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CONHECER O OUTRO NA ENTREVISTA Solos Syrmmeneits Nas entrevistas dos enconteos terapéuticos, das triagens, das anamneses, dos historicos de casos sistematizados de modo geral,o que se busca hasica: mente é conhecer a cutea pessoa, Nessas situagdes diversas pretende-se geral- mente colher dados pessuais, familiares, sdcio-ccondmicos ¢ culturais. 8 a pare tir dessas informacGes que sio conhecidos varios fatos referentes A vidi ¢ pro- blematica da pessoa entrevistacla.A triagem é normalmente o primciro passe: para encaminhar o interessado aes yarlos servigos disponiveis A anaiinese serve para a formacio do diagnostico ¢ outras entrevistas servem part decidir a respeito da indicagio de aconselhamento, orientagio ou tenmpin. Apesar de diferentes. estas atividades sempre se dirigem ao historico da pessoa pelo re- gistro dos seus antecedentes, que chamumos de passido, O registro de antecedentes se realiza de preferéncia atraves do preenchi- mento de formulirios ja preparados, As quest6cs preparidas, contidas nos for- muldrios, estio de antemio planejadas no conteddo ¢ na seqtiéncia. Assim, encontramos cssas questées, nessa ordem: antecedentes familiares, informa- Ges sécio-cconémiicas, estrutura familiar, nivel cultural, doencas, traunias psi- quicos, ctc.,. Nay entrevistas de caniter verbal scgue-se 0 mesmo esquema c plancjamento, apesar da order: das questées ser mais flexivel. Mas. mesmo. assim, nos dois tipos de procedimento o fundantentil ¢ a dnportincia Ueeisiva dada ao registro dos antececentes sob a primazia do passado, Acoleta de dados ¢ informagdes, hoje em dia elaboruda ¢ computada com maior eficiéncia,tem a finalidade de verificar ¢ expiicar as mis Guie determi+ nam os efeitos correspondentes. Assim, da mesmil mineira que se encontra no virus da paratisia infantil a causa da atrofla dos musculos atacados ¢. por con seqliéneia, da paralisia e da diflculdade de lLocomogie dos membros aletidos, procun-se através da claboragio dos dados coletados as causits que determi: : fam. por exemplo, os sintoms ncurdticos, o desvio de conduit, 05 ¥iKias, Baseandose nos principios de causslidade ¢ determinism ¢ indigpereyl vel o procedimer:to acini exposto. Mas sera que conhever 6 outro, 6 SREY : taco, se limita A coleta de dados ¢ informagécs dos antecedentes qe Hie WHALE anibiente? Sera que conhecer o outro quer dizer fori uA ceptetlia, We. ja recer. subre ele através de coleta e elabora diudos & iaforetag Gent Rent gue o fundamental é somente a imperténcia decisiva do passadat Sent que vonhecer ésomente a elaboragho de infornugdes de ant individhin ebjetivade ¢ a aquisicao de dados no decorrer clo tempo? ~Conhecer" é derivado do fatin"Cognoscere” que. pat suit tea. ¢ formado, Por cum - gnosco - Nasco, Gnoscd - NOscO SigHIAcH comequra aprender (pelos sentidos), tomar conhecimento,exainintr, cansidcrar Gum (com) significa punto: com Os outens, Conhecer ¢ algo mais fundamental do que colctar ¢ elaborar dads ¢ in- formacdes. Para conhecer o outro, sendo este o entrevistndo, precisnmos aproximitlo, nau no sentido espacial. mas no da funiliaridade.Aproximar quer dizer tentar compreender o outra na manelra como cle vive, reage.atua, pensa € sente, Quando uma pessoa procura ser entrevistada, faz a entrevista para algo, seja para ser diagnosticada, soja para ser encaminhada ou orlentada. Esse para algo.que lamber pode ser comecar a terapia. tem a cariter de futuro, Se a pessoa interessada nfo tiver uma expectativa de algo baseado no: futuro nun- ca poderd procurar uma entrevista, O entrevistado € motivado pelt expectatt va de consulta, ocasiZo em que cvoca acontecimentos do passado para mos- Irar como se sente, pensa € atua no presente. Se detxamas a pessoa a vontade, fazenclo perguntas simples € essenciais. cla mesma evoca o passade conforme este se apresenta, Evocar 0 passado ¢ algo vivencial. e nao mero registro dos antecedentes. O historico