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Teoria Da Contabilidade
Teoria Da Contabilidade
TEORIA DA CONTABILIDADE
graduação
ciências contábeis
MARINGÁ-pr
2012
Reitor: Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor: Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração: Wilson de Matos Silva Filho
Presidente da Mantenedora: Cláudio Ferdinandi
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação
a distância:
C397 Teoria da contabilidade / José Renato de Paula Lamberti,
Olirio Sperandio. Maringá - PR, 2012.
162 p.
1. Teoria da contabilidade. 2. Patrimônio líquido. 3 .EaD. I.Título.
CDD - 22 ed. 657
CIP - NBR 12899 - AACR/2
“As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir dos sites PHOTOS.COM e SHUTTERSTOCK.COM”.
Av. Guedner, 1610 - Jd. Aclimação - (44) 3027-6360 - CEP 87050-390 - Maringá - Paraná - www.cesumar.br
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TEORIA DA CONTABILIDADE
Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos.
A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para
liderança e solução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no
mundo do trabalho.
Cada um de nós tem uma grande responsabilidade: as escolhas que fizermos por nós e pelos
nossos fará grande diferença no futuro.
Diante disso, o Cesumar almeja ser reconhecido como uma instituição universitária de referên-
cia regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de compe-
tências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; consolidação da extensão
universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação
da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrativa; compromisso social
de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também
pelo compromisso e relacionamento permanente com os egressos, incentivando a educação
continuada.
Todas as atividades de estudo presentes neste material foram desenvolvidas para atender o
seu processo de formação e contemplam as diretrizes curriculares dos cursos de graduação,
determinadas pelo Ministério da Educação (MEC). Desta forma, buscando atender essas
necessidades, dispomos de uma equipe de profissionais multidisciplinares para que,
independente da distância geográfica que você esteja, possamos interagir e, assim, fazer-se
presentes no seu processo de ensino-aprendizagem-conhecimento.
Neste sentido, por meio de um modelo pedagógico interativo, possibilitamos que, efetivamente,
você construa e amplie a sua rede de conhecimentos. Essa interatividade será vivenciada
especialmente no ambiente virtual de aprendizagem – AVA – no qual disponibilizamos, além do
material produzido em linguagem dialógica, aulas sobre os conteúdos abordados, atividades de
estudo, enfim, um mundo de linguagens diferenciadas e ricas de possibilidades efetivas para
a sua aprendizagem. Assim sendo, todas as atividades de ensino, disponibilizadas para o seu
processo de formação, têm por intuito possibilitar o desenvolvimento de novas competências
necessárias para que você se aproprie do conhecimento de forma colaborativa.
Portanto, recomendo que durante a realização de seu curso, você procure interagir com os
textos, fazer anotações, responder às atividades de autoestudo, participar ativamente dos
fóruns, ver as indicações de leitura e realizar novas pesquisas sobre os assuntos tratados,
pois tais atividades lhe possibilitarão organizar o seu processo educativo e, assim, superar os
desafios na construção de conhecimentos. Para finalizar essa mensagem de boas-vindas, lhe
estendo o convite para que caminhe conosco na Comunidade do Conhecimento e vivencie
a oportunidade de constituir-se sujeito do seu processo de aprendizagem e membro de uma
comunidade mais universal e igualitária.
Este livro foi feito especialmente para seu estudo, em que procuro mostrar aspectos teóricos
da contabilidade em suas diversas abordagens para proporcionar maior aproveitamento para
atividade profissional.
Na Unidade II, caro(a) acadêmico(a), vamos estudar os objetivos da contabilidade que serve
de base para a execução do seu trabalho profissional por meio dos diversos usuários que você
como contador tem que prestar informações com qualidade.
A Unidade III trará a estrutura conceitual básica que serve de arcabouço teórico por meio
dos postulados, princípios e convenções que atualmente é tratado como os princípios da
contabilidade segundo a Resolução 750/93 com atualização da 1282/2010.
Caro(a) acadêmico(a), é isso que será apresentado no decorrer das unidades e esperamos
que esse material facilite para o conhecimento sobre a Teoria da Contabilidade para sua vida
profissional.
Sucesso!
UNIDADE I
TEORIA DA CONTABILIDADE................................................................................................37
ABORDAGENS DA CONTABILIDADE....................................................................................38
UNIDADE II
OBJETIVOS DA CONTABILIDADE
UNIDADE III
PRINCÍPIOS CONTÁBEIS.......................................................................................................66
TEORIA DA AGÊNCIA.............................................................................................................79
UNIDADE IV
ATIVO.......................................................................................................................................87
PASSIVO..................................................................................................................................94
PATRIMÔNIO LÍQUIDO...........................................................................................................95
DESPESAS............................................................................................................................104
UNIDADE V
A EVIDENCIAÇÃO EM CONTABILIDADE
EVIDENCIAÇÃO....................................................................................................................121
BALANÇO PATRIMONIAL.....................................................................................................124
RELATÓRIO DA ADMINISTRAÇÃO......................................................................................133
CONCLUSÃO.........................................................................................................................139
REFERÊNCIAS......................................................................................................................140
ANEXO................................................................................................................................... 141
UNIDADE I
Objetivos de Aprendizagem
Plano de Estudo
• História da Contabilidade
• Teoria da Contabilidade
• Abordagens da Contabilidade
INTRODUÇÃO
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM
A primeira pergunta que gostaria de fazer aqui é a seguinte: como seria o mundo sem a
Contabilidade? O que seria das empresas financeiras e não financeiras, do governo, dos
empresários, dos acionistas, esses entes denominados stakeholders, caso a Contabilidade
não gerasse documentos que pudessem ser interpretados para descobrir a essência de
investimentos, financiamentos, riqueza? Seria possível tomar decisões em um ambiente cada
vez mais competitivo?
É aqui o ponto de partida: estamos em um mundo cada vez mais competitivo, em que a tomada
de decisão correta e rápida favorece-nos, isto é, proporciona as empresas o que chamamos
de vantagem competitiva, o que faz uma pessoa se interessar pela nossa empresa e não pela
Caro(a) aluno(a), você já pensou no significado da palavra Contabilidade? E o que essa palavra
significa para toda a evolução da nossa sociedade do conhecimento? Como seria um mundo
sem a Contabilidade?
Vamos pedir auxílio aos nossos ilustres mestres de nossa grandiosa profissão. O primeiro
deles é o saudoso mestre Antônio Lopes de Sá, que faleceu em 2010. No entanto, nos deixou
preciosas obras que servem como fonte inspiradora para a prática das Ciências Contábeis.
Para Lopes de Sá (2010, p. 39), a Contabilidade deve ser enquadrada como ciências, pois
“atende a todos os requisitos necessários para tal qualificação”. Além disso, para o saudoso
mestre o conhecimento contábil é por essência experimental, assim como ocorre em todas as
outras ciências.
Esse trecho é profundo demais. Pena que poucos percebem essa tangibilidade inserida nos
fatos contábeis. Quando ouvimos a palavra ciência, nós não percebemos a força dessa palavra
nas teorias que desenvolveremos e que estará concentrada em nossas mãos.
Outros autores, também, sustentam a Contabilidade como Ciências. Franco (1977, p.58)
argumenta que a característica científica da Contabilidade é visualizada na “possibilidade de
previsão dos efeitos gerados por determinados fenômenos patrimoniais”.
Herrmann Júnior (1978, p. 29) define a contabilidade como: “Ciência autônoma que tem por
objetivo o estudo do patrimônio aziendal sob o ponto de vista estático e dinâmico”.
Lopes de Sá sabia o que estava falando e para comprovar sua teoria, argumentou em favor do
conhecimento contábil como científico, utilizando o quadro abaixo:
E observando os fatos, a própria palavra teoria se correlaciona em sua essência com a ciência.
Observe como Carqueja (2007, p.10) sintetiza o que significa teoria:
O significado do termo “teoria” foi apurado no segundo terço do século passado, pelas
muitas referências à célebre “Teoria da relatividade”, de Einstein, e à equação E=mc².
Socialmente o termo acabou muito ligado à ideia de explicação abrangente, embora
num dicionário, do tipo de um dicionário escolar para o ensino médio, encontremos
este significado, mas também outros: conhecimento especulativo, princípios básicos de
uma ciência ou doutrina, sistema ou doutrina que trata de princípios básicos, opiniões
sistematizadas, conjectura, hipótese, explicação possível.
Dessa forma, apenas para finalizarmos esse primeiro tópico, verifique o quadro feito por Lopes
de Sá (2011) que responde a todos os questionamentos sobre a natureza do reconhecimento
contábil.
Sabe o que Lopes de Sá falaria agora, se estivéssemos em uma aula com esse saudoso
mestre, ele nos esclareceria:
Antônio Lopes de Sá
Fonte: <pt.wikipedia.org/wiki/Antônio_Lopes_de_Sá>
Caro(a) amigo(a) aluno(a), assista a essa grande homenagem ao professor Lopes de Sá. É uma
recomendação para a sua vida!
<http://www.youtube.com/watch?v=wff4N2bRPtU>.
Vale a pena ler o texto a seguir que de maneira singular dá forma a Ciências Contábeis. Foi retirado
do artigo de Carqueja (2007, p.10 apud STAMP, 1993, p.295).
Assim parece razoável afirmar que enquanto nós temos uma interessante “realidade aparente” quer
na contabilidade quer na economia, consistindo de bens, edifícios, pessoas, transações financeiras,
etc., só a podemos organizar, para ficar com os dados simplificados da contabilidade, excluindo mui-
tos dos elementos dessa realidade. Ao procedermos assim pagamos um alto preço – não só porque
temos que tomar muitas decisões acerca do significados das entidades envolvidas (tal como o do con-
ceito legal de negócio), bastante arbitrários (poderíamos falar de atribuição de custos, da depreciação,
etc.), mas também porque perdemos contato com a base, a muito complexa realidade de base, dos
desejos humanos, do conhecimento, de processos dependentes do clima, e de outros aspectos sem
conta sobre os quais repousam os aspectos económicos.
Quando na biologia pretendemos estudar a evolução não há grande problema porque sabemos que
só alguns aspectos interessam. Na economia procurei demonstrar que não é assim, especialmente no
Para Iudícibus (2010), a Contabilidade é tão remota quanto o homem que pensa e conta, pois
a sua necessidade de acompanhar a evolução dos patrimônios foi o grande motivo para o seu
desenvolvimento.
Conforme Iudícibus (2010) afirma, a Contabilidade é tão antiga quanto a origem do Homo
Sapiens, sendo que alguns historiadores creditam os primeiros sinais objetivos da existência
da contabilidade a aproximadamente 2.000 anos a.C. Outros historiadores determinam que
até antes da era Cristã, surgiram diversos registros de transações contábeis na China, Egito,
Assíria, Fenícia, Pérsia etc., claro que de forma rudimentar.
Essa expansão da contabilidade ganha novo ímpeto a partir da era industrial, especialmente
pela complexidade na geração de informações. Nesse período, desenvolve-se um campo
fértil para o desenvolvimento de novas teorias, especialmente àquelas relacionadas a custos
industriais.
Qual era fundamentalmente o objetivo da contabilidade nesse período? – informar, mesmo que
de forma rudimentar, o objetivo da contabilidade estava direcionado ao registro e controle dos
bens e das transações com vistas a informar o proprietário.
Na era mercantilista, provavelmente no século XIII ou XIV, na Itália que floresceu a Contabilidade,
nas cidades de Veneza, Florença e Pisa. Essas cidades, entre outras, fervilhavam de
atividade mercantil, econômica e cultural, então foi nesse período, por volta de 1494, que o
frei franciscano chamado Luca Pacioli escreveu seu famoso livro Tractatus de Computis et
Scripturis, que descrevia o sistema de partidas dobradas, e apresentava o raciocínio em que
buscavam os lançamentos contábeis, onde que para todo crédito há um débito.
Na era mercantilista, mas precisamente entre os séculos XIII e XIV começam a florescer no norte
da Itália centros de comércio e, paralelamente a essa expansão comercial surgem os primeiros
registros contábeis pelo método das partidas dobradas. Esse método desenvolvido pelo Frei
Luca Pacioli provoca uma revolução na forma de controle e escrituração, especialmente por
reconhecer na contabilidade de cada uma das entidades envolvidas, as relações de débito e
crédito, ou em outra ótica, as fontes e as aplicações de recursos.
