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Fre O historiador e suas fontes Carla Bossanezi Pinsky Tania Regina de Luca ‘Ana Lulea Mortins * Antonio Celso Fe ‘Maria Terese Cunha Solange Ferraz de Lima * Tereso \Vénia Corneiro de Corvolho @ editoracontexto Oita e foes conuntes documents e suas formas de utilizagio pela Hi Spurn, que querem dverifiar seu trabalho, Ou mesmo inicintes tém crrintos uma obra diddlica erigorosa, que apresenta os procedimentos da enirugio do conhecimento hstoriogrfico a partir de materiais concretos. ‘Alem diss, o livro & importante instrumento para professores e estudantes roducio aos estudos histSricos e Pritica de nar uma vez que pode auniliar ‘Antropologia, Dieito e os cursas de Metodologia, ras conceituadas, como a usr, a Unesp, a Unicamp, a PUC, 0 CONDE~ ara Udesc, o Museu Paulista ¢as Universidades Federais do Rio Grande ddoSul, Rio Grande do Norte, Minas Gerais e Rio de Janeiro, reunidos em um projeto editorial destinado a estreitar a relagdo entre a produgio do saber ¢ atentopoders perceberdiversos “dislogos” entre os autores) idades edos problemas historiografi Esso andlise é enriquecida com informagiies préticas sobre acervos existentes, ‘ugestoes de como proceder ¢ interpretar as fontes, tudo devidamente exem- Pilificado, O leitor conta, assim, com uma espécie de guia pri inspirétoe estimuls to. Dois textos muito especiais abrem. ‘ebem escrito Tatsch, explica como e mais ou men preservada pela his portancia ao riografia. Hrasedesventuras. sins ds onda mamas ep modes que Imperdivel! m =. Conta omestre Capi duvidosa a queimar documentos para imprescindivel e definitiva. ‘uma questio importante: o docume Destruidos todes os documentos sobre um: historiador esisteemdefinir seus conce! Discutir 0 que consideramos um cestabelecer qual a meméria que deve ser preservada pel ia © qu A mene renee ‘Avisto anterior omit a hist poo pupoedeerinada épocsconsideraram que aquela folhaestvesen ‘aegoria de um verdadero” documento istrico”. Tome-sea mesma Care Canina para exemplifar esse problema, Enviada nonavio de man {oi recebida com interesse na corte de D. Manuel, o Venturos, mas nio pelo “achamento” do que viria a ser o Brasil, noticias da viagem que estabeleceria 0 comércio com a fn. rmonarca seus cortesos,o objetivo central era a rota para 0 Oriente. A nuder das mulheres da nova terra pode ter incendiado a pudicfcia lusitana, maso char do rei estava além de uma terra de papagaios Por mais de duzentos anos, 0 documento que temos na conta de Preciosissima certiddo de nascimento do Brasil ficou na Torre do Tomboen Portugal, sem queninguém tivesse um interesse especifico por ele. Apenasem 1773,um funciondro chamado José de Seabra da Silva mandou tirar cbpia do texto. Quase meio século depois, em 18! ‘vez na CorografiaBrasitica ou Relacio padre Manuel Aires de Casal em funcio dis ele seria publicado pela prime ico-geogrifica do Reino do Brazil pel fortuna et : : da erdade nt’ ¢2 Carta tinha despertado. No contexto da valoriziie Adolfo de Vannina te 0 Brasil independente, historiadores como Francis? uu com bless de Publicagées do documento e o esforgo Pros™ oclebrado texto es ito, Carolina Michaéllis de Vasconcells¢ Desde aséeulo ela pag a pas daemabundincavenae oe tepUblicada constantemente, fit sr evo Vaz de Caminha erive 22 de sbi | Traasiormotese em rotei; "nos livros didaticos como referéncia obrigatét® ‘muito tempo depois, | * nspcacéo de mica ea ° Sema nacio to Mau? Sao eridao de nescmento do Basi hystam bem a dea £200 para a Maxine oe? Moderas. a Redescobrimento. v — 10 i hue no em vitrine herméticg documental: estava em vitrine 8 © recebig gio compungida. Guardas, luzes baixas, mii traziam aos