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Marcílio de Oliveira

Édypo Felipe de Almeida Lima

Discipulado e Mentoria
1a ed.

Curitiba
2019
© Os direitos de autoria e patrimônio são reservados ao(s) autor(es) da obra e a Faculdades
Batista do Paraná (FABAPAR). É expressamente proibida a reprodução total ou parcial desta
obra sem autorização da FABAPAR.

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Autoria do Material – Marcílio de Oliveira e Édypo Felipe de Almeida Lima

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Coordenação de Produção – Murilo de Oliveira Rufino
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Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP)
Rozane Denes (Bibliotecária CRB/9 1243)

Oliveira, Janete Maria de.


Carisma e Caráter / Janete Maria de Oliveira – 1.ed. – Curitiba : Núcleo
de Publicações FABAPAR, 2019.
57 p.

ISBN: 978-85-89487-09-2

1. Carisma (Espirito Santo). 2. Caráter – Aspectos bíblicos. I.


Faculdades Batista do Paraná. II. Título.

CDD (21. ed.) – 231

Elaboração da ficha: Rozane Denes CRB9/1243


Sumário
Apresentação dos autores.............................................................. 5
Prefácio............................................................................................. 7
Discipulado e Mentoria.................................................................. 11
1.1 Mentoria......................................................................................................... 11

1.2 Distinções e relações entre discipulado, mentoria


e aconselhamento cristão................................................................................. 13

1.3 Fundamentos da mentoria espiritual....................................................... 19

Síntese ........................................................................................... 21
O relacionamento entre mentor e mentoreado............................ 24
2.1 Características de um mentor................................................................... 24

2.2 Características necessárias a um mentoreado..................................... 28

2.3 A compreensão do outro no processo de mentoria.............................. 29

Síntese............................................................................................ 33
Mentoria e discipulado na prática................................................. 36
3.1 Como encontrar um mentor....................................................................... 36

3.2 Identificação das necessidades do mentoreado................................... 37

3.3 Estabelecendo um roteiro de ação........................................................... 43

3.4 Estabelecendo um contrato....................................................................... 44

Síntese ........................................................................................... 46
Ferramentas de apoio ................................................................... 49
4.1 Há necessidade de autoconhecimento................................................... 49

4.2 Métodos que geram crescimento............................................................. 55

4.3 Há necessidade de avaliação de desenvolvimento............................... 59

Síntese ........................................................................................... 63
Referências..................................................................................... 64

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Apresentação dos autores
Pr. Marcílio De Oliveira, formado em Administração de Empresas
pela Faculdade de Ensino Superior do Paraná (FESP); em Teologia pela
Faculdades Batista do Paraná (FABAPAR). Pós-Graduado em Psicoteologia
e Bioética pela Faculdade Paranaense (FAPAR); Mestre em Teologia pela
FABAPAR. Foi pastor de jovens na Primeira Igreja Batista de São José dos
Campos e na Primeira Igreja Batista de Curitiba. Atualmente, é responsável
pelo Ministério de Integração, Famílias e Células da Primeira Igreja Batista
de Curitiba. Atua como professor em classes na igreja desde o início do
ministério e leciona no Ensino Superior desde o início de 2018.

Édypo Felipe de Almeida Lima, formado em Música pela Universidade


Estadual do Pará (UEPA), Bacharel em Administração de Empresas pela
Faculdade Estácio de Belém, Especialista em Gestão e Docência do Ensino
Básico e Superior pelo Instituto Carreira (IC) e em Teologia pela Faculdade
Teológica Batista Equatorial de Belém do Pará (FATEBE), Bacharelando
em Teologia Faculdades Batista do Paraná (FABAPAR), técnico em violão
erudito pelo Conservatório Carlos Gomes de Belém do Pará. Foi líder de
ministério de música por 10 anos na Igreja Batista Jardim Nova Esperança
em Ananindeua, no Pará, sendo cinco anos como ministro de música e
líder de jovens.

5
6
Prefácio
Há alguns anos ouvia-se que uma das maiores carências do mundo
era a da liderança! Escreveu-se muito sobre como ser ou formar líderes
espirituais para o mundo. Pessoas que se levantassem para sonhar um
futuro melhor, que fossem capazes de inspirar outras a ir em busca desse
sonho e que tivessem a coragem e ousadia para ocupar os espaços para
a transformação da sociedade.

Esse ainda é um grande desafio, mas ao trabalhar com a formação


de líderes percebe-se que há uma necessidade de formar líderes que
cuidem de líderes! A liderança espiritual é uma tarefa maravilhosa, mas
quanto maior sua liderança, maior o risco de isolamento, quando não há
com quem conversar sobre as pressões e os pesos do ministério, quando
se perde os referenciais. É nesse ponto da estrada da vida que o perigo de
uma derrapagem pode colocar tudo a perder. Ela pode ocorrer de formas
distintas como alguma enfermidade física ou emocional, problemas de
relacionamento familiar ou com equipe de ministério e até pecados.

No momento em que há tanto investimento na formação de líderes,


formar mentores espirituais que possam servir de referencial e orientar
os novos líderes espirituais que surgem é extremamente útil à igreja e aos
pastores. O Curso de Mentoria se propõe a formar homens e mulheres
que sirvam a Deus como líderes de líderes. Gente que serve aqueles que
o Senhor levanta para liderar sua igreja nos próximos anos. Por meio
desse curso pode-se aprender princípios e valores eficazes no cuidado de
líderes, promovendo saúde integral no exercício do ministério.

Que Deus levante entre nós mentores segundo o seu coração para
este tempo tão desafiador.

Deus te abençoe!

Pr. Marcílio de Oliveira


Discipulado e Mentoria
Discipulado e Mentoria
Este capítulo tem por objetivo apresentar o conceito de mentoria,
discipulado e aconselhamento, suas relações e possíveis diferenças
dentro de uma perspectiva cristã. O que o levará à reflexão acerca da
importância da mentoria na vida do cristão e consequentemente em seu
ministério.

1.1 Mentoria
Mentoria é o processo de acompanhamento em que uma pessoa
é orientada por alguém. No mundo empresarial, Idalberto Chiavenato,
considerado um dos gurus da Administração de Empresas, conceitua o
ato de orientar como:
Determinar a posição de alguém perante os pontos cardeais;
encaminhar, guiar, indicar o rumo a alguém; poder reconhecer a
situação do lugar em que se acha para se guiar no caminho. [...] Quando
ingressam na organização, ou quando a organização faz mudanças, as
pessoas precisam sentir em que situação se encontram e para onde
devem conduzir suas atividades e esforços. (CHIAVENATO 2010, p. 172)

Na igreja, a mentoria é uma ação semelhante ao ato de orientar


citado por Chiavenato. Quando se é novo na fé, é necessário um
acompanhamento e cuidado de alguém mais experiente que guie,
encaminhe, indique o rumo o qual deve ser seguido para permanecer no
caminho da fé. Entretanto este acompanhamento não acontece apenas
para novos adeptos ao cristianismo. Cristãos mais maduros também
precisam de orientações em algum momento de sua caminhada para
conseguir lidar com determinados desafios que se apresentam durante
sua caminhada terrena em busca de santidade, como os desafios do
casamento, o serviço na igreja, dentre outras demandas ao longo da
jornada de fé rumo à vida eterna.

11
A mentoria também pode ser um período de treinamento, em
que entende-se por treinamento “o processo pelo qual uma pessoa é
preparada para desempenhar de maneira excelente as tarefas específicas
do cargo que deve ocupar”. (CHIAVENATO 2010, p. 367). Você talvez tenha
estranhado a citação de um teórico do setor empresarial, mas Deus é um
excelente administrador (ARAÚJO 2012, p. 104); enquanto o treinamento
apresentado por Chiavenato visa que os funcionários da empresa gerem
cada vez mais lucro, Deus espera que todos os seus trabalhadores,
aqueles que põem a mão no arado, produzam cada vez mais frutos.
Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. 2 Todo ramo que,
estando em mim, não dá fruto, ele corta; e todo que dá fruto ele poda,
para que dê mais fruto ainda. (BÍBLIA SAGRADA, João, 15.1-2)

A definição apresentada por Chiavenato, mostra uma atitude


que todo cristão deve incorporar para servir a Deus. Esta atitude pode
ser traduzida como desempenhar com excelência as tarefas. O bom
desempenho nos esforços do serviço cristão não pode ser dissociado
de uma vida que é forjada por Deus. O Senhor molda vidas de formas
distintas, mas certamente uma das maneiras de trabalhar na vida do
cristão é o convívio relacional, a comunhão da igreja. Nessa comunhão,
há troca de experiências, conhecimentos, dons espirituais e nessa
mutualidade há crescimento espiritual das partes e da comunidade da fé
como todo. Crentes experientes ensinam e aprendem com os mais novos
na fé. Pessoas com certa maturidade espiritual ajudam umas às outras
a permanecerem crescendo diante de Deus. Tudo isso para oferecer
ao Senhor o que se tem de melhor: a vida dedicada no altar de forma
agradável a Ele.

A mentoria entendida como um período de treinamento visa


aperfeiçoar os servos do Senhor para o serviço na obra, pois não se deve
negligenciar o dom recebido de Deus. É necessário se dedicar para que
todos vejam o progresso das pessoas na área que têm dificuldade, não
para a glória, mas para que sejam salvas e levem a salvação a outros (1
Timóteo 4.14); uma vez que são encarregadas dos mistérios de Deus e
portanto devem ser fiéis à missão que lhes foi dada (1 Coríntios 4.1-2);
executando as atividades com excelência e zelo, pois chegará o dia em
que todos prestarão conta de suas ações ao Senhor (Romanos 14.11-12).

12
O próximo ponto tratará do conceito de discipulado e de sua relação com
a mentoria e o aconselhamento cristão.

1.2 Distinções e relações entre discipulado,


mentoria e aconselhamento cristão
Alguns autores apresentam discursos que tratam a mentoria
e o discipulado como sendo algo diferente, já outros, naturalmente,
apresentam como sendo a mesma coisa. Durante o desenvolvimento
deste ponto, serão apresentados alguns argumentos relacionados a essa
questão e falar-se-á sobre a relação que esses dois temas têm com o
aconselhamento cristão.

1.2.1 Discipulado
Para compreender o conceito de discipulado, é importante entender
como e quando se iniciava o processo de ensino no contexto judaico.
Os meninos judeus iniciavam seus estudos da Torah (primeiros 5
livros do Antigo Testamento) aos 6 anos de idade e aos 10 já a tinham
decorado. Os que se destacavam eram selecionados, se aprofundavam
nas Escrituras, na sua interpretação e na tradição oral. Aos 14 anos
esses meninos já eram considerados a elite em Israel e eram chamados
de Talmidi ou Talmidim (discípulo) e se dedicavam aos estudos sob
os cuidados de um rabino, posteriormente se tornavam mestres.
Provavelmente Jesus passou por esse processo (Lucas 2.46-47), pois
era reconhecido como mestre (João 1.38;20.16) .1

Jesus, como mestre, escolheu doze homens para serem seus


discípulos diretos, entretanto influenciou muitos outros que o seguiram de
perto e se tornaram seus discípulos. Discipulado é a estratégia utilizada
por Cristo, como mestre, para alcançar o mundo e proporcionar o avanço
do evangelho geograficamente por meio das gerações.