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM
A contabilidade gerencial foi organizada para ser um instrumento de apoio à gestão utilizando
para tanto conhecimentos de custos, análises de balanços e sistema de informação. Em
decorrência de suas peculiaridades a contabilidade gerencial utiliza procedimentos, muitas
vezes, diferentes daqueles utilizados pela contabilidade financeira, especialmente por estar
O que se abstrai dessa pequena reflexão sobre a evolução da contabilidade dentro da ótica
da evolução do comércio, da indústria e da prestação de serviços é que, em cada época,
independente do maior ou menor grau de complexidade, ou mesmo dos fatores internos ou
externo às organizações, o objetivo da contabilidade permaneceu praticamente inalterado.
O que mudou, dependendo da época, foi a necessidade informacional dos diversos usuários.
Dessa forma, teorias são defendidas por diversas correntes de pensadores, que nós chamamos
de escola. Segue abaixo um breve resumo das escolas contábeis realizada por Coelho e Lins
(2010):
Escola contista: surgiu no século XV, com a obra de Luca Pacioli, e foi impulsionada pelos
primeiros livros impressos de contabilidade. Suas teorias ficaram inalteradas até o século
XVIII, e foi conhecida como a era da estagnação contábil. A preocupação central era explicar o
funcionamento das contas, esquecendo-se que a conta é apenas consequência das operações
que ocorreram na entidade. Sendo que Degranges enumera os cinco principais efeitos: 1º
mercadorias; 2º dinheiro; 3º efeito a receber; 4º efeito a pagar e 5º lucros e perdas. Nesta
corrente de pensamento contábil, os pensadores que mais se destacaram foram: Jacques
Savovy e Edmund Degrange (pai) (FAVERO et al., 1997). A escola contista perdeu influência
devido à falta de suporte e enunciação.
Escola Personalista: essa escola do pensamento contábil é conhecida, também, como escola
Toscana e surge em reação aos conceitos e propostas da escola contista. Essa corrente
tem com objetivo explicar as relações de direitos e obrigações. Para defender suas teses os
autores dessa época criaram os axiomas, que são premissas que admitem serem verdades
sem exigência de demonstração. Essa linha de pensamento foi amplamente analisada pela
escola aziendalista, como será visto mais adiante. Seguem os axiomas:
• 1°AXIOMA: toda azienda (conjunto de obrigações, bens materiais e direitos que cons-
tituem um patrimônio) deve ser administrada, todas possuem um ou mais proprietários,
• 3°AXIOMA: uma coisa é administrar a azienda, e outra custodiar sua substância e por ela
responder materialmente.
Escola Administrativa: vários são os nomes para nomear essa escola de pensamento contábil:
escola administrativa, Lombarda, materialista ou ainda materialista substancial. Essa escola
originou-se no norte da Itália, no século XIX, e a administração das entidades passou a ser
o foco dos estudos. Aqui nasce a ideia de que todo empreendimento deve ser precedido
de um estudo de viabilidade econômica. Dessa forma, nota-se que a contabilidade ligada à
administração, destinada a interpretar a dinâmica das empresas.
Escola Reditualista: era o pensamento contábil que enunciava ser o resultado (lucro ou
prejuízo) o objeto de estudo da contabilidade. Fato é que os estudiosos dessa corrente
estudavam a dinâmica da riqueza patrimonial, sem se preocupar com os elementos desse
Escola Matemática: surgiu em 1901, por meio de um estudioso italiano chamado Giovani
Rossi. Para esse autor, a contabilidade era uma ciência matemática na sua essência.
Escola Alemã: surgiu na Alemanha a partir de 1919, concentrando-se em duas visões: teoria
econômica das empresas e o sistema de cálculo. A contabilidade era considerada como o
conjunto de registros para fornecer elemento de gestão.
Escola Aziendalista: nessa corrente, que surgiu em 1922, a contabilidade é considerada como
a ciência da administração econômica das entidades e estuda não só os resultados de uma
gestão, mas também seus princípios e constituição harmônica das pessoas da organização.
Nessa concepção, a azienda se constitui de dois elementos: pessoas (elemento humano) e a
riqueza (patrimônio).
• Os fenômenos patrimoniais são fenômenos contábeis e podem ser divididos em: estática
patrimonial, dinâmica patrimonial e levantamento patrimonial.
Século XX – ênfase no controle (1ª fase): do ponto de vista conceitual, a escola presente até
hoje é a patrimonialista, que teve sua concepção na década de 20. Nessa mesma época, nos
Estados Unidos, houve a queda da Bolsa de Nova York, com a crise de 29, que tornou uma
grande depressão e atingiu vários níveis mundiais, afetando a economia de vários países
durante anos. A contabilidade não conseguiu prever a crise e nem seus efeitos.
Dessa forma, houve muitas críticas sobre a falta de uma uniformidade das práticas contábeis. A
partir desse momento, surge a necessidade dos pareceres da auditoria e de diversas análises
dos demonstrativos contábeis.
Essas metas aumentam o controle das empresas e regras de padronização. Nasce a SEC
(Security and Exchange Comission), órgão fiscalizador independente do governo federal para
fiscalizar se as empresas estavam cumprindo as novas regras, principalmente, as vinculadas
aos títulos e valores mobiliários.
sugestão de Vídeo 2
Prezado(a) aluno(a), assista a um dos melhores fi lmes que já assisti na minha vida. Essa é uma
recomendação minha. Esse vídeo mostra a grande depressão de 1929, mas de uma maneira muito
particular.
O Brasil não possui uma escola de pensamento contábil, mas inicialmente a nossa contabilidade
foi baseada no método italiano e posteriormente migrou-se para o método norte-americano, na
qual persiste até os dias atuais.
Na primeira fase, utilizou o método italiano, cuja época vai de 1915 a 1964 contando com
ilustres autores, como: Carlos de Carvalho, Francisco D`Auria e Frederico Herrmann Júnior.
Atualmente, são poucos os autores que seguem a corrente de pensamento italiano, dentre
eles destacamos o professor Antônio Lopes de Sá.
Favero et al. (1997) mencionam que no Brasil inicialmente foi fortemente influenciado pela
escola italiana e com a chegada das multinacionais norte-americanas e inglesas foi necessária
a incorporação do método de ensino da escola norte-americana, ou seja, com a instalação
dessas empresas no Brasil, surgiram empresas de auditoria que tiveram que adotar uma nova
metodologia.
Caro(a) aluno(a), entende-se que é necessário conhecer a evolução histórica dessa ciência,
para se entender quais foram os caminhos trilhados até se chegar ao momento atual. Portanto,
entender a evolução das sociedades, em seus aspectos econômicos, sociais e culturais é a
melhor forma de entender e definir os objetivos da contabilidade que será visto na próxima
unidade.
Prezado(a) aluno(a), no youtube tem um vídeo muito interessante sobre a História da Contabilidade
no Brasil. Segue o link:
<http://www.youtube.com/watch?v=qw5wbbPwXTg>.
Como podemos observar nesse trecho, a teoria nos ajudará a entender melhor a nossa profissão
e nossas práticas profissionais, assim como incentivará a criarmos novos procedimentos.
Dessa forma, perceba que muitas vezes você já praticou da contabilidade sem ter o
conhecimento teórico, não foi? Mas perceba que você consegue fazer, mas não consegue
explicar como foi feito. Então, com a teoria ganhamos um argumento para explicarmos aos
nossos clientes o que será ou foi feito, com a linguagem contabilística.
Então, temos uma arma poderosa em nossas mãos. E se soubermos explicar o que fazemos,
didaticamente, aos nossos clientes, teremos muito trabalho a fazer. No fundo é bem isso que
todos nós queremos, pois muito trabalho significa prosperidade.
Caro(a) aluno(a), neste tópico será discutido as abordagens clássicas das Ciências Contábeis,
presente no livro de Hendriksen e Breda (2010) e Iudícibus (2010), tais como:
• Abordagem ética: a contabilidade deve ser pautada na justiça, verdade e equidade. To-
davia, Iudícibus (2010) diz que a abordagem ética por ser subjetiva, apresenta pontos de
cuidado, visto que contadores diferentes podem ter diferentes ideias sobre esse conceito.
• Indução: este processo consiste em obter conclusões generalizadas a partir das observa-
ções e mensurações parciais detalhadas. Muitas descobertas no campo da Física e em
outras ciências foram possíveis pelo uso do processo indutivo.
Além disso, essa primeira unidade nos apresentou um histórico da contabilidade e sua evolução
que sempre caminhou junto com o nosso processo evolutivo, pois como Lopes de Sá (2010)
mesmo disse, a contabilidade sempre existiu, mesmo antes dos números e das letras. Pense
agora se não existisse a Contabilidade, como você verificaria o seu patrimônio?
Nesse contexto, nasceu essa primeira unidade que já nos acena o seu objetivo e os princípios
que serão estudados logo mais.
ATIVIDADE DE AuTOEsTuDO
1. Com base no livro e utilizando de uma citação de autor, demonstre por que devemos
considerar a Contabilidade como uma ciência.
Prezado(a) aluno(a), verifi que este artigo que descreve a Teoria da Contabilidade. É minha sugestão
para você que também será pesquisador.
<http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/tek/n7/v4n7a02.pdf>.
OBJETIVOS DA CONTABILIDADE
Professor Me. José Renato de Paula Lamberti
Objetivos de Aprendizagem
Plano de Estudo
Caro(a) acadêmico(a), o ponto de partida para o estudo da teoria de uma ciência social como
a Contabilidade é estabelecer seus objetivos. Na verdade, tudo na vida começa com um
objetivo, não é mesmo? Você tem um objetivo determinado e por isso escolheu o curso de
Ciências Contábeis.
Nesse mesmo caminho, como veremos adiante, nós buscamos, nas Ciências Contábeis,
respostas que as nossas empresas necessitam, para tomarem decisões operacionais ou
estratégicas.
OBJETIVOS DA CONTABILIDADE
Fonte: PHOTOS.COM
É o que diz Hendriksen e Breda (2010). Para os autores, o objetivo principal da Contabilidade
é fornecer informação econômica, física de produtividade e social relevante para que cada
usuário possa tomar suas decisões e realizar seus julgamentos com segurança.
Percebe que os dois autores sustentam a ideia de que a Contabilidade gera informações para
os usuários?
Esse é o mesmo discurso da Associação Americana de Contabilidade (1973), que diz que a
função fundamental da contabilidade tem permanecido inalterada desde seus primórdios. Sua
finalidade é prover os usuários das demonstrações contábeis com informações que os ajudarão
a tomar decisões. Sem dúvida, tem havido mudanças substanciais nos tipos de usuários
e nas formas de informação que têm procurado. Todavia, esta função das demonstrações
contábeis é fundamental e profunda, ou seja, o objetivo básico dessas peças contábeis é
prover informação útil para a tomada de decisões.
Para fecharmos esse diálogo entre autores, Marion (2010) diz que o objetivo principal da
Contabilidade é fornecer informação econômica, física, de produtividade e social relevante
para que cada usuário possa tomar suas decisões e realizar seus julgamentos com segurança.
Caro(a) aluno(a), cabe a nós respondermos essa questão: e quem são os usuários da
informação contábil ? Conforme Iudícibus (2010), os usuários são:
Veja no quadro que segue os principais usuários internos, as informações que necessitam:
Vale lembrar que a geração de informações para os usuários internos está no contexto da
contabilidade gerencial, portanto são informações geradas por meio de procedimentos
específicos. São informações não padronizadas e direcionadas. Na sua elaboração são
assumidos que a relevância e a compreensibilidade são pressupostos fundamentais para o
alcance do objetivo proposto.
No que tange aos procedimentos específicos tem-se que os usuários internos possuem
necessidades informacionais diferentes daquelas inerentes aos usuários externos e, neste
sentido, a contabilidade é elaborada dentro de uma abordagem descritiva, levando para o
Os usuários externos são aqueles que não possuem relação direta com a empresa, mas
que de alguma forma necessitam da informação contábil para a tomada de decisões. São
informações padronizadas e, na maioria das vezes, não direcionada. Os usuários externos
poderiam ser subdivididos em duas categorias:
a) uma representada pelo governo que tem uma série de exigências no tocante à informa-
ção contábil, para o qual tem-se como pêndulo da contabilidade financeira ou societária,
a contabilidade fiscal;
b) outra representada pelos demais usuários externos em que a contabilidade deve seguir
os parâmetros legais que nem sempre são os fiscais. Ou seja: para esses usuários tem-
-se a contabilidade financeira ou societária.
Veja no quadro que segue os principais usuários externos, as informações que necessitam e
as possíveis decisões.
