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METODOLOGIA DA PESQUISA

O PROBLEMA CIENTÍFICO

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Olá!
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:

1. Formular de maneira lógica e coerente um problema científico para sua pesquisa;

2. Reconhecer os critérios para avaliar um problema na pesquisa científica;

3. Identificar os conceitos de variável e hipótese.

O problema científico: a problematização do tema

Quando realizamos uma pesquisa, não basta delimitar o tema a um objeto de pesquisa, mas deve-se identificar

em seguida um problema específico que será analisado no trabalho. Problematizar é outro desafio após a escolha

do tema, mas configura passo importante para o estudo. Quando problematizamos explicitamos a dificuldade

que pretendemos resolver.

É neste ponto que a problematização se relaciona diretamente com o foco do trabalho, no que se refere ao tema

selecionado. É a pergunta a ser respondida ao final, pois um tema pode abranger problemas distintos. Por isso,

se o estudante não delimitar claramente o problema - o enfoque – terá dificuldades em organizar a pesquisa e a

redação. Para dar maior clareza, deve-se formular o problema como um questionamento, encerrando a frase com

um ponto de interrogação. O trabalho pretenderá, portanto, responder àquele questionamento específico.

“Assim como a descrição de um tema, sua delimitação, a explicação de um objetivo, seja ele real ou específico, a

formulação do problema é imprescindível à pesquisa. O mesmo deve ter as seguintes características: clareza,

objetividade, concisão e especificidade, evitando, assim, formulações genéricas que lembrem um questionário

qualquer, em que não se consiga um desenvolvimento mais profundo (KAHLMEYER-MERTENS, 2007, p. 39).

Com a formulação do problema como uma pergunta, deve-se esclarecer para o próprio estudante qual é o foco

central do trabalho, o que se saberá quando a pesquisa for concluída. Podemos denominar de questão-problema,

pergunta de partida ou questão norteadora da pesquisa.

Os dicionários definem o termo problema como obstáculo, contratempo, dificuldade que desafia a capacidade de

solucionar de alguém. Também mencionam: situação difícil, conflito, pessoa, coisa ou situação incômoda,

preocupante. E problema científico como assunto controverso, ainda não satisfatoriamente respondido, em

qualquer campo do conhecimento, e que pode ser objeto de pesquisas científicas ou discussões acadêmicas.

Dizendo de outro modo, questão não solvida e que é objeto de discussão, em qualquer domínio do conhecimento.

Problematizar significa (MARTINS, 2005, p. 137)

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• Transformar o assunto e problema, pois assim se torna pesquisável de modo a poder produzir
respostas específicas;
• Identificar no tema escolhido alguma dificuldade teórica ou prática, para a qual se deve encontrar
uma solução;
• Descobrir no assunto uma situação controvertida, passível de discussão.

Descobrir no assunto uma situação controvertida, passível de discussão.

Não são problemas científicos

Segundo Antônio Carlos Gil (2010, p. 8-9) , nem todo problema é passível de tratamento científico! Vamos

começar observando o que não pode ser considerado um problema científico e as razões dessa negativa. Deve-se

indagar se o problema formulado se enquadra na categoria de problema científico. Portanto, não são problemas

científicos aqueles que expressam o sentido de problemas ou questões de engenharia.

Essa denominação foi criada por Fred Kerlinger (1980 apud Gil, 2010) porque denotam a preocupação em como

fazer algo de maneira eficiente. Em nada se relaciona com a faculdade de engenharia, mas com construção,

criação, execução de algo em que se utilize engenho e arte. Nas palavras de Antônio Carlos Gil (2010, p. 8), não

indagam como são as coisas, suas causas e consequências, mas indagam acerca de como fazer as coisas.

Exemplo:

“Como fazer para melhorar os transportes urbanos?”

“Como aumentar a produtividade no trabalho?”

Outra categoria que não configura um problema científico são os problemas de valor. Estes são aqueles que

indagam se algo é bom ou mau, desejável ou indesejável, certo ou errado, melhor u pior, se algo deve ou não ser

feito (GIL, 2010, p.9). Aqui, também, não há a possibilidade de uma investigação nos moldes próprios da ciência.

