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“FOVSOBUVSVovsvewvuyovwyy 2 a FSF SOS Oo SOK ST SEU S BOOTS BTM DE ESTE AD - AAU EaAAsTEOA. 2° UNIVERSIDADE DE SAO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIENCIAS HUMANAS Dissertacio de Mestrado A GUERRA CIVIL EM ANGOLA: DIMENSOES HISTORICAS E CONTEMPORANEAS Marco Antonio Liberatti Orientador Braz de Araujo Sao Paulo, 1999 FOSSETT SU IT SSUHVSEUsesseggss. FSS Vrs ss oe oe es CAPITULO 3 ANGOLA, 1976-1988: GOVERNO E GUERRILHA 3.1 « O Governo do MPLA Apés a independéncia e sua consolidagdo no poder em Angola, o MPLA tinha diante de sio atraso herdado da era colonial e as expectativas da populagio depois de décadas de opressio ¢ conflitos, Era necessério definir as politicas que serviriam de base para a construgao do pais Entretanto, o faccionalismo no interior do MPLA ressurgia como um sério obsticulo a0 consenso e 4 governabilidade Conforme examinado anteriormente, durante a luta anti-colonial, o MPLA atraiu, por um lado, negros © mestigas educados e, por outro, infiltrou-se entre deslocados e ex- camponeses marginalizados nas cidades Entretanto, o proprio distanciamento social existente entre sua casta dirigente ¢ sua base popular constituiu - e ainda constitui - um obstaculo inerente & coeséo do MPLA "* ‘Antes mesmo do novo governo da Repiiblica Popular de Angola poder asseguret sua autoridade, Nito Alves, lider da facgdo ultraesquerdista poder popular procurava explorar clivagens raciais em beneficio de sua disputa pessoal por poder Alves ¢ seus seguidores criticavam © governo por seu acentuado mimero de brancos € mestigos e consideravam sua politica econémica muito austera Em outubro de 1976, apés descobrir seus planos de conspiragao contra o governo, o MPLA condenava Alves por faccionalismo. Tendo seus Planos frustrados, os rebeldes lideraram um golpe em maio de 1977, em Luanda. Embora tenham fracassado, varios lideres de destaque do MPLA foram mortos 60 WISWYISEFSRESHCHES: @ és OST PE GUSTS OCIS VUE 8 é P) SeaIKO DE ESTU “36 aFRO- acute: Ehnasste3 © regime de Agostinho Neto, que mal inaugurava sua administragio no novo pais independente, estava alarmado pelas ameagas de fragmentagio do governo Foram realizados expurgos macigos e estima-se que entre quatro € cinco mil pessoas “desapareceram” Com uma intensa campanha de reestruturagio de seus comités nacional € provincianos, 0 MPLA reorganizava-se Tal como abordado nos capitulos anteriores, 0 MPLA, que antes da independéncia Podia ser considerado como uma coalizo de varias facgGes nacionalistas ¢ soci istas, era fortemente influenciado pelo marxismo, Por outro lado, 0 proprio Agostinho Neto considerava que seu movimento nao tinha uma ideologia definida Apés a independéncia, ‘no entanto, crescia a énfase na transformagzo socialista de Angola, particularmente apés 0 Primeito Congresso do Partido, cm 1977 O partido afirmou sua posigio marxista- leninista e mudou seu nome para MPLA - Partido do Trabalho Até as mudangas constitucionais do i io dos anos noventa, 0 governo esteve formalmente subordinado ao MPLA Os Orgéos governamentais em funcionamento em nivel nacional eram 0 Comité Central, 2 Divisio Politica do MPLA ¢ 0 Conselho de Ministros, responsavel pela implementagao das politicas do partido A Assembléia do Povo, estabelecida em 1980, era eleita por um sistema de voto indireto por membros da Partido Com 350 membros, tinha pouca influéncia e nfo representava adequadamente as ‘mulheres, camponeses e trabalhadores A maioria dos membros eleitos eram provenientes das reas urbanas ¢ eram, em sua maioria, funciondrios do governo e militares. Por outro lado, a caracteristica mais acentuada do sistema politico vigente no pais era a forte Concentragio de poder nas mios do presidente, que era lider do partido, Chefe de Estado ¢ comandante-em-chefe das Forgas Armadas."? ‘pass, John A.A Quarter Century of War, in: Kitchen, Helen (ed) Angola, Mazambigue and the West, The ‘Washington Papers, 130, New York, Praeger. 1987, p 15 "*Tvedten, op cit, p46 61 CF TITTIES SVUGTVUVVSIVsSssTIIIVIdIsss » > > a a > > 2? Tanto o partido quanto o estado desenvolveram instituigdes polticas que atingiram os diversos niveis de representagio - provincias, distritos, comunas, vilas e cidades. Foram criadas no pais dezoito provincias, eada qual com um comissirio que atuava como chefe do partido e representante do governo O partido einda estava presente em cada uma das 163, municipalidades © das 532 comunidades através de um delegado do partido. E Finalmente, nas vias ¢ cidades havia um coordenador eleito que era um membro local do partido. Elas também possuiam comités eleitos que regularmente se encontravam para a discussio de problemas locais Por outro lado, os conselhos militares regionais eram os 6rgaos politicos mais importantes fora de Luanda e estavam diretamente ligados ao presidente O poder do estado concentrava-se nas mios desses representantes militares Portanto, Angola desenvolveu-se como um estado fortemente centralizado e com o poder nas mos de uma Pequena elite politica e militar A escassez de recursos, a falta de capacidade adminjstrativa, os conflitos entre interesses locais e partidarios ¢ a obrigagdo de consultar Luanda na maior das decisdes limitavam em grande parte o papel dessas instituigdes " Com relagéo ao sistema judiciario, a Constituigio adotada em 1975 estipulava um Judiciério independente, mas de 1976 até o inicio dos anos noventa a principal insténcia Juridica foi o Tribunal Revoluciondrio do Povo, que interrogava prisioneiros acusados de Por em perigo a seguranca do estado ou de sabotagem econdmica. Eram comuns es arbitrariedades e um tribunal de apelo nio seria criado até 1980. Cortes militares foram estabelecidas em 1983 Além das instituigdes estatais, ‘grupos politicos filiados ao MPLA, considerados como organizagdes de massa, serviam de elo entre o aparato burocrético-administrativo do estado angolano e sua sociedade A Organizagdo das Mulheres Angolanas, a Juventude ei "Ibid, pp 46-47 tp as 62 vy EUUuUUUY vy vy weer ey eee YOU EEUU YEUUY do Movimento Popular de Libertagdo de Angola e a Unido Nacional dos Trabalhadores ‘Angolanos (UNTA) sto exemplos dessas organizagdes De todas elas a UNTA talvez tenha sido @ mais relevante em face do desafio da reconstruggo nacional e da transigo Para economia socialista Era importante para o MPLA ter uma forga de trabalho organizada eeficiente, Por volta de 1984, a UNTA contava com 600 mil trabalhadores em ‘uma populagio economicamente ativa de 4 milhes Contudo, seu impacto foi limitado Plas tarefas contraditorias de criar um sistema sindical forte e independente e de manter a Produtividade ¢ a disciplina no trabalho de acordo com as diretivas do partido ' Em comparagio com outros estados afticanos, muitas vezes considerados na Nteratura como “estados fracos", Angola - © também Mogambique - enffentava dlficuldades ainda maiores para a implementagao de politicas © estado colonial portugués Sr excepelonalmente burocritico e ineficiente, © que constituia um legado colonial cujo Peso em muitos setores era bem maior do que o exercido pela ideologia socialista Era o areabougo institucional colonial que, em muitos casos, servia de base para o Funcionamento do estado As condigdes tomavam-se ainda mais precérias apés 1975, ‘endo em conta que os furcionirios possuiam um nivel de insrugdo dasticamente menor que o dos portugueses que antes dominavam a administragao da