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AVALIAÇÃO DE PROPRIEDADES RURAIS

Otávio Teixeira Mendes Sobrinho e Isidro Yamanaka


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A seguir apresentamos uma cópia do trabalho apresentado pelos engenheiros Mendes Sobrinho & Yama-
naka, no Congresso Pan-americano de Conservação de Solo.

1. INSTRUÇÕES PARA O EMPREGO DO APARELHO CLASSIFICADOR DE SOLOS SEGUNDO


A "CAPACIDADE DE USO".

CENTRAIS ELÉTRICAS DE SÃO PAULO S.A - CESP

Eng. Agr. Otávio Teixeira Mendes Sobrinho


Eng. Agr. Isidro Yamanaka
1.1. RESUMO

A presente contribuição ao Congresso Pan-americano de Conservação do Solo, constitui apresentação


de trabalho sobre um aparelho de bolso para classificação prática dos solos, segundo sua capacidade
de uso.
Presentemente, existem normas técnicas universais disciplinando a matéria. No Brasil e, mais particular-
mente no Estado de São Paulo, os institutos oficiais adotam a classificação para planejamento conservacio-
nista. Entretanto, falta aos técnicos, em geral, um aparelho de bolso que permita fazer a classificação no
campo, da área em estudo.
Os autores mostram os inconvenientes da falta desse aparelho para planejamento conservacionista, ava-
liação de propriedades, para cadastro rural, questões judiciais de terras e desapropriação de áreas por inte-
resse público.
Os autores não são inventores do aparelho mas se incumbiram de aperfeiçoar alguns classificadores pri-
mitivos, certos de que o instrumento apresentado não representa a última palavra, esperam que surjam
tipos melhorados.
Resolvemos dar ao aparelho o nome de CLASSIFICADOR NORTON em homenagem a E.A. NORTON, 'Chi-
ef Physical Surveys Division' do Soil Conservation, dos EE.UU., pioneiro do método científico da classificação
de solos segundo a capacidade de uso.