observadores a ideia do valor gue vamos diante de uma revela raham adguiido. Estavamos ae 23 amen a oa sigificadoe significante NSt6rco par fandidos pare sempre sein nen ind ne operas Mt polan pera ols de ecient, oie alent dave Sods leet cece da ipo da Cat ‘Caminha dependeu docrescimento do Brasil, dependeu do surgimento dona. Sr doce doco nu portage pes ipndumprne doo Quite noan e200 te Sinosromeno nu document cms mas un go dae opi Gres, ptr Fastener ie pl Sper con En orn irri td documents hist os Sep Nobteon speedo cated ute ain «tadura do Estado Novo paderia ver em Camin} vee podria ver em Caminha um documento extraordi- turas distintas, © foco sobre © rane reat ito. ACarta de Caminhapod® om 28 brasileira edo futuro produtivo, a Pat fede tes Prove danse rely on conse coma so mais infindge cn 8 te em Si & de muitos bons Eem tal ma 2 oe meira & graciosa que, querendo~ Por bem das dguas que tem?”* ee 12 ‘A mesma carta poderia oferecer um recorte muito distinto se destacis- ssemos seu final, no qual o autor pede um favor familiar ao rei, visto por uns ‘como génese do comportamento corrupto do pats ou como exemplo de pritica de sociedade de mercés do Antigo Regime: ‘lew mua ms Ba ob de os Aga Assim, um documento como a Carta de Pero Vaz.de Caminha nao tem ‘uma importéncia em si, eterna e imutivel, mas 6 um lnk que estabelecernos com o passado e, da mesma forma que foi considerado fundamental nos dl- timos dois séculas, pode, no futuro, voltar a ser um perdido mago de papéis vvelhos na Torre do Tombo# ‘A mutabilidade do documento tem relacdo com o sentido qus te confere a tais personagens ou fatos. Tal procedimento foi exau: demonstrado na obra de Georges Duby O domingo de Bowvines” anilise da Batalha de Bouvines entre o imperador do Primeiro Reich ea Fran- ‘2,0 autor demonstra como ela foi endo analisada de invimeras formas até o ponto quase bizarro de, no da hostilidade franco-alem’ dos séculos xix e Xx, ser lida como 0 primeiro choque de uma série que culminaria na (Guerra Franco-Prussiana ena Grande Guerra. Ofato de que um domingo, 27 de julho de 1214, pode ser ressignificado até 1870 ou 1914 demonstra que os ‘Se concluimos que nio existe um fato histérico eterno, mas existe um fato que consideramos hoje um fat hist6rico,é fil deduzir que 0 conceito de documento siga a mesma logica. Fato e documento! nossa visio atual do passado, num diflogo entre a visio contemporanea e as fontes pretéritas. Se insstimos na palavra dislogo é porque rejeitamos tanto a Wel ing da Escola Metédica do século x0x (que via no documento eno fato uma verdad em si, autossuficiente © certos tragos da historiografia pés-modema que rela pponto de consideré-lo puro exerccio de subjetividade contemporanea. Como ‘nem o objeto apresentam o dominio total da mensagem no didlogo que dizemos chamar-se Histéria. 13 (finde ots Um conceito em expansdo Apenasnoséulo x triunfouaideia do Documento como "prova hist. -, superando otermo mais wsado até entdo: Monumento." ‘Sea importincia do documento com sentido de fonte para o historiador foiamplamenteaceita a definigdo do que vema ser um documento hist “lvode debates maiores. Um historiador da Escola Met6dica do século xrxteria rica fo cerieza de que o documento 6, em esséncia, o texto escrito: a carta, o tratado de paz, o testamento etc. Todo o debate estava em tomo da autent texto, Uma ver estabelecida essa autenticidade, o texto escri ‘thos do analista como a fonte por exceléncia, Podemos tomar como exemplo um dos manuais mais difundicos do fim rimeio capitulo lemes: “historia se faz.com documentos. Documentos sio cet qudebaram os pensamentos eo tos ds homens do passado.” seu h® autores da Eola Metica, a questo central