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Direitos reprodutivos: uma história de avanços e obstáculos

Associadas ao movimento feminista, garantias contribuem para a saúde e


a autonomia de todas as pessoas. Agenda que envolve questões de saúde
e liberdade individual enfrenta resistência religiosa e conservadora.

Reivindicados no auge da revolução sexual pelo movimento feminista, os


direitos reprodutivos ainda despertam, décadas depois, um amplo debate,
com argumentos que passam pela saúde, pelas liberdades individuais e,
no caso de quem se opõe a eles, pela religiosidade.

A garantia desses direitos ainda é um desafio em diversos países, incluindo


o Brasil. Desafio que passa não só pela dificuldade de garanti-los a
camadas mais vulneráveis da população como também pelo
enfrentamento de um discurso conservador que faz do tema um campo
de batalha.

O QUE são direitos reprodutivos

Os direitos reprodutivos são os direitos de as pessoas decidirem, de forma


livre e responsável, se querem ou não ter filhos, quantos filhos desejam
ter e em que momento de suas vidas, segundo definição do Ministério da
Saúde em documento sobre o tema.

A definição também inclui o direito das pessoas de exercerem a


sexualidade e a reprodução livres de discriminação e violência, de terem
acesso a informações e meios para o planejamento familiar e de terem
acesso a serviços de saúde que respeitem seus direitos.

Os direitos reprodutivos estão no rol dos direitos humanos. Promover


decisões livres e informadas sobre sexualidade e reprodução contribui
para a proteção da dignidade, da autonomia, do direito à saúde e da
equidade de gênero, segundo seus defensores.

São também um tema frequente da agenda feminista, que entende que


em sociedades patriarcais é preciso romper com instrumentos de controle
dos corpos e da autonomia feminina. Essas garantias, porém, não valem
apenas para as mulheres, mas para todos.

O debate sobre direitos reprodutivos frequentemente caminha ao lado da


discussão sobre direitos sexuais, que se referem principalmente ao direito
das pessoas de viverem e expressarem a sexualidade de forma plena, sem
discriminação e violência e com respeito pelo próprio corpo.

Os direitos sexuais incluem o direito de cada um de escolher seu parceiro


sexual, de viver a sexualidade independentemente da reprodução, de
expressar sua orientação sexual e identidade de gênero, de ter acesso ao
sexo seguro e de receber educação sexual e reprodutiva.

QUEM pôs os direitos reprodutivos em pauta

Os direitos reprodutivos que hoje estão em legislações internacionais – e


nacionais de diversos países – e são garantidos nos serviços voltados para
mulheres são resultado de reivindicações do movimento feminista, que
desde o início do século 20 pleiteia o planejamento familiar e a autonomia
feminina sobre o próprio corpo.

Os primeiros registros do tema datam do início do século 20, quando a


feminista americana Margaret Sanger escreveu sobre o papel da
autonomia reprodutiva para a emancipação feminina na revista The
Woman Rebel (“a mulher rebelde”), que havia fundado em 1914.

Enfermeira obstetra que viu a mãe morrer após a 18ª gravidez, Sanger
defendia que as mulheres deveriam se libertar da “escravidão biológica” e
ter controle sobre sua reprodução no lugar dos homens, principais autores
das leis que proibiam a contracepção na época.

O período foi marcado pela explosão do capitalismo industrial, com o


crescimento das cidades, o aumento dos custos de vida, a redução da
mortalidade infantil e os primeiros passos das mulheres no mercado de
trabalho. Para elas, ter famílias numerosas se tornou um peso.

Com ativistas como Emma Goldman e as britânicas Stella Browne e Marie


Stopes, Sanger deu início a um movimento político pela ampliação do
acesso à contracepção. Em 1916, fundou a primeira clínica de
planejamento familiar dos EUA, hoje chamada de Planned Parenthood.

O grupo sofreu ataques, e Sanger chegou a ser presa por seu trabalho na
clínica, baseado em informar às mulheres sobre métodos para prevenir a
gravidez. Com a iniciativa, porém, as ativistas popularizaram as demandas
por contracepção e tiveram conquistas legislativas.

Em 1960, o assunto ganhou nova força com a invenção de um


medicamento que revolucionaria a reprodução feminina: a pílula
anticoncepcional. Comumente atribuída ao cientista americano Gregoy
Pincus, a pílula também contou com contribuições de Sanger.

