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Pereira & Ramos, 2013, Valores
Pereira & Ramos, 2013, Valores
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com a Universidade de Toronto para comercialização da insulina, recém-
-descoberta. Esta colaboração público-privada na investigação, no desen-
volvimento tecnológico, em projetos de «incubação» e desenvolvimento
de novas empresas é hoje um rumo irreversível. A afirmação, citada no
texto, de que as universidades não devem ser os motores da inovação,
deve ser interpretada com reserva. Na área das Ciências da Vida, por
exemplo, a inovação emerge naturalmente da aliança da ciência básica
com a aplicada, e nem sempre é possível destrinçá-las.
As universidades estão cada vez mais implantadas no mercado da
educação de um modo que certamente chocaria os nossos antepassados
académicos. Refiro-me, nomeadamente, aos designados «massive open
online courses» («MOOCs»), que pretendem atingir, sobretudo na área
das humanidades, uma população vastíssima, alienando, em grande me-
dida, o contato pessoal, a troca direta de conhecimentos e ideias que está
na essência de qualquer modo de ensinar. Para os mais críticos, as
MOOCs não pretendem democratizar ou desenvolver a educação, mas Valores O estudo dos valores humanos baseia-
se no pressuposto de que os valores
sim poupar dinheiro, fazer dinheiro e manter uma ligação corrupta entre Cícero Roberto Pereira constituem um conjunto de princípios
a aérea dos negócios e a academia. Se é verdade que as novas tecnologias e Alice Ramos estruturantes da vida das pessoas e da
de informação já marcaram incisivamente métodos e programas educati- organização da sociedade. Mas o que
vos, será que trarão consigo uma mutação irreversível dos princípios fun- são valores? Quais são as suas fontes? E em que medida os valores repre-
dadores que garantiram a sobrevivência da mais duradoura criação da sentam diferenças entre culturas? Neste capítulo procuraremos respon-
inteligência humana? der a estas questões a partir da investigação que os cientistas sociais têm
A resposta a esta questão tem de ser um rotundo não, mas obriga- vindo a realizar, procurando dar saliência ao estudo dos valores no con-
nos a refletir sobre o que importa preservar e como fazê-lo. Martha C. texto português.
Nussbaum, filósofa distintíssima, trata precisamente esse tema num livro
recente, «Not for profit, Why Democracy needs the Humanities». Vale a O que são valores?
pena citar na íntegra a sua conclusão: «Democracies have great rational A literatura tem mostrado um importante esforço na delimitação
and imaginative powers. They also are prone to some serious flaws in do conceito de valor de modo a que seja o mais claro e objetivo possível,
reasoning, to parochialism, haste, sloppiness, selfishness, narrowness of apesar de ainda existir algum dissenso sobre o que realmente são os valo-
the spirit. Education based mainly on profitability in the global market res. O antropólogo Clyde Kluckhohn (1951) propôs que um valor seria
magnifies these deficiencies, producing a greedy obtuseness and a techni- uma conceção explícita ou implícita sobre o que é desejável. O sociólogo
cally trained docility that threaten the very life of democracy itself». Talcott Parsons (1952), por sua vez, preferiu descrever o conceito a partir
Mais do que nunca, é pois necessário pensar a universidade como das suas características funcionais: os valores seriam critérios ou padrões
uma célula viva, revestida por uma membrana permeável que permita de julgamento a que as pessoas recorrem para tomar decisões perante
trocas constantes com uma sociedade de metabolismo cada vez mais ati- situações sociais em que são confrontadas com diferentes alternativas
va. Mas é no núcleo dessa célula que deve ser preservado o código de possíveis. Contudo, faltava saber o que caracterizaria esses critérios ou
princípios que define e sustenta uma democracia moderna. padrões de julgamento. Foi o psicólogo social Milton Rokeach (1973)
quem os caracterizou como crenças individuais. A ideia de valor enquanto
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crença viabilizou a realização das principais investigações empíricas Inicialmente, Shalom Schwartz e seus colaboradores desenvolve- A
