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CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA CÍVEIS

FALIMENTARES, DE LIQUIDAÇÕES EXTRAJUDICIAIS,


DAS FUNDAÇÕES E DO TERCEIRO SETOR

PROTOCOLO N.º:

OBJETO: Locação de Imóvel Pertencente à Associação para Pessoa


Jurídica de Direito Privado que Explora Atividade Econômica.

INTERESSADO: WILLIAM EDISON DE PASCOAL

CONSULTA N. 21:

1. Cuida-se de consulta encaminhada pelo senhor William


Edison De Pascoal, via e-mail, em 13.08.2012, acerca da viabilidade
legal de a entidade sem fins lucrativos firmar contrato de locação de
imóvel de sua propriedade para uma academia, bem como se poderia
arcar com os custos oriundos de despesas de responsabilidade da
empresa/locatária. Questiona, também, sobre as parcerias lícitas
suscetíveis de serem firmadas entre entidade filantrópica e pessoa
jurídica de direito privado com fins lucrativos.

Para tanto, relata o solicitante ser o gerente


administrativo de uma associação que cedeu a posse de parcela de um
imóvel – onde está sediada - de sua propriedade, mediante contrato de
locação, para uma academia de musculação – pessoa jurídica de direito
privado que explora atividade econômica.

Afirma que era a associação quem custeava a


integralidade das despesas com o consumo de luz e água do referido
imóvel, até dois meses atrás, quando a empresa/locatária concordou em
arcar com metade desses valores em razão do desenvolvimento de sua

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atividade empresarial no mesmo espaço físico onde se encontra a sede


da entidade.

Diante da necessidade de renovação do contrato de


locação e havendo incerteza quanto à legalidade do ajuste firmado entre
a associação e a academia, pugna o solicitante por esclarecimentos.

É o que cumpria relatar, passo à manifestação.

2. Não há limites preestabelecidos na lei para a realização


das atividades necessárias à consecução dos fins essenciais de uma
associação, inclusive no que concerne a captação de recursos 1.

Isso porque, dentre outros fatores, o financiamento das


atividades associativas exige aporte direto ou indireto de recursos, de
natureza monetária ou não.

Logo, há possibilidade de a associação estabelecer, no


estatuto, normas específicas que autorizem a realização de convênios,
ajustes, contratos ou outros instrumentos jurídicos com pessoas físicas
ou jurídicas de direito público ou privado, a fim de constituir receita 2.

É vedado, apenas, que tais ferramentas conduzam ao


desvirtuamento da essência da entidade, ou seja, o seu caráter altruísta
– de modo que todos os negócios jurídicos celebrados pela associação

1 PAES, José Eduardo Sabo. Fundações, Associações e Entidades de Interesse Social. 6ª


Ed., Brasília Jurídica, 2006, p. 158.
2 Idem.

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devem visar, exclusivamente, subsídios para o desenvolvimento dos


fins associativos.

Dessa feita, se há previsão, geral ou especial, no estatuto


da associação - na qual o solicitante é gerente administrador - sobre a
possibilidade de celebração de contrato bilateral e oneroso com pessoa
jurídica de direito privado ou, especificamente, de locação de imóvel
pertencente à entidade; bem como se os valores arrecadados com o
negócio são direcionados para a execução das atividades filantrópicas,
não haveria, a princípio, nenhum impedimento legal para a renovação do
contrato com a academia.

Todos os instrumentos jurídicos previstos no estatuto da


associação, como mecanismos de alcance de receitas, e que não exijam
determinado título pela entidade – tal como, por exemplo, os convênios
com o Poder Público, podem ser celebrados com outras pessoas
jurídicas, desde que – vale frisar – o negócio não tenha fins lucrativos.

O questionamento sobre a possibilidade de uma entidade


filantrópica prestar auxílio financeiro para uma pessoa jurídica é
genérico. Entretanto, observa-se da leitura dos fatos narrados pelo
solicitante que a indagação diz respeito ao fato de que a associação
estaria arcando com o custeio da metade das despesas com o consumo
de luz e água no imóvel.

Extrai-se das informações trazidas na consulta que a


associação está sediada no mesmo imóvel que foi locado à academia de
musculação – de modo que ambos, na medida das suas necessidades,
usufruem dos serviços de luz e água.

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A lei determina que o locatário tem a obrigação de arcar


com as referidas despesas (cf. art. 23, inciso VIII, da Lei n° 8.245/91).

Contudo, se o abastecimento de luz e água no imóvel é


compartilhado entre a associação e a empresa, bem como se os valores
são cobrados na mesma fatura, é certo que parcela da cobrança também
é de responsabilidade da entidade.

Diante desse quadro, é importante estabelecer no


contrato de locação qual a proporção do gasto desses serviços pela
academia e pela associação, ou seja, se realmente o consumo é
igualitário, pois o direcionamento de verba da entidade para a
manutenção das atividades econômicas desenvolvidas pela locatária
caracteriza desvio das suas finalidades assistenciais.

Tal situação pode conduzir à necessidade de intervenção


do Ministério Público – o qual, inclusive, tem legitimidade para propor a
dissolução da associação em virtude do desvirtuamento dos fins socias
da entidade (cf. art. 2°, inciso I, do Decreto Lei n° 41/1966), sem prejuízo
das medidas judiciais cabíveis em face dos responsáveis pela
irregularidade 3.

Apurado o quantum, ainda que aproximado, referente ao


consumo da academia com os serviços de luz e água, sugere-se a
incorporação desses valores no aluguel devido pela locatária, bem como

3 Ministério Público do Estado do Paraná. Fundações e Entidades do 3° Setor –


Orientações e Providências Preliminares. Ed. Fundação Ecumênica de Proteção ao
Excepcional, ano 2005, p.(s) 27/28.
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a previsão de reajuste anual em razão da perspectiva de crescimento do


número de alunos na academia.

Outra solução – a qual, inclusive, se entende mais


adequada – seria a associação entrar em contato com as empresas
responsáveis pelo fornecimento dos serviços, a fim de verificar a
possibilidade de instalação de relógios independentes para o registro do
consumo de água e luz da entidade e da empresa, separadamente.

3. Diante dos questionamentos formulados e dos dados


fornecidos a esta coordenadoria do Centro de Apoio Operacional das
Promotorias Cíveis, Falimentares, de Liquidações Extrajudiciais, das
Fundações e do Terceiro Setor, são esses, em tese, os esclarecimentos
que se entende adequados.

Persistindo quaisquer dúvidas, poderá o solicitante


encaminhar novos questionamentos.

Curitiba, 20 de agosto de 2012.

TEREZINHA DE JESUS SOUZA SIGNORINI


Procuradora de Justiça – Coordenadora

Samantha Karin Muniz


Estagiária de Direito

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