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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

ADRIELLE FIGUEIRÓ BENENOT

FEMINICÍDIO:
O CICLO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER

Araranguá
2020
ADRIELLE FIGUEIRÓ BENENOT

FEMINICÍDIO:
O CICLO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Graduação em Direito da
Universidade do Sul de Santa Catarina, como
requisito parcial à obtenção do título de
Bacharel em Direito.

Orientador: Prof (a) Nádila da Silva Hassan, Esp.

Araranguá
2020
ADRIELLE FIGUEIRÓ BENENOT

FEMINICÍDIO:
O CICLO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi


julgado adequado à obtenção do título de
Bacharel em Direito e aprovado em sua forma
final pelo Curso de Graduação em Direito da
Universidade do Sul de Santa Catarina.

Araranguá, (09) de (dezembro) de (2020).

______________________________________________________
Professor e orientador: Nádila da Silva Hassan, Esp.
Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________
Prof. Elisângela Dandollini, Esp.
Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________
Prof. Fátima Hassan Caldeira, Dra.
Universidade do Sul de Santa Catarina
Dedico este trabalho a todas as mulheres que
tiveram a vida interrompida pela violência de
homens.
AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, aos meus pais, Catarina Figueiró Benenot e Luiz


Gonzaga da Costa Benenot, por todo o apoio ao longo dessa caminhada e pelo amor que me
foi dado.
Agradeço em especial a minha mãe, Catarina Figueiró Benenot, por todo o
suporte ao longo desses cinco anos, pelo companheirismo e por demostrar o seu amor
imensurável. E pelo apoio prestado nos momentos difíceis ao proporcionar uma educação de
qualidade.
Agradeço, também, as minhas irmãs, Elizandra Figueiró Benenot e Edilene
Figueiró Benenot, por me ensinarem que todas as pessoas merecem respeito, e por terem
mostrado o real significado de afeto. E, por torcerem e acreditarem na realização desta
conclusão de curso, dando forças para seguir em frente.
Aos amigos, meus companheiros, por me proporcionarem inúmeros momentos de
alegria, por cada momento juntos e pela oportunidade de aprender um com o outro. Por todas
as contribuições nos trabalhos e principalmente em momentos de tensão no fim de cada
semestre.
Aos professores que contribuíram com a minha trajetória acadêmica, de maneira
especial a minha orientadora, Nádila da Silva Hassan, pela paciência e atenção prestada.
Obrigada pelo auxílio prestado na elaboração desta monografia.
E por fim, agradeço a Deus por iluminar o meu caminho e me amparar nesta
etapa.
“E, contudo, cada homem mata aquilo que ama,
Que isto seja ouvido por todos.
Alguns o fazem com um olhar de rancor;
Outros, com uma palavra de lisonja;
O covarde o faz com um beijo;
O valente, com uma espada”. (Oscar Wilde).
RESUMO

O presente trabalho foi conduzido por meio de pesquisa bibliográfica e documental, com foco
no tema feminicídio e a violência doméstica contra a mulher. O questionamento base para o
desenvolvimento do estudo foi: Qual a importância da lei de feminicídio para o amparo às
mulheres? O objetivo geral deste trabalho foi analisar a lei de feminicídio, que
desmembrando-se em objetivos específicos tivemos, visou a verificar a violência contra as
mulheres; conjuntamente como o seu histórico, e ainda, analisar a Lei Maria da Penha na
proteção da mulher, e por fim, examinar o crime de feminicídio que se caracteriza pela morte
de uma mulher pela razão da condição de pertencer ao sexo feminino. O presente trabalho
permitiu constatar que a violência contra a mulher ocorre há séculos. Nesse sentido, o
presente estudo permitiu examinar que houve avanço na sociedade e na legislação em questão
de gênero, conquistado através de séculos de luta, permitindo maior proteção às mulheres e
garantia dos seus direitos.

Palavras-chave: Violência. Feminicídio. Mulher. Homicídio.


ABSTRACT

This present work was conducted through bibliographic research, focusing on the theme of
femicide and domestic violence against women. The basic question for the development of
the study was: Does the present study enable us to verify the importance of the feminicide law
for the protection of women? The general objective of this work was to analyze the feminicide
law, while the specific objectives were to verify the violence against women, together with its
history, as well as to analyze the Maria da Penha law in the protection of women; examine the
crime of femicide that stands out for the death of a woman for the reason of the condition of
female sex. The present civil work finds that violence against women has been going on for
centuries. In this sense, the present study will eliminate that there has been progress in society
and in legislation in terms of gender, conquered through centuries of struggle, allowing
greater protection for women and guarantee of their rights

Keywords: Violence. Feminicide. Woman. Murder.


LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1- Quadro evolutivo da taxa de homicídios por 100 mil mulheres no Brasil, sendo dos
três Estados com as maiores taxas no ano de 2017...................................................................26
Gráfico 2- Quadro evolutivo da taxa de homicídios por 100 mil mulheres no Brasil, sendo dos
três Estados com as menores taxas no ano de 2017..................................................................26
Gráfico 3-Taxa evolutiva de homicídio de mulheres dentro e fora da residência por arma de
fogo dentre os anos 2012 a 2017...............................................................................................27
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................10
2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS ALUSIVOS Á VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
CONTRA A MULHER..........................................................................................................12
2.1 A INFERIORIDADE HISTÓRICA DA MULHER........................................................12
2.2 A VIOLÊNCIA E SUAS MÚLTIPLAS FORMAS.........................................................16
2.3 O MACHISMO NA SOCIEDADE BRASILEIRA.........................................................20
2.4 DADOS ESTATÍSTICOS DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NO BRASIL.....23
3 O FEMINICÍDIO NO ORDENAMENTO JURÍDICO PENAL BRASILEIRO........28
3.1 ORIGEM E CONCEITO DO TERMO FEMINICÍDIO..................................................31
3.2 MARCOS NORMATIVOS.............................................................................................32
3.2.1 Marcos normativos no mundo....................................................................................33
3.2.2 Marcos normativos no Brasil......................................................................................37
3.3 TIPIFICAÇÃO DO FEMINICÍDIO NO BRASIL E FEMINICÍDIO NOS PAÍSES
LATINOS-AMERICANOS......................................................................................................39
3.3.1 Natureza jurídica.........................................................................................................41
3.3.2 Sujeitos do crime..........................................................................................................42
3.3.3 Elementos caracterizados............................................................................................43
3.4 TIPOS DE FEMINICÍDIO...............................................................................................44
3.4.1 Feminicídio íntimo.......................................................................................................45
3.4.2 Feminicídio não íntimo................................................................................................46
3.4.3 Feminicídio por conexão.............................................................................................47
3.5 DADOS ESTATÍTICOS..................................................................................................47
4 CONCLUSÃO...................................................................................................................49
REFERÊNCIAS........................................................................................................................51
10

1 INTRODUÇÃO

Feminicídio é o homicídio doloso praticado contra a mulher por “razões da


condição de sexo feminino”, ou seja, desprezando, menosprezando, desconsiderando a
dignidade da vítima enquanto mulher, como se as pessoas do sexo feminino tivessem menos
direitos do que as do sexo masculino. (ORTEGA, 2016, p. 1).
Este estudo discorre sobre o feminicídio e a violência contra a mulher, pois, ainda
hoje, na sociedade, as mulheres são vítimas de violência nas mais variadas formas. Fazendo
com que o tema alvejado tenha a relevância e necessidade de ampliar as discussões de
violência contra as mulheres.
Esse trabalho tem como foco principal analisar a violência cometida por
indivíduos de relação íntima contra a mulher, pela condição feminina, tendo em vista a
inserção do inciso VI no artigo 121 do Código Penal Brasileiro, acrescentado ao crime de
homicídio à circunstância qualificadora de feminicídio.
O feminicídio inserido como qualificadora ao delito de homicídio, ocorre quando
no momento do crime o agente pratica o homicídio em decorrência de violência doméstica ou
menosprezo à condição de mulher, assim, caracterizando o homicídio qualificado como
circunstância de feminicídio, constituído por meio de violência.
Há importância de se nomear um fenômeno que se produz em um contexto
específico, contra vítimas determinadas, já que é um grande problema enfrentado por muitas
famílias brasileiras que presenciam suas mulheres terem a vida destruída de forma covarde e
cruel por quem a deveria zelar.
A metodologia deste trabalho foi realizada por meio de pesquisa bibliográfica e
por análise documental, como também, a utilização de artigos, relatórios, legislações,
doutrinas digitais e jurisprudências para garantir um desenvolvimento com base teórica
segura.
Como fora supracitado, este trabalho de conclusão de curso realizou-se por meio
de pesquisa bibliográfica, disposta em forma de capítulos. O primeiro capítulo trata de uma
retrospectiva histórica sobre a violência contra a mulher e o seu papel na sociedade,
demonstrando como ocorreu a construção da dominação de gênero, como o qual por séculos
escarneceu de um status de inferioridade para a mulher, será alvo os diversos tipos de
violência contra as mulheres, não sendo apenas a violência física, mas a violência psicológica,
a violência sexual, a violência patrimonial e a violência moral, como, também, os dados
estáticos de violência contra as mulheres.
11

O segundo capítulo aborda o tema principal que é o feminicídio, observando a


origem e conceituação, onde foram analisados os marcos normativos, incluindo a tipificação
de feminicídio na América Latina, sobretudo, evidenciou os tipos de feminicídio; como a
violência praticada contra a mulher por indivíduos que mantinham relação de afeto com a
vítima.
12

2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS ALUSIVOS Á VIOLÊNCIA DOMÉSTICA


CONTRA A MULHER

No presente capítulo, abordamos a forma histórica do papel do sexo feminino no


seio familiar, na sociedade e o limite da sua autonomia enquanto mulher, concomitante a isso,
o processo de transformação ao longo dos séculos. Ainda neste contexto, visamos esclarecer,
o estigma da desigualdade biológica, as várias formas de violência que são submetidas,
marcada por uma cultura machista, dando ênfase, portanto, a violência contra a mulher no
âmbito doméstico, e conseguinte, o feminicídio no atual cenário.

2.1 A INFERIORIDADE HISTÓRICA DA MULHER

Ao analisarmos a trajetória da mulher no decorrer dos períodos históricos,


percebeu-se que, na maior parte do tempo, esta teve uma posição inferior ao homem, como
também perante a sociedade e a religião. Revelando-se numa forma secundária o papel da
mulher no transcorrer dos séculos, em que elas – mulheres – foram oprimidas, discriminadas e
desprezadas de diversas formas, e ainda são até os dias atuais. Este dano trouxe a visão de um
ser subalterno, cujas tarefas baseiam-se a espaço privado e limitado. Assim, traçamos uma
análise do papel da mulher em todos os momentos da história e procuramos identificá-los.
Nos tempos primórdios havia uma igualdade entre homens e mulheres, pois
conviviam com paridade entre si, tendo ambos a mesma influência sobre decisões em grupo.
O papel do homem não era mais importante que o da mulher, existia uma harmonia entre eles.
Segundo Alambert (2004, p. 27) “Na aurora da humanidade não podemos falar na existência
de desigualdades entre o homem e a mulher. Naquele tempo, não existiam povos, nem
Estados separados”. Relata-se que existia uma livre liberdade sexual entre ambos, a gravidez
era vista como um dom concedido pela natureza, e como comunidade, uns cuidavam dos
filhos dos outros. Sendo assim, no começo da formação da humanidade não tínhamos esta
concepção de distinção entre o macho e a fêmea.
Consta que essa desigualdade adveio da agricultura, momento em que passou a
haver a divisão de terras, a formação de famílias, e a obtenção de recursos. Considera-se que
com o invento do arado, veio a exploração da dominação, pois, sendo um trabalho mais
pesado e que exige força para com o animal quanto para o movimento de arar a terra, abriu-se
a porta para a lei do mais forte, onde este serviço era mais valorizado. Com isso, desfez a
primazia de que ambos os sexos podiam ter similaridade. Conforme Dallari (2001, p. 20)
preceitua:
13

Desde os tempos mais remotos até nossos dias, verificamos que, à medida em que se
desenvolve os meios de controle e aproveitamento da natureza, com a descoberta, a
invenção e o aperfeiçoamento de instrumentos de trabalho e de defesa, a sociedade
simples foi-se tornando cada vez mais complexa. Grupos foram-se constituindo
dentro da sociedade, para executar tarefas especificas, chegando a um pluralismo
social extremamente complexo.