1 Disponível em: <https://www.pibcuritiba.org.br/educacaocrista/


downloaddemateriais/>. Acesso em: 24/06/2019.

13
Todo seguidor de Cristo convertido aos seus ensinamentos estão
aptos a fazer novos discípulos. Ser um discípulo e discipular faz parte
da missão da igreja, mas exercer essas duas atividades não se traduz
em apenas aprender e ensinar. Jesus dizia aos seus seguidores que se
tornassem seus imitadores e isso implica em “pregar, curar os enfermos,
ressuscitar os mortos, purificar os leprosos e expulsar os demônios [...]
Jesus veio para servir as pessoas e Ele envia sua igreja para servir ao
mundo”. (CAMPANHÃ, 2012, p. 17)

Ser discípulo de Jesus implica em compreender, viver e ensinar os


seus mandamentos. Cumprir com excelência esses três aspectos torna o
homem discípulo autêntico de Cristo. A definição de Brandão (2014) pode
auxiliar a compreender melhor o que é ser discípulo:
[...] aluno, aprendiz, aquele que aprende, que segue e se entrega ao
ensino de alguém, aquele que se assenta aos pés de um mestre para
aprender com ele [...] todos aqueles que se convertiam ao evangelho.

Ser discípulo exige um preço a ser pago: uma vida em santidade,


subordinação, comprometimento com Cristo, humildade, mansidão e
todos os aspectos contidos no fruto do Espírito, além de autonegação,
como o próprio Jesus disse:
Quem, pois, me confessar diante dos homens, eu também o confessarei
diante do meu Pai que está nos céus. Mas aquele que me negar diante
dos homens, eu também o negarei diante do meu Pai que está nos céus.
Não pensem que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada.
Pois vim para fazer que o homem fique contra seu pai, a filha contra sua
mãe, a nora contra sua sogra; os inimigos do homem serão os da sua
própria família. Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é
digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é
digno de mim; e quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno
de mim. Quem acha a sua vida a perderá, e quem perde a sua vida por
minha causa a encontrará. (BÍBLIA SAGRADA, Mateus, 10.32-39)

Ser discípulo implica em perder a própria vida em prol da causa de


Cristo. Discipulado é ensinar a outros o quanto vale a pena perder a própria
vida para ser igual a Cristo. E isso não é uma escolha para os servos
de Cristo, é parte da missão da igreja como representante da missão
de Deus neste mundo. Ser discípulo “implica a aceitação de pontos de
vista e ensinamentos de um líder a quem obedecemos. O discípulo quer

14
aprender de seu mestre e tornar-se como ele em caráter” (COLLINS,
2005, p. 21). A mentoria e o discipulado só são possíveis por intermédio
do aconselhamento e ensino cristão. A seguir serão apresentados os
conceitos e aspectos do aconselhamento cristão e as possíveis diferenças
entre Mentoria e Discipulado.

1.2.2 Aconselhamento cristão


Quem nunca ouviu um conselho dos pais, amigos ou aconselhou
alguém que estivesse com dificuldades em uma determinada área? O
aconselhamento tem por objetivo ajudar as pessoas, estimular, orientar,
animar em momentos de dificuldades. Acontece por meio do diálogo, do
compartilhar com o próximo algo importante. Gary Collins diz que ajudar é
tarefa de todos. Embora existam profissões especializadas nesse assunto,
como psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais, dentre outros, todos
podem ajudar alguém. Muitas vezes, a ajuda que mais irá surtir efeitos
é a de alguém que está perto da pessoa que tem problemas em uma
determinada área, um simples amigo e leigo no assunto de aconselhar.

O aconselhamento cristão visa estimular o crescimento espiritual, a


confissão de pecados, a entrega total de vida a Cristo e o desenvolvimento
de princípios e valores fundamentados nos ensinamentos bíblicos. O
desenvolvimento dessas áreas levará as pessoas a um relacionamento
mais íntimo e intenso com Deus, mais amoroso com os seus semelhantes
e a serem mais resolvidas consigo mesmas. O aconselhamento cristão
se torna único, pois é inteiramente orientado pela influência e presença do
Espírito Santo (COLLINS, 2004).

O desenvolvimento do processo de discipulado e mentoria acontece


por meio do aconselhamento cristão. Todo discipulado e mentoria tem um
momento de aconselhamento e orientação como já visto anteriormente,
entretanto nem todo aconselhamento será necessariamente um
discipulado ou mentoria. O aconselhamento pode ser apenas uma ajuda
para uma dúvida ou dificuldade momentânea, algo pontual, entretanto
a mentoria ou discipulado são processos mais demorados, exigem
um acompanhamento mais detalhado, a longo prazo, com data e hora
marcada e visa atingir um objetivo específico.

15
Na Bíblia, não existe uma diferenciação entre mentoria,
aconselhamento e discipulado. Como exemplo, é possível citar do grego
algumas palavras bíblicas que podem referenciar o que se entende por
discipulado e mentoria.

Fazer discípulos (μαθητεύσατε > mathhteύsate): presente em


Mateus 28:19 quando Jesus diz “ide e fazei discípulos de todas as nações”.
Tem o sentido de ensinar, discipular. Jesus complementa orientando
a batizar em nome do Pai do Filho e do Espírito Santo. Em Atos 14.21,
esta palavra aparece com o mesmo significado. Paulo parte para Derbe
juntamente com Barnabé, nesta cidade anunciam o evangelho e fazem
muitos discípulos.

Ensinar; Instruir (διδάσκοντες > didάskontes): presente em Mateus


28.20 é a continuação do texto anterior, Jesus orienta os seus discípulos
a ensinarem a outros o que Ele havia ensinado. Em Jo 14.26, Jesus afirma
que o Pai enviará o Espírito Santo consolador, que ensinará todas as coisas
para os seus seguidores os fazendo lembrar de tudo o que Ele havia dito.

Apascentar (ποίμαινε > poímaine): está presente em João 21:16,


quando Jesus orienta a Pedro que ele apascentasse e cuidasse de suas
ovelhas. Esta palavra também aparece em 1 Coríntios 9:7 com o mesmo
sentido, entretanto direcionado ao cuidado do gado. Também traz o
sentido de liderar, governar e guiar (Mt 2.6; At 20.28; 1 Pe 5.2).

Proclamar, anunciar, fazer menção publicamente (κηρύξατε >


khrύksate): presente em Marcos 16:15 mais uma orientação de Jesus
incentivando os discípulos a proclamarem o evangelho a toda criatura; no
versículo 16, ele complementa dizendo que todos os que acreditassem e
fossem batizados seriam salvos.

Na Bíblia, o termo para mentor ou conselheiro é discipulador


ou pastor, aquele que apascenta as ovelhas, que ensina e proclama
as boas-novas do evangelho, ou seja, de acordo com este estudo, o
significado de mentor e conselheiro seria um pastor aquele que “cuida do
gado” ou das ovelhas, aquele que cuida do povo de Deus. E discipulador é
aquele que ensina e proclama o evangelho sendo imitador de Cristo.

16
1.2.3 Diferenças entre discipulado e mentoria
Algumas igrejas fazem distinção entre os termos discipulado e
mentoria referindo-se a processos de desenvolvimento cristão distintos.
Assim sendo, o discipulado é uma ação voltada para o início da vida
cristã, em que princípios básicos da fé cristã são ensinados com vistas
à preparação de pessoas ao batismo. Para as igrejas que possuem tal
compreensão, a mentoria é um processo de orientação espiritual que vem
após o batismo e visa ao desenvolvimento do caráter cristão no indivíduo.

A mentoria espiritual é uma orientação para o desenvolvimento


do caráter do crente em Cristo. Um acompanhamento voltado para o
amadurecimento do povo de Deus, instruindo, treinando e capacitando
pessoas para estarem aptas ao trabalho em prol do Reino. “A visão de
crescimento integral deve conduzir todos os salvos a um estilo de vida
comunitário que incentive e promova o engajamento de cada membro
em seu ministério pessoal” (PIRAGINE 2015, p. 123). É uma forma de
organização fundamentada em uma visão que Deus deu aos seus servos
para orientar as pessoas para o serviço ministerial.

Na apostila do Curso de Formação Ministerial (CFM), em Mentoria


e Liderança Cristã, que a Primeira Igreja Batista de Curitiba oferece, há a
seguinte definição:

Discipular é acompanhar e ensinar novos convertidos em sua nova


vida com Deus, logo após a conversão, em seus primeiros passos na
fé. Já a mentoria é um acompanhamento de cristãos que já tem uma
certa caminhada com Jesus, com o propósito de orientá-los, apoiá-los
e incentivá-los em suas vidas e ministérios. A mentoria é para todos
aqueles que já caminham com Jesus há um pouco mais de tempo.

Tanto o discipulado quanto a mentoria acontecem por intermédio


do acompanhamento, aconselhamento e treinamento voltados aos que
receberam o chamado de Deus para colocar a mão no arado e servir como
bons mordomos. Entretanto há a preocupação de não apenas depositar
conteúdo no intelecto dos alunos. O Pastor Paschoal Piragine Júnior,
presidente da Primeira Igreja Batista de Curitiba, reforça que formar um

17
ministro é transferir experiência, valores, modelos e vida. Fazendo isso é
possível deixar as marcas de Cristo na vida das pessoas, para que estas
possam marcar outros e assim sucessivamente. Uma aula pode ser
esquecida, mas a experiência vivida será levada por toda uma vida.

Embora haja muita semelhança entre o discipulado e a mentoria, há


algumas distinções entre os dois termos e processos. Segundo Howard
e William Hendricks, “a palavra discípulo significa aprendiz” (HENDRICKS;
HENDRICKS, 2006, p. 176). Segundo os autores, o termo significa o
chamado de um professor para um aprendiz quase beirando uma
ordenança e tem foco maior na instrução. Já o termo mentoreamento
vem do latim, tem a conotação de proteger e o foco mais na iniciação de
um aprendiz rumo à maturidade. O mentor protege seu aprendiz rumo à
maturidade na vida.

Outra distinção clara é que o discipulado é realizado numa proposta


de relacionamento cristão mais informal, não necessariamente com dia
e hora marcada, ainda que isso possa ocorrer. Já a mentoria espiritual
é um relacionamento que visa ao desenvolvimento do cristão, mas
que se realiza num processo um pouco mais formal, com dia e hora
marcados, expectativas claras, ferramentas de avaliação de crescimento,
podendo ser realizada mesmo antes do batismo e não tendo uma data
pré-determinada para seu fim.

