de fechar um contrato ou contemplar outro negócio jurídico (e estes são
muitos!) por meio de um celular, por exemplo, transformou-se em temor muito
maior. Afinal, crianças, adolescentes e idosos são usuários muitas vezes
diários de aparelhos celulares, computadores e outras plataformas com acesso
à internet, o que gera uma incidência muito mais massiva na população.
Além disso, a Criminologia também estipula a incidência aflitiva como
um dos requisitos do comportamento criminoso. A fraude eletrônica, ao
ludibriar indivíduos, subtrair e ferir o patrimônio alheio e causar receio geral na
sociedade, demonstra claramente possuir uma incidência aflitiva nas pessoas.
Se o cidadão comum — aquilo que algumas doutrinas denominam de “homem
médio” — receia ter seus bens atingidos pela má-fé de golpistas, quais não são
os temores e, se concretizada a conduta, as consequências para os mais
vulneráveis? A criança ou o idoso vítima de fraude eletrônica, por disposição
psicológica vulnerável ou mesmo por ignorância e ingenuidade, sem dúvida é
um sujeito em potencial para engatilhar traumas e complicações devido à
experiência sofrida.
Adiante, espera-se de um crime que possua persistência espaço-
temporal. O século XXI indubitavelmente aproximou a tecnologia do cidadão
comum. Outrora considerado remoto, o meio eletrônico agora integra o dia a
dia da população. É possível afirmar: a tecnologia tornou-se doméstica. Após o
ano de 2019, esse quadro salientou-se com uma velocidade sem precedentes,
com toda a vivência humana rumando para um patamar em que o simples e
extremamente rotineiro ato de se trabalhar necessitava assumir uma dimensão
eletrônica para sustentar-se.
Com isso, escuso dizer que os crimes, condutas em constante
transformação, formularam novas maneiras de se concretizarem, encontrando
um caminho até suas vítimas potenciais. Em outras palavras, foram
transferidos do meio fático e material para a realidade tecnológica e virtual. A
fraude adaptou-se para as plataformas digitais. E isso tem ocorrido com tanta
contumácia e em tantos lugares distintos que a persistência espaço-temporal
do crime de fraude eletrônica constatou-se inquestionável. Impossível não ter
sido, pelo menos, abordado falsamente ou não conhecer alguém que já tenha
sofrido com ações de golpistas virtuais.
Por fim, requer-se de um crime que o mesmo suscite inequívoco
consenso quanto a suas qualificações, aspectos e consequências. As pessoas
vítimas de fraude dificilmente irão defender esta ação. Há aquelas que, por
inércia do cotidiano, preferem não denunciar, fortalecendo a cifra negra deste
tipo penal, mas nenhuma delas aceitarão tal conduta como natural, moral ou
agradável em sociedade. Isso porque os atos fraudulentos infringem não
apenas a legalidade, mas a ideia que se tem de cidadania, afetando os planos
jurídicos, sociais e econômicos. Com relação à fraude eletrônica, averígua-se a
mesma situação: as perdas sofridas e a dor ou dano causado permanecem,
enquanto somente o ambiente de realização da conduta modificou-se.
Portanto, a necessidade de dispositivos como a Lei n° 14.155/21, que
atualiza o modo como o Direito Penal enxerga, aborda e intervém na realidade
fática atual, é certa e fundamental. Em contato com a Política Criminal, que
sistematiza estratégias, instrumentos e meios de combate à criminalidade,
espera-se da legislação efetividade e eficácia. Espera-se, sobretudo, que não
se restrinja ao papel, à letra da lei, mas — assim como o crime encontra o
caminho para efetuar-se nas mais diversas modalidades —, que o legislado se
torne o cumprido; e o injustiçado, o reparado.

2. PRIMEIRA PARTE

Ao compreender a redação da lei 14.155/21 na qual altera o crime de


invasão de dispositivo informático, sendo melhorada sua redação e
aumentando significativamente as suas penas (art. 154-A do CP fora inserido
pela Lei n. 12.737, de 30 de novembro de 2012, e que na época ganhou força e
ficou conhecida popularmente como Lei Carolina Dieckmann, culminando em
criminalização o ato de invasão de dispositivo informático. Posteriormente, a lei
14.155, de 27 de maio de 2021). Ademais, foram criados os crimes específicos
de furto mediante fraude eletrônica (art. 155, § 4º-B do CP) e de fraude
eletrônica (art. 171, § 2º-A do CP).
Esta nova modalidade de crime com a finalidade do núcleo invadir, que
significa ingressar, penetrar ou apoderar-se. Sendo o objeto material dispositivo
informático de uso alheio, conectado ou não à rede de computadores.
Importante ressaltar que o dispositivo informático é qualquer equipamento com
capacidade de armazenamento e processamento de informações, envolvendo
de computadores pessoais, tablete, Iphone, a smartphones.
O Doutor Fernando Capez traz o ensinamento, de que devido à redação
dúbia, era possível extrair duas interpretações quanto aos núcleos do tipo:

