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Quatro Poemas de Alberto Caeiro (Fernando Pessoa) talvez o ltimo dia da minha vida.

. talvez o ltimo dia da minha vida. Saudei o Sol, levantando a mo direita, Mas no o saudei, dizendo-lhe adeus, Fiz sinal de gostar de o ver antes: mais nada. Alberto Caeiro

Hoje de manh sa muito cedo Hoje de manh sa muito cedo, Por ter acordado ainda mais cedo E no ter nada que quisesse fazer... No sabia que caminho tomar Mas o vento soprava forte, varria para um lado, E segui o caminho para onde o vento me soprava nas costas. Assim tem sido sempre a minha vida, e Assim quero que possa ser sempre -Vou onde o vento me leva e no me Sinto pensar. Alberto Caeiro

O amor uma companhia O amor uma companhia. J no sei andar s pelos caminhos, Porque j no posso andar s. Um pensamento visvel faz-me andar mais depressa E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo. Mesmo a ausncia dela uma coisa que est comigo. E eu gosto tanto dela que no sei como a desejar. Se a no vejo, imagino-a e sou forte como as rvores altas. Mas se a vejo tremo, no sei o que feito do que sinto na ausncia dela. Todo eu sou qualquer fora que me abandona. Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio. Alberto Caeiro

Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espao, a figura dela,

Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espao, a figura dela, E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela. Fao pensamentos com a recordao do que ela quando me fala, E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhana. Amar pensar. E eu quase que me esqueo de sentir s de pensar nela. No sei bem o que quero, mesmo dela, e eu no penso seno nela. Tenho uma grande distraco animada. Quando desejo encontr-la Quase que prefiro no a encontrar, Para no ter que a deixar depois. No sei bem o que quero, nem quero saber o que quero. Quero s Pensar nela. No peo nada a ningum, nem a ela, seno pensar. Alberto

Caeiro

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