da Hi ct itm Abus, sli, erica e classifcagio document Daas ae Saoem oma do qual gira atividade do historiadoc™ tis oman ng ene €# abrangénca do termo docuen® {ands ip apDltes. A Escola dos Annales, no século x, cla Saeco da nocdo de fonte. Ao determinar que demonstra gue a, a Por tudo o que fosse humano, Mare Bloch apace seers Po em que se ampliao campo 2 tipologia da sua fonte. Aascensioda Hiss, a Hsin a Senliade da His at da Histria do Cota ia de Gér longo do sécul awe of eeO € de tantos outros novos campos # sozinho, para sé adquirir sentid® le ou segue.” Desaparece, assim? imental, como certidses de batis™? A seni canst Provocando reagdes diversas entre os profissionais da Histéria, surgiram obras de anslise dos seios, da praia, do desejo, dos tuimulos, das criangas, dos jovens, do Paraiso, das roupas, da etiqueta, da alimentacao e, fazendo torcer o nariz.dos mais conservadores, uma cutiosa Histoire de la Merde.'* No caminho da expansao de temas (dos documentos) pocleriamos citar também uma anilise dobolo de casamento na Inglaterra." Na obra de Simon R. Charsley, hé um estudo sobre o que distinguiria o bolo de casamento inglés de Jmilares americanos ou australianos; as distingdes sutis da linguagem entre um “wedding cake” ("bolo de casamento”)e um “bride cake" ("bolo de noiva”)¢, aps ‘muitas outras consideracées, uma conclusdo sobre mudangas culturais a partir dos modos e personagens envalvides no ato de cortar o bolo de casament Naturalmente, essa atomizacao dos objetos clissicos da Historia d pertou reagdes negativas."* Porém, o mais importante aqui € destacar elas implicaram, necessariamente, a profunda alteragdo do uso e conceito de documento histérico. “Todos esses caminhos parecem indicar que o século xx estimulou a am- pliacio de objetos histéricos e cumprit 0 desejo de Bloch as vésperas de sua ‘execucao, que anelava dar 0 estatuto de “documento histérico” a tudo que contivesse a possibilidade de vislumbrar a agao humana. (O que teria provocado tal ampl de novos campos aos quais a ‘80, Hé uma historia oral, hé um: \é uma histéria da crianga, uma hist6ria das mulheres, uma hist objetos tio amplos dialogam mais com os campos ficar o surgimento riamente, a ampliagdo de temas Longe de ser um esforco conservador, como se poderia deduzir da obra de Francois Dosse, a8 ampliagbes do objeto e do documento atingem os ana- listas associados a esquerda. Hi es da vida escrava, P demonstram crescente preacupagaocom oct tes centrada nas rel 1utengao de hsbitos da escrava.” cia a escravida re ou Malis, estendeu-se & ‘a0 mundo material que acompanhava a vida operéria passaram a avaliar um leque mais ampl de classe para além das greves, le evidéncias de 15 or periadareaarplaciodostjelONo mesmo period ovr gue amber mundo JS 2 isis os pata 0 betoatistico do nIO-Aio, Asi pasa ae bastante definido,a partir das: ee seal wxampliwse io apenas debate tradicional sobre o que era Belo dose Seo que vinhsa ser una obra dear, Obras como ado dads cu Te are Dacha (187-168), tlizando um secador de garafs aru mere Os escetand igodes ua imagem da Mon cae teonardo da Vind chacaram o pablico,exigindo uma redefinigio do perinh aser a cing do artista. Mesmo nd sendo idénticas, as reaches, sada pels artistas sobre avalidade ou relevncia de certas produsdes dprociame do debste sobre a valdade ou relevncia de documentos ou te para orem, no e0p9 20) akjetos novos em Histria™ Em sintese, a nogio de documento ampliou-se muito mais do que os istoradores tadiconais queriam, mas, igualmente, nao atingiu o patamar de” qualquer coisa” que certos vulgarizadores do pés-modernismo pregavam. Ocorreu, por certo, um esgarcamento do conceito. oy Enea ressaltar que nem sempre uma mudanga radical do objeto aes ne oo pas do documento, Em outras palavras, ter por Pee Pa 10 poder monarquico em Israel ou o discurso sobre eae judaicas pode signif como fonte principal, A grande diferenga reside na leitura ist do mesmo. 