Sanger
Pobreza
Sanger nasceu em 1879 no Estado de Nova York, a sexta de uma prole de
onze. Seu pai, Michael, era um pedreiro nascido na Irlanda. A família era
pobre e morava em um barraco. Sua mãe teve 18 gestações, incluindo
sete abortos espontâneos.
Sanger começou como enfermeira de cuidados paliativos, função na qual
viu uma mulher morrer de complicações na gravidez e também
testemunhou as consequências de abortos clandestinos.
"Estavam em vigor leis de Comstock que proibiam o uso do sistema postal
para distribuir controle de natalidade, informações ou dispositivos
contraceptivos. Também havia leis contra a contracepção em muitos
Estados", diz Elaine Tyler May, professora de estudos e história americana
na Universidade de Minnesota, nos EUA, e autora de America and the Pill:
A History of Promise, Peril, and Liberation.
Sanger também precisou lidar com a poderosa Igreja Católica, que via a
contracepção como um pecado.
Direito ao controle de natalidade
Em março de 1914, Sanger publicou The Woman Rebel, que defendia o
direito de praticar o controle de natalidade. O livro logo virou alvo do
sistema jurídico americano. Para evitar ser presa, ela viajou para a
Inglaterra. No país, ela foi influenciada pelos trabalhos de Thomas Robert
Malthus, que argumentava que os recursos da Terra não seriam capazes
de suportar o crescimento populacional descontrolado. Ele recomendava
autocontrole e adiamento do casamento. Mas ativistas conhecidos como
neomalthusianos faziam campanha a favor de métodos contraceptivos.
"Ela também começou a criar outra narrativa... [dizendo] que o controle
da natalidade era a forma de manter a paz e [evitar] a escassez de
alimentos", diz Caroline Rusterholz, historiadora da Universidade de
Cambridge, no Reino Unido, com foco em população, medicina e
sexualidade. Sanger iniciou sua clínica de controle de natalidade quando o
aborto era ilegal nos EUA
Primeira clínica
Sanger voltou aos EUA e abriu a primeira clínica de controle de natalidade
do país em uma área da cidade de Nova York que abrigava muitas
mulheres imigrantes pobres.
A clínica foi invadida depois de apenas alguns dias, e Sanger foi presa.
Mulheres e homens sentados com carrinhos de bebê em frente à Clínica
Sanger na Amber Street, no Brooklyn, Nova York, em outubro de 1916
Determinada, ela reabriu a clínica alguns dias depois, e foi presa
novamente, acusada de perturbar a ordem pública.
Ela foi a julgamento em 1917, em um caso que ganhou enorme
repercussão. Sanger foi condenada a 30 dias de prisão ou a pagar multa.
Ela escolheu a prisão, onde passou informações sobre controle de
natalidade às presidiárias.
"Durante esse episódio, [ela] se tornou uma grande figura nos EUA. Sua
irmã também estava na prisão e fez greve de fome", conta a biógrafa de
Sanger, Ellen Chesler.
Após ser solta, Sanger recorreu sem sucesso contra sua condenação. Mas
o tribunal decidiu que os médicos poderiam receitar anticoncepcionais por
razões médicas.
Uma pequena multidão se reúne em torno de Margaret Sanger e sua irmã,
Ethel Byrne, no tribunal
Tragédia
Em meio aos problemas na Justiça, ela enfrentava turbulências em sua
vida pessoal. Em 1914, ela se separou do marido, William, e em 1915 sua
única filha, Peggy, morreu repentinamente, aos cinco anos.
Ela namorou vários homens, incluindo o pesquisador de comportamento
sexual Havelock Ellis e o autor H G Wells. Em 1922, ela se casou com o
magnata do petróleo James Noah H Slee. Ele se tornou um dos principais
financiadores de seu movimento.
Eugenia
Sanger buscou apoio para seu movimento e se uniu a grupos com visões
que hoje em dia são totalmente inaceitáveis.
"Ela fez parceria com a Sociedade Eugênica... e recebeu recursos deles",
diz Rusterholz.
O Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano dos EUA define a
eugenia como "a teoria cientificamente imprecisa de que os humanos
podem ser melhorados por meio da criação seletiva de populações".
Antes do holocausto perpetrado pelos nazistas, essas teorias eram
debatidas sem muita oposição.
"Ela realmente queria lutar contra a pobreza, mas endossou algumas
medidas eugênicas bastante problemáticas, como a esterilização de
pessoas com deficiência", acrescenta Rusterholz.
Sanger abraçou as teorias da eugenia em seu livro 'Woman and the New
Race'
A biógrafa Ellen Chesler diz que Sanger formou sua própria opinião sobre
o assunto.
"Os eugenistas clássicos se opunham ao controle de natalidade para
mulheres de classe média. Eles estavam interessados em hierarquias de
raça, classe e cor. Ela não. Ela queria que todas as mulheres tivessem
menos filhos."
'Os mais pobres e os menos dotados biologicamente'
Nas décadas de 1920 e 1930, Margaret Sanger viajou pelo mundo,
promovendo o controle de natalidade na China, Japão, Coreia e Índia.
Em uma carta à Sociedade de Eugenia de Londres, que financiou sua
viagem à Índia em 1935, ela expressou isso em termos eugênicos: "levar
aos mais pobres e aos menos dotados biologicamente o conhecimento do
controle de natalidade".
Sanger viajou extensivamente pela Ásia para promover o controle de
natalidade
Ela promoveu um pó espermicida na Índia. Mas o produto causava
sensação de queimação e era difícil de usar sem supervisão médica.
"O discurso era muito incisivo sobre controle de natalidade e
disponibilização de anticoncepcionais, principalmente para a classe
trabalhadora pobre. Mas a tecnologia ainda não existia", diz Sanjam
Ahluwalia.
Sanger também conheceu indianos influentes, como Mahatma Gandhi e o
Prêmio Nobel de Literatura Rabindranath Tagore.
Enquanto Tagore apoiava o controle da natalidade, Gandhi defendia o
celibato e o autocontrole. Sanger tentou mas não conseguiu mudar a
opinião de Gandhi.
A Segunda Guerra Mundial colocou o movimento de controle de
natalidade em segundo plano. Mas, depois disso, novos temores de uma
explosão populacional deram um novo ímpeto ao movimento.
'Pílula mágica'
Por volta dessa época, frustrada com a ineficácia e falta de praticidade das
formas existentes de contracepção, como o diafragma, Sanger começou a
pensar em um método oral mais fácil. Ela havia escrito sobre seu sonho de
uma "pílula mágica" em 1939, mas precisaria de ajuda para tornar essa
ideia realidade.
A primeira aliada foi a ativista dos direitos das mulheres Katharine
McCormick, uma viúva rica que financiou a pesquisa. Ela convenceu o
polêmico cientista da fertilidade Gregory Pincus a se juntar ao projeto.
Katharine McCormick, uma das fundadoras da Liga das Mulheres Eleitoras,
gastou US$ 1 milhão no desenvolvimento da pílula anticoncepcional
McCormick inicialmente contribuiu com US$ 40 mil, mas a quantia chegou
a mais de US$ 1 milhão.
Depois de dez anos, a pílula estava pronta, mas havia um problema na
fase de testes e comprovação.
Em meados da década de 1950, a equipe de pesquisas foi para Porto Rico
e Haiti. Mulheres em hospitais psiquiátricos e favelas participaram dos
testes, embora muitas não soubessem o que estavam tomando.
"Claro, violações estavam acontecendo. Não há dúvida sobre isso", diz
Elaine Tyler.
Em 1965, os EUA disponibilizaram a pílula para mulheres casadas — e, em
1972, para todas as mulheres. Muitos outros países também adotaram o
novo anticoncepcional. Sanger teve a satisfação de ver a pílula virar um
sucesso antes de morrer em 1966.
Os métodos criados em cada época