sobre este tema nos últimos 40 anos. Para Rokeach um valor seria, na ram um método de estudo das motivações subjacentes aos valores huma- B
verdade, um tipo particular de crença: uma crença duradoura sobre com- nos que consistia em pedir às pessoas que indicassem a importância de
portamentos (e.g., obedecer as leis) ou princípios-fim (e.g., a liberdade) 57 valores enquanto princípios-guia nas suas vidas. Este método ficou co- C
que uma pessoa acredita que a sociedade prefere que sejam realizados. nhecido como o Schwartz Value Survey (SVS). A partir da análise do pa- D
Um sistema de valores seria um conjunto de crenças sobre a hierarquia drão de respostas, Schwartz identificou 10 tipos de motivações básicas
de importância dos comportamentos e princípios-fim que as pessoas ima- que seriam a razão pela qual as pessoas aderem a alguns valores e não a E
ginam que a sociedade prefere que sejam prioritários. outros. Essas motivações seriam responsáveis pela agregação dos valores F
Algum tempo depois, Shalom Schwartz e colaboradores (e.g., nos seguintes domínios ou tipos motivacionais: universalismo; benevolên-
Schwartz et. al. 2012) propuseram uma teoria sobre a natureza e orga- cia; tradição; conformidade; segurança; poder; realização; hedonismo; G
nização dos valores humanos integrando as principais características estimulação e autodireção. A Tabela 1 descreve as motivações subjacentes H
dos valores identificadas por Rokeach (1973) − um valor como uma a cada tipo de valor e as necessidades humanas que representam.
I
crença sobre comportamentos e princípios-fim − e por Kluckhohn Teoricamente, os 10 tipos de valores seriam universais justamente por-
(1951) − um valor como uma conceção sobre o que é desejável − o que, que representariam motivações psicológicas básicas. Para analisar essa hipó- J
paradoxalmente, pode ter contribuído para a ambiguidade do conceito tese, Schwartz realizou estudos em vários países onde não só observou a
K
de valor. A ambiguidade reside no facto de os valores poderem ser con- presença dos 10 tipos motivacionais, como constatou a existência de relações
ceções ou crenças. A definição proposta por Schwartz realça outras ca- de compatibilidade e conflito entre valores. Dois valores são compatíveis na L
racterísticas típicas dos valores, como o facto de transcenderem medida em que expressam motivações psicológicas similares. Por exemplo,
M
situações específicas e serem funcionais na medida em que têm força os valores autonomia e criatividade são compatíveis porque representam a
motivacional suficiente para guiar as atitudes e comportamentos dos motivação das pessoas para promoverem a livre expressão de pensamento e N
indivíduos, como, aliás, Parsons (1952) já havia destacado no contexto a busca de novas experiências. Um conflito de valores ocorre quando estes
O
da sua teoria geral da ação. representam duas motivações psicologicamente antagónicas. Esse conflito
está presente, entre outros, na oposição entre os valores que traduzem a mo- P
A fonte dos valores tivação para a abertura à mudança (representando a compatibilidade entre
Q
A teorização sobre os valores também tem proposto um conjunto autodeterminação, estimulação e hedonismo) e os valores que traduzem a
de hipóteses sobre a fonte dos valores. Essas hipóteses tentam especificar motivação para a conservação (representando a compatibilidade entre valo- R
os princípios psicológicos básicos que motivam as pessoas a adotar um rizar a segurança, a tradição e a conformidade). O princípio que organizaria
S
conjunto de valores e evitar aderir a outros. Por exemplo, segundo a teo- esta oposição seria um conflito entre a motivação das pessoas para expressa-
ria proposta por Schwartz e colegas, a origem dos valores pode ser encon- rem o seu pensamento de maneira independente, agindo com o objetivo de T
trada em três necessidades que considera universais: necessidades promover a mudança social, e a motivação para agirem de forma submissa
U
biológicas; necessidade de relações sociais estáveis e necessidade de bem- perante a autoridade, promovendo a estabilidade na sua vida pessoal e social,
-estar e de sobrevivência dos grupos. Neste sentido, a adesão das pessoas isto é, nos costumes e tradições. Um exemplo típico desse conflito estaria na V