0 corpo docu dene ni co documenta. Muda mais oolhar sobre a fonte do Tavera mua objeto, mas moan roweenneesia do documento nao esteja num novo documento Ne ot igh: da “verdade” (ou do veross sed mo pre Sonal de Histra,um documento Pra ana. Da se da interpretacio. Falsidade equiva Gtr sn mien eras Ho era considerado itil um document? jo Pouco preocupado com a visio empirict © prime ata Sidac que a essa, 7 ae e265 fomte mina oe documento procedeu da neces “I Bcicapode eo 8 ia sponivl, Que arquesles? indie da lade ou da Odisséia de Homer? = 16 A mente enseente para iluminar suas escavagbes? Que especialista em Mesopotimia poderis ‘abrir mio da epopeia de Gilgamesh?* Que historiador da Alta Idade Média poderia simplesmente conferir 0 apodo de fantasiosas a todas as narrativas hagiogedficas? O Popo Vu poderia ser eliminado como fonte historica sobre 10s maias? Todas so narrativas tidas como miticas e todas slo hoje indispen- siveis & andlise hist6ric ‘A valorizagao da fonte n&o tradicional também im| reflexdo sobre a relativizagio da fonte cléssica. Um olhar agudo como 0 de Euclides da Cunha e um prolongado estudo sobre a campanha de Canudos no conferem ao livro Os serlées 0 estatuto de érbitro supremo para julgar a personagem AnténioConselheiro ou osertanejo brasileiro do fim do: ‘Ohistoriador Jacques Le Goff traz.importantes exemplos de como t Ihar temas que, a rigor, no so 0 objeto direto da documentacio dispo Na obra Por uma outra Idade Média, encontramas reflexdes sobre trabalho e técnica em regras monésticas ¢ em narrativas hagiogréficas. Uma histéria pie- a perda de um simples instrumento agricola de ferro pode trazer muitas luzes sobre a escassez metahirgica da Alta Idade Média. Por vezes, a necessidade contemporanea valoriza certos ordenamentos {que inexistiam no perfodo tratado. Hoje, por exemplo, a Hist6ria Econdmica trabalha densamente sobre estatisticas. Porém, quando devemos fazer a Histé- ria Econmica de Roma ou de outros periodos passados, nao temos es romanas no sentido que o século xxt dé a essa palavra.* ‘Da mesma forma, historiadores como Carlo Ginzburg na obra O queijo «05 vermes* tiveram que extrair uma voz muito mediada por outras jé que a fonte que tomou possivel oestudo é um processo inquisitorial, Para fazer falar {eias muito importantes sobre as forgas criadoras do inzburg teve de resgatar essa voz em meio a uma documentacio ar fazem os historiadores do cotidiano, do crime nas metrépoles, especalistas em vida cotidiana nos campos de concentracio da Segunda Guerra Mundial ou pesquisadores de género em Histiria. Todos eles enfrentam documentacdo ou adversa ou inteiramer .ciosa sobre 0 objeto desejado. O documento histérico é raramente fécil”, Como escreveu 0 jé citado Ginzburg, 0 método hi ‘do método de um detetive ou de um médico que, a forca de jr coisas que s6 aparecem de forma indi plicou uma vasta el titinicos, deve extrai sadr ets indicirios sto mais families ao historiador experiente do que uma clara infoy, rmagio documenta adaptada de forma harménica a sua hipdtese de trabalhy Le papier souffre tout... Os rancesestém um ditado popula: “le paper souffe tout” (“o papel agventa qualquer coisa Com iso, a sabedoria popular francéfona quer expressar certo cetcismo permanente com a autenticidade daquelas folhas de ‘Papel que, usualmente, simbolizamos como exemplo de document O papel aguenta qualquer ideia,sofre calado qualquer discussao oa ca pera do aut, contra os dedos