1700: preservativo masculino

"Em 1564, o italiano Gabriel Fallopius inventou um saco de linho, esse era
colocado sobre o pênis de seus pacientes para protegê-los de doenças. O
anatomista obteve grande êxito com a invenção, pois além de proteger
contra as doenças, o saco de linho impedia a gravidez. Este fato o tornou
conhecido e sua produção tornou-se popular e bastante usada." "No início
do século XVIII, Londres funda a primeira loja de preservativos. Estas eram
feitas de intestino de carneiro ou cordeiro com aromatizantes florais e sob
encomenda. Em 1843, os preservativos começaram a ser fabricados com
borracha pela Hancock e Goodyear. Eram pouco aderentes, irregulares e
caras, o que fazia com que fossem usadas várias vezes até que na década
de 90 inventou-se o látex que deu ao preservativo um aspecto mais fino e
confortável. Em 1960, deixa de ser utilizada por causa da invenção da
pílula anticoncepcional, mas retorna em 1990, por causa da grande
epidemia de AIDS."

1881: laqueadura para mulheres

A esterilização tubária surgiu como método contraceptivo, em meados do


século XIX, através de experimentos realizados em coelhos e, mais tarde,
em 1881, quando uma americana teve suas tubas uterinas amarradas por
já haver se submetido a duas cesáreas(1). Passados cem anos da
realização da primeira laqueadura tubária (LT), têm aumentado a procura
pelo método, considerado contracepção definitiva, pois as mulheres
mostram-se interessadas em métodos que consideram mais eficazes e
seguros para evitar nova gravidez, além de lhes garantir maior controle de
fertilidade. Visando controlar os procedimentos de esterilização cirúrgica
feminina e masculina, em 1996 foi sancionada, pelo Presidente da
República, a Lei Federal 9263/96 que dispõe sobre a realização desses
procedimentos como métodos contraceptivos definitivos. Os candidatos
ao procedimento devem ser maiores de 25 anos e ter, no mínimo, dois
filhos vivos no momento da realização da esterilização, além de ser
necessária a aceitação do cônjuge para a efetivação do procedimento.