colénia Do ponto de vista econdmico, © cenério pés-independéncia apresentava, além dos Staves problemas estruturais, forte queda na produgio agricola A economia havia se ‘omado fortemente dependente do setor petrolifero, que permaneceu coino a maior fonte de divisas do pais ao longo dos anos oitenta. ‘Uma das principais prioridades do regime de Agostinho Neto era o reparo da inftae sstrutura Pontes, estrades, veiculos, enfim, meios essenciais para a distribuiggo de alimentos © demais géneros de primeira necessidade estavam seriamente danificados e "ia "Ibid p27 63 COTS GSS OOO FEOF PUI SIS VOwWIVDIS HED SFUVSVGIGS levaram 20 colapso do sistema de tibuigdo Antes uma exportadora de alimentos, Angola teve de importar crescentes quantidades de géneros alimenticios Embora nfo houvesse em Angola uma politica de nacionalizagdo dos estabelecimentos produtivos e comerciais, estes passaram, na pritica, para o controle do estado Consistiam, em grande parte, em empresas abeandonadas por seus proprietérios ou desativades quando investidores estrangeiros retiraram seu capital Com excegao do Petréleo, nenhum setor econdmico chegou a apresentar uma recuperagao substancial ap6s a independéncia Tanto nos governos de Agostinho Neto quanto de seu sucessor, José Eduardo dos Santos, o MPLA demonstrou um grau consideravel de pragmatismo econdmico, evidente wna sua parceria com a empresa norte-americana Gulf Oil para a exploragio de petroleo em Cabinda. A despeito do fato de os EUA nao terem reconhecido o regime do MPLA, a exportagio de cerca de US$ 600 milhoes em Petréleo ao ano para os Estados Unidos na década de oitenta colocava Angola em terceiro lugar em sua lista de parosiros comerciais na Aftica Austral No entanto, 0 Petréleo, que chegou a representar cerca de 75% das divisas do estado, tinha quase metade de seus rendimentos destinado aos gastos militares, decorrentes em grande parte da manutengéo de 25 mil soldados cubanos e de outros 10 mil téenicos cubanos, soviéticos e europeus (do leste) Por outro lado, a Unio Soviética nao demonstrou disposig’o em fornecer uma assisténcia econdmica maciga que permitisse ao governo angolano superar seus maiores obsticulos econémicos Na verdade, as relagdes entre Luanda e Moscou apés @ independéncia passaram por fortes abalos Segundo algumas liderangas angolanas, Moscou teria dado apoio & Nito Alves, adversirio de Agostino Neto, durante sua ‘entativa de golpe, em 1977.0 embaixador sovitico em Angola chegou a ser expulso do 5 Warner, op. cit , pp. 4445. "Marcum, A Quarter Century of War, op cit, p 21 64 Pres Ievssdisdssss Vee da a a ea) » als, evento que marcou a fase mais critica na relagao entre a URSS e 0 MPLA" Isso contrastava com a posi¢go de Havana, que durante 0 golpe manteve todo seu apoio 20 regime de Agostinho Neto e apés o episédio, chegou a aumentar seus efetivos em Angola de 15 mil para 19 mil homens "* De certa forma, no cenirio pés-independén 4 relagdo do MPLA com seus dois Principais apoiedores externos apresentava um perfil semelhante aquele vigente durante 0 conflito anti-colonial € 2 guerra civil As divisGes intemnas continevam no MPLA e Moscou permanecia sensiveis a elas, particularmente em fungio das diffceis relagoes de Agostinho Neto com as autoridades soviétieas, As relagBes com Moscou s6 ao pioraram em fungdo das tentativas norte-americanas de intervir em Angola em 1978°, da persistente agressividade da Aftica do Sul em perseguigdo as guertilhas da SWAPO alojadas no sul de Angola ¢ da crescente ameaga decorrente do fortalecimento da UNITA ‘Um dos desafios mais importantes do MPLA apés a guerra civil era assegurar-se de que nem as forgas da FNLA, de Holden Roberto, nem as forges da UNITA, de Jonas Savimbi, pudessem ressurgir como fortes adversérios. Para tanto, o regime teria de ser capaz de ir além de sua prépria base étnica, ou seja, aos mbundos de Luanda e arredores, com o fim de propiciar uma participacio ativa de todos os setores do pais em sua estrutura O esforgo teve maior éxito com a populagdo bacongo - aproximadamente vinte porcento da populagao de Angola - do que na base de apoio da UNITA, formada pelos ovimbundos." tm Bender, Gerald The Bogle and the Bear in ngola, ANNALS, AAPSC, January 1987, p 128 "Cr Apéndice “© govemo do presidente Carter, embora marc 28 quais destaca 3 erescente nos anes oitenta, foi {gnrolada somente mediante apoio cavidticoe cubano ao MPLA. CI Bender, op eit, pp 128.129 °° Marcum, i Quarter Century ef War, op cit, pp. 22.23 65 2 2 é a 2 > 9 t o SUS PU TU US LSS B'S SS SBSiTS' oS oe Tal como a UNITA, 2 FNLA procurou restabelecer-se apos a guerra pela independéncia como uma guerrilha pequena em reas nas quais atuava durante 0 conflito anti-colonial, ou seja, nas areas florestais do norte de Angola proximas a fronteira com 0 Zaire, Entretanto, o MPLA agiu com rapide para integrar os povos de lingua quicongo (bacongos) a vida politica e econémica da Repuiblica Popular de Angola ™ Mas enquanto alguns rebeldes pudessem usufruir de suas areas tradicionais de refiigio e treinamento no Zaire, estes permaneceriam no apenas como ameaga ao MPLA, mas também como um sério contencioso entre o Luanda ¢ Kinshasa Angola, por outro lado, ainda abrigava rebeldes catangueses exilados Apenas apés duas incursdes dos catangueses na provincia zairense de Shaba, - 0 que colocou em risco a autoridade de Mobutu e a integridade do Zaire - € que Agostinho Neto foi capaz de chegar a um acordo com o ditador do imenso pais centro-afticano em julho de 1978. Em troca do controle sobre os catangueses ¢ 0 estimulo ao seu repatriamento, Agostinho Neto Persuadiu Mobutu a fechar as bases da FNLA e a expulsar Roberto de seu pais Desacreditado e sem apoio, Roberto seguiu para o exilio em Paris "! Com relagio & UNITA, no entanto,-o regime no teve o mesmo ito Durante os dois primeiros anos apés sua derrota para o MPLA, Jonas Savimbi procurou manter-se discreto. Ble priorizava a organizagao de seu grupo nas areas remotas do sul de Angola, as mesmas que os portugueses chamavam de terras do fim do mundo. Em 1977, os ingurgentes langavam seu primeiro ataque contra 0 MPLA, em uma pequena cidade no centro do pais. Em dois anos, Savimbi seria capaz de atingir a estrada-de-ferro de Benguela em qualquer ponto de seu extenso trajeto. Nos anos oitenta, com a renovada intensificagdo da intervencao externa, a UNITA tornava-se uma séria ameaga a Luanda. "bid Conforms desta 9 autor, foi desenvolvida uma efcaz poliea de cooptagéo, que resultou 1a diversiGicagso ‘nica do MPLA, evidente na sua poderost divisto poltiea Em 1976, esta contava com seis mbundos, urn bacon, lués mesvigos e dois angolanos de Cabinda, Pouco depois, em 1979, quatro mbunvos, dois mesicas, tes bacanos © ois cabindenses compunham 0 éreto! A politica de cooptagio envolvia ainda a disribuigdo de slgumas posigbes ‘agministrativas entre anligos lideres da FNLA, SHbid, p 23 66 > i > 2 S 2 > » Mesmo apés mais de trinta anos de beligerancia em Angola e terminada a Guerra Fria, ~ em um contexto no qual a intervengao externa assume novos pardmetros, - © confronto entre © governo ¢ a UNITA tem sido marcado por fases de conffitos e precarios acordos de paz. As dificuldades do cenério contemporaneo também so resultado do acentuado fortalecimento da UNITA nos anos oitenta € no inicio dos anos noventa. Na préxima Seqfo, so examinadas as razies pelas quais o regime do MPLA ndo foi capaz de sobrepor-se 4 UNITA até seu desaparecimento como