do digitador ou contra a tinta ri ae ave ferante a autenticidade de um documento, es- or ma isque renee documentos “fantasiosos” pos- oats Dane ct Ge autenicade contin sed Com tate imprener Po exemple, foram apresnta "per Ger Heemann eae HI Str, em abril de 1983.0 “ene osdios deep ss de Konrad Kj e a Stn impress inemacenl on Pat Muitos outros prestigads Grgios da Pelco hsorador High Move eae Match Sunday Times. O re achado. A impress "Roper dew seu aval académico ao incrivel sionante 0820 ca0s da Alemanh $388 daqueles cademos, que teriam sido sub! doch 88 ex pan Schad, pois, de fremala ea letra deo n° Mado de ; & Nistiicosnarradoe StS nko regis SE 1844, a mio de Hitler fco™ Pls dlitose cutee ingen ™udanga, Anlises de fat0$ ic ’°S acabaram por colocar um 18 be EE ‘Anant omen pé de cal nas pretensdes da revista alema e revelaram como a ambicio por documentos bombisticos,aliada a mé-fé de falsérios, pode produzir o engodo. ‘ocupagio “ariana” da planicie germano-polonesa. Fara6s ordet raspasse o nome cle antecessores de monumentos e mandavam aplicar 0 seu ppor cima do verdadeiro construtor. Stalin ficou famoso pela pratica de mudanca em fotografias que registravam a historia soviética, apagando adversérios como Trotsky das imagens oficiais. O cristianismo ainda era uma religido nova e jé pululavam evangelhos apécrifos por todo o Mediterraneo, criados por autores que tentavam justificar determinadas concepgdes teolbgicas. As falsificagdes sio to antigas como a propria existéncia da Historia ‘A Quimica ea Fisica contemporaneas podem ajudar bastante um historia- dor na determinacao da autenticidade de um documento, Porém, nem todo 0 ‘progresso cientifico fez ainda superar os critérios de validagao que nasceram no Renascimento e se desenvolveram nos séculos xvi ‘Ohumanista Lorenzo Valla (1406-57) dedicou-sea estudar um consagrado documento histér gto de Constantino. O texto tinha uma importancia extraordinéria, po! -aria uma doagdo do imperador romano Constanti- ro ao papa sobre territorios da Ita, e era invocado como base da pretensio temporal da Igrejacatslica. Lorenzo nao dispunha da poss ica, logo, s6 poderia trabalhar com 0 prdprio texto. Trabathando para ‘ohumanista destruiu aautenticidade por meio gu Alfonso de Aragaoe da da filologia, demonstrando que o latim utilizado pelo documento era muito ‘mais um latim medieval “barbarizado” do que o latim do Império Romano. O texto-deniincia de Valla (De falso Credito et Ementita Constantiné Do Declamatio) foi largamente aproveitado pelos reformaclores protestantes, como A importénci ‘o nascimento da modema critica histérica esti associado a0 11632-1707), chamado na obra de Burguiére de “o Galilew da abade Mal Historia Eradita”® Tendo de responder aataques dos chamados bolandistas,” sguardados por beneditinos que duvidavam da autenticidade de documen por reformadores da Trapa” que atacavam o estudo entre oclero, Mi testabeleceu o moderne método de critica documental.® bade me so dabra Deepa de Mabilln, 16816 ay ian dos documentos, Os textos 2802 Ho subimenge spguroe render palevgrafifllogaestabelocendo, de fato,ane dena Diploma “Os caadoscom otato de um documento contin cqncend,as sein bsltamente corto estabelecer ta similaridade gn atamaspeecupaes crs de Mion no séculox¥H1 com as propos ders intersex ao documento qu os positivstas pregavam a séeuloan.