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NOÇÕES GERAIS SOBRE PROPRIEDADE

Propriedade é o direito real de usar, gozar, dispor e reivindicá-la em face de


quem injustamente a detenha, nos limites da sua função social.
- Propriedade plena: o proprietário tem todos os seus atributos (gozar, usar,
reaver e dispor da coisa).
- Propriedade limitada: alguns dos atributos da propriedade passam a ser de
outrem, constituindo-se em direito real sobre a coisa alheia.
Art.1228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o
direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou
detenha.
§ 1º. O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas
finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de
conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas
naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como
evitada a poluição do ar e das águas.
a) Poderes inerentes à propriedade:
- Direito de usar: direito de obter todos os proveitos, de usar a propriedade
de todas as formas previstas ou não vedadas em lei.
- Direito de gozar: direito de perceber os frutos; faculdade de retirar todos os
frutos a coisa; fruir ou gozar de todos os benefícios lícitos.
- Direito de dispor: prerrogativa de transferir o bem.
- Direito de reivindicar: direito de buscar o bem em face de quem
injustamente o detenha.
b) O direito de propriedade não se extingue pelo não uso, enquanto não
sobrevier causa extintiva legal ou oriunda da própria vontade do titular
(direito de sequela).
c) Pode ser transmitido por gerações.
d) É absoluto/oponível erga omnes.
e) É um direito exclusivo, pois determinada coisa não pode pertencer a mais
de uma pessoa, salvo os casos de condomínio ou copropriedade.
FORMAS DE AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE IMÓVEL
a) Formas Originárias: há um contato direto da pessoa com a coisa, sem
qualquer intermediação pessoal. Aqui, a pessoa adquire a propriedade
sem que esta tenha as características anteriores, do antigo proprietário.
É o que ocorre na usucapião.
1) Acessões Naturais e acessões industriais/artificiais (artigo 1253 a
1259): modo originário de aquisição da propriedade imóvel em virtude do
qual passa a pertencerão proprietário tudo aquilo que foi incorporado de
forma natural ou artificial.
Acessões naturais: ilhas, aluvião, avulsão e álveo abandonado
Acessões artificiais: plantações e construções
Art. 1.253: toda construção ou plantação existente em um terreno presume-
se feita pelo proprietário e a sua custa, até que se prove o contrário.
As construções e plantações tem natureza acessória e, por isso, seguem o
principal.
Regras específicas:
a) Art. 1.254: Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno próprio com
sementes, plantas ou materiais alheios, adquire a propriedade destes;
mas fica obrigado a pagar-lhes o valor, além de responder por perdas e
danos, se agiu de má-fé.
Tome-se por exemplo alguém que, por amizade, guarda cimento de um
amigo em sua fazenda. O guardador do cimento, no entanto, constrói algo
em sua fazenda com o cimento do amigo. O fazendeiro será proprietário do
bem construído mas deve ressarcir o valor do cimento e pagar eventuais
perdas e danos, pois agiu de má-fé.
b) Art.1255. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno alheio perde,
em proveito do proprietário, as sementes, plantas e construções; se
procedeu de boa-fé, terá direito à indenização.
Tome-se como exemplo alguém que está ocupando a casa de um parente a
qual está vigiando. Durante a ausência, constrói, com material próprio, uma
piscina na casa. O ocupante não terá qualquer direito, pois agiu de má-fé.
Se construiu algo que visava proteger a casa, agiu de boa-fé e deverá ser
indenizado.
Se a construção é de boa-fé e seu valor superar o do imóvel, aquele que
construiu adquirirá a propriedade, cabendo indenização judicial, caso não
haja acordo entre as partes.
2) Usucapião
Aquisição da propriedade por uma posse prolongada que preenche
determinados requisitos legais. É uma situação de aquisição de domínio, pela
posse prolongada, permitindo a lei que uma determinada situação de fato
alongada por certo intervalo de tempo se transforme em uma situação jurídica:
a aquisição originária da propriedade. Podem ser objeto de usucapião bens
móveis e imóveis, além de outros direitos reais como a servidão. A sentença
que reconhece a usucapião tem natureza declaratória, pois quando não estão
presentes os demais pressupostos legais, considera-se adquirido o domínio
pelo decurso do lapso de tempo previsto na lei. É uma posse com intenção de
dono. É uma posse mansa e pacífica, contínua e duradoura.
A usucapião atende à função social da propriedade.
Os atos de mera tolerância não induzem usucapião.
- Características da posse usucapível
Posse com intenção de dono
Posse mansa e pacífica
Posse contínua e duradoura (sem interrupção)
Posse justa (não pode apresentar os vícios de violência, clandestinidade e
precariedade)
Posse justa e com justo título: requisitos da usucapião ordinária
Modalidades de usucapião:
a) Usucapião Extraordinária: art.1238
Art.1238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição,
possuir como seu um imóvel, adquiri-lhe a propriedade, independentemente
de título e boa-fé, podendo requerer ao juiz que assim o declare por
sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de
Imóveis.
Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos
se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia, ou nele
realizado obras ou serviços de caráter produtivo.
Nesse caso, a aquisição originária da propriedade pela usucapião
extraordinária dispensa justo título e boa-fé. O prazo cai para 10 anos se o
possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual ou nele
realizado obras ou serviços produtivos.
b) Usucapião Ordinária: art.1242
Art.1242. Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e
incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos.
Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o
imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro
constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os
possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado
investimentos de interesse social e econômico.
Pressupõe uma posse mansa, pacífica e ininterrupta com animus domini
por 10 anos, um justo título (qualquer ato jurídico hábil, em tese, a transferir
a propriedade, independentemente de registro) e a boa-fé.
c) Usucapião constitucional agrária ou especial rural:
Art. 1.239. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano,
possua como sua, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra
em zona rural não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por
seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a
propriedade.
Requisitos:
a) Área não superior a 50 hectares localizada na zona rural
b) posse de 5 anos ininterruptos, sem oposição + animus domini
c) utilização do imóvel para subsistência ou trabalho
d) não poder ser proprietário de outro imóvel
Não há necessidade de justo título e/ou boa-fé pois a destinação que
cumpre a função social da posse é absoluta.
d) Usucapião constitucional ou especial urbana:
Art. 1.240-A. Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem
oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até
250m² (duzentos e cinquenta metros quadrados) cuja propriedade divida
com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para
sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe- á o domínio integral, desde que
não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. (Incluído pela Lei nº
12.424, de 2011).
Requisitos:
a) Área urbana não superior a 250 m2
b) Posse mansa e pacífica (de 2 anos por abandono de lar conjugal e 5 anos
pro misero) ininterruptos, sem oposição + animus domini
c) O imóvel deve ser utilizado para sua moradia ou de sua família (pro
misero)
d) Não ser proprietário de outro imóvel, rural ou urbano; não pode ser
deferida à mesma pessoa.
Características importantes:
Será conferido ao homem ou à mulher, ou a ambos, mesmo se viverem em
união estável;
O herdeiro legítimo continua a posse de seu antecessor se já residir no
imóvel por ocasião da abertura da sucessão (na usucapião pro misero)
Não há necessidade de justo título e boa-fé; accessio possessions (Regra
do art.1.243 CC)
Redução do prazo para 2 anos
Abandono de lar pelo cônjuge + ter imóvel como moradia (posse direta);
Possibilidade de incidência da norma também para uniões homoafetivas
Havendo disputa judicial ou extrajudicial relativa ao imóvel, não se
caracteriza a posse usucapível;
Não pode haver violência por um dos cônjuges para expulsar o outro do lar
Não há necessidade de dissolução da união estável