forga insurgente e os principais fatores que serviram de base para o crescimento da insurgéncia em Angola 3.2- A insurgéncia cresce: o fator UNITA Se por um lado 0 MPLA foi capaz de desarticular a ameaga representada pelos rebeldes remanescentes de FNLA no norte de Angola através de sua estratégia de cooptacdo dos bacongos, o mesmo nao se pode afirmar com relagdo as sociedades do centro-sul de Angola, - os ovimbundos © outros grupos menores como os chokwe, Sanguela ¢ ambo, Os ovimbundos, que representam mais de um tergo da populagdo de Angola, estavam praticamente ausentes na divisio politica do MPLA e eram menos de 10 Porcento no Comité Central do partido. "> Varios aspectos mostram as limitagées para que esses segmentos étnicos, Particularmente os ovimbundos, fossem incorporados pelo regime A centralizagio excessiva do ‘aparato estatal’ atrasou o estabelecimento do MPLA fora das éreas urbanas destribalizadas, assim como a inabilidade de Luanda em reviver a produgao agricola e em Providenciar bens ¢ servigos essenciais para as vastas éreas do centro e do sul de Angola teria contribuido para a “manutengao e crescimento” do apoio 4 UNITA ™® A insurgéncia 67 Svs I sd d wed ow Uyvuvuwse oS ve o 2 2 > a a > @ 2 ® ® 2 crescia onde o estado nao era capaz sequer de estar presente e de prover servicos minimos & populagao * Marcum destaca ainda um fator de particular interesse para se compreender a sobrevivéncia e o fortalecimento da UNITA: a rigidez doutrinaria do MPLA com relagio 4s questdes religiosas Segundo 0 autor, “ignorando a forte relagdo histérica entre o desenvolvimento do nacionalismo angolano ¢ as atividades educacionais das missdes Protestantes reprimidas durante 2 era colonial, os idediogos do MPLA montaram um ataque marcista-leninista linha dura as igrejas angolanas, tanto protestantes quanto catélicas. O resultado foi a conversao das igrejas em um foco organizado de oposigiio * Por outro lado, Savimbi, - um produto da educagdo protestante, - ¢ sua UNITA contavam com a simpatia das congregagdes urbanas e do apoio ative da Church of Christ in the Bush [Igreja de Cristo na Selva)" Conforme apontado anteriormente, Savimbi interessava-se pelo maoismo desde as lutas anti-colonais nos anos sessenta A tinica chance de sucesso para seu movimento estava na nogo maofsta de consolidar a insurgéncia através de uma populagdo camponesa politicamente educada - tarefa que ndo paderia ser atingida do exilio, razdo pela qual, na década de sessenta, priorizava formar seu grupo dentro do territério Apés 1976, a UNITA se reagrupou nas areas remotas do centro-sul de Angola ‘manteve-se discreta inicialmente O desenvolvimento da UNITA a partir do final dos anos oitenta até o inicio da década de noventa permite identificar algumas das idéias que serviram de base para a atuagiio de muitas insurgéncias neste século. Uma breve * © que nto surpreende em face das condigées precirias do govermo do MPLA. Por outro lado, isso ¢ comum em ‘muitos confites onde atuam insurgentes Os zapatisias, no México, e as FARC, na Coldmbia, so exemplos cexpressivos do que pode acontecer, sob cerms condigées histéricas © geogrificas, quando grupos. socials ‘arginalizados de regites periféricas sio privados dos serviges isicasofececidos pelo estado * Una exci em pst, fois Ize Mets, com bse eito muda e com aos hstricos com o MPLA -0 pai de Apostino Neto era um pater mecdisia, ¢ '™ Marcum, op cit, pp 25-26, 68 Hie DSW ST Ww IS OS explicagao dessas idéias pode contribuir para a melhor compreensio do perfil da UNITA ¢ da dinamica do conflito em Angola do final dos anos setenta até a atualidade 3.2.1 - Alguns fundamentos da insurgéncia e sua aplicagéto UNITA Pode-se considerar que quatro autores 80 particularmente relevantes para os undamentos da insurgéncia: Sun Tzu, Mao Tsé-tung, 0 general vietnamita Vo Nguyen Giap e Che Guevara, dos quais os trés primeiros sao os mais importantes no exame da UNITA Nao € 0 propésito deste trabalho discutir pormenorizadamente o pensamento de cada um deles, mas apontar de que forma eles podem ter influenciado Jonas Savimbi ¢ como tal influéncia se refletiu nas formas de organizagio ¢ atuagdo da UNITA. ‘A sintese dessas idéias também permite delinear um modelo de agao da insurgéncia Coerente com a dindmica do conflito em Angola Para tanto, convém destacar as contribuigdes de Snow’, onde se pode encontrar sintese clara ¢ didatica dos fundamentos da insurgéncia Sun Tzu, que pode ser considerado o pai da insurgéncia moderna, viveu na China hi cerca de 3 mil anos em um periodo marcado por levantes dinisticos no pais ¢ serviu a ‘Varios senhores de guerra como conselheiro militar. Sua mais famosa obra A Arte da Guerra, popularizada no Ocidente através de Mao Tsé-tung, Sun Tzu foi o primeiro a utilizar a nogio de aproximagéo indireta e sua idéia era, em esséncia, a de evitar 0 contato aberto com o inimigo a nio ser em circunstincias de vantagem esmagadora: “quando o inimigo avanga, nés recuamos, quando o inimigo para, 6s 0 molestamos; quando o inimigo procura evitar @ batatha, nés 0 atacamos; quando 0 "Snow, Dena M Dis Thunder, Pater of Conf n the Developing World New York, ME Share, 1997 69 osu ‘ oe woe eet SOCSS TE FSW GU inimigo se retrai, nos o perseguimos”" Sua obra também enfatiza a importincia de conhecer 0 inimigo ¢ sua estratégia A Arte da Guerra tornou-se um clissico e sua maior contribuigdo foi a de fornecer uma base tedriea para uma estratégia de movimento e evasto. As idéias de Sun Tzu influenciaram Mao Tsé-tung, que teve grande influéncia em muitos movimentos insurgentes neste século. Entretanto, conforme destaca Snow, a obra de Sun Tzu nao explora a relago entre 0 ropésito politico da guerra e seus meios militares, Na insurgéncia modema, por outro lado, 0 aspecto politico tornou-se essencial Foi Mao Tsé-tung, seu leitor, que acrescentou 420 pensamento milenar de Sun Tzu a dimensto politica Mao influenciou a insurgéncia moderna de duas formas: em primeiro lugar, ao adeptar as estratégias de Sun Tau A sua época, marcada por tumultos internos e pela invasto japonesa em seu pais - processo no qual definiu um estilo de guerra de insurgéncia conhecida como guerra de guerritha mével; e, em segundo lugar, enfatizou a nogdo de politica de mobilizagaio de massas ¢ a relagio inextricdvel existente entre a base de apoio Politico da insurgéncia (a populagao) e o conflito militar 57 E recorrente, em seu pensamento, @ necessidade de descnvolver ¢ manter wim forte {ago entre a populagio e a insurgéncia: “nossa missio central & a de mobilizar as massas Para que tomem parte na guerra revolucionéria [. ] devemos liderar a luta dos camponeses pela terra e distribui-las a eles, levantar seu entusiasmo pelo trabalho e aumentar a Produgio agricola, proteger os interesses dos trabalhadores” Assim, a guerra de py, Sua Tau it: Snow, Ibid, p. 67 Cf Sun Te, The Are of War, Oxford University res, 1963. Hi también eedigdo ‘binslcira, com precio de James Clavell Editora Record, Rio de Janeiro, 1996) SY Snow, op cit p68. Pode-se perceber que Mao odaptou principios de Clausewitz & guerra interne 70 wuyrsud vevy ~ ove SuUvveuwwed oes z > Dd a BVeTsOUUTE ou inimigo se retrai, nos o perseguimos”' Sua obra também enfatiza a importancia de conhecer o inimigo e sua estratégia A Arie da Guerra tomou-se um clissico e sua maior contribuigéo foi a de fomecer luma base teérica para uma estratégia de movimento e evasio. As idéias de Sun Tzu influenciaram Mao ‘Tsé-tung, que teve grande influéncia em muitos tmovimentos: insurgentes neste século. Entretanto, conforme destaca Snow, a obra de Sun Tzu no explora a relago entre 0 Propésito politico da guerra e seus meios militares. Na insurgéncia moderna, por outro {ado, o aspecto politico tornou-se essencial Foi Mao Tsé-tung, seu leitor, que acrescentou 20 pensamento milenar de Sun Tzu a dimensao politica Mao influenciou a insurgéncia moderna de duas formas: em primeiro lugar, a0 adaptar as estratégias de Sun Tzu a sua época, marcada por tumultos internos e pela invasio Japonesa em seu pais - processo no qual definiu um estilo de guerra de insurgéncia conhecida como guerra de guerrilia mével; ¢, em segundo lugar, enfatizou a nogio de politica de mot ilizagdo de massas ¢ a relagto inextricavel existente entre a base de apoio politico da insurgéncia (a populagio) eo conflito militar"? E recorrente, em seu pensamento, a necessidade de desenvolver e manter um forte ago entre a populagdo ¢ a insurgéncia: “nossa misao central é a de mobilizar as massas Para que tomem parte na guerra revolucionéria (..] devemos liderar a luta dos camponeses ela terra e distribui-las a eles, levantar seu entusiasmo pelo trabalho © aumentar a produgio agricola, proteger os interesses dos trabalhadores” Assim, a guerra de py Su Tau in: Snow, hid p 67. CE Sun Tz, The drt of War, Oxford University Press, 1963 Ha mbm a edigbo ‘byrmsiteira, com precio de fames Clavel (Editera Record, Rio de Janeiro, 1996). Snow, op cit, p. 68, Pode-se pereeber que Mao aiapiou prncipios de Clausewitz &guetr interna 70 www To VKH Bed” we ‘ ws IFO WU SOU 4 9 » % ® ® a a insurgéncia torna-se uma luta pela /ealdade do povo, ou seja, Por seus coragdes ¢ mentes ** Gabe ainda destacar que a relagio entre os insurgentes o povo se estende para além Ge base inicial de organizacio ¢ operagdo dos insurgentes, tendo em vista o propésito de sstabelecer uma ligagio com 0 povo mais forte que a ekistente entre este e 0 governo Dessa forma, Mao considera que 0 exército insurgente “precisa construir boas relagdes com aS massas, preocupar-se com elas e ajudé-las a superar suas dificuldades”, pois “o Principio de unidade entre o exército © o povo [. ] significa a manutengio de uma disciplina que proiba a menor violago dos interesses do povo” Na doutrina revolucioniria macista, a dimensto politica da insurgéncia 6, portanto, a base do sucesso Estilo de guerra este que traz a marca de Sun Tau, pois enfatiza, por um Indo, «fraqueza incil dos insurgentes, mas permite, por outro, a progressto gradual para ‘ume luta mais convencional na medida em que a insurgéneia se fortalece ¢ © govemo se Gebilta, Enquanto que a mobilidade é uma idéia jé presente em Sun Tzu, é na sua fusko om 0 aspecto politico da insurgéncia que Mao sustenta sua originalidade Mao também destacava a necessidade da insurgéncia tornar-se auto-suficiente: suas armas deveriam ser roubadss do governo ou abandonadas pelas forgas governamentais derrotadas. Entretanto, em fungio da grande diferenga de recursos em prol do govern, fontes externas de ajuda financeira e milter tém se mostrado necessirins na maior parte dos casos de insurgéncia A intervensio externa, tanto a favor de Luanda quanto a favor 2 UNITA, por exemplo, tem sido um dos pilares do conflito em Angola Ouro famoso lider, o general vieinamita Vo Nguyen Giap, empregou os ensinamentos de Sun Tar e Mao Tsé-tung, Giap ganhou notoriedade ao planejar 0 cerco bem sucedido DEMao Tsé-tung in: ibid op cit, p 68 "bid a Qvvedvdsddddddd Bey Se BS OH OU DUD y de Dien Bien Phu, em 1954, 0 que veio a ocasionar a retirada francesa do Vietna Mais tarde, adotou sua guerra popular para forear a retirada norte-americane da Indochina A guerra popular é uma variagio da forma mais geral de guerra de guerrilha mével ¢ onsiste em trés estigios, conforme esquematizado na tabela a seguir: Estigios e formas da guerra popular Estégio Forma Contengao Guerra de guerrilha Equilibrio Guerra mével Contra-ofensiva geral Guerra regular Feria Dawd Siow op Ap TT A insurgéncia tem inicio com as taticas de guerritha extraidas de Sun Tzu e tem como base evitar 0 conftonto aberto com o ini igo. No segundo estigio, de guerra mével, a aracteristica do conflito se altera Forgas maiores, mais convencionais, sto gradualmente cnvolvides em situagdes nas quais so superiores, ou revertem para a guerrtha quando mais facas Neste estégio, o propésito & alterar a balanga de poder a favor dos insurgentes, Ao se alterar decisivamente a favor destes tiltimos, tem inicio @ contra: ofensiva, onde unidades convencionais sio ‘empregadas para derrubar 0 governo ""° Pereebe-se, portanto, que o pensamento original de Sun Tau foi adaptado pelos dois “iimos autores, contemporineas do século XX, 20s seus préprios desafios ¢ realidades 72 Vuewbewerowuvveve sss BEY BS SU's Bw So , tinha diante de si um MPLA militarmente fortalecido Ao SWOTW SOS SSE historicas E possivel, no entanto, reunir os Principais conceitos dessas obras com o fim de Gelinear um modelo que auxile na compreensio de certos confltes que envolvem grupos insurgentes. Modelo de Guerra de Guerrilha Mével* Estégio—-Foreas Utilizad: Objetivo (convencionais ow guerritha) ‘Organizacional Construgao de ambas, _Recrutamento, Consolidagdo da base (contengao) evitar combate protegao sobrevivéncia Guerrilha # Utilzagio das Guerra de guerra Muda 0 equilibrio do fequilibrio) ssuerrilhas, Para desgastaro poder a favor dos treinamento de forcas inimigo insurgentes convencionais Convencional Integracdo das forgas, Destruigdo do inimigo _Tomada do poder (contra-ofensiva uso de forgas pera) convencionais eee Apés a retirada dos sul-afficanos na fase final da guerra civil em Angola, a UNITA wés de se expor a0 risco de aniquilagao, tal como fez Holden Roberto, Jonas Savimbi ¢ seus guemilheiros voltaram Para os confins acolhedores das vastas éreas habitadas pelos ovimbundos As ferras do fim de mundo iriamn fornecer-Ihes 0 santuitio, o apoio popular e 0 tempo de que necessitevam para sua reconstrugdo te ¢ we pee od be . eer para a guerre mével O Gacaseo da Ofensive do Tet, em 1968, , forgau a retzqdo dos nore-vitnamitas para os dois estgiesiniciais Apbs a retirals norte: Americana do conllite, Giap moveu-se novamente por todas as elapas da estatéia,o que reuliou no Gute de nes > > > > dD dD > a 5 Com relacio tos servigos de sade, “a UNITA afirmava ter construido seis hospitais no centro-sul de Angola, inclusive uma instalag#o com 250 leitos em seu quartel-general, Jamba [_] A despeito dos esforcos de prover cuidados mé icos, a UNITA foi prejudicada Pela escassez de médicos qualificados, que por sua vez nfo dispunham de medicamentos ¢ cawipamento cirirgico, A organizagdo teve de contar com os servigos de apenas trés ‘médicos, ¢ itens como sedativos antibiéticas eram forviecidos somente iqueles com a ‘maior necessidade [..] além dos seis hospitais centrais, 2 UNITA operou hospitais ‘eelonais ¢ 89 clinics nas areas operacionais da organizagio. Estas instalagdes médicas cram mantidas por um grupo de 2 500 funcionérios Em fungao da UNITA ter apenas trés Imédicos, 03 servigos dos centros de saiide poderiam apenas funcionar como centros de medicina preventiva Cabe ressaltar ainda que a filosofia p ica da UNITA tinha como base 0 “centralismo Gemocritico”, de acordo com o qual o debate acerca das politicas ossuia livre transito nos diferentes escaldes. Mas uma decisio, quando tomada, deveria ser seguida sem estionamento, A unidade basica do partido era a célula, que continha, em média, de trés # quatro membros, e cada qual comunicava-se com 0 Comité da Vila Um representante deste comunicava-se com 0 Comité do Distrito, que por sua vez canalizava a informagio Pats 08 comissérios regionals. Esses comissérios prestavam contas ao Comité Central Da mesma forma, decisdes tomadas no Congresso do Partido eram lirecionadas para os escaldes inferiores através da mesma cadeia de comando "7 Desde sua origem, a UNITA nao teve um perfil politico © ideolégico defnido ‘0 ‘movimento declarou-se, iniialmente, como maoiste e adotou estilos de organizagio ¢ emprego de suas forgas de acordo com os principios formulados por Mao Tsé-tung. Apos 4 independéncia, conceitos ocidentais como democracia ¢ mercado ivre foram incorporados 4 ideologia do movimento: Tais valores ram, muitas vezes, expostos & imprensa ocidental, e contrastavam oom 0 discurso transmitido aos camponeses, 0 qual eee eee eee “Ibid, pp. 98-99. 