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5006 Diário da República, 1.ª série — N.

º 180 — 18 de setembro de 2014

PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA e melhores respostas de proximidade aos cidadãos, numa


ótica de subsidiariedade, importa, regulamentar o atendi-
Decreto do Presidente da República n.º 69/2014 mento e acompanhamento social, quanto à organização e
funcionamento do serviço prestado, por forma a garantir
de 18 de setembro uma uniformização de procedimentos ao nível das regras
orientadoras da atuação das diferentes modalidades de
O Presidente da República decreta, nos termos do arti- intervenção.
go 135º, alínea a), da Constituição, o seguinte: Assim:
É nomeado, sob proposta do Governo, o ministro ple- Ao abrigo do artigo 5.º do Decreto-Lei n.º 64/2007,
nipotenciário de 1.ª classe Luís Manuel Barreira de Sousa de 14 de março, com a última redação dada pelo Decreto-
como Embaixador de Portugal não residente no Vietname. -Lei n.º 33/2014, de 4 de março, manda o Governo, pelo
Assinado em 5 de setembro de 2014. Ministro da Solidariedade, Emprego e Segurança Social,
o seguinte:
Publique-se.
O Presidente da República, ANÍBAL CAVACO SILVA.
CAPÍTULO I
Referendado em 15 de setembro de 2014.
Disposições gerais
O Primeiro-Ministro, Pedro Passos Coelho. — O Mi-
nistro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Rui Manuel Artigo 1.º
Parente Chancerelle de Machete.
Objeto
A presente portaria regulamenta as condições de orga-
nização e de funcionamento do Serviço de Atendimento
MINISTÉRIO DA SOLIDARIEDADE, EMPREGO e Acompanhamento Social, adiante designado por SAAS.
E SEGURANÇA SOCIAL
Artigo 2.º
Portaria n.º 188/2014 Conceito
de 18 de setembro 1 — O SAAS é um serviço que assegura o atendimento
A Lei n.º 4/2007, de 16 de janeiro, que aprova as bases e o acompanhamento de pessoas e famílias em situação
gerais do sistema de segurança social, define como um dos de vulnerabilidade e exclusão social, bem como de emer-
objetivos fundamentais do subsistema de ação social, a pre- gência social.
venção e reparação de situações de carência e desigualdade 2 — Excetuam-se do disposto no número anterior as
socioeconómica, de dependência, de disfunção, exclusão situações devidas a catástrofes naturais, calamidades pú-
ou vulnerabilidade sociais, bem como a integração e pro- blicas ou outras ocorrências cobertas por legislação es-
moção comunitárias das pessoas e o desenvolvimento das pecífica.
respetivas capacidades. Artigo 3.º
Na concretização destes objetivos da ação social, o Objetivos
serviço de atendimento e acompanhamento social reveste-
-se de grande importância contribuindo para uma proteção Constituem objetivos do SAAS:
especial aos grupos mais vulneráveis através da disponi- a) Informar, aconselhar e encaminhar para respostas,
bilização de informação e da mobilização dos recursos serviços ou prestações sociais adequados a cada situação;
adequados a cada situação, tendo em vista a promoção da b) Apoiar em situações de vulnerabilidade social;
melhoria das condições de vida e bem-estar das popula- c) Prevenir situações de pobreza e de exclusão sociais;
ções, condições essas facilitadoras da inclusão social. d) Contribuir para a aquisição e ou fortalecimento das
Ainda na prossecução destes objetivos e conside- competências das pessoas e famílias, promovendo a sua
rando uma utilização eficiente dos serviços, o Despacho autonomia e fortalecendo as redes de suporte familiar e
n.º 12154/2013, de 24 de setembro, veio criar a Rede Local social;
de Intervenção Social (RLIS), que constitui um instru- e) Assegurar o acompanhamento social do percurso de
mento privilegiado na articulação entre as várias entida- inserção social;
des multissectoriais representadas nas estruturas locais f) Mobilizar os recursos da comunidade adequados à
com responsabilidades no desenvolvimento de serviços progressiva autonomia pessoal, social e profissional.
da ação social.
Neste domínio, a melhoria das condições objetivas da
população num determinado território bem como as prá- Artigo 4.º
ticas de parceria têm obtido resultados indiscutíveis, mas Princípios orientadores
continua a verificar-se alguma fragmentação na disponi-
bilização das respostas sociais, que resulta da necessidade O SAAS obedece, designadamente, aos seguintes prin-
urgente de combinar uma resposta de proximidade e célere cípios:
com uma ação social integrada. a) Promoção da inserção social e comunitária.
Neste contexto, representando a ação social um im- b) Contratualização para a inserção, como instrumento
portante vetor no combate à exclusão social e atendendo mobilizador da corresponsabilização dos diferentes inter-
às linhas de ação definidas no Programa de Emergência venientes;
Social, as quais fortalecem a capacidade das instituições c) Personalização, seletividade e flexibilidade de apoios
sociais de desenvolver uma intervenção que garanta novas sociais;
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d) Intervenção prioritária das entidades mais próximas 4 — O SAAS pode funcionar cumulativamente nas duas
dos cidadãos; modalidades referidas no n.º 1.
e) Valorização das parcerias para uma atuação inte- 5 — Sempre que se justifique uma intervenção comple-
grada; mentar, na modalidade referida na alínea b) do n.º 1, devem
f) Intervenção mínima, imediata e oportuna. ser acionadas, em parceria, outras entidades ou sectores da
comunidade vocacionadas para a prestação dos apoios mais
Artigo 5.º adequados, designadamente da saúde, educação, justiça,
Entidades promotoras emprego e formação profissional.