A nova redação da Lei 14.155/2021 resolveu o problema de


interpretação que trouxe outras alterações:
No entendimento adotado pelo Doutor Rogério Sanches Cunha, “O
crime formal, pois a obtenção de qualquer dos resultados almejados pelo
sujeito ativo é desnecessária para a sua consumação (obtenção, adulteração
ou destruição de dados ou informações ou obtenção de vantagem ilícita). É
indiferente estar ou não o dispositivo conectado à rede de computadores”.
Pois o crime é comum, doloso, formal e plurissubsistente, admitindo o
“conatus” (tentativa).

3. COMPETÊNCIA PARA PROCESSO E JULGAMENTO DE CRIMES


DE ESTELIONATO POR CHEQUE SEM FUNDO, FRUSTRAÇÃO
DE PAGAMENTO DE CHEQUE, DEPÓSITOS E
TRANSFERÊNCIAS

Outra importante alteração promovida pela Lei 14.155/21 foi a definição


do local competente para julgar os crimes de estelionato cometidos por meio de
cheque sem fundos, com pagamento frustrado, ou por transferência de valores
que passou a ser, nesses casos, o local da residência da vítima (art. 70, § 4º,
CPP). No que trouxe um pouco de conforto para as vítimas, pois o desgaste
emocional equipara-se ou supera o prejuízo financeiro, praticado nesta
modalidade de crime.

Esta alteração, promovida no Código de Processo Penal Brasileiro, trata


especificamente da competência para os crimes de estelionato por meio de
depósitos, transferências, cheques sem fundo ou frustração de pagamento de
cheques. Importante frisar que essa alteração não é específica para fraudes
eletrônicas, mas abrange outros casos tradicionais de estelionato como, por
exemplo, os cheques sem fundos e demais situações sem necessidade do
requisito da fraude eletrônica.

Com este intuito foi criado um § 4º. no artigo 70, CPP que determina que
nos casos acima destacados a competência será a do local do domicílio da
vítima. Também esclarece o dispositivo que, em havendo pluralidade de
vítimas com domicílios diversos, a competência será firmada pela prevenção.

Oportuna a criação desta nova regra no sentido de pacificar uma


discussão, antes predominante, acerca da competência para esses casos,
principalmente envolvendo depósitos e transferências de valores. Além disso,
toda a discussão foi exacerbada com o surgimento de bancos virtuais, o que
dificultava ainda mais o estabelecimento de uma competência “ratione loci”.

No que diz respeito aos cheques sem fundos ou com pagamento


frustrado, já havia certa pacificação considerando-se o local da recusa do
pagamento, inclusive com Súmulas do STJ e do STF a respeito, embora não
houvesse norma legal explícita. De acordo com as Súmulas 244, STJ e 521,
STF o local que estabelecia a competência para tais casos era o de recusa do
pagamento, ou seja, a praça do cheque, onde ficava a agência bancária do
emitente. Essas Súmulas agora perdem eficácia diante de disposição legal
expressa que elege a competência do domicílio da vítima. 

Porém, não se pode pensar que em qualquer caso de fraudes por meio
de cheque será aplicada a regra do artigo 70, § 4º., CPP. Esta se refere
apenas à figura equiparada do artigo 171, § 2º., VI, CPP (cheque sem fundos
ou frustração do pagamento). Em casos de cheques falsificados, cheques de
contas encerradas, cheques falsos ou clonados, cheques furtados ou roubados
etc., aplica-se a regra normal do artigo 70, “caput”, CPP e a Súmula 48, STJ
que afirma competir “ao juízo do local da obtenção da vantagem ilícita
processar e julgar crime de estelionato cometido mediante falsificação de
cheque” (esta Súmula não sofre qualquer dano com o advento da Lei
14.155/21).

4. ESTELIONATO (ADEQUAÇÃO PENAL)

A sociedade está sujeita a mudanças no decorrer do tempo, nesse


ínterim, necessário compreender que, assim como a sociedade encontra-se em
constante evolução, o direito também possui o dever de desenvolver-se,
acompanhando tais modificações do mundo ao seu redor, quase sempre com
certo atraso, visto que representa mero produto resultante das relações
humanas.

Logo, conforme as interações digitais foram modificando-se com o


passar das duas últimas décadas, despontaram novas oportunidades para o
cometimento de crimes no meio eletrônico.

