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A glória do novo templo

A glória deste novo templo será maior do que a


do antigo, diz o Senhor dos Exércitos. "E neste
lugar estabelecerei a paz", declara o Senhor dos
Exércitos. (Ageu 2.9)

Sabemos pelo relato das Sagradas Escrituras que o povo de Deus,


por ordem Dele mesmo, tinha um lugar determinado e detalhadamente
configurado para se encontrar com Ele.

A primeira menção a esse lugar especial de encontro e adoração é


encontrada no livro de Gênesis, assim registrada:
E esta pedra que hoje coloquei como coluna servirá de santuário de
Deus; e de tudo o que me deres certamente te darei o dízimo".
(Gênesis 28.22)

Como se pode ver, trata-se de um lugar desprovido de qualquer


pompa; apenas serviu de lugar para Jacó descansar por uma noite com
sua cabeça sobre uma pedra, usada como travesseiro, e ter um encontro
com Deus em sonho.

Ao contrário da simplicidade visível daquele lugar, as maravilhas


descritas em Gênesis 28.12-17, envolvendo uma escada ligando a terra ao
céu, a visão de anjos de Deus subindo e descendo por ela, a visão de
Deus ao seu lado, dando-lhe a garantia de estar consigo e de lhe
conceder aquela terra perpetuamente, de modo a abençoar a sua
numerosíssima descendência que viria a ser espalhada por toda a terra,
constituem o temível e sobrenatural contraste, capaz de fazer com que
Jacó tivesse plena convicção de que Deus estava naquele lugar, e que ali
era a porta dos céus e casa de Deus, por isso, o chamou de Betel.

Ao longo dos encontros de Deus com seu povo, o lugar em que tais
encontros aconteciam, inicialmente conhecido pelo nome de santuário,
recebeu posteriormente os nomes de Tabernáculo e de Templo.

A nomenclatura de Tabernáculo prevaleceu durante os 40 anos de


peregrinação que o povo viveu no deserto, sujeito a deslocamentos
sucessivos, bem como pelo tempo que permaneceu na terra prometida,
até ao término da construção do primeiro Templo. Esse período
compreendeu aproximadamente 500 anos, de 1.450 até 950 a.C.

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Passou a ser denominado de Templo, com a construção do
primeiro deles, por Salomão, e com a construção do segundo, por
Zorobabel, 516 a.C., até 70 d.C., o qual, além de menos suntuoso do que
o primeiro, não contava com seu principal utensílio sagrado – a Arca da
Aliança, extraviada e até hoje não encontrada, que servia de sinal da
Presença de Deus.

Ainda sobre o segundo Templo, Herodes I, o Grande, 16 anos antes


do nascimento de Jesus, promoveu nele uma grande reforma, tendo em
vista que já estava bastante desgastado em seus mais de 500 anos de
existência. Para uns, essa reforma é entendida como o terceiro Templo,
ou o Templo de Herodes, mas, para os judeus, significou uma
profanação, pelo fato de ter sido construída num dos vértices dos muros
de Jerusalém, uma torre de sentinela conhecida como a fortaleza
Antônia, em homenagem a Marco Antônio, um dos integrantes do
segundo triunvirato do governo romano, uma vez que Deus havia
determinado com exatidão inalterável, como deveria ser o formato e o
conteúdo do Templo.

Apesar dos grandes percalços enfrentados pelo povo de Deus na


sua jornada de fé, perseverança e adoração, dentre eles a inferioridade
arquitetônica e a ausência do mais importante símbolo sagrado que os
olhos humanos contemplavam, em comparação ao primeiro Templo, o
profeta Ageu, sob inspiração divina, restaurou a alegria e o ânimo do
povo ao proclamar que o próprio Deus, e não apenas um belo e
significativo símbolo, declarara que a glória desse novo Templo, que não
se fez presente na sua inauguração, seria maior do que a glória do
primeiro.