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1.3 Fundamentos da mentoria espiritual
Segundo Robert Clinton (2000, p. 27), todo líder passa por fases
de desenvolvimento de liderança ao longo da vida. Desde a infância até
a maturidade, pessoas estão em desenvolvimento para exercerem seu
papel na sociedade, iniciando dentro da família e depois influenciando
pessoas em contextos distintos. Aqueles que se destacam na liderança
cristã mantêm um espírito de aprendiz em sua vida e compreendem que
devem deixar um legado desenvolvendo novos líderes.

Líderes cristãos em potencial necessitam de desenvolvimento de


liderança à medida que têm oportunidades de exercer novos ministérios
nas igrejas onde atuam. Poder contar com líderes experimentados que
compartilham histórias e lições aprendidas ao longo da vida ministerial
pode ser de grande valia aos mais novos que se mantêm abertos ao
aprendizado. Isso certamente poupa-os de erros já cometidos por outros
e leva-os à obtenção de bons resultados em um espaço de tempo menor
do que outros.

Para Clinton, a ação de mentorear:


faz referência a um modelo de treinamento informal de pouca
intensidade, em que uma pessoa com uma atitude de servir, dar e
encorajar (o mentor) vê potencial de liderança em uma pessoa ainda a ser
desenvolvida (o protegido) e tem capacidade para promover ou influenciar
significativamente de outra forma o protegido para a realização do seu
potencial de liderança. (CLINTON, 2000, p. 37)

Já David Kornfield mostra o quão valioso é ter um mentor para


a vida, ao afirmar “quanta falta experimentamos sem um mentor! Não
chegamos nem próximos ao potencial com o qual fomos criados. Nem
imaginamos a profundidade dos propósitos de Deus para nossa vida”
(KORNFIELD, 2007, p. 204). Sem ter um mentor ou mentores corre-se o
risco da estagnação, da complacência, da ignorância, enquanto os anos
se passam.

19
1.3.1 Fundamentos bíblicos de mentoria
Há muitas passagens bíblicas que podem ser utilizadas como base
para a fundamentação teórica da mentoria espiritual. Abaixo cita-se
algumas que podem servir de referência, ainda que não esgotem a
exposição bíblica sobre o assunto. No Antigo Testamento, em 2 Crônicas
24:2, vê-se a importância do sacerdote Joiada na vida do novo rei Joás,
ajudando-o a fazer aquilo que Deus aprovava em seu reinado. Já o texto
de Provérbios 27:17 diz: “Assim como o ferro afia o ferro, o homem afia o
seu companheiro”.

No Novo Testamento o exemplo maior é o próprio Jesus, que


escolheu doze, designando-os apóstolos, para que estivessem com ele
e os enviasse a pregar (Mc 3.14). Ele mesmo afirmou: “mas todo aquele
que for bem preparado será como o seu mestre” (BÍBLIA SAGRADA, Lucas
6:40b).

O apóstolo Paulo foi profundamente impactado com os cuidados


que recebeu de Barnabé no início de sua vida cristã, conforme nota-se
em Atos 11, quando foi buscá-lo em Tarso, levando-o a liderar os crentes
reunidos na cidade de Antioquia. O próprio Paulo inspirou novos líderes
para as igrejas, como Timóteo, Priscila e Áquila e Tito. Destaca-se aqui o
relacionamento entre Paulo e Tito, em que se pode notar as várias ações
e intenções de Paulo para que Tito pudesse avançar em sua liderança
espiritual. Em Tito 3:12, Paulo desejava passar mais tempo com Tito.
Em 2 Coríntios 2:13, Paulo se preocupa com o bem-estar de Tito. Em
2 Coríntios 7:5,6, Paulo foi encorajado e consolado com a presença de
Tito. Em Tito 1:4, Paulo demonstra intimidade com o seu discípulo; Em
2 Coríntios 8:23, fica claro que Paulo e Tito formavam uma equipe no
ministério de pastorear as igrejas.

Há ainda muitas outras passagens bíblicas e várias pessoas


que podem servir de inspiração na vida das pessoas. O pastor e autor
Wayne Cordeiro (2008, p. 12-14) demonstra isso ao relatar que qualquer
pessoa pode ser inspirada pelos heróis da fé na Bíblia. Suas vidas, seus
erros, acertos e aprendizados servem para ajudar qualquer indivíduo a
ter desenvolvimento espiritual compreendendo a vontade de Deus e
aplicando-a em sua vida.

20
Síntese
Neste capítulo foi visto que discipular, mentorear e aconselhar
pessoas faz parte da missão da Igreja de Cristo. Verificou-se que discipulado
e mentoria, de acordo com a Bíblia, possuem conceitos semelhantes, que
se trata de ensinar, treinar, cuidar, pastorear pessoas preparando-as para
uma caminhada firme na fé rumo à eternidade. Verificou-se também que
algumas igrejas atribuem conceitos diferenciados entre discipulado e
mentoria, tendo o primeiro foco em preparar os novos na fé em Cristo
para o batismo, já o segundo seria uma continuação do discipulado,
preparando, capacitando, treinando e orientando os servos do Senhor
para o trabalho em prol do Reino.

Observou-se que o aconselhamento cristão é uma ação


presente no ato de discipular e mentorear pessoas. No entanto, nem
todo aconselhamento é um discipulado ou mentoria, pois estes
dois se desenvolvem a longo prazo, com data e hora marcada, e o
aconselhamento pode ser mais simples e pontual. Foi estudado também
sobre os fundamentos da mentoria espiritual e a base que a Palavra de
Deus dá para sustentar a relevância deste tema. No próximo capítulo,
serão apresentadas as características de um mentor cristão e de um
mentoreando, e como deverá ser um relacionamento saudável entre eles.

21
O relacionamento entre
mentor e mentoreado
O relacionamento entre mentor e
mentoreado
O ser humano é social, convive e depende desta convivência
ou interação com outros para estar bem emocionalmente e saudável
psicologicamente. As relações de ajuda, como a mentoria cristã,
promovem um intercâmbio de saberes e emoções entre cuidador e o
que está sendo cuidado. Este relacionamento proporciona um ambiente
propício para o crescimento e desenvolvimento em vários aspectos da
vida para os envolvidos no processo.

2.1 Características de um mentor

Dica
O mentor deve ser um cristão, mais experiente, que voluntariamente
se dispõe a acompanhar alguém em sua caminhada cristã. Este
deve ser capaz, temente a Deus, digno de confiança, de boa índole
(Êxodo 18:21); que maneja bem a palavra de Deus e não tem do
que se envergonhar (2 Timóteo 2:15).

Indo direto ao ponto, o mentor é alguém que acredita em outra pessoa


e enxerga possibilidades de crescimento na vida dessa pessoa, apoia,
nutre, desafia e instiga o desenvolvimento pleno de suas potencialidades,
sempre dentro dos propósitos de Deus. Além de gerar uma atração em
nós, pois sua vida e seu caráter revelam características que uma pessoa
gostaria de ter. Em resumo, mentores cristãos são pessoas que orientam,
aconselham, ensinam e guiam de forma personalizada e individualizada
outros, visando ao crescimento e desenvolvimento pessoal e espiritual
(KORNFIELD, 2007).

O mentor não tem que ser necessariamente um pastor. Ensinar e


ajudar no desenvolvimento de pessoas não é um dom dado apenas a

24
pastores, na verdade, esta ação faz parte da missão da igreja, pois a grande
comissão implica em que se faça “[...] discípulos de todas as nações,
batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (BÍBLIA
SAGRADA, Mateus, 28.19). Entretanto o mentor deve ser um cristão,
mais experiente, que voluntariamente se dispõe a acompanhar alguém
em sua caminhada cristã. Este deve ser capaz, temente a Deus, digno
de confiança, de boa índole (Êxodo 18:21); que maneja bem a palavra de
Deus e não tem do que se envergonhar (2 Timóteo 2:15).

O homem é ordenado por Cristo a ir e fazer discípulos, isto implica


em ensinar, preparar, orientar, mentorear outros durante a caminhada
cristã rumo à eternidade. O apóstolo Paulo ao aconselhar Timóteo o
orienta a fazer o trabalho de um evangelista, ensinando a sã doutrina, e a
treinar outros para fazerem o mesmo. A missão de Timóteo incluía tanto
ensinar, preparar e treinar os novos convertidos, quanto acompanhar e
orientar os mais experientes na fé.

Timóteo deveria se apresentar como um obreiro aprovado para


ensinar a outros os valiosos mandamentos que Cristo havia confiado a
ele. Ser um mentor é influenciar as pessoas a seguir o propósito de Deus,
é levar a salvação, a paz, a cura, a restauração, o amor e a bênção do
Espírito Santo para outros, o que agrada a Deus. Destaca-se a seguir três
características marcantes que um mentor, segundo o coração de Deus,
deve possuir.

2.1.1 Busca a proteção de Deus


Wayne Cordeiro em seu livro “Mentores segundo o coração de
Deus” fala a respeito de uma reportagem que informava sobre uma
política de proteção a sequoias antigas. Essa ação cercaria as árvores
para que a população não pisasse em suas raízes, do contrário poderiam
enfraquecer e morrer. Diante disso, Wayne refletiu: “Mesmo as fortes e
veneráveis árvores que existem há centenas de anos não conseguem
sobreviver quando não há proteção” (CORDEIRO 2008, p. 19).

Assim são as pessoas, essa é a conclusão a que o autor chega, não


importa quem seja, a posição social, o status. Quando colocadas a serviço

25
do Reino há aflição e consequentemente a necessidade de encontrar
sustentação em Deus e em sua Palavra. Nas adversidades os mentores
devem buscar sustento em Deus e em sua Palavra. Quanto mais tardia
for a busca, maior será o risco de o mentor entrar em colapso, seja físico,
espiritual, emocional ou moral. O mentor deverá ter a marca de ser um
servo temente que busca Deus e conhece bem a palavra para que suas
cercas de proteção espirituais estejam sempre fortalecidas.

2.1.2 Sabe de sua limitação e incapacidade


Saber reconhecer as limitações e ter humildade para atender os
ensinamentos de Deus leva o mentor a compreender que alguém só se
torna apto para o serviço do Reino a partir da capacitação que o próprio
Deus dá. Ninguém possui as qualidades necessárias para o ministério a
serviço do Reino. Entretanto, o próprio Deus corrige e capacita os que Ele
chama para a sua obra durante a caminhada ministerial. Reconhecer a
incapacidade faz ficar dependentes de Deus e sempre em alerta para que
a prepotência não desvie o foco da missão que Ele deu.
[...] Nossa falta de sabedoria nos mantém à procura de Deus e impede
que endureçamos o coração. Ela nos faz permanecer humildes,
maleáveis, passíveis de correção, mudança e transformação, de modo
que a cada novo dia possamos refletir mais e mais a imagem de Deus”
(ibidem, p. 31).

A partir do momento que você passa o controle pleno do seu


ministério a Deus e se torna dependente d’Ele por reconhecer a sua
incapacidade, começa a refletir a imagem de Cristo e assim passa a
impactar, pelo poder do Espírito Santo, a vida de outras pessoas, levando
transformação, salvação e cura.