Vale ressaltar que, naquele tempo, a mulher era vista como um ser sagrado por dar
à luz, pois, se presumia que elas geravam a criança sozinha, que tinham um poder divino,
mas, com a descoberta de que o homem era necessário para a concepção da nova vida, este
passa, então, a ter o “poder” sobre o feminino, visto que se criou o pensamento de ser, o
homem, detentor principal para o controle da reprodução humana.
No transcorrer da história, foi havendo mudanças significativas no mundo. O
feudalismo e os impérios, a passagem do tempo dos indivíduos para as cidades e as criações
de Estados, trazendo a cultura e religião abarcada na questão em torno da vida da mulher. O
que se tornava cada dia mais difícil sua vida, impondo mais obrigações e menos direitos.
Sempre com o espectro de serem apenas reprodutoras, obrigadas a cuidarem de seus filhos e
da casa, mantendo sua fidelidade ao seu proprietário, o homem, já que ele era seu provedor.
Um marco dessa transformação, que respinga até nos dias atuais, foi a era
medieval, ou seja, a Idade Média, que trouxe um olhar rigoroso de degradação ao feminino. A
igreja Católica, com sua ideologia maçante disseminando discurso de ódio e aversão, trouxe
um estereótipo da figura da mulher, sendo inferior tanto fisicamente quanto intelectualmente,
sendo vista como um ser maligno, perverso e tentador, diabólico, bruxa, tendo a sensibilidade
de atração pelo sobrenatural. (FARINHA, 2010, p. 3; BOFF, 2018, p. 1).
Tal preceito parte de Adão e Eva, em que explica uma das teorias do surgimento
da origem do mundo, a qual se conhece como a perda do paraíso causada por Eva, pelo
pecado original, pois não resistiu à tentação, levando-os a expulsão. Trazendo dor, sofrimento
e a morte para os humanos que habitariam a terra. A bíblia simbolizou como pecado e o mal,
caracterizando um ser que seduz e de moral duvidosa, tornando-se submissa, pois nasceu de
uma das costelas de Adão. Conforme Richards (1993, p. 37) diz “eram iguais em espírito, mas
na carne o homem era superior à esposa, e ela deveria obedecê-lo.”.
Nesse contexto, a igreja teve grande influência, detinha uma autoridade absoluta e
controle sobre as pessoas, interferia na vida familiar e na forma de pensar. Isso facilitou para
reprimir e oprimir na questão do controle do corpo e na sexualidade das mulheres, mantendo-
as pura e casta, sem desejos exteriores, concentrando-se sua vida em Deus. Os seguimentos
cristãos pregavam que o objetivo do sexo era a reprodução, o celibato era o ideal, que se caso
não fosse para esse fim, era um pecado mortal, não poderia existir prazer nessa relação.
14

Também havia a moral ilibada e conservadora que a mulher tinha de manter, a infidelidade
era repudiada. Caso uma jovem solteira tivesse sofrido violências sexuais, poderia ser sua
ruína, o mesmo não acontecia com os homens, pois acreditava-se que elas tinham mais
propensão às luxúrias sexuais.
Deste modo, como se teve essa opressão vinculada as várias formas que foram
instituídas, com o seu papel de subordinação no lar e na sociedade, a sua voz foi abafada.
Expõe Perrot (2005, p. 9) na seguinte forma:

O silêncio é um mandamento reiterado através dos séculos pelas religiões, pelos


sistemas políticos e pelos manuais de comportamento. Silêncio das mulheres na
igreja ou templo; maior ainda na sinagoga ou na mesquita, onde elas não podem
nem mesmo penetrar na hora das orações. Silêncio nas assembleias politicas
povoadas de homens que as tomam de assalto com sua eloquência masculina.
Silêncio no espaço público onde sua intervenção coletiva é assimilada à histeria do
grito e uma atitude barulhenta demais como a da “vida fácil.” Silêncio até na vida
privada.

Foi um período marcado pelo terror, medo e perseguição contra todo àquele que
fosse contrário ao conceito da igreja, e seu fim seria sofrer as consequências.
Assim, segundo Angelin (2012, p. 1), vale lembrar da caça às bruxas que foram
perseguidas e assassinadas porque supostamente obtinham poderes sobrenaturais. Conhecida
como a Inquisição – grupo do sistema jurídico da Igreja Católica Romana – passou a eliminar
heresias. A exemplo do curandeirismo que era visto como bruxaria, apontavam como pacto
com diabo, envolvendo magia negra e feitiçaria. Por conta desse fato, tanto a população
quanto as autoridades, passaram a caçá-las e almejar as suas mortes, pois, tais heresias,
desviavam-se das crenças não-cristãs, e descumpriam com os mandamentos de Deus, fazendo
a adoração ao satã com práticas obscuras.
A forma de obter uma confissão ou de mostrar seus poderes, começava por
torturar, sem roupas, e a preferência se dava nas partes íntimas, onde usavam diferentes
instrumentos, e se procurava a marca da besta, que podia ser uma mancha, por exemplo,
confirmando estar possuída pelo mal. Podia ter membros arrancados, ser levada ao
enforcamento ou queimada viva em praça pública, isso demonstrava que as pecadoras
receberiam sua punição por Deus.
Com isso, a igreja associou a mulher a uma figura perigosa e diabólica, sendo a
causa do pecado e do mal, simbolizando um ente negativo, demonstrando a repulsa e o
menosprezo o qual se atribuiu ao gênero feminino.
Na mudança dessa visão de desvalorização e subjugação, a mulher deu seus curtos
passos no renascentismo, ainda que de um modo limitado, restringido-se a comerciantes de
15

pequenos produtos para ajudar seu marido na renda de casa e artesãs, pois ficou apontado
como um século de conquistas e expansão em diversas áreas. Isso deu uma abertura para
descaracterizar a imagem da mulher com o mal. Contudo, os homens ainda possuíam seu
domínio, era como se o homem comandasse o mundo, eram feitas suas vontades, seus
desejos, o espaço público pertencia a eles, sempre foram instruídos aos estudos, com
predominação na filosofia, no comando militar, a política, religião e a ciência. King (1994, p.
193) descreve que:

Um homem pode ser príncipe ou guerreiro, artista ou humanista, mercador ou


eclesiástico, sábio ou aventureiro. A mulher só raramente assume seus papeis e, se o
faz, não são esses os papeis que a definem, mas outros: é mãe, filha ou viúva,
virgem ou prostituta, santa ou bruxa. Maria, Eva ou Amazona. Estas identidades
(que deveriam apenas a que pertence) submergem-na totalmente e apagam qualquer
outra personalidade a que ela aspire. Durante todo o Renascimento, a mulher luta
para se exprimir a si própria. Mas, é uma luta destinada ao fracasso, dado que a
partir de finais Renascimento, a fixidez dos papeis sexualmente definidos da mulher
foi reafirmado a todos os níveis da sociedade e da cultura e a condição feminina não
progrediu, antes se encaminhou para um progressivo declínio.

Como a condição da mulher perpetuava negativa, o seu destino era o matrimônio


e a maternidade.
Para tanto, apenas mulheres da alta classe tinham acesso à educação, mas com
reserva, o que não abrangeu as demais, que tinham um padrão de vida inferior e mais pesada.
Porém, existiu uma alteração desse panorama no início do século XIX, em que
surgiu a Revolução Industrial e o sistema capitalista, no qual as mulheres enxergaram uma
oportunidade de largar a vida rural e deixar os trabalhos domésticos. Oportunizando uma
invasão de mulheres para as cidades atrás de trabalho nas fábricas. Com isso, começam a sair
do estereótipo de serem mais fracas, de serem rebaixadas e passam a demonstrar a mesma
capacidade do sexo masculino para serviços fora do que estavam acostumadas. Todavia, os
seus problemas agora mudariam, teriam de ter dupla jornada, sair para trabalhar fora e manter
seus lares. Para poder ter a sua inserção neste mercado, sua mão de obra teria que ser mais
barata, a jornada de trabalho era superior à do homem, podendo ser de 17 horas em condições
insalubres e submetidas a humilhações. Aceda Alves e Pitanguy (1985, p. 33-34) afirmam
que:

Diga-me, quem te deu o direito soberano de oprimir o meu sexo? (...) Ele quer
comandar como déspota sobre meu sexo que recebeu todas as faculdades
intelectuais. (...) Esta Revolução só se realizará quando todas as mulheres tiverem
consciência do seu destino deplorável e dos direitos que elas perderam na sociedade.

Ainda, que seja uma evolução de grande valia e mudança de cenário, a moral da
mulher continuava sendo ligada com a sexualidade, uma mulher descente reprimia seu desejo,
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e se mantinha casada, dona de casa que aguentava tudo calada para poder ser bem vista na
sociedade, e não sofrer com julgamentos.
O legado deixado ainda está enraizado no século XXI, por mais que tenhamos
conquistado direitos e liberdade, isso com muita luta, deixa claro que há um desequilíbrio
visível que permanece. Denota-se a questão da desigualdade entre os gêneros, essa obsessão
pelo corpo feminino, o controle da sexualidade feminina, a discriminação, a violência, a
diferença salarial, e a ocupação das mulheres em cargos públicos ainda é menor, etc. Além
disso, pesa a presença do machismo e o patriarcado que as atormenta. A feminista Beauvoir
cita:

Quando duas categorias humanas se acham em presença, cada uma delas quer impor
à outra sua soberania, quando ambas estão em estado de sustentar a reivindicação,
cria-se entre elas, seja na hostilidade, seja na amizade, sempre na tensão, uma
relação de reciprocidade. Se uma das duas é privilegiado, ela domina a outra e tudo
faz para mantê-la na opressão. (BEAUVOIR, 1986, p. 81).

A luta para a mulher chegar a este caminho de conquistar a sonhada igualdade


será longa e árdua como sempre foi em todos momentos da vida de uma mulher, mas com
perseverança os muros podem ser derrubados.

2.2 A VIOLÊNCIA E SUAS MÚLTIPLAS FORMAS

A violência é um fato recorrente no contexto histórico da humanidade, a questão


que ainda perpetua é saber se o homem é violento por natureza ou se a desenvolveu para sua
sobrevivência. Nota-se que a violência está presente em todos os padrões de sociedade, com
suas diversas facetas, e advém principalmente das batalhas, guerras e revoluções travadas
entre os homens, para reforçar a sua força, ego e sentir o poder que detinham sobre os
oprimidos e fracos. Consta que o homem demostrava sua virilidade e masculinidade com o
domínio total, controlando todos e tudo a sua volta. Observa-se que o homem, muitas vezes,
se comporta como um animal, e perde seu discernimento e racionalidade, cometendo atos
cruéis.
Assim sendo, essa diferença de relações que se mantém ao longo dos anos,
originou a hierarquia entre os seres humanos. Causando a predominância de exploração e
abuso com quem se tornou o mais fraco dessa relação. Chaui (1985, p. 35) disserta:

[...] A violação ou transgressão de normas, regras e leis, mas sob dois ângulos: a
violência, por um lado, é uma conversação de diferenças e relações assimétricas,
visando dominar, explorar e oprimir; e, por outro, é uma ação que não considera o
ser humano como sujeito, mas como uma coisa ou um objeto.
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O que nos leva a refletir o porquê de ainda haver em nosso país tanta violência e
em níveis excessivos.
O Brasil nasceu da violência, quando europeus impuseram sua cultura e religião
aos habitantes, estabeleceram o autoritarismo ao processo de formação de colonização. O país
passou por vários períodos de modificações e transformações, mas sempre esteve presente a
violência, como âncora para construção. Com isso Velho (2000, p. 57) faz a menção:

A sociedade brasileira tradicional, a partir de um complexo equilíbrio de hierarquia


e individualismos, desenvolveu, associado a um sistema de trocas, reciprocidade na
desigualdade e patronagem, o uso da violência, mais ou menos legitimo, por parte de
atores socais bem definidos. Neste cenário social, a manipulação do poder, a
corrupção e o uso da força, teve um papel fundamental na estruturação do sistema
social da época, o que muitas vezes pode ter conduzido há uma legitimação velada
destes atos na constituição da sociedade brasileira.

Ressalva-se, que é inerente na sociedade brasileira a cultura da violência. Sendo


as mulheres uma das mais prejudicadas e atingidas nessa estruturação da construção da
sociedade, tendo em vista a violência entranhada. Acarretando, em vários momentos de sua
vida, a hostilização em âmbitos privados e públicos.
Neste caso, toda essa violência, a qual é submetida, decorre do processo
sociocultural que a pôs em uma posição submissa frente ao homem, taxando-a como sexo
frágil.
Nesse panorama, é evidente a constatação que nossa sociedade recria e reproduz
discursos, ações, comportamentos e modos agressivos, impondo, em prática, toda essa
aversão ao feminino, em várias formas, para que a mulher ainda se sinta impotente, reiterando
tal opressão de forma mais grave no ambiente doméstico, gerando outros tipos de violências.
Por isso, Piovesan elucida:

[...] qualquer conduta – ação ou omissão – de discriminação agressões ou coerção,


ocasionado pelo simples fato de a vítima ser mulher, e que cause dano, morte,
constrangimento, limitação, sofrimento físico, sexual, moral, psicológico, social,
político ou econômico ou perda patrimonial. Essa violência pode acontecer tanto em
espaços públicos e privados. (PIOVESAN, 2002, p. 214).

Com isso, estes tipos de acometimentos não são episódios isolados, acompanham
o cotidiano da mulher, sofrendo ataques, não implicando na sua classe, raça, idade ou nível
educacional, todas podem ser vítimas, ferindo a dignidade da pessoa humana, uma
insensibilidade que gera traumas e inseguranças, levando até a morte.
As principais manifestações de violências às atingem desqualificando como ser
humano, violando os seus direitos humanos, afetando sua saúde, bem como a sua integridade.
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A elementar é a violência doméstica que ocorre no lar, praticada por pessoa


próxima, de sua convivência, sendo por vínculo familiar, ou de intimidade e coabitação,
existindo agressões físicas, psicológicas, verbais, sexuais, morais e patrimoniais.
Com fito nisso Saffioti (2004, p. 85) diz:

A violência doméstica apresenta características específicas. Uma das mais relevantes


é a sua rotinização (SAFFIOTI, 1997), o que contribui, tremendamente para o co-
dependência e o estabelecimento da relação fixada. Rigorosamente, a relação
violenta se constitui em verdadeira prisão. Neste sentido, o próprio gênero acaba
dominar a qualquer custo; e a mulher deve suportar agressões de toda ordem, porque
seu “destino” assim o determinada.