76 Sve TT Ie VUVEY we a wi we uv woe PS Seu YS gi ee Oows ooeues baseava-se no ressurgimento da hegemonia negra, de uma forma geral, e da riqueza e poder dos ovimbundos, em particular “* Diante de suas audiéncias, Savimbi procurava explorar ressentimentos herdados do assado colonial ¢ enfatizava, essencialmente, trés aspectos: apesar de ser um partido minoritério, era 0 MPLA que governava Angola; o partido mantinha-se no poder gracas as rages nio-aicanas - Cuba e URSS, por fim, ndo se tratava de um partido angolano negro, mas sim dominado por mesticos e assimilados, que mantiveram @ Angola negra subjugada "” O que mais tem se destacado na UNITA desde o seu surgimento é a forte concentragio de poder nas mos de Jonas Savimbi. Seu poder no interior do movimento parece ser ilimitado ¢ consolidado em torno do culto da sua personalidade Ha relatos de forte repressio aos dissidentes. Além disso, membros proximos de sua familia obtiveram postos-chave na UNITA. Por outro lado, tem sido notéria a lideranga politica de Savimbi, homem carismatico, bom orador e conhecedor de varias linguas. Ao longo dos anos oitenta, revelava-se como um lider fotogénico ¢ acessivel, ao estilo dos freedom fighters da época A partir de um pequeno exército em precarias condigbes, Savimbi foi capaz de erguer ‘uma organizacao politica razoavelmente sélida e uma grande forga militar Diferentemente do MPLA, a UNITA permaneceu como criago ¢ instrumento de seu fundador. Os avangos militares da UNITA nos anos oitenta foram significativos. Por volta de 1982, Savimbi declarava que seis das dezoito provincias angolanas eram zonas de guerra. No final de 1983, com apoio aéreo da Africa do Sul, 2 UNITA tomava a cidade de "Bid ,p 100 ‘8 Tyedten, op cit, p $0 Pode-se compreender que os aspectos “ocidentas” do discurso de Sevimbi esavam fortemente asociados & ajuda nore-americana ‘James Il op cit, p 102 Savimbi mantém o mesmo discurs até os dias anuis Tredten, op cit 17 OOP IOSTSIDWOO Y I-w- SSCST OOO BOW BT Bw we WOW 3 Cangamba, entio considerada como o ultimo baluarte das FAPLA no sudeste de Angola Esta operacéo marcou a mudanga da guerra de guerrlha para a guerra convencional, 20 menos no interior do pais." Em 1984, @ UNITA anunciava o inicio de uma eampanha de guerrihe urbana ¢ ja ‘ealizava atos de sabotagem em Luanda e Cabinda As cegides fronteirigas com o Zambia e © Zaire passavam para o controle dos insurgentes, 0 que possibilitava o desenvolvimento 4¢ linhas de abastecimento relativamente segures, além de rotas de infitragdo e de faga De 1984 a 1987, a UNITA ndo apenas dava continuidade ao seu avango em diregao a0 forte € 20 noroeste, como também combatia as ofensivas das FAPLA, que contavam com forte apoio militar e logistico, por parte de cubanos e soviéticos, Por outro lado, nto obstante a idemtificagio das wés fases da guerra de guerritha imovel no avango da UNITA ¢ 0 destaque dado por Savimbi, na formagio de seu movimento, & sua orgar a¢20 politica, pode-se questionar até que ponto a expansio da UNITA fol, efetivamente, resultado de adesto voluntéria dos seus recrutas © se a doutrinagao politica foi de fato mais relevante que a forga e a téenica militares Conforme observa William Minter, as idéias de Mao e Giap eram resultado de suas experiéncias pr 'cas Nos casos cléssicos do Vietna e da China, um partido revolucionério estava ligado um exército guerrilheiro altamente politzado. Entretanto, o modelo de uerilha que prega 2 importancia do componente politico o faz em fungao da assimetria de recursos existente entre 0 estado e © grupo insurgente, “condigao esta nem sempre oxistente, tal como nas guerras dos contras da década de oitenta, nas quais os estados sob staque eram mais fracos em termos convencionais do que o senso comum poderia assumir F os recursos externos disponiveis aos insurgentes na Nicarigua, Camboja, Afeganistao, 8 bid, p 239. "pie ‘Minter, Wiliam Aparted's Conras, Johannesburg, Wivaerrand University ress 1954, pp 172.173 78 UVES OVUM OY vy wi ow PO GES ES BOL Ores e ooo & Angola ¢ Mogambique, contrabalangavam em grande parte a presumida i ‘auerritha *"5 exame dos casos de Angola e Morambique, o autor questiona a relevancia da mobilizagio Politica e destaca 0 aspecto repressivo existente no sistema de recrutamento dos grupos ‘nsurgentes, © que o faz com base em uma série de entrevistas suas e de jornalistas com ox integrantes da UNITA ¢ da RENAMO A questdo levantada pelo autor é procedente, na medida em que foreas insurgentes que contam com apoio externa podem eventualmente substituir a mobilizagSo politica pela forge e pela capacidade militar técnica Com relaggo 4 UNITA, Minter constata uma diferenga entre duas geragbes de ecrutas. A primeira juntou-se ao movimento voluntariamente, principalmente nos anos de 1974-76, quando viam a UNITA como representante natural de sua identidade étnica ¢ regional, A geracio seguinte, que ingressou no movimento ap6s 1982, foi, em grande Parte, recrutada a forga. As formas de manutengao desses recrutas, segundo o autor, eram vias, entre as quais se destacavam a ameaca de execugio, 0 isolamento fisico dos reemutas de suas comunidades de origeni e o medo de sua punigio por parte do govemo caso retornassem. Outro dado extraido pelo autor de suas entrevistas é que, em termos gerais, os oficials das FALA cram voluntirios, 0 que n&o ocorria entre os soldados ordinatios, Particularmente apés 1980. Para 0 autor, as evidéncias colhidas foram suficiontes para identificar uma tendéncia clara: “o sistema de recrutamento, predominantemente voluntério em sua origem, passou a fazer maior uso do recrutamento forgado na medida om que a guerra se intensificava, Essa tendéncia faz semtido, dada a fadiga da guerra ea necessidade de grandes nimeros para a guerra convencional,”!" "Ibid, p. 173, °° Ibid, p. 178 "Ibid p. 179 79 Seve tT US UUVIosu 0 % » 2 a oe OO ear % Cee J v's Entretanto, o préprio autor reconhece que, na UNITA, “o contexto social no qual os Fecrutas forgados entravam era altamente politizado Savimbi e seus subordinados devotaram tempo para justificar sua causa; a estrutura militar estava inserida em um contexto politico Havia a perspectiva de punigdo caso o recruta nfo fosse convencido, ‘mas a persuasio pessoal de Savimbi foi uma influéncia poderosa, como também era seu quadro de seguidores devotos ""” Percebe-se que mesmo tendo em conta a intensificagio do recrutamento forgado, este aspecto nao