Você está na página 1de 15

4

ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL

MARIA DAS GRAÇAS SOARES


TARCÍSIO REGIS
2022
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ................................................................................................................ 4
1 ÉTICA DO CUIDADO ....................................................................................................... 4
2 PROBLEMAS ÉTICO-SOCIAIS DO MUNDO .................................................................... 10
REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 14
APRESENTAÇÃO

Olá, estimado (a) estudante! Vamos dar continuidade aos nossos estudos!?
Neste bloco, vamos explorar as concepções da crise ética que a nossa sociedade vem
passando na contemporaneidade e sobre os diversos aspectos do cuidado. A partir
destes temas, é possível refletir sobre os valores da nossa sociedade, bem como tecer
uma crítica sobre as percepções das pessoas em relação às outras.

1 ÉTICA DO CUIDADO

Nos dias atuais, encontramos diversos problemas econômicos e sociais atingindo a


nossa sociedade. É preciso partir do ponto em que as pessoas sejam, elas mesmas, os
atores principais deste processo. Já nos perguntamos, pelo menos uma vez na vida, o
motivo de existir tantas pessoas vulneráveis no mundo. Tenho certeza de que você já se
perguntou também, mas o fato é que a resposta não é tão simples quanto gostaríamos
que fosse.
A nossa sociedade, muitas vezes, prefere o consumo exacerbado a usufruir de um bem-
estar mais uniforme. Podemos pensar, por exemplo, sobre a questão educacional: o
quanto nós, residentes de centros urbanos, somos privilegiados pela oportunidade de
ter acesso à educação superior com maior solidez e frequência. Por outro lado, podemos
pensar em pessoas dos mais diversos municípios que precisam se deslocar bastante,
caso queiram ter alguma chance, pessoas que enfrentam situações bem mais complexas
devido a sua localização, mas que gostariam de, individualmente, se desenvolver e
adquirir conhecimento. Então, quando falamos de cuidado, devemos pensar nas
condições do próximo, devemos pensar no que é possível e viável.
Para cuidar de qualquer coisa, antes nós precisamos cuidar de nós mesmos, cuidar da
nossa mente, cuidar do nosso corpo, cuidar da nossa felicidade, cuidar do nosso
trabalho. Não faz sentido que uma pessoa que não cuida de si mesma possa cuidar de
outra pessoa. Quando trazemos isso, não significa que você deva pensar em si primeiro,
mas que é importante estar bem para poder cuidar de outra pessoa.
Para que você possa compreender um pouco mais sobre o tema, sugerimos que assista
ao vídeo do médico psiquiatra e psicoterapeuta Mario Koziner sobre o significado de
cuidado consigo e com os outros, a partir da fábula “Mito do cuidado”.

ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL 4


Vídeo 01 – Mito do Cuidado

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=m5AX4tb1lbc

Assim como é mostrado no vídeo, para pensar em ter cuidado com o próximo, é
necessário estar suficientemente bem conosco, é necessário trabalhar diversos
elementos internos e nos conhecer o suficiente: nós nos cuidamos o suficiente? Você se
cuida o suficiente? Vamos debater no fórum 04, temas que acreditamos ser relevantes
para a compreensão da importância do cuidado.

Partindo da ideia teórica do cuidado, Steinkamp (1999), traz uma síntese de sua
interpretação associada às prerrogativas de Foucault.

Foucault acentua justamente que o cuidado de si não significa uma existência individualista e apolítica, e
sim — na medida em que se refere ao sujeito do agir — expressamente uma existência política: “ Entre o
ocupar-se consigo- mesmo e o ocupar-se-com-outros há um vínculo de finalidade”. A imprescindível
dependência do outro contém igualmente sobretudo o seguinte aspecto: eu necessito do outro para sair
do estado de estultícia (tolice, burrice, singeleza) e encontrar-me como sujeito. Na terminologia atual,
portanto, poder-se-ia entender a estultícia como determinação alheia, direcionamento a partir de fora,
como incapacidade de decidir como sujeito: como carência de autoestima para resistir às múltiplas
influências, opiniões e sugestões. (STEINKAMP, 1999, p. 275).

ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL 5


Para Foucault, cuidar de si não é ter uma visão de mundo individualista, não só nos
preocuparmos conosco, muito pelo contrário, o autor aponta que existe um vínculo
entre cuidar de nós mesmos e cuidar do próximo.
O cuidado de si é uma maneira do indivíduo constituir a parte mais secreta de sua
subjetividade, compreendendo por subjetividade “a maneira pela qual o sujeito faz a
experiência de si mesmo em um jogo de verdade, no qual ele se relaciona consigo
mesmo.” (FOUCAULT, 2004, p. 236).
Backes et al (2007) apresentou em seus estudos, a concepção de cuidado
baseada na área de saúde, mas para pensar em cuidado em saúde, é preciso
compreender o cuidado de uma forma ampla, identificando de que formas esta
concepção pode ser subdividida.
Para os autores, a imagem 1, sintetiza parte do que pode ser compreendido como
cuidado. Conforme o quadro exposto na imagem abaixo, foram classificados seis temas,
considerados adequados para a compreensão da ideia do cuidado: O cuidado
terapêutico, a atitude do cuidado, o cuidado compartilhado, o cuidado expressivo, o
cuidado objetivo e o cuidado subjetivo.

Imagem 1 – Temas do cuidado como processo de interação

Fonte: Backes et al (2007).

ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL 6


Dentro das estruturas relevantes, podemos pensar que faz muito sentido buscar
compreender o que estes marcos trazem como direcionamento para praticar o cuidado.
Empatia e comunicação, valorizar diferenças sociais, interação e valorização de
indivíduos, estabelecimento de ligações entre pessoas, atitudes de acolhimento, dentre
outros. O fato é que podemos trazer muitas formas de cuidado, podemos compreender
e praticar, mas isso não seria possível, sem a adoção dos valores e da ética.
Para Leonardo Boff (2003, p.22):
O cuidado é aquela condição prévia que permite eclodir da inteligência e da
amorosidade, o orientador antecipado de todo comportamento para que seja livre e
responsável, enfim, tipicamente humano. Cuidado é gesto amoroso para com a
realidade, gesto que protege e traz serenidade e paz. Sem cuidado, nada que é vivo
sobrevive. O cuidado é a força maior que se opõe à da entropia, o desgaste natural de
todas as coisas, pois tudo de que cuidamos dura muito mais (BOFF, 2003, p. 22).

Diante do exposto acima, é razoável definir cuidado com o processo de interação,


humana, social, ambiental e econômica que traz uma ideia ética de conservação da
qualidade das pessoas, objetos e meio ambiente. Diante da diversidade de formas de
explicações sobre o cuidado, podemos congregar outras características que contribuam
para uma melhor identificação, pois percebemos que quando tentamos conceituar a
noção de cuidado, deparamo-nos com um daqueles conceitos complexos e difíceis de
encontrar uma definição exata, uma vez que é mais fácil viver e praticar o cuidado do
que explicá-lo.
É razoável também pensar no cuidado sob o ponto de vista tradicional da saúde. O
cuidado é uma prática obrigatória para os profissionais de saúde e da educação, afinal
ele está presente em todas as relações entre seres humanos na sociedade (FIGUEIREDO,
2008).
Desde pequenos, somos cuidados por nossas famílias, e especialmente, na sociedade
brasileira patriarcal, esse cuidado é socialmente atribuído às mulheres, mães e avós, o
que reflete também uma desigualdade de gênero histórica, já que muitos meninos são
socializados sem esse olhar sobre o cuidado, diferentemente das meninas, que desde
cedo são introduzidas nos cuidados domésticos e a ofertar cuidados de outros tipos seja
nas brincadeiras ou na introdução às atividades domésticas. Quando vamos crescendo,
a escola também passa a cumprir um papel de cuidado com as crianças e adolescentes
e seguimos assim até a fase adulta, fase esta na qual a sociedade espera que passemos
a cuidar de nossos filhos e família, bem como de nossos próximos.
Para Figueiredo (2008), existe uma relação estreita entre o cuidado e práticas ou
procedimentos de salvação, os chamados “rituais de passagem”, os quais podemos
exemplificar como: batizados, casamentos, festas de aniversário, debutante etc. O autor
também fala de práticas denominadas como de “tratamento”, através das quais a
ciência e as técnicas operam procedimentos de “cura” na busca pelo estabelecimento

ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL 7


da saúde. Por fim, para Figueiredo (2008), a ética é uma dimensão formada pelo
conjunto de “procedimentos de puro cuidado”, pois assim, cuidando de si e dos outros,
proporciona-se às pessoas, para além da salvação da alma e do bem-estar, a noção de
“fazer sentido” da sua vida e da sua existência, desde o seu nascimento até a sua morte.
O que remete ao pensamento de Foucault, que entende o cuidado como um elemento
que é constitutivo do sujeito.
Para Foucault o cuidado em si traria a ideia de um exercício filosófico do cuidado da pessoa que
se volta para si mesma, que gerencia seu próprio cuidado, enquanto também uma dimensão
emocional e intelectual. Tal conhecimento surge na Antiguidade sendo praticado pelos filósofos
gregos, como também pelos ascetas e espartanos. Seria o cuidado enquanto algo bom para a
alma e para o povo. E, assim, o cuidado também seria instrumento de poder, no sentido de
governamentalidade. (NASCIMENTO et al, 2016, p. 1179)

Hanna Arendt aborda também o cuidado do mundo, entendendo que a existência


humana exerce seu sentido através da vida pública e da ação política. Dessa forma, “o
cuidado é problematizado como instrumento de responsabilidade pelo mundo e como
resposta política, sendo preciso então uma política que fosse capaz de cuidar do
mundo”. (NASCIMENTO et al, 2016, p. 1180).
Pensando no cuidado com o mundo, temos o exemplo da pandemia da Covid-19, a qual
requisitou que diversos profissionais de diferentes especialidades de todo o globo,
especialmente da área da saúde, buscassem se adaptar à nova realidade para ofertar
suporte e cuidados à população, dentre eles, destacam-se: cuidados hospitalares
intensivos, os cuidados relacionados ao isolamento, cuidados primários de saúde e
cuidados psicológicos, psiquiátricos e também ofertados por outros profissionais da
saúde na área de saúde mental, principalmente a pacientes diagnosticados com Covid-
19, seus familiares, para grupos mais vulneráreis (pessoas idosas, pessoas com doenças
crônicas e pessoas com deficiências), e para profissionais atuantes na linha de frente
(FARO et al, 2020).
Por isso, para a construção do Cuidado, tão importante quanto investir na reflexão e
transformação relativas às características das interações interpessoais nos atos
assistenciais e a partir deles, é debruçar-se, uma vez mais e cada vez mais, sobre as raízes
e significados sociais dos adoecimentos em sua condição de obstáculos coletivamente
postos a projetos de felicidade humana e, de forma articulada, da disposição
socialmente dada das tecnologias e serviços disponíveis para sua superação. Nesse
sentido, julga-se de fundamental relevância, na produção sobre o Cuidado, a articulação
de iniciativas teóricas e práticas que vinculem os cuidados individuais a aproximações
de corte sócio sanitário (AYRES, 2004, p. 27).

Ainda não sabemos ao certo o que originou o vírus da Covid-19, mas como essa
pandemia e outras epidemias que o mundo passou até os dias atuais, sabemos que a

ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL 8


forma como efetuamos o nosso consumo de produtos alimentícios, como exploramos
os recursos naturais e ambientais, pode influenciar no desequilíbrio entre a vida humana
e a vida na terra. E pelo histórico desenfreado de avanço do capitalismo mundial, o
cenário contemporâneo não é nada estimulante, sendo bem difícil que essa seja a última
pandemia que experimentamos, o que revela a urgência de estudos científicos que
considerem aspectos éticos e de cuidado para refletir sobre os desafios atuais e
possibilitar transformações na forma com a qual a humanidade tem se estabelecido nos
diversos espaços, utilizado dos recursos naturais, buscando desenvolver práticas de
cuidado para melhoria da qualidade de vida das pessoas.
Discutiremos mais a respeito desses temas de impactos ético-sociais no capítulo 02. Mas
antes, assista ao vídeo 02, com a live que entrevistou o teórico Leonardo Boff, para
entender melhor como o tema do cuidado é relevante para pensar o momento atual.