Ao elaborar os relatórios contábeis deve-se tomar o cuidado para não agrupar valores em
contas diversas ou mesmo utilizar terminologias não adequadas. As demonstrações devem ser
concisas mais suficientemente claras para refletirem a situação da entidade em determinado
período.
As notas explicativas não devem ser utilizadas para explicar aquilo que é possível de ser
apresentado no corpo dos relatórios.
Nesse sentido, Padoveze et al. (2011) enfatizam que podemos verificar, principalmente nas
empresas que negociam ações em bolsa de valores, uma estrutura padrão dessas informações,
conforme figura abaixo:
Relatório Anual
Balanço Patrimonial
Demonstração do Resultado do Exercício
Demonstração do Resultado Abrangente
Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido
Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido
Demonstração do Fluxo de Caixa
Demonstração do Valor Adicionado
Balanço Social
Você pôde observar na figura acima, que o Relatório Anual é composto por cinco partes,
sendo:
1ª parte: Relatório da administração: nessa parte são evidenciadas informações gerenciais
sobre o desempenho econômico-financeiro da empresa e atividades corporativas.
2ª parte: Demonstrações contábeis: são relatórios com finalidades específicas que apresen-
tam a situação patrimonial, econômica e financeira.
3ª parte: Notas explicativas: são notas de elementos das demonstrações contábeis que vi-
sam a apresentar um maior detalhamento sobre os mesmos.
4ª parte: Parecer dos auditores independentes: expressa a opinião independente sobre o
exame das demonstrações contábeis.
Caro(a) acadêmico(a), já vimos com diversos autores que as informações contábeis podem ser
tanto quantitativos (por meio dos números) e qualitativos (por meio de sentenças), então devido
a isso será tratado esse tópico sobre a qualidade da informação contábil e depois mais a frente
será tratado a evidenciação em contabilidade.
O que contribui para que a informação contábil seja desejável aos diversos usuários são os
ingredientes qualitativos que a compõem. Qualquer que seja o direcionamento da informação,
a compreensibilidade parece ser o ponto de partida para que se consiga sucesso no propósito
de informar. Desta forma, acredita-se que uma explicação sobre os requisitos de qualidade da
informação contribuirá substancialmente para que haja um maior entendimento do processo
informacional, resultando em melhor aproveitamento da contabilidade como instrumento de
apoio ao processo decisório nas entidades.
Assim sendo, o que segue é uma explicação até mesmo sucinta, mas necessária dos requisitos
de qualidade da informação envolvendo inclusive os tomadores de decisão, a relação custo-
benefício e outras na seguinte ordem, presentes no livro de Favero:
c) A compreensibilidade.
d) A utilidade da decisão.
e) A relevância.
f) A confiabilidade.
h) A oportunidade ou Tempestividade.
i) A verificabilidade.
j) A fidelidade representacional.
k) A neutralidade.
l) A comparabilidade e a consistência.
m) A materialidade.
Usuários da informação contábil
Tomadores de decisões e
suas características
Limites permeáveis
Benefícios > Custos
Utilidade da decisão
Relevância Confiabilidade
Fidelidade
Valor preditivo Tempestividade Verificabilidade
representacional
Comparabilidade
(incluindo consistência)
Materialidade
O conhecimento de quem são os tomadores de decisão dentro de uma entidade e quais são
as suas principais características, especialmente no tocante à tomada de decisões é muito
importante para o sucesso no processo de informar bem. As pessoas diferem entre si, tanto
em aspectos culturais como comportamentais e neste contexto quanto mais informações
sobre as características dos decisores maior a possibilidade de acerto.
Na verdade, todos nós damos mais atenção para o que consideramos mais importante segundo
o nosso julgamento. No caso da informação contábil o procedimento não é diferente. Nesse
sentido, ao gerar a informação o contador deve ponderar pelo menos os seguintes aspectos:
A observação desses pontos evitará muitos dissabores por parte do contador e dos tomadores
de decisão, visto que a preocupação em informar bem contribuiu para que se tomassem
precauções no sentido de avaliar a geração de informação visando a sua utilidade no processo
decisório.
Muitas vezes, essa análise não tem sido realizada no campo informacional, o que pode ser
justificado na medida em que nesse processo normalmente há o envolvimento de várias
pessoas com interesses e capacidades decisoriais diferenciadas, o que tem dificultado a
avaliação dos resultados. Existem situações nas quais informações de excelente qualidade
perdem o seu valor informacional pela falta de compreensão da sua importância por parte dos
decisores.
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM
c) Compreensibilidade
d) Utilidade da informação
e) Relevância
Relevante pode ser considerado como aquilo que faz diferença, ou seja, o que é imprescindível
para qualquer decisão que venhamos a tomar. No caso da contabilidade a informação relevante
é aquela que contribui para a tomada de decisão, podendo inclusive, demonstrar tendências de
resultados que permitam corrigir expectativas anteriores e ajudem a formar juízos a respeito de
um resultado futuro. Uma informação relevante normalmente está revestida das características
de compreensibilidade, confiabilidade e oportunidade, ou seja, a informação contábil que não
possuir esses requisitos não poderá ser útil no processo decisório.
i) Verificabilidade
j) Fidelidade representacional
k) Neutralidade
l) Comparabilidade e Consistência
Caro(a) aluno(a), esse vídeo fala de uma forma global os objetivos da contabilidade.
<http://www.youtube.com/watch?v=w1EOtXgc4QU&feature=list_other&playnext=1&list=SP931B1718
5B5C1618>.
ATIVIDADE DE AUTOESTUDO
Objetivos de Aprendizagem
Plano de Estudo
• Postulados Contábeis
- Entidade
- Continuidade
• Princípios Contábeis
- Custo Histórico como Base de Valor
- Realização da Receita em Confrontação com as Despesas
- Denominador Comum Monetário
• Convenções Contábeis
- Objetividade
- Materialidade
- Conservadorismo
- Consistência
• Princípios Contábeis segundo a Resolução 750/93 e a Resolução 1282/2010
- Princípio da Entidade
- Princípio da Continuidade
- Princípio da Oportunidade
- Princípio Registro pelo Valor Original
- Princípio da Competência
- Princípio da Prudência
INTRODUÇÃO
Agora que já definimos os objetivos da Contabilidade, temos que pensar uma estrutura
conceitual para atingi-los.
• Objetivos da Contabilidade.
• Postulados Contábeis.
• Princípios Contábeis.
• Convenções Contábeis.
Entidade
Postulados
Continuidade
Realização da Receita em
Princípios Confrontação com as despesas
Objetividade
Materialidade
Convenções
Conservadorismo
Consistência
Como Iudícibus (2010, p.32) nos explica, um postulado pode ser definido “como uma proposição
ou observação de certa realidade que pode ser considerada não sujeita a verificação, ou
axiomática”.
• O postulado da entidade.
• O postulado da continuidade.
Postulado Contábil da Entidade: define a entidade contábil, dando a esta vida e personalidade
própria, pois determina que o patrimônio de toda e qualquer unidade econômica que manipula
recursos econômicos, independente da finalidade de gerar ou não lucros, de ser pessoa física
ou jurídica, de direito público ou privado, não deve se confundir com a riqueza patrimonial de
seus sócios ou acionistas, ou proprietário individual e nem sofrer os reflexos das variações
nela verificadas.
A Entidade (empresa) não se confunde com a pessoa física do sócio, juridicamente são duas
pessoas distintas: a pessoa física e a pessoa jurídica, com obrigações diferentes. Exemplo: a
empresa contrai uma dívida, caso não a pague será executada (a empresa é executada não o
sócio). A mesma coisa acontece se o sócio contrair dívida, quem é executado é o sócio e não
a empresa.
Outro exemplo, quando o sócio tira dinheiro da empresa: a contabilidade deve registrar
como retirada de pró-labore, ou retirada de lucros, ou de empréstimos etc. Se o sócio retira
mais dinheiro do que relativo aos lucros, pró-labore, e por esse motivo a empresa passa por
dificuldades financeiras, o sócio será condenado a devolver o dinheiro à empresa ou assumir
as dívidas com os fornecedores, pelo fato de ter agido de má-fé, fraudando o seu credor (art.
158 a 165 do NCC – Lei 10.406/2002).
PRINCÍPIOS CONTÁBEIS
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM
Para isso, utilizamos as definições do professor Iudícibus (2010), para os seguintes princípios
e convenções:
PRINCÍPIOS:
CONVENÇÕES:
• Da objetividade.
• Materialidade.
• Conservadorismo.
• Consistência.
PRINCÍPIOS
Os ativos devem ser incorporados pelo preço pago para adquiri-los ou fabricá-los, mais todos
os gastos necessários para colocá-los em condições de gerar benefícios para a empresa.
Caro(a) aluno(a), esse princípio de uma maneira bem simplificada, significa que não podemos
realizar receita sem antes associar ao reconhecimento da despesa.
a) Receitas operacionais.
b) Deduções de receita.
Esse princípio considera como ponto de reconhecimento da receita e das despesas o que
ocorrem com a venda do produto, mas para Iudícibus (2010), devemos nos atentar a três
condições, tais como:
1. O ponto em que ocorre a transferência ocorre quando a maior parte do esforço em obter
receita já foi estabelecido.
Vamos entender de uma forma bem simples esse princípio, da seguinte forma: as demonstrações
contábeis devem ser expressas em termos de moeda nacional de poder aquisitivo da data do
último Balanço Patrimonial.
Caríssimo(a) aluno(a), vamos utilizar uma dica do professor Hamilton Luiz Favero (versão preliminar
do livro Teoria da Contabilidade).
Para ele, outro aspecto importante apresentado por esse princípio refere-se à relação débito/crédito
em moeda corrente da data da transação, não podendo ser alterado o valor na data do ajuste de
contas, salvo cláusula expressa em contrário. Isso signifi ca dizer que uma vez estabelecida essa re-
lação, os valores acordados entre as partes deverão ser resgatados exatamente como originalmente
estabelecidos, caso não contenha cláusula contratual que disponha sobre os encargos.
Convenção da Objetividade
De acordo com Iudícibus, o termo objetividade pode ser observado nos seguintes pontos de
vista:
• referência a uma documentação formal ou tipo de evidência que suporte o registro e sua
mensuração;
Para exemplifi car essa teoria, utilizaremos um caso do professor Hamilton Luiz Favero (1997):
Se o contador tem em mãos a nota fi scal de compra e um orçamento de coleta de preços junto a diver-
sos fornecedores. Nesse caso, sua opção deve ser pelo valor da nota fi scal, por ser mais objetivo e ser
realmente o valor que a empresa desembolsou ou desembolsará para adquiri-la. A fi nalidade principal
dessa convenção é restringir o excessivo liberalismo na escolha de valores.
SEÇÃO I
O PRINCÍPIO DA ENTIDADE
Art. 4º. O Princípio da ENTIDADE reconhece o Patrimônio como objeto da Contabilidade e afirma a
autonomia patrimonial, a necessidade da diferenciação de um Patrimônio particular no universo dos
patrimônios existentes, independentemente de pertencer a uma pessoa, um conjunto de pessoas,
uma sociedade ou instituição de qualquer natureza ou finalidade, com ou sem fins lucrativos. Por
consequência, nesta acepção, o Patrimônio não se confunde com aqueles dos seus sócios ou proprie-
tários, no caso de sociedade ou instituição.
Parágrafo único – O PATRIMÔNIO pertence à ENTIDADE, mas a recíproca não é verdadeira. A soma
ou agregação contábil de patrimônios autônomos não resulta em nova ENTIDADE, mas numa unidade
de natureza econômico-contábil.
SEÇÃO II
O PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE
Art. 5º. O Princípio da Continuidade pressupõe que a Entidade continuará em operação no futuro
e, portanto, a mensuração e a apresentação dos componentes do patrimônio levam em conta esta
circunstância. (Redação dada pela Resolução CFC nº. 1282/10)
SEÇÃO III
O PRINCÍPIO DA OPORTUNIDADE
Art. 6º O Princípio da Oportunidade refere-se ao processo de mensuração e apresentação dos com-
ponentes patrimoniais para produzir informações íntegras e tempestivas.
Parágrafo único. A falta de integridade e tempestividade na produção e na divulgação da informação
contábil pode ocasionar a perda de sua relevância, por isso é necessário ponderar a relação entre
a oportunidade e a confiabilidade da informação. (Redação dada pela Resolução CFC nº. 1282/10)
SEÇÃO IV
O PRINCÍPIO DO REGISTRO PELO VALOR ORIGINAL
Art. 7º. O Princípio do Registro pelo Valor Original determina que os componentes do patrimônio
devem ser inicialmente registrados pelos valores originais das transações, expressos em moeda na-
cional.