1882: diafragma de borracha

Os diafragmas femininos tiveram sua origem na Alemanha, em 1833 (por


Friedrich Wilde). Foram aperfeiçoados em 1870 por outro alemão
(Mensinga). O diafragma é um anel flexível envolvido por uma borracha
fina, que impede a entrada dos espermatozoides no útero.

1909: DIU de cobre

Em 1969 , Jaime Zipper idealizou o T de cobre e inaugurou a nova geração


de DIUs , os medicados em contraposição com os inertes. Nesse período
vários estudos foram realizados para que se atingisse a quantidade ideal
de cobre que tivesse , naquele momento é o que se desejava, uma
atuação espermicida eficaz.

1957: vasectomia para homens

Desde a primeira referência à oclusão (fechamento) de ambos os tubos


em 1775, pelo cirurgião e anatomista John Hunter, junto dos
experimentos em cachorros feitos por seu discípulo Astley Cooper em
1830, a vasectomia evoluiu e simplificou sua técnica (1)

1960: pílula anticoncepcional

Foi apenas no dia 03 de maio de 1960 que a pílula anticoncepcional foi


lançada nos Estados Unidos. A Enovid – a primeira pílula – foi criada com
uma concentração muita alta de hormônios. Sua composição constava de
150 mg de estrogênio sintético e 9,85 mg de derivado de progesterona;
isto significa dez vezes mais hormônios do que tem a pílula atual. Diante
das duras críticas que a pílula sofreu, na década de 1970 surge a segunda
geração de pílulas, com menos hormônios e sem perda da eficácia. A
terceira geração de pílulas chegou ao mercado em 1990. As pílulas
modernas têm uma quantidade muito menor de hormônio que as antigas.

1980: implantes hormonais

Foi desenvolvido nos laboratórios do Population Council, organização


criada em 1952 pela Fundação Rockfeller, com objetivo de melhor
compreender as relações entre fertilidade, crescimento populacional e
desenvolvimento socioeconômico e intervir na chamada “crise
demográfica”.

A contracepção hormonal foi inaugurada com a pílula anticoncepcional,


que rapidamente se difundiu pelo mundo, a partir de 1960. Em meados do
século XX, novas tecnologias contraceptivas (produtos hormonais,
dispositivos intrauterinos) se apresentavam como solução para o antigo
problema da prevenção da gravidez e o recente problema da “explosão
populacional”2. Cientistas reprodutivos investiam no desenvolvimento de
novos métodos que, além de mais eficazes e seguros, fossem mais
efetivos.

Em 1970, Howard Tatum, diretor do Population Council, considerava que


o baixo contingente de profissionais e as dificuldades de distribuição de
métodos comprometiam a efetividade dos programas de controle
demográfico. Idealiza, então, um método contraceptivo de alta eficácia,
fácil utilização, não dependência da motivação da usuária, longa duração,
não exigência de seguimento profissional regular, reversibilidade e baixo
custo. Estabelecido o conceito de long-acting reversible contraception, a
“era do implante contraceptivo estava começando”

Depois de 15 anos de pesquisas, em 1980, os cientistas chegaram ao


implante de levonorgestrel, registrado como Norplant. Começariam,
então, os “estudos pré-introdutórios”, com objetivo de criar expertise,
aceitabilidade local e condições para introdução do método em
programas de planejamento familiar4. Os testes com Norplant no Brasil
começaram em 1984, com autorização do Ministério da Saúde e
coordenada pelo Centro de Pesquisa e Controle das Doenças Materno-
infantis de Campinas (Cemicamp)5. O Norplant circulou oficialmente no
Brasil até janeiro de 1986, quando em meio a denúncias a pesquisa foi
cancelada.

1990: preservativo feminino

Foi inventado pelo médico dinamarquês Lasse Hershel, ao final dos anos
90. Foi criado, especialmente para quem tem alergia ao látex, é uma
“bolsa” feita de um plástico macio, o poliuretano, que é um material mais
fino que o látex do preservativo masculino. Este método contraceptivo
consiste em um dispositivo de plástico, maior e mais largo que o
preservativo externo, que deve ser introduzido na vagina, ou no ânus.

2000: adesivos e géis hormonais

A modulação hormonal feminina consiste na administração de hormônios


com estrutura química igual a dos produzidos pelo nosso organismo – com
o objetivo de regular os níveis e a atuação dos hormônios femininos, a fim
de manter o equilíbrio hormonal da mulher e contribuir para a sua saúde
em geral.
QUANDO os direitos reprodutivos foram estabelecidos

Os primeiros registros de garantia dos direitos reprodutivos incluem o


caso da Rússia pós-revolução, que legalizou o aborto em 1920, a decisão
dos EUA que permitiu o uso de contracepção em 1965 e uma série de
medidas de diversos países aprovadas em todo o século 20.

