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#5 JOÃO PAULO LOPES DOS PASSOS

UPE 4M 2020.3

INSUFICIÊNCIA CARDÍACA
 Definição: síndrome (sinais e sintomas)  Quanto ao lado do coração afetado:
causados por alteração estrutural ou funcional - IC direita (comprometimento VD, sinais e
do coração, levando a redução do débito sintomas congestivos: hepatomegalia,
cardíaco e/ou aumento das pressões de esplenomegalia, ascite, edema de MMII)
enchimento no repouso ou esforço (IC sistólica - IC esquerda (comprometimento do VE, mais
ou diastólica). comum*, principalmente a função sistólica
 Caracteriza-se por um distúrbio do afetada = IC sistólica).
desempenho miocárdico e da ativação - IC biventricular (evolução a longo prazo de
progressiva do sistema neuroendócrino que uma IC começou no lado esquerdo para o lado
acarreta insuficiência circulatória e congestão. direito)
 Quanto ao mecanismo fisiopatológico:
 O principal processo fisiopatológico na - Insuficiência cardíaca sistólica (ICFER: IC
progressão da insuficiência cardíaca é a com fração de ejeção reduzida, abaixo de 50
remodelação com crescimento cavitário no ECO?)
progressivo ao longo do tempo e redução - Insuficiência cardíaca diastólica (ICFEP: IC
obrigatória da FE. com fração de ejeção preservada, normal no
ECO. Comprometimento na função diastólica,
 Insuficiência cardíaca congestiva (ICC), muitas ou seja, na capacidade do VE ou VD de
vezes, é usada exageradamente para receber sangue proveniente dos átrios,
descrever a IC, mas nem todos os pacientes causando Hipertensão venocapilar pulmonar,
de IC apresentam sinais e sintomas de levaria aos sintomas de IC)
congestão. *sintomas da ICS e ICD são iguais.
 Quanto ao débito:
 IC direita = pacientes com sinais e sintomas - IC baixo débito = ICFER
periféricos de IC (muitas vezes, pressões de - IC alto débito (fração de ejeção é normal,
enchimento elevadas no coração direito) sem porém ele está em uma condição em que há
evidências de congestão pulmonar. Ocorre em um consumo maior de oxigênio. P. ex. Beribéri,
razão do aumento das pressões venosas e de anemia, hipertireoidismo, sepse, choque
débito cardíaco inadequado, séptico. O consumo é de oxigênio é
independentemente da insuficiência do VE. aumentado pelo corpo aí o coração com FEN,
não consegue suprir o organismo em suas
necessidades metabólicas).
ETIOLOGIA:
Miocardiopatia isquêmica (mais comum*; artéria Classificação da New York Association of Heart
entupia, infarto, angina), Drogas (ex: (NYHA): FUNCIONAL
quimioterápicos), Infecções (miocardites, ex:
coronavírus), Doenças infiltrativas (sarcoidose, 1: Ausência de sintomas (isto é, sem dispneia,
amiloidose), Hipertensão (HAS pode gerar IC a fadiga, palpitações ou dor anginosa/angina???)
longo prazo quando não controlada), Doenças durante atividades cotidianas – assintomática;
valvares (estenose, insuficiência aórtica), Doenças 2: Sintomas leves durante as atividades cotidianas
do pericárdio (pericardite), Arritmias
– consegue fazer atividades moderadas, mas já
(taquicardiomiopatias).
tem dispneia (leve);
3: Sintomas desencadeados em atividades menos
CLASSIFICAÇÃO: intensas que as cotidianas ou aos pequenos
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esforços – em repouso não tem dispneia, mas com  À medida que evolui a descompensação,
qualquer esforço (mínimo) já desenvolve o sintoma, podem ocorrer dispneia paroxística noturna e
fadiga, palpitação e dor anginosa; padrão respiratório de Cheyne-Stokes.
 Fadiga, astenia e má tolerância física aos
4: Sintomas aos mínimos esforços ou em repouso
esforços.
– dispneia em repouso.
 Tontura (mais comuns com uso de
medicamentos para a IC)
SINAIS E SINTOMAS:  Palpitações e síncope podem ocorrer em
pacientes com arritmia subjacente.
 Varia muito entre os pacientes.  Anorexia e dor abdominal = comuns de IC
 Passada a fase de disfunção ventricular avançada, especialmente na IC direita.
esquerda assintomática, o sintoma inicial mais  Tosse, insônia e depressão do humor
comum e mais precoce é a dispneia, em geral (altamente prevalentes).
aos grandes esforços.  Acúmulo de líquido é a marca registrada da IC,
 Ortopneia = dispneia de decúbito, é típica nos especialmente na descompensação aguda e IC
casos mais avançados de disfunção do VE ou direita.
na IC descompensada.