SEÇÃO VI
O PRINCÍPIO DA COMPETÊNCIA
Art. 9º. O Princípio da Competência determina que os efeitos das transações e outros eventos sejam
reconhecidos nos períodos a que se referem, independentemente do recebimento ou pagamento.
Parágrafo único. O Princípio da Competência pressupõe a simultaneidade da confrontação de receitas
e de despesas correlatas. (Redação dada pela Resolução CFC nº. 1282/10).
SEÇÃO VII
O PRINCÍPIO DA PRUDÊNCIA
Art. 10. O Princípio da PRUDÊNCIA determina a adoção do menor valor para os componentes do
ATIVO e do maior para os do PASSIVO, sempre que se apresentem alternativas igualmente válidas
para a quantifi cação das mutações patrimoniais que alterem o patrimônio líquido.
Parágrafo único. O Princípio da Prudência pressupõe o emprego de certo grau de precaução no
exercício dos julgamentos necessários às estimativas em certas condições de incerteza, no sentido
de que ativos e receitas não sejam superestimados e que passivos e despesas não sejam subestima-
dos, atribuindo maior confi abilidade ao processo de mensuração e apresentação dos componentes
patrimoniais. (Redação dada pela Resolução CFC nº. 1282/10)
Art. 11. A inobservância dos Princípios de Contabilidade constitui infração nas alíneas “c”, “d” e “e”
do art. 27 do Decreto-Lei n.º 9.295, de 27 de maio de 1946 e, quando aplicável, ao Código de Ética
Profi ssional do Contabilista. (Redação dada pela Resolução CFC nº. 1282/10)
Art. 12. Revogada a Resolução CFC n.º 530/81, esta Resolução entra em vigor a partir de 1º de janeiro
de 1994.
Essa teoria estudada por Jensen e Meckling (1976) tem como objetivo demonstrar a função
dos dois atores presentes na empresa: o agente e o proprietário da empresa.
Como o objetivo dos dois atores são diferentes, e como o administrador tem maior controle
nas tomadas de decisões da empresa, este pode maximizar sua utilidade e poderá prejudicar
o proprietário da empresa.
São diversos casos encontrados no mundo por problemas como esses, tais como: Banco
Nacional, Enron, Banco Panamericano.
A governança corporativa nasce dessa teoria, com o intuito de reduzir ou até eliminar esta
discrepância.
Iudícibus (2010) deixa claro que essa teoria deve ser levada em conta na construção da
moderna Teoria da Contabilidade.
A Enron, gigante americana do setor de energia, pediu concordata em dezembro de 2001, após ter
sido alvo de uma série denúncias de fraudes contábeis e fi scais. Com uma dívida de US$ 13 bilhões,
o grupo arrastou consigo a Arthur Andersen, que fazia a sua auditoria. O vídeo demonstra esse acon-
tecimento.
<http://www.youtube.com/watch?v=70XnlrwO7U4>.
Outro vídeo interessante é que fala sobre os princípios contábeis segundo a Resolução 1282/2010 de
uma forma resumida.
<http://www.youtube.com/watch?v=TRItWYqsCqE&feature=relmfu>.
Caro(a) acadêmico(a), segue abaixo dois links sobre os NBCTs e outra sobre os pronunciamentos
contábeis. São nesses materiais que você encontrará teorias para a implementação em sua vida
profi ssional.
<http://www.portaldecontabilidade.com.br/nbc/normascontabilidade.htm>.
<http://www.portaldecontabilidade.com.br/nbc/index.htm>.
<http://www.cpc.org.br/index.php>.
<http://www.cpc.org.br/pronunciamentosIndex.php>.
ATIVIDADE DE AuTOEsTuDO
Objetivos de Aprendizagem
Plano de Estudo
• Passivo
• Patrimônio Líquido
• Receitas
• Despesas
INTRODUÇÃO
ATIVO
Caro(a) aluno(a), o estudo do ativo, dentro das teorias da contabilidade, é tão importante que
muitos autores denominam esse conjunto de essência da Contabilidade.
Veja o que Iudícibus (2010, p.124) diz sobre o ativo: “é tão importante o estudo do ativo que
poderíamos dizer que é o capítulo fundamental da Contabilidade, porque à sua definição e
avaliação está ligada a multiplicidade de relacionamentos contábeis que envolvem receitas e
despesas”.
Nesse contexto, o CPC 00 R1 define que o Ativo é um recurso controlado pela entidade como
resultado de eventos passados e do qual se espera que fluam futuros benefícios econômicos
para a entidade. Ou seja, esse Benefício econômico futuro incorporado em um ativo é o seu
potencial em contribuir, direta ou indiretamente, para o fluxo de caixa ou equivalentes de caixa
para a entidade.
Já Martins (1972, apud IUDÍCIBUS, 2010) define ativo como benefícios futuros provocados
por um agente. Entende-se que um ativo tem que gerar recursos para empresa, ou seja,
quando eu faço a compra de um computador o que de fato estou comprando? Na realidade
estou comprando o serviço que esse computador que a operacionalização de um sistema de
informação contábil que vai gerar benefícios para a entidade por meio do computador (agente).
De acordo com Iudícibus (2010), bens incorporados por doações são ativos, da mesma forma que os
adquiridos ou construídos, desde que confi ram à entidade expectativas de benefícios futuros.
Se as doações forem para entidades não lucrativas que têm como fonte parcial de suas receitas doa-
ções, a contrapartida será a crédito de receita.
Se tratar de doação de ativos permanentes, para servirem a mais de um ciclo operacional, a contra-
partida poderá ser a crédito de uma conta de patrimônio líquido.
Além disso, para ser considerado um ativo, é necessário preencher quatro características
simultaneamente, segundo Favero et al. (1997), conforme a figura abaixo.
Bens
ou
direitos
Benefícios
Presentes ATIVO Propriedade
ou futuros
Mensuráveis
em
dinheiro
1. Bens ou direitos – onde os bens são todos os materiais, móvel ou imóvel, de que possui
para executar as suas atividades para obtenção de seu objetivo. Porém, os direitos são
aqueles valores que a empresa poderia dispor em prazo imediato ou futuro, buscando
obter seu objetivo-fim.
4. Benefícios Presentes ou futuros – além disso, para ser considerado ativo, é necessário
também que o bem ou direito possa trazer benefícios no presente ou no futuro para a
empresa, que tenha potencialidade de geração de caixa.
Hendriksen e Breda (2010) dizem que mensurar é atribuir valores monetários significativos a
objetos ou eventos associados a uma entidade, e obtidos de modo a permitir agregação ou
desagregação, quando exigida em situações específicas.
De acordo com Iudicíbus (2010, p.130), “verifica-se que, no âmago de todas as teorias para
a mensuração dos ativos, se encontra a vontade de que a avaliação represente a melhor
quantificação possível dos potenciais de serviços que o ativo apresenta para a entidade”.
Conceitualmente a medida de valor de um ativo é a soma dos preços futuros de mercado dos
fluxos de serviços a serem obtidos, descontados pela probabilidade de ocorrência e pelo fator
juro, a seus valores atuais.
VARLF = $342.483,77
VAVR = 30.000,00/(1,15)^3 =
VAVR = $19.725,49
VAE = $363.209, 26
Vamos agora fazer um estudo sobre os principais conceitos de avalição de ativo, dividindo-os
em valores de entrada e de saída. Pois Hendriksen e Breda (1999, p. 313) mencionam que “a
escolha de uma base específica de mensuração é influenciada pelos objetivos da mensuração
de ativos. Como alguma forma de avaliação é necessária no processo contábil, os objetivos de
avaliação são, em grande parte, os mesmos objetivos da contabilidade”.
• Os valores de saída são os valores obtidos no mercado quando a empresa oferta um ativo
ou seus serviços. Volume de caixa, ou valor de algum outro instrumento de pagamento,
recebido quando um ativo ou serviço deixa a empresa por meio de troca ou conversão.
De acordo com CPC: Valor realizável ou de liquidação (os ativos são mantidos pelos mon-
tantes em caixa ou equivalentes de caixa que poderiam ser obtidos pela sua venda em
forma ordenada); Valor presente (os ativos são mantidos pelo valor presente, descontado,
dos fluxos futuros de entradas líquidas de caixa que se espera que seja gerado pelo item
no curso normal das operações).
Caro(a) aluno(a), segue abaixo um vídeo que fala sobre a mensuração de ativos.
<http://www.youtube.com/watch?v=fg3srmZ_iSs>.
Dessa forma, os mesmos autores comentam que para reconhecimento de um ativo tem que
conter todos esses itens conforme a figura abaixo.
Futuro benefício
Econômico
Controlado pela
Satisfazer à definição
entidade
Oriundos de Eventos
Materialidade
Passados
Reconhecimento
Probabilidade de
ocorrência
Confiabilidade da
medida
Entende-se que tem que satisfazer a definição de ativo. E além disso, a materialidade
que refere-se quando o valor é pouco expressivo, é possível que considere diretamente na
demonstração do resultado da entidade. E o reconhecimento também depende da probabilidade
de ocorrência que se diz respeito à incerteza com que o benefício econômico futuro irá ocorrer.
Existe, nesse caso, uma dificuldade de avaliar o nível de incerteza existente de modo a permitir
o reconhecimento de um ativo. E, por fim, a confiabilidade de ocorrência que é quando não se
pode fazer mensuração confiável, o recurso econômico não é considerado como ativo, mesmo
que satisfaça aos outros quesitos.
Prezado(a) acadêmico(a), interessante observar que a palavra passivo para nós precisa ter o
sentido de exigibilidade.
Os recursos que uma empresa possui chama-se “Ativo”, por outro lado verifica-se que as
reivindicações das várias partes contra esse Ativo, chama-se “Passivo”.
Nesse contexto, para Iudícibus (2006), o passivo é como sinônimo de exigibilidades, ressaltando
que em um sentido mais amplo, estaríamos nos referindo a todas as contas de saldo credor,
constantes no lado direito do Balanço Patrimonial.
Já o CPC 00 R1 (2011) define o Passivo como uma obrigação presente da entidade, derivada
de eventos passados, cuja liquidação se espera que resulte em saída de recursos da entidade
capazes de gerar benefícios econômicos.
Uma característica essencial para a existência de um passivo é que a entidade tenha uma
obrigação presente. Uma obrigação é um dever ou responsabilidade de agir ou fazer de
uma certa maneira. As obrigações podem ser legalmente exigíveis em consequência de um
contrato ou de requisitos estatutários. Esse é normalmente o caso, por exemplo, das contas a
pagar por mercadorias e serviços recebidos. Obrigações surgem também de práticas usuais
Caro(a) aluno(a), segue um vídeo que explica de forma bem simplifi cada o que é o Passivo.
<http://www.youtube.com/watch?v=2ZNEiR6_BTM>.
pATRIMÔNIO LÍQuIDO
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM
De acordo com o CPC 00 R1 (2011), o termo patrimônio significa os bens que pertencem
a uma empresa. Patrimônio Líquido representa o interesse residual nos ativos da entidade
depois de deduzir todos os seus Passivos. É o valor residual dos ativos da entidade, depois de
deduzidos todos os seus passivos.
Para o Favero et al. (1997), o Patrimônio Líquido não deve ser analisado como simples
somatório entre resultado aos métodos empregados na avaliação do Ativo e do Passivo, pois
Patrimônio Líquido são os recursos dos proprietários aplicados no empreendimento e também
pode ser definido como a diferença entre bens, direitos e obrigações (a pagar).
A visualização das fontes do PL ocorre por meio dos valores reconhecimento do capital social
e suas derivações. A forma de evidenciar o PL ajuda na tomada de decisão, ao refletir a
capacidade de distribuir ou aplicar recursos.
Ajustes de avaliação
Reservas de Lucros
patrimonial
Patrimônio Líquido
Ações em tesouraria
Prejuízos acumulados
b) Teoria da Entidade – esta teoria separa distintamente os recursos da entidade dos recur-
sos dos donos ou proprietários da empresa, sendo representada pela seguinte equação:
d) Teoria do Fundo – substitui a entidade econômica e legal por uma unidade operacional
com ativos específicos restringidos a usos específicos. Baseia-se na equação:
e) Teoria do Comando – de acordo com esta teoria, a contabilidade deveria estar centrada
na avaliação da eficiência administrativa quanto à utilização adequada dos recursos co-
locados à sua disposição.