aos valores é motivada pelo seu desejo de satisfazer essas necessidades. oposição entre a valorização da autonomia e da tradição na medida em que o
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Um dos principais desafios no estudo dos valores seria, portanto, identifi- primeiro representa a motivação das pessoas para agirem no sentido de pro-
car as motivações básicas que determinam a adesão das pessoas a um moverem a livre expressão de pensamento e ação independentemente do X
conjunto de valores. Trata-se de um esforço que muitos investigadores que os outros pensam ou fazem, enquanto o segundo representa uma moti-
Y
têm feito para aferir em que medida uma pessoa adota um valor e o hie- vação oposta, caracterizada pelo desejo de manutenção e preservação de tra-
rarquiza no seu sistema de valores. dições culturais, familiares e religiosas. Z
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Outro conflito motivacional contrapõe os valores de autotrans- Tabela 1 | Fonte, tipos e subtipos de valores e motivações (inspirado em Schwartz e colegas 2012) A
cendência (representando a compatibilidade entre universalismo e bene- FONTE TIPO DE VALOR SUBTIPO MOTIVAÇÃO B
volência) aos valores da autopromoção (representando a compatibilidade (Necessidades) DE VALOR
Promover a liberdade para exprimir C
entre poder e realização). O princípio que organiza esta dimensão seria o Pensamento
as próprias ideias e habilidades
Organismo
conflito entre a motivação das pessoas para aceitarem os outros como Autodeterminação D
e interação Promover a liberdade para determinar
iguais, transcendendo os interesses pessoais em favor do bem-comum e a Ação
as próprias ações
motivação para atingir o sucesso pessoal e alcançar meios para exercer o E
Organismo Estimulação Procurar excitação, novidade e mudança
domínio sobre os outros. Um exemplo desse conflito seria a idêntica valo- F
rização da igualdade e do poder, uma vez que o valor da igualdade repre- Organismo Hedonismo Buscar o prazer e a gratificação sensual
senta a motivação das pessoas para promoverem a equidade social, G
Busca do sucesso de acordo
Interação grupal Realização
com os padrões sociais
enquanto o valor do poder representa a motivação para promoverem o H
domínio sobre as outras pessoas e grupos sociais através do controlo de Exercer o poder por meio do controle
Dominação
sobre outras pessoas I
recursos materiais e sociais. Interação grupal Poder
Exercer o poder por meio do controle
Atualmente, a teoria dos tipos motivacionais é a mais utilizada em Recursos
dos recursos materiais e sociais. J
todos os domínios das ciências sociais. De facto, trata-se de uma teoria for-
Obter segurança e poder por meio K
malmente bem estruturada e com evidência empírica que assegura a vali- Interação grupal Aparências da manutenção da imagem pública
dade da maioria das conjeturas que postula. No entanto, a investigação e evitar humilhação pública
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conduzida por Schwartz e seus colaboradores durante mais de 20 anos per- Pessoal
Promover a segurança do ambiente
Organismo imediato M
mitiu verificar que alguns tipos de valores representam mais do que uma e interação Segurança
motivação psicológica básica. Para analisar em detalhe cada motivação, de- grupal
Societal
Promover a segurança e estabilidade N
da sociedade como um todo
senvolveram uma nova versão do questionário de medida dos valores, o
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Portrait Values Questionnaire (PVQ) constituído por 57 perguntas que des- Manter e preservar as tradições
Grupal Tradição
crevem uma pessoa hipotética a expressar cada um dos valores que se pre- culturais, familiares e religiosas
P
tende avaliar. Por exemplo, para avaliar o valor da igualdade, o PVQ sugere Promover a conformidade às regras,
Regras Q
aos participantes que imaginem «uma pessoa que acha importante que leis e obrigações formais
Interação grupal Conformidade Promover a conformidade com outras
todas as pessoas no mundo sejam tratadas igualmente. Acredita que todos R
Interpessoal pessoas para evitar perturbá-las
devem ter as mesmas oportunidades na vida». A tarefa dos participantes é ou prejudicá-las.