A maior lição aqui é que se deve ser humilde e dependente das


orientações que as Escrituras Sagradas dão, e nos momentos de
desamparo é preciso procurar os braços do Pai, o Aba Pai, Emanuel, o
pastor que não desampara.

26
2.1.3 Tem e deixa marcas espirituais na vida das
pessoas
O mentor possui marcas do poder e do amor de Deus em sua
vida. Essas marcas foram produzidas ao longo de sua caminhada com
Deus, experiências vividas que quando contadas impactam a vida dos
que ouvem produzindo fé, amor, perseverança, esperança, compaixão,
aprendizado, crescimento espiritual e maturidade.

Mentores eficientes se doam em prol de outro ser humano. Investem


tempo, energia, emoção, confiança e até mesmo dinheiro. E são capazes
de estabelecer e manter um relacionamento saudável e duradouro. São
respeitados por outros cristãos; fala e sabe ouvir; seu estilo de vida
ou testemunho são coerentes com os seus ensinamentos; é capaz de
diagnosticar as necessidades do mentoreado e está interessado com os
seus interesses (HENDRICKS e HENDRICKS, 2011).

BETTETO (2018) em seus breves aconselhamentos ajuda a


compreender mais algumas marcas que um mentor segundo o coração
de Deus possui. Este ajuda e aceita ajuda, ou seja, é humilde. Em Atos 6.4,
pode-se perceber que os discípulos delegaram tarefa a outros, para que
pudessem se dedicar às orações e ao ministério da Palavra. Moisés aceita
o conselho de Jetro para delegar autoridade e dividir as cargas com outros
líderes capazes; Jônatas e Davi se ajudaram durante as adversidades
do reinado de Saul; Barnabé mentoreou e apoiou Paulo depois de sua
conversão; Paulo incentivou Timóteo e esse incentivo o levou a se tornar
pastor da igreja de Éfeso. Além de ajudar e ser ajudado, o mentor é
disciplinado, resiliente, compromissado com a verdade, aprende com os
fracassos e não teme recomeços, pois sua esperança está em Cristo.

Como você deve ter percebido, ser um mentor exige um preparo e


experiência de vida e com Deus. Não é tão simples, entretanto, Deus coloca
os seus escolhidos em lugar de honra, à medida que estes atendam o seu
chamado. Ele os prepara, restaura e transforma em canal de benção para
que outras pessoas possam receber o mesmo ensinamento. Como diz a
canção: “Há tanto pra fazer no mundo ao meu redor e a cura para a alma
vive em mim, não posso me calar, nem me acovardar”.

27
“Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de
equilíbrio” (BÍBLIA SAGRADA, 2 Timóteo, 1.7). Deve-se crer nisso e um dia
será possível parafrasear Paulo dizendo:
Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. Agora me está
reservada a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele
dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amam a sua
vinda” (ibidem, 2 Timóteo, 4.7,8).

Para finalizar este ponto é necessário que os mentores, como


líderes na igreja, estejam conscientes de que não é possível oferecer às
pessoas algo que não se tem, ou seja, eles precisam servir de referência,
inclusive no compromisso de receber ajuda e de ajudar a si na busca de
desenvolvimento. Dessa forma será possível oferecer a outros o apoio
adequado para o desenvolvimento de cada pessoa na comunidade de fé.
O mentor também deverá ter um mentor, alguém que possa compartilhar
as cargas que o acompanha e o oriente, que chore e se alegre com ele.
Ninguém é de ferro. Mentores orem para que Deus lhes deem mentores!
Pessoas que cuidem de vocês, que compartilhem de suas batalhas e que
dividam as cargas.

2.2 Características necessárias a um


mentoreado
O mentoreado deseja que a sua vida faça diferença para Cristo e
para as pessoas que estão a sua volta, está em busca de alguém que
o oriente e mostre o caminho por onde deve andar para alcançar os
seus objetivos, por intermédio de conselhos e instruções que o ajudem
a desenvolver a sua vida espiritual (comunhão e intimidade com Deus), a
fé, a carreira profissional e sua vida pessoal de forma integrada e prática
(HENDRICKS e HENDRICKS, 2011).

Aquele que tem o desejo de ser mentoreado deve orar e pedir a Deus
um mentor que tenha afinidade com o assunto a ser tratado. O Senhor
irá mostrar a esta pessoa alguém que tenha experiência para a orientar.
Independentemente da temática do mentoreamento, a mentoria cristã
visa ajudar a pessoa a desfrutar de uma vida plena em um relacionamento

28
íntimo com Deus, colocando-o no controle das decisões e tornando-o
pilar central de sustentação para todas as áreas da vida.

É importante que o mentoreado seja disciplinado e tenha


objetividade, ordem e responsabilidade. A mentoria sem esses elementos
pode levar a uma falsa sensação de autocuidado que mais tarde poderá
se transformar em um sentimento de culpa e frustração caso haja uma
interrupção no processo de mentoria e os resultados esperados não
forem alcançados.

No que tange à objetividade é importante que o mentoreado saiba


o que pretende com o processo de mentoria. Caso isso não esteja
claro, o mentor deverá trabalhar essa questão com o mentoreado para
evitar frustrações. Exemplo: se o mentoreado tiver dificuldades em
seu casamento, o mentor deverá auxiliá-lo nesta área, com assuntos
referentes a esta questão. Se a mentoria for para treinamento de liderança,
o mentor deverá saber lidar com este tema e orientar o seu mentoreando
com assuntos afins que o direcione para a resolução do problema.

2.3 A compreensão do outro no processo de


mentoria
Certamente não há uma fórmula mágica para se iniciar um
relacionamento com alguém, seja de amizade, namoro e até mesmo de
mentoria, cada relacionamento é único. Collins (2005) ajuda a entender
que a construção da harmonia entre mentor e mentoreado precisa
ser caracterizada por empatia, cordialidade, autenticidade e cuidado.
MacArthur (2004) mostra que também é necessário haver envolvimento,
compaixão, respeito, sinceridade e principalmente a aplicação de
princípios bíblicos e a orientação do Espírito Santo para a resolução das
questões que surgirem.

Destacam-se desses elementos a compaixão, o respeito e a


sinceridade. A compaixão acontece quando há uma preocupação com
as pessoas. Cristo demonstrou compaixão. Ele se compadeceu das
multidões que estavam aflitas, cansadas e oprimidas, providenciou
alimento e se importou verdadeiramente.

29
No livro de João capítulo 11, onde há a narração da ressurreição
de Lázaro, nota-se que Jesus chorou por ver a dor das pessoas e por
perceber que elas não conseguiam ver a Glória de Deus por meio dele. No
versículo 36, alguns Judeus perceberam e exclamaram: “vejam como ele
o amava!”. Jesus não precisou dizer explicitamente que se importava, mas
suas atitudes e seu comportamento foram suficientes para expressar o
quanto ele se importava. Cabe ao mentor compreender a real necessidade
do mentoreando e se importar de verdade e com sinceridade, bem como
saber transmitir essa mensagem de empatia e compaixão para os seus
mentoreandos.

O elemento respeito pode ser traduzido como considerar o outro


digno de honra. Esta consideração independe dos pecados e falhas do
outro. Cristo mostrou que todos são dignos de ser respeitados, curou e
salvou inúmeras pessoas consideradas desprezíveis pela sociedade de
seu tempo.

A sinceridade talvez seja desses elementos o mais importante, pois


não adianta fingir compaixão e respeito, o mau mentor pode ser um “bom
ator”, mas jamais enganará a Deus. Um relacionamento sem sinceridade
estará condenado ao fracasso.

Os elementos citados nos parágrafos anteriores direcionam para


um relacionamento saudável que proporcionará uma liberdade para
ambos, mentor e mentoreado, para lidarem com possíveis questões que
devam ser tratadas.

2.3.1 Identificando os alvos


Hendricks e Hendricks (2011) colocam algumas questões a
serem respondidas pelo mentoreando para que se entenda quais
serão os objetivos e alvos da mentoria. Para essa compreensão será
necessário desenvolver um processo de autoconhecimento por parte do
mentoreando. Assim, este poderá traçar os seus objetivos. A seguir serão
expostas algumas fases de autoconhecimento propostas pelos autores:

30
1.ª fase: O que você quer?

A resposta para esse enigma pode vir a partir da seguinte questão:


Como quero estar daqui a um determinado tempo?

Esse tempo vai depender do sonho do mentoreando, poderão


ser cinco anos ou poucos meses. A resposta deverá descrever quais
objetivos se pretende alcançar e quanto tempo levará para alcançá-los.
Esse questionamento também ajudará o mentor a conhecer um pouco
mais a pessoa a qual está cuidando e proporcionará o desenvolvimento
de um plano de ação com metas para realização dos objetivos almejados.

O segundo questionamento desta fase é: O que será necessário


fazer para alcançar os objetivos?

Após saber onde se pretende chegar e quanto tempo


aproximadamente levará para alcançar esses objetivos, será possível
desenvolver um plano de ação. O segundo questionamento descreverá
como se pretende realizar as etapas, as metas, o planejamento de estudos,
dentre outros. Visa também informar ao mentoreando os obstáculos que
estão entre os seus sonhos e a realização deles.

Autor: TOZER apud HENDRICKS E HENDRICKS 2011, p. 38.

Para alcançar os objetivos será necessário conhecer a si, destacando


pontos positivos e sendo franco, sem mascarar os negativos. Você terá

31
que agir para mudar os maus hábitos que o atrasam e afastam de Deus.
Para isso será necessário compreender como você aprende e fazer
investimentos em livros, cursos de aprimoramento e desenvolvimento
pessoal.

Serão apresentadas a você nos capítulos seguintes algumas


estratégias de crescimento pessoal e ferramentas que podem auxiliar na
busca de autoconhecimento, como o DISC, por exemplo, que ajuda a
compreender o perfil comportamental das pessoas e a roda da vida que
identifica áreas que necessitam de atenção e desenvolvimento.

Para você dar mais um passo em direção ao autoconhecimento,


seguem algumas questões para reflexão que o ajudarão a se planejar
Compartilhar suas conclusões com um amigo ou alguém que possa
mentorear você é importante. Se você ainda não tem um mentor e deseja
ter, ore a Deus para que Ele mostre alguém que o ajude a desenvolver
as áreas de sua vida que precisam de crescimento. Acima de tudo, que
os seus sonhos sejam os sonhos de Deus e que o planejamento para
realização seja orientado por Ele.

1. Como quero estar daqui a um determinado tempo? (não se


esqueça de especificar o tempo).
2. O que é necessário fazer para realizar os meus objetivos?
3. O que mais desejo?
4. O que mais tem ocupado a minha mente?
5. Como gasto o meu dinheiro?
6. O que faço com o meu tempo livre?
7. Tenho desfrutado mais da companhia de quais pessoas?
8. Essas pessoas contribuem para o meu crescimento pessoal e
espiritual?
9. Eu tenho contribuído para o crescimento delas?
10. Quem eu admiro?
11. Como me divirto?