Consequentemente, a violência doméstica é a mais difícil de reconhecer, por ser


de foro íntimo e reservado. Assim, a preocupação com os altos níveis de ocorrências e a
dimensão que atinge, vindo à tona quando não pode mais suportar a situação.
Partindo-se do pressuposto que violência intrafamiliar acontece no seio familiar, a
vítima vive com o sujeito. Podendo ser membro da família, formado por laços sanguíneo, de
parentesco ou um agregado, e as violências incluem agressões de cunho sexual, negligência e
abandono, psicológico e físico.
A violência institucional ocorre devido à omissão dos agentes do Estado e as
organizações privadas em atendê-las, negando-lhes a proteção necessária, recusando-se a
ampará-las quando advinda de outros casos de violência, desacreditando dos fatos descritos,
maltratando ou tendo práticas preceituosas envolvendo questões de gênero e étnico-raciais,
indo contra seus direitos garantidos por lei, ocasionando danos graves na esfera psicológica e,
por vezes, voltando à rotina de degradação. O que, em alguns casos, abstendo-se dessa ajuda,
pode incidir no rompimento da vida.
A violência física caracteriza-se por ser habitual e presente no dia-a-dia da pessoa,
seja por qualquer conduta que fira a integridade física ou a saúde, como, por exemplo, as
lesões corporais, tapas, empurrões e socos, dentre outros modos de agir para machucar, como
o uso de objetos cortantes, a privação alimentar, etc. A respeito, Fernandes (2015, p. 60)
afirma:

Normalmente, a violência física manifesta-se por tapas, socos, empurrões e


agressões com instrumentos, contundentes ou cortantes, que podem provocar marcas
físicas e danos à saúde da vítima. Conforme a gravidade do resultado e as
circunstâncias do fato, pode ser tipificada como vias de fato, lesão corporal, tortura
ou feminicídio.

Caso seja na esfera doméstica, estas ações ao corpo da mulher também podem
ocorrer em formas de mutilações, queimaduras e estrangulamentos.
19

Tal efeito abrange também a violência psicológica a qual envolve uma


dificuldade de a vítima identificar e visualizar, pois são palavras e atos sutis, quase
imperceptíveis, que surgem por meio de atitudes para humilhar, menosprezar, xingar, avaliar
sua aparência, isolar da família e amigos, trazendo inseguranças, medos, até colocar a mulher
sob total controle do indivíduo. Segundo Teles e Melo (2003, p. 15) “o uso da força física,
psicológica ou intelectual para obrigar a outra pessoa a fazer algo contra a sua vontade; é
impedir a outra pessoa de manifestar seu desejo e sua vontade.”.
A violência psicológica tem previsão no art.7º inciso II da Lei nº 11.340/06, que
aponta:

Art. 7º [...]
II- a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano
emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno
desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos,
crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação,
isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem,
ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio
que lhe cause prejuízo à saúde psicológico e à autodeterminação. (BRASIL, LMP,
2020).

Nesse sentido, a coíbem por meio de manipulação, influenciando na sanidade


mental.
Ainda, incluem-se a violência patrimonial e moral, significando uma conduta
onde há uma má intenção de atingir o patrimônio, bem como, manchar a reputação. Elas se
distinguem na seguinte maneira; a violência patrimonial consiste em destruição, retenção de
bens ou objetos, escondendo ou apreendendo seus documentos, subtraindo, como por
exemplo, quebrando o celular, danificando bens matérias. Já a violência moral abarca e viola
a imagem da pessoa, estando prevista no Código Penal que faz referência as ações de caluniar,
difamar ou injuriar.
Por último, considera-se violência sexual quando há uma ação que submeta ao
contato físico ou verbal não respeitando a vontade no momento do ato, empregando a força
para obter a satisfação sexual, ameaçando, constrangendo, utilizando-se de mecanismos que
invalidem sua vontade pessoal, gerando traumas imensuráveis e originando repulsa de si
mesma.
Assim prevê o inciso III, do art. 7º da Lei nº 11.340/06:

Art. 7º [...]
III- a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante
intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a
utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método
contraceptivo ou que a force ao matrimônio, á gravidez, ao aborto ou à prostituição,
20

mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o


exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos. (BRASIL, LMP, 2020).

Deste modo, temos a Convenção Internacional para Prevenir, Punir e Erradicar a


Violência (Lei nº 1.973/96) a mulher que, segundo o art. 2º que dispõe:

Art. 2º Entende-se que a violência contra a mulher abrange a violência física, sexual
e psicológica.
a) Ocorrida no âmbito da família ou unidade doméstica ou em qualquer relação
interpessoal, quer o agressor compartilhe, tenha compartilhado ou não a sua
residência, incluindo-se, entre outras turmas, o estupro, maus-tratos e abuso
sexual;
b) Ocorrida na comunidade e cometida por qualquer pessoa, incluindo, entre outras
formas, o estupro, abuso sexual, tortura, tráfico de mulheres, prostituição
forçada, sequestro e assédio sexual no local de trabalho, bem como em
instituições educacionais, serviços de saúde ou qualquer outro local; e
c) Perpetrada ou tolerada pelo Estado ou seus agentes, onde quer que ocorra.
(BRASIL, Decreto nº 1973, 2020).

Portanto, a violência implica em ações que resultem de abuso e poder sobre


outrem, mediante sofrimento, força, tortura ou morte. As formas de selvagerias hoje têm
outros focos, algumas persistem aos dias atuais, já outras, surgiram no decurso do tempo, mas,
ainda se perpetuam e desencadeiam diversas maneiras, o que traz Marx (1983, p. 145) “a
violência é a parteira de toda a velha sociedade que está grávida de uma nova.”.

2.3 O MACHISMO NA SOCIEDADE BRASILEIRA

O machismo arreigado na sociedade brasileira sobrevém do regime patriarcal,


tendo como o pai a figura principal, o provedor do lar, desfrutando do domínio da família,
mantendo sua autoridade sobre as mulheres e crianças. Assim, o homem exercia a soberania
diante da mulher.

[...] como “corpo doméstico”, naturalmente representa desde ponto de vista social,
um “zero”, o “segundo sexo”, enquanto os homens, que se sobressaem na vida
econômica, política e intelectual, representam um sexo superior. De acordo com esta
propaganda patriarcal, as funções maternas da mulher se instrumentalizam para
justificar as desigualdades existentes entre os sexos de nossa sociedade e a posição
subalterna ocupada pela mulher. (REED, 2008, p. 34).

Apesar de, atualmente, o núcleo familiar ter mudado a estrutura, devido às


transformações culturais e sociais, originara-se outros tipos de famílias.
Deste modo, o machismo é uma construção social, fundamentada na ideologia de
que os homens são superiores as mulheres. Uma vez que se formou um pensamento vivente
de que há uma hierarquia entre ambos, onde o masculino se destaca, aferindo uma posição de
21

superioridade, enquanto o gênero feminino encontra-se em posição inferior. Nessa


perspectiva, Reed (2008, p. 29) afirma que:

Em terceiro lugar, embora nossa sociedade classista seja patriarcal em sua


constituição, tendo a família paterna como unidade fundamental [...]. Além disso, a
supremacia machista, que se sustenta sobre o mito de que as mulheres representam
um sexo inferior, existe somente em nossa sociedade de subordinação e degradante
que lhes destinou a sociedade de classes.

Diante disto, o machismo começa na infância, de maneira que a menina será


conduzida aos afazeres domésticos, uma vez que, a mesma recebe brinquedos destinados a
este fim, como conjuntos de cozinhas, bonecas e objetos que fazem analogia aos cuidados do
lar e a ser mãe. Na adolescência, as meninas são ensinadas a se vestir e agir de uma maneira
meiga e elegante, usando vestidos, saias, utensílios de beleza. Na vida adulta, a mulher tem
que ser recatada, para ser aprovada perante a sociedade e pelo homem, com o intuito de casar-
se com um “bom partido” e construir uma família, não sendo instigadas para as diversas áreas
em que podem seguir futuramente.
Logo, é construída a imagem de que para a mulher se sentir completa precisa de
um homem, a realização pessoal virá com a maternidade, possuindo a sua felicidade na
conservação e no cuidado de sua família.
Diferente dos homens, que são encaminhados para atividade remunerada, nas
mais diversas profissões e altos cargos, tendo estímulo para viver aventuras, descobertas, ter
grandes conquistas, competir e vencer, vistos como os heróis.
Posto isso, torna-se natural a diferença entre os dois gêneros, onde a mulher
sempre será vista como um indivíduo fraco e indefeso, como que uma donzela em perigo,
esperando para ser salva por seu herói.
A partir disto Bourdieu (2014, p. 18) versa:

A ordem social funciona uma imensa maquina simbólica que tende a ratificação
dominação masculina sobre a qual alicerça: é a divisão social do trabalho,
distribuição bastante estrita das atividades estruídas a cada um dos dois sexos, de seu
local, seu momento, seus instrumentos; é a estrutura do espaço, opondo o lugar de
assembleia, ou de mercado, reservado aos homens, e a casa, reservada ás mulheres;
ou no interior desta [...].

Com isso, o valor da mulher fica relacionado à conduta moral e sexual, induzindo
o pensamento de que alguns comportamentos não são adequados a uma mulher de família,
como, por exemplo, usar roupas curtas e caminhar à noite na rua. Enquanto os homens, não
precisam se preocupar, pois são incentivados a ser os “pegadores” e conquistadores, a conduta
destes não está ligada a vida sexual. Assim, não vêem necessidade de se preocupar com a
depreciação de sua reputação e honra.
22

Além destes padrões enfrentados pela mulher, no cotidiano, escutam-se


expressões de conotação maldosa, com intenção de inferiorizar a capacidade feminina,
referindo-se a xingamentos, como por exemplo, mulher não sabe dirigir; só sabe pilotar fogão;
só podia ser mulher; mulher não tem cabeça para essas coisas, reforçando a ideia de
insuficiência da mulher.
No tocante a isto Colling (2014, p. 103) afirma que:

A subordinação das mulheres é um fenômeno transgeográfico e transcultural, e que


não desaparece nem com o desenvolvimento econômico nem com a legislação sobre
igualdade. As leis sobre a igualdade de tratamento não produzem, por si só,
resultados iguais e justos, nem no plano individual, nem no coletivo. Por esse
motivo, é necessário encontrar uma nova metáfora, que faculte a leitura diferente das
relações sociais entre homens e mulheres.

Isto provoca um pré-conceito e produz práticas erradas na relação social frente um


ao outro. De acordo com Saffioti (1992, p. 191):

Não se pode generalizar, para todas as mulheres, a mesma forma de opressão a que
estão submetidas. É inegável que todas as mulheres sofrem discriminação e opressão
de gênero. Essas opressões, no entendo, são vivenciadas de forma diferenciada de
acordo com as condições materiais de cada um.

Em vista disso, é importante destacar que as mulheres que desempenham altos


cargos ou funções respeitáveis, sofrem de ataques machistas por simplesmente estarem no
mercado de trabalho ou então demonstrarem o mesmo comportamento masculino, sendo
taxadas como descontroladas e sem capacidade para desempenhar as funções que o mercado
de trabalho exige.
Com isso, a mulher se torna alvo de críticas e adjetivos depreciativos, sendo,
também, frequentemente retratada de uma maneira desrespeitosa em reportagens pela mídia,
pondo em dúvida a qualificação profissional. Utilizando-se de alusão, o pensamento de Silva
(1994, p. 78):

O clamor feminino, como já disse antes, tornou-se amplo e sério demais para ser
ignorado. Mas os veículos de comunicação ainda são em sua grande maioria
manejados pelos homens- e estes continuam ciosos da “ superioridade masculina” e
emprenhados em manter os privilégios (supostos ou reais) que ela lhes outorga [...]
Desse modo, o bombardeio de mensagens a que nos submetem cada dia tende, por
todos os meios, a solapar as reivindicações feministas. Muitas vezes simulando
encampá-las, mas de forma a reduzir sua extensão e amesquinhar seu alcance.

A imprensa contribui para a propagação do discurso machista, focando em


propagandas publicitárias utilizando o corpo da mulher como uma forma de promover seus
produtos, principalmente em campanhas de cervejas, hipersexualizando os corpos femininos,
atribuindo uma imagem de objeto sexual, intimamente ligada à função de mero prazer sexual
masculino.
23

2.4 DADOS ESTATÍSTICOS DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NO BRASIL

A violência em que a mulher é submetida não é um episódio recente. Nas últimas


décadas, a questão da violência contra a mulher tornou-se um problema social, e com isso,
tornou-se um tema recorrente e vem sendo objeto de política nacional e internacional.
Ao longo de seu ciclo vital, a violência pode estar presente em vários âmbitos da
vida de uma mulher, podendo se manifestar sob diferentes formas e inúmeras circunstâncias.
Uma vez que, afeta não só a mulher, como, também, a sua família, pois deixa sequelas em
torno de todos, e as consequências são irreparáveis, caso não seja tratada da devida forma e
com auxílio de indivíduos especializados.
Dessa forma, vista como um fenômeno social, fundado na desigualdade de
gênero, a brutalidade para com as mulheres demuda com o passar dos séculos. Em virtude do
cenário atual, tem-se aumentado o fenômeno de assassinato de mulheres vítimas da violência.
Neste caso, a violência contra a mulher decorre de todo um processo histórico,
que a pôs em uma posição submissa frente ao homem, sendo taxada de sexo frágil. Como
relata Teles e Melo (2003, p. 11):

O drama da violência contra a mulher faz parte do cotidiano das cidades, do país e
do mundo. É pouco comovente porque é por demais banalizados, tratado como algo
que faz parte da vida; tão natural que não se pode imaginar a vida sem sua
existência. É um fenômeno antigo que foi silenciado ao longo da história e passou a
ser desvendado há menos de 20 anos. A mídia busca fatos novos, e quando se fala de
violência contra a mulher, nada é novo.