Estamos no terreno da subjetividade.

Exemplo:

“Os pais devem dar palmadas nos filhos?”

“Qual a melhor técnica para a propaganda?”

Como formular um problema científico?

Deve-se tomar como ponto de partida uma proposição que poderá ser testada, verificada. Há critérios para isso.

Preste atenção em alguns! (Gil, 2010, p. 10)

O problema deve ser claro e preciso:


• Não deve ser formulado de maneira vaga;
• Os termos usados devem ser adequados;
• Deve ser solucionável;
• Deve apresentar objetividade;
• Não pode conduzir a julgamentos morais (considerações subjetivas);

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Um bom exemplo para uma questão que prescinde de clareza é a seguinte pergunta: “Como funciona a mente?”

ou “Os cavalos possuem inteligência?” Não são problemas solucionáveis, porque ambíguos, vagos ou apresentam

uma linguagem do senso comum (GIL, 2010).

Imagine a seguinte questão: “os moradores dos grandes centros são melhores que os do campo?”

Estamos diante de julgamentos morais, no campo da subjetividade, inviabilizando uma possível investigação

científica.

O problema deve ser delimitado a uma dimensão variável


• A delimitação do problema está relacionada com os meios disponíveis para investigação
• Delimitar significa impor limites, objetivar e restringir.
Dica!

“Após delimitar o tema procure ler o que os autores falam sobre ele e anote como problematizaram o tema.

Observe como levantaram questões norteadoras da pesquisa, bem como responderam a essas questões

formuladas. Eis um bom exercício para ajudá-lo na problematização de um tema. Pesquisa alguma poderá

prescindir de uma boa problematização!

Não se preocupe, porque formular um problema científico nada mais é do que aperfeiçoar, isto é, estruturar com

mais detalhes o objeto da pesquisa. Temos que evitar questões demasiado gerais, tais como (SAMPIERI;

COLLADO; LUCIO, 2006, p. 36-37): “Por que alguns casamentos duram mais que outros?”

“As pessoas que se submetem à psicoterapia mudam com o tempo?”

“Os empresários se comprometem mais com suas empresas que os funcionários?”

“Como estão relacionados os meios de comunicação de massa com o voto?”

De fato, a maneira como foram formuladas dá margem à grande quantidade de dúvidas. Como poderei investigá-

las? É melhor que sejam precisas.

O problema deve conter variáveis

Um problema é de natureza científica quando envolve variáveis que podem ser tidas como testáveis, que podem

ser observadas e manipuladas, enfim, verificadas na realidade ou em seu meio.

O que entendemos por variáveis? Uma variável é uma propriedade que pode variar e, por conseguinte é

suscetível de medição e observação (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2006, p. 121).

Podemos pensar em alguns exemplos de variáveis: sexo, atributos físicos, tipos de personalidade, uma situação,

um tipo de motivação, produtividade de determinado tipo de objeto, eficiência em procedimentos, eficácia de

determinada medida, dentre outros.

O termo variável é o dos mais utilizados na linguagem acadêmica. Seu objetivo é o de conferir maior precisão aos

enunciados científicos, sejam hipóteses, teorias, leis, princípios ou generalizações.

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O conceito de variável refere-se a tudo aquilo que pode assumir diferentes valores ou diferentes aspectos,

segundo os casos particulares ou as circunstâncias (GIL, 2002, p.36). Assim, adquirem valor para a pesquisa

científica quando se relacionam com outras variáveis possibilitando a formulação de uma teoria ou hipótese. É

preciso definir conceitualmente as variáveis que integram o problema científico (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO,

2006, p. 121).

Exemplo 1

“Em que medida a escolaridade determina a preferência político-partidária?”

Aqui, temos duas variáveis relacionando-se:


• escolaridade
• preferência político-partidária.

Exemplo 2

“Os alunos de Administração são mais conservadores que os de ciência sociais.”

Aqui temos duas variáveis relacionando-se:


• Curso
• conservadorismo

Exemplo 3

“A classe social da mãe influencia no tempo de amamentação dos filhos.”