Vídeo 02 – Saber Cuidar: do Pensamento à Ação - com Leonardo Boff

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=bq5wEeKnl-o

ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL 9


2 PROBLEMAS ÉTICO-SOCIAIS DO MUNDO

O atual estágio de desenvolvimento da sociedade é caracterizado por um aumento


significativo na influência da atividade humana na dinâmica dos processos biosféricos.
A era tecnocrática contribuiu grandemente para melhorar a qualidade de vida das
pessoas, mas, ao mesmo tempo, gerou problemas ambientais em todo globo, cuja
essência se resume ao fato de que se a sociedade continuar a se desenvolver na mesma
direção e no mesmo ritmo, a capacidade de nosso planeta de manter a vida rapidamente
se esgotará.
A ética contemporânea vem passando por problemas, as sociedades modernas têm
prioridades que em outras épocas eram consideradas questionáveis, tal como a
acumulação exacerbada de capital. Percebe-se que as pessoas e empresas poderiam
fazer bem mais do que fazem efetivamente para beneficiar a sociedade, entretanto, os
aspectos econômicos e sociais vêm sofrendo com a falta de interesse de diversos
agentes.
A crise de valores que vivemos é percebida através de simples momentos em
sociedade, seja em uma pequena desavença no trânsito ou simplesmente através do ato
de ceder o lugar para uma pessoa idosa no transporte coletivo. Nossa sociedade não é
definida apenas por momentos grandiosos, são as somas das pequenas atitudes que nos
fazem perceber que estamos indo no caminho errado. Afinal de contas, alguém pode
ser bom ou ruim o tempo todo?
Viver e interagir em sociedade é um ato complexo, por mais que as pessoas não
concordem sempre, as discordâncias podem ser benéficas para o desenvolvimento do
pensamento crítico e das sociedades, mas na prática, vemos que nossa sociedade não
costuma ver com bons olhos o que é diferente. Renunciamos a bons relacionamentos
simplesmente por razões que, às vezes, fogem ao nosso controle, estamos sempre
cansados, sempre com pressa, mas este é o paradigma que está posto e que cada vez
mais faz com que passemos despercebidos por diversos problemas ao nosso alcance,
em outras palavras, nosso modo de vida vem nos tornando pessoas desgastadas para
encarar certos desafios.
Para os autores Andrade, Givigi e Abrahão (2018, p. 68):
Confundindo a instabilidade própria das relações contemporâneas com a noção
de desordem, o atual apelo à ética se fará então por um apelo ao retorno de
regras mais rígidas, supostamente capazes de produzir uma maior moralização
do tecido social. Aqui, a referência à ética será facilmente identificada como uma
espécie de moralização das relações, isto é, como fechamento da possibilidade
de se pensar outras formas de estar no mundo, uma vez que, em vez de afirmar
a crise dos códigos endurecidos como possibilidade de invenção de novas
maneiras de ser e estar com o outro, demandam por mais limites e contenções.

ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL 10


Basta abrirmos o jornal ou ligarmos a televisão para observarmos esse reiterado
olhar negativo dirigido às relações humanas. Frente a qualquer situação de
conflito, as saídas apontadas costumam ser as mesmas, ora indicando a
ausência de leis mais rigorosas, ora assinalando a falta de fiscalização e
cumprimento das que já existem.