DIAGNÓSTICO:
História clínica* Quando suspeitar de IC?
Exame físico* Critérios de Framinghan: 2 maiores
simultâneos ou 1 maior e 2 menores.
Exames complementares.
ECO muito importante também. CRITÉRIOS MAIORES: (9)
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1. Dispneia paroxística noturna (dorme bem, mas 3. Dispneia aos esforços (pode ocorrer em outras
após 1-2 horas de sono, acorda com dispneia, condições cardíacas e não-cardíacas, por isso
precisa levantar da cama ou ficar sentado). é um critério menor).
2. Turgência jugular/TJ (congestão das veias do 4. Derrame pleural (Raio X de tórax). Macicez na
pescoço; decúbito dorsal muito tempo pode base dos pulmões.
gerar isso) 5. Diminuição da capacidade funcional em 1/3 da
3. Crepitações pulmonares (ausculta, sinal de máxima registrada previamente (paciente que
congestão sistêmica), decorrentes do acúmulo fez um teste ergométrico há dois anos, e
de líquido no interstício e nos alvéolos conseguiu fazer 10 minutos de esforço físico,
pulmonares devido às altas pressões atriais ele desenvolveu IC, e agora só faz 2,5 minutos,
esquerdas, são comumente descritos como teve uma redução na sua capacidade
edema pulmonar cardiogênico agudo (EPCA). funcional. Ou através na anamnese: começou
4. Cardiomegalia à radiografia de tórax (índice a cansar quando? Antes disso, conseguia
cardiotorácico maior que 0,5, ou seja, maior caminhar quanto? E agora?).
que 50% do diâmetro total do tórax). 6. Taquicardia (FC > 120 bpm). (Paciente com IC
5. Edema agudo de pulmão (paciente que chega tem hiper estimulação do sistema nervoso
na emergência com muita dispneia; simpático = taquicardia).
crepitações em ápices pulmonares,
necessidade de oxigênio).
6. Terceira bulha (B3) (galope na ausculta ESQUEMA:
cardíaca). É ouvida com mais precisão com a
campânula do estetoscópio na posição lateral Critérios Maiores 9
1. Creptação pulmonar
esquerda, e significa pressão telediastólica de
2. Dispneia paroxística noturna
VE aumentada em pacientes com função de P
3. Edema agudo de pulmão
ulmão:
VE diminuída. 4. Turgência Jugular Patológica
7. Aumento de PVC (> 16 cmH2O) (Aumento da 5. Refluxo hepatojugular
C
pressão venosa central, medir//. Turgência ongestão 6. Pressão venosa central > 16 cmH2O
jugular já mostra que a pessoa tem aumento (Jugular):
de PVC). 7. Cardiomegalia
8. Refluxo hepatojugular (coloca o paciente 8. Terceira bulha (B3): galope
Coração:
deitado e faz uma compressão ao nível de OUTRAS: 9. Perda de peso > 4,5 kg em 5 dias em
quadrante superior abs). Sinal de hipertensão resposta ao tratamento.
venosa central, forma de sensibilizar a
turgência jugular. A compressão aumenta o Critérios Menores 6
retorno venoso provocando a dilatação na veia. 1. Dispneia aos esforços
9. Perda de peso > 4,5 kg em 5 dias em resposta Pu 2. Tosse noturna
ao tratamento (principalmente com o uso de lmão:
antidiurético). Significa edema. 3. Derrame pleural
Co
CRITÉRIOS MENORES: (6) ngestão
4. Edema maleolar
(Sistêmica):
1. Edema bilateral de tornozelos (de membros
inferiores a nível de tornozelo. Edema 5. Taquicardia (FC > 120 bpm)
cardiogênico = paciente acorda sem inchaço aí Coração:
no final da tarde começa a ter um aumento do OUTRAS: 6. Capacidade funcional = 1/3 da
edema, quando deita ele diminui). máxima registrada anteriormente.
2. Tosse noturna
PRINCIPAIS ACHADOS AO EXAME FÍSICO:
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1. Ictus cordis (IC + coração dilatado = ictus fica  Permite visualizar sinais de congestão
tipo dilatação, deslocado para baixo e mais pulmonar: congestão peri-hilar, linha b de
próximo a região axilar, após o 5º EIC. Kerley, derrame pleural.
Propulsivo e difuso. Cabe mais que 3-4 polpas  Cardiomegalia, vasos pulmonares túrgidos
digitais). (dilatados). Aumento da silhueta cardíaca
2. Taquicardia; implica insuficiência VE ou biventricular.
3. B3 (IC sistólica) e B4 (é a vibração do coração
quando acontece o enchimento do VE,
acontece na diástole = IC diastólica);
4. Sopros (acontece em paciente com V
dilatados. VE muito dilatado = sopro sistólico
de regurgitação mitral, coração dilata e os
folhetos da valva mitral não conseguem fechar
adequadamente, aí acontece o refluxo de
sangue do VE para o AE gerando o sopro). É
Insuficiência cardíaca. A: cardiomegalia, congestão pulmonar
sugestivo de IC ou lesões valvares. e derrame pleural à direita. B: após tratamento, tudo normal.
5. Estertores pulmonares (crepitações em base
ou terços médios) ou Murmúrio Vesicular/MV  Ecocardiograma.
abolido (Derrame Pleural), naquele pulmão.  Principal exame complementar a partir do
6. Taquipneia/Cheyne-Stokes* diagnóstico sindrômico da IC.
7. Pulsos (alternante; faz a palpação do pulso  Avaliar o tamanho e função do coração
arterial e você percebe que ora o pulso tá função sistólica e diastólica, fração de
aumentado em amplitude, ora reduzido). Sinal ejeção do VE, refluxo através das valvas,
sugestivo de IC, principalmente contratilidade do músculo cardíaco,
avançada/grave. espessuras parientais, dimensões das
8. Pressão de pulso (diferencial) reduzida = PS – câmaras, presença de alterações
PD. pericárdicas, amiloidose, etiologia de
9. TJ doenças valvares.
10. Refluxo Hepatojugular  Em resumo, é útil na avaliação da
11. Edema estrutura e funções cardíacas e para a
12. Ascite/hepatomegalia. Sendo de origem identificação de possíveis causas
cardíaca, a hepatomegalia é dolorosa, e que estruturais da IC, fornecendo informações
melhora com o tratamento. importantes para o diagnóstico,
O peso corporal costuma ser útil no monitoramento das prognóstico e conduta médica.
condições compensatórias. Acompanhamento de  *Transtorácico (mais comum).
descompensação em tratamento.
VD
VE
EXAMES: VE
 Radiografia de tórax. AE
 Tamanho do coração e as condições do
parênquima pulmonar.
 Pacientes com IC podem apresentar
índice cardiotorácico normal, se estiver 1. VE muito maior que VD (dilatação importante do VE). ????
como interpretar isso. 2. 4 câmaras cardíacas, VE e AE
compensada.
dilatados, lado direito normal.
 Mostra qual câmara cardíaca está
dilatada.  Outros exames:
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a) Ecocardiograma tranesofágico (parece com a  Um ECG normal torna pouco provável o
endoscopia digestiva, quando não se consegue diagnóstico de IC sistólica (tem valor
boas imagens no ECO tradicional). preditivo negativo superior a 90%).

