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E- Como a sua abordagem entende a psicopatologia (transtornos mentais)?

G- Para começo de conversa a CP não usa esse termo “transtornos”, por mais que seja um
termo muito usado, dentro da CP a gente pensa em não classificar as pessoas em
“caixinhas”, não fazer associações, consideramos a pessoa em uma totalidade, ela não é só
a doença ou só a pessoa, ela é os dois juntos. Dentro da CP a gente não vê a pessoa como
um paciente, mas sim como um cliente, justamente por olhar a pessoa como uma
participação ativa dentro do processo terapêutico, a pessoa não está em tratamento, mas
sim em um processo de atualização. Tanto é que hoje a tendência atualizante dentro da CP
é um dos princípios básicos da CP, que seguimos com muito afinco, a tendência atualizante
pressupõe que o próprio indivíduo consiga ‘’se curar’’, mas não usamos esses termos, a CP
veio com esse enfoque de bater de frente com a medicina na época, Rogers queria se
distanciar o máximo possível dessa ideia de adoecimento, sofrimento, patologia. Quando a
gente fala de patologia, conceito patológico, a conceito geral é de sofrimento, adoecimento,
algo negativo e a gente foge desses termos, a gente quer trabalhar de uma forma em que a
pessoa não seja uma doença, mas que a doença também não seja a pessoa, são um um só,
a pessoa é também a depressão dela como por exemplo, a gente considera a pessoa como
um todo.

E- Como é o papel do terapeuta no processo terapêutico?

G- O papel do terapeuta é ser um facilitador, a gente assume um papel diferente da


psicanálise por exemplo, o terapeuta não tem um papel de poder, ‘’eu tenho autoridade, eu
sei de tudo’’, enfim, a gente iguala essa relação, assumindo que o outro é tão importante
quanto eu mesmo, a gente precisa estabelecer um bom vínculo, uma boa relação, ter a total
confiança dessa pessoa no processo terapêutico, e a partir disso tem 3 conceitos que o
Rogers usa bastante, primeiro a congruência, encontrar a congruência, encontrar aquilo que
faz sentido dentro do tratamento, por mais que exista o transtorno cada um vai conseguir se
tratar, trazer uma solução ali de uma forma diferente, entender o que faz sentido naquele
momento, com a sua vida, depois temos a aceitação incondicional, que é justamente você
aceitar tudo aquilo que o paciente esta dizendo, não julgar, não colocar ele em posição de
certo ou errado, mesmo que ele traga alguma questão que você sabe que ele ta mentindo,
que você sabe que ele ta trazendo um conceito que enquanto seres humanos é um conceito
imoral que não é aceito dentro da sociedade, você precisa aceita-lo, não julgar e entender
que o cliente é capaz de desenvolver meios e tem o potencial de conseguir sozinho
descobrir a melhor maneira, melhores caminhos e melhores possibilidades para ter uma vida
mais saudável.

(dentro ali dos transtornos, claro que tem alguns que são mais preocupantes que tem por
exemplo, alucinações, delírios, porém o Rogers via isso como uma experiência singular de
cada um e não como um deslize, não como um desajuste, era uma forma como aquela
pessoa encontrava, não de uma forma totalmente congruente, mas uma forma da pessoa se
ajustar, se atualizar, mesmo que tendemos a colocar a pessoa em uma caixinha negativa,’’ é
preocupante e exagerado’’, a gente vê com outros olhos, com olhar de pela experiência
daquela pessoa ela tá conseguindo, ela ta tentando pelo menos se adequar, se ajustar.)

E- Mas se isso traz prejuízos para a pessoa, como vocês entendem?


G-É da mesma forma, dentro desses eventos mais preocupantes que trazem prejuízos, a
gente sempre vê dessa forma, que aquilo é aquela experiência da pessoa e com aquele
desajusta, ela tá de certa forma se ajustar, gente tenta olhar para aquela pessoa e conduzi
la em um papel de facilitadora para que ela veja com os próprios olhos, que ela sozinha veja
que aquilo não está sendo bom, que não está sendo como deveria.

E-Como vocês entendem a relação do indivíduo com a patologia?

G- É conseguir fazer a pessoa entender dentro da própria vivência dela que aquilo é
incongruente e tem outro conceito que Rogers usa bastante, ‘’pessoa em pleno
funcionamento’’, isso seria o modelo ideal, dentro de cada vivência, dentro de cada pessoa
de como seria um funcionamento bom, adequado, ajustado e atualizado de cada vivência,
priorizando a pessoa mas como ela deveria funcionar, considerando todas as
individualidades, em seu pleno funcionamento.

E- Quais são as principais técnicas utilizadas pela abordagem no tratamento de transtornos


mentais?

G- Existem 3 itens que nós consideramos principais dentro de pleno funcionamento,


‘’abertura à experiência’’, a pessoa consegue se abrir para estar no mundo, consegue
trabalhar, se relacionar, ter amigos. ‘’Vivências de modo existencial",você consegue de fato
estar presente no aqui e agora, ver aquilo como se fosse único e também a ‘’confiança no
organismo’’, ou seja, entender que ela mesmo é capaz de lidar com as próprias angústias,
próprias tristezas, e também a perspectiva de potencial, você se colocar em uma posição de
uma pessoa que pode, que é capaz. Dentro da psicoterapia a gente usa muito da
espontaneidade, quando a pessoa senta para conversar comigo, a gente dá liberdade para
que ela traga aquilo que ela queira expressar, não induzirmos para que ela fale alguma coisa
ou faça alguma atividade, a principal ferramenta que a gente usa é a liberdade de
expressão, ela é ela, não precisa cumprir o que eu quero que ela cumpra, mas sim o que ela
quer e o que ela espera, junto com o fortalecimento do vínculo, ou seja, quanto mais a
pessoa confia em mim, mais ela vai se atualizando, se tornando congruente com ela, com
os sentimentos, ela precisa se sentir confortável suficiente para dizer o que ela quiser da
forma como quiser.

E- Como a abordagem considera a importância do autoconhecimento e autorrealização no


processo de cura de transtornos mentais?

G- A CP ela é focada no cliente, então para que a gente considere o processo de cura, ela
mesma precisa se sentir curada, em pleno funcionamento e para isso depende muito dela se
sentir assim, para entender que a pessoa está curada, a pessoa precisa me comunicar que
ela está se sentindo bem, para sair da psicoterapia, alguém que acaba o processo ou então
desiste, a alta é definida em conjunto, não é o psicoterapeuta que fala que acabou, se a
pessoa fala que não quer mais ir, a gente entende qe o nosso papel esta cumprido, a gente
estava ali para facilitar o caminho daquela pessoa e se ela entende que não tem
necessidade da psicoterapia, ela pode seguir a vida dela. A alta na CP é discutida em
conjunto, vendo quais foram os contextos, avanços, o que a pessoa conseguiu aprender na
psicoterapia, não é muito palpável como é na TCC, na Comportamental, todo um esquema
para você ver, avaliar, para a CP isso é muito pessoal, para a pessoa estar curada ela
precisa se sentir curada.

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