implica, necessariamente, a auséncia, fraqueza ou menor importancia da doutrinagio politica no movimento. O aumento do recrutamento forgado pode ser umn indicio de substituigio da mobilizacao politica pela forga militar como elemento central 1a estratégia guerrilheira, mas no ¢ suficiente para a comprovacdo desta possibilidade Cabe notar ainda que o proprio autor aponta relatos que sustentavam a existéncia de conserigéo forgada nos exércitos chinés ¢ vietnamita mesmo na fase de guerrilha ™* A questo toma-se um pouco mais compiexa, no entanto, quando associada 2 um fator correlato: © apoio popular, naturalmente susceptivel @ forma de recrutamento - Persuasto ou coergo A UNITA fez uso sistemitico do contato com chefes tradicionais e com jovens ovimbundos no planalto central através de apelos nacionalistas, étnicos e a UNITA, pois compunham o maior grupo étnico de Angola e estavam destinados, portanto, a ter um egionalistas: 03 ovimbundos do sul e do planalto central deveriam ap. papel dominante na divistio do poder no pais ‘Mas ha relatos sobre a guerra que colocam em davida as possibilidades da UNITA de tomar-se representante legitimo de sua base étnica. Conforme aponta o historiador David Birminghan, “o objetivo da UNITA era o empobrecimento das zonas sob controle do Boverno através do roubo, da matanga e do incendeio indiscriminado Os sobreviventes "Ibid, p. 184 suwweso” “PS ATI SEVI SO we u que no abandonavam o local eram obrigados a marchar para as ‘zonas liberadas’, além do alcance das forgas governamentais, Mulheres e homens eram levados, assim como criangas, consideradas como futuros recrutas Para impedir o desenvolvimento econémico posterior, ferramentas agricolas eram furtadas e graos de milho comidos ou destruidos Pior ainda, os caminhos das fazendas cram cobertos por minas escondidas de forma a alejar ou matar os camponeses que tentassem retornar para suas propriedades Um dado que chama a atengio, porém, é 0 fato de que muitas das operagdes militares da UNITA ocorriam no planalto central, nas provincias de Huambo e Bié, area largamente povoada pelos ovimbundos, que sto supostamente a base politica tradicional da UNITA. Por outro lado, as forgas do MPLA, admitindo a lealdade étnica como dada, também destratavam os camponeses © os movia forgadamente para as vilas controladas pelo governo Se examinadas a luz das informagdes fornecidas por Minter, tomna-se dificil avaliar com preciso o fator que mais teria contribuido para o crescimento da UNITA como organizagio - se © comportamento das tropas do governo (e seu fracasso em lidar ‘com as estruturas tradicionais a religiosidade predominantes nas dreas rurais) ou os métodos de recrutamento e persuasio politica de Jonas Savimbi A hipdtese mais plausivel & de que a escalada do conflito Ievou a UNITA a apelar ‘cada vez mais ao recrutamento forgado ¢ a perder, gradativamente, ao longo dos anos oitenta, © apoio popular Por outro lado, © governo, com sua permanente dificuldede de atrair os ovimbundos, os manteve alienados ao regime ¢ préximos da UNITA, 0 que nio significa que, ao menos parte deles, talvez crescente, apoiasse a UNITA por motivos que fossem além de sua propria sobrevivéncia, Pode-se, contudo, admitir que havia um néicleo de figis seguidores, particularmente em Jamba, onde encontravam uma estrutura de apoio material ¢ um doutrinagdo mais sdlida que a existente na “periferia” das areas sob controle da UNITA. Cf ibid, Capitulo 7, n 7, p 199. © Bimingham, David in: Ciment, op cit, p 74 81 OOOCPUVYUVBSUVEYUUU YU EU VE DEE UE YEE e weve Por outro lado, a interveng&o externa tem sido um aspecto essencial do conilito angolano e a capacidade de organizagao e a coesdo da UNITA no poderia, isoladamente, explicar a consolidagdo da insurgéncia ¢ seu avango em Angola As intervengdes dos Estados Unidos e da Africa do Sul a favor da UNIT desempenharam um papel decisivo na configuragao do cenério politico e militar no pais nos anos oitenta e no io dos anos noventa Também foi a maior responsivel pela capacitagzo da UNITA no combate convencional A UNITA adquiriu, até o final da década de oitenta, forga para enfrentar combates convencionais por conta propria A ago guerrilheira predominou antes de 1980 ¢ na maior parte do pais nos anos seguintes Entretanto, a ocupagao do sudeste de Angola nos anos oitenta pela Aftica do Sul e pela UNITA, possibilitou o combate convencional, com uso de artitharia e avides de caga por ambos os lados do contlito Embora a UNITA contasse com os sul-afticanos para o combate aéreo, ela possula sua propria artilharia® Conforme aponta Minter, “seu efetivo passou de 15 mil guerrilheiros em 1981 para 65 mil em 1988, incluindo 28 mil regulares. Esta forga suplementada pela Aftica do Sul ao longo dos anos oitenta Das invasdes em larga escala em Angola em 1981, 1983, 1985 e 1987, as duas primeiras auxiliaram na expansio da area sob controle da UNITA, © as duas iltimas serviram pare interromper as derrotas de Savimbi, Segundo Minter, com excegdo dos anos de 1987-88, o exército convencional da UNITA desempenhou papel mais ativo no sudeste © no leste, enquanto que as forgas sul-afticanas se concentraram no sudoeste ¢ no centro de Angola ”'* De volta ao cenario politico-estratégico da Guerra Fria, os faledes entiqueceram os insurgentes € empobreceram ainda mais os angolanos, ceifaram vidas ¢ fizeram nascer uma “© Minter, op eit, p. 194 "4 thid pp 195-196 82 CeO FSCUUSBVsv vu FEUVUUEY OBO VEU oe maquina militar Angola voltava a ser palco de intensas hostilidades, que viriam a culminar na maior batalha convencional ja travada na Africa Austral 3.2.2 - O regresso dos falcées: imervengdo externa e escalada do conflito Em 1978, chegava ao poder na Africa do Sul um novo governo, de linha dura e com forte presenga dos militares Com relagio & Angola, o novo governo do Primeiro-ministro P. W Botha tinha como principal objetivo desestabilizar o governo de Luanda e colocé-lo na defensiva. Afirmava, em geral, seu comprometimento com o que chamavam de Total National Strategy, ou Estratégia Nacional Total, o que era entendida como a “a defesa do Principio inegociével do direito de autodeterminagao da nagdo branca” '“! Iniciaimente, no havia um contraste explicito entre Botha e seu predecessor, John Vorster. Mas apés a retirada sul-afticana de Angola, os militares passaram a desenvolver uma capacidade maciga para agdes secretas e abertas na regio. Como chefe de governo, Botha - que havia sido Ministro da Defesa - deu continuidade as iniciativas militares e eforgou a intengo do regime em fazer-uso de sua maior capacidade de destruigio. © orgamento de defesa entrou em espiral ascendente, Por volta de 1980, a Africa do Sul Possuia uma grande vantagem militar convencional se comparada aos seus vizinhos. Deve-se ressaltar, por outro lado, que a volta do envolvimento dos Estados Unidos em Angola foi um importante estimulo para a agressiva politica sul-afticana para o pais A ascensio de Ronald Reagan a presidéncia dos EUA marcou uma fase de intervencionismo em favor de movimentos insurgentes contra regimes pré-soviéticos O governo sul "4 CF ibid, op. cit, p38 A preocupacto do establishment su-atticano era nitida se levada em conta 6 cendrio ‘regional existente no inicio da década de otenta © pais nfo contava ras com urn condo sonitario, ou wm escudo de esiados amigaveis, que pudesse isoli-lo do “imperalismo eovitico” Angola, Mogambique, Tanzania, Zambia ¢ Zimbdbue procuravam néo apenss promover 0 isclamento econémico da Attica da Sul como também eoordennr tna politica de libertagdo na Africa Austral Restava ao regime minoriira sul-aficano contar com seu poderio militar ‘ps inibir a ago de seu vizinhos a favor da eausa anti-apartheid "2 hid 3 ’ is} 3 2 3. . 