Insta salientar que a internet, diferente do imaginário popular, não


constitui terra sem lei, estando já amplamente regulada por notáveis leis, tais
quais: Lei n. 12.965/2014 (Marco Civil da Internet); Lei n. 13.709/2018 (Lei
Geral de Proteção de Dados Pessoais); bem como a presente Lei objeto deste
estudo n. 14.155/2021 (a qual altera diversos dispositivos do Código Penal
Brasileiro e Código de Processo Penal).

Esta última, percebe-se o intuito do legislador em prima facie, garantir a


adequação da legislação penal vigente, adequando-a aos meios virtuais,
tipificando as atitudes antes facilmente classificadas no mundo real para o uso
da ferramenta eletrônica.

Já em segundo plano, exprime-se a necessidade do legislador em


agravar as penas em caso de constatação de meios eletrônicos para, além de
agradar a sociedade amplamente ciente dessas práticas até então não-
tipificadas, mas também desencorajar novas atitudes similares.

Já ressaltamos anteriormente o acréscimo no art. 171 do Código Penal,


definindo o crime de estelionato, o § 2º-A, uma modalidade de estelionato
qualificado,1 a qual recebeu o nomen iuris de "fraude eletrônica", segue:
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita,
em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém
em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro
meio fraudulento:

(...)

Fraude eletrônica

§ 2º-A. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito)


anos, e multa, se a fraude é cometida com a
utilização de informações fornecidas pela vítima
ou por terceiro induzido a erro por meio de redes
sociais, contatos telefônicos ou envio de correio
eletrônico fraudulento, ou por qualquer outro
meio fraudulento análogo. (Incluído pela Lei nº
14.155, de 2021)

§ 2º-B. A pena prevista no § 2º-A deste artigo,


considerada a relevância do resultado gravoso,
aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços),
se o crime é praticado mediante a utilização de
servidor mantido fora do território nacional.
(Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021)

O destaque do parágrafo 2º-A traz uma modalidade qualificada do


delito, com pena de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. Vale
ressaltar que se o estelionato é cometido com a utilização de informações
fornecidas pela vítima ou por terceiro induzindo ao erro, por meio de redes
sociais, contatos telefônicos ou envio de correio eletrônico fraudulento, ou por
qualquer outro meio fraudulento análogo.

Neste caso, a qualificadora se vincula à forma não presencial de prática do


delito, em que a utilização de informações envolve a fraude, induzindo alguém
a erro que podem ser:

● Por meio das redes sociais: o agente se utiliza, por exemplo, de uma
conta no Instagram, Facebook e outros canais na qual simulará sorteios
para obter dados das vítimas.

● Por meio de contatos telefônicos: o agente telefona para a vítima para


obter vantagem por meio de fraude, como pela disseminada prática de
falso relato de sequestro de familiar;
● Por meio de envio de correio eletrônico fraudulento: cuida-se, aqui,
do envio dos e-mails, como os que simulam ser enviados por instituição
bancária, para obtenção de dados da vítima, como a senha do cartão;

● Por qualquer outro meio fraudulento análogo: pode-se imaginar o


uso de WhatsApp, com emblema de uma loja, o que pode ser
considerado análogo a um contato telefônico e/ou correio eletrônico.

Como bem retrata Beatriz Silva (2022), o divisor de águas do crime de


estelionato advém de sua complexidade para sua consumação, a qual
podemos separar em quatro etapas sendo a obtenção de vantagem ilícita;
causar prejuízo a outra pessoa; uso de meio ardil, ou artimanha; enganar
alguém ou leva-lo a erro.

Outrossim, verifica-se que o referido crime não necessita o uso de força


ou grave ameaça, consoante entendimento de Valéria Pereira (2022), dado que
o agente se beneficia da boa-fé de suas vítimas.

Assim, assume-se uma distinção entre o crime de estelionato, de certa


forma oportuniza-se pela enganação ou indução ao erro, relativo ao crime de
extorsão, art. 158, do Código Penal. Neste quesito, pode-se extrair o
pensamento de Felipe Diniz (et al), a seguir:

Vale destacar que no crime de estelionato não existe


violência ou grave ameaça por parte do autor. Com isso, a
diferença entre o crime de estelionato e o crime de
extorsão (Art. 158 CP), por exemplo, está, entre outros
aspectos, no raciocínio de que no estelionato a vítima
deseja, após ser convencida, entregar o objeto, pois foi
induzida ou mantida em erro pelo autor, seja pelo
emprego de fraude ou qualquer outro meio ardiloso, já no
crime de extorsão, a vítima desfalca seu patrimônio contra
a sua própria vontade, assim agindo por ter sofrido
violência ou grave ameaça. Ou seja, na extorsão, há a
entrega da coisa, mesmo que o ofendido não a queira
entregar, e no estelionato, por estar iludida, a vítima faz a
entrega de forma consciente. (DINIZ, et al, 2022, p. 5).