Em suma, no que diz respeito aos objetivos das informações financeiras, a teoria do proprietário
evidencia a riqueza dos mesmos. A teoria da entidade apresentará informações das entidades
aos proprietários. A teoria do acionista ordinário produziria informações úteis para as decisões
de caráter financeiro. A teoria do empreendimento permitiria a apresentação do balanço social.
Primeiro ponto é tentarmos definir o conceito de receita. Para Iudícibus (2010, p.137):
Entende-se por receita a entrada de elementos para o ativo, sob forma de dinheiro
ou direitos a receber, correspondentes, normalmente, a venda de mercadorias, de
produtos ou à prestação de serviços. Uma receita também pode derivar de juros sobre
depósitos bancários ou títulos e de outros ganhos eventuais.
Então, de forma bem simplificada, receita pode ser toda entrada de recursos para o ativo.
Preste atenção na próxima definição:
Segundo o IASC (apud IUDÍCIBUS; MARION, 2000, p.173), a receita pode ser definida como:
“[...] o acréscimo de benefícios econômicos durante o período contábil na forma de entrada
de ativos ou decréscimo de exigibilidade e que redunda num acréscimo do patrimônio líquido,
outro que não o relacionado a ajustes de capital [...]”.
A definição de Sprouse e Moonitz (1962) deve ser considerada uma das melhores, pois
caracteriza o que é essencialmente a receita e dá margem a uma ampla gama de formas
pelas quais pode ser reconhecida, colocando bem o fato de que o mercado deverá validar
o esforço desenvolvido pela empresa, atribuindo um valor de troca à produção de bens e
serviços. Em outras palavras, uma empresa pode ter manipulado fatores, incorrido em custos,
mas se o mercado não conferir um valor de troca a esse esforço, não existirá receita para ela.
Os momentos em que o mercado atribui um valor ao produto são os mais variados. Vimos que
a receita, desde que exista um valor de mercado perfeitamente definido e verificável e desde
que possamos estimar as despesas associadas a sua produção, pode ser reconhecida, não
sendo indispensável que os bens ou serviços tenham sido transferidos ao cliente, embora em
um maior número de circunstâncias o ponto em que é mais fácil, efetivamente, satisfazer as
condições de reconhecimento da receita seja o da transferência. Uma entidade, entretanto,
não deveria sentir-se demasiadamente atada a este ponto, em sua prática empresarial.
Outra definição mais pragmática de receita, pode ser encontrada no livro de Padoveze et al.
(2011, p.57):
a receita pode ser definida com um aumento nos benefícios econômicos durante o
período contábil sob a forma de entrada de recursos ou aumento de ativos, ou ainda
sob a forma de diminuição de passivos que resultam em aumentos do patrimônio líquido
(capital próprio) da companhia e que não sejam provenientes de aporte de recursos dos
seus proprietários.
Já o CPC 30 (2009, item 7) ressalta que as “receitas são ingressos brutos de benefícios
econômicos durante o período proveniente das atividades ordinárias da entidade que resultam
no aumento do seu patrimônio líquido, exceto as contribuições dos proprietários”. Ou seja, as
receitas são oriundas das atividades operacional da empresa.
Receitas Operacionais
(-) Deduções de Receitas
= Receitas Operacionais Líquida
A receita não operacional (nesta concepção) deveria incluir todos os acréscimos de ativo
e de patrimônio líquido derivantes de rendimentos de aplicações financeiras (na prática
internacional), rendas patrimoniais etc., exceto ganhos na venda de ativos não sujeitos à
negociação normal. As despesas financeiras também entrariam nesta altura da demonstração.
Quanto aos ganhos, aos itens extraordinários, às perdas, trataremos mais adiante, nesta
unidade.
A maior parte das mensurações contábeis baseia-se em fluxos de caixa passados, presentes
ou esperados. As receitas são geralmente medidas em termos do valor líquido de numerário
que se espera receber em função da venda de bens ou da prestação de serviços.
Uma boa mensuração da receita exige que se determine o valor de troca do produto ou serviço
prestado pela empresa. Em outros termos, este valor de troca nada mais é do que o valor
atual dos fluxos de dinheiro que serão recebidos, derivantes de uma transação que produza
receita. É claro que uma boa aproximação deste valor é o preço acordado entre comprador
De todas as noções analisadas e do que foi vista na unidade sobre princípios contábeis, no
qual o problema do momento da realização da receita foi amplamente tratado, depreende-
se que podemos tentar uma conceituação ampla de receita que, sem deixar de caracterizar
seus efeitos sobre o patrimônio, enfatize suas características essenciais quanto à natureza.
Assim, receita é o valor monetário, em determinado período, da produção de bens e serviços
da entidade, em sentido lato, para o mercado, no mesmo período, validado, mediata ou
imediatamente pelo mercado, provocando acréscimo de patrimônio líquido e simultâneo
acréscimo de ativo, sem necessariamente provocar, ao mesmo tempo, um decréscimo do
ativo e do patrimônio líquido, caracterizado pela despesa.
Esta definição, embora envolva quase todos os aspectos da receita (inclusive o fato de que
não provoca, necessariamente, ao mesmo tempo, uma despesa, mas deixa margem para
que isto, de fato, ocorra), peca pela falta de concisão, de forma que deveremos analisar as
características fundamentais e desprezar as acessórias.
Esta parece-nos uma conceituação adequada, porque caracteriza, por natureza, a produção
de bens e serviços como elemento fundamental, porém considera que tais bens e serviços
têm abrangência ampla, para incluir receitas não operacionais. Por outro lado, confere ao
mercado, por meio de seus mecanismos de preços, o poder de atribuir um valor de troca
à produção da entidade. À definição falta apenas caracterizar mais nitidamente o efeito da
receita no patrimônio. Assim, completando, poderíamos dizer: receita é a expressão monetária,
validada pelo mercado, do agregado de bens e serviços da entidade, em sentido amplo (em
determinado período de tempo), e que provoca um acréscimo concomitante no ativo e no
patrimônio líquido, considerado separadamente da diminuição do ativo (ou do acréscimo do
passivo) e do patrimônio líquido provocados pelo esforço em produzir tal receita.
2. embora possa ser estimada pela entidade, seu valor final deverá ser validado pelo mer-
cado;
4. embora se reconheça que o esforço para produzir receita provoca, direta ou indiretamen-
te, despesas (diminuição do ativo e do patrimônio líquido), não subordina, no tempo, o
reconhecimento da receita ao lançamento da despesa. Esta última condição poderia ser
silenciada, em uma definição mais concisa, bem como a do item 3.
DESPESAS
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM
Tal como o termo receita, despesa também é um conceito de fluxo. Porém, representam
as variações desfavoráveis dos recursos da empresa. Assim, as despesas são os custos
assumidos para gerar receitas. Contudo, é frequentemente difícil determinar uma associação
entre receitas e despesas, de modo que diversas regras relativamente arbitrárias são utilizadas
para reconhecimento das despesas.
É importante notar também que a avaliação das despesas deveria ser considerada como um
problema à parte da definição de despesa, principalmente por ser esta uma atividade ou um
processo.
Mais uma vez, vamos reportar-nos à diferença entre despesas e deduções de receita. Os
descontos financeiros e devedores duvidosos têm sido normalmente tratados como despesa.
Concordamos com a opinião de Hendriksen, todavia, de que deveriam, mais rigorosamente,
ser considerados como deduções de receita. Os descontos, segundo ele, não representam o
uso de bens e serviços. Uma pequena parcela de tais descontos pode representar o desconto
monetário ou juro igual ao custo de espera, na ausência de incerteza. Entretanto, se o desconto
é aproveitado, o preço líquido representa o preço dos bens; o desconto é uma redução de
receita e não um custo de empréstimo. Da mesma forma, devedores duvidosos não representam
expirações de bens ou serviços, mas reduções do total a ser recebido em troca pelo produto.
Outro aspecto importante é que a classificação das despesas em “de venda”, “administrativas”
etc., embora importante para certas finalidades de análise, não é a mais importante para
o administrador, que desejaria uma classificação que raramente lhe é fornecida, ou seja,
classificação das despesas em fixas e variáveis ou em fixas, variáveis e mistas. Essa
classificação e, gerencialmente para o usuário externo, a mais importante, pois é a que permite
averiguar melhor a tendência do empreendimento no que tange aos resultados, caso haja
mudanças nas vendas ou na demanda dos produtos e dos serviços da empresa. Chamamos
Portanto, algumas despesas estão diretamente relacionadas à receita. O caso mais patente é
o do custo dos produtos vendidos. Como vimos, custo dos produtos vendidos é um custo de
período; logo, é uma verdadeira despesa, na acepção do termo. Entretanto, o que pode estar
incluído no custo dos produtos vendidos está sujeito a grandes variações, conforme o tipo de
custeio utilizado.
Assim, se utilizarmos o custeamento por absorção, mais tradicional para finalidades de registro,
verificaremos que estarão incluídos os seguintes itens:
Além desses problemas, outros, provocados por critérios diferenciados para os mesmos itens,
podem surgir. Por exemplo, se os custos de matéria-prima e de mão de obra direta forem
irrelevantes com relação ao custo total, a empresa pode deixar de considerá-los como custos
diretos de produto. Por outro lado, desperdícios anormais e custos de capacidade ociosa
são tratados por alguns como perdas e não como custos de produto, por não resultarem em
produto vendável.
É importante não confundir despesas diretamente associadas com a receita (como custo dos
produtos vendidos) com custos diretos, pois, como vimos, alguns custos indiretos podem estar
Outras despesas estão menos diretamente relacionadas com a receita ou, pelo menos,
é mais difícil avaliar em quanto a incorrência de tais despesas provoca receita, dentro do
mesmo período. Sabe-se que as despesas de que estamos discorrendo tendem a provocar o
aparecimento de receitas, mas não se sabe muito bem quanto, quando, e, às vezes, por que.
Por exemplo, certas despesas de venda propiciam, mais cedo ou mais tarde, a melhoria das
vendas. Entretanto, somente poderemos ativar tais gastos em certo período se soubermos
com razoável precisão quais as futuras receitas com as quais poderão ser associados. Se não
tivermos base adequada para estimativa, deveremos considerar o gasto como despesa do
período em que ocorreu. Como muito bem advertem os bons autores, pelo menos teoricamente,
a possibilidade de registrar um prejuízo em um período não deve ser motivo suficientemente
forte para ativar os gastos para os quais não conseguimos identificar as futuras receitas.
Os contadores, todavia, tendem a ativar indevidamente gastos quando antes deles o resultado
da empresa já era negativo ou no caso de ficar negativo ao serem considerados como despesa
certos gastos. Diríamos que, na prática, se ativam gastos ou se reconhece a incorrência da
despesa mais seguindo a tendência de “normalizar” os resultados de períodos do que a de
tentar reconhecer o resultado mais próximo do real.
Envolve todas as despesas, praticamente, menos as não operacionais, que estão teoricamente
confinadas, quase exclusivamente, às financeiras.
Assim, poderíamos refazer nosso demonstrativo da seguinte forma, mais completa (com a
concessão de considerar receitas e despesas financeiras como operacionais):
Receitas operacionais $
— Resultado em vendas $
- de vendas e administrativas
- Impostos e taxas
- de pesquisa e desenvolvimento
- outras
— Resultado operacional $
Paramos no resultado operacional, porque trataremos de outros itens que afetam o resultado
do período, especificamente.
Já falamos dos custos de produto e das despesas de confrontação com o período e demos os
critérios gerais para reconhecer as outras duas subcategorias de despesas de confrontação
direta.
Um exemplo importante de despesa associada diretamente com receita futura, mas não
incluída no custo do produto, seriam os custos iniciais de organização, que são ativados
porque, quando ocorrem, normalmente não podem ser associados com um produto que não
existe. Assim, ao serem relacionados com receita de alguns períodos futuros, são ativados e,
em seguida, amortizados contra tais períodos.
Outro exemplo é o constituído por comissão de venda quando for paga no ato da assinatura do
As despesas ou os gastos com propaganda e publicidade são outro exemplo. Muitos gastos
deste tipo têm efeito residual ou cumulativo com relação às receitas, e uma promoção repetida
de um produto, nome de firma ou marca de comércio é mais efetiva do que uma mera inserção.