32
Síntese
Neste capítulo tratou-se de como deve ser o relacionamento de um
mentor e quais são as características que autenticam um mentor, como a
busca pela proteção de Deus, o reconhecimento de suas limitações e as
marcas espirituais que possui e deixa na vida das pessoas, por exemplo;
das características que um mentoreando deve ter, como objetividade,
disciplina e humildade; do processo de compreensão do outro na
mentoria; de como identificar alvos e objetivos, além de quais devem ser
os primeiros passos rumo à autodescoberta.

33
Mentoria e discipulado
na prática
Mentoria e discipulado na prática
Após compreender quem é o mentor, o mentoreado e como se
caracteriza o relacionamento entre os dois na mentoria, deseja-se tratar
neste capítulo sobre como o processo de mentoria se inicia, se estabelece
e se desenvolve na busca do crescimento, do amadurecimento do
mentoreado. É bem verdade que esse desenvolvimento é mútuo, pois
ambos crescem, afinal, o mentor também lê, pesquisa, reflete sobre que
materiais usar a fim de contribuir para o desenvolvimento da vida do
mentoreado.

Este capítulo busca responder como encontrar um mentor ou


alguém para mentorear, quais temas são importantes para serem
tratados em uma mentoria, como se organizar e definir uma agenda,
dentre outras questões. Serão apresentadas algumas ferramentas, como
a autodescoberta e o crescimento pessoal, que ajudam a potencializar o
desempenho de mentores e mentoreandos.

3.1 Como encontrar um mentor


Encontrar um mentor para alguns certamente não é tarefa fácil.
Quando se pensa em mentores, a imagem que vem à mente é de alguém
responsável, experiente e sábio e que provavelmente tem uma agenda
cheia de atividades, alguém em quem confiar. Hoje em dia, não é fácil
encontrar pessoas com esse perfil.

E como buscar essa pessoa? Sem dúvida, o primeiro passo é orar.


HENDRICKS e HENDRICKS (2011, p. 77) mostram que os seres humanos
podem não levar a sério o poder da oração, mas Deus leva. O primeiro
passo para alcançar o milagre de Deus é a oração. Deve-se orar a Deus
ainda que não se tenha alguém em vista, peça a Deus, independentemente
do tema que se deseja tratar, Ele sabe quem é a pessoa ideal para lhe
mentorear. Fique atento ao que Deus irá lhe dizer, porém, para isso,
é importante ter uma vida de intimidade com Ele. Dedique-se à leitura
bíblica e a momentos reservados exclusivamente para se relacionar com o
Criador. Depois observe as oportunidades que Ele dará a você, mantenha-
se atento para não as perder.

36
Quando Deus mostrar a pessoa certa, aproxime-se amigavelmente,
se você não a conhecer, terá que iniciar um relacionamento, para que esta
pessoa entenda que ela deve cuidar de você, mas não force uma situação.
Quando Deus está no controle, as coisas fluem naturalmente e em paz,
se você perceber que isso não está acontecendo, ore e pergunte a Ele
se você entendeu a mensagem corretamente. Deus não é um Deus de
confusão.

HENDRICKS e HENDRICKS (2011, p. 87) ainda dão várias ideias


de como é possível iniciar um relacionamento de mentoreamento: Ligar
para o mentor e marcar um encontro; usar um intermediário para marcar
o encontro, que seria verificar uma amizade que vocês têm em comum
e pedir para que essa pessoa lhe ajude a chegar em seu mentor; por
intermédio de uma referência: conhecido como networking, você pode
citar o nome de alguém que você conhece e que seu mentor também
conheça, obviamente a pessoa citada deverá estar ciente, isso cria uma
medida de confiança; elogie a habilidade do seu pretendente a mentor e
então peça a ele para usá-la para desenvolver as suas habilidades ou a
área de que você quer desenvolver.

Essas são apenas quatro das vinte sugestões que os autores


apresentam de como iniciar um relacionamento de mentoria. Após
introduzir um relacionamento, mantenha contato com a pessoa e verifique
a possibilidade de agendar encontros de acordo com a disponibilidade de
seu mentor.

3.2 Identificação das necessidades do


mentoreado
Uma vez que se estabeleceu quem servirá como mentor para
aquele que busca crescimento, é importante identificar que áreas da
vida deverão receber investimento. Isso porque o ser humano é integral
e multifacetado, é por si mesmo um todo complexo e muitos dos que
buscam ajuda não estarão prontos para tratar muitas áreas da vida
simultaneamente. Estabelecer que áreas formam o todo na vida humana
não é tarefa fácil, pois há opiniões distintas entre os pesquisadores. Como

37
o objetivo deste material é mais prático do que filosófico, define-se aqui
quatro áreas para serem investigadas: as dimensões espiritual, física,
emocional e relacional.

3.2.1 Dimensão espiritual


A busca por saúde e crescimento na dimensão espiritual ocupa
lugar central, todas as dimensões da vida estão interligadas em torno da
dimensão espiritual, que é base para cura, crescimento e desenvolvimento
das potencialidades humanas.

Se for percebido, por meio de conversa ou alguns testes avaliativos,


que essa é uma área em que há necessidade e desejo de crescimento, é
necessário estabelecer que ações deverão ser realizadas para obtenção
de resultados. Mais do que buscar tarefas que trarão uma vida de
religiosidade e envolvimento com uma igreja (ainda que isso seja algo
positivo), o mentoreado deve ser ajudado a compreender que o desejável
é a escolha de separar tempo para ter um relacionamento com Deus
por meio de práticas espirituais pessoais e viver uma devoção pessoal
para com Deus. O relacionamento com Deus não se traduz em conhecer
informações a respeito dele. Um relacionamento significa um desejo
comum das partes para se conhecerem mutuamente.

As tradições hebraicas relatadas nas narrativas do Velho


Testamento mostram o desejo de Deus de estar com o homem
diariamente (Gênesis 3.8). Entretanto as atividades cotidianas, agendas
cheias de compromissos e as múltiplas informações chegando por
plataformas eletrônicas podem tirar de uma pessoa o foco de desfrutar
a presença, o poder e o propósito divino para sua vida. O pastor é alguém
chamado por Deus para viver para ele e servi-lo de todo coração. Porém
esse mesmo serviço pode afastar o pastor daquele que o chamou e deu
um sentido e uma missão para sua vida.

John Piper (2009, p. 80) faz o alerta: “irmãos, cuidado com os


substitutos sagrados. Dediquem-se à oração e ao ministério da Palavra”.
Como propostas de cuidado da vida espiritual sugerem-se ideias não
necessariamente novas, mas que podem trazer grandes resultados para

38
a vida espiritual das pessoas, como: a meditação diária na Bíblia, a oração,
jejum, o diário espiritual e o retiro espiritual.

Existem vários métodos de leitura bíblica, mas será citado como


exemplo o de Cordeiro (2008, p. 112-122), que é uma forma simples de
quatro passos (escrituras, observação, aplicação e oração). A leitura da
Bíblia deve ser feita à vontade, até que um verso se destaque no olhar do
leitor. Então ele aconselha que a pessoa construa um diário em que se
tome nota do texto bíblico, fazendo uma observação das lições percebidas
no texto, uma anotação sobre como incluir a verdade observada na
vida prática e se escreva uma breve oração agradecendo o momento e
firmando compromissos com Deus.

Na construção de um diário para a vida pessoal com Deus, há a


possibilidade de não apenas anotar textos bíblicos e orações, mas
também de registrar fatos do dia e sentimentos do coração. Um diário
como esse ajuda o pastor a conhecer a Deus, mas também conhecer a
si mesmo e sua forma de lidar com as situações diárias diante de Deus
(BUCKLAND, 2003, p. 37).

Quanto à oração, também há formas diferentes para fazer desse


momento um tempo especial. Ter uma agenda de oração em que se
são anotadas a data e os pedidos de oração, deixando um espaço para
anotar as respostas recebidas da parte de Deus, pode ser uma maneira
de desenvolver o hábito. Outra forma de aproveitar bem o momento de
oração é montar um plano de oração baseado na conhecida Oração do
Pai Nosso (Mateus 6), fazendo de cada verso bíblico um tema que sirva
de inspiração para abrir o coração num diálogo com o Senhor. A oração
contém momentos de adoração, de abrir-se à vontade de Deus, de fazer
pedidos pessoais e interceder por pessoas e situações, de confissão e
arrependimento, de pedir proteção a Deus, encerrando o momento com
louvor ao Senhor (LEA, 1987, p. 183-184).

O jejum também pode ser uma disciplina espiritual útil às pessoas.


Abrir mão da ingestão de alimentos por determinado tempo para
aproximar-se de Deus em oração pode trazer benefício, se feito com
a motivação correta. O jejum muitas vezes é buscado pelos cristãos
como meio de cuidar da saúde física, contudo o jejum serve mais para

39
concentrar o líder em Deus e alinhá-lo à vontade de Deus expressa na
Bíblia. A prática do jejum, com suas privações, molda o líder, ajudando-o
a colocar sua esperança e provisão na pessoa de Deus.

O retiro pessoal é a separação de um dia ou um fim de semana para


estar sozinho diante de Deus. Ele pode ser feito uma vez por trimestre,
por exemplo. O objetivo é fazer uma revisão de vida, avaliando se o ritmo
está adequado, se as atividades têm o foco correto, se a vida em suas
várias dimensões está no rumo certo. É um tempo para reavaliar se a
vida espiritual vai bem e buscar novos sonhos diante de Deus. Esse é um
tempo em que se deve levar papel, caneta, Bíblia, talvez algumas músicas
inspirativas e permitir-se ser confrontado por Deus por meio da Bíblia.
Anotar as decisões feitas no retiro é importante, pois facilita a avaliação
futura.

Todas essas práticas exigem disciplina e quietude. Para tanto, é


necessário que o mentoreado planeje seus encontros diários com Deus
para meditação e oração, para escrever um diário espiritual e fazer um
retiro espiritual pessoal. A escolha do local para o exercício espiritual é
fundamental, sendo necessário buscar um lugar sossegado e confortável
para isso. Outra questão é o melhor horário para a prática devocional
diária. A sugestão é que cada pessoa escolha o horário em que é possível
estar tranquilo e atento para colocar-se diante de Deus.

3.2.2 Cuidado na dimensão física


O cuidado do corpo é algo que merece ser resgatado como proposta
de cuidado dentro da igreja. Uma das missões da igreja é levar a cura
às pessoas. A busca da salvação está ligada à busca da cura no Novo
Testamento. Jesus enviou seus discípulos para curar pessoas, tanto
quanto para pregar, ensinar e batizar (Marcos 16.18). Além disso, a Bíblia
afirma que o Espírito Santo de Deus distribui dons aos crentes em Jesus
para a edificação da igreja e que dentre esses dons está o dom da cura,
sendo que este, juntamente com os demais, é dado aos crentes para que
tenham cuidado uns dos outros (1 Coríntios 12.9, 25).