O principal marco da inclusão desses direitos na ordem global, porém, é a


Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento das Nações
Unidas de 1994, realizada na cidade do Cairo, no Egito, no embalo das
reivindicações feministas que avançavam naquela época.

A conferência, que contou com a participação de 179 países, adotou o


conceito de direitos reprodutivos na concepção atual e foi responsável por
reconhecer formalmente pela primeira vez a reprodução e a sexualidade
como bens merecedores de proteção específica.

O plano de ação para promoção dos direitos reprodutivos escrito no


evento foi considerado uma vitória para o movimento de mulheres, que
reivindicava o reconhecimento havia décadas. O texto estabeleceu que
deveriam ser tratados como direitos humanos básicos:

decidir de forma livre e responsável sobre o número, o espaçamento e a


oportunidade de ter filhos

ter acesso à informação e aos meios para gozar do mais elevado padrão
de saúde sexual e reprodutiva, sem discriminação, coerção ou violências
Os direitos das mulheres e aqueles ligados à familia haviam sido
estabelecidos em tratados globais anteriores, como a Declaração
Universal dos Direitos Humanos de 1948. O fórum de Cairo, porém, deu
tratamento renovado à questão reprodutiva e criou novos meios de ação
para a proteção dessas garantias.

Em 1994, os países também reconheceram que a saúde e os direitos


reprodutivos estão ligados ao empoderamento das mulheres e à
igualdade de gênero, e que promovê-los é fundamental para os
programas de população e desenvolvimento de qualquer país.

O plano de ação assinado em Cairo, porém, não reconheceu como sujeitos


de direitos reprodutivos apenas as mulheres adultas ou os casais
heterossexuais, mas outros grupos, como adolescentes e idosos, até então
negligenciados pelas políticas ligadas à sexualidade e à reprodução.

Em 1995, a Conferência Mundial da Mulher realizada em Pequim


enfatizou a importância da autonomia reprodutiva e sugeriu aos países
que adotassem medidas efetivas para ampliar o acesso à contracepção e
ao aborto legal e superar problemas de saúde pública.

Junto com o fórum de Cairo, a conferência de Pequim foi considerada um


marco importante para pressionar os países que avançassem na igualdade
de gênero, especialmente aqueles que puniam mulheres por práticas
como a interrupção voluntária da gravidez.

Os desafios para implementar os direitos reprodutivos, porém, não


pararam com as conferências. Em 1994, ano do fórum em Cairo, a
americana Loretta Ross chamou a atenção para as diferenças entre os
direitos sobre a gravidez de mulheres brancas e negras.

Ross e ativistas ligadas ao feminismo negro cunharam o termo “justiça


reprodutiva” para reivindicar a ampliação de direitos para mulheres
pobres e racializadas, que mesmo em países progressistas dispunham de
menos acesso à contracepção e à educação sexual, por exemplo.

O grupo também adotou o termo “reproducídio” para denunciar o que


consideravam o uso eugenista das políticas de controle de natalidade nos
EUA. Com medidas como a esterilização forçada, o governo buscava
suprimir a população pobre, negra e imigrante, segundo Ross.

⅓ das mães porto-riquenhas haviam sido esterilizadas sob leis eugenistas


dos EUA em 1965, segundo pesquisa citada em “O livro do feminismo”
Ampliar o acesso aos direitos reprodutivos para grupos considerados
vulneráveis — que incluem também indígenas, pessoas com deficiência,
pessoas em situação de rua, entre outras — está entre os desafios
permanentes da agenda sobre o tema.

Organizações feministas também afirmam que é preciso aumentar os


investimentos nos serviços de saúde, diversificar o atendimento e cobrar
avanços legislativos nos países fechados aos direitos reprodutivos e
sexuais, onde o debate sobre o tema é permeado por julgamento moral.

ONDE os direitos reprodutivos são ignorados

Apesar de os direitos reprodutivos terem passado a existir no papel em


1994, em nenhum país as pessoas ainda têm garantia plena de decidir
como formar sua família, segundo relatório de 2018 do Unfpa (Fundo de
População das Nações Unidas), agência da ONU voltada ao tema.

O texto afirma que, segundo tendências globais, a maioria dos casais


prefere hoje formar famílias pequenas, com cerca de dois filhos.
Condições sociais e econômicas ou a falta de acesso à contracepção e à
informação, porém, os levam a ter famílias maiores ou menores.

Em países da Europa e da Ásia, a taxa de fecundidade tem apresentado


quedas há décadas, o que tem levado à redução no tamanho da
população. Segundo o Unfpa, as mulheres não conseguem ter mais filhos
por conta de dificuldades para equilibrar a vida profissional e a dedicação
à família.