Já em 1940, Paton e Littleton afirmavam que, para justificar segregação como itens
extraordinários, os ganhos (ou as perdas) deveriam ser nitidamente extraordinários e
conectados com a finalidade declarada da empresa apenas de forma acidental. Assim, a
venda de equipamentos pode ser uma atividade normal para muitas empresas. Por outro lado,
ganhos e perdas derivantes de venda de propriedades operacionais podem refletir alocações
incorretas feitas em períodos anteriores, da mesma forma que ganhos ou perdas inesperados.
Algumas vezes, na prática, como tais distinções são muito trabalhosas, considera-se ou
tudo como ganhos (o que já confere o caráter de “não usualidade” “não recorrência” ou “não
operacionalidade”) ou denomina-se tudo de receita extraordinária ou não operacional (ou
eventual).
No caso específico das perdas, pode ser utilizada esta expressão como oposto de ganho. Trata-
se do efeito líquido desfavorável que não surge das operações normais do empreendimento. É
importante, agora, fazer uma distinção, válida também para os ganhos. Uma operação pode ser
não usual, não operacional, não ligada às atividades principais do empreendimento e, mesmo
assim, ser recorrente. É o caso das vendas de ativos não destinados à venda. O Comitê de
Terminologia do AICPA definiu perdas como “o excesso de toda ou de uma parte do custo dos
ativos sobre as receitas respectivas, se existir, quando os itens forem vendidos, abandonados
ou parcial ou totalmente destruídos em consequência de sinistros ou de alguma outra forma
baixados». A American Accounting Association definiu-as como “custos expirados que não
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A EVIDENCIAÇÃO EM CONTABILIDADE
Professor Me. José Renato de Paula Lamberti
Objetivos de Aprendizagem
Plano de Estudo
A contabilidade, cujo objetivo central é gerar informações para que os diversos usuários
possam controlar as suas entidades e tomar decisões. Sendo assim, a evidenciação está
ligada aos objetivos da contabilidade, ao garantir informações diferenciadas para os vários
tipos de usuários.
Pois hoje, o investidor é muito mais exigente e sofisticado em termos de informação do que
anos atrás, mas essa preocupação é destacada por Iudícibus quando ele afirma no Accouting
Resourch Study nº 1, editado pelo AICPA, em 1961, em que estabelece que “os demonstrativos
contábeis deveriam evidenciar o que for necessário, a fim de não torná-los enganosos”. Para
Iudícibus (2009) a divulgação financeira é um compromisso inalienável da contabilidade com
seus usuários e com os próprios objetivos. As formas de divulgação podem variar, mas a
essência é sempre a mesma: apresentar informação quantitativa e qualitativa de maneira
ordenada, deixando o menos possível para ficar de fora dos demonstrativos formais, a fim de
propiciar uma base adequada de informação para o usuário.
Então, entende-se que pelo menos nas interpretações mais profundas, das demonstrações
contábeis é tarefa única e exclusivamente reservada aos experts em contabilidade, como
vimos anteriormente, a contabilidade é muito mais complexa do que possa parecer à primeira
vista.
Para compreender os motivos que levam a empresa a evidenciar ou não uma determinada
informação, faz-se necessário analisar os incentivos que levariam a entidade a se comportar
daquela forma. As modalidades da divulgação obrigatória e voluntária.
A divulgação voluntária representa o disclosure que excede o que é recomendado por lei e
representa uma escolha livre (free choice) por parte dos gestores em divulgar informações
adicionais para o processo decisório dos usuários. Para Gigler e Hemmer (1998), o disclosure
obrigatório é mais confiável que o disclosure voluntário, contudo tende de ser menos
tempestivo, sendo que a credibilidade deste último depende dos incentivos que o gestor possui
no momento da divulgação.
Nível de Evidenciação
Com relação à quantidade de evidenciação, são três os tipos mais comentados pelas obras
literárias: evidenciação adequada, evidenciação justa e evidenciação plena. Mas na verdade
não existe diferença entre tais conceitos, embora tenham significados diferentes, toda a
informação para o usuário precisa ser, ao mesmo tempo, adequada, justa e plena, pelo menos
no que se refere ao detalhe que está sendo evidenciado. Em outras palavras, evidenciação é
apresentar o necessário para que o usuário da informação possa tomar a decisão que espera
acerca do assunto em questão.
INFORMAÇÕES CARACTERÍSTICAS
Adequadas Volume mínimo de divulgação compatível com o objetivo de evitar
(adequate disclosure) que as demonstrações sejam enganosas
Justas Objetivo ético de tratamento equitativo de todos os usuários em
(fair disclosure) potencial
Completas Apresentação de toda a informação relevante
(full disclosure)
Fonte: Hendriksen e Breda (1999, p. 515); Iudícibus (2009, p. 111)
Informações entre parênteses – ainda dentro das demonstrações contábeis deve-se apresentar
maiores esclarecimentos sobre um título de um grupo ou critério de avaliação utilizados, para
esse fim pode ser utilizado os parênteses. Exemplo (Avaliados pelo método PEPS).
Notas explicativas – o objetivo é evidenciar a informação que não pode ser apresentada no
corpo das demonstrações contábeis. Os tipos mais comuns são: explanações de técnicas ou
mudanças nos métodos e descrição de contratos e outros.
Parecer do Auditor – serve apenas como fonte adicional da evidenciação para a informação.
Caro(a) aluno(a), agora serão explicados com mais detalhes as várias formas de evidenciação.
Pois são as demonstrações contábeis que passam a segurança e proporcionam uma maior
quantidade de evidenciação, embora muitos usuários não percebesse o detalhamento e a
riqueza das informações por elas proporcionadas.
BALANÇO PATRIMONIAL
Fonte: PHOTOS.COM
Para tanto, as contas do ativo deverão ser dispostas em ordem decrescente de realização
ou conversibilidade (grau de liquidez) e as contas do passivo e patrimônio líquido em ordem
decrescente de exigibilidade.
A DRE deve apresentar o resumo das variações positivas (receitas e ganhos) e negativas
(custos, despesas e perdas), ocorridas em determinado período de tempo, normalmente no
exercício social, em função da exploração das atividades operacionais da empresa.
Entretanto, atualmente a lei das sociedades por ações, a conta “Lucros Acumulados” não
pode apresentar saldo positivo ao final do exercício social, ou seja, quando tiver lucro ou
distribuir entre os acionistas ou retidos na empresa para reinvestimentos futuros tem que ser
transferidos para a conta reservas. A estrutura da DLPA deve se apresentar da seguinte forma:
A DMPL tem por objetivo principal apresentar as modificações ocorridas na conta do patrimônio
líquido do determinado exercício social. Inicia-se a demonstração partindo do saldo inicial e
chegando ao saldo final. Além disso, a DMPL complementa o Balanço Patrimonial e a DRE.
exercícios anteriores
Aumentos de Capital
Com lucros e reservas
Por subscrição realizada
Reversões de reserva
de contigências
de lucros a realizar
LUCRO LÍQUIDO DO
EXERCÍCIO
PROPOSTADA ADM DE
No Brasil a DFC passou a ser obrigatória para as sociedades anônimas e empresas de grande
porte a partir de 2008. Substituindo a Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos. E
as companhias de Capital fechado são obrigadas a apresentar a DFC caso na data do Balanço
o seu Patrimônio Líquido seja superior a R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais).
Caro(a) aluno(a), toda a contabilidade é feita por regime de competência, mas a DFC é feita
pelo regime de caixa onde tem que conter três fluxos de caixa por atividade.
DFC
A DVA passou a ser obrigatória para as sociedades anônimas de capital aberto a partir do
exercício de 2008. A DVA deve evidenciar o valor da riqueza gerada pela companhia, a sua
distribuição entre os elementos que contribuíram para a geração dessa riqueza, tais como
empregados, financiadores, acionistas, governo e outros, bem como a parcela da riqueza
distribuída.
Em outras palavras, a DVA evidencia o quanto a riqueza de uma empresa produziu, ou seja,
o quanto ela adicionou de valor aos seus fatores de produção e o quanto dessa riqueza foi
distribuída (entre empregados, governo, acionistas, financiadores de capital) ou retida e de
que forma. A sua utilidade é notória do ponto de vista macroeconômico, pois, conceitualmente,
o somatório dos valores adicionados de um país representa seu Produto Interno Bruto (PIB).
Em suma, a DVA demonstra ao usuário o quanto cada companhia criou de riqueza e como
distribuiu aos agentes econômicos que ajudaram a criar essa riqueza. O objetivo maior da DVA
é o de demonstrar o quanto a empresa gerou de riqueza (recursos) e como distribuiu esses
recursos aos agentes que contribuíram para tal formação.
31/12/X1 31/12/X0
Lucro líquido
(+/-) ajustes de conversão de controladas no exterior
(=) Resultado abrangente do período
Atribuível a acionistas
As notas explicativas são parte integrante das demonstrações contábeis e devem divulgar
as informações necessárias à adequada compreensão das respectivas demonstrações. Por
determinação legal, as notas devem conter:
RELATÓRIO DA ADMINISTRAÇÃO
• Recursos humanos.
• Investimentos.
• Pesquisa e desenvolvimento.
• Reformulações administrativas.
• Opinar sobre o relatório anual da administração, fazendo constar no seu parecer as in-
formações complementares que julgar necessárias ou úteis à deliberação da assembleia
geral.
• Parecer adverso.
Caro(a) acadêmico(a), vou deixar aqui um texto do Prof. Eliseu Martins onde ele explica o
futuro da CONTABILIDADE, espero que a partir dessa leitura você consiga verificar o quanto
a ciência contábil tende a crescer principalmente aqui no Brasil.
Fonte: Revista Contabilidade e Finanças – USP, São Paulo, n. 39, pp. 3-6, set./dez. 2005.
ATIVIDADE DE AuTOEsTuDO
2. Quais são as principais evidenciações contábeis? Faça um quadro resumo com as suas
principais características.
Perante a evolução da ciência contábil verificou-se que foi juntamente com a evolução da
sociedade e das nações que a contabilidade continuou evoluindo até os dias atuais. Além
disso, é necessário compreender essa ciência, pois o Frei Luca Pacioli desenvolveu o
método das partidas dobradas que são utilizadas até hoje e que partir desse método surgiu
várias correntes de escolas de pensamento contábil e cada uma com suas particularidades
de como era apresentado os componentes patrimoniais por meio dessas escolas. Nesse
contexto, a teoria da contabilidade vem ajudar no desenvolvimento de como executar o
profissional contábil. E o que dá garantia do desenvolvimento uniforme da profissão contábil
é por meio da estrutura conceitual básica (objetivos da contabilidade, postulados, princípios
e convenções). E para atingir o objetivo da contabilidade é necessário compreender os
componentes patrimoniais como Ativo, Passivo, Patrimônio Líquido, Receitas e Despesas de
forma clara, onde que todos os usuários consigam entender as demonstrações contábeis, ou
seja, a evidenciação é essencial para atingir o objetivo da contabilidade. E no Brasil, estamos
iniciando o desenvolvimento da profissão contábil principalmente com essa necessidade da
harmonização das demonstrações contábeis por causa da globalização.
Considerando-se todos os temas estudados a contabilidade é uma área que tem muito a se
desenvolver e que nós como contadores não podemos parar, pois temos que acompanhar
toda essa evolução da contabilidade que não para e sempre tem algo novo a aprender.
AQUINO, Wagner de; SANTANA, Antonio Carlos de. Evidenciação. São Paulo, Caderno de
Estudos da FIPECAFI, jun./1992.
CARQUEJA, H. Teoria da contabilidade: uma interpretação. Tékhne (on-line), vol. IV, n. 7, 2007.
FAVERO, Hamilton Luiz; LONARDONI, Mário; SOUZA, Clóvis de; TAKAKURA, Massakazu.
Contabilidade: Teoria e Prática, vol. 1. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1997.
GIGLER, Frank; HEMMER, Thomas. On the frequency, quality and informational role of
mandatory financial reports. Journal of Accounting Research, v. 36, pp. 99-114, 1998.
MARION, José Carlos. Contabilidade Básica. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
SÁ, Antônio Lopes de. Teoria da Contabilidade. São Paulo: Atlas, 2010.
SPROUSE, Robert T., MOONITZ, Maurice. A Tentative set of broad accounting principles for
business enterprises. In: An Accounting Research Study. New York, AICPA – n. 3, 1962.
Em razão de ter produzido uma obra sobre temas matemáticos, na qual inseriu matéria contábil,
Luca Pacioli celebrizou-se como um grande difusor dos critérios de escrituração mercantil.