S
indicar em que medida consideram a pessoa descrita parecida consigo. Grupal Humildade Reconhecer as próprias limitações
As motivações básicas acima descritas foram observadas em Portu- T
Organismo Lealdade Ser fiel e confiável ao endogrupo
gal nos estudos realizados por Alice Ramos (2011), a partir de dados do e interação grupal
Benevolência
Cuidado Buscar o bem-estar do endogrupo U
European Social Survey, que inclui uma escala reduzida do PVQ adaptada
por Schwartz para o efeito. A autora identificou a hierarquia dos princí- Promover a igualdade, a justiça V
Justiça
e a proteção para todas as pessoas
pios motivacionais subjacentes aos valores dos portugueses e comparou-a
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com a hierarquia dos valores de cidadãos de outros países europeus. Promover a proteção da natureza
Interação grupal Prot. Natureza
Universalismo e dos recursos ambientais
Os estudos realizados permitiram constatar que tanto em Portugal como e organismo X
nos restantes países analisados as pessoas dão prioridade aos valores da Promover a aceitação e a compreensão
Tolerância em relação às pessoas percebidas como Y
autotranscendência e da conservação, dando menos importância aos va-
diferentes
lores da abertura à mudança e da autopromoção. Analisando os dados Z
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das seis vagas do ESS (ver a Figura 1), podemos verificar que a hierarquia «construção de finalismos fechados no interior do circuito artificial de A
dos valores dos portugueses se mantém estável ao longo dos últimos 10 necessidades, funções, atores e comportamentos» (p. 103). Uma visão B
anos, ainda que alguma aproximação entre os valores da autopromoção e menos funcionalista e individualizante sobre a fonte dos valores tem
da abertura à mudança seja notável, sobretudo devida a uma ligeira dimi- sido proposta por Cícero Pereira e outros investigadores (2005). De C
nuição na importância atribuída aos últimos. acordo com esta perspetiva, os valores serão princípios básicos social- D
mente partilhados sobre o modo como a sociedade deve ser organizada.
Figura 1. | Hierarquia dos Valores em Portugal Mais do que representar motivações e necessidades básicas, os valores E
5 H
K
3
L
M
2
N
O
1
2002 2004 2006 2008 2010 2012 P
Autotranscedência Abertura a Mudança
Q
Conservação Autopromoção
S
Recentemente, a teoria foi revista por Schwartz e colegas (2012),
resultando um modelo que distingue 19 tipos motivacionais em vez dos T
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Valores e diferenças culturais país onde se valoriza mais os elementos típicos de sociedades coletivistas A
Para além da investigação sobre os valores estar assente no pres- do que os aspetos que definem as culturas mais individualistas. B
suposto de que estes representam princípios fundamentais que orien- Apesar de o contínuo individualismo-coletivismo ser um importante
tam os vários aspetos da vida das pessoas e, assim, permitir o estudo das princípio organizador das diferenças culturais, outras dimensões valorati- C
diferenças individuais, outro pressuposto que orienta a investigação vas têm sido propostas para a compreensão das características culturais D
neste domínio é a ideia de que a importância que uma sociedade em das sociedades contemporâneas. Por exemplo, na sua obra A Revolução
Silenciosa, Ronald Inglehart (1977) propôs que as diferenças culturais refle- E
geral confere aos valores também reflete os princípios fundamentais
que orientam essa sociedade, o que permite o estudo dos valores parti- tem uma interação complexa entre o desenvolvimento sócio-económico e a F
lhados em diferentes países e culturas. Isto é, para além de os valores prioridade que, em cada sociedade, se atribui a dois conjuntos de valores
sócio-políticos, designados por valores materialistas e pós-materialistas. G
serem crenças duradouras que guiam a vida das pessoas, são também
princípios-guia de uma sociedade. Estes são o que autores como Geert Esta proposta baseou-se numa interpretação que Inglehart fez das teses de H
Hofstede e Ronald Inglehart designaram por valores culturais. Por Max Weber sobre a relação entre os valores e o desenvolvimento do capita-
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exemplo, ao analisar as diferenças entre 50 países em vários domínios lismo. Para Inglehart (1977) os valores materialistas representam uma mu-
da vida cultural, Geert Hofstede (1980) identificou um princípio valora- dança ocorrida nas sociedades industriais modernas. Esta mudança J
