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Mecanismos de ação da prece


A prece é uma prática que está inserida na maioria das religiões do
mundo. Nos mais variados segmentos do Cristianismo a prece é elemento
essencial, e essa essencialidade da prece se deve à posição do próprio
Mestre Jesus, quando se manifestou sobre as formas ideais de orar,
conforme consta em Mateus 6: (5 a 8) e Marcos 11: (25 e 26).

Mas não são apenas os cristãos que oram. Mesmo sendo uma religião
não-teísta, os budistas oram. Os judeus oram nas Sinagogas. Os
hinduístas realizam suas preces ao Deus de sua devoção. Ao orarem, os
islâmicos curvam-se no chão, voltados para Meca. O xintoísta realiza
suas preces.

É óbvio que a forma de orar se altera de religião para religião. Uns oram
em pé, outros prostrados, alguns ajoelhados…. Há os que fazem suas
preces na frente de um altar, de um objeto de adoração, de uma imagem,
de uma vela…

Como se pode confirmar, independentemente da cultura, da região, do


tempo, a prece está inserida como prática imprescindível em quase todas
as religiões do mundo. Isso se deve, certamente, à necessidade de se ligar
à Divindade, de abstrair-se do mundo material no qual se está inserido, de
procurar a porção divina em si próprio, de buscar socorro, amparo,
orientação…

Para nós, espíritas, a prece está identificada como recurso eficaz e


fundamental no desenvolvimento espiritual. Essa condição pode ser
observada desde a primeira versão (1857) de O livro dos espíritos.

No capítulo 2 na “Lei de Adoração”

À questão 312, Kardec questiona: A prece é agradável a Deus?, ao que os


Espíritos respondem: “Sim, quando parte de um coração sincero, pois,
para Ele, a intenção é tudo, e a prece do coração é preferível à que podes
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ler, por mais bela que seja.” Já na edição revisada e ampliada (1860),
Kardec retoma o tema. Acompanhemos a resposta à questão 658, da
segunda edição de O livro dos espíritos:

“A prece é sempre agradável a Deus, quando ditada pelo coração, pois,


para Ele, a intenção é tudo. Assim, preferível lhe é a prece do íntimo à
prece lida, por muito bela que seja, se for lida mais com os lábios do que
com o coração. Agrada- lhe a prece, quando dita com fé, com fervor e
sinceridade. Não creias, porém, que toque a Deus a prece do homem fútil,
orgulhoso e egoísta, a menos que signifique, de sua parte, um ato de
sincero arrependimento e de verdadeira humildade.”

Mesmo considerando as colocações dos Espíritos acerca da utilidade da


prece, e ainda que Kardec tenha separado dois capítulos inteiros de O
evangelho segundo o espiritismo para tratar da oração – capítulo 27 –
Pedi e obtereis, e capítulo 28 – Coletânea de preces espíritas – é possível
encontrar aqueles que questionam as súplicas, os pedidos, as rogativas,
que são o objeto central da grande maioria das preces. Acreditam eles que
Deus conhece todas as nossas necessidades e, portanto, seria inútil pedir.

No item 6, do capítulo citado (27), os Espíritos da Codificação


esclarecem sobre essa questão, dizendo que, embora o Criador conheça,
de fato, todas as nossas necessidades:

[…] Possível é, portanto, que Deus aceda a certos pedidos, sem perturbar
a imutabilidade das leis que regem o conjunto, subordinada sempre essa
anuência à sua vontade.

Observa-se, então, que, em matéria de atendimento das necessidades


humanas, o futuro não está previamente definido e, mesmo Deus sabendo
do que realmente necessitamos, há a possibilidade de que Ele atenda uma
rogativa, aquiescendo a um desejo formulado em uma prece, desde que
legítimo.

De fato, a prece traz grandes benefícios para aquele que crê…


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Contudo, alguns mecanismos e benefícios advindos da oração não são


bem conhecidos pela maioria. Torna-se, pois, oportuno refletir sobre o
tema.

Sabemos, como nos esclarece Emmanuel, no livro “Pensamento e vida”,


“[…] que todos vivemos em regime de comunhão, segundo os princípios
da afinidade”. Assim, estamos cercados por Espíritos que comungam
pensamentos semelhantes aos nossos e vibram em plena sintonia conosco.
Consequentemente, a prece pode ser valioso recurso para que o Espírito
sintonize com almas em faixa mais elevada.

É claro que a prece, por si só, não é capaz de nos conduzir rumo a essas
almas compromissadas com o Bem Maior. Para atingir esse propósito,
faz-se necessário pensar no bem, trabalhar no bem e, sobretudo, lapidar
nossos sentimentos em busca do bem. Ainda assim, a prece é valioso
auxiliar para aquele que busca um novo padrão de Vida Espiritual.