No outro extremo, em países da África subsaariana, as mulheres têm mais


filhos do que gostariam — em média cinco ao longo da vida, segundo a
agência da ONU — por conta da falta de acesso a serviços de saúde e a
informações sobre o uso de métodos contraceptivos.

Com base nessas informações, o fundo da ONU classifica os países em


quatro grupos: os de fecundidade alta (como os da África subsaariana), os
de fecundidade estável (como os do Oriente Médio), os países onde a
fecundidade tem declinado repentinamente (como os da América Latina)
e aqueles onde ela se mantém baixa há mais tempo (como os da Europa).

Em anos mais recentes, o Unfpa produziu relatórios sobre outros aspectos


dos direitos reprodutivos no mundo. Em 2021, segundo a agência, apenas
75% dos países tinham leis para acesso pleno à contracepção, enquanto
56% garantiam educação sexual.

Embora esteja em queda, a mortalidade materna também é considerada


um problema grave, especialmente em países em desenvolvimento,
segundo a ONU. Cerca de 830 mulheres morrem todos os dias por causas
evitáveis ligadas à gravidez e ao parto.

1 a cada 5 mortes maternas no mundo são por hemorragia, segundo


dados da Opas (Organização Pan-Americana de Saúde)

Em alguns locais vigoram ainda práticas nocivas para mulheres, como a


mutilação genital e o casamento infantil. Estima-se que 200 milhões de
mulheres vivem em países onde há mutilação genital, enquanto 650
milhões se casaram na infância, segundo o Unfpa.

No Brasil, os direitos reprodutivos são marcados por contradições. Embora


o SUS (Sistema Único de Saúde) tenha políticas voltadas às mulheres e o
país tenha ratificado os tratados sobre o tema, o aborto é restringido e há
obstáculos para o acesso à contracepção.

55% das gestações não são planejadas no Brasil, segundo pesquisa da


Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) feita entre 2011 e 2012.

O quadro de violações no Brasil


ABORTO

Com mais acesso à contracepção, a principal agenda das feministas na


época tornou-se o aborto, cuja criminalização passou a ser vista como um
problema de saúde pública e um obstáculo à autonomia feminina. Em
1973, a Suprema Corte americana tornou o aborto legal.

Em diversos países, outros avanços para a autonomia reprodutiva se


espalharam na mesma época. Em 1984, pouco antes da criação do SUS
(Sistema Único de Saúde), o Brasil criou o Programa de Assistência Integral
à Saúde da Mulher, voltado à reprodução e à maternidade.

Outro grupo que advogava pelo controle de fecundidade na época era o


de demógrafos que viam no crescimento populacional uma ameaça. O
grupo, porém, não entendia o tema da reprodução como as mulheres, que
o tratavam como questão de direitos humanos.

Entre os anos 1980 e 1990, a pauta reprodutiva se deslocou da


contracepção e do aborto para temas como o exercício da maternidade e
novas tecnologias. Nesse período o feminismo cunhou o termo “direitos
reprodutivos” para tratar de todas essas agendas.

A legislação brasileira sobre aborto está entre as mais restritivas do


mundo. O país permite a interrupção voluntária da gravidez em três
circunstâncias: em caso de risco de vida para mulheres, de estupro e de
feto com anencefalia (ausência parcial ou total de cérebro).

Dados do Center for Reproductive Rights mostram que até fevereiro de


2021 apenas 70 países permitiam o aborto em qualquer circunstância.
Cinco por cento das mulheres em idade fértil no mundo vivem em lugares
onde o procedimento é completamente proibido, segundo a organização.

Em países que descriminalizam o aborto, a taxa de mortes maternas


também tende a ser menor, segundo estudos citados pela organização
Anis (Instituto de Bioética). O motivo é que, quando não é criminalizado, o
procedimento pode ser feito de forma segura no sistema de saúde.

4ª é a posição do aborto voluntário entre as causas de morte materna no


Brasil; nos primeiros lugares estão hipertensão, hemorragia e infecção
puerperial.

Falar sobre : PORTARIA Nº 2.282, DE 27 DE AGOSTO DE 2020


Dispõe sobre o Procedimento de Justificação e Autorização
da Interrupção da Gravidez nos casos previstos em lei, no âmbito do
Sistema Único de Saúde-SUS.

EDUCAÇÃO SEXUAL

O país não tem lei específica sobre educação sexual, embora o tema esteja
em documentos técnicos do Ministério da Educação. Considerada um
tabu, a educação sexual enfrenta resistência no país. Sua ausência nas
escolas, porém, viola o direito de acesso a informações sobre o tema.