O SAAS pode ser desenvolvido pelas seguintes enti-


dades: CAPÍTULO III
a) Instituições da administração pública central e local; Funcionamento e Organização
b) Instituições Particulares de Solidariedade Social e
equiparadas; Artigo 7.º
c) Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Funcionamento

1 — O SAAS deve ter um horário de funcionamento


CAPÍTULO II adequado às necessidades das pessoas e famílias e às mo-
Intervenção dalidades de intervenção.
2 — O SAAS deve assegurar, no mínimo, 6 horas diárias
Artigo 6.º de atendimento.
3 — O SAAS dispõe de Livro de Reclamações, nos
Modalidades de intervenção termos da legislação em vigor.
1 — O SAAS pode funcionar nas seguintes modali-
dades: Artigo 8.º
a) Atendimento Social; Regulamento interno
b) Acompanhamento Social. 1 — O SAAS possui obrigatoriamente regulamento
interno, do qual deve constar, designadamente:
2 — A modalidade prevista na alínea a) do número
anterior, consiste num atendimento de primeira linha, a) Modalidades de funcionamento;
personalizado, que responda de forma célere e eficaz às b) Horário de funcionamento;
situações de crise e ou de emergência sociais e desenvolve c) Constituição da equipa técnica;
as seguintes atividades: d) Os direitos e deveres dos utilizadores do serviço.
a) Atendimento, informação e orientação de cada pessoa 2 — O regulamento interno é dado a conhecer aos uti-
e família, tendo em conta os seus direitos, deveres e respon- lizadores do serviço e afixado em local visível e de fácil
sabilidades, bem como dos serviços adequados à situação acesso.
e respetivo encaminhamento, caso se justifique;
b) Informação detalhada sobre a forma de acesso a re- Artigo 9.º
cursos, equipamentos e serviços sociais que permitam às Processo individual
pessoas e famílias o exercício dos direitos de cidadania e
de participação social; 1 — É obrigatória a organização de um processo indi-
c) Avaliação e diagnóstico social, com a participação vidual, do qual deve constar:
dos próprios; a) Caraterização individual e familiar;
d) Encaminhamento, sempre que se justifique, para a b) Diagnóstico social e familiar;
modalidade de Acompanhamento Social; c) Contratualização para a inserção;
e) Atribuição de prestações de carácter eventual com a d) Relatórios sobre o processo de evolução da situação
finalidade de colmatar situações de emergência social e familiar;
de comprovada carência económica. e) Data do início e do termo da intervenção;
f) Avaliação da intervenção;
3 — A modalidade de Acompanhamento Social destina- g) Registo das diligências efetuadas.
-se a assegurar apoio técnico, tendo em vista a prevenção e
resolução de problemas sociais e desenvolve as seguintes 2 — Nas situações em que se verifique exclusivamente
atividades: o atendimento social, o processo individual é constituído
a) Aprofundamento do diagnóstico social já realizado apenas pela caracterização da situação e diagnóstico social
na modalidade de Atendimento Social; e familiar.
b) Planeamento e organização da intervenção social; Artigo 10.º
c) Contratualização no âmbito da intervenção social; Contratualização para a inserção
d) Coordenação e avaliação da execução das ações con-
tratualizadas; 1 — No âmbito do acompanhamento é estabelecido
e) Atribuição de prestações de carácter eventual com a um compromisso, reduzido a escrito, entre os agregados
finalidade de colmatar situações de emergência social e familiares e os técnicos do SAAS, onde se definem as
de comprovada carência económica. ações a desenvolver, os apoios sociais a atribuir e as res-
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ponsabilidades e obrigações das partes, assim como os e) Comunicação às entidades parceiras envolvidas no
objetivos a atingir. processo de intervenção social das alterações que se veri-
2 — O acordo estabelecido deve ser previamente va- fiquem durante o processo de acompanhamento social;
lidado pelos parceiros, entidades ou serviços da comu- f) Identificação de estratégias e metodologias de trabalho
nidade cuja intervenção seja necessária à execução do inovadoras;
compromisso. g) Interlocução e promoção das relações interinstitucio-
Artigo 11.º nais, com responsabilidades sociais no território;
h) Avaliação contínua do SAAS, possibilitando adapta-
Equipa técnica ções e modificações necessárias a uma intervenção eficaz.
1 — A intervenção técnica do SAAS é assegurada por
uma equipa multidisciplinar organizada em função das es-
CAPÍTULO IV
pecificidades das modalidades de intervenção e de acordo