Diante disso, fica evidente a constatação que na sociedade a mulher ainda é


reiteradamente oprimida pelo homem, tal opressão ocorre particularmente de forma mais
grave no ambiente doméstico, por isso gera outras desigualdades.
Conforme destacam Teles e Melo (2003, p. 18):

Os papéis impostos às mulheres e aos homens, consolidados ao longo da história e


reforçados pelo patriarcado e sua ideologia, induzem relações violentas entre os
sexos e indica que a prática desse tipo de violência não é fruto da natureza, mas sim
fruto do processo de socialização das pessoas. Ou seja, não é a natureza responsável
pelos padrões e limites sociais que determinam comportamentos agressivos aos
homens e dóceis e submissos às mulheres. Os costumes, a educação e os meios de
comunicação tratam de criar e preservar estereótipos que reforçam a ideia de que o
sexo masculino tem o poder controlar os desejos, as opiniões e a liberdade de ir e vir
das mulheres.

Denota-se, nos últimos anos, em todo o país, um grande número de casos de


violência contra a mulher, que ocorrem principalmente no âmbito familiar, onde ela é
menosprezada por ser do sexo feminino. Tais práticas são, também, fruto de uma sociedade
patriarcal, que impõe regras, obrigações e sujeições à mesma. A cultura do ódio e do desprezo
24

está enraizada no Brasil, submetendo as mulheres a sofrimentos psicológicos, físicos, morais e


sexuais. Entre outros fatores, a pressão, o medo, a dependência emocional e, muitas vezes,
financeira, deixa as vítimas caladas e oprimidas por longos períodos.  
Diante deste cenário, cresce o número de mulheres vítimas de homicídios no país,
ficando evidente que, além do contexto histórico, influência da submissão, da discriminação e
relação de desigualdade de gênero. Acrescenta-se ainda a existência de indivíduos que
pensam como se tivessem a posse e a visão da mulher como objeto, que, em quase todos os
casos, convive dentro do próprio lar, em um padrão de comportamento de abuso e dominância
sobre a vítima.
Segundo o jornalista Franco (2019, p. 1), não há lugar seguro no Brasil. Nos
últimos 12 meses, cerca de 1,6 milhão de mulheres foram espancadas ou sofreram tentativa de
estrangulamento, ao passo que 22 milhões de mulheres passaram por algum tipo de assédio.
Dentro de casa, a situação não foi necessariamente melhor. Dentre os casos de violência, 42%
ocorrem no ambiente doméstico. Após a mulher sofrer a violência, mais da metade das
mulheres, 52%, não denunciou o agressor ou buscou ajuda.
Além disso, o país registra um caso de agressão a cada quatro minutos. Cubas
(2019, p. 1), diz que, conforme os dados que o Ministério da Saúde registra no Brasil,
aproximadamente a cada quatro minutos, uma mulher é agredida por ao menos um homem e
sobrevive. No ano passado, foram registrados mais de 145 mil casos de violência.
Correspondentes a violência física, sexual, psicológica e de outros tipos, em que as vítimas
sobreviveram. Visto que, cada registro pode incluir mais de um tipo de violência.
Logo, a violência infringe um dos princípios fundamentais da Declaração
Universal dos Direitos Humanos, o princípio da dignidade da pessoa humana. Assim, os
direitos humanos podem ser definidos como os direitos inerentes à pessoa humana, pois são
universais, aplicando-se a todos sem distinção.
Consta na Declaração de Viena de 1993, a expressão direitos humanos da mulher,
que dispõe em seu art. 18 a seguinte redação:

Os direitos humanos das mulheres e das meninas são inalienáveis e constituem parte
integral e indivisível dos direitos humanos universais. A plena participação das
mulheres, em condições de igualdade, na vida política, civil, econômica, social e
cultural nos níveis nacional, regional e internacional e a erradicação de todas as
formas de discriminação, com base no sexo, são objetivos prioritários da
comunidade internacional.
A violência e todas as formas de abuso e exploração sexual, incluindo o preconceito
cultural e o tráfico internacional de pessoas, são incompatíveis com a dignidade e
valor da pessoa humana e devem ser eliminadas. Pode-se conseguir isso por meio de
medidas legislativas, ações nacionais e cooperação internacional nas áreas do
desenvolvimento econômico e social, da educação, da maternidade segura e
25

assistência à saúde e apoio social. (DECLARAÇÃO DO PROGRAMA DE VIENA,


1993).

Além disto, na Constituição Federal de 1988, consta a igualdade de plenos direitos


entres homens e mulheres, afirmando não apenas a igualdade, mas a não-discriminação, como
também, o apoio e a proteção de garantias especiais.
Assim enfatiza Pierobom (2014, p. 20):

O compromisso do Estado brasileiro de atuar de forma efetiva na proteção dos


direitos fundamentais das mulheres vem previsto no art. 226, parágrafo 8º. da CF/88,
que estabelece: ‘O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um
dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas
relações.’.

Contudo, o que acontece na realidade é uma desigualdade entre os gêneros,


preponderante pelo sexo feminino, pois a mulher é quem é o objeto da violência.
Assim sendo, no atual cenário, o Brasil exibe um panorama preocupante. O Atlas
da violência apresenta um índice do crescimento sobre homicídios femininos no país do ano
de 2017, tendo aproximadamente 13 assassinatos por dia. Cerca de 4.936 mulheres foram
mortas, esse número registrado é maior que do ano de 2007.
Durante a análise feita nos anos 2007 a 2017, observou-se um número expressivo
de 30,7% de homicídios de mulheres no Brasil, como no último ano datado, que registrou
aumento de 6,3% em relação ao anterior.
A intensidade do fenômeno de violência contra a mulher tem variações, em
termos da taxa de homicídio, por grupo de 100 mil mulheres, permite maior comparabilidade
temporal, entre as diferentes unidades federativas.
Dos anos de 2007 a 2017 tiveram um aumento de 20,7% na taxa nacional de
homicídios de mulheres, quando a mesma passou de 3,9% para 4,7% mulheres assassinadas
por grupo de 100 mil mulheres. O que no período de 2012 a 2017 acarretou no crescimento de
1,7% na taxa nacional, um aumento maior ainda de 5,4% no último ano, período em que se
verificam taxas ascendentes em 17 UFs em relação ao ano de 2016.
O Estado do Rio Grande do Norte expôs o maior crescimento, com número de
214,4% dentre 2007 e 2017, depois o Ceará 176,9%, em seguida Sergipe 107,0%. Já o Estado
de Roraima, obteve no ano de 2017, a maior taxa com aproximadamente cerca de 10,6
mulheres vítimas de homicídio por grupo de 100 mil mulheres, este índice duas vezes superior
à média nacional de 4,7, sendo que no Estado do Acre teve um percentual de 8,3 para cada
100 mil mulheres. (ATLAS DA VIOLÊNCIA, 2019, p. 35).
26

Gráfico 1 – Quadro evolutivo da taxa de homicídios por 100 mil mulheres no


Brasil, sendo dos três Estados com as maiores taxas no ano de 2017.

Fonte: (Atlas da Violência, 2019).

As maiores reduções desses números estão presentes nos Estados de São Paulo
entre 33,1% e 22,5%, respondendo pela menor taxa de homicídios femininos de 2,2 por 100
mil mulheres, seguido pelo Distrito Federal de 2,9%, Santa Catarina com 3,1% e o Piauí
3,2%. (ATLAS DA VIOLÊNCIA, 2019, p. 37).
Gráfico 2- Quadro evolutivo da taxa de homicídios por 100 mil mulheres no
Brasil, sendo dos três Estados com as menores taxas no ano de 2017.

Fonte: (Atlas da Violência, 2019).

Nesta triste realidade do país, nota-se nos últimos anos, o crescimento de casos de
mulheres vítimas de homicídios no país, e vem sendo uma das questões mais discutidas, pois
os números de vítimas não param de crescer, seguidos de situações cada vez mais alarmantes,
visto que o Brasil está no 5º lugar do ranking mundial de violência contra mulher. Esta
27

colocação demonstra o altíssimo índice de violência em que as mulheres brasileiras estão


expostas, mas, sobretudo expressa na sociedade uma prática velada da misoginia e do
patriarcalismo, gerando a objetivação do feminino, que, muitas vezes, resulta no assassinato.  
Sendo que, a maioria das mortes violentas, ocorre dentro das residências,
praticada por conhecidos ou parceiros íntimos das vítimas. Estes homicídios contra as
mulheres são de 29,8% dentro das residências, a sua maioria foi utilizada arma de fogo, se não
considerar os assassinatos que ocorreram fora da residência que são 39,3%.
Gráfico 3-Taxa evolutiva de homicídio de mulheres dentro e fora da residência
por arma de fogo dentre os anos 2012 a 2017.

Fonte: (Atlas da Violência, 2019).

Dessa forma, a curva ascendente e a permanência da violência contra a mulher,


demonstram a necessidade de uma mudança no que diz respeito à cultura, a política e o social,
pois há obrigação de controlar esta violência que pode acarretar um ato extremo, o assassinato
de uma mulher.
A tendenciosa elevação da violência contra a mulher, permitiu o debate público na
sociedade, mas as diversidades para programar políticas públicas, a fim de reduzir este
problema, causa tensão quanto a flexibilização da posse de arma de fogo.
Somente no de 2017 houve a procura de delegacias de polícia por 221 mil
mulheres, para registrar ocorrências de agressão, lesão corporal dolosa, em decorrência de
violência doméstica. Partindo desse fato, este número pode ser muito mais alto, pois as muitas
vítimas têm medo ou vergonha de denunciar.
Com esses elevadíssimos índices de violência no país, a probabilidade de que cada
vez mais os cidadãos tenham posse de arma de fogo na residência, implica diretamente na
vida das mulheres, pois, a vida da mulher ficaria ainda mais suscetível a situação de violência.
28

3 O FEMINICÍDIO NO ORDENAMENTO JURÍDICO PENAL BRASILEIRO

O Brasil não possuía uma legislação específica para o homicídio praticado em


decorrência da condição do sexo feminino, no entanto, em 09 de março de 2015, o Congresso
Nacional aprovou a Lei 13.104/2015, passando alterar o artigo 121 do Código Penal
Brasileiro, incluindo o inciso VI, onde o Feminícidio foi tipificado como conduta criminosa,
tratando o homicídio, quando cometido contra a mulher, uma circunstância qualificadora do
crime de homicídio.
Perante o dispositivo do Código Penal, o Feminicídio é o “assassinato de uma
mulher cometido por razões da condição de sexo feminino”, assim envolve: “violência
doméstica e familiar ou menosprezo e a discriminação à condição de mulher”, sendo a pena
prevista para o homicídio qualificado de 12 a 30 anos de reclusão. (BRASIL, CP, 2020).
Incluindo o Feminicídio como circunstância qualificadora do homicídio, o crime
foi adicionado ao rol dos crimes hediondos (Lei nº 8.072/1990), como o estupro, o genocídio
e o latrocínio, dentre outros.
Fonseca et al. (2018, p. 58), aponta sobre a Lei nº13. 104/15:

A lei 13.104/15, que introduziu o feminicídio como uma das qualificadoras do crime
de homicídio, alterou o Código Penal brasileiro, punindo de forma mais rigorosa os
agressores que cometerem o homicídio em função da condição do sexo, alterando
também o art. 121 do Decreto-Lei nº 2.848/1940 (Código Penal), para prever o
feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio, e o art. 1º da
Lei nº 8.072/1990, para incluir o feminicídio no rol dos crimes hediondos. Desta
forma, há mais uma modalidade de homicídio qualificado: o feminicídio, quando o
crime for praticado contra a mulher por razões da condição de sexo feminino.

Ainda diante deste exposto, Galvão (2017, p. 9) expõe da seguinte forma:

O assassinato de mulheres em contextos marcados pela desigualdade de gênero


recebeu uma designação própria: feminicídio. No Brasil, é também um crime
hediondo desde 2015. Nomear e definir o problema é um passo importante, mas para
coibir os assassinatos femininos é fundamental conhecer suas características e,
assim, implementar ações efetivas de prevenção.

O Feminícidio representa a última etapa de um continuar de violência que leva


à morte. 
O Relatório Final da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito sobre a Violência
contra a Mulher (CPMI) do Congresso Nacional, faz a seguinte consideração:
29

O feminicídio é a instância última de controle da mulher pelo homem: o controle da


vida e da morte. Ele se expressa como afirmação irrestrita de posse, igualando a
mulher a um objeto, quando cometido por parceiro ou ex-parceiro; como subjugação
da intimidade e da sexualidade da mulher, por meio da violência sexual associada ao
assassinato; como destruição da identidade da mulher, pela mutilação ou
desfiguração de seu corpo; como aviltamento da dignidade da mulher, submetendo-a
a tortura ou a tratamento cruel ou degradante. (BRASIL, 2013, p. 1003).

O dispositivo do Código Penal, que tornou o Feminicídio uma qualificadora do


crime de homicídio, teve como objetivo punir com mais rigor os agressores que cometem o
crime em função da condição do sexo feminino.
Em vista disso, para configurar o Feminicídio, não basta que a vítima seja mulher,
tem que ocorrer a morte por razões de condição de sexo feminino, e foram elencadas no § 2º-
A do artigo 121 do Código Penal, por sua vez, como sendo a violência doméstica e familiar
contra a mulher, menosprezo à condição de mulher e discriminação à condição de mulher.
Feminicídio
[...]
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:
§ 2°-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime
envolve:
I - violência doméstica e familiar;
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Aumento de pena [...] § 7°
A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for
praticado:
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto;
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com
deficiência; III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima. (BRASIL,
CP, 2020).