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A partir dessa afirmação, e nas condições em que ela foi
anunciada, uma pergunta se impõe como necessária ao esclarecimento
dessa estranha lógica:

Por que a glória do segundo Templo viria a ser maior do que a


glória do primeiro?

Apontando para Jesus, as pedras do segundo Templo seriam


transformadas em pedras vivas

O primeiro Templo foi majestosamente construído, seguindo


rigorosamente os detalhes determinados por Deus, que o encheu de
glória no dia da sua inauguração. Quem dele teve informações ou se
lembrava de sua imponência, sentia tristeza e chorava ao ver que o
segundo Templo era muito inferior, até desprezível.

O povo não tinha noção de que se tratava de plano de Deus,


procurando fazer o povo perceber que a nossa esperança de glória não
deve ser baseada em símbolos de pedra, madeira ou metal, cuja glória
que revelam, é apenas sombra da que deveria ser aguardada e que
haveria de vir. Por isso, através do profeta Ageu, Deus revelou que esse
novo Templo seria mais glorioso do que o anterior.

À medida que se aproximam dele, a pedra viva — rejeitada pelos


homens, mas escolhida por Deus e preciosa para ele — vocês
também estão sendo utilizados como pedras vivas na edificação de
uma casa espiritual para serem sacerdócio santo, oferecendo
sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus, por meio de Jesus Cristo.

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Pois assim é dito na Escritura: "Eis que ponho em Sião uma pedra
angular, escolhida e preciosa, e aquele que nela confia jamais será
envergonhado". Portanto, para vocês, os que creem, esta pedra é
preciosa; mas para os que não creem, "a pedra que os construtores
rejeitaram tornou-se a pedra angular", e, "pedra de tropeço e rocha
que faz cair". Os que não creem tropeçam, porque desobedecem à
mensagem; para o que também foram destinados. Vocês, porém, são
geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus,
para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a
sua maravilhosa luz. (1 Pedro 2.4-9)

Sem se dar conta, o povo, até então conhecido como Israel ou


israelita, acostumado ao cumprimento formal de ritos, cerimônias e leis,
estava sendo preparado para uma profunda transformação na qualidade
do seu relacionamento com Deus, que na plenitude dos tempos viria a
ser inaugurada.

Ritos, cerimônias e leis, embora instituídos por Deus, não deveriam


ser mecanicamente observados, descambando para o profissionalismo, o
ativismo, a religiosidade, infrutíferos aos olhos de Deus, que não
encontrava neles, sinceridade, temor, gratidão, amor, vida.

A vida impregnada e transbordante de amor, gratidão, temor e


sinceridade, era o poderoso e inigualável diferencial que distinguia o
valor que deveria caracterizar o estilo de vida do povo que se reuniria no
novo Templo, cujas pedras apontavam profeticamente para verdadeiros
adoradores, cuja adoração e vida os tornasse comparáveis a pedras
vivas, cheias de poder, servindo com a sustentação da pedra angular, de

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edificação gloriosa e inabalável, conforme a profecia de Isaías, 28.16, da
qual, o povo tinha conhecimento. São estas as palavras:

Por isso diz o Soberano Senhor: "Eis que ponho em Sião uma pedra;
uma pedra já experimentada, uma preciosa pedra angular para
alicerce seguro; aquele que confia, jamais será abalado. (Isaías 28.16)

Para que o povo fosse capaz de ser transformado em verdadeiros


adoradores e se beneficiar da preciosidade da pedra angular posta em
Sião, como alicerce seguro e inabalável para quem nele confia, era
necessário que houvesse transformação tão profunda da sua mente, que
representasse sacrifício agradável a Deus, conforme o texto abaixo.