3 > a 2D i} 2? 2 a > 2 > > 2 > 2 > ; > » a > » 2 » > 2 2 a > » 2 afticano identificou na nova postura de Washington um sinal verde para levar adiante suas incursBes em Angola ‘Adela central que servi de base para o novo envolvimento norte-americano era a de engajamento construtivo, ou constructive engajement, criada pelo entéo Secretério Assistente de Defesa pare Assuntos Afticanos, Chester Crocker A presenga de tropas cubanas e de rebeldes namibes da SWAPO em Angola eram consideradas as principais ameagas. O engajamento construtive propunha que a Resolugdo 435 das Nagdes Unidas, de acordo com a qual a Aftica do Sul deveria retirar-se da Namibia e garantir a ela sua independéncia, estivesse condicionada & retirada das tropas cubanas de Angola, politica “ta também conhecida como linkage poticy. Segundo Crocker, se as ameasas apontadas pela Africa do Sul fossem climinadas, 0 pais poderia ter maiores chances de reformar 0 apartheid. Uma implicagao da linkage policy era que os EUA nio iriam reconhecer 0 governo de Angola diplomaticamente até a retirada das tropas cubanas do pais '* O regime sul-afticano, muito mais preocupado em atingir 0 moral de Luanda que em ceder em seu controle sobre a Namibia, mobilizava-se para desestabilizar Angola - assim como fazia em Mogambique através da RENAMO Entre 1981 e 1983, a Africa do Sul realizou seis grandes intervengdes, cada vez mais Profiindas e de maior duragdo. Embora 0s subafticanos afirmassem que suas invasées eram para a perseguigio das guervithas da SWAPO, o saldo de suas agdes envolvia Sempre sérios danos a alvos militares e econémicos e resultevam na morte de grande nimero de civis angolanos Em agosto de 1981, a Affica do Sul langava a Operagao Protea, uma invasio Convencional de provineia de Cunene com mais de 10 mil homens. A UNITA, por outro |ado, capturou vérias cidades pequenas na provincia sulsta de Moxico Forgas especiais pace assse==hsmsnssnmanianest ts Weieht George The Desrcion of Nain, Chicgo, Phu Pres, p 99 “Stuid, p 102 84 9 D 3. 3 2 2. 9 9 Sev Sos vuad o woo eud ow ne we BSOSSBOUY wes sul-afticanas também atacaram uma refinaria de dleo em Luanda em novembro, causando danos no valor de USS 12,5 milhdes, '“* A coordenacio dos interesses entre Washington, Pretéria e UNITA criou um estado de guerra permanente em Angola de 1981 até o fim da década. Foram anos nos quais as forgas sul-afticanas atingiram fortemente as FAPLA, 0 Exército do MPLA treinado por cubanos e soviéticos com mais de 35 mil homens e auxiliado por 50 mil milicias locais. Os invasores destruiram as comunicagSes. a infra-estrutura econdmica e cidades inteiras; fomeceram sina vastas quantidades de armas sovigticas capturadas @ UNITA ¢ desmoralizaram os soldados das FAPLA, o que facilitou a expansio das operagdes dos rebeldes angolanos ' Por volta de 1983, a UNITA estava militarmente forte, em parte pela continua assisténcia da Africa do Sul - armas, combustivel, assisténcia técnica e logistica, alimentos € medicamentos - e pelo apoio clandestino dos Estados Unidos Entre 1981 e 1985, a principal forma pela qual o governo Reagan procurou auxiliar a UNITA foi pelo ‘encorajamento da desestabilizago de Angola por parte da Africa do Sul Alm disso, os UA forneceram assisténcia militar 20 regime do apartheid no valor de US$ 28,3 milhdes entre 1981 ¢ 1983, quantia esta que contrastava com os US$ 18,6 milhdes fornecidos entre 1951 ¢ 1980." © governo norte-americano procurou ainda estabelecer canais secretos para providenciar ajuda militar a UNITA. Aftica do Sul, Arébia Saudita, Marrocos, Zaire e Israel foram encorajados pelos Estados Unidos a apoiar a UNITA. Foi montado também um esquema de tréfico de armas entre os EUA ¢ a Aftica do Sul, de acordo com o qual “Minter, op eit, p 4 Marcum, A Quarter Conor of Wor, op. cit, p. 26 Exemplo disso foi o fechomento da estrada-de-ferr de Benguela, © que impedi o fhixo do cobre do Zimbia e do Zaire e o ganho, por parte do governo angolano, de 1USSi00 milks em pedo "Wright, op cit, p 109 85 Sees S TSE D eS SVs eS HTsUdI UY io wig @ gS G8 vee Vee 68 ‘armas eram vendides pare o regime sul-afficano através de Honduras, Bélgica e Suiga, que por fim chegavam a UNITA As forgas governamentais, por outro lado, colocavam-se na defensiva, com 0 uso de {iticas como deslocamentos forgados de aldeias € 2 minagem das areas préximas is Gidades mais expostas Os soviéticos haviam forecido & Luanda armas crescentemente sofisticadas, tais como estagées moveis de radar, canhdes antiaéreos, MiG-235 e helicopteros MI-24 © dominio do ar pelas FAPLA é 0 que realmente impedia que @ UNITA mantivesse as cidades capturadas, néo obstante 0 recurso das forgas do governo 4s patrulhas motorizadas fosse questionavel em face das titicas evasivas, nio- convencionais, empregadas pela UNITA ' Com o fim de convencer a comunidad internacional de que nenhum acordo para o conflito seria possivel sem sua partcipagdo, a UNITA passou a adotar uma guerra Psicolégica brutal, na qual se destacava o seqliestro de conselheiros e técnicos estrangeiros ¢ a minagem das areas sob controle do governo, atacando o tréfego de veiculos civis ¢ militares nas estradas Com relagéo aos seqiestros, os reféns eram obrigados a deslocar-se por quilémetros: até a capital provisoria de Jamba, onde eram Soltos em ceriménias teatrais, muitas vezes conduzidas sob as luzes da imprensa dos palses dos quais provinham os reféns '”! Com relacdo & Cuba, esta procurou minimizer suas baixas no conflito limitando a articipagdo das suas unidades nas operagdes principais ¢ confinou suas atividades a Protesao das principals cidades no norte de Angola e as instalagoes criticas para a economia do pais A forga expedicionéria cubana também dedicou-se ao treinamento das FAPLA, o que permitiu a sua transformagdo, com o tempo, em um exército relativamente ' bid,p 110 © Marcum, op «i "Ibid, p 27 p27 weber s VFN TIUY 2 ® 2 a 9 > 2 a 2 > a a Proficiente de 100 mil elementos”? Entretanto, as forgas governamentais ainda encontravam sérias dificuldades em lidar com as emboscadas ¢ os ataques convencionais promovidos pela atuagio conjunta da UNITA e dos invasores sul-africanos, cada vez mais intensa a partir de 1980 A reago do governo viria em dezembro de 1983, quando as FAPLA conseguiram repelir uma grande ofensiva sul-africana com o fim de expandir sua ocupagao em Angola revés militar levou a Africa do Sul a interessar-se pela discussio de uma saida pacifica para 0 conflito, que resultaria no Acordo de Lusaka, de acordo com o qual a Africa do Sul retiraria a maior parte de suas tropas da provi ia de Cunene em troca da garantia de que aquela 4rea néo seria futuramente infiltrada pelas guerrilhas da SWAPO. Mas, conforme bem sis etiza DePelo, “a natureza reciproca da presenga cubana e sul-africana na regiio criou uma situagao intratavel na qual nenhum dos lados poderia tolerar ser o primeiro a partir Em 1985, 0 MPLA langava mais um ataque com o fim de romper a estagnagdo do conflito Seu objetivo era expulsar a UNITA de suas bases em Cazombo, proximo & fronteira com o Zaire, ¢ Mavinga, no sul do pais A operago teve éxito em desalojar a UNITA de Cazombo, mas a nova intervened sul-afticana ajudou a repelir a ofensiva governamental no sul !”