A violência doméstica e familiar está prevista no artigo 5º da Lei Maria da Penha,


que assim o define “para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra
a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento
físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial.”. (BRASIL, LMP, 2020).
Assim, a violência no âmbito doméstico envolve uma relação familiar, possuindo
o elemento necessário para o Feminicídio, a existência de violência para com a mulher.
Já a morte em razão de menosprezo ou a discriminação à condição de mulher,
envolve, por parte do agente, um desdém e desprezo à condição de ser mulher, ocorrendo o
crime por ter pouca estima pelo feminino.
Segundo Barros (2015, p. 1):

O feminicídio pode ser definido como uma qualificadora do crime de homicídio


motivada pelo ódio contra as mulheres, caracterizado por circunstâncias específicas
em que o pertencimento da mulher ao sexo feminino é central na prática do delito.
Entre essas circunstâncias estão incluídos: os assassinatos em contexto de violência
doméstica/familiar, e o menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Os
30

crimes que caracterizam a qualificadora do feminicídio reportam, no campo


simbólico, à destruição da identidade da vítima e de sua condição de mulher.

Ainda o advogado criminalista Bittencour (2017, p. 1) completa:

[...] o próprio móvel do crime é o menosprezo ou a discriminação à condição de


mulher, mas é, igualmente, a vulnerabilidade da mulher tida, física e
psicologicamente, como mais frágil, que encoraja a prática da violência por homens
covardes, na presumível certeza de sua dificuldade em oferecer resistência ao
agressor machista.

Além disso, a lei identifica três tipos de agravantes; quando o agente praticar o
crime, durante a gestação ou até três meses após o parto da vítima; contra menores de 14 anos
ou maiores de 60 anos, deficientes ou na presença de filhos ou pai e mãe da vítima.
Vale ressaltar que, o país mantém um cenário que mais preocupa: o do
Feminicídio cometido por parceiro íntimo, no ambiente doméstica e familiar, e que
geralmente é precedido por outras formas de violência.
Infelizmente, em grande parte esse crime é cometido pelo atual ou ex-
companheiro da vítima, que geralmente pode apresentar um histórico de violência contra a
própria vítima, e também um padrão de comportamento com sua parceira e com outras
mulheres. Assim, define Canal (2019, p. 14) que as “mulheres morrem mais “nas mãos” de
seus parceiros e ex-parceiros íntimos, ou seja, por quem mais se espera, convencionalmente,
amor, companheirismo e respeito e também, dentro de suas próprias casas, tornando possível
concluir que o lar é o local mais perigoso para as mulheres.”.
Feminicídio na grande maioria, sendo tanto o consumado ou tentado, são
praticados por companheiros das vítimas no âmbito doméstico, e estes casos ocorrem após o
ciclo de violência doméstica, que se inicia com a agressão verbal, posteriormente com
agressão física, com o desfecho ceifando a vida da vítima.
Conforme a decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal:

PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. RÉU PRONUNCIADO POR


HOMICÍDIO COM MOTIVO TORPE. MORTE DE MULHER PELO MARIDO
EM CONTEXTO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR. PRETENSÃO
ACUSATÓRIA DE INCLUSÃO DA QUALIFICADORA DO FEMINICÍDIO.
PROCEDÊNCIA. SENTENÇA REFORMADA. 1. Réu pronunciado por infringir o
artigo 121 , § 2º, inciso I, do Código Penal, depois de matar a companheira a facadas
motivado pelo sentimento egoístico de posse. 2. Os protagonistas da tragédia
familiar conviveram sob o mesmo teto, em união estável, mas o varão nutria
sentimento egoístico de posse e, impelido por essa torpe motivação, não queria que
ela trabalhasse num local frequentado por homens. A inclusão da qualificadora
agora prevista no artigo 121, § 2º, inciso VI, do Código Penal, não poderá servir
apenas como substitutivo das qualificadoras de motivo torpe ou fútil, que são de
natureza subjetiva, sob pena de menosprezar o esforço do legislador. A Lei
13.104 /2015 veio a lume na esteira da doutrina inspiradora da Lei Maria da Penha,
buscando conferir maior proteção à mulher brasileira, vítima de condições culturais
atávicas que lhe impuseram a subserviência ao homem. Resgatar a dignidade
31

perdida ao longo da história da dominação masculina foi a ratio essendi da nova lei,
e o seu sentido teleológico estaria perdido se fosse simplesmente substituída a
torpeza pelo feminicídio. Ambas as qualificadoras podem coexistir perfeitamente,
porque é diversa a natureza de cada uma: a torpeza continua ligada umbilicalmente à
motivação da ação homicida, e o feminicídio ocorrerá toda vez que, objetivamente,
haja uma agressão à mulher proveniente de convivência doméstica familiar. 3
Recurso provido. (DISTRITO FEDERAL, TJDF, 2015.)

O crime de homicídio qualificado pelo Feminícidio no Brasil é praticado


geralmente por alguém que manteve algum laço afetivo com vítima, ao contrário de outros
países da América Latina, em que a violência é praticada frequentemente por desconhecidos e
com abuso sexual.

3.1 ORIGEM E CONCEITO DO TERMO FEMINICÍDIO

O conceito inicial surgiu em 1976, quando Diana Russel utilizou a palavra


“femicide”, originalmente formulada em inglês, para determinar o assassinato de mulheres
pelo simples fato de serem mulheres, durante um depoimento perante o Tribunal Internacional
de Crimes Contra as Mulheres, realizado em Bruxelas.

A formulação do conceito de “femicídio” (femicide, em inglês) é atribuída a Diana


Russel, socióloga e feminista anglo-saxã, que o emprego pela primeira vez para
definir o “assassinato de mulheres nas mãos de homens por serem mulheres”
(PONCE, 2011, p.108). Nos anos seguintes, Russel e outras autoras teriam
aprimorado o conceito que se tornaria paradigmático para as discussões em torno
das mortes de mulheres, ressaltando os aspectos de ódio e desprezo que se
caracterizam, através da expressão “assassinato misógino de mulheres” (PONCE,
2011, p. 108). Com esse novo conceito, Russel contestou a neutralidade presente na
expressão “homicídio” que contribuiria para manter visível a realidade
experimentada por mulheres que em todo o mundo são assassinadas por homens
pelo fato de serem mulheres. (ONU MULHERES, 2016, p. 19).

Na ocasião, não foi dado um conceito de fato sobre o tema, isto veio ocorrer,
posteriormente, no ano de 1990, juntamente com Jane Caputi, quando definiram femicide,
como sendo, o assassinato de mulheres realizado por homens motivado por ódio ou um
sentido de propriedade sobre as mulheres.
O femicide para Caputi e Russel apresenta a seguinte forma:

Assim como o estupro, muitos assassinatos de mulheres por maridos, amantes, pais,
conhecidos e estranhos, não são produtos de algum desvio inexplicável, eles são
feminicídios (femicides), a forma mais extrema do terrorismo sexista, motivado pelo
ódio, desprezo, prazer, ou um senso de propriedade sobre a mulher. Feminicídio
inclui mortes por mutilação, estupro, espancamentos que terminam em morte,
imolação como no caso das mulheres consideradas bruxas na Europa ou de viúvas
na Ásia, crimes de honra [...] nomeando-os como feminicídio remove-se o véu não
engendrado de termos como homicídio e assassinato. (ROMIO 2019, apud caputi;
russell, 1992, p. 15).
32

No ano de 1992, Diana Russell e Jill Radford lançaram o livro “Femicide: the
politics of woman killing”, produzido com ajuda de pesquisadoras da área dos direitos
humanos e ativistas, e incluíram no livro discussões como o racismo e violência sexual, pois
era um fenômeno de ocorrências nos Estados Unidos e Índia.
Diante disso, a obra escrita pelas autoras “Femicídio: a política de matar
mulheres” inspirou a antropóloga da Universidade Nacional Autónoma do México, Marcela
Lagarde y de Los Ríos, a usar pela primeira vez na América Latina o termo “femicide”, mas
houve a tradução para o idioma espanhol, passou para o termo “femicídio” ou “feminicídio.”.
(ROMIO, 2019, p. 5).
Este termo foi utilizado por Lagarde para retratar os assassinatos de mulheres, na
cidade de Ciudad Juárez, em que a vítima tinha o corpo mutilado, sofria com a violência
sexual e morria por asfixia, logo em seguida, o corpo era depositado em espaços públicos.
Assim, a pesquisadora eleita deputada federal do México no ano de 2003,
instituiu a Comissão Especial do Feminícidio para investigar os crimes contra as mulheres na
Ciudad Juárez. Com isso, o termo feminicidio tornou-se conhecido em todo o país, pois
Lagarde não tratou como homicídios simples os crimes cometidos contra as mulheres.
Conforme Brandalise (2018, p. 1) faz a seguinte observação:

antropóloga e ex-deputada mexicana Marcela Lagarde a criar uma mobilização


contra assassinatos de mulheres no México. Mas Marcela modificou o termo: disse
que ao traduzir para o espanhol, a palavra perdia a força e propôs o uso de
feminicídio que, segundo ela, o "conjunto de delitos de lesa humanidade que contém
os crimes e os desaparecimentos de mulheres". Ela também pontuava a negligência
do Estado em permitir que esses crimes acontecessem. O Brasil seguiu Lagarde e
adotou essa versão do termo.

Constatou-se, que o crime tinha como característica principal a violência de


gênero, assim, Lagarde no ano de 2007, propôs o projeto da Lei de Feminícidio no país.
Com isto, outros países latinos vieram a tipificar o Feminicídio. Atualmente
incluem-se os países como a Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, El Salvador,
Equador, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Panamá, Peru, República Dominicana e
Venezuela, sendo o Brasil o último a sancionar a lei do Feminicidio. Sendo, a legislação
mexicana a mais severa, com condenação de 40 a 60 anos e a colombiana de 33 a 50 anos.

3.2 MARCOS NORMATIVOS

Os movimentos femininos tinham como objetivo alcançar a igualdade de direitos


entre homens e mulheres. Assim, se posicionaram contra as desigualdades e injustiças que as
33

mulheres sofreram nas últimas décadas, de tal modo, a criarem grupos para reivindicar
direitos coletivos e individuais para as mulheres.
A partir desses grupos de mulheres houve o enfrentamento da violência como
emblema, buscando o igualitarismo de direitos e deveres, como foco principal aos direitos
civis e políticos das mulheres, pois supunha que, as diferenças entres homens e mulheres,
decorreria de resultados de processos sociais desiguais.
Assim, os objetivos dos movimentos feministas foram para diminuir as opressões
sociais que atingiam as mulheres. Logo, as ações para obter a igualdade devem ser distintas e
desiguais, pois, mesmo considerando que as distinções entre homens e mulheres sejam
estruturais, no entanto, há que se considerar a importância dessas ações, que serviram para
denunciar e evidenciar mais ainda a dominação masculina.
Conforme Rodrigues (2016 apud VÍLCHEZ, 2013, p. 9)

Em resposta à situação de violência generalizada e levando-se em conta as


demandas das organizações de mulheres de diversos locais, houve a promulgação de
uma série de instrumentos legais de caráter internacional e nacional, a fim de que a
sociedade e os Estados assumam seu dever ético, político e jurídico de prevenir e
erradicar qualquer forma de ameaça e afetação dos direitos humanos das mulheres.

Sendo assim, é possível elencar a partir de uma análise histórica quais foram os
principais documentos e marcos legais, que fundamentaram e serviram de orientação para que
as mulheres buscassem a equidade.
Dessa forma, os instrumentos internacionais em matéria dos direitos humanos,
tornaram-se relevante para combater a violência de gênero, reconhecendo à desigualdade e
discriminação para com as mulheres em todas as culturas, assegurando assim, a igualdade
através de medidas a serem adotadas pelos países. Com isso, para efetivar as normas
constituídas pelas convenções internacionais de caráter vinculativo ao país, o Estado adota as
medidas legislativas, se comprometendo junto à comunidade internacional, a combater a
violência e garantir os direitos das mulheres.

3.2.1 Marcos normativos no mundo

As reivindicações promovidas por mulheres foram constantes na história da


humanidade. Por volta do século XVIII surgem os primeiros registros dessas reivindicações
feitas por mulheres, as quais se teve uma defesa maior aos seus direitos, exigindo a igualdade.
Assim, o levantamento histórico realizado a acerca dos marcos legais
internacionais, começa especificamente no ano de 1791, com uma mulher chamada Marie
34

Gouze, mas ficou conhecida como Olympe de Gouges, mulher quem escreveu a “Declaração
dos direitos da mulher e da cidadã.”.
Gouges fez o escrito logo após o período da Revolução Francesa, pois desejava a
construção de uma sociedade em que homens e mulheres pudessem gozar dos mesmos
direitos e deveres.
Este documento foi proposto à Assembléia Nacional da França, que continha por
volta de 17 artigos relacionado aos direitos das mulheres.

Mães, filhas, irmãs, mulheres representantes da nação reivindicam constituir-se em


uma assembléia nacional. Considerando que a ignorância, o menosprezo e a ofensa
aos direitos da mulher são as únicas causas das desgraças públicas e da corrupção no
governo, resolvem expor em uma declaração solene, os direitos naturais,
inalienáveis e sagrados da mulher. Assim, que esta declaração possa lembrar
sempre, a todos os membros do corpo social seus direitos e seus deveres; que, para
gozar de confiança, ao ser comparado com o fim de toda e qualquer instituição
política, os atos de poder de homens e de mulheres devem ser inteiramente
respeitados; e, que, para serem fundamentadas, doravante, em princípios simples e
incontestáveis, as reivindicações das cidadãs devem sempre respeitar a constituição,
os bons costumes e o bem estar geral. (ASSMANN, 2007, p. 1).