com referenciais médios do número de pessoas e famílias Instalações
atendidas e ou acompanhadas.
2 — As equipas técnicas são compostas por técnicos Artigo 13.º
com formação superior, nas áreas de ciências sociais ou
Instalações
humanidades.
3 — Na constituição das equipas técnicas é obrigatório As instalações devem ser adequadas e reunir condições
que, pelo menos, um dos técnicos possua formação superior de segurança de pessoas e informação, de privacidade,
na área de serviço social. funcionalidade e conforto, nomeadamente em matéria de
4 — As equipas técnicas são dirigidas por um coorde- edificado, segurança e higiene no trabalho e acessibilida-
nador com formação superior e compostas da seguinte des, nos termos da legislação aplicável.
forma, considerando as respetivas modalidades:
a) De atendimento social, com referência a uma média CAPÍTULO V
anual situada entre os 200 e 300 atendimentos mensais,
por dois técnicos superiores; Rede Local
b) De acompanhamento social, com referência a uma
média anual situada entre os 150 e 225 acompanhamentos, Artigo 14.º
por três técnicos superiores; Rede Local
c) No caso de serem desenvolvidas as duas modalidades
em simultâneo, com referência às médias anuais definidas 1 — O SAAS pode integrar a Rede Local de Inserção
nas alíneas a) e b), a equipa técnica do SAAS é composta Social, nos termos do Despacho n.º 12154/2013, de 24 de
por quatro técnicos superiores. setembro, por forma a garantir-se uma intervenção arti-
culada e integrada de entidades com responsabilidade no
5 — A afetação do coordenador deve ser de 50 % na desenvolvimento da ação social.
modalidade de atendimento social, de 75 % na modalidade 2 — As entidades promotoras do SAAS que pretendam
de acompanhamento social e de 100 % quando sejam de- integrar a Rede Local, para além do disposto na presente
senvolvidas as duas modalidades em simultâneo. portaria, ficam sujeitas às regras de operacionalização
6 — Quando o SAAS funcione integrado num estabe- definidas pelo Instituto da Segurança Social, I. P., e apro-
lecimento de apoio social, a coordenação pode ser asse- vadas pelo membro do Governo responsável pela área da
gurada pelo diretor técnico desse estabelecimento, desde segurança social, as quais são publicitadas no sítio oficial
que respeite a afetação prevista no n.º 5. www.seg-social.pt.
7 — Sempre que as circunstâncias o justifiquem, a
equipa técnica pode ser ajustada ao número e situação CAPÍTULO VI
específica das pessoas e famílias.
Avaliação, acompanhamento, e fiscalização
Artigo 12.º
Artigo 15.º
Competências da equipa técnica
Avaliação e acompanhamento
Compete à equipa técnica do SAAS:
1 — O SAAS deve conceber processos de avaliação
a) Atendimento, informação e orientação das pessoas sistemática, promovendo a participação de todos os inter-
e famílias; venientes, designadamente técnicos, pessoas e famílias.
b) Instrução e organização do processo individual; 2 — Compete ao Instituto da Segurança Social, I. P.,
c) Cooperação e articulação com outras entidades e o acompanhamento das condições de organização e de
serviços da comunidade, designadamente nas áreas da funcionamento do SAAS, devendo providenciar os instru-
educação, da saúde, da justiça, da segurança social e do mentos e os meios adequados ao respetivo processo.
emprego e formação profissional que se revelem estraté-
gicos para a prossecução dos objetivos de inserção; Artigo 16.º
d) Encaminhamento das pessoas e famílias para outra
Fiscalização
entidade ou serviço, sempre que resultar da avaliação e
do diagnóstico social a necessidade de uma intervenção 1 — Cabe ao Instituto da Segurança Social, I. P., fisca-
especifica em outra área de atuação; lizar o cumprimento do disposto na presente portaria.
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2 — Para efeitos do disposto no número anterior, a máximo de 18 meses a contar da data de entrada em vigor
entidade promotora do SAAS deve facultar o acesso às do presente diploma, adequar-se às normas e condições
instalações e à documentação tida por conveniente. previstas no mesmo.

Artigo 18.º
CAPÍTULO VII
Entrada em vigor
Disposições Finais
A presente portaria entra em vigor 30 dias após a data
Artigo 17.º da sua publicação.
Adequação progressiva
O Ministro da Solidariedade, Emprego e Segurança
As entidades que tenham em funcionamento serviços de Social, Luís Pedro Russo da Mota Soares, em 11 de se-
atendimento e acompanhamento social devem, no prazo tembro de 2014.

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