* © govero angolano, além de sua frustrada ofensiva, tinha diante de si um cenério Politico ainda mais desfavordvel. O inicio do segundo mandato do presidente Reagan, em 1985, marcava também uma postura mais agressiva por parte do eixo Washington- Pretoria. Naquele mesmo ano era repelida a emenda Clark e anunciada a famosa Doutrina " DePale op eit, p. 66 "bia. |" Ibid, Os cubanos atribuiram o fracasso ds ofensiva governamental so pobre conceito de operago dos conselheiros sovitics, a quaiseram subordinados na época 87 OPOSVSUTSVVVUSUVOBSTUEOIS USI Bd dds de HFHHeHBSEY Reagan, segundo a qual movimentos insurgentes contra regimes comunistas deveriam receber apoio norte-americano."* Em janeiro de 1986, Jonas Savimbi era recebido em Washington como chefe de Estado. A ajuda ao movimento insurgente foi intensificada e chegaria a atingir, no mesmo ano, a cifia de US$ 25 mithdes Wright aponta que a assisténcia dos EUA incluia misseis antiagreos, armas antitanques, metralhadoras e combustivel Nos anos seguintes, a ajuda iria tornar-se ainda maior: USS 15 milhdes em 1987, US$ 30 millies em 1988 USS 50 milhdes em 1989.'" Enquanto isso, Savimbi expandia sua area de atuagdo em Angola Operava livremente nas provincias pouco povoadas de Cuando Cubango e Moxico € proximo & fronteira com 0 Zambia, a0 leste Os insurgentes também estabeleceram bases no nordeste do pais com o fim de obter melhor acesso ao Zaire e era ativo no enclave de Cabinda.!* A expanstio da campanha de desestabilizagéo do governo aprofundou ainda mais as relagdes de Luanda com seus aliados, particularmente Cuba Em 7 de fevereiro de 1986, Fidel Castro declarava, no TI Congresso do Partido Comunista, em Havana, que “nds estamos preparados para permanecer eth Angola dez, vinte ou trinta anos mais, se for necessario °"”? Com o fracasso de mais uma ofensiva do MPLA em 1986, Fidel Castro decidiu exercer um controle mais pessoal sobre a guerra, em um contexto no qual os soviéticos, sob a lideranga de Gorbatchev e cientes de sua experigncia no Afeganistao, jé estavam Convencidos de que a unica forma de resolver 0 conflito era a via politica No inicio de 1987, unidades cubanas comegaram a substituir as formagées angolanas ao longo da linha defensiva Namibe-Menongue e a estrutura de comando militar cubana foi reorganizada A ty Lal flo aso da UNITA, em Angola, dos main, ao Afeanistioe dos contrat, sa Niarégua I Tedten, op. cit, p 38, ° Wight, op cit, p 127 8 ia > it 88 2 2 iB 9 : 2 2 2 od 3 2 D i) a 2 > 2 2 7 2 9 2 2 2 5 Oy Dewows w e! responsabilidade total pelo planejamento e execugio da estratégia militar angolana foi transferida dos conselheiros militares sovieticos para a nova lideranga cubana Em agosto de 1987, a ofensiva angolana para a captura de Mavinga chegou a obter algum sucesso, até que uma forga-tarefa de 6 mil sul-africanos viesse ao resgate da UNITA. As forcas angolanas, diante da possibilidade de aniquilagdo, retrocederam para a cidade de Cuito Cuanavale, no centro de Angola, onde estabeleceram uma posigao defensiva. Mas as forgas governamentais encontravam-se novamente cercadas Diante da precéria situagto das FAPLA, o presidente dos Santos acionou forcas cubanas adicionais Prevendo o possivel exterminio de boa parcela do Exército do MPLA, Fidel Castro ordenou 0 despacho de mais 15 mil cubanos para Angols, 0 que resultaria em um total de 50 mil cubanos no pais Ceupando um ponto estratégico em uma juncio rodoviéria na remota provincia de ‘Cuando-Cubando, a cidade de Cuito Cuanavale era defendida por 18 mil angolanos e 15 mil cubanos e protegida por um sofisticado sistema de defesa aérea que, combinado com a proficiéncia dos pilotos do MPLA ajudava a anular a superioridade aérea anteriormente em posse da Affica do Sul. Esta, por outro lado, via a tomada desta cidade como uma oportunidade de expandir a influéncia da UNITA no centro de Angola e a possivel proclamagao de um governo provis6rio liderado por Savimbi." © confito naquela parte de Angola passava a assumir aspectos de uma guerra moderna. Tratava-se, na verdade, da maior batalha convencional travada na Africa Austral. Em dezembro, 9 mil sul-afticanos das forgas regulares e 35 mil insurgentes da UNITA, apoiados por veiculos blindados ¢ artilharia de 155 mm de longo alcance Ne DePato, op cit, p 67 'S Bid. Novos indicios do fore comprometimento de Havana com a defess do regime angolano surgiram quando Castro apontou o Generale-Divisio Amaldo Ochoa Sanchez, que entdo ecupava 0 porto de Conselneiro Millar Sénio para os sandinistas na Nicarégus, para comandar todas as forgas cubanas ema Angola. Casio orden ada ‘ume ofensiva cubona que ii, pela primeira vez desde @ ocupapio da linha defeasiva Namibe-Menongve, confar s \uopas cubanas 2 missfo de engajamento direto com as forgas sul-aicanas "pid p 68 89 SISWIFIBVIIss Gs dseesssg ‘g comegaram a atacar a cidade Nos ares, pilotos angotanos ¢ cubanos em seus MiG-23 engajavam cagas sulafricanos Estes foram os mais abatidos, 0 que permitiu reduzit sensivelmente o poder aéreo sul-africano Entretanto, os sul-africanos langariam mais uma ofensiva por terra em 23 de janeiro de 1988, quando chegaram a atingir © centro da cidade € os combates assumiram caracteristicas urbanas, com pesadas perdas para ambos os lados. Em 14 de fevereiro, com apoio da aviagdo remanescente e da artilharia sul-africana, forcas da UNITA atacaram ¢ Penetraram rapidamente a primeira linha de defesa, derrotando trés brigadas das FAPLA (Com o passar dos dias, no entanto, tomnava-se claro que a UNITA néo teria condigses de ‘manter sua posigo € penetrar ainda mais na defesa de Cuito Cuanavale A forga aérea cubana, além disso, atingia seriamente as colunas de blindados sul-afticana "* Para aliviar @ pressio sobre Cuito, Ochoa contra-atacou com duas brigadas blindadas em uma manobra de flanco que obrigou os rebeldes da UNITA a dividir suas forgas para conter a nova ameaga Por volta de abril de 1988, os cubanos haviam tomado uma extensa area em tomo da cidade atacada A tentative final dos sul-afticanos, mal-sucedida, viria em maio. Ochoa, em resposta, deslocou as formagdes cubanas ainda mais em diredo ao sul ¢ stacou um baluarte dos sul-afficanos em Calueque, infligindo iniimeras baixas entre seus defensores Os sul-afticanos, diante da possibilidade dé vasio da Namibia pelos cubanos, reforgaram suas poderosas posi¢des naquele pais com mais 50 mil homens."* © cendtio militar em Angola havia evoluido para um impasse, cuja saida apontava inevitavelmente para a solugao politica do conflito. Conforme aponta DePalo, “neste Ponto [] ambos os lados atingiram um impasse: a contra-ofensiva cubana havie expulsado os sul-afticanos de Angola, mas as formidaveis posigdes das SADF [Forgas de Défesa Sul-africanas| na Namibia dissuadiram 0 avango cubano. 0 alto niimero de baixas, 1 id. "bid "Tia 90 SOEVESOUVFGV~Id ddd sHddodsgsd ? 5 BOOS DOO OS'S © crescente descontentamento doméstico, 0 péssimo desempenho de seus aliados da UNITA e uma anélise de custo de qualquer esforgo renovado persuadia o governo de Pretoria que a retomada das iniciativas diplomaticas ere 0 curso de agdo mais prudente A despeito do éxito cubano, Ochoa também teve de se convencer que a guerra em Angola nfo poderia ser ganha militarmente, e adotou uma estratégia que permitiu a Cuba negociar um acordo pacifico em uma posi¢ao de forga ”"** 91

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