b) Ressonância magnética cardíaca f) Laboratório: Exames de Sangue


 Permite avaliação detalhada da anatomia,  BNP/Pro-BNP
função e perfusão cardíacas com  Peptídeo natriurético cerebral = são
excelente definição da estrutura tecidual sintetizados nos miócitos com liberação em
miocárdica. situações de hipertrofia, dilatação e
 Bom para ver as artérias coronárias aumento de tensão ventricular.
(Angioressonância).  A forma ativa leva a vasodilatação,
 Melhor exame para avaliação de função redução da atividade do Sistema R-A-A e
sistólica do VD, em casos de IC direita, SNA simpático, e estimula diurese e
por exemplo. natriurese.
 Uso do Gadolínio auxilia na avaliação de  Avaliação diagnóstica em casos duvidosos
etiologias específicas, como: (diferenciação de dispneia de origem
miocardiopatias infiltrativas (amiloidose; pulmonar e cardíaca)
sarcoidose), e miocardites virais.  Pacientes com diagnóstico definido, esse
exame tem função prognóstica.
c) Cateterismo cardíaco  Fatores como idade, sexo feminino e
 DAC é a principal causa de IC, e esse insuficiência renal estão associados a
exame consegue detectar isso. aumento dos valores dos peptídeos.
 Define a anatomia arterial coronariana,  Na emergência, para dar o diagnóstico de
função cardíaca e hemodinâmica arterial IC aguda, é um exame importante
pulmonar.
 Injeta um contraste nas coronárias, então  Testes sanguíneos são usados para
observa se o contraste está passando diagnosticar causas potencialmente
normal ou não, se tem área que ele não reversíveis e corrigíveis, p. ex: Testes da
passa bem, lentificada ou não passa função tireoidiana, e Testes para obter o
(=artéria entupida). nível sérico de Hb (anemia como causa de
IC de alto débito).
d) Tomografia computadorizada (define bem  Marcadores de necrose miocárdica:
coronárias). paciente infartou e desenvolveu uma IC
aguda.
e) ECG
 Exame fundamental: baixo custo, fácil
acesso. ALGORITMO DE DIAGNÓSTICO DE IC
 Presença de zonas eletricamente inativas CRÔNICA:
sugere cardiopatia isquêmica (onda Q
patológica, e infra/supra do segmento ST).  Paciente com sinais e sintomas de IC, solicitar
 Sinais de SVE sugerem cardiopatia BNP.
hipertensiva ou valvar (com sobrecarga  BNP aumentado = IC crônica provável
pressórica ou de volume)  BNP intermediário = IC crônica incerta
 Sobrecargas atriais sugerem etiologia  BNP normal = IC crônica improvável
valvar ou miocardiopatia restritiva  Na ausência de BNP = usar ECO.
 Baixa voltagem do complexo QRS pode  FER + Critérios Framingham = ICFER,
indicar derrame pericárdico deve-se investigar a causa (etiologia).
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 FE Normal = avaliar função diastólica.
Se tiver critérios de disfunção diastólica
= ICFE preservada.

 Investigação etiológica:  ECO com alteração de contração segmentar


(alterações localizadas*, de acordo com a anatomia
Causa chagásica: da coronária. P. ex. redução da contratilidade em
 Avaliar antecedentes epidemiológicos. Fazer toda a parede anterior “transmural”, e parede lateral
sorologia para Chagas. e inferior normais, desconfiar como causa
 ECG Chagas = Bloqueio de ramo direito e bloqueio isquêmica) ou presença de aneurisma apical
divisional anterossuperior esquerdo, alterações (gigantesco).
sugestivas de comprometimento chagásico. - Se a redução da contratilidade for difusa*, toda a
 ECO Chagas = sinal patognomônico da doença = musculatura do coração, não respeitando nenhum
aneurisma apical em dedo de luva (como se território de nenhuma coronária = outra causa.
estivesse um dedo).  Investigar pelo cateterismo cardíaco: pois aí já vem
definição anatômica da etiologia.
 Doença isquêmica é transmural, isto é, pega
Causa isquêmica:
epicárdio, miocárdio e endocárdio na mesma hora.
 Fatores de risco para DAC (hipertenso, diabético,
tabagista).
 Histórico familiar de IAM ou Revascularização Causa hipertensiva:
miocárdica (RM).  História de HAS
 ECG com área eletricamente inativa (onda Q  Deve-se fazer antes do diagnóstico, uma exclusão
patológica) ou sinais de isquemia miocárdica de outras etiologias.
(infra/supra do segmento ST).
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Causa alcóolica:  Deve-se fazer antes do diagnóstico, uma exclusão
 História de ingesta de > 90 g/dia de álcool (8 de outras etiologias.
doses) por 5 anos. IC pela própria toxicidade do  Um paciente dele: fez RM deu comprometimento
álcool na musculatura cardíaca. tardio mesomiocárdico. Não pegou endocárdio nem
 Deve-se fazer antes do diagnóstico, uma exclusão pericárdio. Não tinha como ser isquêmica.
de outras etiologias. Causa Idiopática:
 Deve-se fazer antes do diagnóstico, uma exclusão
Causa Miocardite: de outras etiologias.
 História recente de infecção viral
 IC início recente (< 2 meses)

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