Sabe-se, conforme a resposta à questão 659, de “O livro dos espíritos”,


que quando oramos, propomo-nos a louvar, pedir, agradecer. Porém, de
forma geral, as preces que estão sendo feitas agora mesmo, mundo afora,
pelos adeptos das mais diversas religiões, compõem-se de muitos
pedidos, alguns poucos agradecimentos e raras glorificações a Deus. Essa
prática, a de muito pedir, é inversamente proporcional à nossa elevação
espiritual. Assim, muito pedimos porque pouco temos a oferecer…

Sabedores dessa nossa condição de pedintes reincidentes, os Espíritos


elevados nos ensinam a qualificar nossas súplicas. Segundo eles, quando
em prece, o que devemos pedir é a coragem para enfrentar os desafios
que surgem, a paciência para buscar as soluções mais adequadas e a
resignação para convivermos com os desafios que fomos incapazes de
superar.

Por tudo isso, é conveniente conhecer um pouco mais acerca dos


mecanismos de ação da prece e algumas das qualidades que elas devem
ter para que se possa alcançar resultados mais efetivos.
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Fundamentalmente, devemos considerar que nossas preces necessitam


possuir sintonia com propósitos elevados. Parece estranha essa
afirmativa? Entretanto, não o é! Muitas vezes, em nossas orações,
rogamos alcançar um objetivo, uma posição, um lugar que, para ser
conquistado, resultará em prejuízo para outrem. Nesse sentido, é oportuno
lembrar algumas das orientações do
filósofo da Antiguidade – o grego Sócrates, sobre essa questão:

[…] De tantas opiniões diversas, a única que permanece inabalável é a de


que mais vale receber do que cometer uma injustiça e que, acima de tudo,
devemos cuidar, não de parecer, mas de ser homem de bem. (Resumo da
doutrina de Sócrates e de Platão, item X).

Continuemos nossas reflexões…

Para que nossas preces alcancem seus objetivos, são dispensáveis


quaisquer ritos, imagens, fórmulas ou palavras específicas. Lembremo-
nos: o Espiritismo nos orienta a simplificar nossa relação com os
desencarnados e com Deus, esclarecendo que a prece depende muito mais
do merecimento e da fé, do que do uso ou não de práticas exteriores.
Apesar disto, devemos permanecer atentos ao indispensável respeito às
crenças individuais e coletivas. E, para tanto, lembremo-nos de que,
mesmo que rejeitemos ritos e cerimônias, essa rejeição não significa que
quem as utiliza não mereça ter seus pedidos atendidos. Dizem-nos os
amigos espirituais que aquele que ora deverá ter merecimento, para que
suas súplicas sejam atendidas. Ou seja, orar, por si só, não é suficiente, é
imperioso merecer o que se deseja. E mais, merecimento tem relação
direta com os esforços que fazemos para melhorar nossos sentimentos,
pensamentos e ações. Afinal:

[…] Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e


pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más. […] (cap.
17 – Sede perfeitos, item 4).
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Porém, não podemos esquecer que a prece não nos desobriga de passar
por experiências consideradas fundamentais para nossa evolução
espiritual. Mas, ainda que tenhamos de superar desafios evolutivos
inadiáveis, a oração pode fortalecer-nos, preparando-nos para melhor
enfrentar e aproveitar tais provações.

Definitivamente, não existe um lugar ou momento específico para


realizarmos nossas orações. Não é imprescindível que estejamos na Casa
Espírita, ou realizando um Culto do Evangelho no Lar, ou em um refúgio
agradável e silencioso. É fundamental sim, que busquemos a sintonia com
Espíritos mais esclarecidos, esforçando-nos para alcançar estados
superiores da alma, comprometidos
com o silêncio interior, imbuídos da fé e da esperança. Assim sendo,
poderemos estar na rua, em um estádio de futebol, transitando na
multidão, em nosso local de trabalho; o resultado da prece dependerá,
principalmente, do que existe dentro de nós mesmos.

Por fim, lembremo-nos de que não basta orar, é fundamental agir em


benefício do outro. Essa ação nos fortalece e granjeia simpatias valiosas
que poderão ser importantes nos momentos em que nossas fraquezas se
agigantem diante de provações maiores. Como nos esclarecem os
companheiros espirituais: nossa ação corresponderá a uma reação, e esta
será tão benéfica, quanto benéfico foi nosso ato.

Esses são apenas alguns dos mecanismos que devem ser considerados
para que a prece alcance o objetivo esperado. Certamente existem outros
que também devem ser ponderados. No entanto, é importante recordar as
orientações contidas na mensagem de Jesus, em especial quando o Mestre
nos adverte:

Quando vos aprestardes para orar, se tiverdes qualquer coisa contra


alguém, perdoai-lhe, a fim de que vosso Pai, que está nos céus, também
vos perdoe os vossos pecados. Se não perdoardes, vosso Pai, que está nos
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céus, também não vos perdoará os pecados. (Marcos, 11: 25e26); (cap. 27
– Pedi e obtereis, item 2).

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