ou a anamnese do entrevistado nao depende somente de da- dos do passailo mas € um procedimento once futuro, passado ¢ presente se fundem. O futuro desde que nascemos ate o dia de nossa morte, sempre nos motiva, nos apela para participar de nossa historice. Essa maneira cle se liber tur clo passado como algo exclusivamente deterntinista e entender o tempo nao somente como uma seqiiéncia de “agoris”. como registro de anteceden- tes, constatagio do presente c previsio conc ‘ado futur as de uma ma- neira onde o future, passade e presente apelam: juntos, foi o que Martin Heidegger nos cnsinou ¢ Medard Bess aprofundou na Daseinsanalyse. Essa maneira de compreender o existir hiunano nos possibilitou uma apre- ximag%o com o outro mals ampia ¢ libertadora, No momento em que 0 regis: iro dos antecedentes ¢ a primazia do passado determinista & superada. abri- mos também a possibilidade de atendimento de pessoas cronologicamente idosas, Oportunamente vamos expor o acompanhamento de vena pessoa de 68 anos a quem, fora de um atendimento medicamentoso € alguns sessbes palix devido a sua idade cronofégica. Conforme a visio do tempo finear ¢ determinista,o passado dessa pessoa. no tcumulo dos acontecimentos ocorri- dos. ji tinha congelado todas as possibilidades dela entrentar seus problems de wma mancim conijosa e de assumir uma vida minis ativa, criativa e feliz. Ficamos surpreendides quando, na hera em que se Hveou do pese do passado ¢ respondeu av apelo e motivacio do futuro, se flvrou da depressiio ¢ s¢ tor nou luna pessoa vealizada ¢ feliz, Conheecr 0 entrevistady nao s¢ limita a colcta de dados infurmativos ee forma objetiva a respeito dos anteccdcntes, nem as Constaligdes do presente, Se queremos nes aproximar para compreender e conhecer o entrevi staclo te: mos que partir de perguatas simples € claras pols somente assim: poderemos entender como ele pensa, age, sence, fala, gesticula. reage as sltuagdes ¢ se relactona com as Gutnis pessoas de Ambito famiiar ou soci. Bvitamos por tivas de apoio, foi negadlo a atendiniento psicoterapeéntico e psicunafitica ."Be res: guntas padronizadas ¢ esquematizadas, Preferimos perguntar e solicitar peito de, por exemplo. frustracdes, decepcdes, abalos vividos pelo entrevista: do, em vez de perguntar: “Quais os Craumas psiquicos que ocorreram em sua vida?" E muito importante também ficarmos sempre atentos aos detalles sim- ples € evidentes, que esquecemos facilmente quando presos a descobrir car sas ¢ suposicdes complicacas.Antes de. por exemplo. pensarmos muna disriimia, cerebral diante de queixas de dor de cabega, fatta de atencio. falta de concen- tracio e lembranga das coisas, € aconselivel pensarmos en primcico higar numa simples deficiéncia de vista ou numa anemia decorrente de verminose ou de falta de alimentagiio adequada. Alem disso, é também importante sem pre tentarmos esclarecer 0 sentido do que nos fala c apresenti o cntrevistado. Por exemplo. quando alguém nos diz:“Eu procurci o senhor porque sou minlto, hervoso”, A palayrt “nervoso" nos diz, tudo ¢ mada, Nervosa pode ser a entre: vista que sente, por exemplo, medo, vergonha, riiva, tensilo, ansiccde, de- cepgio ou alegeia, Eat cada caso. 0 sentido de nervosisme precisi ser eschire- cido. Atendendy 4 expectativa do entrevistado para conhecélo devemos fazer perguntis simples ¢ claras que o deixem 2 vontade para que a sua prablematl ca se mostre num evocar de ocorréncins do pussado, de forma pessoal. Nao podemos. no entanto. negligenciar como Ihe apela o futuro para que se apre- senlem as dificuldades, dividas e problemas que ele encontra, Sem o apelo do ‘uturo niio seria possivel aproximar e conhecer o outro. BIBIIOGRAFIA ur Verlag, 1972 - HEIDEGGER, M.- Sein und Zeit (1927) - Max Niemey 12" edigho. HEIDEGGER, M.- Being and'lime - Oxford. Basil Blackwell. 197? GOMES FERREIRA, A.- Dicionario de Latim-Portugués - Porto Editara Ltca, 1790

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