Portanto, irmãos, rogo-lhes pelas misericórdias de Deus que se


ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o culto
racional de vocês. Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas
transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam
capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita
vontade de Deus. (Romanos 12.1,2)

Uma vez que Jesus inaugurou uma nova e definitiva aliança,


revelando que Ele mesmo passaria a ser o novo Templo, devemos nos
apropriar desse maravilhoso diferencial para a nossa realidade atual,
crendo profunda e jubilosamente que Nele passamos a ser pedras vivas,
capazes de, por Ele e com Ele, transformar a realidade natural deste
mundo de injustiças, num mundo sobrenatural e transbordante de paz,
alegria e esperança incomparáveis.

A glória de Deus seria percebida com a Presença do Deus


glorioso

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A glória desse novo Templo viria a ser maior do que a do primeiro
porque sua condição mais simples contribuiria para que o povo fosse
conduzido a perceber que mais importante do que o ouro que embeleza
e valoriza o santuário, é o santuário que santifica o ouro (Mateus 23.17).
A adoração passaria a ser dirigida ao Deus vivo e presente. Em outras
palavras, mais importante do que a sombra ou a imagem projetada de
um objeto, é o próprio objeto, sem o qual, a sombra ou a imagem não
existiria.

A partir da mudança de percepção sobre Deus e como identificar


Sua Presença, o povo passou a lidar com o sagrado num patamar muito
mais elevado de relacionamento.

O povo foi conduzido a aprender que mais importante do que


possuir a herança de terras prometida a cada tribo de Israel, era ter como
herança, o Deus que fez a promessa, conforme os textos abaixo:

Naquela ocasião o Senhor separou a tribo de Levi para carregar a


arca da aliança do Senhor, para estar perante o Senhor a fim de
ministrar e pronunciar bênçãos em seu nome, como se faz ainda
hoje.
É por isso que os levitas não têm nenhuma porção de terra ou
herança entre os seus irmãos; o Senhor é a sua herança, conforme o
Senhor, o seu Deus, lhes havia prometido. (Deuteronômio 10.8,9)

Disse ainda o Senhor a Arão: "Você não terá herança na terra deles,
nem terá porção entre eles; eu sou a sua porção e a sua herança entre
os israelitas. (Números 18.20)

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Esse entendimento se tornou completo e suficiente quando o
Messias que o povo que frequentava aquele Templo, esperava, lhe deu a
seguinte resposta:

Jesus lhes respondeu: "Destruam este templo, e eu o levantarei em


três dias". Os judeus responderam: "Este templo levou quarenta e
seis anos para ser edificado, e o senhor vai levantá-lo em três dias? "
Mas o templo do qual ele falava era o seu corpo. Depois que
ressuscitou dos mortos, os seus discípulos lembraram-se do que ele
tinha dito. Então creram na Escritura e na palavra que Jesus
dissera. (João 2.19-22)

O segundo Templo foi o palco bem planejado por Deus para fazer
o Seu povo aprender a importante lição de que devemos buscar em
primeiro lugar as realidades eternas, e não apenas sombras, símbolos ou
reflexos delas.

Feliz é o povo que não se conforma com as sombras e símbolos que


os olhos podem contemplar, mas, buscando e reconhecendo a Presença
gloriosa de Deus, a Ele se apresenta como verdadeiros adoradores.

Deus não apenas visitaria, mas faria dele Sua permanente


habitação

A Bíblia apresenta vários relatos sobre a relação de Jesus com o


Templo. Conforme Lucas 21.37, em suas dependências, Ele passava o dia
inteiro ensinando, e ao entardecer, saía para passar a noite no monte

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chamado das Oliveiras. Foi no Seu ensino om autoridade, que houve
transformação de mentes e corações, ressignificando seus valores.

Muitas vezes nos deleitamos com experiências que nos trazem ou


provocam prazerosas emoções, entretanto, em algum momento nos
damos conta de que tais experiências têm prazo de validade ou de
fruição, o que faz com que muitos possam exclamar como se fosse uma
verdade absoluta: “O que é bom dura pouco.”