e) Usucapião especial urbana coletiva: (art. 10 Lei 10.257/01)


Art. 10. Os núcleos urbanos informais existentes sem oposição há mais de
cinco anos e cuja área total dividida pelo número de possuidores seja
inferior a duzentos e cinquenta metros quadrados por possuidor são
suscetíveis de serem usucapidos coletivamente, desde que os possuidores
não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural. (Redação dada
pela lei nº 13.465, de 2017)
Requisitos:
a) área urbana, havendo limitação de 250 m² no máximo para cada
possuidor.
b) Posse de 5 anos ininterruptos, sem oposição + animus domini (dispensa
boa-fé).
c) Existência no local de núcleo urbano informal ou núcleo urbano
consolidado.
d) Não pode ser proprietário de outro imóvel rural ou urbano.
f) Usucapião especial indígena (art. 33 Lei 6.001/73 – Estatuto do índio)
Art. 33. O índio, integrado ou não, que ocupe como próprio, por dez anos
consecutivos, trecho de terra inferior a cinquenta hectares, adquirir-lhe-á a
propriedade plena.
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica às terras do domínio
da União, ocupadas por grupos tribais, às áreas reservadas de que trata
esta Lei, nem às terras de propriedade coletiva de grupo tribal.
Requisitos:
a) área de no máximo 50 hectares;
b) Posse mansa e pacífica por 10 anos exercida por indígena.