Aqui, temos duas variáveis relacionando-se:


• classe social
• tempo de amamentação
As variáveis podem ser:

Independentes: são aquelas que influenciam, determinam ou afetam outra variável. São percebidas como a

condição ou a causa para certo resultado, efeito ou consequência.

Exemplo:

“Se dermos uma pancada no joelho (variável independente) dobrado de um indivíduo, sua perna esticará”,

Dependentes: consistem nos valores a serem explicados ou descobertos, em virtude de serem influenciados,

determinados ou afetados pela variável independente.

Exemplo:

“Se dermos uma pancada no joelho dobrado de um indivíduo, sua perna esticará (variável dependente)".

Intervenientes; são aquelas que numa sequência causal, se colocam entre a variável independente e a

dependente, tendo como função ampliar, diminuir ou anular a influência de uma sobre a outra.

Exemplo:

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“A liderança autoritária (variável interveniente, pois interfere na relação entra a variável independente –

liderança – e a dependente – motivação.) influencia na motivação dos colaboradores.”

Hipóteses: de onde surgem?

Quando formulamos um problema científico refletimos sobre possíveis respostas para o problema proposto.

Essa resposta provisória é a hipótese do trabalho. “As hipóteses indicam o que estamos buscando ou tentando

provar e se definem como tentativas de explicações do fenômeno pesquisado” (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO,

2006, p. 118).

A hipótese é a ideia que o trabalho se propõe a apresentar. Advertem alguns autores que nem todas as pesquisas

suscitam hipóteses, dependerá da área de saber e do estudo proposto, porque em muitas situações,

principalmente em pesquisas exploratórias não será possível a formulação de hipóteses antes da coleta de dados.

Exemplo:

Problema: O índice de câncer pulmonar é maior entre fumantes?

Hipótese: O índice de câncer pulmonar é maior entre os fumantes do que os não fumantes.

Como se percebe no exemplo acima, as hipóteses podem: ou não ser comprovadas ao final de uma pesquisa. Ela

difere de uma afirmação de fato, porque não estamos certos de sua comprovação antes do término da pesquisa.

Inicialmente, há uma tentativa de resposta à pergunta. Observa-se que:

A pesquisa científica, as hipóteses são proposições quanto às relações entre duas ou mais variáveis e se

fundamentam em conhecimento organizado e sistematizado. As hipóteses podem ser maios ou menos gerais ou

precisas, e envolver duas Ou mais variáveis, mas em todo caso são apenas proposições sujeitas à comprovação

empírica (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2006, p. 120).

Exemplo:

“Quanto maior a autoestima, haverá menor medo de sucesso.”

Você percebeu que nesta hipótese quando uma variável aumenta a outra diminui? Podemos observar a relação

entre as variáveis e seu sentido.

Quais os critérios que devem ser observados na formulação de hipóteses?

(SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2006, p. 124).

1. As hipóteses devem referir-se a uma situação real.

2. As variáveis da hipótese devem ser compreensíveis.

3. A relação entre variáveis propostas na hipótese deve ser clara e verossímil

4. A relação entre as variáveis deve ser observável e mensurável.

5. As hipóteses devem estar relacionadas às técnicas disponíveis para comprová-las.

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O que vem na próxima aula
•A determinação dos objetivos e a construção da justificativa da pesquisa.

Referências
BARRAL, Welber O. Metodologia da pesquisa jurídica. 4. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2010.

BELL, Judith. Projeto de pesquisa: guia para pesquisadores iniciantes em educação, saúde e ciências sociais. 4.

ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.

BOAVENTURA, E. M. Metodologia da pesquisa. São Paulo: Atlas, 2009.

CERVO, Amado L.; BERVIAN, Pedro A.; SILVA, Roberto da. Metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Pearson

Prentice Hall, 2007.

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

SAMPIERI, Roberto H.; COLLADO, Carlos F.; LUCIO Pilar B. Metodologia da pesquisa. 3. ed. São Paulo: McGraw-

Hill, 2006.

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