Embora não seja ele o autor das partidas dobradas, nem um inovador de coisa alguma nos
procedimentos destas e tão pouco o autor do primeiro livro de difusão contabilística, coube-
lhe, todavia, a primazia da primeira edição “impressa”, pois, várias outras obras, produzidas há
milênios, eram todas manuscritas.
A vida desse ilustre personagem merece análise, para melhor identificação da obra com um
homem que inaugurou uma nova fase na literatura da Contabilidade, cujos efeitos jamais se
interromperiam.
A profusão de referências feitas sobre o livro que mais se difundiu sobre a escrituração contábil
por partidas dobradas, em razão de ter sido o primeiro a ser impresso pelo processo industrial
de Gutemberg, trouxe, também, uma dúvida sobre o verdadeiro nome do autor.
Encontramos o uso dos dois sobrenomes, ora bem aplicados e outras erroneamente referidos.
Ambos, todavia, por uma fidelidade à origem, podem ser usados, mas, admito, para que
sejam adequados no emprego, com a observância das particularidades relativas às raízes
Isto porque, em verdade, o que aconteceu, no aparecimento das duas designações, foi uma
peculiaridade no antigo idioma italiano, falado na época de Paciolo, na Toscana (terra do
denominado pai da língua italiana, Dante Alighieri).
O sobrenome terminado com a letra “i”, quando junto ao nome, conservava tal letra; portanto,
ao dizer nome e sobrenome juntos usava se falar, por exemplo: Michelangelo Buonarotti; logo,
também se dizia: LUCA PACIOLI.
Não são sobrenomes diferentes, mas a forma de dizer um mesmo sobrenome: se “junto do
nome” (com “i”), ou “sozinho” (com “o”).
Existem referências de que o nome completo do Frei seria: LUCA BARTOLOMEO PACIOLI, ao
que se acrescentava DI BORGO DI SAN SEPOLCRO.
O nome Bartolomeo, todavia, era o do pai de Luca e nas obras maiores que o Frei editou não
há referência, ao nome Bartolomeo.
Era também comum, por exemplo, dizer-se “Leonardo fi Bonacci”, ou Leonardo di Bonacci, o
que entre nós equivaleria a:
“Pedro filho de João” (o mesmo costume se encontra em muitos outros países, quer da Europa,
quer da Ásia; os árabes, por exemplo, usam, ainda, “Ibn” e que é a expressão “filho”, como os
espanhóis o sufixo “ez” para expressar “filho de” como em “Rodriguez”, para significar “filho
de Rodrigo”).
Luca Pacioli nasceu em um vilarejo, em seu tempo denominado “Borgodi San Sepolcro”, hoje,
apenas, “Sansepolcro”, província da cidade de Arezzo, na região da Toscana, na região central
da Itália, acredita se, por volta de 1445 (dúvidas, também, foram levantadas a respeito).
Sansepolcro ergue-se no alto de uma colina; ainda hoje conserva seus ares medievais, o
Palácio, a Catedral, algumas Igrejas da época, um seminário; ainda hoje é um local que
transpira a respeitabilidade dos gênios que abrigou e dos que ali nasceram (dentre eles
bastaria citar, além de Paciolo, Piero della Francesca).
Paciolo foi coevo de Leonardo Da Vinci (1452 1514), Michelangelo (1475 1564), Maquiavel
(1469 1527), Lourenço, o Magnífico (1449-1492), Girolamo Savonarola (1452-1498), Piero della
Francesca (1420-1492) e de muitas personalidades de uma “época de ouro” da civilização
Mundial que resplandeceu na Itália.
Quando Luca nasceu, Cosme de Médici, então já banqueiro do papa, era o senhor de Florença
(1434 1464).
Luca era ainda era muito jovem quando Lourenço o Magnífico (1449-1492), sucedendo a
Cosme, assumiu o Poder em Florença (1469).
Viveram, também naquela época, os magníficos Sandro Boticelli (que produziu o famoso
quadro da Primavera, em 1477), Marsílio Ficino (o grande filósofo que recuperou a imagem
de Platão, superando a Aristóteles) (1433-1499), o humanista e poeta Angiolo Poliziano (1454
1494).
Paciolo mal saíra da adolescência quando na Itália se inaugurou a indústria de imprimir, pelo
processo de Gutenberg (a 1ª obra impressa surgiu na península em 1465, ano em que por
coincidência vinha ao mundo o magnífico Maquiavel), mas, já adulto, quando nasceu Rafael
Sanzio (1483) o grande gênio da pintura, tendo vivido a época dos grandes descobrimentos,
ou seja, a de Vasco da Gama (1469-1524), Cristóvão Colombo (1451-1506), Américo Vespúcio
(1454-1512) e Pedro Álvares Cabral (1460-1520).
A tudo se acrescenta o entender que o tempo de Paciolo foi aquele dos gênios e de uma
TEORIA DA CONTABILIDADE | Educação a Distância 143
expressiva metamorfose histórica.
Não só a descoberta, pelos europeus, de novas terras mudou mercados e visões, mas,
também, se viu a grande ascensão muçulmana que abalaria até preconceitos do clero.
A queda de Constantinopla em 1453, como conquista de Maomé II, provocou o fim do milenar
império romano, ensejando mudanças políticas como as da paz de Lodi (1454) entre os
Visconti (poderosos senhores de Milão desde 1277) e Veneza (quando esta também perdia
o predomínio do mediterrâneo), a conspiração dos Pazzi (tentando derrubar os Médici) e que
resultou no assassinato de Juliano de Médici (1478) e o da conjuração dos barões em Nápoles,
contra o rei Fernando (1485).
As influências ambientais ditadas por eventos sociais, econômicos, políticos, intelectuais, tem
grande influência sobre a cultura e a época do Renascimento italiano foi uma dessa, ou seja,
aquela que ensejaria a eclética formação cultural de Luca (absorvida de Piero, Alberti, Da Vinci
e Rompiasi, especialmente).
Um fato curioso histórico, irônico mesmo, é o de que, quando nascia Paciolo, o ducado dos Sforza
ia à falência, por uma “magnificência alérgica a qualquer preocupação com a Contabilidade”,
como escreveu o magnífico Indro Montanelli, em co-autoria com Roberto Gervaso (L’Italia dei
Secoli D’oro, edição Rizzoli, Milão, 1967), sendo salvo pelos toscanos “Medici” (da região do
Frei) que não só eram banqueiros, mas, que possuíam excelentes controles contábeis.
A atmosfera cultural sob a qual nasce Paciolo era a de apoio à cultura, fortemente incentivada
por Cosme dos Medici (que se torna senhor de Florença em 1434 e até sua morte em 1464).
A riqueza dos banqueiros florentinos alimentou Brunelleschi (que construiu a famosa cúpula
da catedral de Florença, ao lado da qual existe sua estátua de bronze), Donatello (o escultor
mais original do renascimento italiano), Ghiberti (que fez a porta do Paraíso do batistério de
Florença), Boticelli (o exímio pintor da Primavera), Gozzoli (famoso pintor da cavalgada dos
reis), Felipe Lippi (pintor de quadros notáveis nos templos religiosos), Frei Angélico (famoso
pintor, com muitas produções, inclusive no Vaticano), Pico della Mirandola (erudito dialético),
Marsílio Ficino (grande filósofo), Alberti (arquiteto e humanista) etc.
A política dos Médici não se alteraria até o fim do século XV e admite-se que tenha sido a
principal a alimentar o milagre da Renascença.
Paciolo viveu uma Itália de lutas, invasões, mas de fortíssimo teor intelectual, com o renascer
intenso da filosofia platônica.
Sucedendo a Cosme, Lourenço, o Magnífico, que fora aluno de Marsílio Ficino, líder de
uma escola “platônica”, utilizou seu poder na continuidade de apoio à intelectualidade e isto,
obviamente, consolidou, de forma notória, a produção de matéria artística, filosófica e científica.
Sob esse clima de valor a cultura, muito cedo Paciolo foi educado em sua cidade natal por
um emérito pintor e matemático, Piero della Francesca (também nascido em Borgodi San
Sepolcro, onde até hoje existe sua casa, defronte ao campanário de São Francisco, local
que emocionado visitei em 1984), que lhe ensinou álgebra, matemática e a divina proporção
platônica.
Piero nasceu entre 1410 e 1420 (não é precisa a data de seu nascimento, como muitas não
são as informações históricas sobre toda a sua vida) e dedicou-se a diversos trabalhos em sua
Província (em Arezzo e Sansepolcro), admite-se de 1455 a 1466.
O célebre pintor e intelectual, em 1469 esteve na cidade de Urbino, após exercer cargos
públicos em Sansepolcro e aceitar empreitadas em Arezzo; depois de 147O parece ter ficado
a maior parte do tempo em sua cidade (nesse período é que Piero Della Francesca teria
lecionado para Paciolo).
Acredita-se que a ida de Paciolo para Veneza deve-se ao mercado de trabalho que ali existia
e que faltava em sua vila de nascimento; aos 20 anos, empregou-se na casa do próspero
comerciante judeu Antonio Rompiasi, aos filhos do qual dedicaria uma obra.
Admito que naquela época Paciolo já tivesse conhecimento das partidas dobradas
(conseguimos, junto com o Prof. Marcelo Berti, ilustre docente de História da Contabilidade na
Universidade de Pisa, encontrar no Museu Cívico de San Sepolcro, documentos escriturados
em Partidas Dobradas, da época em que Paciolo estava naquela vila e possuía ampla
convivência com a casa dos religiosos, esses que se empenhavam também na educação do
ainda muito jovem Luca).
Melis, entretanto, entende que a grande prática sobre comércio Paciolo a adquiriu em Veneza,
junto a Rompiasi, o que também justifica, em parte, ter seu Tractatus se dedicado só ao ramo
comercial.
Até seu trabalho em Veneza, que culminou com um livro sobre álgebra, ultimado em 147O,
Luca não era, ainda, um Frei.
A “Summa” foi o mais importante dos dez livros escritos (editada em 10 de novembro de 1494)
mas, não o primeiro livro de Paciolo, pois, aos 25 anos, já com grande acervo cultural, produziu
uma obra, dentro de sua grande vocação pelos números e cálculos.
De tal obra tem se referência, mas essa se perdeu, não deixando prova histórica; sabemos que
existiu porque Paciolo a ela se refere em sua “Summa”.
A inquietude cultural de Paciolo, naturalmente despertada em seus verdes anos, por Piero
Della Francesca, em Sansepolcro, parece ter feito com que se sentisse atraído para absorver
novas luzes.
Tais luzes, por influência natural, deveriam provir de um grande mestre que muito se identificava
com o pensamento de Piero.
Como escreve Alberto Busignani, biógrafo daquele genial pintor e mestre, Leon Battista Alberti
era um “espírito afim” ao de Piero (A. Busignani Piero Della Francesca, p. 8, Ediciones Toray,
Barcelona, 1968) e é muito possível que este tenha repassado a Paciolo a sua forte impressão
Não é, pois, sem razão que por volta de 1470 ou 1471 (é imprecisa a referência histórica) Luca
desloca-se para Roma e passa a residir na casa de Leon Battista Alberti, embora não por
muito tempo.
É aí que lhe causam profundas influências os estudos de Teologia e de Filosofia que encontraram
terreno fértil na mente lógica de Paciolo, essa treinada para a Aritmética e Álgebra.
A aproximação com os textos relativos ao que Alberti lhe transfere, naturalmente, despertam
a “consciência religiosa” mais aprofundada e isto iria induzir o genial discípulo a ingressar em
uma Ordem que tanta influência na Itália exercia, pela pureza de seus fundamentos.
Alberti era escultor, pintor, músico, filósofo, em suma, um homem afinado com a policultura,
um homem do Renascimento (1404-1472) e de sua autoria, famosíssima na história da arte, é
a fachada da Igreja da Santa Maria Nova e do Palácio Ruccellai, ambos em Florença (terra de
nascimento de Alberti).
Paciolo encontrou aquele gênio já no fim da vida, com grande maturidade intelectual,
competente para exercer a grande influência que, de fato, teve e em plena vitalidade porque,
em Roma, executava as obras do Palácio Veneza.
Outros estudiosos, todavia, atribuem a maior religiosidade de Paciolo ao fato de dois irmãos
deste haverem entrado para a Ordem dos Franciscanos (em Borgodi Sansepolcro, onde o
Santo toscano era devotado com grande eloqüência e ao qual uma Igreja fora no vilarejo
dedicada).
A fé por São Francisco, na cidade de Paciolo, parece ter se iniciado no fim do Século XIII,
por volta de 1285, introduzida por um frei chamado Tommaso da Spello que ali aportou com
o objetivo de construir a primeira Igreja, em face de terreno doado pela comunidade (desse
antigo templo hoje só existem restos da fachada).