1.2. INTRODUÇÃO
O trabalho ora apresentado ao Congresso Pan-americano de conservação do Solo, constitui contribuição
dos seus autores à simplificação e universalização da classificação de solos para fins práticos.
A importância do problema é sentida, de forma aguda, no Brasil e, acreditamos, em países como o nosso,
onde o baixo grau de educação, prestigia usos e costumes arcaicos, em detrimento da aplicação de métodos
baseados em normas técnicas universais.
Planejamento de uso de solo é uma decorrência do aceleramento do desenvolvimento econômico da agri-
cultura. Cadastramento rural constitui ponto de partida para qualquer reformulação de política agrária. Enco-
rajamentos financeiros, ao incentivo do desenvolvimento rural, depende de avaliação de imóveis para garan-
tia de empréstimos. Em todos esses casos a classificação de solo para medir-lhe a capacidade de produção é
fundamental.
Por outro lado, prédios rústicos, quer para cadastramentos, taxação fiscal, empréstimos ou desapropria-
ção para utilidade pública, devem ter um valor. Só através da classificação técnica do fundiário básico, a
terra, se poderá atribuir-lhe valor adequado e preço, que é a medida desse valor, considerando o solo como
unidade ou elemento capaz de produzir bens de importância econômica.
No Brasil, inclusive o Estado de São Paulo, não obstante sua condição de unidade evoluída do país, pre-
pondera um critério simplista, para classificação de terras. Quer para ações judiciais, para taxação territorial
por parte do poder público e mesmo para garantia de empréstimos pelos institutos oficiais de financiamento,
o método arcaico vem sendo aceito. Além de incaracterístico, o processo rotineiro é regionalizado, impedindo
uniformização de critérios a levantamentos da capacidade potencial de produção do solo.
A imprecisão dos métodos chamados 'práticos' pode gerar arbitrariedade porque não logra emancipar-se
da influência pessoal do classificador. A história de nosso tribunais, sejam de justiça ou de impostos e taxas,
é rica de incoerência, muitas vezes, menor por imperícia dos expertos, do que pela imprecisão dos métodos
de julgamento da capacidade de uso das terras e, conseqüentemente do seu valor.
Mesmos engenheiros agrônomos, quando nomeados peritos em questões judiciais de terras, vem usando
sistemas rotineiros à falta de processo acessível que lhes permita classificar expedita e cientificamente o
solo.
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Exemplifiquemos, ainda com o nosso país, acerca dos inconvenientes da inexistência de método prático,
mas apoiado em critérios científicos, para avaliação da capacidade de produção do solo. Em diferentes áreas
os usos e costumes consagraram nomenclaturas regionais, para designação da capacidade de produção do
solo. Como produtos de empirismo, as denominações São vagas. As terras geralmente são agrupadas , den-
tre outras, sob denominações de: 'cultura', 'pastagem', 'cerrado', 'campo' e não raro, se desdobram nas de-
signações de 'meia cultura', 'cultura de segunda', 'de terceira' e, assim por diante, seguindo uma inteira ga-
ma ditada pela imaginação do leigo a falta de norma disciplinadora da matéria.
Acontece que essa classificação é tanto mais insistente quando se sabe que é usada, indistintamente, em
extensos tratos de chão, geralmente por todo um Estado, embora a composição pedológica dessas áreas
seja heterogênea. Uma 'cultura de primeira' ao norte ou a leste dessas regiões facilmente corresponderá a
sua homônima ao sul ou a oeste do mesmo território. Além do mais, nomenclatura popular é vaga e, por
isso aleatória. O mais hábil experto não será capaz de estabelecer limites definidos à 'qualidades de terras',
jamais encontrará elementos para caracterização do ponto onde acaba uma 'cultura de primeira' e onde
principia a 'cultura de segunda'.
Há, praticamente, três lustros conta o Estado de São Paulo com uma seção de conservação do Solo, no
Instituto Agronômico, dedicada à pesquisa acerca do uso racional da terra na agropecuária. Paralelamente,
uma divisão de Conservação do Solo e um Centro de treinamento Básico de Conservação do Solo, ambos do
Departamento de Engenharia e Mecânica da Agricultura, de desempenham das funções de extensionismo do
bom uso da terra na exploração rural. Essas dependências técnicas da Secretaria da Agricultura deste Esta-
do, estabeleceram normas científicas disciplinadoras da classificação das terras segundo a capacidade de uso
ou de produção.
Estamos certos de que um instrumento de campo, como o classificador ora apresentado, muito auxiliará
os especialistas desses departamentos.
Manda a sinceridade que confessemos não ser o classificador invenção nossa. Diversos colegas idealiza-
ram instrumentos bem mais primitivos mas nem por isso perdem a virtude de pioneiros na matéria. Nosso
mérito, se o tivermos, consiste na preocupação do assunto, no aprimoramento do aparelho, e na sua divul-
gação, através deste certame, apresentando um classificador aperfeiçoado, tanto quanto possível versátil, de
fácil manejo e, o que é importante, portátil, para ser levado ao campo, à semelhança de uma régua de cál-
culo de bolso.
Resolvemos dar ao aparelho o nome de CLASSIFICADOR NORTON em homenagem a E.A. NORTON, 'Chi-
ef Physical Surveys Division' do Soil Conservation, dos EE.UU., pioneiro do método científico da classificação
de solos segundo a capacidade de uso.

1.3. DESCRIÇÃO DO CLASSIFICADOR "NORTON"


O aparelho destinado a classificação expedita da capacidade de uso do solo, se compõem de duas
peças - MOSTRADOR e LINGÜETA - com as seguintes caraterísticas e funções:

1.3.1. MANEJO DO CLASSIFICADOR


O manejo do classificador reveste-se da máxima simplicidade. A própria descrição do aparelho sugere sua
forma de funcionamento. Em síntese, resume-se em fazer-se deslizar a LINGÜETA entre as faces do MOS-
TRADOR:
1. para, através da janela "a", Face A, proceder-se à leitura dos símbolos representativos da variação dos
fatores determinantes da capacidade de uso do solo;
2. para, através das janelas "a" e "b", da Face B, proceder-se a leitura final da classificação e respectiva
forma de uso.
É ponto pacifico que a LINGÜETA partindo do ponto _ deslizará, sem retrocesso, sempre da direita para a
esquerda do operador. A razão deste fato reside no princípio de a capacidade de uso do solo condicionar-se
ao fator máximo de agravamento.
Esclarecimento necessário
1. O CLASSIFICADOR não fornece resultados parciais, mas acusa a classificação final da área em estudo.
2. No caso de riscos de inundação o fator FERTILIDADE se altera, quando de tratar de "inundação freqüen-
te" e "muito freqüente": em tais circunstâncias a leitura, na LINGÜETA, se faz através da janela "a" do
Mostrador, Face A, ajustando-se a esta, a coluna hachurada 1-2 para "inundação freqüente", 3-4-5 para
"muito freqüente".
3. O fator DECLIVIDADE está simbolizado por meio de letras maiúsculas, obedecendo a ordem alfabética, na
razão do agravamento do fenômeno.
4. Os fatores da classificação, coluna 'b', do Mostrador, Face C (fertilidade, pedregosidade, etc.) podem ser
considerados como positivos ou negativos. No último caso serão designados como 'agravantes'.
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5. A classificação poderá ser feita diretamente no campo, durante uma inspeção, considerados os fatores
positivos e os negativos locais. A declividade reclama uso de aparelho para sua determinação que irá
desde o de um nível de pedreiro, clinômetro de bolso ou nível de tripé. Por outro lado, a classificação po-
derá ser feita em gabinete, mediante apontamentos em caderneta de campo, e sobre mapa de restitui-
ção fotogramétrica e o de solo, se necessário.
6. Há casos em que os fatores como 'fertilidade', 'profundidade', embora positivos, não impedirão que o solo
seja classificado como de baixa capacidade de uso, uma vez que os acenados fatores sejam comprometi-
dos pela declividade, pedregosidade ou eventualidade de inundação.
Exemplos Concretos
Exemplo A: Solo com as seguintes características:
fertilidade alta
profundidade 80 cm
permeabilidade moderada
drenagem adequada
inundação ocasional
pedregosidade 35%
declividade 3%
erosão laminar restam 10 cm do Horizonte. A
erosão em sulcos rasos e ocasionais
Manejando a LINGÜETA, da direita para a esquerda, sempre sem retrocesso, faz-se desfiar, pela janela
'a' do MOSTRADOR, Face A: a primeira coluna de LINGÜETA, na qual fertilidade alta está representada pelo
símbolo '1-2', drenagem adequada pelo símbolo '2'; prosseguindo o manejo, na segunda coluna da LINGÜE-
TA, profundidade de 80 cm está representada pelo símbolo '3', permeabilidade moderada pelo símbolo '1-3',
declividade de 3% pelo símbolo 'B', erosão em sulcos rasos e ocasionais, pelo símbolo '7'; na terceira coluna,
inundação ocasional está representada pelo símbolo '1 i', erosão laminar, restando 10 cm de horizonte A,
pelo símbolo '3'; na sexta coluna, pedregosidade de 35% está representada pelo símbolo '5'.
Terminada a manobra, o MOSTRADOR acusará, Face B, através das janelas 'a' e 'b', respectivamente
Classe VI, Uso - pastagem com práticas simples.
Exemplo B: Solo com as seguintes características:
fertilidade muito alta
profundidade mais de 2 m
permeabilidade rápida
drenagem adequada
inundação não ocorre
pedregosidade menos de 1%
declividade 3%
erosão laminar restam 20 cm do Horizonte. A
erosão em sulcos não ocorre
Procedendo como no exemplo anterior, sempre sem retrocesso da LINGÜETA, na primeira coluna desta,
fertilidade muito alta está representada pelo símbolo '1-2'; profundidade de mais de 2 m pelo símbolo '1-2';
permeabilidade rápida pelo símbolo '2'; drenagem adequada pelo símbolo '2'; na segunda coluna, pedregosi-
dade de menos de 1% pelo símbolo '2'; declividade de 3% pelo símbolo '2'.
Terminada a manobra, o MOSTRADOR acusará na Face B, através das janelas 'a' e 'b', respectivamente:
Classe II, Uso - lavouras com práticas simples.
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1.4. O CLASSIFICADOR - DETALHES

1.4.1. FIGURA I - MOSTRADOR, FACE A

a b c
1 2 3 4 5 6
FERTILIDADE muito alta alta média baixa muito baixa
PROFUNDIDADE mais de 2 m de 2 a 1 m de 1 a 0,5 m de 0,5 a 0,25 m menos de 0,25 m
PERMEABILIIDADE muito rápida rápida moderada lenta
DRENAGEM excessiva adequada fraca muito fraca
INUNDAÇÃO ocasional freqüente mto freqüente
PEDREGOSIDADE sem pedras < 1% de 1 a 10% DE 10 A 20% DE 20 A 50% > 50%
DECLIVIDADE (A) 0 a 2% (B) 2 a 5% (C) 5 a 10% (D) 10 a 20% (E) 20 a 40% (F) > 40%
EROSÃO LAMINAR 25 cm Hz A 15 a 25 cm 5 a 15 cm < 5 cm atingiu Hz A vossorocas
EROSÃO EM SULCOS 7 - rasos ocas. 8 - rasos freq. 9 - rasos mto freq. 10 - md ocas. 11 - md freq. 12 - md mto freq.
13 - prof. Ocas. 14 - prof. Freq. 15 - prof. Mto freq. 16 - mto prof. Ocas. 17 - mto prof. Freq. 18 - atingiu Hz C