40
Segundo Roseli de Oliveira, “O cuidado ao corpo como instrumento
de trabalho nem sempre é considerado necessário em interpretações
teológicas que priorizam o gastar-se por amor a Cristo” (OLIVEIRA, 2012,
p. 102). Contudo, a Bíblia é clara ao demonstrar que mesmo Jesus cuidava
de sua integridade física se retirando em alguns momentos de grande
tensão, como o registrado em Marcos 3.7.

Aqui cabe uma palavra aos mentores! Muitos, voltados ao cuidado


das pessoas, negligenciam o cuidado com sua vida física. As muitas
horas dedicadas ao atendimento das necessidades alheias pode roubar a
noção da importância do cuidado ao corpo.

Ao cuidarem de sua saúde física, os mentores não estão apenas


alcançando saúde, mas servem de referenciais para seus mentoreados.
Mentores podem ser exemplos vivos às pessoas quando assumem a
responsabilidade por seu próprio bem-estar.

A administração da energia diária do corpo é fundamental, ou seja,


é preciso escolher onde, ou em que, depositar sua melhor disposição.
Administrar bem a energia para que nos tempos de desânimo possa ter o
suficiente no reservatório para seguir em frente (CORDEIRO, 2011).

Quanto ao descanso, é preciso tê-lo como uma responsabilidade


básica, pois ele traz o ritmo à vida de forma a torná-la sustentável. É
preciso dormir bem, não apenas cuidando com a quantidade de horas
de sono, mas com a qualidade do sono. A atividade física proporciona
qualidade de vida, o que aumenta a capacidade produtiva e o bem-estar.

Outra área que muitas vezes é negligenciada é a da alimentação.


Cuidados nos hábitos alimentares normalmente só são buscados quando
há uma ameaça concreta à saúde. O ritmo de vida cada vez mais intenso
que as pessoas levam faz com que se busque soluções rápidas para
alimentação, que na maioria das vezes são inadequadas no que se refere
aos locais onde se faz as refeições e aos alimentos ingeridos, tudo isso
trazendo impacto na saúde e qualidade de vida.

41
3.2.3 Cuidado na dimensão emocional
O cuidado emocional está interligado aos demais cuidados ou
demais dimensões da vida. Vê-se com muita frequência na atualidade
pessoas que sofrem na área emocional, desenvolvendo enfermidades
como ansiedade, depressão e burnout.

Mesmo os mentores correm o risco de somatizar os problemas


decorrentes de suas próprias lutas e limitações, trazendo sobrecarga
emocional. O autoconhecimento é importante para que ajudador e
ajudado tenham equilíbrio e saúde emocional. Ambos podem buscar
ferramentas para autoconhecimento, que lhe sejam úteis nesse processo
de crescimento.

Cuidado emocional não se limita a autoconhecimento, pois


algumas vezes pessoas percebem-se limitadas e sem recursos para
enfrentar lutas e sofrimentos que lhe sobrevêm. Cabe ao mentor ter
a sabedoria de perceber as limitações do mentoreado e as próprias
limitações no processo de ajuda. Quando necessário, é aconselhável
o encaminhamento do mentoreado a profissionais da área da saúde
habilitados para promover ajuda terapêutica. A escuta terapêutica “visa
ajudar a pessoa a reorganizar seus sentimentos e cognições a partir da
fala” (OLIVEIRA, 2012, p. 104).

3.2.4 Cuidado na dimensão das relações sociais


As relações sociais fazem parte da vida de qualquer pessoa. Essa
é uma condição natural do ser humano. Este é um ser social. É sabido
que algumas das características dos dias atuais no século XXI são a
vida agitada, inúmeros compromissos, pressões cada vez maiores no
trabalho, uma carga de informações muito grande nas várias plataformas
de informação e relações sociais vividas dentro da internet.

O contato pessoal por meio do envolvimento presencial do indivíduo


com seus próximos permanece sendo importante para a saúde integral
de cada pessoa. Assim, cabe ao mentor compreender o quanto isso
tem impactado ou não o bem-estar do mentoreado. Se diagnosticada

42
a necessidade de investimento nesse aspecto, o mentor pode fazer
perguntas e testes para saber o grau de envolvimento do mentoreado com
pessoas ao seu redor nos ambientes em que vive. Quando há relações
sociais de ajuda em que se oferece e recebe escuta, compreensão e apoio,
se obtém cura e crescimento pessoal.

Relação de ajuda implica em mutualidade e reciprocidade,


portanto, o mentoreado não deve ter atitude passiva desejando apenas
receber ajuda, mas deve estar convicto de que ao se relacionar assume
responsabilidades por si e pelo outro. Há alguns ambientes sociais nos
quais o pastor pode buscar e encontrar ajuda para seus próprios dilemas,
a saber: família, amigos, equipe de trabalho, a relação com um grupo de
pastores e a relação com um mentor.

Qualquer que seja a área em que haja necessidade de investimento, é


importante ressaltar que caberá ao mentor ajudar o mentoreado a levantar
que opções tem para mudar a realidade e montar um plano de ação para
desenvolvimento em busca de saúde, crescimento e amadurecimento. O
plano de ação será o próximo passo para que se perceba um programa
para a relação de mentoria. O plano de ação é a base para avaliação e
checagem no progresso do mentoreado e da eficácia da mentoria

3.3 Estabelecendo um roteiro de ação


A mentoria só será eficaz se tiver um plano de ação com alvos e
metas palpáveis que se possa a partir destes avaliar se ela está sendo
eficaz tanto para mentor quanto para mentoreado. Ambos devem perceber
crescimento na relação e nos resultados que se espera obter.

Para estabelecer o plano de ação é importante ajustar entre as


partes ligadas ao processo de mentoria quais são suas expectativas,
(de curto, médio ou longo prazo) e se os encontros serão feitos mais
formalmente ou informalmente.

Após esses cuidados, ambos devem trabalhar juntos para a


identificação dos alvos de crescimento. Há alguns critérios para se
estabelecer bons alvos de crescimento.

43
Falando sobre esses critérios, David Kornfield (Kornfield, 2007) diz
de forma muito simples que os alvos de crescimento precisam ser claros
revelando que passo se quer dar, constando uma data para início e data
para término da tarefa em busca de se atingir o que foi proposto.

Aqui destacam-se alguns dos critérios a serem observados para o


estabelecimento de alvos de crescimento. Um bom alvo deve ser específico
(deve dizer o suficiente para que não fique nenhuma dúvida do que se
quer alcançar); deve ser mensurável (deve conter prazos e quantidades
para se poder avaliar seu alcance ou não); deve indicar ação (ser ativo e
não passivo); ser alcançável (ser realista quanto à possibilidade de ser
atingido).

3.4 Estabelecendo um contrato


Os chamados contratos de aprendizagem são comuns no início do
programa de mentoria para deixar firmado quais os compromissos que
mentor e mentoreado assumirão. Podem ser mais formais ou informais,
mas devem refletir aquilo que ambos farão. Ter um contrato facilitará a
construção de uma agenda para o processo como um todo e para os
encontros periódicos que se realizarão.

“Um contrato de aprendizagem é uma declaração escrita que mostra


as expectativas tanto do mentor como do mentoreado” (HENDRICKS;
HENDRICKS, 2011, p. 102). É fato que muitas vezes o relacionamento
entre as partes acaba por dispensar a necessidade de um contrato como
este, mas isso não minimiza sua valia no processo. Uma vez feito um
contrato de aprendizagem, monta-se a agenda que orientará os encontros
de mentoria.

3.4.1 Definindo a agenda


Definir uma agenda é extremamente importante, você deverá
juntamente com o seu mentor planejar os dias e horários dos encontros
e os assuntos a serem tratados. É importante ter objetividade, saber onde
se pretende chegar, que área da sua vida você quer desenvolver, para

44
quando chegar o grande dia da oportunidade de conversar com o seu
mentor você não a desperdiçar.

Todo processo deve ter um início, meio e fim. A mentoria não irá
acontecer por toda a eternidade, então converse com o seu mentor sobre
a possibilidade de desenvolver um cronograma, para saber quando será
o fim dos encontros. Não quer dizer que após esse “fim” o vínculo será
cortado, em alguns casos isso realmente acontece, mas não é uma
obrigatoriedade. Se você entender que o seu mentor pode lhe ajudar com
outros temas, verifique a possibilidade de dar continuidade à mentoria.
Mas sempre é bom saber o que se pretende com a mentoria e onde se
quer chegar.

A relação de mentoria pode ser feita em curtos espaços de tempo.


Conforme o crescimento do mentoreado, pode ser mais espaçada. De
início, mentor e mentoreado se encontram para definir alvos, objetivos
e estratégias para o crescimento; no decorrer da relação, encontram-se
para melhorias e possíveis correções de curso.

A definição de uma agenda para os encontros ajuda a delimitar


o que é responsabilidade de cada uma das partes na mentoria. Os
encontros de mentoria podem associar aconselhamento, leituras de
livros para desenvolvimento de áreas específicas, exercícios e atividades
propostas pelo mentor. A responsabilidade da busca por esses encontros
é do mentoreado, maior interessado no projeto.

O próximo capítulo se propõe a apresentar algumas das várias


ferramentas de apoio para uma mentoria eficaz. Conhecê-las pode ajudar
pessoas a tirarem o máximo proveito da mentoria.

45
Síntese
Neste capítulo foram vistos alguns aspectos práticos do discipulado
e da mentoria, quais atitudes são relevantes para se encontrar um
mentor, como identificar as necessidades do mentoreado, no que tange
às dimensões que formam a vida humana, sendo estas espiritual, física,
emocional e relações sociais. Também a importância de se estabelecer
um roteiro de ação e uma agenda para definir onde se pretende chegar
firmando todas as responsabilidades em um contrato que registre o
dever dos participantes da mentoria (mentor e mentoreado). No próximo
capítulo serão estudadas algumas ferramentas e apresentados testes
de apoio que auxiliam a compreender as necessidades do mentoreando
com base no autoconhecimento

46
Ferramentas de apoio
Ferramentas de apoio
Neste capítulo serão apresentadas algumas ferramentas de
autoconhecimento e desenvolvimento pessoal que contribuirão para o seu
crescimento, bem como o de pessoas que Deus enviar para você cuidar.

4.1 Há necessidade de autoconhecimento


Um sentimento de vazio e desorientação tem frustrado muitas
pessoas, por terem uma vida sem sentido. É muito comum perguntar
a uma criança: O que você vai ser quando crescer? E ela responder
inocentemente: bombeiro, médico, policial. Porém, quando se tornam
adultos, alguns perdem o desejo de lutar pelos seus sonhos e de seguir
em busca de autoconhecimento para saber se realmente estão trilhando
o caminho certo.