* ‘Ocntsiasmo pla mateo, autentcidade, coleta conservacio doy documentos parece te sdo mut incrementado pela Revolucio Franceses Teonaconalsmo cescente do século xx. A ascensio da Histdiae do Does ‘evo mundo intel ocenal éfulgurate Em 1826, comecamasune sxelunes da Monuments Gemanize Historic, com o objetivo de divulgare conceit as fone da dade Média alema, Na Franga, em plena efervescéoca 2 Revolugdo Francesa, siocrados os Archives Nationale, Mas tarde, durante Restnuragto, foi fundadaa Ecole Nationale des Chartes que forma at de biblitecs, los Alberto decreta a publicagdo da obra storiadores como Michelet so tidos como rico, como os de Walter Scot, dispulam Docume. De muitas formas, 0 século x €0 mente ees ligados & emersdo de Estados ni- © lstitto Histérico e Geogrifico nasce com ‘Momento de afimacio naci a Sods eg tmACHO nacional. Coerentement ands estore romances hin ‘ends com obras am outs ude Histinedo soma. No 8 Regina, verdadeiro Estado, que desde ink Conclusay ‘Oem aberto; qn EO ee Ste € um documento histéricot 1 UM determinado 808 ante veda chy onenadecirga m ocumento ctadoal> Wl arepeticsg, scree Pode ser um document 220m 28 como to eee Mas partamos deste aforismo: um documento é dado como documento historico em fungio de uma determinada visio de uma época, Isso introduz_ ‘no conceito de documento um dado importantissimo: 0 documento existe em relagdo a0 meio social que o conserva. Em segundo lugar, mesmo que ampliemos 0 conceito de documento 20 do possivel, devemos saber que hi fatores que tornam tum documento importante do que outro. Esses fatores também variam no tempo e no espago, mas sempre existem. Quais poderiam ser os fatores que aumentam @ importancia de um documento para o analista? ‘Um documento com mais dados pode ser mais importante do que um documento com poucos dados. Nao estamos pensando que a lista telefénica dde uma metr6pole seja um documento a rigor mais importante do que uma carta do seu fundador. Estamos dizendo que, num mesmo objeto e tecorte, lum recibo passageiro do fundador da metrépole é menos importante do que uma longa carta sua explicando os objetivos de fundagdo daquela que viré a ser uma metrépole O item raridade do documento é mais ambiguo para definir seu valor, ‘Uma informacio fundamental continua sendo valida para anilise se constar ‘num ou em mil documentos. Se os membros do Segundo Congresso Conti- ‘ental da Filadelfiativessem, em 1776, feito quinhentas c6pias da Declaracao de Independéncia, eassinado tod ‘mativas, uma referencia do pensamento liberal contemporineo e da Historia ddos EUA. Porém, o mercado costuma valorar de forma distinta. Ointeresse de colecionadores nio coincide, de forma perfeita, com o interesse dos historia dores.* Para caracterizar essa diferenca, podemos tomar 0 seguinte exemplo: ples registro de venda de raordinsrio, porque daria ida como patriarca de trés cia histrica cedica, 2 drew foe + cnet de ua ETSOMIEEM redimension rnotaem Artes do mening mat so Umboleim deesola com a Menino Pa documenta, Ur Haart deum documento Pela mportincia que eanotadoboletin ose alts, verlamos a preeay tdci Seana ose muitobaixa, poderameg at davon aed tena educaconal espanol em avaliarvanguar ‘ia tamen sures dealgvn a0? O elrnode ig ur deta ZamonDavis" spon essa questi0 COM Um sono “nye Formeido proceso joc movdo pela exposa do supasto Martin Gon, Foden pecrarnouniveso jr ance nas qustbes das elas, Frelgoctdca ea protestant Asim, o que otoma relevante & 3 ange se az dele noo documento es Votando ao exemplo de Pi. a I 05m € carter do pnts, olen seria uma cutiosidade pessoal com procipal para propio Porém poderiamos dizer que, mesmo que do tvese feito mito suceso como art, oboletim de Picasso poderia ser usado num «sto seria mosrando as concep de educagfo na Espanha, Da mest form, mes quefose uma personage anima, Picasso poderia ser vad ara estudaa vida cotidiana na Espana mondrquica do fim do séulo x, osha documento dept penasanovosobjetsou3 in epeaprcns mssoppio are balisticdorabalho AS documento esi clisicopasouaser