Com a fé consolidada no santo de Assis, com os irmãos que haviam ingressado na ordem,
com o suporte de teologia recebido de Alberti, outra não poderia ter sido a decisão de Paciolo,
se não a de se tornar Frei, o que ocorreu por volta de seu retorno de Roma, em 1471 (Menores
Outros autores admitem seu ingresso na ordem somente em 1494 (J. Vlaemminck).
O agora Frei Luca Bartolomeo Paciolidi Borgodi San Sepolcro parece ter vestido o hábito na
sua própria terra natal, segundo Melis (Federigo Melis, Storia della Ragioneria, p. 620, editor
Zuffi, Bolonha, 195O).
Poucos anos depois, foi lecionar matemática em Perugia (cidade perto de Assis, onde estava
o principal convento da Ordem Franciscana) provavelmente de 1475 a 1480, firmando-se no
magistério.
Em tal cidade escreve seu segundo livro, um pequeno volume, ainda sobre álgebra.
A estada de Paciolo em Perugia não é bem precisa (Melis admite de 1475 a 1478 e Lamouroux
até 1480, assim como ainda outros preferem declará-la incerta), mas, ali esteve lecionando
e produziu o manuscrito referido e que continha matéria de álgebra e de cálculos mercantis,
semelhante, em alguns pontos, aos assuntos da “Summa”.
O professor Mário Mari, todavia, em recentes pesquisas que elaborou, afirma que a atuação
no magistério, em Perugia, foi de outubro de 1477 a junho de 1480.
De Perugia o Frei deslocou-se, para Veneza, novamente, onde ficou pouco tempo, viajando e
localizando-se em Zara (perto de Veneza, mas já na Iugoslávia).
Não se conhece o motivo da transferência, mas é em Zara que ele escreve o seu 3º livro de
Matemática, também perdido, em 1481.
148 TEORIA DA CONTABILIDADE | Educação a Distância
De tal livro, só sabemos da existência pela referência que lhe faz Paciolo em sua SUMMA,
quando afirma que nele havia passado de leve sobre o assunto e que agora (na Summa)
estava a desenvolver em outro de maior profundidade.
Volta a Florença mas, finalmente, desloca-se para Veneza para revisar a sua obra “Summa de
Aritmética, Geometria, Proporções e Proporcionalidade” (que se admite tenha concluído em
Perugia, em 1487).
Parece não haver dúvida, todavia, de que a “Summa” tenha sido produzida e concluída na
segunda metade da década de 80 do século XV (portanto, 200 anos depois que o processo
das partidas dobradas já estava consolidado na Itália; o mais antigo documento da partida
dobrada na Itália é da última década do século XIII).
O tempo que decorreu entre a conclusão da volumosa obra e sua edição, de aproximadamente
7 anos, não é de admirar-se, considerando-se as condições da época e a preferência que os
editores tinham por livros de melhor aceitação no mercado (Bíblia, obras do latim clássico etc.);
também, o alto custo das edições (muitas perdas e pequenas tiragens) não estimulava a criar
um grande fundo editorial (por questão de giro de capital).
O referido livro de Paciolo (cuja reprodução do original possuo), além de volumoso, tem muitos
desenhos, fórmulas e arte gráfica (as letras iniciais de parágrafos e distinções são desenhadas
artisticamente e consta que foram da lavra de Leonardo).
Paciolo tornou-se amigo de Leonardo da Vinci, um dos maiores gênios da humanidade (1452-
1519), figura ímpar do Renascimento.
Acredita-se que partiram, ambos, para Milão, em 1482, sob o custeio e proteção de Ludovico
TEORIA DA CONTABILIDADE | Educação a Distância 149
Sforza (1451-1508), poderoso Conde de uma Família de rara importância (O Castelo onde
vivia, em Milão, está quase intacto até hoje e constitui motivo de atração turística).
O tronco dos SFORZA se iniciou com Muzio Attendolo (1369 1424) e tinha em Ludovico,
cognominado, “O Mouro”, (1452-1508), um de seus expoentes; o Duque muito valorizou as
artes e as técnicas e em razão disto “investiu” nos dois sábios (Da Vinci e Paciolo) e os trouxe
para Milão.
De 1496 a 1499, ambos os gênios permaneceram naquela cidade, até à época da invasão dos
franceses (que obrigou a fuga do Duque).
Perdido o apoio de Ludovico, pela circunstância desastrosa da guerra, Paciolo voltou a Veneza.
Em Milão, durante sua permanência, o frei ensinou matemática na corte e consta que a tenha,
igualmente, ensinado a Da Vinci as noções das “divinas proporções”.
Admite-se, inclusive, que a famosa “Ceia Sagrada”, iniciada em 1495 e concluída em 1497, (tão
reproduzida e conhecida), de Leonardo (pintada na parede do Convento de Santa Maria delle
Grazie), tenha tido como inspiração as divinas proporções que Paciolo tanto a defendia (o frei
na época já tinha editada a sua famosa “Summa”).
Guido afirma ainda que Leonardo só se interessou pelos números, pela geometria superior,
depois de sua convivência com Luca.
Lamouroux escreve que Paciolo só foi conhecer Da Vinci, em Milão (F. Martin Lamouroux,
Contabilidade, p. 302, Salamanca, 1989) e o questionamento do encontro dos dois fica, desta
forma, dividindo opiniões, mas, é inequívoco que se tornaram amigos e que trabalharam juntos.
Assegura Ângelo Guido em sua obra sobre o mito de Da Vinci (referida na bibliografia) que
este já havia esboçado o desenho da Ceia (projetos acham-se na Academia de Veneza e no
Castelo de Windsor, atualmente) quando depois os modificou para adaptá-lo de acordo com
os ensinamentos de Paciolo.
De fato, pelas ilustrações de tal obra (cuja reprodução integral possuo em minha biblioteca)
pode-se perceber nas Figuras geométricas, quer nas Sólidas, quer nas vazadas, a fixação dos
pertinentes “Pontos de equilíbrio”.
Logo no Prólogo do referido livro, Paciolo destaca o nome de Leonardo como “ilustre arquiteto
e engenheiro” e acrescenta: “compatriota nosso, florentino”.
O frei concluiu a obra em 1498 e a dedicou ao seu protetor Ludovíco Sforza (foi editada em
Veneza pelo mesmo editor da Summa).
A “Summa”, de 1494, fora dedicada a “Guido Ubaldo Duca d’ Urbimo” (possuo, inclusive, um
quadro pintado, copiado do original de Jacopodi Barbarí, com Paciolo ensinando ao Duque de
Urbino cujo original está no Museu do Banco de Nápoles, em Capodimonti, Nápoles).
Tal a amizade que Da Vínci tinha a Paciolo que em 1499, após a fuga de Ludovico, com este
se afasta de Milão, viajando juntos.
Rapidamente passam por Mantua e Veneza para, depois, residirem juntos em Florença.
A admiração de Paciolo era tamanha, por Leonardo, que a este faz muitas referências
calorosas e elogiosas, em outra obra que começou a escrever quando estivera em Milão: “De
Viribus Quantitatis” (que se acha, em seu original, na Biblioteca da Universidade de Bolonha).
O “De Viribus” foi uma livro que visou a estimular o gosto pelos números e por isto está plena
de “jogos” e “curiosidades” matemáticas, sendo de cunho popular e incluindo formas de
estabelecer sofismas através de cálculos, mas, não foi editado.
Tudo faz crer, todavia, que Leonardo e Paciolo separam-se e só se reencontraram em Roma,
em 1514, quando Leão X convidou o frei para lecionar (e quando esse já havia passado por
Veneza, Perugia, Florença e Borgodi San Sepolcro).
Escreve Marinoni que o encontro deu-se em época em que “Leonardo já estava envelhecido
e descrente” (Augusto Marinoni - “De Divina Proportione”, p. 6, ed. Pizzi, Milão, 1982), ou seja,
Paciolo, igualmente, vizinho já estava de sua morte que hoje já se admite, com margem de
segurança, ocorreu em 1517 (vários autores entendiam que o falecimento do frei tivesse
sucedido em 1515).
A morte de Paciolo, foi, entretanto, em 1517, conforme estudos idôneos do reverendo Ivano
Ricci, bibliotecário, em Sansepolcro, do Museu Cívico e o sepultamento deu-se naquele local
na Igreja de San Giovanni D’Afra.
O encontro dos dois expoentes, em Roma, foi, assim, uma despedida sem retorno, mas,
inequívoca ficou, para a história, a identidade intelectual que estabeleceram.
Em memória de seu ilustre filho, nos fins do século passado, a comunidade ergueu uma
estátua de bronze a Luca e essa hoje adorna um destacado recanto de seu vilarejo natal.
Os dois grandes amigos que o destino juntou, deveria, este mesmo, entretanto, separar
geograficamente em seus leitos de morte; o túmulo de Leonardo está em Amboise, França e
o de Paciolo em Sansepolcro, Itália.
A vocação do Frei, segundo Aloe e Valle, não parece ter sido monástica, pois, viajou
freqüentemente.
Após a estada em Florença, com Da Vinci, Paciolo ensinou nas Universidades de Pisa e
de Bolonha (entre 1500 e 1507). Em 1501, em Florença, o frei contou com a proteção do
prestigioso cardeal Soderini.
Em 1508, em Veneza, Paciolo proferiu uma aula magna em abertura de um curso da Igreja
de São Bartolomeu do Rialto, tratando da geometria euclidiana (livro V de Euclides) e das
Em 1510 foi nomeado “Comissário” do Convento franciscano de Sansepolcro e ali ficou até
que Leão X o chamasse a Roma (quando se reencontrou com Da Vinci), em agosto de 1514.
Tudo nos prova que as atividades finais de Paciolo foram tão intensas quanto às de sua
existência, esta que cumpriu dividindo-se entre as suas missões prediletas, como Professor e
Escritor, ou seja, a de um gênio da difusão cultural.
A cultura que conseguiu acumular, quer pelo acesso aos livros mais preciosos que leu
(como os da biblioteca do Duque de Urbino) quer pela influência de Piero, Alberti, Da Vinci,
principalmente, ele procurou retratar em suas obras (10 livros) e em suas lições.
Sabendo conquistar amizades, como revela o famoso historiógrafo Prof. Esteban Hernández
Esteve (em sua introdução ao livro De lascuentas y escrituras), relacionou-se com nobres e
todos os papas de seu tempo, sempre no sentido de valorizar-se culturalmente e, também, de
transferir cultura.
Quando ocorreu o meio milênio da edição da “Summa”, o mundo inteiro reverenciou o gênio
italiano em uma Convenção Internacional.
O local do encontro foi em um palácio, o Centro Zitelle, na ilha onde viveu Antônio Rompiasi e
na casa do qual Paciolo lecionou para os descendentes daquele comerciante – a ilha Judaica,
em Veneza.
Ocorreu dos dias 9 a 12 de abril de 1994, com uma série de palestras, festividades e
comemorações.
A edição se deu sob a coordenação de uma comissão científica, composta dos mais eminentes
professores doutores e historiógrafos, das Universidades mais famosas da Itália, dentre os
quais os eméritos intelectuais Carlo Antinori, Giuseppe Catturi, Giuseppe Bruni, Umberto
Bertini, Antônio Amaduzzi, Maurizio Fanni, Rosella Ferraris, W. Santorelli e Giuseppe Bernoni.
A Itália, em homenagem a seu filho ilustre, na ocasião cunhou uma moeda com a esfinge de
Luca e estampou um selo postal (ambos os possuo), assim como facilitou aos participantes
uma peregrinação a Sansepolcro (terra natal do frei).
Tive a honra de representar o Brasil no conclave, inclusive levando trabalho de pesquisa sobre
a vida do ilustre personagem homenageado.
Foi a forma da classe contábil brasileira, no século XXI, voltar a comemorar o que deveras é
imortal em nossa história.
O frei italiano Luca Pacioli é um ícone de nossa história, não só porque teve a primeira obra
impressa onde inseriu um Tratado sobre Escrituração por Partidas Duplas, mas, especialmente
por ter rompido uma inércia e por fazer conhecido um dos mais importantes critérios de registro
que toda a história da humanidade conheceu.
Cultuar personalidades que construíram uma cultura é uma forma de valorizar um ramo de
conhecimento; desconhecer a História é enfraquecer a compreensão sobre o presente e
perder a visão do futuro.