Lofes ,L.P.
MotTA Yee Aplrcect— Campane
Paces dar Libr, 1196
Long at
1, AFINAL, 0 QUEELINGUISTICA APLICADA?
Nos sitimos anos, os encontros de Lingifstica Aplicada
(LA) no Brasil t8m inclufdo em suas programactes sessies que
tratam especificamente da natureza da LA. Parece, portanto, que
hf ainda o que se falar sobre este tema, embora alguns pesquisa-
dores no Brasil jé tenham apontado esta questo como estéril ¢
sugerido que a methor mancira de se identificar a LA (no sentido
de estabelect-ta como érea de investigacSo) & através do desen-
volvimento de pesquisa.
Quero, no entanto, defender a posigso de que esta discus-
‘so parece ser ainda necesséria ndo para demarcar os limites
entre a Lingfstica ¢ a LA, como dreas de investigacio, que j4
Parecem claros, pelo menos para aqueles que se identificam como
lingQistas aplicados, mas para esclarecer os paradigmat sob o¢
tuam . Defendo, na verdade, a visfo de que esta questo é
natural & produgéo cientffica. Ou seja, esta discussio é dtil para a
LA, isto ¢, interessa aos lingilistas aplicados, na medida em. que
epresenta um confronto ou nfo de percursos de InvestigacioSty
io
g
(sto ¢, paradigmas) ao se defender um ou outto. Alids, este tipo
de discussto é, na verdade, comum nas comunidades cientificas,
‘quando um grupo de pesquisadores formula e defende um novo
paradigma, fazendo com que pesquisadores que se tecusem a
aceité-lo tenham seu ttabalho ignorado por este grupo até que 0
Paracligma seja abragado largamente pela comunidade, 0 traba-
tho destes pesquisadores rebeldes, por assim dizer, passe a ser
tomado como padrio. Isto pode chegar até 0 ponto de determinar
‘quem é um pesquisador em uma ceria érea (cf. Kuhn, 1970: 19).
Portanto, o que parece estar ocorrendo em nosso campo ¢ um
interesse pelo estabelecimento de regras e padres para.a investi-
‘gagio cientffica em LA. Ou seja, nada de muito extraordinério
do ponto de vista da operagao cientifica. E muito do que esté
envolvido na aceitagto de um novo paradigma deriva de argu-
‘mentagdo persuasiva dentro da comunidade cienttfica (cf, Kuhn,
1970: 94), ou seja, o que temos feito nos dltimos anos neste pals,
Assim, defendo a visto de que esta questto interessa & LA, nfo
simplesmente como uma demarcagto de éreas de investigagio
sto 6, lingtfstica X LA), mas como uma maneira de refinar
modos de se realizar pesquisa em LA. Esta questi, portanto, 6
inerente & LA como campo de investigago. Esta temética tem
ue ser discutida por nés mesmos, isto 6, lingUistas aplicados, e
parece colaborar para o fortalecimento € 0 desenvolvimento da
rea,
A primeira vez que ouvi esta questi tratada no Brasil foi
em 1978, quando Mary Kato, ao fazer uma palestra sobre LA io
Encontro de Lingiifstica da PUC-Rio, argumentou que uma ma~
neira de se entender o que € 8 LA seria através do exame do
programa do diltimo Congresso da Associagio Intemacional de
LA(AILA), a0 qual ela havia comparecido, Embora concorde que
‘sta perspectiva d2 conta da abrangéncia da pesquisa em LA, ela
4 pouco esclarecedora dos paradigmas a partir dos quais se opera
om LA. Esta discussio comega a se fazer necessdria principal-
mente agora no Brasil quando 0 nimero daqueles que se intitu-
Jam pesquisadores em LA € bastante considerdvel, a0 contrério
de décadas passadas, em que a pesquisa nesta érea era, normal-
mente, realizada por lingUistas que, muitas vezes, identificavam
este tipo de pesquisa como secundério em relaglo A sua pesquisa
principal e equacionavam «LA com aplicagSo de teoria linglts-
tica para resolver problemas de ensino de fnguas ou para levar a
efeito descrigées de Inguas especfficas. B hora, entio, de nés
‘mesmos nos perguntarmos: afnal, o que 6LA?
‘Vou tentar responder a esta questio através da caracterizaco