g) Usucapião imobiliária administrativa (art. 60 Lei 11.977/09 – Lei Minha


Casa, Minha Vida – primeira previsão)
Art. 60. Sem prejuízo dos direitos decorrentes da posse exercida
anteriormente, o detentor do título de legitimação de posse, após 5 (cinco)
anos de seu registro, poderá requerer ao oficial de registro de imóveis a
conversão desse título em registro de propriedade, tendo em vista sua
aquisição por usucapião, nos termos do art. 183 da Constituição Federal.
b) Formas Derivadas: há um sentido de continuidade da propriedade
anterior, como ocorre na compra e venda.
- Registro Imobiliário (artigo 1246 e 1247)
- Sucessão Hereditária (artigo 1784)
Ação reivindicatória
É uma ação petitória., ajuizada pelo proprietário sem posse, contra o possuidor
sem propriedade O autor precisa provar que é proprietário através do
respectivo registro e descrever o imóvel com suas confrontações.

DIREITOS DE VIZINHANÇA
Conjunto de normas e princípios que disciplina a convivência pacífica e
harmoniosa entre vizinhos e que visa permitir o equilíbrio entre os interesses
individuais e os coletivos. Limitação ao direito de propriedade com base em
normas que visam impedir a prática de atos que causam dano ou incômodo ao
morador do prédio vizinho. Vizinho é aquele que está localizado imediatamente
acima, abaixo ou ao lado e todos aqueles próximos que podem sofrer efeitos
pelo exercício da posse e do direito de propriedade. A coexistência harmônica
entre vizinhos é de interesse público (norma geral que protege o interesse
privado).
Do uso anormal da propriedade:
Art. 1.277. O proprietário ou o possuidor de um prédio tem o direito de fazer
cessar as interferências prejudiciais à segurança, ao sossego e à saúde dos
que o habitam, provocadas pela utilização de propriedade vizinha.
Parágrafo único. Proíbem-se as interferências considerando-se a natureza da
utilização, a localização do prédio, atendidas as normas que distribuem as
edificações em zonas, e os limites ordinários de tolerância dos moradores da
vizinhança.
Art. 1.278 - exceção ao direito de fazer cessar as interferências externas
quando se tratar de interesse público, cabendo eventual indenização.
Art. 1.279: Ainda que por decisão judicial devam ser toleradas as
interferências, poderá o vizinho exigir a sua redução, ou eliminação, quando
estas se tornarem possíveis.
Art. 1.280: O proprietário ou o possuidor tem direito a exigir do dono do prédio
vizinho a demolição, ou a reparação deste, quando ameace ruína, bem como
que lhe preste caução pelo dano iminente.
Art. 1.281: O proprietário ou o possuidor de um prédio, em que alguém tenha
direito de fazer obras, pode, no caso de dano iminente, exigir do autor delas as
necessárias garantias contra o prejuízo eventual.
Das árvores limítrofes:
A árvore limítrofe é aquela cujo tronco está na linha divisória de dois prédios,
presumindo-se pertencer em comum aos donos dos prédios confinantes.
Art. 1.283. As raízes e os ramos de árvore, que ultrapassarem a estrema do
prédio, poderão ser cortados, até o plano vertical divisório, pelo proprietário do
terreno invadido.
Direito de corte: O direito de corte não pode comprometer a vida da árvore
limítrofe (função socioambiental da propriedade) e também não pode ser usado
contra árvore pertencente a bem público (crime de dano).
Art. 1.284. Os frutos caídos de árvore do terreno vizinho pertencem ao dono
do solo onde caíram, se este for de propriedade particular - exceção à regra
segundo a qual o acessório segue o principal.
Da passagem forçada e da passagem de cabos e tubulação
Art. 1.285. O dono do prédio que não tiver acesso a via pública, nascente ou
porto, pode, mediante pagamento de indenização cabal, constranger o vizinho
a lhe dar passagem, cujo rumo será judicialmente fixado, se necessário.
Função social da propriedade fundamenta o instituto. O constrangimento da
passagem deve se dar em relação ao vizinho cujo imóvel mais facilmente se
prestar à passagem. A obrigação de tolerar a passagem é propter rem, ou seja,
acompanha a coisa (a alienação do bem não muda ou extingue a passagem
forçada).
Art. 1.286. Mediante recebimento de indenização que atenda, também, à
desvalorização da área remanescente, o proprietário é obrigado a tolerar a
passagem, através de seu imóvel, de cabos, tubulações e outros condutos
subterrâneos de serviços de utilidade pública, em proveito de proprietários
vizinhos, quando de outro modo for impossível ou excessivamente onerosa.