Contudo, no ano de 1793, foi condenada à morte, acabou guilhotinada por


questionar os valores das mulheres de sua época, infelizmente, o documento não conseguiu
alcançar na prática o que Gouze almejava.
Assim, apenas no ano de 1945, após o término da Segunda Guerra Mundial,
surgiu a Organização das Nações Unidas para defesa dos direitos humanos e a liberdade
fundamental do indivíduo. Fazendo a seguinte menção:

NÓS, OS POVOS DAS NAÇÕES UNIDAS, RESOLVIDOS a preservar as


gerações vindouras do flagelo da guerra, que por duas vezes, no espaço da nossa
vida, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade, e a reafirmar a fé nos direitos
fundamentais do homem, na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de
direito dos homens e das mulheres, assim como das nações grandes e pequenas, e a
estabelecer condições sob as quais a justiça e o respeito às obrigações decorrentes de
tratados e de outras fontes do direito internacional possam ser mantidos, e a
promover o progresso social e melhores condições de vida dentro de uma liberdade
ampla. (BRASIL, Decreto nº 19.841, 2020).

A despeito disso, a Organização das Nações Unidas em 1948 aprovou na


Assembleia Geral, o documento contendo 30 artigos sobre os quais consolidaram os direitos
humanos, estabelecendo os direitos humanos, como sendo universais e inalienáveis.
Desta maneira, a Declaração Universal dos Direitos Humanos estabeleceu um
significativo princípio, a dignidade humana, que protege o indivíduo e reconhece que todos os
seres humanos têm os mesmos direitos.

A partir da Declaração Universal de 1948, o Direito Internacional dos Direitos


Humanos passa a se desenvolver cada vez com maior intensidade, implicando na
35

adoção de inúmeros tratados internacionais voltados à tutela de direitos


fundamentais. Consolida-se, assim, um sistema normativo global de proteção
internacional dos direitos humanos no âmbito das Nações Unidas, aos poucos
ampliado com o advento de diversos outros documentos pertinentes a determinadas
e específicas violações de direitos, como o genocídio, a tortura, a discriminação
racial e contra as mulheres, a violação dos direitos das crianças, dos idosos etc.
(MONTEBELLO, 2018, p. 157).

Apesar destes documentos não trazerem referências específicas aos gêneros, ao


tratar da discussão no âmbito internacional, obteve grande relevância, pois diversos países
adotaram a proteção jurídica dos direitos humanos, assegurando, assim, a proteção dos
direitos e permitindo a reparação quando houver a violação.
Os principais marcos referentes a proteção aos direitos das mulheres, apareceram
em 1979 quando a Assembleia Geral das Nações Unidas, instituiu a Convenção sobre a
Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a mulher.
Esta convenção sobreveio para reconhecer que a violência contra a mulher,
consiste em crime contra a humanidade, a partir disto, influenciou nas demais políticas
internacionais. Sendo, que o Brasil ratificou plenamente a Convenção e aderiu o Protocolo
Facultativo em 2002.
A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a
Mulher, nos seus artigos 1º e 2º expõe a seguinte composição:

Art. 1º Para os fins da presente Convenção, a expressão “discriminação contra a


mulher” significará toda a distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo e que
tenha por objeto ou resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo ou
exercício pela mulher independentemente de seu estado civil com base na igualdade
do homem e da mulher, dos direitos humanos e liberdades fundamentais nos
campos: político, econômico, social, cultural e civil ou em qualquer outro campo.
Art. 2º Os Estados-parte condenam a discriminação contra a mulher em todas as
suas formas, concordam em seguir, por todos os meios apropriados e sem dilações,
uma política destinada a eliminar a discriminação contra a mulher, e com tal
objetivo se comprometem a:
a) Consagrar, se ainda não o tiverem feito, em suas constituições nacionais ou em
outra legislação apropriada, o princípio da igualdade do homem e da mulher e
assegurar por lei outros meios apropriados à realização prática desse princípio;
b) Adotar medidas adequadas, legislativas e de outro caráter, com as sanções
cabíveis e que proíbam toda discriminação contra a mulher;
c) Estabelecer a proteção jurídica dos direitos da mulher numa base de igualdade
com os do homem e garantir, por meio dos tribunais nacionais competentes e de
outras instituições públicas, a proteção efetiva da mulher contra todo ato de
discriminação;
d) Abster-se de incorrer em todo ato ou prática de discriminação contra a mulher e
zelar para que as autoridades e instituições públicas atuem em conformidade com
esta obrigação;
e) Tomar as medidas apropriadas para eliminar a discriminação contra a mulher
praticada por qualquer pessoa, organização ou empresa;
f) Adotar todas as medidas adequadas, inclusive de caráter legislativo, para
modificar ou derrogar leis, regulamentos, usos e práticas que constituam
discriminação contra a mulher;
36

g) Derrogar todas as disposições penais nacionais que constituam discriminação


contra a mulher. (BRASIL, Decreto nº 4.377, 2020).

No ano de 1944, ocorreu no Brasil, o evento organizado pela Organização das


Nações Unidas, a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência
Contra a Mulher, batizada como Convenção Belém do Pará, sendo ratificada em 1995 no país.
Isto serviu como base para as políticas de combate a erradicação da violência de gênero no
país.
O conceito de violência contra a mulher está presente no artigo 1º que assim
define “Para os efeitos desta Convenção, entender-se-á por violência contra a mulher qualquer
ato ou conduta baseada no gênero que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou
psicológico à mulher, tanto na esfera pública como na esfera privada.”. (BRASIL, Decreto nº
1.973, 2020).
Ainda diante disto, a Convenção de Belém do Pará expõe:

A violência contra a mulher constitui uma violação dos direitos humanos e das
liberdades fundamentais e limita total ou parcialmente à mulher o reconhecimento,
gozo e exercício de tais direitos e liberdades”. Em seguida, demonstra preocupação
porque “a violência contra a mulher é uma ofensa à dignidade humana e uma
manifestação das relações de poder historicamente desiguais entre mulheres e
homens. (MONTEBELLO, 2018, p. 165).

Deste modo, a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de


Discriminação contra a Mulher, representou um marco conceitual para a violência de gênero.
Por fim, ocorreu em 1995 na China, a IV Conferência Mundial sobre a Mulher,
tendo como tema Ação para a Igualdade, o Desenvolvimento e a Paz. Neste contexto, resultou
em um acordo chamado a Plataforma de Ação de Pequim, este documento contou com
subscrito de 184 países, estabelecendo o comprometimento em ações específicas para
resguardar os direitos e garantir o respeito para com todas as mulheres.

A transformação fundamental em Pequim foi o reconhecimento da necessidade de


mudar o foco da mulher para o conceito de gênero, reconhecendo que toda a
estrutura da sociedade, e todas as relações entre homens e mulheres dentro dela,
tiveram que ser reavaliados. Só por essa fundamental reestruturação da sociedade e
suas instituições poderiam as mulheres ter plenos poderes para tomar o seu lugar de
direito como parceiros iguais aos dos homens em todos os aspectos da vida. Essa
mudança representou uma reafirmação de que os direitos das mulheres são direitos
humanos e que a igualdade de gênero era uma questão de interesse universal,
beneficiando a todos. (CABRAL, 2019, p. 1).

Diante disto, as medidas internacionais para eliminar as formas de violências


contra as mulheres, não apresentam um rol taxativo, mas sim, dispondo de um rol extenso. De
modo, a propor para cada país formular políticas públicas para enfrentar a violência.
37

3.2.2 Marcos normativos no Brasil

O Brasil é signatário dos principais tratados internacionais para combater a


violência contra a mulher. Com isso, o país implementou instrumentos normativos nacionais,
os quais são de suma importância em prol dos direitos humanos das mulheres.
Assim, quando foi promulgada a Constituição Federal de 1988, considerada um
marco sob as garantias fundamentais e defesa dos direitos, estabeleceu o princípio da
igualdade, assim, todos são iguais em direitos e obrigações perante a lei.
Assim, disposto no artigo 5º da Constituição Federal, prevê a seguinte redação:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta
Constituição. (BRASIL, CRFB, 2020).

Como também, tem por objetivo o artigo 3º da Constituição Federal “promover o


bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação”. Bem como o artigo 226º da Constituição Federal no § 8º “O Estado
assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando
mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.”. (BRASIL, CRFB, 2020).
Além disso, um dos grandes avanços para combater à violência contra a mulher,
foi a lei 11.340/06, promulgada em 07 de agosto de 2006, batizada como Lei Maria da Penha,
em referência a Maria da Penha Maia Fernandes, recebeu essa designação pois por duas vezes
sofreu tentativa de homicídio pelo seu ex-cônjuge, Marco Antônio Heredia Viveiros, uma
dessas tentativas deixou Fernandes paraplégica.
Infelizmente, o Estado brasileiro foi omisso perante o caso de Maria da Penha,
sendo que precisou recorrer a Comissão Internacional de Direitos Humanos. Assim, resultou
na condenação do Estado brasileiro pela demora no processo penal em responsabilizar o
agressor. Apesar disto, Viveiros acabou sendo condenado pela tentativa de homicídio.
Conforme Porto (2012, p. 9):

A corajosa atitude de haver recorrido a uma Corte Internacional de justiça


transformou o caso da Sra. Maria da Penha Maia Fernandes em acontecimento
emblemático, pelo que se configurou baluarte do movimento feminista na luta por
uma legislação penal mais rigorosa na representação aos delitos que envolvessem as
diversas formas de violência doméstica e familiar contra a mulher.
Deste empenho encomiástico de diversos setores de defesa dos direitos humanos,
aportou, no sistema jurídico pátrio, uma lei específica de combate as diversas formas
de violência doméstica contra a mulher: a Lei 11.340/06.
38

De tal modo, que o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a


Mulher considera a Lei Maria da Penha a terceira melhor lei do mundo, dentre os 90 países
que abordam a violência contra a mulher em suas legislações.
Sendo assim, a Lei Maria da Penha tem como foco a erradicação da violência
contra a mulher no âmbito doméstico e familiar. Dentre os aspectos desta Lei abrange a
violência sendo física, sexual, patrimonial, psicológica e moral. Como também, a proibição da
aplicação de pena pecuniária ao agressor, e a pena imputada aos agressores é de até três anos,
e a mulher vítima de violência é encaminhada a programas e serviços de proteção e de
assistência social.
E ainda, inclui as medidas protetivas de urgência que determina que o agressor
não possa praticar determinadas condutas direcionadas especificamente a mulher e os filhos.
Silveira e Bonini (2016, p. 1) completam sobre as medidas protetivas na Lei
Maria da Penha (Lei 11.340/06):

A lei supracitada apresenta medidas protetivas que contemplam a atuação da


autoridade policial, do magistrado e do Ministério Público: a autoridade policial
deverá garantir proteção policial quando necessário, encaminhar a ofendida ao
hospital, posto de saúde ou Instituto médico legal, fornecer transporte para abrigo
seguro à mulher vítima de violência doméstica ou familiar e aos seus dependentes
quando houver risco de morte, acompanhá-la ao domicílio familiar ou ao local da
agressão para retirar seus pertences se houver necessidade. Deverá a autoridade
policial, no prazo de 48 horas, enviar expediente apartado ao juiz com o pedido da
ofendida de medida protetiva de urgência, determinar que se proceda ao exame de
corpo de delito e exames periciais que se mostrem necessários, além dos trâmites
legais corriqueiros.

A vítima poderá garantir a proteção por meio de uma autoridade policial ou de um


delegado de polícia, terão o prazo de 48 horas para encaminhar ao juiz o expediente referente
ao pedido.
Por fim, foi aprovada a Lei 13.104 de 09 de março de 2015, um importante marco
normativo dos últimos tempos, pois tornou visível o assassinato de mulheres em decorrência
da condição do sexo feminino.
A lei incluiu no artigo 121 do Código Penal o inciso VI no parágrafo segundo,
inserindo o Feminícidio como uma qualificadora quando o crime for praticado pelo simples
fato de ser mulher. Segundo o § 2º-A para configurar o Feminicídio, deve envolver a
violência doméstica e familiar, discriminação à condição de mulher ou o menosprezo.
O assassinato de mulheres está presente em todos os níveis da sociedade, decorre
de uma cultura de dominação masculina e desigualdade das relações de gêneros, resultando na
forma mais extrema da violência contra as mulheres, que é a morte.
A partir disto Aquino (2015, p. 11) aponta:
39

São crimes cujo impacto é silenciado, praticados sem distinção de lugar, de cultura,
de raça ou de classe, além de ser a expressão perversa de um tipo de dominação
masculina ainda fortemente cravada na cultura brasileira. Cometidos por homens
contra as mulheres, suas motivações são o ódio, o desprezo ou o sentimento de perda
da propriedade sobre elas.

Nesse ponto, o Feminicídio veio para endossar que a violência é todo ato
proveniente da dominação masculina praticado contra a mulher.

3.3 TIPIFICAÇÃO DO FEMINICÍDIO NO BRASIL E FEMINICÍDIO NOS PAÍSES


LATINOS-AMERICANOS

Os países da América Latina reconhecem o feminicídio/femicídio como um crime


de gênero. A penalização na América Latina do Feminicídio é ainda recente, e os dezesseis
países por meio de diferentes instrumentos, instituíram formas diferentes de coibir ou punir o
crime. Seja por meio, de reforma do código penal vigente nos países, tipificando o delito, ou
por meio de agravantes ao assassinato de mulheres pela condição do sexo feminino.
Diante disto, com o crescimento de violência contra as mulheres nos últimos anos
e perante a omissão dos Estados na América Latina em investigar o crime praticado em razão
do gênero, os países tipificaram o feminicídio ou femicídio na legislação interna,
especialmente diante de decisões da Corte Interamericana de Direitos Humanos.
Segundo Guimarães (2017 apud TRAMONTANA 2013, p. 471-472)

Nas citadas decisões, a Corte Interamericana reconheceu que os atos de violência


sofridos pelas vítimas podem ser considerados como “violência de gênero”, tanto
com base no artigo 5º da Convenção Americana, que consagra o direito à
integridade física, como em relação à Convenção de Belém do Pará, cujo artigo 2º
inclui, na definição de “violência contra a mulher”, “a violência física, sexual e
psicológica”, seja praticada dentro da família, na comunidade, pelo Estado ou por
seus agentes. Ademais, Ano 51 Número 202 abr./jun. 2014 65 fez referência à
Recomendação Geral no 19 do Comitê CEDAW, que qualifica a violência baseada
em sexo como “a violência dirigida contra a mulher porque é mulher ou que lhe
afeta de forma desproporcional”, abarcando “atos que infligem danos ou sofrimentos
de índole física, mental ou sexual, ameaças de cometer esses atos, coação e outras
formas de privação da liberdade.