Embora o exemplo dado acima direcione para um tema relacionado


à vida profissional, pode-se aplicar esse raciocínio em outras áreas da
vida. Um casamento sem propósito tende a se enfraquecer com o passar
das provações. Uma vida sem propósito pode levar a um quadro grave de
depressão e frustração.

No capítulo anterior observou-se que o ser humano é integral


e multifacetado, é por si um todo complexo; foram estudadas quatro
dimensões (espiritual, física, emocional e relações sociais) que ajudam
a compreender as áreas da vida em que deverão ser investidos tempo,
recursos, estudos; foi visto também o conceito de cada dimensão. Neste
capítulo serão apresentados alguns meios para ajudar a identificar as
áreas que necessitam de mais atenção para dar início à mentoria.
A maneira como interagimos com nossas emoções e as regulamos tem
impacto em quase todos os aspectos de nossa vida. Quem tem Inteligência
emocional geralmente é adaptável, flexível, confiante, resistente, sabe
trabalhar na direção de suas metas e se recupera rapidamente do estresse 2.

2 FERRAMENTAS. Disponível em: <https://www.mrcoach.com.br>. Acesso em:


24/06/2019.

49
Pretende-se aqui ajudar você a traçar seus objetivos a partir do
entendimento de quem você é, e de suas maiores dificuldades.

Curiosidade
Autoconsciência – capacidade de perceber e identificar suas
emoções no momento em que estão emergindo.
Autorregulação – habilidade para lidar com as próprias emoções
sem deixar que gerem impactos destrutivos ou limitadores.
Empatia – capacidade de reconhecer a emoção e a perspectiva
dos outros e ser capaz de ver as coisas por meio do sistema de
valores e crenças da outra pessoa.
Habilidades sociais – aptidão para lidar com as emoções dos
outros e resolver conflitos sem comprometer os valores e as
crenças dos envolvidos (SANTOS, 2019).

4.1.1 Testes de saúde relacional


Os testes de saúde relacional ajudam a resolver problemas
emocionais e dificuldades de relacionamento interpessoal. Neste ponto
você precisará ser honesto e não poderá mascarar as respostas. Se
autoconhecer e ter saúde relacional evitam que você perca a habilidade
de proclamar as boas-novas do evangelho. Uma observação importante,
os testes contribuem para o seu desenvolvimento e crescimento
pessoal. Entretanto não perca de vista que o crescimento do cristão
está atrelado ao relacionamento íntimo que este tem com Deus a partir
da leitura da Palavra, oração e jejum. Já vimos no capítulo anterior que
todas as dimensões da vida estão interligadas em torno da dimensão
espiritual, que é base para a cura, o crescimento e o desenvolvimento
das potencialidades humanas. Portanto, nada poderá substituir esses
elementos na vida de um servo de Cristo.

50
Tabela 1: autoavaliação geral de saúde emocional

A maior
Quase Algumas Boa parte
parte do
nunca vezes do tempo
tempo

1. Minhas emoções são saudáveis e


1 2 3 4
não destrutivas.
2. Consigo expressar o que sinto
1 2 3 4
livremente.
3. Irrito-me facilmente. 4 3 2 1
4. Quando fico com raiva, consi-
go controlar minha ira de forma 1 2 3 4
saudável.
5. Expresso meus sentimentos sem
1 2 3 4
atacar ou machucar alguém.
6. Fico perturbado por dúvidas,
4 3 2 1
insegurança, medo ou ansiedade.
7. Sou controlado pela opinião ou
desejo dos outros. É difícil dizer não a 4 3 2 1
outros sem me sentir mal.
8. Vivo segundo prioridades divinas e
1 2 3 4
não sob a tirania do urgente.
9. Sou criativo e inovador. 1 2 3 4
10. Sou uma pessoa corajosa,
1 2 3 4
disposta a novas aventuras.
11. Tenho domínio próprio. 1 2 3 4
12. Eu cuido do meu corpo (durmo
bem, me alimento bem sem engordar,
1 2 3 4
exercito-me bem, mantenho a forma
e raramente fico doente).
13. Controlo minha língua. 1 2 3 4
14. Meus pensamentos e palavra são
1 2 3 4
positivos, trazendo glória a Deus.
15.Tenho uma boa autoimagem, não
me comparo com outros nem me 1 2 3 4
sinto inferior ou superior a eles.
16. Eu me aceito como sou e gosto
1 2 3 4
de mim.

51
17. Vejo a mão de Deus nos relacio-
1 2 3 4
namentos e circunstâncias ao redor.
18. Sou uma Benção e não um peso
1 2 3 4
para os outros.
19. Estou sobrecarregado ou
4 3 2 1
estressado.
20. Sei como descansar bem, tenho
um dia de descanso semanal. 1 2 3 4
Descanso bem nas férias.
21. Sinto-me culpado quando
4 3 2 1
descanso.
22. Eu me relaciono bem com os
1 2 3 4
outros e consigo resolver conflitos.
23. Estou escravizado pela culpa. 4 3 2 1
24. Entendo bem como distinguir
entre culpa falsa e culpa verdadeira e 1 2 3 4
resolvo as duas com facilidade.
25.Tenho dívidas financeiras, ou sou
controlado por outras coisas (álcool,
drogas, comida, trabalho, ministério, 4 3 2 1
pensamentos impuros ou lascivos,
televisão etc.).
26. Eu perdoo as ofensas de outros e
1 2 3 4
peço perdão pelas minhas ofensas.
27. Fico ressentido; guardo amargura
4 3 2 1
ou rancor.
28. Quando erro, eu me arrependo e
1 2 3 4
peço perdão.
29. Fui criado em um lar amoroso e
1 2 3 4
saudável, com muito diálogo.
30. Meu pai expressava seu amor e
respeito por mim verbalmente e de 1 2 3 4
forma não verbal.
31. Minha mãe expressava seu amor
e respeito por mim verbalmente e de 1 2 3 4
forma não verbal.

52
32. Quando criança, eu sabia que
meus pais se amavam e que eu era 1 2 3 4
amado.
33. Meus pais me disciplinaram de
1 2 3 4
forma saudável.

Autor: David Kornfield (KORNFIELD 2007, p. 67)

A tabela 1 foi retirada do livro “O líder que brilha”, de David Kornfield,


e a análise apresentada a seguir também foi proposta pelo autor. Como
sugestão, será importante compartilhar a sua avaliação com alguém
que o conheça bem, e principalmente, que não tenha medo ou que se
sinta intimidado por você, ou sobre o que você pensa dela(e). Assim essa
pessoa poderá confrontá-lo caso você tenha marcado algo que mascare
a realidade.

Você deverá anotar a sua pontuação e somar. O total dos pontos


será interpretado a partir da análise a seguir:

• De 124 a 132: Você é supersaudável ou está se enganando!


• De 110 a 123: Você é saudável, mas há áreas que podem ser
melhoradas.
• De 91 a 109: Você tem alguns problemas que devem ser
avaliados com mais cuidado e tratados.
• De 71 a 90: Você está sendo seriamente debilitado por sua
inabilidade de expressar suas emoções de forma saudável.
Precisa de ajuda.
• De 33 a 70: Você está quase paralisado emocionalmente; precisa
de aconselhamento e ajuda espiritual urgente e profunda.
Cada área na qual sua pontuação foi 1 ou 2 é um sinal de dificuldades
emocionais, se você tiver muitas avaliações baixas, há um lado positivo
nisso, você está sendo honesto com você e reconhece que precisa ajustar
algumas áreas, está de parabéns! Louvado seja o Senhor Jesus por sua
vida. Agora, é necessário dar o segundo passo que é pedir a Deus e ir em
busca de um mentor que o auxilie a reverter esse quadro.

53
Kornfield (2007, p. 71) ainda ajuda a compreender que existem três
níveis de dificuldades que podem favorecer a obtenção de resultados
baixos na avaliação, sendo estas:

1. Pecado, erro ou ferida bem recente, sem raízes maiores que nos
afastam de Deus ou de outras pessoas. Porém, se você resolver
rapidamente, e não ficar procrastinando, essa dificuldade não se
transformará em um grande problema.
2. Uma brecha: um pecado ou ferida não resolvida se torna uma
brecha que enfraquece e distancia você de Deus e de seus
irmãos, deixando-o bem mais vulnerável ao Inimigo, que quer
destruir você.
3. Uma fortaleza: quando a brecha permanece aberta por muito
tempo, dá-se início a construção de defesas, explicações ou
racionalizações sobre determinado problema não resolvido.
O autor explica que os muros que envolvem essas fortalezas são
pontos de apoio que fortalecem o agir de Satanás em sua vida. É possível
reconhecer essas fortalezas quando há uma reflexão sobre a vida e são
identificadas áreas que já não estão sob controle.

Algumas pessoas frequentemente tentam se enganar afirmando


que podem mudar a qualquer momento, entretanto as fortalezas estão
tão fortalecidas que não permitem que a mudança se concretize. Um
exemplo pode ser de um viciado em álcool, drogas ou pornografia. A
pessoa sempre acha que poderá parar quando bem entender, mas isso
geralmente não costuma ser tão simples assim. E quanto mais essa
pessoa se engana e demora para tomar uma atitude, o processo de
mudança e abandono do pecado se torna cada vez mais difícil e sofrido,
tanto para o indivíduo, quanto para as pessoas que estão a sua volta e
que o amam. Nos pontos a seguir serão apresentadas ferramentas e
testes que ajudam a compreender o estado em que a pessoa está e a
desenvolver um plano de ação para agir e mudar.

54
4.2 Métodos que geram crescimento
Serão conhecidos três métodos que podem contribuir para auxiliar
no processo de autoconhecimento, sendo estes o AROA, o DISC e a
Roda da Vida. Esses métodos ajudam as pessoas proporcionando o
entendimento de quais são as áreas mais fortes e as mais fracas da vida
que precisam ser desenvolvidas.

4.2.1 Aroa
Nesse método, o mentor procura fazer boas perguntas, entretanto
ele não será a pessoa que dará as respostas. É preciso que o mentoreado
chegue a suas próprias conclusões para que a mudança de vida aconteça.
É preciso investir cerca de uma hora neste mentoreamento, que deve ter
três figuras: o mentor, o mentoreado e um observador, que anota fatos
interessantes ajudando a apontar possíveis passos para mudanças na
vida do mentoreado. O AROA é, na verdade, uma sigla que representa
quatro passos para o mentoreamento que de acordo com Kornfield (2007,
p. 157-159.) são:

ALVO: indica a área ou o relacionamento que o mentoreado deseja


que mude. O tempo dedicado a este passo deverá ser por volta de 10 a 15
minutos, incluindo uma oração inicial da parte do mentor.

REALIDADE: o que impede e o que contribui para que a mudança


aconteça? O que a pessoa já procurou fazer para resolver o problema?
Busca entender melhor a realidade do mentoreado, dependendo das
respostas o objetivo da mentoria poderá ser alterado (10 minutos).