Destarte, bastando para a prática ilícita um equipamento eletrônico


capaz de comunicar-se com a internet ou números de contato de suas vítimas,
por certo que a pandemia, que se sucedeu simultaneamente à apresentação e
aprovação da Lei n. 14.155/2021, resultou em ambiente ideal para que esta
prática, antes inexistente de quaisquer tipificações, se proliferasse pelo
território nacional, visto a notória facilidade de meios para seu fim.

Em uma análise supérflua de Valéria Pereira (2022), exprime-se que a


sociedade brasileira, forçada ao isolamento social e à utilização de ferramentas
eletrônicas, tais como celulares e computadores, para tarefas de trabalho ou
escola, cresceu exponencialmente o alcance de cibercriminosos à suas
vítimas, resultando em um aumento na taxa de crimes virtuais, popularmente
caracterizados como “golpes do WhatsApp” e afins.

Ainda segundo Valéria Pereira (2022), uma sociedade ainda não imersa
sobre o conteúdo digital e, consequentemente, ignorante aos perigos que o
mundo virtual proporciona, se viram bombardeadas por promessas surreais de
ganhos por trabalho remoto, ganhos em sorteios e promoções sem ao menos
um cadastro prévio.

Totalmente divergentes da realidade, não passavam de chamarizes de


criminosos para atrair suas vítimas, de modo que o legislador buscou o
recrudescimento da legislação vigente pelas razões supracitadas, culminando
na lei objeto de análise deste estudo.

Não restam exemplos de casos dos quais o legislador buscou amparar


nesta Lei, bastando uma breve busca em um buscador on-line para encontrar
matérias de jornais ligando os tópicos hoje tipificados no Código Penal
Brasileiro.

Observa-se que, das qualificadoras supracitadas, se extrai os mais diversos


meios com a mesma finalidade, vantagem ilícita, seja para si ou para outrem,
denotando-se patente facilidade que se encontravam os agentes de tais delitos.

Nesse sentido, estando o direito meramente reagindo às transformações


presentes na sociedade brasileira, os aspectos desta Lei visam adequar-se às
mudanças decorrentes dos avanços tecnológicos.

Não somente o quesito de agravamento das sanções dos crimes, outro


aspecto também merece um olhar atento. Tratando do combate aos mais
diversos golpes digitais, a instalação de delegacias especializadas na
investigação de crimes virtuais possui papel inerente para as vítimas, visto que,
pela conjuntura da estrutura atual brasileira, estas vítimas quedam-se inertes,
não procurando registrar ocorrência dos fatos sob a justificativa de dúvidas
tocante a real existência de investigação ou punição dos agentes (KUNRATH,
2017).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Lei 14.155/21 representa uma evolução do cenário jurídico brasileiro,


embora tenha chegado com algum atraso, haja vista que as condutas que se
enquadram em sua definição, assim como as equivalentes ao furto mediante
fraude eletrônica, há muito tempo vem causando intranquilidade a sociedade.

Entretanto é preciso notar que o Direito como parte inerente da


sociedade, evolui também conforme a sociedade, fazendo-se necessário novas
tipificações criminais para o devido controle da ordem social, principalmente
com a pandemia foi mais notável ainda a necessidade da Lei 14.155/21, devido
ao uso excessivo de dispositivo informático.

Também é importante concluir a importância da evolução jurídica


brasileira não somente em tratar os crimes cibernéticos, mas também trazer o
novo entendimento quanto a competência, trazendo-a para o domicílio da
vítima, retirando o obstáculo da distância para propositura das devidas ações.

Com o avanço da “vida on-line” será cada vez mais necessário do zelo
do Direito quanto ao mundo digital, um exemplo disto é a proposta do
Metaverso pela empresa Meta, e todas as possibilidades de interações e
transações que poderão ser feitos neste universo, e que precisarão ser
regulamentos, isto é a importância do Direito Vivo!

BIBLIOGRAFIA

¹ SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. 10° edição. São Paulo: Revista


dos Tribunais, 2022.
CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal, volume 2, parte especial. 13 ed.
São Paulo: Saraiva, 2013, p. 424.

MASSON, Cleber. Direito Penal: parte especial (arts. 121 a 212) – vol. 2. 12ª


ed. São Paulo: MÉTODO, 2019, p. 295.

CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte especial. 12ª Ed.


Salvador: Juspodivm, 2020, p. 278/279 Luiz Régis Prado, que destaca de tratar
de tipo misto cumulativo em relação às condutas de invadir dispositivo e
instalar vulnerabilidades. (Curso de direito penal brasileiro: parte geral e
parte especial. 18 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 586)

SILVA, Beatriz M. S. Direito Penal: Estelionato sob a ótica do dolo


específico. São Paulo/SP, 2022

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