Refletindo sobre o exposto pelos autores, podemos pensar que nossa sociedade
passou muitos anos negligenciando aspectos sociais diversos. Embora exista
uma crise ética na contemporaneidade, esses problemas já existiam antes e
talvez, nos dias atuais, a projeção das mídias e das redes sociais trouxe os
problemas para uma nova perspectiva, para um debate mais aberto sobre as
relações.
Ainda na citação acima, é falado sobre o endurecimento de leis, dentre outras
coisas. Será que nós só funcionamos com a imposição de leis? Prefiro
acreditar que a sociedade em que vivemos é muito melhor do que isso. Muito se
fala, sobretudo, sobre aspectos de educação, a qual possui o poder de
transformar vidas e formar pessoas com valores sólidos, nós continuamos a ter
fé nesta premissa, mas a transformação que a sociedade precisa é lenta e,
muitas vezes, até perdemos a esperança.
No fim, toda a argumentação exposta nos faz questionar o motivo de as pessoas
não se importarem com os problemas da sociedade como deveriam. Nossa
sociedade vem passando por sérios problemas de consumo, isto também
acarreta uma série de problemas relativos ao desperdício, que, em
consequência, ocasiona problemas ambientais.
É sabido que todas as sociedades encontram escolhas conflitantes e paradoxos
sobre os aspectos de preservação ambiental e produtividade. Diversos países
da Europa já exploraram em demasia seus recursos naturais em troca de
riqueza, mas chegaram a um ponto em que seu modelo de desenvolvimento, de
extrativismo sem planejamento, não é sustentável a longo prazo. Não é racional
explorar os recursos sem pensar no efeito futuro destas ações e, em linhas
gerais, demorou para se perceber que os recursos naturais são finitos.
O Brasil vem sendo muito criticado pelas suas decisões de política ambiental.
Notícias, como a presente na Imagem 02, fazem com que questionemos as
prioridades do nosso país, uma vez que possuímos regras ambientais já
permissivas e somos apresentados a situações como a exposta, em que é
solicitado que tornemos as mesmas mais permissivas ainda.

ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL 11


Imagem 02 – Afrouxamento de Regras Ambientais

Fonte:https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/09/23/ministerio-da-economia-pede-para-
meio-ambiente-afrouxar-regras-a-pedido-do-setor-privado.ghtml

Analisando a notícia acima do ponto de vista da moral, fica escancarada a falta


de cuidado e de comprometimento com os recursos ambientais que deveriam
ser de acesso a todos. Podemos entrar no mérito do desenvolvimento da
sociedade, afinal, com a evolução das práticas e técnicas de trabalho,
poderíamos ser mais eficientes com os bens ambientais e essa premissa não
está inteiramente errada, mas por que não vamos além?
E se aproveitássemos a comunhão das boas práticas (ética), o progresso
tecnológico e os aspectos da educação ambiental? Possivelmente, nossa
sociedade obteria características de preservação e de sustentabilidade que
beneficiaria gerações futuras, mas o que ocorre é justamente o contrário,
escassez de recursos naturais, animais em extinção, pesca e caça predatória.
Nossa sociedade necessita enxergar o quadro maior, mas para isso, precisamos
pensar em pessoas e em lideranças que se cuidem, que queiram cuidar dos
próximos e das próximas gerações, pessoas com visão, conhecimento e
engajamento em causas que irão beneficiar o desenvolvimento sustentável da
nossa sociedade. Em outras palavras, pessoas com um nível educacional
coerente com a tarefa de propor soluções eficientes e que atendam aos anseios
das sociedades. Os requisitos mostrados acima podem parecer utópicos, mas
precisamos de pensamento crítico e constantes contraposições de ideias para
encontrar as melhores alternativas para a resolução dos problemas econômicos,
sociais e ambientais.

ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL 12


Por exemplo, vamos fazer um exercício de gestão e de cuidado ao próximo. De
que maneira, você enxerga que poderíamos acabar com a fome no Brasil?
(Vamos debater no fórum 04).
Nascimento (2020, p. 68) traz a seguinte reflexão:
Se o mundo atual vive a partir de uma realidade basicamente pragmática e utilitária,
baseada somente numa desenfreada guerra da produção e do consumo sem muito
critério ético, sem pensar nas consequências de bem ou de mal que possa trazer ao
próprio ser humano, porque “o mercado é um processo de descoberta, em que
diferentes alternativas são experimentadas e selecionadas por escolhas de
consumidores” (PETRONI, 2012, p. 331). Isso nos mostra que como esse mesmo homem
só pensa no acúmulo do ter em detrimento do ser, então, significa que essa lógica está
em descompasso com o próprio homem, mesmo assim, na visão otimista de Mounier
(1972, p. 105), “Todo homem um dia torna-se humano”. E, segundo Camus apud
Mounier, “o mal que existe no mundo, vem quase sempre da ignorância, e a boa
vontade, pode fazer tantos prejuízos quanto à maldade, se não é esclarecida” (Ibidem).
Não é por acaso que a desordem e desarmonia entre os humanos acontecem negando,
todavia, a prática do cuidado. (NASCIMENTO, 2020, p. 68.)