OPÇÕES: em geral, a pessoa enxerga poucas ou nenhuma opção para


resolver o problema, embora exista pelo menos meia dúzia. Neste passo,
o mentor deverá ajudar a listar essas opções de resolução, trabalhando
com ideias variadas. A princípio, tudo vale, porém durante o processo de
mentoria o mentor o ajudará a manter apenas as que são positivas e que
estão de acordo com a palavra de Deus. Aproximadamente, 20 minutos
para realização desse passo.

55
AÇÃO: aqui, haverá uma seleção das melhores opções para que
sejam levadas adiante por meio de passos concretos. É importante
identificar alguém para quem se prestará contas sobre o plano de ação
de realização das melhores opções. Este passo levará em torno de 15
minutos, incluindo oração final da parte de ambos.

É considerado um encontro de mentoria de aproximadamente


uma hora, por esse motivo são dadas sugestões de tempo, entretanto o
mentor deverá saber conduzir o tempo do encontro de mentoria de modo
que fique mais apropriado para ambos.

4.2.2 DISC (personalidade)


É um teste de perfil comportamental clássico, baseado em estudos
feitos por um psicólogo e pesquisador americano, Dr. William Moulton
Marston. Ele pesquisou pessoas sem distúrbios comportamentais e
chegou à conclusão de que os seres humanos possuem uma combinação
de quatro tipos básicos de comportamento. O nome é formado por um
acróstico em inglês que significa:

D (Dominance): dominância, dominante, direta, decidida.

I (Inducement): influência, influenciadora, inspiradora, interessada


em pessoas.

S (Submission): estabilidade, seguras.

C (Compliance): conformidade, cuidadosas, condescendente.

56
Disc Fonte: Google Imagens (2019).

Fonte: Google Imagens (2019).

Saber a sua tendência de comportamento diante das situações


da vida é muito importante para ajudar a manter o domínio próprio e a
cordialidade com pessoas que possuem o mesmo perfil comportamental.
Indivíduos similares tendem a competir e costumeiramente se
desentendem, este atrito pode trazer prejuízos catastróficos para os
relacionamentos interpessoais. Caso você queira aprofundar-se no
assunto existem profissionais (psicólogos, coachings e outros) que
aplicam o teste de maneira completa para diversas finalidades. A sugestão
é que você pesquise e se aperfeiçoe no entendimento desta ferramenta.

4.2.3 Roda da vida


Tão importante quanto saber o perfil comportamental é compreender
qual área da vida do ser humano que será mentoreado está em um
nível de criticidade mais grave. Assim é possível estabelecer um alvo de
crescimento que dará direcionamento à mentoria.

57
Tabela 2: áreas da roda da vida
QUALIDADE DE
RELACIONAMENTOS PESSOAL PROFISSIONAL
VIDA

Família Espiritualidade Financeira Disposição

Vida Amorosa Diversão Contribuição Intelectual

Vida Social Plenitude Propósito Emocional

Ter um panorama geral da criticidade das áreas da vida ajuda a


escolher qual área está sendo suprida e onde será necessário investir
mais tempo para desenvolvimento e crescimento. Uma maneira de
visualizar o desenvolvimento geral é considerar a vida como uma represa
feita de secções múltiplas. Pode-se estar indo bem em uma dimensão
da vida (estar cheio), enquanto outras áreas (estar vazio) estão sendo
negligenciadas. Seria ideal identificar as atividades e práticas que estão
ajudando a encher algumas áreas e atividades que estão esvaziando em
outras áreas. O gráfico da Roda da Vida é um tipo de teste que identifica
as áreas que necessitam de atenção e as que não estão tão graves como
demonstrado a seguir:

58
Roda da vida

Fonte: Google Imagens (2019).

Fica como sugestão que você faça os testes Roda da Vida e DISC
no site mrcoach3 Neste site você encontrará um teste chamado Nível
de Procrastinação, aproveite e faça este também. Sem dúvida será
um momento valioso de autoaprendizagem que além de o deixar mais
familiarizado com as ferramentas, proporcionará que você suba mais
alguns degraus de experiência como um mentor. Esteja sempre aberto a
correções e seja transparente com você. Quando Deus lhe enviar alguém,
você poderá oferecer esse suporte durante a mentoria.

4.3 Há necessidade de avaliação de


desenvolvimento
Agora que você tem conhecimento sobre seus pontos mais fortes e
os mais fracos, você precisará desenvolver um plano de ação para seguir

3 TUDO SOBRE COACHING E DESENVOLVIMENTO HUMANO | Mr.Coach. Disponível em:


<https://www.mrcoach.com.br/>. Acesso em: 04/07/2019.

59
em busca de melhorias. Todo projeto necessita de planejamento para se
organizar, atitude para tirar o que foi planejado do papel ou do “mundo das
ideias”, controle para saber se suas ações estão sendo bem-sucedidas
e por fim uma avaliação de resultados. A ferramenta PDCA é bastante
conhecida por estudiosos da Administração de Empresas e Gestão de
Projetos por ajudar com essas questões de maneira simples e de fácil
entendimento. Segue, resumidamente, o conceito e como você poderá
utilizar essa ferramenta na mentoria.

4.3.2 PDCA
O PDCA possibilita controlar, analisar e avaliar todo o processo
constantemente. O método indica a direção que se deve seguir para
que as metas e objetivos traçados possam ser realizados. A sigla PDCA
significa no inglês, seu idioma de origem PLAN, DO, CHECK, ACT, portanto
PDCA é a letra inicial de cada palavra que traduzida para o português
resulta consecutivamente em PLANEJAR, EXECUTAR, VERIFICAR e AGIR.
O Ciclo PDCA é projetado para ser usado como um modelo dinâmico. A
conclusão de uma volta do ciclo irá fluir no começo do próximo ciclo, e
assim sucessivamente. Seguindo no espírito de melhoria de qualidade
contínua, o processo sempre pode ser reanalisado e um novo processo
de mudança poderá ser iniciado. (NASCIMENTO, 2011, p. 3).

A figura a seguir ilustra o funcionamento do Ciclo PDCA:

Representação do Ciclo PDCA

60
4.3.1 O PDCA e a mentoria

Dica
Se porventura você for o mentor, não responda nada pela pessoa
que você está ajudando em nenhum momento. Ela precisará
encontrar formas de resolver os próprios problemas, você é o
apoio, o conselheiro e não o que resolve todos os problemas.

Como vimos anteriormente, o PDCA é dividido em quatro fases,


sendo estas: Planejamento, Execução, Verificação e Ações Corretivas (em
que ocorre a avaliação). Na tabela a seguir está indicado como adaptar o
PDCA à mentoria:

PLANEJAMENTO (P)

OBJETIVO COMO REALIZAR

Onde quero chegar e o que pretendo Caminhos para realizar os objetivos


realizar
Mais tempo dedicado ao relacionamento
Agora que você já fez todos os testes, com Deus; mudança de hábitos; leitura
coloque neste campo o que você precisará de livros que enriqueçam os seus
fazer para melhorar as áreas que estão conhecimentos; etc.
fracas e precisam de investimentos.
OBS.: pontue juntamente com o seu
OBS.: escolha uma ou duas áreas, não mentor tudo o que você acha que pode lhe
é possível trabalhar todas as áreas ao ajudar a melhorar e defina prazos e datas
mesmo tempo, do contrário você acabará de previsão para realização das atividades.
não concretizando nada. Você já sabe sobre a importância de se ter
uma agenda.

"POR ENQUANTO, TUDO ESTÁ NO PAPEL"

61
EXECUÇÃO (DO)

EXECUÇÃO DO PLANO CONTROLE

Você e seu mentor farão juntos o controle das


atividades de acordo com as datas e os prazos
sugeridos.
Realização das atividades
propostas na fase anterior. OBS.: Você prestará conta de tudo que está
realizando e o que não está para o seu mentor.

O planejamento está pronto e bem detalhado? Nesta fase você o colocará em prática
"TIRAR TUDO DO PAPEL"

VERIFICAÇÃO (C)

O QUE NÃO
O QUE FOI ACONTECEU POR QUE NÃO QUAIS OS ERROS
FEITO? COMO ACONTECEU? COMETIDOS?
PLANEJADO?

Nesta fase será investigado tudo que está acontecendo e o que não está acontecendo
e os motivos pelos quais não aconteceu.

O principal objetivo desta fase é detectar eventuais erros ou falhas.

AÇÕES CORRETIVAS (A)

ANÁLISE DAS RESPOSTAS DA ENCERRAMENTO DO


AÇÕES CORRETIVAS
FASE ANTERIOR CICLO

Aqui se inicia um novo ciclo


PDCA para descobrir como Conclusão dos
Investigar as causas das falhas
realizar ações corretivas processos e fim das
e conversar para descobrir o que
que permitam resolver as atividades do ciclo
fazer para corrigir os problemas.
atividades que ficaram inicial.
pendentes.

AÇÕES CORRETIVAS COM BASE NO QUE FOI VERIFICADO E RETOMADA DO CICLO


PARA MELHORIA CONTÍNUA.

62
Existe uma infinidade de ferramentas que podem auxiliar você a
alcançar os seus objetivos e ser uma pessoa melhor e bem resolvida.
Entretanto, muitos cristãos tendem a não dar muita atenção para este
tipo de proposta, mas a Palavra de Deus orienta a amar o próximo como
a si mesmo. Se você não consegue amar o próximo, como poderá amar a
Deus que não vemos? Perceba que existe uma linha de raciocínio:

Amamo-nos > para amar o próximo como a nós mesmos > para
provar que amamos a Deus.

O problema se agrava quando se percebe que as pessoas têm


dificuldades logo no início da cadeia, pois não se amam. Entretanto, a
Bíblia conforta dizendo que sim, é possível amar e amar o próximo como
a si mesmo, pois Deus amou primeiro. As ferramentas apresentadas
neste capítulo apenas ajudam a dar alguns passos em direção ao
autoconhecimento e autocuidado para que você se ame mais e possa
compreender o amor de Deus na sua vida, para, assim, distribuir esse amor
a outras pessoas. Os mistérios desse amor se revelam nas boas-novas
do evangelho, a saber a obra do redentor Jesus Cristo.

Síntese
Neste Capítulo estudou-se a respeito da necessidade de
autoconhecimento para se ter noção do caminho que deverá ser
trilhado, seguindo um objetivo claro e sendo emocionalmente adaptável,
flexível, confiante e resistente, sabendo trabalhar na direção de suas
metas, recuperando-se rapidamente do estresse sem perder o foco do
relacionamento íntimo com Deus. Foram vistos alguns testes de saúde
emocional e ferramentas de apoio à mentoria, como DISC, AROA e Roda
da Vida. Concluindo, foi observada a importância do controle e avaliação
de desenvolvimento durante todo o processo, bem como a de utilizar
o ciclo PDCA para auxiliar neste aspecto. Espera-se que este material
contribua para o seu desenvolvimento pessoal e espiritual em todas as
áreas de sua Roda da Vida. Deus abençoe você e seu ministério.

63
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65

Você também pode gostar