ESTUPROS

Em 2020, o país registrou mais de 60 mil casos de violência sexual. Entre


eles, 16 mil foram estupros e 44 mil, estupros de vulneráveis (contra
pessoas menores de 14 anos ou incapazes de consentir com o ato). Os
números equivalem a um registro de violência a cada 11 minutos.

O Projeto de Lei 228/23

GESTAÇÃO E PARTO

O país ocupa o segundo lugar no mundo em número de cesáreas, com


uma taxa de 55% do total dos partos. Intervenções desnecessárias, como
essa e a episiotomia (incisão que amplia o canal do parto), atingem 1 a
cada 4 brasileiras que dão à luz, em um quadro de violência obstétrica.

MORTES MATERNAS

Em 2018, o país teve 59,1 mortes maternas para cada 100 mil nascidos
vivos, número acima das metas firmadas com a ONU (de 30 mortes). Cerca
de 67% dos óbitos entre 1996 e 2018 são atribuídos a intervenções,
omissões ou tratamento incorreto na gravidez, parto ou puerpério.

VIOLÊNCIA OBSTETRICA

A violência obstétrica é um tipo de violência contra a mulher, praticada


pelos profissionais da saúde, que se caracteriza pelo desrespeito, abusos e
maus-tratos durante a gestação e/ou no momento do parto, seja de forma
psicológica ou física.

Há queixas sobre episiotomias – cortes entre a vagina e o ânus –


desnecessárias, manobra de Kristeller (empurrar o fundo do útero, algo
proibido no Brasil), uso de ocitocina para acelerar o parto, internação
precoce da gestante (o que leva a horas sem comida ou bebida),
atendimento grosseiro, recusa de acompanhante, falta de privacidade,
entre muitos outros problemas.

Há registros de quebra da clavícula no momento do nascimento devido ao


uso excessivo de força por parte da equipe de profissionais. Obrigar uma
mulher a fazer parto cirúrgico também é considerado violência obstétrica.

VIOLÊNCIA ESTATAL

Enquanto em alguns casos o poder público dificulta a esterilização


voluntária, em outros ele permite a esterilização forçada. Em 2017, em
Mococa (SP), ganhou repercussão o caso de Janaina Aparecida Quirino,
que por viver na rua recebeu uma laqueadura por ordem judicial.

https://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/justica-obriga-
prefeitura-de-mococa-a-fazer-laqueadura-em-mulher-usuaria-de-
drogas.ghtml

COMO os direitos reprodutivos ajudam mulheres

Com garantia dos direitos reprodutivos, as mulheres têm condições de


planejar se terão filhos ou não de forma autônoma, com mais controle
sobre sua sexualidade e mais chances de conciliar a família com outras
dimensões de suas vidas, como o trabalho e os estudos.

A criação da pílula anticoncepcional nos anos 1960, por exemplo, trouxe


mudanças sem precedentes para o comportamento sexual feminino. Com
a invenção, a prática sexual se separou da obrigação de reprodução, e
estigmas em torno do sexo fora do casamento enfraqueceram.

Para a escritora britânica Margaret Drabble, o acesso à contracepção foi a


cláusula final do contrato de emancipação feminina na época. “Educação,
trabalho e igualdade social não significavam muito quando podiam ser
anulados por uma gravidez indesejada”, escreveu.

2,5 é a taxa de fecundidade na maioria dos países com mais de 1 milhão


de habitantes, segundo o Unfpa; antes, em quase todos as mulheres
tinham cerca de cinco ou mais filhos

Os direitos reprodutivos também são considerados importantes para que


as mulheres garantam outros direitos, como a saúde. O pré-natal de
qualidade e o acesso a serviços de emergência, por exemplo, podem
reduzir as causas de morte materna, como hipertensão e hemorragia.
Mulheres que sofrem violência sexual e contam com os serviços de saúde
especializados em tempo hábil têm mais chances de prevenir ISTs
(infecções sexualmente transmissíveis) como o HIV e a gravidez
indesejada, graças à oferta de pílulas do dia seguinte.

Garantir direitos reprodutivos para as mulheres também contribui para o


bem-estar coletivo. Com autonomia, elas se dedicam mais ao trabalho e
aos estudos, melhorando não só suas condições de vida, mas a economia
dos países, segundo o Unfpa.

US$ 1 gasto em serviços contraceptivos poupa cerca de US$ 2,22 em


assistência médica por ano em um país, segundo estudo de 2017 do
Instituto Guttmacher.

Em 2015, na elaboração da Agenda 2030, a ONU elencou os direitos


reprodutivos entre as metas específicas de um dos 17 objetivos do
desenvolvimento sustentável (a igualdade de gênero) e os considerou
fundamentais para que as mulheres alcancem outras conquistas.