Os autores se mostram críticos com a forma como a sociedade enxerga o seu


modo de vida. Dentre outros pontos, é perceptível que as ideias de “viver bem”
no contexto atual, perpassa a ideia de consumo e de utilitarismo. Desta forma,
idealizou-se um cenário em que as pessoas se sentem felizes com a posse de
bens materiais. Tudo bem! Sem nenhuma forma de hipocrisia, normalmente as
pessoas se sentem felizes quando possuem algo. Ter e querer ter não é
necessariamente errado, mas podemos pensar que, muitas vezes, as pessoas
adquirem produtos e bens supérfluos, que não necessitam, apenas pela
necessidade de “ter” e para acumular desenfreadamente.
Podemos trazer como exemplo, a compra de livros físicos ou roupas, ou qualquer
outro bem. Será que, naquele momento, nós realmente necessitamos daquele
bem? Quantas e quantas vezes possuímos algo e simplesmente não utilizamos
ou doamos as coisas antigas para outras pessoas? Nossa experiência com
consumo vai muito além da ideia de necessidade. Afinal, quantas necessidades
são “criadas” por campanhas publicitárias para que nós nos identifiquemos e nos
sintamos parte daquele processo global? O ponto é que da forma pela qual
consumimos hoje, o meio ambiente se degradará muito mais rápido do que
deveria.

ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL 13


REFERÊNCIAS

ANDRADE, Eliane Oliveira de; GIVIGI, Luiz Renato Paquiela; ABRAHÃO, Ana Lúcia. A ética
do cuidado de si como criação de possíveis no trabalho em Saúde. Interface-
Comunicação, Saúde, Educação, 2017.

AYRES, José Ricardo de Carvalho Mesquita. O cuidado, os modos de ser (do) humano e
as práticas de saúde. Saúde e Sociedade, v.13, n.3, p.16-29, set-dez 2004. Disponível
em: <
https://www.scielo.br/j/sausoc/a/nvGMcCJJmpSSRjsGLhH8fmh/?lang=pt&format=pdf
>. Acesso em: 26 de dezembro de 2021.

BACKES, Dirce Stein et al. Concepções de cuidado: uma análise das teses apresentadas
para um programa de pós-graduação em enfermagem. Texto & Contexto-Enfermagem,
v. 15, p. 71-78, 2006.

BOFF, Leonardo. A ética e a formação de valores na sociedade. Instituto Ethos Reflexão,


n. 11, 2003.

FARO, André et al. COVID-19 e saúde mental: a emergência do cuidado. Estudos de


Psicologia (Campinas) [online]. 2020, v. 37. e200074. Disponível em:
<https://doi.org/10.1590/1982-0275202037e200074>. Acesso em: 26 de dezembro de
2021.

FIGUEIREDO, Luís Cláudio. As Diversas Fases do Cuidar: novos ensaios de psicanálise


contemporânea. São Paulo: Escuta, 2009.

FOUCAULT, Michel. A ética do cuidado de si como prática de liberdade. In.: Ditos &
Escritos V – Ética, Sexualidade, Política. Rio de Janeiro: Forence Universitária, 2004.

NASCIMENTO, Ermano Rodrigues. Pensar a ética utilitária a partir da ética do


cuidado considerando as assistências e as políticas da mediação em saúde.
Revista Ágora Filosófica, v. 20, n. 2, p. 62-96, 2020.

ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL 14


NASCIMENTO, Rayanne et al. Aspectos epistemológicos do cuidado na saúde
mental: o exemplo de mulheres cuidadoras de pessoas com transtorno mental,
atendidas por um caps da Região Metropolitana de Recife. In: Anais do 19º
REDOR - XIX Encontro Internacional da Rede Feminista Norte e Nordeste de
Estudos Feministas sobre Mulher e Relações de Gênero. São Cristovão, 2016.

STEINKAMP, Hermann. A relação entre cuidado de si e cuidado dos outros. O


significado da crítica de Michel Foucault ao “poder pastoral” para a poimênica
cristã. Estudos Teológicos, v. 39, n. 3, p. 271-290, 1999.

ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL 15

Você também pode gostar