Deste modo, estima-se que na América Latina morrem por dia nove mulheres em
decorrência da violência de gênero. Segundo o relatório da ONU Mulheres “o local mais
perigoso do mundo para elas, fora de uma zona de guerra”. Infelizmente, quase a metade dos
homicídios ocorreu no Brasil, com aproximadamente 2.559 mulheres mortas, o que é um
número expressivo, tendo o país legislações avançadas sobre a violência contra a mulher. No
entanto, a estrutura de apoio não consegue dar conta da significativa demanda em que se
encontra. (EL PAÍS, 2018, p. 1).
40

Além disso, a América Central concentra os mais elevadíssimos índices de


violência machista, sendo os países El Salvador, Honduras e Nicarágua, apresentam alta taxa
de assassinato de mulheres. Apesar de esses países incorporarem o Feminicídio/Femicidio em
suas legislações, e garantir a proteção a mulher ao punir os agressores, ainda se tem um
quadro significativo de mortes de mulheres.
Posto isso, a Colômbia para combater a violência contra a mulher, inseriu no
código e procedimento penal vigente do país, a reforma da Lei n º1.257, alterando o artigo
104 que incluiu o Feminícidio como agravante, tendo culminada a pena de 50 anos.
A Lei denominada Rosa Elvira Cely, recebeu este nome, após esta mulher ter sido
cruelmente assassinada por seu colega de estudo.
Sendo, o Feminicídio o homicídio em decorrência de gênero, ou seja, pelo simples
fato de ser mulher, com isso a Lei tem como objetivo “garantir a investigação e a punição dos
atos violentos cometidos contra mulheres por motivo de gênero e discriminação”. (SILVA,
2015, p. 1).
Ademais, na Colômbia a cada três dias ocorre o assassinato de uma mulher com a
qual a vítima compartilhava ou compartilhou a vida. Esses casos representam 11% das mortes
devido à violência doméstica e intrafamiliar que a mulher foi vítima. Além do mais, com os
conflitos internos entre as Forças do Governo e Forças Armadas Revolucionarias da
Colômbia agrava ainda mais os casos de feminicídios.
A Argentina também inseriu o Feminícidio em sua legislação, o Código Penal
vigente no país, alterou o artigo 80, em que o delito passou a ter apena de reclusão ou a prisão
perpétua.
O país com elevado número de violência contra a mulher necessitou de uma
tipificação para caracterizar os homicídios contra as mulheres, assim, o femicídio foi inserido
no Código Penal. A criação dessa legislação ocorreu com ajuda de uma organização não
governamental, conhecida como Casa Del Encuentro, que trabalha com a conscientização da
violência de gênero e proteção às mulheres.
Segundo a diretora da Casa Del Encuentro a feminicídio/femicídio pode ser
classificado como “assassinato motivado por misoginia, por desprezo e ódio contra as
mulheres; e por sexismo, porque os homens que as assassinam sentem que são superiores às
mulheres e têm o direito de acabar com suas vidas ou de ter propriedade sobre elas.".
(TUÑEZ, 2015, p. 1).
A organização no ano de 2008 passou a dar início em registros estáticos, por meio
de monitoramento dos crimes, como coletas de dados de casos na justiça, a partir disto,
41

obtiveram dados de que a cada 30 horas ocorre o assassinato de uma mulher. Além disto, no
ano de 2013 foram assassinadas 295 mulheres e em 2014 ocorreu a morte de 277 mulheres,
sendo que de 09 de cada 10 casos os agressores eram maridos ou ex-perceiros. (TUÑEZ,
2015, p. 1).
Ademais, a legislação da Argentina trata sobre a violência de gênero não
perpetrando menção que a vítima seja mulher, deixando a entender a interpretação que a lei
inclui os direitos violados da população lgbt.

3.3.1 Natureza jurídica

A lei nº 13.104/15 introduziu o inciso VI, incluindo o § 2º no artigo 121 do


Código Penal o Feminícidio, compreendido como sendo a morte de mulheres em razão da
condição de sexo feminino. A circunstância qualificadora de homicídio incide em situação
de violência praticada contra a mulher, envolvendo relação de poder ou subordinação, ou
quando envolve relação de menosprezo e discriminação a condição do sexo feminino,
podendo ser praticados por homens ou mulheres sobre a mulher, estando essa em situação
de vulnerabilidade na relação.
Assim, havia divergências na doutrina e na jurisprudência sobre a natureza
jurídica da qualificadora do Feminicídio. No entanto, o Supremo Tribunal Federal e ademais
tribunais decidiram que a natureza jurídica da qualificadora do Feminicídio, entende-se
como objetiva, sendo assim, torna-se compatível com ademais circunstância de natureza
subjetiva.
Conforme o julgamento do Tribunal de Minas Gerais:

EMENTA APELAÇÃO CRIMINAL – HOMICÍDIO TENTADO QUALIFICADO


– SENTENÇA CONDENATÓRIA – RECURSO DEFENSIVO – PRELIMINAR
DE ILEGALIDADE NA IMPUTAÇÃO SIMULTÂNEA DAS
QUALIFICADORAS DO MOTIVO TORPE E FEMINICÍDIO –
INOCORRÊNCIA – BIS IN IDEM NÃO CONFIGURADO – NATUREZAS
DISTINTAS – MÉRITO – DECISÃO DOS JURADOS MANIFESTAMENTE
CONTRÁRIA À PROVA DOS AUTOS – IMPROCEDÊNCIA – VERSÃO
ACUSATÓRIA QUE ENCONTRA AMPARO NOS ELEMENTOS
PROBATÓRIOS – PRESENÇA DE ANIMUS NECANDI NA CONDUTA –
QUALIFICADORAS DA TORPEZA, SURPRESA E FEMINICÍDIO QUE
ENCONTRAM RESPALDO NAS PROVAS DOS AUTOS – CONDENAÇÃO
MANTIDA – RECURSO DESPROVIDO. Conforme orientação jurisprudencial, o
feminicídio se apresenta como qualificadora de ordem objetiva – que incidirá
sempre que o crime estiver atrelado à violência doméstica e familiar propriamente
dita, enquanto a torpeza é de cunho subjetivo, ou seja, continuará adstrita aos
motivos (razões) que levaram um indivíduo a praticar o delito, logo, não há falar em
bis in idem no reconhecimento de ambas no caso concreto. A existência de
elementos suficientes para demonstrar que o Conselho de Sentença adotou uma das
versões apresentadas, com respaldo naquilo que se apurou nos autos, afasta a tese de
42

decisão manifestamente contrária ao conjunto probatório, impedindo que o réu seja


submetido a novo julgamento, quer em relação à tese desclassificatória ou quanto à
incidência das qualificadoras. (MATO GROSSO, TJMT, 2017).

Nesse sentido Nucci (2017, p. 46) esclarece que quando se tratar de Feminicídio,
sendo uma qualificadora de natureza objetiva, adverte que está ligado ao gênero da vítima,
assim expõe:

o agente não mata a mulher somente porque ela é mulher, mas o faz por ódio, raiva,
ciúme, disputa familiar, prazer, sadismo, enfim, por motivos variados que podem ser
torpes ou fúteis; podem, inclusive, ser moralmente relevantes’, não se descartando,
‘por óbvio, a possibilidade de o homem matar a mulher por questões de misoginia
ou violência doméstica; mesmo assim, a violência doméstica e a misoginia
proporcionam aos homens o prazer de espancar e matar a mulher, porque esta é
fisicamente mais fraca’, tratando-se de ‘violência de gênero, o que nos parece
objetivo, e não subjetivo.

Deste modo, a natureza jurídica qualificadora do Feminicídio, como objetiva,


tendo o concurso de pessoas, haverá a comunicação aos participes e coautores. Assim,
haverá a probabilidade de subsistir a qualificadora de motivo torpe e também de motivo
fútil, sendo que não há possibilidade de caracterizar, assim, o bis idem.

3.3.2 Sujeitos do crime

O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, pois é um crime comum. Sendo que o
sujeito ativo em sua maioria seja homem, pode também ocorrer a prática do crime por
mulheres.
Segundo Silveira e Bonini (2016, p. 1) "Quanto ao sujeito ativo, este pode ser
qualquer pessoa, homem ou mulher, não havendo qualquer exigência de qualidade ou
condição para ser autor dessa forma qualificada de homicídio.".
Ainda Pinto (2017, p. 1) expõe que “na maioria das vezes é cometido por parceiro
íntimo, ou seja, cônjuge, companheiro etc. sendo, portando relacionado a violência doméstica
e familiar”.
Deste modo, quando se tratar do sujeito passivo por sua vez, deve ser do sexo
feminino ou o transexual que juridicamente foi reconhecido como próprio do sexo feminino.
Conforme Copello (2012 apud INVESTIGAR, 2016, p. 20):

Resumindo, a categoria do femicídio permite tornar patente que muitos casos de


mortes não naturais em que as vítimas são mulheres não são fatos neutros nos quais
o sexo do sujeito passivo é indiferente, mas ocorre com mulheres precisamente por
que são mulheres, como consequência da posição de discriminação estrutural que a
sociedade patriarcal atribui aos papéis femininos.

Completa Bitencourt (2017, p. 1):


43

Via de regra, a uma mulher, ou seja, pessoa do sexo feminino, desde que o crime
tenha sido cometido por razões de sua condição de gênero, ou que ocorra em
situação caracterizadora de violência doméstica ou familiar. [...]. Além das esposas,
companheiras, namoradas ou amantes, também podem ser vítimas desse crime filhas
e netas do agressor, como também mãe, sogra, avó ou qualquer outra parente que
mantenha vínculo familiar com o sujeito ativo.

Assim, convém ressaltar que não basta que a vítima de homicídio seja mulher, a
mulher como sujeito passivo de homicídio para que possa caracterizar a qualificadora, o crime
deve ser praticado por razões da condição de sexo feminino, e via de regra, ocorrer em
situações de violência doméstica ou por menosprezo a mulher.

3.3.3 Elementos caracterizados

Incidirá a qualificadora de Feminicídio quando configurar perante os termos do


§2º-A, no artigo 121 do Código Penal, os elementos caracterizadores do crime, os quais
envolvem a violência doméstica e familiar ou a discriminação à condição de mulher ou tenha
sido empreendido o menosprezo a mulher.
Conforme Bitencourt aponta (2017, p. 1) “com efeito, para que se configure a
qualificadora do feminicídio é necessário que o homicídio discriminatório seja praticado em
situação caracterizadora de (i) violência doméstica e familiar, ou motivado por (ii)
menosprezo ou discriminação à condição de mulher”.
A violência doméstica e familiar contra a mulher esta conceituada no artigo 5º da
Lei 11.340/06 sendo “qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte,
lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial”. (BRASIL, LMP,
2020). Com isso, é imprescindível verificar se a agressão é em razão ou não de gênero, pois
assim a hipótese retratada como elemento previsto no inciso I do §2º-A, no artigo 121 do
Código Penal configura o diploma repressor.
Em relação ao elemento, para configurar o Feminicídio deve se tratar de
homicídio praticado por menosprezo à condição de mulher. Apresentam Bianchini e Gomes
(2016, p. 1) o seguinte conceito “Há menosprezo quando o agente pratica o crime por nutrir
pouca ou nenhuma estima ou apreço pela vítima, configurando, dentre outros, desdém,
desprezo, desapreciação, desvalorização.”.
Já a discriminação à condição de mulher está prevista na Convenção sobre a
Eliminação de todas as formas de Discriminação Contra a mulher no artigo 1º que
“discriminação contra a mulher" significará toda a distinção, exclusão ou restrição baseada no
sexo e que tenha por objeto ou resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo ou
44

exercício pela mulher, independentemente de seu estado civil, com base na igualdade do
homem e da mulher.”. (BRASIL, Decreto nº 4.377, 2020).
Desta maneira, os crimes de homicídios que englobam uma mulher como vítima,
configuram a qualificadora, somente quando ação do agente for ocasionada pelo menosprezo
ou pela discriminação à condição ou a violência doméstica.

3.4 TIPOS DE FEMINICÍDIO

A violência praticada contra a mulher se tornou um grave problema, ocorrendo


casos de extrema violência, pois as mulheres diariamente encontram-se submetidas em
diversos tipos de violência, sobrevindo até mesmo o assassinato, em decorrência de
discriminação ou intolerância à condição do sexo feminino.
Ademais, a violência mais preocupante e cada vez mais presente na sociedade é a
violência doméstica. De modo que a violência ocorre principalmente na residência da vítima,
pois quase todos os casos, os agressores mantiveram uma relação de afeto com a vítima.
De acordo com Arjona (2019, p. 1) “a violência doméstica é um ato inaceitável
perante nossa sociedade, porem a mesma ainda cultiva certos valores ao qual incentivam este
tipo de delito.”.
A violência doméstica no Brasil virou uma questão de saúde pública, pois, com a
altíssima taxa de violência contra a mulher, o crime vem sendo entendido como um fenômeno
que precisa de mais políticas públicas e a desconstrução da sociedade perante o sexo
feminino.
Posto isto, é importante ressaltar que a doutrina brasileira caracteriza três tipos de
Feminicídio, sendo a aquele praticado por parceiro íntimo, ou não íntimo e por conexão.
Segundo Pereira (2015, p. 1) aponta:

A doutrina costuma dividir o feminicídio em íntimo, não íntimo e por conexão. Por
feminicídio íntimo entende aquele cometido por homens com os quais a vítima tem
ou teve uma relação íntima, familiar, de convivência ou afins. O feminicídio não
íntimo é aquele cometido por homens com os quais a vítima não tinha relações
íntimas, familiares ou de convivência. O feminicídio por conexão é aquele em que
uma mulher é assassinada porque se encontrava na “linha de tiro” de um homem que
tentava matar outra mulher, o que pode acontecer na aberratio ictus.