a janela para leitura dos símbolos representativos da variação dos fatores determinantes da capacidade de
uso do solo.
b coluna dos fatores determinantes da capacidade de uso do solo.
c quadro das convenções dos limites das variações dos fatores determinantes da capacidade de uso do
solo.

1.4.2. FIGURA II - JANELA A, MOSTRADOR, FACE B

Classe Uso

A B

A - janela através da qual se lerá, na LINGÜETA, a Classe de uso do solo.


B - janela através da qual se lerá, na LINGÜETA, a forma de uso da respectiva Classe.

1.4.3. FIGURA III - LINGÜETA, FACE A

1-2 3 4 1 -2 5 3 -4 -5
1-2 3 4 5
2 1-3 4
2 1-3-4
1 2 3
1 2 3 4 5 6
A B C D E F
1 2 3 4 5 6
7 8-10 9-11-13 12-14 15-16 17-18

Compreende a tabela dos símbolos representativos da variação dos fatores determinantes da capacidade
de uso do solo.
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1.4.4. FIGURA IV - LINGÜETA, FACE B


Retrata as Classes e respectivas formas de uso do solo.

Lavoura Lavoura Lavoura Lavoura Pasta- Pasta- Pasta- Abrigo


sem com com esporádica; gem sem gem com gem com da vida
restri- práticas práticas Pasto restri- práticas práticas silvestre
ções simples intensas ções simples intensas;
Florestas

I II III IV V VI VII VIII

A seguir apresentamos os COMPONENTES DO CLASSIFICADOR, sendo o suficiente recortá-los para a


montagem do mesmo.
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Uso
CENTRAIS ELÉTRICAS DE SÃO PAULO S.A.
Departamento Jurídico

APARELHO CLASSIFICADOR DE “CAPACIDADE DE USO”


Classe

Eng. Agr. Otávio T. Mendes Sobrinho


Eng. Agr. I. Yamanaka

1 2 3 4 5 6
FERTILIDADE muito alta alta média baixa muito baixa
PROFUNDIDADE mais de 2 m de 2 a 1 m de 1 a 0,5 m de 0,5 a 0,25 m menos de 0,25 m
PERMEABILIIDADE muito rápida rápida moderada lenta
DRENAGEM excessiva adequada fraca muito fraca
INUNDAÇÃO ocasional freqüente mto freqüente
PEDREGOSIDADE sem pedras < 1% de 1 a 10% DE 10 A 20% DE 20 A 50% > 50%
DECLIVIDADE (A) 0 a 2% (B) 2 a 5% (C) 5 a 10% (D) 10 a 20% (E) 20 a 40% (F) > 40%
EROSÃO LAMINAR 25 cm Hz A 15 a 25 cm 5 a 15 cm < 5 cm atingiu Hz A vossorocas
EROSÃO EM SULCOS 7 - rasos ocas. 8 - rasos freq. 9 - rasos mto freq. 10 - md ocas. 11 - md freq. 12 - md mto freq.
13 - prof. Ocas. 14 - prof. Freq. 15 - prof. Mto freq. 16 - mto prof. Ocas. 17 - mto prof. Freq. 18 - atingiu Hz C
1
1
2
2

A
1-2
1-2

7
2
2
3
3

B
1-3

3
3
1
4
4

8-10
1-3-4
Lavoura sem restri-
I

4
4

D
ções

9-11-13
Lavoura com práti-
II

cas simples

2
1 -2
Lavoura com práti-
III

cas intensas

4
5
5
5

12-14
Lavoura esporádica;
IV

Pasto

5
6
F

15-16
Pastagem sem res-
V

trições
6
3

17-18
3 -4 -5

Pastagem com prá-


VI

ticas simples

Pastagem com prá-


VII

ticas intensas; Flo-


restas
Abrigo da vida sil-
vestre
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