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Artigo - o Princípio Da Pratimonialidade e Tipicidade Dos Meios Exxecutivos
Artigo - o Princípio Da Pratimonialidade e Tipicidade Dos Meios Exxecutivos
RESUMO: O artigo busca mostrar como a interpretação adequada do art. 139, IV, do
CPC leva à possibilidade de emprego, na execução de obrigações de qualquer natureza,
inclusive pecuniárias, de meios executivos atípicos, desde que tais meios sejam
exclusivamente patrimoniais, sendo impossível o emprego de meios de execução
pessoais, que incidam sobre a própria pessoa do executado.
ABSTRACT: This paper intends to demonstrate that the correct interpretation of article
139, IV, of the Brazilian Civil Procedure Code makes possible the use of enforcement
means that are not described in any statute, whatever is the nature of the civil obligation
(including Money debts). These enforcement means, however, must work over the
assets of the debtor, never over her person or body.
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1. INTRODUÇÃO
O art. 139, IV, do CPC de 2015 já foi descrito como responsável por uma
“revolução silenciosa” da execução civil brasileira.2 Afinal, ele prevê uma ampliação do
campo de incidência da cláusula geral de atipicidade dos meios executivos – que já
estava prevista no art. 461 do CPC de 1973 desde a entrada em vigor da Lei n° 8.952, de
13 de dezembro de 1994, que alterou a redação do aludido art. 461 – permitindo seu
emprego também nos procedimento executivos que tenham por objeto o cumprimento
de obrigações pecuniárias. Por força do inciso IV do art. 139 do CPC, então, é possível
o emprego, no procedimento destinado ao cumprimento de decisões judiciais que
reconheçam a exigibilidade de obrigações de qualquer natureza, de medidas executivas
que não estão previstas em lei.
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Posteriormente, esses dispositivos foram (quase que literalmente)
reproduzidos no Código de Processo Civil de 1973, o que se deu por força da redação
atribuída pela Lei n° 8.952/1994 ao art. 461 daquele diploma.
Até aí, porém, a cláusula geral de atipicidade dos meios executivos só era
aplicável quando se tratasse de deveres jurídicos de fazer ou de não fazer. A incidência
de tal cláusula geral só seria ampliada para permitir o emprego de meios executivos
atípicos no caso das obrigações de entregar coisa quando a Lei n° 10.444/2002 fez com
que se incluísse no CPC de 1973 o art. 461-A, cujo § 3º determinava a aplicação, ao
cumprimento das decisões judiciais que reconhecessem a exigibilidade de obrigações de
entregar coisa, “[d]o disposto nos §§ 1º a 6º do art. 461”.
Pois chama a atenção o fato de que as decisões que têm sido noticiadas –
e que são aqui criticadas – são sempre ligadas a casos em que o executado é pessoa
natural. Isto porque parece evidente que o art. 139, IV, do CPC tem grande utilidade em
casos nos quais o executado é pessoa jurídica (os quais, certamente, são grande parte
das execuções civis instauradas no Brasil). Afinal, é fato notório que muitos dos
procedimentos executivos são voltados contra instituições financeiras, concessionárias
de serviços públicos (como telefonia ou energia elétrica, por exemplo), operadoras de
planos de saúde, entre outras que se apresentam como litigantes repetitivas.6
Pois é aqui que o art. 139, IV, do CPC se revela de grande utilidade
prática. Figure-se o exemplo de uma instituição financeira condenada a pagar a alguém,
a título de reparação de dano moral, o valor de cinco mil reais. Tal valor, ainda que
adequado para reparar o dano moral sofrido pelo demandante, é evidentemente irrisório
quando examinado em confronto com a capacidade patrimonial do executado. Ainda
assim, porém, é cediço que os executados, especialmente os de grande porte, valem-se
de todas as medidas que encontram ao seu alcance (respeitados, ao menos como regra
geral, os limites impostos pela boa-fé) para impugnar a execução, fazendo com que essa
atividade demore muito para atingir os resultados a que se dirige. Não é incomum que
execuções como essa do exemplo apresentado demorem anos, na prática, para chegar à
satisfação do crédito exequendo. E há uma explicação bastante evidente para isso: é que
o executado não sofre grande prejuízo com essa demora. É certo que ao valor da
condenação se acrescerão correção monetária e juros, além de uma multa (de 10%) e
6 Para confirmar o que vai dito no texto, basta dizer que entre 2013 e 2017, entre as trinta pessoas mais
demandadas nos juízos cíveis do Estado do Rio de Janeiro, havia nove concessionárias de serviços
públicos, treze instituições financeiras, três pessoas jurídicas de direito público, três operadoras de planos
de saúde, uma empresa varejista e uma empresa de TV por assinatura.
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honorários advocatícios (também de 10%). Ora, é de se convir que mil reais (valor da
multa e dos honorários advocatícios somados, considerando-se o exemplo anteriormente
figurado), no caso em tela, e sendo o devedor economicamente poderoso como seria
uma instituição financeira, é uma quantia irrisória. Quando se pensa que, além disso, o
valor devido pelo banco continuará com ele até o final da atividade executiva, podendo
ser objeto de aplicações financeiras e de empréstimos a juros elevadíssimos, facilmente
se conclui que a demora na satisfação do crédito pode ser, para o devedor,
verdadeiramente lucrativa.
7 Talvez seja possível o emprego de medidas atípicas de natureza não patrimonial no cumprimento da
decisão judicial que reconhece a exigibilidade da obrigação de prestar alimentos, onde até mesmo a prisão
civil do devedor pode ser admitida. Este, porém, é ponto sobre o qual aqui não se faz qualquer
consideração, já que precisaria ser mais bem desenvolvido em outra sede, fazendo-se neste ponto, apenas,
uma provocação à reflexão.
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para o devedor a rápida produção dos resultados práticos capazes de promover a
satisfação do direito material do exequente. E é dessa forma que tal dispositivo deve ser
empregado. Só assim a disposição contida no art. 139, IV, do CPC terá sido lida em
consonância com o modelo constitucional de processo civil, observando-se o devido
processo constitucional. E apenas desse modo se terá assegurado que, por intermédio do
disposto no art. 139, IV, do CPC, a atividade executiva será dotada de efetividade e
eficiência.
5. CONCLUSÃO
O art. 139, IV, do CPC é, como já foi lembrado, responsável por uma
“revolução silenciosa” na execução das decisões judiciais que reconhecem a
exigibilidade das obrigações, especialmente as pecuniárias. Desde que interpretado e
aplicado em conformidade com a Constituição da República e com o princípio da
patrimonialidade da execução, poderá esse dispositivo contribuir para a máxima
efetividade e a maior eficiência da execução, notoriamente um dos pontos de
estrangulamento da atividade jurisdicional no Brasil. Pois se deve augurar que com o
incremento da efetividade e da eficiência da execução se consiga, numa espécie de
“efeito cascata”, a diminuição do acervo dos procedimentos executivos em curso, o que
teria evidente impacto no desenvolvimento das atividades próprias do Judiciário e, por
consequência, serviria como grande contribuição do Código de Processo Civil de 2015 à
tão almejada realização da garantia constitucional da duração razoável dos processos.
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