Dessa forma, a violência contra a mulher faz parte de uma sequência de atos
violentos cometidos por agressores próximos as vítimas ou por desconhecidos, o qual pode
levar ao episódio de homicídio, manifestando a forma mais extrema de violência, a serem
discorridos nos tópicos a seguir.
45

3.4.1 Feminicídio íntimo

 O feminicídio íntimo pode ser definido como o homicídio ocasionado por um


homem, com o qual a vítima manteve uma relação afetiva ou ainda mantém o vínculo
afetuoso. Esse tipo de feminicídio pode ser cometido por marido, ex-cônjuge, companheiro,
ex-namorado ou até mesmo por parceiro sexual.
Assim descrevem Teles e Melo (2016, p. 27) “O hominicidio de mulheres por
seus companheiros, ex-companheiros e familiares com quem a vítima convivia constitui o
“femicídio íntimo”, precisamente porque tais crimes são executados por pessoas que
mantinham ou tinham uma relação afetiva com a mulher que matam.”.
Ainda exibem Borges e Gebrim (2014. p. 4):

Feminicídio íntimo, que é aquele em que a vítima tinha ou havia tido uma relação de
casal com o homicida, não se limitando às relações com vínculo matrimonial, mas
estendendo-se aos conviventes, noivos, namorados e parceiros, além daqueles
praticados por um membro da família, como o pai, padrasto, irmão ou primo; e
feminicídio não íntimo, aquele em que a vítima não tinha qualquer relação de casal
ou familiar com o homicida.

Desse modo, o feminicídio íntimo é a aquele causado por um homem com o qual
a vítima mantinha relação de convivência íntimas ou afins.
Neste sentido, fica demonstrado no julgado abaixo que o agente praticou o crime
na residência em que convivia com a vítima:

JÚRI. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. PLEITO DE AFASTAMENTO DAS


QUALIFICADORAS. Vindo aos autos declarações prestadas pelo genitor da
ofendida dando conta de que o acusado (companheiro dessa) era "muito ciumento",
bem como referindo esse que a discussão com a ofendida se iniciou por ter
percebido que um homem havia recém saído de sua residência, mostra-se inviável o
afastamento da qualificadora do motivo fútil. Afirmando o acusado que vivia com a
vítima há, aproximadamente, dois anos, e tendo o delito ocorrido no interior da
residência do casal, imperativa a manutenção da qualificadora atinente ao
"feminicídio". RECURSO DESPROVIDO. (RIO GRANDE DO SUL, TJRS, 2016).

Além disso, o julgado abaixo demostra a crueldade em que o parceiro tratou a


vítima, com a qual manteve uma relação de afeto:

HABEAS CORPUS LIBERATÓRIO. LEGALIDADE DA PRISÃO PREVENTIVA


IMPOSTA NO CURSO DO SUMÁRIO DA CULPA JÁ RECONHECIDA EM
WRIT ANTERIOR: HOMICÍDIO QUALIFICADO. FEMINICÍDIO. AUTO DE
PRISÃO EM FLAGRANTE HOMOLOGADO COM CONVERSÃO DA PRISÃO
EM PREVENTIVA PARA GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. DECRETO
SUFICIENTEMENTE FUNDAMENTADO. FUMUS COMISSI DELICTI BEM
EVIDENCIADO NO CASO CONCRETO. PERICULUM LIBERTATIS
DEMONSTRADO NA GRAVIDADE CONCRETA DO FATO. PACIENTE
ACUSADO DE MATAR SUA COMPANHEIRA MEDIANTE GOLPES DE
FACAS NO TÓRAX E NO PESCOÇO, SENDO DETIDO EM FLAGRANTE
COM MANCHAS DE SANGUE NO CORPO, PRÓXIMO AO CADÁVER DA
46

VÍTIMA. PRISÃO QUE SE REVELA MEDIDA ADEQUADA, NECESSÁRIA E


PROPORCIONAL NO CASO CONCRETO, APESAR DAS CONDIÇÕES
PESSOAIS FAVORÁVEIS INVOCADAS. AUSÊNCIA DE COAÇÃO ILEGAL.
PRISÃO MANTIDA. FATO NOVO: PACIENTE PRONUNCIADO NOS
TERMOS DA DENUNCIA, SEM DECOTE DA PRETENSÃO ACUSATÓRIA,
SENDO MANTIDA A PRISÃO. ALEGAÇÃO DE DESVANECIMENTO DOS
MOTIVOS DO JUÍZO FORMULADO SOBRE O PERICULUM LIBERTATIS.
IMPROCEDÊNCIA. PRISÃO QUE SEGUE SENDO NECESSÁRIA,
ADEQUADA E PROPORCIONAL E VAI MANTIDA, AO MENOS ATÉ O
JULGAMENTO DO RECURSO EM SENTIDO ESTRITO INTERPOSTO PELA
DEFESA, OCASIÃO EM QUE SE TERÁ MELHORES CONDIÇÕES DE SE
APRECIAR A NECESSIDADE DE MANUTENÇÃO DA PRISÃO. COAÇÃO
ILEGAL NÃO EVIDENCIADA. (RIO GRANDE DO SUL, TJRS, 2016).

Desta forma, demonstra um preocupante quadro, a maioria de casos de


feminicídio no país, suceder em ambiente doméstico e familiar, sendo cometido por homens
com os quais as vítimas compartilhavam uma relação amorosa.

3.4.2 Feminicídio não íntimo

O feminicídio não íntimo pode ser definido como o homicídio causado por um
homem, com o qual a vítima não nutria um relacionamento íntimo ou familiar. No entanto,
pode ocorrer o homicídio com o qual a vítima tinha relação de hierarquia ou com quem havia
uma relação de confiança.
Conforme Gebrim e Borges (2014, p. 4):

[...] e feminicídio não íntimo, aquele em que a vítima não tinha qualquer relação de
casal ou familiar com o homicida. Incluem-se nessa categoria a morte provocada por
clientes – em se tratando de trabalhadoras sexuais –, por amigos, vizinhos ou
desconhecidos, assim como a morte ocorrida no contexto do tráfico de pessoas,
sempre tendo o motivo sexual como fundamental para sua qualificação como
feminicídio.

Ainda diante isto, menciona Reis (2015, p. 294):

Ao diferenciar os feminicídio íntimos e não íntimo expõe que no íntimo o crime é


realizado por homens que a vítima possuía algum tipo de relação intima, familiar
podendo ser marido, namorado, companheiro entre outros. Ao passo que no não
íntimo o fato é cometido por um homem que a vítima não teve relações intimas,
familiares ou de convívio, mas que possuía uma relação de confiança, amizade ou
hierarquia, podendo ser colega de trabalho, de comunidade entre outros.

Assim, o feminicídio não íntimo é praticado por indivíduo desconhecido, o qual


possuía menosprezo à condição de mulher, ou podendo ser também o crime praticado por
quem a vítima mantinha uma relação de convivência. Neste caso, o crime pode ser praticado
por colega de trabalho ou patrão, ou até amigo da vítima.
47

3.4.3 Feminicídio por conexão

O feminicídio por conexão pode ser definido como o homicídio praticado contra
uma mulher, a qual o agente não tinha como alvo. O criminoso visa assassinar uma mulher,
mas acaba por atingir uma terceira inocente, pois essa tentou impedir a ação do agente.

Segundo Reis (2015, p. 295) aponta:

Feminicídio por conexão seria o extermínio das mulheres porque se encontravam na


linha de frente de um homem que tentava assassinar outra mulher, Reis cita como
exemplo casos em que outras mulheres tentam interferir para evitar a prática de um
delito contra outra mulher e acabam exterminadas, aqui pode a mulher atingida ser
até mesmo desconhecida.

Assim, acaba ocorrendo a morte de uma mulher que tentou intervir em favor de
outra mulher para a qual se direcionava a ação, podendo ser vítima a mãe, amiga ou a filha.
Diante disto, menciona Teles e Melo (2016, p. 27) “a terceira categoria utilizada
na investigação o “femicídio por conexão” refere-se à quando há femicídio ou tentativa contra
uma mulher que não era a pretendida pelo femicida, morrendo a vítima na “linha de fogo”,
independentemente de vínculo.”.
Conforme previsto no do Código Penal, seguindo o disposto no do § 3 do artigo
20.

Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo,
mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.
§ 3 º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena.
Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da
pessoa contra quem o agente queria praticar o crime. (BRASIL, CP, 2020).

Neste sentido, o que sucede é o aberratio ictus, no qual o agente responderá como
tivesse cometido o crime contra a mulher que visava, assim, desconsidera a qualidade de
vítima real, considerando a vítima virtual.

3.5 DADOS ESTATÍTICOS

A Folha de São Paulo fez um levantamento no mês de janeiro de 2019, apontando


que, cerca de 179 mulheres foram vítimas de feminicídio ou conseguiram sobreviver a
tentativa de assassinato. Sendo a média de seis homicídios por dia. Tendo como suspeito do
crime o parceiro íntimo da vítima, e na maioria dos casos a motivação foi o ciúme e a não
aceitação do término da relação. Aponta ainda que, de 07 a cada 10 casos o crime seja
48

praticado por companheiro ou o ex-companheiro da vítima, possuindo já um histórico de


violência contra a mulher. (ALVES, 2019, p. 1).
Sendo assim, geralmente o agressor é a aquele que já manteve ou mantém relação
íntima com a vítima. A maioria desses agressores não aceita o fim da relação, e por diversas
vezes faz ameaças a vítima, quando esta tentava romper o relacionamento.
Conforme Saffioti (1999, p. 83) faz a seguinte análise “uma mulher que, para
fugir a maus-tratos, muda-se da casa de seu marido, pode ser perseguida por ele até a
consumação do femicídio [...] Este fenômeno não é tão raro quanto o senso comum indica”.
Além do mais Saffioti (1997, p. 40) ainda explica:

Quando há uma separação, o homem – muitas vezes inconformado com a perda de


sua amada ou de seu objeto de dominação – passa a perseguir a mulher, ameaçando-
a de morte, caso ela não concorde em restabelecer a relação marital e, não raro,
comete esse homicídio. Isso significa que, embora o casamento formal tenha sido
desfeito, a relação continua existindo para o homem, pelo menos simbolicamente.

Deste modo, os registros de casos de feminicídios nos últimos anos no país, têm
demonstrado que ocorrem por parceiros íntimos das vítimas. Com isso, o Brasil ocupa a
quinta colocação no ranking, com a maior taxa dentre os oitenta e quatro países pesquisados.
Além disto, segundo Oliva “mais de 4 mil mulheres morrem anualmente no País
vítimas de agressão física, sendo que destas, 60% são vítimas de feminicídio.”. (2019. p. 1).
Desta forma, é notório o crescente aumento desse fenômeno no país,
demonstrando um problema tanto social quanto de saúde pública, pois afeta a integridade
física da mulher.
49

4 CONCLUSÃO

Primeiramente, este trabalho demonstrou que a construção histórica e social de


inferioridade sobre o sexo feminino, advém de séculos de subordinação à autoridade
masculina. Com isso, deriva na aceitação de violência contra a mulher, não sendo mais
problematizada, e sim naturalizada pela sociedade.
Perante isto, o Brasil, na promulgação da Constituição de 1988, reconheceu a
mulher brasileira igual ao homem em direitos e obrigações, previstos no artigo 5º, inciso I,
apesar de conquistarem a igualdade formal, não obtiveram à igualdade material em relação ao
homem. A despeito de formalmente usufruírem de todos os direitos que são reconhecidos aos
homens, na realidade, as mulheres sofreram distintas limitações no exercício dos direitos
compreendidos.
Assim, o Estado brasileiro instituiu meios para coibir crimes nessa seara, pois não
há igualdade. Introduzindo uma qualificadora no Código Penal com desígnio específico para
as práticas de violência contra as mulheres pela condição de serem mulheres, como também
incorporando a Lei Maria da Penha para penalizar os agressores de violência no âmbito
doméstico e familiar.
Deste modo, a inclusão do Feminicídio no Código Penal, demonstra a
problemática decorrente da violência de gênero, principalmente a violência presente no
âmbito doméstico e familiar.
Dessa forma, faz-se necessário que existam amparos legais eficazes em relação a
proteção da integridade física e psicológica da mulher, assim, impede o homicídio em
decorrência do gênero.
Ademais, destaca-se o fato que, nas últimas décadas, milhares de mulheres foram
mortas por seus companheiros ou ex-companheiros, por motivos de ciúmes. Colaborando
ainda mais para o aumento de violência contra as mulheres, os agressores que ingerem
bebidas alcoólicas e fazem uso de drogas, pois o agressor fica mais suscetível a cometer o
crime.
Com isso, há a necessidade de o Poder Público criar programas voltados para
instituições de políticas públicas a fim de direcionar estudos sobre a violência contra as
mulheres, especialmente no âmbito familiar, conjuntamente com a sociedade que necessita
repensar os conceitos em relação a mulher.
Dessa forma, deve-se abordar o tema de violência contra as mulheres com todos
os cidadãos, sobretudo em escolas, instruindo desde pequenos que homens e mulheres são
50

iguais em todos os aspectos da sociedade, sendo que não têm deveres diferentes por serem de
gêneros distintos.
51

REFERÊNCIAS

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