somado ao docu Jt npesouasesomad zo dcumentoarqusigi, deren orden quo pose, aandssseraiseatooe Scare nema pastiie uns inert Nao fol apenas ans taergaspoe a uulpasedfioprpro trabalho de uns Or ecemtemaetstrvacom fonts documents Dra depen ita erkada operat de disso do e crepe sana it tome dens Ket Jenkin" ssf 0 documento seria uma lente transparent a mesma forma, ‘Vejamos um exemplo concreto de documento: uma carta do imperador - datada de 24 de margo de 1870, A carta, manus- dda Guerra do Parag. surto de febre amarela no Brasil e de assuntos f . Pedro 11 um homem que reteve grande poder durante quase meio sécul cle tem uma importincia pessoal extraordindria. Assim, essa carta é mai portante do que uma simples assinatura de D. Pedro 1tnuma nomea¢ao\ ainda que tanto uma simples assinatura quanto essa carta estejam preserv pelo mesmo motivo. ‘Uma carta com a letra do imperador conserva, sem duivida, o fetiche do tinico, do irrepetivel. Analisamos cada curva daquela letra e supomos a ‘mao do imperador mothando a pena e registrando fatos marcantes. Criamos a “aura” que Walter Benjamin identificava para a arte. No cruzamento desse plano, encontramos como ordenada a figura historica de D. Pedro te como abscissa a propria histéria do Brasil que passou pela Guerra do Paraguai ¢ por epidemias de célera. Mas observe-se como o jogo de espelhos reproduz a0 infinito:aimportincia de D. Pedro 11e da Guerra do Paraguai € anterior 20 documento, © documento no prova essa importincia, nao a cria, nao cons- titui a “aura”, pois tudo isso preexiste ao documento. Assim, a concepca Processo hist6rico foi anterior ao documento e dizemos que o texto é impor- tante porque, antes de qualquer acesso a ele, jé concebemos que D. Pedro 11€ ‘a Guerra do Paraguai sio importantes. Porém,a importincia da meméria de rnasceu de outros documentos hist6ricos que associam seu nome documentos colaboraram para 1penas confirmou. Encerremos 0 jogo de iam importincias que contaminam outros riadores que passam a buscar aqueles docu- criar a “aura” que este em quest espethos por ora: documentos documentos que formam hi _mentos com hipsteses prévias. orém, 0 documento pode trazer um dado que nenhum outro traz € criar uma nova visio. Imaginemas se surgissem as cartas da condessa de Barral para D. Pedro 1 € ela comentasse fatos desconhecidos até entso.” documento histérico é um texto no meio do caminho entre o arbitrio de um. historiador (e de uma sociedade) e seu proprio contetido. Assim, nao é tao ‘autdnomo como sonhavam positivistas, nem to submisso como defende parte do pés-estruturalismo. 23 ‘Oba em tes trade plese porpestaigyy ee = naahia,oMovimenin dee aaah Deas Megroererahes a ica lsuporporgueostveages Se eee 1835-aGuerra dosage, oer ane etenaenn ignrarosnegros muculmanos deme cocoa txemplos 0 aleatrio eo deg, csr ap dremfor ond eg dlecisio deg, eens bastante sobre o imperador;a devise auras cats posi documento histrieg g ‘oservadopor a, Qualquer fonte sobre o pasado, ident ou dee ‘stabelecendo qi isk “adamente, analisado a lees monte esate dade pret Levande - ee Se atisdecaa ne wd geo dit ang , Seria importante resi! inte odes Daneel hg hares destruidos Dictao abe © ea tabla tidorsuo linea eal eS 8bmeter Na at i os ot ima A ected men rst Curl taco Sots Amends ene 1 bites eter ecimento de caus, cetosassuntosistrios unto de epetiio Semen ou perso Po os depots de psermos 08 0 fequeta om Oh Lani: Ch. Seigobos opt P38 pe rural ances cunhecera concep es istncas sobre poder poli * poring G Laporte Hise da Merde Pari, Chistian Bourgeois Ete, 1978, Sea RChrey,Wodng Cals and Citra Hig, London, Routledge Press, 192. Arenki ceeie

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