Proprietário pode exigir que a instalação dos tubos se dê da maneira menos
onerosa e gravosa; Necessidade de indenização pela desvalorização de área
remanescente; O proprietário pode exigir a realização de obras de segurança.
Das águas
Art. 1.288. O dono ou o possuidor do prédio inferior é obrigado a receber as
águas que correm naturalmente do superior, não podendo realizar obras que
embaracem o seu fluxo; porém a condição natural e anterior do prédio inferior
não pode ser agravada por obras feitas pelo dono ou possuidor do prédio
superior.
A obrigatoriedade do dono ou possuidor de prédio inferior de receber as águas
que correm naturalmente de prédio superior não pode, no entanto, aniquilar a
funcionalidade do prédio inferior se ele já estava ali antes.
Art. 1.289. Quando as águas, artificialmente levadas ao prédio superior, ou aí
colhidas, correrem dele para o inferior, poderá o dono deste reclamar que se
desviem, ou se lhe indenize o prejuízo que sofrer.
Art. 1.290. O proprietário de nascente, ou do solo onde caem águas pluviais,
satisfeitas as necessidades de seu consumo, não pode impedir, ou desviar o
curso natural das águas remanescentes pelos prédios inferiores.
Art. 1.291. O possuidor do imóvel superior não poderá poluir as águas
indispensáveis às primeiras necessidades da vida dos possuidores dos imóveis
inferiores; as demais, que poluir, deverá recuperar, ressarcindo os danos que
estes sofrerem, se não for possível a recuperação ou o desvio do curso artificial
das águas.
Art. 1.292. O proprietário tem direito de construir barragens, açudes, ou outras
obras para represamento de água em seu prédio; se as águas represadas
invadirem prédio alheio, será o seu proprietário indenizado pelo dano sofrido,
deduzido o valor do benefício obtido.
Art. 1.293. É permitido a quem quer que seja, mediante prévia indenização aos
proprietários prejudicados, construir canais, através de prédios alheios, para
receber as águas a que tenha direito, indispensáveis às primeiras
necessidades da vida, e, desde que não cause prejuízo considerável à
agricultura e à indústria, bem como para o escoamento de águas supérfluas ou
acumuladas, ou a drenagem de terrenos.
§ 1o Ao proprietário prejudicado, em tal caso, também assiste direito a
ressarcimento pelos danos que de futuro lhe advenham da infiltração ou
irrupção das águas, bem como da deterioração das obras destinadas a
canalizá-las.
§ 2o O proprietário prejudicado poderá exigir que seja subterrânea a
canalização que atravessa áreas edificadas, pátios, hortas, jardins ou quintais.
§ 3o O aqueduto será construído de maneira que cause o menor prejuízo aos
proprietários dos imóveis vizinhos, e a expensas do seu dono, a quem
incumbem também as despesas de conservação.
Art. 1.295. O aqueduto não impedirá que os proprietários cerquem os imóveis
e construam sobre ele, sem prejuízo para a sua segurança e conservação; os
proprietários dos imóveis poderão usar das águas do aqueduto para as
primeiras necessidades da vida.
Art. 1.296. Havendo no aqueduto águas supérfluas, outros poderão canalizá-
las, para os fins previstos no art. 1.293, mediante pagamento de indenização
aos proprietários prejudicados e ao dono do aqueduto, de importância
equivalente às despesas que então seriam necessárias para a condução das
águas até o ponto de derivação.
Art. 1.297. O proprietário tem direito a cercar, murar, valar ou tapar de qualquer
modo o seu prédio, urbano ou rural, e pode constranger o seu confinante a
proceder com ele à demarcação entre os dois prédios, a aviventar rumos
apagados e a renovar marcos destruídos ou arruinados, repartindo-se
proporcionalmente entre os interessados as respectivas despesas.
§ 1o Os intervalos, muros, cercas e os tapumes divisórios, tais como sebes
vivas, cercas de arame ou de madeira, valas ou banquetas, presumem-se, até
prova em contrário, pertencer a ambos os proprietários confinantes, sendo
estes obrigados, de conformidade com os costumes da localidade, a concorrer,
em partes iguais, para as despesas de sua construção e conservação.
§ 2o As sebes vivas, as árvores, ou plantas quaisquer, que servem de marco
divisório, só podem ser cortadas, ou arrancadas, de comum acordo entre
proprietários.
§ 3º. A construção de tapumes especiais para impedir a passagem de animais
de pequeno porte, ou para outro fim, pode ser exigida de quem provocou a
necessidade deles, pelo proprietário, que não está obrigado a concorrer para
as despesas.
Art. 1.299. O proprietário pode levantar em seu terreno as construções que lhe