Sem medidas que promovam o planejamento familiar, elas acabam


perpetuando um círculo vicioso de pobreza, direitos humanos não
exercidos e potencial não realizado, principalmente nos países mais
pobres e desiguais, segundo o Unfpa.

POR QUE há resistência aos direitos reprodutivos

Apesar de as mulheres terem vivido avanços, os direitos reprodutivos


enfrentam resistência e sofrem ataques de grupos conservadores e
religiosos radicais, que são contrários à agenda feminista e às novas
discussões sobre gênero, sexualidade e planejamento familiar.

O antifeminismo não é novo — é um fenômeno tão antigo quanto o


feminismo —, mas vem ganhando espaço com a ascensão da extrema
direita na política e nas redes sociais, onde grupos masculinistas se
organizam para atacar mulheres e pedir recuos de seus direitos.

O discurso desses grupos se baseia na ideia de que a autonomia


reprodutiva põe em risco a ordem “natural” ou “divina”, a moralidade, as
relações entre homens e mulheres e a família. Em debates sobre aborto e
educação sexual, esses grupos também dizem defender as crianças.

Entre os países que veem crescer o discurso contrário aos direitos


reprodutivos está os EUA, onde o debate sobre a legalização do aborto
tem se acirrado graças à oposição de evangélicos e de novos políticos
republicanos, como o ex-presidente Donald Trump.

Em 2021, o estado do Texas, onde o discurso antiaborto ganhou força, por


exemplo, aprovou uma lei que restringe a interrupção de gravidez após
seis semanas (quando muitas mulheres ainda não sabem que estão
grávidas), sem exceção para casos de gestação por estupro ou incesto.

Os ataques aos direitos reprodutivos também acontecem no Brasil, onde


seu avanço produz debates inflamados na política, nos meios de
comunicação e nas igrejas. Grupos conservadores e religiosos têm forte
influência sobre o acesso a esses direitos no país, segundo estudos.

De maioria cristã, o país sempre se opôs a temas como o aborto. O


crescimento recente de igrejas e de políticos evangélicos, porém, fez
discussões de cunho moral, como a ligada à reprodução, se amplificarem.
Com as redes sociais, o feminismo no país também cresceu no período.

59% dos brasileiros são contrários a mudanças nas regras sobre o aborto
no país, segundo pesquisa Datafolha de 2021

Medidas recentes desses políticos ligadas aos direitos reprodutivos


incluem o projeto de lei (hoje arquivado) que em 2015 buscou dificultar o
acesso à pílula do dia seguinte. Além dele, está em tramitação na Câmara
o Estatuto do Nascituro, que torna o aborto crime hediondo em todos os
casos.

Ambos projetos foram alvos de grandes protestos de mulheres. Em 2015,


as manifestações contra a proposta que bania a pílula do dia seguinte
foram chamadas de Primavera Feminista. O movimento mostrou a tensão
atual entre defesa e ataques aos direitos reprodutivos no país.

O quadro de ameaças aos direitos reprodutivos se acirrou com a posse do


presidente Jair Bolsonaro, abertamente contrário ao tema. Em seu
governo, o país ficou de fora de acordos globais sobre direitos
reprodutivos e mudou diretrizes de políticas de saúde para mulheres.

Os direitos reprodutivos também sofrem resistências em países que


buscam implementar políticas de natalidade para aumentar ou diminuir
sua população. É o caso da China, que dos anos 1970 até 2016 adotou
uma política de filho único para os casais.
Parte das pessoas contrárias aos direitos reprodutivos afirma que
questões ligadas à sexualidade não deveriam ser debatidas, pois são de
foro íntimo. Quem defende o tema, porém, aponta que os benefícios
desses direitos não são apenas individuais, mas coletivos.

Outra ameaça recente aos direitos reprodutivos foi a covid-19. Com a


pandemia, 112 milhões de mulheres perderam acesso a serviços de
planejamento familiar, o que causou 1,4 milhão de gestações não
intencionais. Para a ONU, os países devem evitar retrocessos na área.
BIBLIOGRAFIAS

https://www.bbc.com/portuguese/geral-64235036

https://brasilescola.uol.com.br/sexualidade/origem-camisinha.htm

https://www.scielosp.org/article/csc/2017.v22n1/43-52/

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%20Procedimento%20de,Sistema%20%C3%9Anico%20de%20Sa
%C3%BAde%2DSUS.&text=%C2%A7%201%C2%BA%20A%20gestante
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https://www.metropoles.com/materias-especiais/parto-anormal-
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https://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/justica-obriga-
prefeitura-de-mococa-a-fazer-laqueadura-em-mulher-usuaria-de-
drogas.ghtml

https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2022/lei-14443-2-setembro-
2022-793189-publicacaooriginal-166038-pl.html

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