A realidade desse novo Templo é infinitamente superior e mais


gloriosa porque os benefícios da transformação da mente que nos fez e
nos faz capazes de valorizar o que realmente deve ser valorizado, tem
duração eterna.

Essa percepção ganhou clareza e força de convicção quando o


apóstolo João teve o privilégio de contemplar o cenário escatológico, e
vislumbrar quão gloriosa é a herança que está preparada para os amados
de Deus, conforme as seguintes revelações:

Ouvi uma forte voz que vinha do trono e dizia: "Agora o


tabernáculo de Deus está com os homens, com os quais ele viverá.
Eles serão os seus povos; o próprio Deus estará com eles e será o seu
Deus. Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais
morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já
passou". Aquele que estava assentado no trono disse: "Estou
fazendo novas todas as coisas! " E acrescentou: "Escreva isto, pois
estas palavras são verdadeiras e dignas de confiança". Disse-me
ainda: "Está feito. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. A
quem tiver sede, darei de beber gratuitamente da fonte da água da

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vida. O vencedor herdará tudo isto, e eu serei seu Deus e ele será
meu filho. (Apocalipse 21.3-7)

Especificamente em relação ao Templo, a teofania com Jesus que o


apóstolo começou a descrever em Apocalipse 1.13-17, não deixa dúvidas
de que deixará de existir na forma simbólica e profética que hoje
conhecemos, e passará a assumir a sua essência definitiva, conforme
revelado no texto a seguir:

Não vi templo algum na cidade, pois o Senhor Deus todo-poderoso e


o Cordeiro são o seu templo. A cidade não precisa de sol nem de lua
para brilharem sobre ela, pois a glória de Deus a ilumina, e o
Cordeiro é a sua candeia. As nações andarão em sua luz, e os reis da
terra lhe trarão a sua glória. Suas portas jamais se fecharão de dia,
pois ali não haverá noite. A glória e a honra das nações lhe serão
trazidas. Nela jamais entrará algo impuro, nem ninguém que
pratique o que é vergonhoso ou enganoso, mas unicamente aqueles
cujos nomes estão escritos no livro da vida do Cordeiro. (Apocalipse
21.22-27)

Resumindo e conectando as razões pelas quais a glória desse novo


Templo será maior que a do anterior, encontramos alguns registros que
nos levam a algumas conclusões práticas:

A percepção errada de quem somos faz com que não aproveitemos


o potencial que devemos revelar e produzir como pedras vivas, a fim de
que realizemos o santo e honroso propósito para o qual Deus nos criou.

A confusão entre a importância do símbolo e a do que ele


simboliza, isto é, a inversão de ênfase ao investir no que para Deus vale

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menos, ao invés de investir no que vale mais, prejudica a qualidade da
nossa relação com Ele, chegando a ofendê-lo, como foi o caso do bezerro
de ouro, construído por Arão para ser adorado como se fosse o Senhor
(Êxodo 32), provoca Sua ira, atraindo condenação.

Portanto, corrigindo e orientando a nossa perspectiva sobre quem


somos, sobre a glória de Deus e sobre o que mais Lhe glorifica, estamos
preparados para contemplar e ser esse novo Templo em que, não
somente a glória de Deus, mas, o próprio Deus, habitará eternamente,
tornando-o inigualavelmente mais glorioso do que o anterior.

Oh, Senhor! Graças te damos pela iluminação do Espírito Santo,


que abriu os nossos olhos espirituais, permitindo-nos entender o real
significado do Templo e dos demais símbolos sagrados. Graças te damos
porque pelo mesmo Espírito, somos convencidos e estimulados a
assumir o nosso papel de pedras vivas em conexão espiritual com a
pedra angular, em perfeita adoração, de tal maneira que o Templo e a
glória que nele habita, deem lugar à Presença do próprio Deus que se
torna o Templo eterno digno de toda honra, louvor e glória. Amém!

João Pessoa, maio de 2023


Rev. Raimundo Figueiredo

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