aprouver, salvo o direito dos vizinhos e os regulamentos administrativos.
Art. 1.300. O proprietário construirá de maneira que o seu prédio não despeje
águas, diretamente, sobre o prédio vizinho.
Art. 1.301. É defeso abrir janelas, ou fazer eirado, terraço ou varanda, a menos
de metro e meio do terreno vizinho.
§ 1º. As janelas cuja visão não incida sobre a linha divisória, bem como as
perpendiculares, não poderão ser abertas a menos de setenta e cinco
centímetros.
§ 2º. As disposições deste artigo não abrangem as aberturas para luz ou
ventilação, não maiores de dez centímetros de largura sobre vinte de
comprimento e construídas a mais de dois metros de altura de cada piso.
Art. 1.302. O proprietário pode, no lapso de ano e dia após a conclusão da
obra, exigir que se desfaça janela, sacada, terraço ou goteira sobre o seu
prédio; escoado o prazo, não poderá, por sua vez, edificar sem atender ao
disposto no artigo antecedente, nem impedir, ou dificultar, o escoamento das
águas da goteira, com prejuízo para o prédio vizinho.
Parágrafo único. Em se tratando de vãos, ou aberturas para luz, seja qual for a
quantidade, altura e disposição, o vizinho poderá, a todo tempo, levantar a sua
edificação, ou contramuro, ainda que lhes vede a claridade.
Art. 1.304. Nas cidades, vilas e povoados cuja edificação estiver adstrita a
alinhamento, o dono de um terreno pode nele edificar, madeirando na parede
divisória do prédio contíguo, se ela suportar a nova construção; mas terá de
embolsar ao vizinho metade do valor da parede e do chão correspondentes.
Art. 1.305. O confinante, que primeiro construir, pode assentar a parede
divisória até meia espessura no terreno contíguo, sem perder por isso o direito
a haver meio valor dela se o vizinho a travejar, caso em que o primeiro fixará a
largura e a profundidade do alicerce. • Parágrafo único. Se a parede divisória
pertencer a um dos vizinhos, e não tiver capacidade para ser travejada pelo
outro, não poderá este fazer-lhe alicerce ao pé sem prestar caução àquele,
pelo risco a que expõe a construção anterior.
Art. 1.307. Qualquer dos confinantes pode altear a parede divisória, se
necessário reconstruindo-a, para suportar o alteamento; arcará com todas as
despesas, inclusive de conservação, ou com metade, se o vizinho adquirir
meação também na parte aumentada.
Art. 1.308. Não é lícito encostar à parede divisória chaminés, fogões, fornos ou
quaisquer aparelhos ou depósitos suscetíveis de produzir infiltrações ou
interferências prejudiciais ao vizinho.
Parágrafo único. A disposição anterior não abrange as chaminés ordinárias e
os fogões de cozinha.
Proibição de encostar chaminé, fogões, fornos etc. na parede divisória.
Art. 1.309. São proibidas construções capazes de poluir, ou inutilizar, para uso
ordinário, a água do poço, ou nascente alheia, a elas preexistentes.
Art. 1.310. Não é permitido fazer escavações ou quaisquer obras que tirem ao
poço ou à nascente de outrem a água indispensável às suas necessidades
normais.
Vedação de atos que prejudiquem o abastecimento de água do vizinho.
Art. 1.311. Não é permitida a execução de qualquer obra ou serviço suscetível
de provocar desmoronamento ou deslocação de terra, ou que comprometa a
segurança do prédio vizinho, senão após haverem sido feitas as obras
acautelatórias.
Parágrafo único. O proprietário do prédio vizinho tem direito a ressarcimento
pelos prejuízos que sofrer, não obstante haverem sido realizadas as obras
acautelatórias.
Art. 1.312. Todo aquele que violar as proibições estabelecidas nesta Seção é
obrigado a demolir as construções feitas, respondendo por perdas e danos.
Reparação integral: danos emergentes + lucros cessantes + danos morais
Art. 1.313. O proprietário ou ocupante do imóvel é obrigado a tolerar que o
vizinho entre no prédio, mediante prévio aviso, para:
I - dele temporariamente usar, quando indispensável à reparação, construção,
reconstrução ou limpeza de sua casa ou do muro divisório;
II - apoderar-se de coisas suas, inclusive animais que aí se encontrem
casualmente.
§ 1o O disposto neste artigo aplica-se aos casos de limpeza ou reparação de
esgotos, goteiras, aparelhos higiênicos, poços e nascentes e ao aparo de cerca
viva.
§ 2o Na hipótese do inciso II, uma vez entregues as coisas buscadas pelo
vizinho, poderá ser impedida a sua entrada no imóvel.
§ 3o Se do exercício do direito assegurado neste artigo provier dano, terá o
prejudicado direito a ressarcimento.