tivo básico responsável pela maioria das diferenças entre práticas e caracterizou-se pela diminuição da importância dos valores religiosos como
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orientações culturais dos países estudados. Trata-se de um princípio or- princípios-guia dessas sociedades e pela emergência de um Estado laico
ganizador dos valores que distingue a orientação para o individualismo orientado para a satisfação das necessidades básicas da sua população. As L
(i.e., a importância que uma sociedade confere às ações motivadas pelo prioridades seriam, então, o crescimento económico e a promoção de um
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autointeresse e pela realização pessoal) e a orientação para o coletivis- ambiente de segurança e ordem, quer em termos individuais (relações in-
mo (i.e., a importância que uma sociedade atribui às ações orientadas terpessoais e familiares), quer em termos sociais (segurança nacional, por N
para a satisfação do interesse comum). De acordo com Hofstede (1980), exemplo). Neste sentido, a passagem do sistema de produção típico das so-
O
cada sociedade poderia ser descrita a partir da sua posição no contínuo ciedades feudais para o sistema de produção capitalista, característico das
individualismo-coletivismo. Sociedades individualistas seriam aquelas sociedades modernas teria sido acompanhada por sucessivas mudanças nos P
que valorizam as ações que promovem a independência dos indivíduos valores culturais: os valores religiosos davam lugar aos valores materialis-
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em detrimento das orientações normativas de seus grupos de referência tas. O principal postulado de Inglehart (1977) é o de que o desenvolvimento
(e.g., o grupo familiar; as instituições às quais pertencem), enquanto económico gera mudanças no sistema de valores culturais que, por sua vez, R
sociedades coletivistas seriam aquelas que valorizam mais as ações produzem um efeito de feedback, alterando os sistemas económicos e polí-
S
orientadas para a manutenção do status quo, em que os interesses indi- ticos das sociedades. Alcançada a estabilidade económica e a segurança da
viduais são postos ao serviço do «bem-comum». população este processo daria origem a uma revolução silenciosa dos valo- T
Isto significa que nas sociedades individualistas valorizam-se mais res culturais tornando mais abstratas as necessidades e aspirações das suas
U
a promoção da autonomia dos cidadãos e a sua independência afetiva em populações, agora dirigidas para a autorealização, a liberdade de expressão
relação aos outros membros da sociedade porque o objetivo das normas e estética e política, e a proteção do ambiente. Os valores pós-materialistas V
práticas culturais é a satisfação das necessidades e interesses do indiví- representariam esta fase no processo de mudança cultural.
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duo. Contrariamente, nas sociedades coletivistas valorizam-se mais as Com base nos dados do European Value Study de 1981, 1990 e 1999,
práticas tradicionais e incentiva-se a interdependência afetiva do indiví- a propósito da saliência de valores materialistas e pós-materialistas no X
duo em relação aos seus grupos de referência, dado que o objetivo da cenário europeu, Jorge Vala (2003) verificou a prevalência generalizada
Y
ação individual é manter a harmonia da coletividade. Os resultados da dos primeiros. Contudo, de 1981 para 1990 registou-se uma mudança na
investigação conduzida por Hofstede caracterizaram Portugal como um direção do pós-materialismo na maioria dos países, tendência contrariada Z
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Figura 3 | Posição de Portugal e de outros países europeus na dimensão materialismo-pós-materialismo posição materialista, ainda que se observe uma ligeira tendência de mu- A
Pós-Materialismo
Considerações finais F
0,0
Os valores têm sido estudados como sinónimos de crenças individu-
G
-0,5 ais relativamente estáveis sobre os comportamentos e princípios-fins con-
siderados prioritários, ou seja, os valores individuais que guiam os vários H
-1,0
aspetos da vida das pessoas. Numa perspetiva distinta, os valores têm sido
I
-1,5 estudados como princípios-guia de uma sociedade, isto é, os valores cul-
Materialismo
turais que se refletem nas disposições normativas que regem as socieda- J
-2,0
1990 1999 2008 des e que permitem o estudo das diferenças culturais.
K
Muito tem sido feito e o campo de estudo dos valores continua a
Países Nórdicos UE Pré-Alargamento Pós-Alargamento Portugal
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