SERVIDÃO

Restrição imposta a um prédio para uso e utilidade de outro pertencente a dono


diferente, e constitui direito real instituído em favor de um prédio (dominante)
sobre outro (serviente) pertencente a dono diverso. As servidões constituem
direitos por efeito dos quais uns prédios servem a outros, na medida em que a
serventia estabelecida em favor de um prédio em detrimento de outro, aumenta
as utilidades do primeiro e diminui as do segundo. Ônus real, voluntariamente
atribuído a um prédio (o serviente) em benefício de outro (o dominante), em
virtude do qual o proprietário do primeiro perde o exercício de algum de seus
direitos dominicais sobre o seu prédio, ou tolera que dele se utilize o
proprietário do segundo, tornando este mais útil, ou pelo menos mais
agradável. Portanto, o prédio dominante utiliza do prédio serviente de forma
que essa utilização traga mais benefícios ao seu prédio.
- Principais Características:
a) Relação entre dois prédios distintos
b) Precisam ser donos diversos, pois se forem do mesmo proprietário, este
simplesmente usará o que é seu sem que se estabeleça uma servidão
c) A servidão se estabelece não em benefício de uma pessoa, mas de um
prédio
d) Não se presumo, mas precisa estar constituída por documento
e) Tem como objetivo aumentar a utilidade do prédio dominante
f) É de duração indefinida porque perde sua característica de servidão quando
estabelecida por tempo limitado. Por isso se diz que a servidão é perpétua
g) Estabelecida em prédios vizinhos, mas não necessariamente contíguos.
h) É voluntária, pois nasce da vontade dos proprietários
i) Não se confundindo com direitos de vizinhança que são servidões legais,
pois esses são impostos coativamente. O direito de vizinhança decorre da lei e
restringe o domínio de determinado imóvel como forma de evitar prejuízos a
outro vizinho. A servidão, por sua vez, é ônus de origem voluntária, que se
constitui para proporcionar uma vantagem ou comodidade ao prédio
dominante.
- Classificações:
1) Quanto ao modo de efetivação:
a) positivas: conferem ao seu titular (dono do prédio dominante) o direito de
realizar um fato ou praticar determinada conduta, como se dá na servidão de
passagem
b) negativas: o titular do prédio serviente obriga-se a uma abstenção, em favor
do prédio dominante
2) Quanto à natureza do imóvel gravado
a) rústicas: são as servidões incidentes em imóveis localizados fora do
perímetro urbano
b) urbanas: são as servidões incidentes em prédios edificados, nos limites da
cidade.
3) Quanto à necessidade ou não de atuação humana:
a) contínuas: são as servidões que independem de uma atuação ou conduta
humana direta.
b) descontínuas: são as servidões que, para seu funcionamento, exige uma
ação humana sequencial.

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